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Psicologia da Saúde (STRAUB) Cap 01

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Fundamentos da
Psicologia da Saúde 1
SAÚDE E PSICOLOGIA DA SAÚDE
O que é saúde?
Os três domínios da saúde
Teste da realidade:
Como está sua saúde?
SAÚDE E DOENÇA:
LIÇÕES DO PASSADO
Visões antigas
A Idade Média e a
Renascença
O racionalismo
pós-Renascença
Descobertas do século XIX
O século XX e o início
de uma nova era
Diversidade e vida saudável:
Saúde no novo milênio
TENDÊNCIAS QUE MOLDARAM
A PSICOLOGIA DA SAÚDE
Aumento da expectativa
de vida
O surgimento de transtornos
relacionados com o estilo de
vida
Repensando o modelo
biomédico
Aumento dos custos do
tratamento de saúde
PERSPECTIVAS EM
PSICOLOGIA DA SAÚDE
Perspectiva do curso
de vida
Perspectiva sociocultural
Perspectiva de gênero
Perspectiva biopsicossocial
(mente-corpo)
QUESTÕES FREQÜENTES SOBRE
A PSICOLOGIA DA SAÚDE
O que fazem os psicólogos
da saúde?
Onde trabalham os
psicólogos da saúde?
Como tornar-se um
psicólogo da saúde?
� psicologia da saúde aplicação
de princípios e pesquisas psico-
lógicas para a melhoria da saú-
de e a prevenção e o tratamen-
to de doenças
A
bisavó de Kathleen emigrou da Irlanda para os Estados Unidos em 1899.
Esperando uma vida melhor, ela e seu marido fugiram da dura pobreza
de sua terra natal e deram início a uma nova família. As coisas melhora-
ram em seu país adotivo, mas a vida ainda era dura. Médicos eram caros
(e poucos), e ela sempre tinha de se proteger contra água poluída, comi-
da contaminada ou infecções como febre tifóide, difteria ou alguma das
tantas doenças que prevaleciam naquela época. Apesar da vigilância, a sobrevivência
para ela, seu marido e seu bebê recém-nascido (a avó de Kathleen) permanecia in-
certa. A expectativa de vida era de menos de 50 anos, e um em cada seis bebês
morria antes de seu primeiro aniversário.
Um século depois, Kathleen sorri enquanto olha a fotografia desbotada de sua
bisavó, tirada em um momento de alegria quando brincava com sua filha. Ela sabe
que sua ancestral viveu uma vida longa e produtiva, morrendo aos 75 anos de idade
de uma hemopatia que parece ser de família. Também devido a seus pais, ela sabe
que tem a mesma perspectiva otimista e o mesmo sabor pela vida que fortalecia sua
bisavó contra as dificuldades. “Como as coisas são diferentes agora”, pensa Kathleen,
“mas quanta coisa dela eu carrego em mim!”.
As coisas são muito diferentes. Por um lado, os avanços na higiene, as medidas
de saúde pública e a microbiologia praticamente erradicaram as doenças infeccio-
sas que os ancestrais de Kathleen mais temiam. Por outro lado, as mulheres que
nascem hoje nos Estados Unidos apresentam uma expectativa de vida de quase 80
anos, e os homens, apesar de apresentarem uma mais curta, freqüentemente atin-
gem a idade de 72 anos. Juntamente com esse presente do tempo, a maioria das
pessoas está mais consciente de que a saúde representa muito mais do que estar livre
de doenças. Mais do que nunca, elas fazem coisas que garantem longa vitalidade,
modificando suas dietas, fazendo exercícios regularmente e mantendo-se socialmen-
te ativas.
SAÚDE E PSICOLOGIA DA SAÚDE
A história da família de Kathleen deixa claro que muitos fatores interagem para
determinar a saúde. Este é um tema fundamental da psicologia da saúde, um sub-
campo da psicologia que aplica princípios e pesquisas psicológicas para melhoria,
tratamento e prevenção de doenças. Suas áreas de interesse incluem condições sociais
(como a disponibilidade de serviços de saúde), fatores biológicos (como a longevidade
da família e as vulnerabilidades hereditárias a certas doenças) e até mesmo traços de
personalidade (como o otimismo).
Como Kathleen, temos sorte de viver em uma época em que a maioria dos
cidadãos do mundo tem a promessa de uma vida mais longa e melhor, com muito
menos deficiências e doenças do que em qualquer outra época. Entretanto, esses
benefícios à saúde não são desfrutados universalmente. Considere:
� O número de anos de vida saudáveis que se pode esperar em média é igual ou
excede os 70 anos de idade em 24 países do mundo (a maioria deles desenvolvi-
Introdução à
Psicologia da Saúde1
22 PARTE 1 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
dos), mas estima-se que seja menos do que 40 anos em outros 32 países (a maio-
ria em desenvolvimento) (Organização Mundial da Saúde, 2000).
� Embora a expectativa média de vida continue a aumentar, os brancos norte-ame-
ricanos vivem consistentemente seis anos a mais do que os negros norte-america-
nos. As taxas de mortalidade para bebês negros continuam a ser mais de duas
vezes superior à dos bebês brancos (Anderson, 1995).
� Mortes e ferimentos relacionados com violência, drogas e álcool e riscos relacio-
nados com sexo, como o HIV, cada vez mais marcam a transição da adolescência
para a idade adulta, particularmente entre minorias étnicas (Yee e cols., 1995).
� Em cada idade, as taxas de mortalidade variam de acordo com o grupo étnico. Por
exemplo, entre homens e mulheres norte-americanos entre 45 e 54 anos de ida-
de, as taxas de mortalidade são maiores entre afro-americanos (12 por mil), se-
guidos pelos nativos americanos (6,1 por mil), europeu-americanos não-hispâni-
cos (5,0), hispano-americanos (4,9) e americanos de origem asiática e das ilhas
do Pacífico (2,6) (National Center for Health Statistics, 1999).
� Durante um estudo de sete anos e meio de duração, realizado com 3.617 adultos
com idades a partir de 25 anos, os homens que viviam em áreas urbanas tiveram
mortalidade 62% superior do que os homens que viviam em subúrbios, cidades
pequenas ou áreas rurais (House e cols., 2000).
� Embora os homens tenham duas vezes mais probabilidade de morrer devido a
qualquer causa, a partir da meia-idade as mulheres apresentam taxas de doenças
e incapacidades mais elevadas (National Center for Health Statistics, 1999).
� Os imigrantes recentes para os Estados Unidos geralmente são mais saudáveis do
que os residentes antigos de mesma etnia e idade (Abraido-Lanza, Dohrenwend,
Ng-Mak e Turner, 1999).
� Os Estados Unidos gastam uma porção maior de seu produto interno bruto em servi-
ços de saúde do que qualquer outro país, mas ocupam apenas a trigésima sétima
posição entre 191 países em relação ao desempenho geral de seu sistema de saúde,
medido pelo grau de resposta, imparcialidade de financiamentos, acessibilidade a
todos os indivíduos, e assim por diante (Organização Mundial da Saúde, 2000).
� Mais de 15 milhões de adultos ao redor do mundo entre as idades de 20 e 64
morrem a cada ano. A maioria dessas mortes são prematuras e podem ser preve-
nidas (National Center for Health Statistics, 1999).
Essas estatísticas revelam alguns dos desafios na busca pelo bem-estar global. Esses
desafios envolvem reduzir a discrepância de 30 anos em expectativa de vida entre os
países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento; ajudar os adolescentes a fazerem
uma transição segura e saudável para a idade adulta; e alcançar um entendimento mais
profundo das relações entre gênero, etnicidade, status sociocultural e saúde.
Este capítulo apresenta a psicologia da saúde, um campo relativamente novo
que irá desempenhar um papel fundamental para enfrentar os desafios para a saúde
do mundo nos próximos séculos. Considere algumas das questões que os psicólogos
da saúde buscam responder:
� De que maneira sua capacidade de se relacionar bem com outras pessoas influen-
cia a sua saúde?
� De que maneira suas atitudes, crenças, autoconfiança e personalidade geral afe-
tam a sua saúde?
� Será que a acupuntura, a homeopatia, os tratamentos com ervas e outras formas
de medicina alternativa realmente funcionam?
� Até que ponto as características específicas do seu ambiente, incluindo arquitetu-
ra, nível de ruído e presença de sol estão associados à sua saúde?
� Pode a doença ser causada por hábitos pessoais?
A saúde da mulher está indissocia-
velmente ligadaa seu status na so-
ciedade. Ela se beneficia com a
igualdade e sofre com a discrimi-
nação.
– Organização Mundial da Saúde,
2000
*N. de R. T.: Dados estatísticos do perfil de morbi-mortalidade da população brasileira, bem
como de incidência e prevalência das patologias citadas podem ser encontrados nos sites indi-
cados na página 641 deste livro.
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DA SAÚDE CAPÍTULO 1 23
� Quais são as barreiras à adoção de um estilo de vida saudável?
� Por que certos problemas de saúde têm ocorrência mais provável entre pessoas de
determinada idade, gênero ou grupo étnico?
