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*Victor Hugo Santos Costa é técnico em informática e estudante de Direito na Universidade Federal do Tocantins - Campus Palmas. O ESTUDO DA FOLKCOMUNICAÇÃO NA RODA DE SÃO GONÇALO Victor Hugo Santos Costa* - UFT TESKE, Wolfgang. A Roda De São Gonçalo na comunidade quilombola da Lagoa da Pedra em Arraias (TO) - Um estudo de caso de processo folkcomunicacional. Palmas: Editora Kelps, 2009, 2ª edição. 152 p. Wolfgang Teske é catarinense de Blumenau doutorando em Ciências do Ambiente, na linha de pesquisa: Natureza, Cultura, Sociedade pela Universidade Federal do Tocantins. Mestre em Ciências do Ambiente na linha de pesquisa: Cultura e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Tocantins (UFT), 2010. Especialista em Docência do Ensino Superior, pela Faculdade Albert Einstein (FALBE), Brasília, DF, em (2007). Possui graduação em Comunicação Social - Jornalismo pelo Centro Universitário Luterano de Palmas (TO) (CEULP/ULBRA), (2006) e graduação em Teologia pelo Seminário Concórdia de Porto Alegre (RS), (1981). É professor convidado no Curso de Comunicação Social, Jornalismo, da Universidade Federal do Tocantins, Palmas, TO. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Teoria da Folkcomunicação, atuando principalmente nos seguintes temas: Quilombolas, Roda de São Gonçalo e Cultura. Possui ampla experiência na gestão em causas sociais e administração educacional. Membro efetivo da Academia Palmense de Letras, cadeira nº 17, cujo patrono é o escritor José de Alencar (2012) e possui o Título de Cidadão Palmense. Resumo: A folkcomunicação presente nas culturas marginalizadas a serem observadas segundo Beltrão, se encaminham em diversos estudos crescentes no país. Um destes é o estudo feito na comunidade quilombola de lagoa da pedra em Arraias - TO. A linguagem utilizada na Roda de São Gonçalo, inclusive na denominação da manifestação cultural, torna de rica importância para a folkcomunicação. Desde o binômio encontrado na dança, onde a seriedade e a diversão se encontram, até a confecção da festa e dos símbolos, a manifestação cultural se mostra de grande importância na região. As letras dos versos cantados e a fama do santo farrista, tornou esse culto por muito tempo combatido pela igreja, confronto atualmente esquecido, considerando-o uma espécie de catolicismo popular. Dificuldades em se manter essa cultura é presente, principalmente pelo aparecimento das novas tecnologias. Porém, a incorporação desses meios, ou até mesmo resistência à eles, são o que trazem a continuidade a essas festas populares. Palavras-Chave: Folkcomunicação; Roda de São Gonçalo; Manifestação Cultural. Critica do Leitor: O livro A Roda de São Gonçalo na comunidade quilombola da Lagoa da Pedra em Arraias - TO, é dividido em 7 capítulos além das considerações finais e introdução classificadas no sumário ao inicio da obra. A apresentação e o prefácio aparecem escritos nas primeiras páginas pelos convidados Osvaldo Meira Trigueiro e Juciene Ricarte Apolinário respectivamente. Teske inicia sua obra, originalmente, pelas palavras do autor. Lá é possível observar desde seus objetivos iniciais e sua dedicação a área de estudos sobre folkcomunicação, à suas dificuldades trazidas implicitamente. O autor procura ao máximo trazer um equilíbrio em sua linguagem, sendo culto na medida do possível, não tornando a leitura cansativa e muito menos dificultosa, mesmo que a maioria do público alvo sejam universitários, ou da academia em geral. Como sugere José Marques de Melo (2001) a Roda de São Gonçalo é registrada enquanto processo folkcomunicacional, sendo esta roteirizada com as indicações de pesquisa compondo dos quatro elementos: Memória, Perfil, Mensagem e as Mediações, além de verificar a importância dos líderes, agentes folk, para a manutenção, mudança dos elementos e significação da Roda de São Gonçalo. As entrevistas realizadas com alguns foliões, principalmente os mais velhos, aqueles que, possuem maior arcabouço de lembranças e histórias sobre a festa popular, foram de extrema importância para a