� Quais aspectos do estilo de vida do adolescente médio contribuem ou comprome-
tem a saúde?
� Por que a pobreza é uma ameaça potencialmente séria para a saúde?
A psicologia da saúde é a ciência que busca responder estas e outras questões a
respeito da forma como seu bem-estar é afetado pelo que você pensa, sente e faz.
Começamos nossa exploração desse excitante campo dando uma olhada mais de
perto no conceito de saúde e nas mudanças que sofreu no decorrer da história. A
seguir, examinaremos a história e o alcance da psicologia da saúde, incluindo a forma
como ela baseia e sustenta outros campos relacionados com a saúde. Finalmente,
focaremos o tipo de treinamento necessário para tornar-se um psicólogo da saúde e o
que você pode fazer após obter essa formação.
O que é saúde?
A palavra saúde vem de uma antiga palavra da língua alemã que é representa-
da, em inglês, pelas palavras hale e whole,* as quais referem-se a um estado de “inte-
gridade do corpo”. Os lingüistas observam que essas palavras derivam dos campos de
batalha medievais, em que a perda de haleness, ou saúde, normalmente resultava de
um grave ferimento.
Atualmente, somos mais propensos a pensar na saúde como a ausência de doen-
ças, em vez da ausência de ferimento debilitante obtido no campo de batalha. Como
tal definição concentra-se apenas na ausência de um estado negativo, ela é incomple-
ta. Embora seja verdade que as pessoas saudáveis estão livres de doenças, a maioria
de nós concordaria que a saúde envolve muito mais. É bastante possível, e até co-
mum, que uma pessoa esteja livre de doenças, mas ainda não desfrute de uma vida
vigorosa e satisfatória. A saúde não se limita ao nosso bem-estar físico.
Os três domínios da saúde
Reconhecendo como inadequada e limitada a definição anterior de saúde, a
Organização das Nações Unidas estabeleceu a Organização Mundial da Saúde. Em
seu documento de criação, a OMS definiu saúde como “um estado de completo bem-
estar físico, mental e social, e não simplesmente como a ausência de doenças ou
enfermidades”. Essa definição afirma que saúde é um estado positivo e multidimen-
sional que envolve três domínios: saúde física, saúde psicológica e saúde social.
A saúde física, é claro, implica ter um corpo vigoroso e livre de doenças, com um
bom desempenho cardiovascular, sentidos aguçados, sistema imunológico vital e a
capacidade de resistir a ferimentos físicos. Ela também envolve hábitos relacionados
com o estilo de vida que aumentem a saúde física. Entre estes, estão seguir uma dieta
nutritiva, fazer exercícios regularmente e dormir bem; evitar o uso de tabaco e outras
drogas; praticar sexo seguro e minimizar a exposição a produtos químicos tóxicos.
A saúde psicológica significa ser capaz de pensar de forma clara, ter uma boa
auto-estima e um senso geral de bem-estar. Ela inclui a criatividade, as habilidades
de resolução de problemas (como buscar informações sobre questões relacionadas
com a saúde) e a estabilidade emocional. Ela também é caracterizada pela auto-
aceitação, abertura a novas idéias e uma “tenacidade” geral na personalidade.
A saúde social envolve ter boas habilidades interpessoais, relacionamentos sig-
nificativos com amigos e família, e apoio social em épocas de crise. Ela também está
relacionada com fatores socioculturais em saúde, como o status socioeconômico, a
educação, a etnicidade, a cultura e o gênero.
� saúde estado de
completo bem-estar físico,
mental e social
*N. de T.: Em inglês, hale significa saúde, vigor, e whole significa completo, integral.
24 PARTE 1 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
Cada domínio da saúde é influenciado pelos outros dois domínios. Por exem-
plo, uma pessoa emocionalmente estável, que tem boas habilidades de resolução de
problemas (saúde psicológica), provavelmente terá mais facilidade para manter rela-
cionamentos sociais saudáveis (saúde social) do que uma pessoa depressiva que tem
dificuldade para se concentrar no problema em questão. Da mesma forma, a saúde
física fraca apresenta desafios especiais, tanto para a auto-estima da pessoa (saúde
psicológica) quanto para relacionamentos com sua família e seus amigos (saúde social).
Exercícios e boa forma física
–––– 1. Eu realizo atividades físicas moderadamente inten-
sas, como caminhar rapidamente ou fazer trabalhos
domésticos por, pelo menos, 30 minutos por dia.
–––– 2. Eu realizo exercícios vigorosos, como correr, na-
dar, caminhar rapidamente ou aulas de dança
aeróbica por, pelo menos, 20 a 30 minutos pelo
menos três vezes por semana.
–––– 3. Eu tenho uma vida ativa.
–––– 4. Eu tenho mais ou menos a mesma forma física da
maioria das pessoas da minha idade.
–––– 5. Eu passo grande parte do meu tempo de lazer en-
volvido com esportes ou atividades físicas ativas
como ciclismo, caminhadas, natação, jardinagem
ou praticando esportes competitivos.
–––– 6. Eu tenho boa resistência física.
–––– 7. Eu realizo exercícios de fortalecimento muscular
pelo menos algumas vezes por semana.
–––– 8. Eu tenho energia suficiente para passar o dia sem
me sentir fatigado.
Escore de exercícios e boa forma ––––––––
Consumo de álcool, tabaco e outras drogas
–––– 1. Eu evito fumar cigarros.
–––– 2. Eu evito qualquer uso de tabaco, incluindo cachim-
bos, charutos e formas de tabaco que não produ-
zam fumaça, como rapé e de mascar.
–––– 3. Eu evito beber cerveja ou vinho ou, se beber, evito
beber mais de duas doses por dia.
–––– 4. Eu evito beber em situações em que seria inseguro
beber.
–––– 5. Eu evito tomar bebedeiras (beber cinco ou mais
doses de uma vez).
–––– 6. Eu evito drogas ilícitas.
–––– 7. Eu evito socializar com pessoas que utilizam dro-
gas ilícitas ou bebem excessivamente.
–––– 8. Eu evito usar álcool ou outras drogas para lidar
com problemas ou para fazer com que eu sinta mais
confiança no meio social.
Escore de consumo de álcool,
tabaco e outras drogas ––––––––
Práticas de saúde preventiva
–––– 1. Eu visito meu médico regularmente para check-ups
de rotina.
–––– 2. Eu examino a pressão sangüínea e o colesterol re-
gularmente.
Como você verá no Capítulo 2, os psicólogos da saúde utilizam
uma variedade de métodos para conduzir pesquisas e guiar suas
intervenções clínicas. Entre esses métodos, estão experimentos
de laboratório, estudos de campo e pesquisas como esta. Um psi-
cólogo que trabalha com a psicologia da saúde aplicada pode usar
este tipo de questionário para coletar informações básicas a fim de
planejar uma intervenção para tratar uma pessoa com hipertensão
relacionada ao estresse. Por exemplo, as respostas podem revelar
espaço para melhorias em sua saúde física, talvez por meio de
aconselhamento nutricional ou orientação sobre como começar um
programa de exercícios. Além disso, a pessoa que relate ter dificul-
dade em administrar o estresse pode ser beneficiada por uma in-
tervenção cognitiva visando a corrigir sua tendência a reagir de
forma exagerada aos problemas cotidianos. Questionários como
este são apenas pontos de partida para a pesquisa e as interven-
ções clínicas. Uma vez identificada uma área potencial de melhoria
para a saúde, informações muito mais detalhadas e específicas
devem ser obtidas.
QUESTIONÁRIO SOBRE ESTILO DE VIDA E HÁBITOS
Este questionário pode ser utilizadopara examinar de forma
ampla o estilo de vida e os hábitos em relação a cada uma
das dimensões da saúde e a questões relacionadas com a saú-
de, como exercícios, boa forma e prevenção de acidentes.
Leia cada um dos itens a seguir. Escreva com sinceridade o
número que melhor corresponde a sua resposta. Adicione
seus escores para cada categoria e use as diretrizes para in-
terpretar os resultados.
Raramente Às
ou nunca vezes Normalmente Sempre
1 2 3 4
Saúde física
–––– 1. Eu cuido da minha saúde.
–––– 2. Eu tento manter meu corpo saudável e em boa
forma.
–––– 3. Eu freqüentemente faço exames para problemas
de saúde que podem afetar pessoas com o meu
histórico familiar.
–––– 4. Eu não tenho doenças crônicas ou incapacitantes.
–––– 5. Eu sinto que estou basicamente em boa saúde.
–––– 6. Eu não tenho alergias.
–––– 7. Eu não perco muito tempo de trabalho por causa
de doenças.
–––– 8. Eu durmo pelo menos 7 a 8 horas todas as noites e
acordo sentindo-me descansado e revigorado.
Escore para saúde física ––––––––
Teste da realidade
Como está sua saúde?
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DA SAÚDE CAPÍTULO 1 25
–––– 3. Eu pratico auto-exames dos seios/testículos men-
salmente.
–––– 4. Se eu tenho contato sexual, pratico sexo seguro.
–––– 5. Eu evito exposição excessiva ao sol.
–––– 6. Eu uso protetor solar sempre que fico no sol por
mais do que alguns minutos.
–––– 7. Eu lavo as mãos após usar o banheiro.
–––– 8. Eu mantenho minhas vacinas atualizadas.
Escore de práticas de saúde preventiva ––––––––
Prevenção de acidentes
–––– 1. Eu tenho um detector de fumaça em casa.
–––– 2. Eu tenho um detector de monóxido de carbono em
casa.
–––– 3. Eu guardo produtos químicos de uso doméstico em
um local seguro.
–––– 4. Eu uso o cinto de segurança sempre que dirijo ou
ando de carro.
–––– 5. Eu mantenho as crianças sentadas em um assento
infantil ou com o cinto de segurança quando an-
damos de carro.
–––– 6. Eu obedeço as regras de trânsito.
–––– 7. Eu uso capacete e outros equipamentos de segu-
rança recomendados quando ando de patins ou de
bicicleta.
–––– 8. Eu leio e sigo as instruções para o uso correto de
detergentes, solventes, pesticidas e eletrodomés-
ticos.
Escore de prevenção de acidentes ––––––––
Controle de peso e nutrição
–––– 1. Eu limito meu consumo de gordura, incluindo gor-
dura saturada.
–––– 2. Eu limito meu consumo de alimentos com alto teor
de colesterol, como ovos, fígado e carne.
–––– 3. Eu sigo uma dieta equilibrada do ponto de vista
nutricional.
–––– 4. Eu como cinco ou mais porções de frutas e vege-
tais diariamente.
–––– 5. Eu limito a quantidade de sal e açúcar que con-
sumo.
–––– 6. Eu como alimentos fervidos ou cozidos no vapor,
em vez de fritos.
–––– 7. Eu como alimentos ricos em fibras diversas vezes
por dia.
–––– 8. Eu tomo cuidado para manter meu peso dentro de
um limite saudável.
Escore de controle de peso e nutrição ––––––––
Saúde psicológica
–––– 1. Eu consigo me concentrar no trabalho na escola
ou no emprego.
–––– 2. Eu tenho uma direção definida em minha vida.
–––– 3. Eu geralmente gosto de mim mesmo.
–––– 4. Eu consigo relaxar e descontrair.
–––– 5. Eu tenho esperança no futuro.
–––– 6. Eu gosto de desafios.
–––– 7. Eu consigo expressar meus sentimentos.
–––– 8. Eu consigo administrar o estresse em minha vida.
Escore de saúde psicológica ––––––––
Saúde espiritual
–––– 1. Eu vejo significado na vida.
–––– 2. Eu tenho um senso de conexão com algo maior do
que eu, seja isso uma religião organizada, a natu-
reza ou causas sociais.
–––– 3. Eu acredito que a vida tem um propósito.
–––– 4. Eu aprecio as artes – pintura e escultura, dança,
música ou livros.
–––– 5. Eu acredito ter um lugar de valor em minha comu-
nidade.
–––– 6. Eu tento ajudar as pessoas necessitadas sem espe-
rar algo em troca.
–––– 7. Eu tento fazer coisas que tenham um valor dura-
douro.
–––– 8. Eu sinto a necessidade de fazer alguma diferença
para a vida das pessoas.
Escore de saúde espiritual ––––––––
Saúde social
–––– 1. Eu tenho amigos íntimos.
–––– 2. Eu sou capaz de desenvolver relacionamentos de
confiança com outras pessoas.
–––– 3. Eu consigo expressar sentimentos de apreciação e
amor para com outras pessoas, assim como senti-
mentos de decepção e raiva.
–––– 4. Quando há um problema que eu não consigo re-
solver sozinho, normalmente tenho ou encontro
alguém com quem conversar a respeito.
–––– 5. Eu tenho um bom relacionamento com meus fami-
liares.
–––– 6. Eu costumo estar disponível para as pessoas quan-
do elas necessitam de mim.
–––– 7. Eu consigo me afirmar de maneira responsável e
não permito que os outros tirem vantagem de mim.
–––– 8. Eu respeito os sentimentos dos outros.
Escore de saúde social ––––––––
Saúde ambiental
–––– 1. Eu me mantenho informado a respeito de ques-
tões ambientais, como a redução da camada de ozô-
nio, a destruição das florestas e a chuva ácida.
–––– 2. Eu reciclo papel, garrafas e latas de alumínio.
–––– 3. Eu tenho consciência da segurança e qualidade da
água que utilizo.
–––– 4. Eu participo ou contribuo para causas ambientais.
–––– 5. Eu me certifico de que qualquer resíduo que eu
produzir seja descartado adequadamente.
–––– 6. Eu evito usar pesticidas em aerossol dentro de casa
ou no jardim ou, se os utilizar, tenho o cuidado de
seguir todas as instruções de segurança.
–––– 7. Eu lavo todas as frutas e vegetais antes de comê-los.
–––– 8. Eu faço um esforço para economizar água e eletri-
cidade.
Escore de saúde ambiental ––––––––
Como interpretar o seu resultado
24 a 32 – Parabéns! Você parece ter adotado um estilo de vida
saudável, com um mínimo de comportamentos que possam com-
prometer a saúde. Ainda assim, pode haver espaço para melho-
rar. O que mais você pode fazer para otimizar sua saúde?
26 PARTE 1 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
16 a 23 – Embora você tenha claramente estabelecido alguns
hábitos saudáveis, você ainda tem muito que melhorar. Exa-
mine as respostas que são menos do que “sempre”, especial-
mente aquelas que são “às vezes” ou “raramente ou nunca”.
Considere maneiras de mudar seu comportamento para me-
lhorar seu escore.
Abaixo de 16 – Com base nesses fatores relacionados com
seu estilo de vida, você parece realizar muitos comporta-
mentos que podem comprometer sua saúde. Possivelmente,
esses comportamentos aumentam seu risco de doença ou
de acidentes. Quais atitudes você pode tomar para melho-
rar seu resultado?
Fonte: Nevid, J. S., Rathus, S. A. e Rubenstein, H. R. (1998).
Health in the new millenium (p. 10-12). New York: Worth
Publishers.
SAÚDE E DOENÇA: LIÇÕES DO PASSADO
Mesmo que todas as civilizações tenham sido afetadas por doenças, cada uma delas
compreendia e tratava a doença de formas diferentes. Em uma certa época, nossos
ancestrais pensavam que a doença era causada por demônios. Em outra, eles diziam
que era uma forma de punição pela fraqueza moral. Atualmente, lutamos com ques-
tões como: “será que a doença pode ser causada por uma personalidade doentia?”.
Vejamos de que maneiras as nossas visões com relação à saúde e à doença mudaram
no decorrer da história. (Talvez você queira utilizar a Figura 1.1 durante a discussão
seguinte para ter um senso da cronologia da mudança nas visões sobre saúde e doença.)
Visões Antigas
Medicina pré-histórica
Os esforços de nossos ancestrais para curar doenças podem ser traçados até 20
mil anos atrás. Uma pintura feita em uma caverna no sul da França, por exemplo,
que se acredita ter 17 mil anos de idade, mostra o xamã da idade do gelo vestindo a
máscara animal de um antigo curandeiro. Em religiões que se baseiam em uma cren-
ça em espíritos bons e maus, somente um xamã (sacerdote ou pajé) pode influenciar
esses espíritos.
Para homens e mulheres pré-industriais,que enfrentavam as forças freqüen-
temente hostis de seu ambiente, a sobrevivência baseava-se na vigilância constante
contra essas misteriosas forças do mal. Quando uma pessoa ficava doente, não havia
uma razão física óbvia para tal fato; pelo contrário, a condição do indivíduo acome-
tido era erroneamente atribuída a uma fraqueza frente a uma força mais forte, feiti-
çaria ou possessão por um espírito do mal (Amundsen, 1996).
O tratamento era duro e consistia de rituais de feitiçaria, exorcismo e uma
forma primitiva de cirurgia chamada de trepanação. Muitos arqueólogos já desenter-
raram crânios humanos pré-históricos contendo buracos irregulares que aparente-
mente haviam sido perfurados por antigos curandeiros para permitir que os demôni-
os que causavam a doença deixassem o corpo do paciente. A trepanação era pratica-
da em pessoas vivas e mortas, sugerindo que essa prática desempenhava um impor-
tante papel em cerimônias culturais ou religiosas além do tratamento da saúde. Re-
gistros históricos indicam que a trepanação era uma forma de tratamento amplamen-
te praticada na Europa, no Egito, na Índia e na América Central e do Sul.
Aproximadamente 4 mil anos atrás, algumas pessoas notaram que a higiene
também desempenhava um papel na saúde e na doença e fizeram tentativas de me-
lhorar a higiene pública. Os antigos egípcios, por exemplo, realizavam rituais de
limpeza para impedir que vermes causadores de doenças infestassem o corpo. Na
Mesopotâmia (parte da qual localizava-se onde hoje é o Iraque), fabricava-se sabão,
projetavam-se instalações sanitárias e construíam-se sistemas para o tratamento de
esgotos públicos (Stone, Cohen e Adler, 1979).