pesquisa visto que o método utilizado fora o da História Oral. O método utilizado procura valorizar a narrativa e revistar a memória coletiva da comunidade, algo que se obteve sucesso. O autor conseguiu verificar as permanências e as mudanças simbólicas ocorridas na Roda de São Gonçalo, e com isso realizar um comparativo com outras festas ao mesmo santo que ocorrem em diferentes partes do Brasil. Porém as entrevistas realizadas, apresentaram um tom um pouco repetitivo ao livro, mas que auxiliam na fixação do conteúdo. As bases alimentares dos quilombos de Arraias (os da Lagoa da Pedra) não foram modificadas, assim como algumas características particulares e a rusticidade no preparo destas, mesmo com a proximidade à modernidade ao redor. Vive-se ainda da agricultura de subsistência onde cultiva-se varias árvores frutíferas que lhes servem de alimento, além de claro, criação de galinhas, porcos e gado em pequenas quantidades. Característica importante destacada pelo autor é a forma em que essa sociedade se organiza, no que diz respeito a forma de trabalho e como eles se ajudam entre si. A ajuda mútua entre as famílias é uma prática comum entre eles, prática que se estende na realização por completa da festa. Perpassando a preparação, a escolha do local, montagem da roda, divulgação, tudo é feito em conjunto, cada um com seu papel. Inclusive, sem a participação da comunidade a realização da festa não acontece. A participação da comunidade foi algo bastante frisado nas entrevistas feitas as matriarcas e patriarcas das famílias. Culpa-se as novas tecnologias, principalmente a televisão pelo desvio de participantes da comunidade e interessados pela manifestação. Mas, quando a roda acontece, "junta muita gente" devido a dificuldade em se realizar eventos como esse, destaca o autor a fala de Eudézia Costa Dias. Outra culpa, para além da modernidade tecnológica adentro das casas de adobe, é a falta de fé, como diz Eudézia Costa Dias em uma de suas falas. A mudança de igreja, como fator de enfraquecimento da Roda de São Gonçalo é afirmada pelos participantes, entre eles Joaquim Bento, que sentiu o problema na pele ao ver seu filho, sucessor natural como guia, mudando para a Igreja Assembléia de Deus. Religiões não católicas passaram a modificar a cultura local, e assim "está aniquilando uma das manifestações culturais centenárias" (TESKE, 2009). Ao estudo da folkcomunicação vemos que essas manifestações possuem uma forma de divulgação que, enfatizado por Teske, é completamente oral. A divulgação da Roda de São Gonçalo ocorre de boca em boca, não sendo anunciada por nenhum meio de comunicação. sendo jornal, rádio ou TV. Esse é um diferencial das demais festas religiosas e folias que acontecem na região. Isso significa que a mídia ainda não se apropriou desta cultura para produção comercial, tornando a folkmidia nessa área algo ainda bastante escasso. Por outro lado, estuda-se a simbologia trazida pelos símbolos presentes na festa, como o cruzeiro da Roda de São Gonçalo e até mesmo a vela, que se encontram presentes no cruzeiro. "A luz é vida, e a vela também é vida" como comenta Eudézia em sua entrevista. A forma em que esses símbolos são produzidos nos mostra a importância da comunicação oral na comunidade, visto que tudo é passado de pai para filho, tornando a oralidade o principal meio para a continuação da cultura. A seriedade na realização da dança é preservado principalmente pelos mais velhos, que vêem a manifestação como forma de devoção verdadeiramente ao Santo Gonçalo. A falta de fé e seriedade na realização da dança podetrazer castigos como acredita a comunidade. Apesar de tudo, a representação da dança pode acontecer desde que não esteja-se pagando uma promessa, pois nesse caso a seriedade é fundamental. Um estudo aprofundado de como as novas tecnologias e as religiões não católicas influenciam nessas manifestações populares, no catolicismo popular, apresenta de grande interesse, visto que era os principais temas pautados nas entrevistas dos dançarinos da Roda de São Gonçalo.
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