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DA SAÚDE CAPÍTULO 1 27
Créditos (da esquerda para a direita): Gravura de crânio trepanado, Escola Inglesa (século XIX), publicado em 1878 em Incidentes de
Viagens e Explorações na Terra dos Incas, de George Squier: coleção privada/Bridgeman Art Library; Ilustração exibindo acupuntura: ©
Corbis; “O Cirurgião”, gravura da Escola Alemã (século XVI): coleção privada/Bridgeman Art Library; Gravura de “Vacinação”, 1871: Hulton
Getty/Liaison Agency; CT scan: © Premium Stock/Corbis.
Figura 1.1
Uma linha do tempo de variações culturais históricas em relação à doença e à cura
Desde o antigo uso da trepanação para remover espíritos do mal até o uso atual de radiografias não-invasivas do cérebro
para diagnosticar doenças, o tratamento de problemas de saúde tem assistido a importantes avanços com o passar dos
séculos. Uma coletânea de tratamentos ao longo das eras é apresentada a seguir (da esquerda para a direita): trepanação
(em um crânio peruano antigo); acupuntura da China; as primeiras cirurgias no século XVII; vacinação por um vacinador
distrital na Londres do século XIX; e uma tomografia computadorizada para observar a atividade cerebral no século XXI.
Medicina grega e romana
Os avanços mais expressivos em saúde pública e saneamento foram feitos na
Grécia e em Roma durante os séculos VI e V a.C. Em Roma, um grande sistema de
drenagem, a Cloaca Maxima, foi construído para drenar um pântano que mais tarde se
tornaria o lugar do Fórum romano. Com o tempo, a Cloaca assumiu as funções de um
sistema de esgotos moderno. Banheiros públicos, para os quais havia uma pequena
taxa de admissão, eram comuns em Roma por volta do século I a.C. (Cartwright, 1972).
28 PARTE 1 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
O primeiro aqueduto trouxe água pura para Roma já em 312 a.C., e a limpeza
das vias públicas era supervisionada pelos aediles, um grupo de oficiais indicados que
também controlavam o suprimento de alimentos. Os aediles criavam normas para
garantir que a carne e outros alimentos perecíveis estivessem frescos e organizavam
o armazenamento de grandes quantidades de grãos, por exemplo, no esforço para
prevenir a fome (Cartwright, 1972).
Na Grécia, o filósofo grego Hipócrates (cerca de 460 a 377a.C.) estabeleceu as
raízes da medicina ocidental quando se rebelou contra o antigo foco no misticismo e
na superstição. Hipócrates, freqüentemente chamado de “o pai da medicina moder-
na”, foi o primeiro a afirmar que a doença era uma fenômeno natural e que suas
causas (e, portanto, seu tratamento e prevenção) podem ser conhecidos e merecem
estudos sérios. Dessa forma, ele construiu a base mais antiga para uma abordagem
científica da cura.
Hipócrates propôs a primeira explicação racional para o fato das pessoas adoe-
cerem. Segundo sua teoria humoral, um corpo e uma mente saudáveis resultavam
do equilíbrio entre quatro fluidos corporais chamados de humores: sangue, bile ama-
rela, bile negra e fleuma. Para manter o balanço adequado, o indivíduo deveria se-
guir um estilo de vida saudável, incluindo exercícios, descanso suficiente, boa dieta e
evitar excessos. Quando os humores estavam desequilibrados, contudo, o corpo e a
mente seriam afetados de maneiras previsíveis, dependendo de qual dos quatro hu-
mores estivesse em excesso. Um excesso de sangue, por exemplo, contribuía para
uma personalidade sangüínea (otimista e alegre). Embora uma personalidade alegre
possa parecer desejável, Hipócrates acreditava o contrário: sangue demais, dizia ele,
aumentava a suscetibilidade da pessoa a epilepsia, angina, disenteria e artrite. O
tratamento para o excesso de sangue consistia em flebotomia (a abertura de uma
veia para remover sangue), banhos frios e enemas. A pessoa fleumática, que tinha
excesso de fleuma, era triste, lânguida e lenta. Como resultado, era propensa a dores
de cabeça, resfriados e acidentes vasculares cerebrais. O tratamento consistia em
banhos quentes, diuréticos e ervas que induzissem a náusea. A pessoa colérica, que
tinha um excesso de bile amarela e um temperamento ardente, necessitava de um
tratamento para úlceras na boca, icterícia e distúrbios estomacais. Encontrava-se alí-
vio por meio de sangrias, dietas líquidas, enemas e banhos refrescantes. Uma pessoa
melancólica possuía bile negra demais; uma disposição triste e sorumbática (daí o
termo melancolia) era o resultado provável. Também se esperava que essa condição
contribuísse para a ocorrência de úlceras e hepatite, que poderiam ser tratadas com
uma dieta especial, banhos quentes, eméticos (drogas que induzem o vômito) e quei-
ma de tecido corporal com um ferro quente (cauterização).
Ainda que a teoria humoral tenha sido descartada à medida que foram feitos
avanços em anatomia, fisiologia e microbiologia, a noção sobre os traços da persona-
lidade estarem ligados aos fluidos corporais persiste na medicina popular e alternati-
va de muitas culturas. Além disso, como veremos no próximo capítulo, atualmente
sabemos que muitas doenças envolvem um desequilíbrio (de certa forma) entre os
neurotransmissores do cérebro, de modo que Hipócrates não estava tão errado.
Hipócrates fez muitas outras contribuições notáveis para uma abordagem cientí-
fica da medicina. Por exemplo, para aprender quais eram os hábitos pessoais que
contribuíam para a gota, uma doença causada por perturbações no metabolismo
corporal do ácido úrico, ele conduziu uma das primeiras pesquisas de saúde pública
a respeito dos hábitos daqueles que sofriam da doença, como sua temperatura corpo-
ral, freqüência cardíaca, respiração e outros sintomas físicos. Ele também apontou a
importância das emoções e pensamentos de cada um dos pacientes com relação a
sua saúde e tratamento e, assim, chamou a atenção para os aspectos psicológicos da
saúde e da doença.
A próxima grande figura na história da medicina ocidental foi o médico Claudius
Galeno (cerca de 129 a 200 d.C.). Grego por nascimento, passou muitos anos em
Roma, conduzindo estudos de dissecação de animais e tratando os ferimentos graves
dos gladiadores romanos, dos quais ele aprendeu grande parte do que anteriormente
não se sabia a respeito da saúde e da doença. Galeno escreveu volumes a respeito da
anatomia, higiene e dieta, construídos sobreas bases hipocráticas da explicação raci-
onal e da descrição cuidadosa dos sintomas físicos de cada paciente.
� teoria humoral conceito de saú-
de proposto por Hipócrates, con-
siderava o bem-estar como um
estado de perfeito equilíbrio en-
tre quatro fluidos corporais bá-
sicos, chamados de humores.
Acreditava-se que a doença era
o resultado de perturbações no
equilíbrio dos humores
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DA SAÚDE CAPÍTULO 1 29
Galeno também expandiu a teoria humoral da doença, desenvolvendo um siste-
ma elaborado de farmacologia que os médicos seguiram por quase 1.500 anos. Seu
sistema era fundamentado na noção de que cada um dos quatro humores do corpo
tinha sua própria qualidade elementar que determinava o caráter de doenças especí-
ficas. O sangue, por exemplo, era quente e úmido. Ele acreditava que as drogas
também tinham qualidade elementares; assim, uma doença causada pelo excesso de
humor quente e úmido poderia apenas ser curada com drogas que fossem frias e
secas. Embora essas visões possam parecer arcaicas, a farmacologia de Galeno era
lógica, baseada em observações cuidadosas, e semelhante aos antigos sistemas de
medicina que surgiram na China, Índia e em outras culturas não-ocidentais. Muitas
formas de medicina alternativa ainda usam idéias semelhantes hoje em dia.
Medicina não-ocidental
Ao mesmo tempo em que a medicina ocidental estava emergindo, tradições
de cura também eram formadas em outras culturas. Por exemplo, há mais de 2 mil
anos, os chineses desenvolveram um sistema integrado de cura, que conhecemos
atualmente como medicina chinesa tradicional. A medicina chinesa tradicional está
fundamentada no princípio de que a harmonia interna é essencial para a boa saú-
de. Fundamental para essa harmonia é o conceito de qi (às vezes escrito como chi),
uma energia vital ou força de vida que oscila com as mudanças no bem-estar men-
tal, físico e emocional de cada pessoa. A acupuntura, a terapia com ervas, a medi-
tação e outras intervenções supostamente restauram a saúde, corrigindo bloqueios
e desequilíbrios no qi.
Ayurveda é o mais antigo sistema médico conhecido no mundo. Tem sua origem
na Índia em torno do século VI a.C., coincidindo aproximadamente com a vida de
Buda. A palavra ayurveda vem do sânscrito ayuh, que significa longevidade, e veda,
conhecimento. Praticado amplamente na Índia, a ayurveda baseia-se na crença de
que o corpo humano representa o universo inteiro em um microcosmo e que a chave
para a saúde é manter um equilíbrio entre o corpo microcósmico e o mundo
macrocósmico. A chave para essa relação está no equilíbrio entre três humores cor-
porais, ou doshas: vata, pitta e kapha, ou coletivamente, o tridosha (Fugh-Berman,
1997). Iremos explorar a história, as tradições e a eficácia dessas e de outras formas
não-ocidentais de medicina no Capítulo 14.
A Idade Média e a Renascença
A queda do império romano no século V d.C. abriu as portas para a Idade
Média (476 a cerca de 1450), uma época situada entre tempos antigos e modernos
e caracterizada pelo retorno às explicações sobrenaturais da saúde e da doença.
Em uma época em que a Igreja exercia uma influência poderosa sobre todas as
áreas da vida, interpretações religiosas coloriam as idéias dos cientistas medievais
a respeito da saúde e da doença. Aos olhos da igreja cristã medieval, os seres huma-
nos eram criaturas com livre arbítrio, que não estavam sujeitas às leis da natureza.
Como possuíam alma, os humanos e os animais não eram considerados objetos
apropriados para o escrutínio científico, e a dissecação de ambos era estritamente
proibida. A doença era vista como punição de Deus por algum mal realizado e
acreditava-se que doenças epidêmicas, como os dois grandes surtos de peste (uma
doença bacteriana conduzida por ratos e outros roedores) que ocorreram durante
a Idade Média, eram um sinal da ira de Deus. A Igreja passou a controlar as práticas
da medicina e o “tratamento” freqüentemente envolvia tentativas de expulsar espí-
ritos do mal do corpo de pessoas doentes.
Embora os leais seguidores de Hipócrates e Galeno continuassem a promover
uma abordagem científica, a maioria dos médicos medievais enfatizava a feitiçaria, a
demonologia e outras formas místicas de tratamento. E, assim, houve poucos avan-
ços científicos na medicina européia por 1.500 anos.
A Idade Média começou com um
surto de peste que teve origem no
Egito em 540 d.C. e espalhou-se ra-
pidamente por todo o império ro-
mano, chegando a matar 10 mil
pessoas em um único dia. Havia
tantos cadáveres que os coveiros
não conseguiam acompanhar, e a
solução foi carregar navios com os
mortos, remá-los para o mar e
abandoná-los.
� epidêmico literalmente, entre
as pessoas; uma doença epi-
dêmica se espalha rapidamen-
te entre muitos indivíduos de
uma comunidade ao mesmo
tempo. Uma doença pandêmica
afeta pessoas ao longo de uma
grande área geográfica
30 PARTE 1 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
No final do século XV, nascia uma nova era, a Renascença. Começando com o
ressurgimento da investigação científica, esse período presenciou a revitalização do
estudo da anatomia e da prática médica. O tabu envolvendo a dissecação humana foi
suficientemente removido, ao ponto do anatomista e artista flandrense Andreas
Vesalius (1514 – 1564) conseguir publicar um estudo composto por sete volumes dos
órgãos internos, musculatura e sistema esquelético do corpo humano. Filho de um
farmacêutico, Vesalius era fascinado pela natureza, especialmente pela anatomia dos
seres humanos e dos animais. Em sua busca pelo conhecimento, nenhum cachorro
vadio, gato ou rato estava livre do seu bisturi.
Na escola de medicina, Vesalius passou a dissecar cadáveres humanos. Suas
descobertas provaram que algumas das teorias de Galeno e dos médicos antigos esta-
vam claramente incorretas. Como pôde, pensou ele, uma autoridade inquestionável
como Galeno ter feito tantos erros ao descrever o corpo? Então compreendeu o por-
quê: Galeno nunca havia dissecado um corpo humano. Vesalius entendeu que o pro-
pósito de sua vida era escrever o estudo oficial da anatomia humana. Esses volumes
tornaram-se os fundamentos de uma nova medicina científica, fundamentada na ana-
tomia (Sigerist, 1958, 1971).
Um dos mais influentes pensadores da Renascença foi o filósofo e matemático
francês René Descartes (1596 – 1650), cuja primeira inovação foi o conceito do
corpo humano como uma máquina. Ele descreveu todos os reflexos básicos do corpo,
construindo, nesse processo, elaborados modelos mecânicos para demonstrar seus
princípios. Ele acreditava que a doença ocorria quando a máquina estragava; a tarefa
do médico era consertar a máquina.
Descartes é conhecido por sua crença de que a mente e o corpo são processos
separados e autônomos, que interagem de forma mínima e que cada um deles está
sujeito a diferentes leis de causalidade. Esse ponto de vista, chamado de dualismo
mente-corpo (ou dualismo cartesiano), baseia-se na doutrina de que os seres huma-
nos possuem duas naturezas, a mental e a física. Descartes e outros grandes pensado-
res da Renascença, em um esforço para romper com o misticismo e as superstições do
passado, rejeitava vigorosamente a noção de que a mente influencia o corpo. O estu-
do (não-científico) da mente era relegado à religião e à filosofia, enquanto o estudo
(científico) do corpo era reservado à medicina. Esse ponto de vista abriu caminho
para uma nova era de pesquisas médicas, fundamentadas na confiança na ciência e
no pensamento racional.
O racionalismo da pós-Renascença
Após a Renascença, esperava-se que os médicos se concentrassem exclusiva-
mente nas causas biológicas da doença. Cem anos após Vesalius, o médico italiano
Giovanni Morgagni (1682 – 1771) publicou o primeiro livro didático de anatomia
médica. Com base em seus achados de centenas de autópsias humanas, Morgagni
promoveu a idéia de que as causas de muitas doenças residemem problemas nos
órgãos internos e nos sistemas muscular e esquelético do corpo. Enfim, a antiga
teoria humoral de Hipócrates poderia ser descartada em favor dessa nova teoria
anatômica da doença.
A ciência e a medicina mudaram rapidamente durante os séculos XVII e XVIII,
motivadas por numerosos avanços na tecnologia. Apesar de Galileu ter construído
o seu primeiro termômetro em 1592, ele não tinha escala para medir e propiciava
apenas indicações grosseiras da variação da temperatura. Um importante passo
adiante na ciência da medição da temperatura ocorreu em 1665, quando Christian
Huygens (1629 – 1695) propôs uma escala fixa em que os pontos de congelamento
e de ebulição da água eram designados como sendo “0” e “100”, respectivamente –
a origem do sistema centígrado. Por volta do final do século XVII, o uso clínico da
termometria (a mensuração da temperatura) estava amplamente disseminado.
Talvez a mais importante invenção na medicina durante esse período tenha sido
o microscópio. Embora o uso de uma lente para aumento já fosse conhecido em
épocas antigas, foi um mercador de tecidos dinamarquês chamado Anton van
� dualismo mente-corpo ponto
de vista filosófico segundo o
qual a mente e o corpo são en-
tidades separadas que não inte-
ragem
� teoria anatômica teoria segun-
do a qual as origens de certas
doenças são encontradas nos
órgãos internos, na musculatu-
ra e no sistema esquelético do
corpo humano
Primeiros desenhos anatômicos
Por volta do século XVI, o tabu que envolvia
a dissecação humana já havia sido contor-
nado há tanto tempo que o anatomista e ar-
tista flandrense Andreas Vesalius (1514-
1564) conseguiu publicar um estudo comple-
to dos órgãos internos, musculatura e siste-
ma esquelético do corpo humano.
Musculatura de um homem, por Andreas Vesalius,
1543. Fratelli Fabbri, Milão, Itália/Bridgeman Art Library.
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DA SAÚDE CAPÍTULO 1 31
Leeuwenhoek (1632 – 1723) quem construiu o primeiro microscópio prático. Com
um poder de aumento de 270 vezes, esse microscópio permaneceu inigualável até o
século XIX (Lyons e Petrucelli, 1978). Usando esse microscópio, ele foi o primeiro a
observar células sangüíneas e a estrutura básica dos músculos. O cientista inglês
Robert Hooke (1635 – 1703), contemporâneo de Leeuwenhoek, construiu seu pró-
prio microscópio e observou que os tecidos das plantas continham muitas cavidades
pequenas separadas por paredes. Hooke chamou essas cavidades de “células” ou “pe-
quenas câmaras” e suas observações tornaram-se o fundamento da teoria do século
XIX de que a célula era a unidade básica de todos os organismos vivos.
Descobertas do século XIX
Uma vez que as células individuais tornaram-se visíveis, o cenário estava pronto
para Rudolf Virchow (1891 – 1902) esboçar a teoria celular da doença – a idéia de
que a doença resulta do funcionamento incorreto ou da morte das células corporais.
Como ocorre freqüentemente na ciência, problemas práticos levam ao entendi-
mento mais profundo da doença. Em uma interessante série de experimentos, o cien-
tista francês Louis Pasteur (1822 – 1895) isolou a bactéria responsável pela doença
do bicho-da-seda, que ameaçava a indústria da seda na França. E, após provar que
um microrganismo causava a raiva, ele desenvolveu a pri-
meira vacina eficaz contra ela. Porém, a contribuição mais
importante de Pasteur para a medicina veio em 1862, quan-
do ele sacudiu o mundo médico com diversos experimentos
meticulosos que mostravam que a vida apenas pode existir a
partir da vida já existente. Até o século XIX, os estudiosos
acreditavam na geração espontânea – a idéia de que os orga-
nismos vivos podem ser formados a partir de matéria não-
viva. Por exemplo, pensava-se que as larvas e as moscas sur-
giam automaticamente de carne podre. Para testar a hipótese
de que a vida não pode ser formada a partir da não-vida, Pasteur
encheu dois frascos com um líquido semelhante a mingau,
aquecendo ambos até o ponto de ebulição para matar qual-
quer organismo presente. Um dos frascos tinha a boca larga,
por onde o ar poderia fluir com facilidade. O outro frasco tam-
bém ficava aberto, mas tinha um pescoço curvo, impedindo
que as bactérias presentes no ar caíssem no líquido. Para sur-
presa dos céticos, nenhum crescimento ocorreu no frasco cur-
vo. Entretanto, no frasco com o bico comum, microrganismos
contaminaram o líquido e multiplicaram-se com rapidez. Mos-
trando que uma solução genuinamente esterilizada permane-
ceria sem vida, Pasteur abriu caminho para o desenvolvimento posterior de procedi-
mentos cirúrgicos assépticos (livre de germes). Ainda mais importante, o desafio de
Pasteur contra uma crença com 2 mil anos de idade é uma poderosa demonstração da
importância de manter a mente aberta na investigação científica.
As descobertas de Pasteur também ajudaram a moldar a teoria dos germes da
doença – que afirma que bactérias, vírus e outros microrganismos que invadem as
células do corpo fazem com que elas funcionem de maneira imprópria. A teoria dos
germes, que é um aperfeiçoamento da teoria celular, forma a base teórica da medici-
na moderna.
Após Pasteur, o conhecimento e os procedimentos médicos desenvolveram-se rapi-
damente. Em 1846, William Morton (1819 – 1868), um dentista norte-americano, intro-
duziu o gás éter como anestésico. Esse grande avanço possibilitou a operação em pacien-
tes, os quais não experimentavam dor e permaneciam completamente relaxados. Cin-
qüenta anos mais tarde, o médico alemão Wilhelm Roentgen (1845 – 1943) descobriu o
raio X e, pela primeira vez, os médicos puderam observar os órgãos internos de forma
direta. Antes do final do século, os pesquisadores haviam identificado os microrganismos
que causavam uma variedade de doenças, incluindo malária, pneumonia, difteria, lepra,
� teoria celular formulada no sé-
culo XIX, essa teoria diz que a
doença é o resultado de anor-
malidades nas células do corpo
� teoria dos germes diz que a
doença é causada por vírus,
bactérias e outros microrganis-
mos que invadem as células do
corpo
Louis Pasteur em seu laboratório
O meticuloso trabalho de Pasteur, em isolar bactérias no laboratório e mostrar que
a vida apenas ocorre a partir da vida existente, abriu caminho para procedimentos
cirúrgicos livres de germes. © Bettmann/CORBIS
32 PARTE 1 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
sífilis, peste bubônica e febre tifóide. De posse dessas informações, a medicina começou
a controlar doenças que haviam acossado o mundo desde a antigüidade.
O século XX e o início de uma nova era
À medida que o campo da medicina continuava a avançar, durante a primeira
parte do século XX, apoiava-se cada vez mais na fisiologia e na anatomia, em vez do
estudo de pensamentos e emoções, na busca por uma compreensão mais profunda
da saúde e da doença. Assim, nascia o modelo biomédico de saúde, sustentando que
a doença sempre tem causas biológicas. Motivado pelo ímpeto das teorias celular e
dos germes, esse modelo tornou-se aceito de forma ampla durante o século XIX, e
continua a representar a visão dominante na medicina hoje em dia.
O modelo biomédico apresenta três características distintas. Em primeiro lugar,
pressupõe que a doença é o resultado de um patógeno – um vírus, uma bactéria ou
algum outro microrganismo que invade o corpo. O modelo não faz menção às variá-
veis psicológicas, sociais ou comportamentais na doença. Nesse sentido, o modelo
biomédico é reducionista, considerando que fenômenos complexos (como a saúde e
a doença) são essencialmente derivados de um único fator primário. Em segundo,
esse modelo tem como base a doutrina cartesiana do dualismo mente-corpo que, como
vimos, considera-os entidades separadas e autônomas que não interagem. Finalmen-
te, de acordo com esse padrão, a saúde nada mais é do que a ausência de doenças.
Dessa forma, aqueles que trabalham apoiados nessa perspectivaconcentram-se em
investigar as causas das doenças físicas em vez daqueles fatores que promovem a
vitalidade física, psicológica e social.
Medicina psicossomática
O modelo biomédico, por intermédio de seu foco nos patógenos, avançou o trata-
mento de saúde de maneira significativa. Entretanto, foi incapaz de explicar transtor-
nos que não apresentavam causa física observável, como aquelas descobertas por
Sigmund Freud (1856 – 1939), que inicialmente obteve formação como médico. As
pacientes de Freud exibiam sintomas como perda da fala, surdez e até paralisia. Um
caso particularmente intrigante envolveu uma paciente que relatou perda completa
das sensações em sua mão direita. Freud acreditava que esse mal, que ele chamou de
“anestesia de luva”, era causado por conflitos emocionais inconscientes “convertidos”
em forma física. Freud rotulou essas doenças de transtornos de conversão, e a comuni-
dade médica viu-se forçada a aceitar uma nova categoria de doença.
A idéia de que determinadas doenças poderiam ser causadas pelos conflitos psi-
cológicos do indivíduo foi desenvolvida durante a década de 1940 pelo trabalho do
psicanalista Franz Alexander. Quando os médicos não conseguiam encontrar agentes
infecciosos ou outras causas diretas para artrite reumática, Alexander ficava intrigado
pela possibilidade de que fatores psicológicos pudessem estar envolvidos. Segundo o
seu modelo do conflito nuclear, a presença de determinados conflitos inconscientes
pode levar à presença de queixas físicas (Alexander, 1950). Ou seja, cada doença física
é o resultado de um conflito psicológico fundamental ou nuclear. Por exemplo, acredi-
tava-se que indivíduos com “personalidade reumática”, que tendem a reprimir a raiva
e são incapazes de expressar as emoções, seriam propensos a desenvolver artrite. Des-
crevendo com cuidado um grande número de transtornos físicos que eram
presumivelmente causados por conflitos psicológicos, Alexander ajudou a estabelecer
a medicina psicossomática, um movimento reformista dentro da medicina, denomi-
nado em decorrência das raízes psico, que significa mente, e soma, que significa corpo.
Por definição, a medicina psicossomática diz respeito ao diagnóstico e ao tratamento
de doenças físicas supostamente causadas por processos deficientes na mente. Esse
novo campo floresceu e, logo, o periódico Psychosomatic Medicine publicou explicações
psicanalíticas para uma variedade de problemas de saúde, incluindo hipertensão, en-
xaquecas, úlceras, hipertireoidismo e asma brônquica.
� medicina psicossomática ramo
desatualizado da medicina con-
centrado no diagnóstico e trata-
mento de doenças físicas causa-
das por processos psicológicos
deficientes
� modelo biomédico visão do-
minante no século XX que sus-
tenta que a doença sempre tem
uma causa física
� patógeno vírus, bactéria ou al-
gum outro microrganismo que
causa determinada doença
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DA SAÚDE CAPÍTULO 1 33
A medicina psicossomática era intrigante e parecia explicar o inexplicável.
Entretanto, tinha diversas fraquezas, que fizeram com que fosse desfavorecida. A
mais significativa delas é o fato de que se fundamentava na teoria freudiana. À
medida que a ênfase de Freud em motivações inconscientes e irracionais na forma-
ção da personalidade perdeu popularidade, o campo da medicina psicossomática
começou a declinar. Além disso, a medicina psicossomática foi questionada pela
categorização aparentemente arbitrária de algumas doenças como sendo de natu-
reza completamente física e outra completamente psicológica. Outra crítica à me-
dicina psicossomática era metodológica: ou seja, a pesquisa era fundamentada prin-
cipalmente em estudos de caso de pacientes individuais, que está entre os méto-
dos mais antigos, mas menos confiáveis (ver Capítulo 2). Qualquer caso individual
pode ser atípico e, portanto, enganoso, como a base para uma teoria geral. A crítica
final é que a medicina psicossomática, como o modelo biomédico, apoiava-se no
reducionismo – nesse caso, a idéia obsoleta de que um único problema psicológico
ou defeito de personalidade seria suficiente para desencadear a doença. Atualmen-
te sabemos que a doença, assim como a boa saúde, baseiam-se na interação combi-
nada de fatores múltiplos, incluindo a hereditariedade, o ambiente e a formação
psicológica individual.
Embora a psicanálise de Freud e a medicina psicossomática estivessem compro-
metidas de forma crítica, elas formaram as bases para a nova apreciação das cone-
xões entre a medicina e a psicologia. Elas deram início à tendência contemporânea
de ver a doença e a saúde como algo multifatorial. Isso significa que muitas doenças
são causadas pela interação entre diversos fatores, em vez de uma única bactéria ou
agente viral invasor. Entre estes, estão fatores do hospedeiro (como vulnerabilidade
ou resiliência genética), fatores ambientais (como exposição a poluentes ou químicos
perigosos), fatores comportamentais (como dieta, exercícios, hábito de fumar) e fato-
res psicológicos (como otimismo e “tenacidade” geral).
Medicina comportamental
Durante a primeira metade do século XX, o Behaviorismo, liderado por John
Watson (1878 – 1958), Edward Thorndike (1874 – 1945) e B. F. Skinner (1904 –
1990), dominou a psicologia norte-americana. Na sua disciplina introdutória, os
behavioristas definem a psicologia como o estudo científico do comportamento
observável. Eles afirmam, além disso, que apenas dois tipos de aprendizagem expli-
cam a maioria dos comportamentos: o condicionamento clássico (também chamado
condicionamento pavloviano) ou o aprendizado que ocorre quando aprendemos a
associar dois estímulos ambientais que ocorrem simultaneamente; e o condiciona-
mento operante, por meio do qual o comportamento é fortalecido quando seguido
por uma conseqüência desejável (reforço) ou enfraquecido quando seguido por uma
conseqüência indesejável (punição).
No início da década de 1970, os profissionais conceberam a idéia de um campo
de medicina comportamental como resposta direta ao Behaviorismo. Assim, o novo
campo começou a explorar o papel do condicionamento clássico e operante na saúde
e na doença. Um de seus primeiros sucessos foi a pesquisa de Neal Miller (1909–),
que utilizou técnicas de condicionamento operante para ensinar cobaias (e posteri-
ormente seres humanos) a adquirirem controle sobre certas funções corporais. Miller
demonstrou, por exemplo, que as pessoas podem adquirir algum nível de controle
sobre sua pressão sangüínea e relaxar a freqüência cardíaca quando estiverem cien-
tes desses estados. A técnica de Miller, chamada de biofeedback, é discutida de forma
mais detalhada no Capítulo 4.
Embora a fonte da medicina comportamental tenha sido o movimento behaviorista
na psicologia, uma característica distinta desse campo é sua natureza interdisciplinar. A
medicina comportamental atrai membros de campos tão diversos quanto a antropologia,
a sociologia, a biologia molecular, a genética, a bioquímica e a psicologia, além de profis-
sões ligadas à área da saúde, como enfermagem, medicina e odontologia.
Condicionamento clássico e operante
(acima) Condicionamento clássico: nem sem-
pre doloroso, mas sempre permanece com
a gente! Nesse tipo de aprendizagem, apren-
demos a associar dois ou mais estímulos.
Uma criança aprende, por exemplo, que a
visão de uma agulha hipodérmica (um estí-
mulo inicialmente neutro) logo será seguido
por uma picada. © Jeremy Horner/Corbis
(abaixo) Condicionamento operante: a pau-
sa que refresca. Nesse tipo de aprendiza-
gem, associamos uma resposta voluntária a
suas conseqüências. O corredor fatigado e
sedento, por exemplo, aprende que beber
uma bebida isotônica logo após uma prática
vigorosa irá acabar com sua sede e ajudar
os músculos cansados a se recuperarem
mais rapidamente. AP Photo/Thomas Kienzle
� estudo de caso um dos méto-
dos mais antigos de observa-ção, em que uma pessoa é es-
tudada de forma profunda, na
esperança de encontrarem-se
princípios universais
� medicina comportamental um
campo interdisciplinar que inte-
gra as ciências comportamen-
tais e biomédicas para promo-
ver a saúde e curar doenças
34 PARTE 1 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
Saúde no novo milênio
Em 1991, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Esta-
dos Unidos publicou o relatório Healthy People 2000 (USDHHS,
1991), que estabelecia as prioridades do país na promoção da saú-
de e prevenção de doenças entre os norte-americanos. O relatório
tinha por base as opiniões criteriosas de um grande grupo de espe-
cialistas em saúde da comunidade científica, organizações de pro-
fissionais da área da saúde e do mundo empresarial. Ele estabelecia
300 objetivos de saúde específicos, a serem alcançados até o ano
2000, os quais estavam organizados em três categorias amplas:
� Aumentar o tempo de “vida saudável” para todos os cidadãos
norte-americanos. A saúde é uma combinação da expectativa
média de vida e da qualidade de vida. Embora a expectativa
média de vida de todos os cidadãos norte-americanos atual-
mente seja de aproximadamente 76 anos, o número médio de
anos saudáveis é muito menor: por exemplo, de apenas 64 anos
para norte-americanos brancos e de 56 anos para afro-ameri-
canos. O objetivo seria reduzir o número de “anos disfuncionais”
em que as pessoas vivem em estado de saúde decadente e
com baixa qualidade de vida.
� Reduzir as discrepâncias de saúde entre os norte-americanos.
Historicamente, várias medidas de saúde mostraram diferenças
substanciais entre os grupos étnicos. Por exemplo, em 1997, a
expectativa média de vida era de 74,3 anos para homens brancos,
mas de apenas 67,2 anos para homens negros; 79,9 anos para
mulheres brancas, mas apenas 74,7 anos para mulheres negras
(Centers for Disease Control and Prevention, 1999). As razões
para essas discrepâncias sem dúvida são complexas, mas po-
dem incluir o acesso desigual aos serviços de saúde, susceti-
bilidade genética a certas doenças e diferenças no estilo de vida.
� Disponibilizar o acesso a serviços de saúde preventiva para
todos os cidadãos norte-americanos. Muitas minorias étnicas
têm acesso limitado aos serviços de saúde preventiva. Por essa
razão, elas tendem a sofrer com mais problemas de saúde e a
ter taxa de mortalidade alta. Esse objetivo visa a entender e a
remover as barreiras que limitam o acesso aos serviços de saúde
para tais grupos.
Em 1998, uma revisão intermediária demonstrou que o país
estava fazendo progressos significativos, atingindo aproximada-
mente dois terços dos objetivos do relatório Healthy People 2000.
Esse progresso incluía:
� Declínio nas três principais causas de morte (doenças cardía-
cas, câncer e acidente vascular cerebral). Embora este progresso
se deva, em parte, às melhorias nos serviços de saúde, ele tam-
bém reflete o declínio nacional em comportamentos que com-
prometem a saúde (por exemplo, 50% dos adultos fumavam em
1955, comparado com aproximadamente 23% em 2000). Ao
mesmo tempo, a nação tem visto aumento de comportamentos
que melhoram a saúde, à medida que mais pessoas praticam
exercícios, seguem dietas melhores, que contêm menos gor-
dura, e assim por diante.
� Diminuição no número de mortes em acidentes automobilísti-
cos relacionados com o consumo de álcool de 9,8 por 100 mil
pessoas para 6,8 por 100 mil pessoas.
� Redução no número de suicídios e mortes relacionadas com o
trabalho.
� Aumento na porcentagem de norte-americanos que utilizam o
cinto de segurança de 49,7 para 76%.
� Diminuição no consumo de maconha e álcool entre jovens de
12 a 17 anos de idade.
� Decréscimo na taxa de nascimentos com mães solteiras.
� Declínio continuado na taxa de mortalidade infantil.
� Aumento continuado na expectativa de vida.
� Estabilização na taxa de mortalidade devido à AIDS.
Apesar desse progresso, outro relatório, o Healthy People 2010
(USDHHS, 1998), observa que ainda há muito a ser feito. Enquan-
to o relatório continua a concentrar-se na eliminação das
disparidades de saúde entre diversos grupos socioculturais, ele
apresenta um foco mais amplo – aumentar a saúde de todos os
cidadãos norte-americanos. Ele também observa que o uso (e abu-
so) de certas drogas está aumentando novamente, e aproximada-
mente um milhão de mortes que ocorrem nos Estados Unidos a
cada ano podem ser prevenidas. Com relação a esta última ques-
tão, estima-se que:
� O controle do uso excessivo de álcool e do consumo de álcool
por menores de idade poderia prevenir 100 mil mortes em aci-
dentes de trânsito e outros ferimentos relacionados com o con-
sumo de álcool.
� A eliminação da posse de armas de fogo em público poderia
prevenir 35 mil mortes.
� A eliminação de todas as formas de consumo de tabaco poderia
prevenir 400 mil mortes de câncer, acidente vascular cerebral
(AVC) e doenças cardíacas.
� Uma melhor nutrição e programas de exercícios poderiam preve-
nir 300 mil mortes por doenças cardíacas, diabete, câncer e AVC.
� A redução em comportamentos sexuais de risco poderia preve-
nir 300 mil mortes por doenças sexualmente transmissíveis.
� O acesso total a imunizações para doenças infecciosas poderia
prevenir 100 mil mortes.
Para confirmar o papel da psicologia de cumprir com os objetivos
do relatório Healthy People 2010, a American Psychological Associa-
tion, em colaboração com o National Institutes of Health e 21 outras
sociedades profissionais, recentemente prepararam uma agenda de
pesquisa nacional, relacionada com a promoção da saúde. Publicada
em 1995, Doing the Right Thing: A Research Plan for Healthy Living
identifica quatro prioridades de pesquisa no novo milênio:
� Aumentar o foco nos processos comportamentais básicos de
prevenção, desenvolvimento e tratamento de doenças crônicas.
� Acelerar pesquisas relacionadas com a promoção da saúde e a
prevenção de doenças.
� Estender a pesquisa e os serviços de saúde a grupos tradicio-
nalmente não-representados, como as mulheres e as minorias.
� Reformar o sistema de saúde para atrair mais atenção à pro-
moção da saúde e à prevenção de doenças.
O relatório também identifica estratégias específicas para atin-
gir uma compreensão mais completa da interação de fatores bioló-
gicos, psicológicos e sociais em doenças como AIDS, câncer, do-
enças cardíacas, artrite e obesidade. Estas incluem a necessida-
de de mais pesquisas visando a detecção inicial de doenças e
programas de exames, avaliação de riscos e programas de inter-
venção para auxiliar cuidadores não-médicos a prestar atendimento
para aqueles que sofrem de doenças físicas.
Fontes: Murphy, S. L. (2000). “Deaths: Final data for 1998.” National Vital Statistics
Reports, 48(11), Figure 3; Science Directorate of the American Psychological
Association. (1995). Doing the right thing: A research plan for healthy living. Wa-
shington, DC: Author; U.S. Department of Health and Human Services. (1991).
Healthy People 2000: National health promotion and disease prevention objectives.
DHHS Publication No. (PHS) 91-50212. Washington, DC: U.S. Government
Printing Office; U.S. Department of Health and Human Services. (1998). Healthy
People 2010. Washington, DC: U.S. Government Printing Office.
Diversidade e vida saudável
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DA SAÚDE CAPÍTULO 1 35
O surgimento da psicologia da saúde
Em 1973, a American Psychological Association (APA) indicou uma força-tarefa
para explorar o papel da psicologia no campo da saúde, a fim de determinar se a
psicologia permaneceria apenas sob a categoria de medicina comportamental ou
estabeleceria um campo distinto, com seus próprios objetivos e focos. Com base nas
recomendações obtidas, em 1978, a APA criou a divisão de psicologia da saúde (Divi-
são 38). Após quatro anos, foi publicado o primeiro volume de seu periódico oficial,
Health Psychology.Nessa edição, Joseph Matarazzo, o primeiro presidente da divisão,
estabeleceu os quatro objetivos do novo campo:
� Estudar de forma científica as causas e origens de determinadas doenças, ou seja, a
sua etiologia. Os psicólogos da saúde estão principalmente interessados nas ori-
gens psicológicas, comportamentais e sociais da doença. Eles investigam por que
as pessoas se envolvem em comportamentos que comprometem a saúde, como o
hábito de fumar e o sexo inseguro.
� Promover a saúde. Eles se preocupam com questões sobre como fazer as pessoas
realizarem comportamentos que promovam a saúde, como praticar exercícios re-
gularmente e comer alimentos nutritivos.
� Prevenir e tratar doenças. Eles projetam programas para ajudar as pessoas a parar
de fumar, perder peso, administrar o estresse e minimizar outros fatores de risco
de uma saúde fraca. Eles também auxiliam aquelas que já estão doentes, em seus
esforços para adaptarem-se a suas doenças ou obedecerem regimes de tratamen-
to difíceis.
� Promover políticas de saúde pública e o aprimoramento do sistema de saúde pública.
Os psicólogos da saúde são bastante ativos em todos os aspectos da educação
para a saúde e reúnem-se com freqüência com os líderes governamentais que
formulam políticas públicas na tentativa de melhorar os serviços de saúde para
todos os indivíduos.
Uma questão natural que surge ao se ler esses objetivos seria: “de que forma a
psicologia da saúde difere da medicina comportamental?” A resposta é “não difere
muito”. A distinção entre os dois campos sempre foi uma fonte considerável de con-
fusão. Para eliminar essa confusão, será feita referência à medicina comportamental
como o campo interdisciplinar que integra a ciência comportamental e biomédica
visando a promover a saúde e a tratar doenças. E, conforme explicamos no começo
do capítulo, psicologia da saúde é o subcampo da psicologia que diz respeito ao apri-
moramento da saúde e à prevenção e tratamento da doença por meio de princípios
psicológicos básicos.
TENDÊNCIAS QUE MOLDARAM A PSICOLOGIA DA SAÚDE
O desafio que os psicólogos da saúde enfrentam no século XXI é claro: como ajudar
as pessoas a adotarem e manterem mudanças em estilo de vida que promovam vita-
lidade para toda a vida. Os antigos filósofos gregos afirmavam esse objetivo de forma
mais sucinta: ajudar as pessoas a morrerem jovens – o mais tarde possível (Brody,
1996b). Quatro tendências principais em saúde pública, psicologia e medicina con-
tribuíram para moldar esse desafio.
Aumento na expectativa de vida
Há menos de cem anos, 15% dos bebês que nasciam nos Estados Unidos morri-
am antes de seu primeiro aniversário (Figura 1.2). Para aqueles que sobreviviam, a
expectativa de vida era de pouco mais de 50 anos. Com a melhoria dos serviços de
saúde, atualmente, mais de 90% dos bebês sobrevivem até pelo menos 1 ano de
� etiologia estudo científico das
causas ou origens de determi-
nadas doenças
36 PARTE 1 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
idade. Além disso, a expectativa média de vida – o número de anos que o recém-
nascido provavelmente viverá – aumentou em mais de 20 anos. Nos Estados Unidos,
em 1999, a expectativa média de vida era de 79,7 anos para as mulheres e 73,8 anos
para os homens (OMS, 2000). Apesar dessas notícias encorajadoras, as desigualda-
des em expectativa de vida persistem nos países, assim como ao redor do mundo e
estão bastante associadas à classe socioeconômica, mesmo em países com um bom
padrão médio de saúde (OMS, 2000).
Com as pessoas vivendo mais, existe maior consciência pública das questões
relacionadas com a saúde, a qual foi redefinida em termos mais amplos e positivos.
Essa nova definição, que enfatiza a vitalidade física, psicológica e social para a vida
toda, estabelece um papel claro para a psicologia no tratamento de saúde.
O surgimento de transtornos relacionados com o estilo de vida
Durante os séculos XVII, XVIII e XIX, as pessoas morriam principalmente de
doenças que eram causadas por falta de água potável, por alimentos contaminados
ou por infecções contraídas no contato com pessoas doentes (Grob, 1983). Não era
incomum que centenas ou mesmo milhares de pessoas morressem em uma única
epidemia de varíola, febre amarela, difteria, gripe ou sarampo. Essas doenças não
existiam nas Américas antes da chegada dos colonizadores europeus. A varíola, que
foi trazida para as Américas pelos europeus no século XVI, matou aproximadamente
90% da população. Os nativos americanos morriam em uma velocidade alarmante
por duas razões: em primeiro lugar, careciam de imunidade para os microrganismos
estranhos que causavam essas doenças e, em segundo, seus sistemas imunológicos
eram mais fracos do que os dos europeus, em virtude de um nível de variação mais
baixo em seu banco genético.
Melhorias em higiene pessoal, nutrição e saúde pública (como o sistema de
tratamento de esgotos) durante o século XIX levaram a um declínio no número de
mortes por doenças infecciosas. Porém, somente após a descoberta da penicilina
por Alexander Fleming, em 1928, a saúde pública deu um passo verdadeiramente
decisivo. Antes disso, quatro das 10 principais causas de mortes dos Estados Unidos
eram doenças infecciosas como tuberculose, gripe, gastrite e pneumonia (ver Tabe-
la 1.1, que compara as taxas de mortalidade por doenças em 1900 com as de 1998).
De fato, só a taxa de mortalidade de gripe e pneumonia era quase quatro vezes
maior do que a taxa de mortalidade de todas as formas conhecidas de câncer. É
Figura 1.2
Mortalidade infantil nos Estados Unidos
Há menos de cem anos, 15% dos bebês que nasciam nos Estados Unidos
morriam antes de seu primeiro aniversário. Para aqueles que sobreviviam, a
expectativa de vida era de pouco mais de 50 anos. Com a melhoria dos
serviços de saúde, atualmente, mais de 90% dos recém-nascidos sobrevi-
vem até pelo menos 1 ano de idade.
Fontes: Historical Statistics of the United States: Colonial Times to 1970, de U.S. Bureau
of the Census, 1975, Washington, DC: U.S. Government Printing Office p. 60; “Deaths:
Final Data for 1998”, de S. L. Murphy, 2000, National Vital Statistics Reports, 48 (11),
Tabela 27.
� expectativa média de vida nú-
mero de anos que é provável
que um bebê recém-nascido
viva
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DA SAÚDE CAPÍTULO 1 37
importante observar que aqueles de nós que vivem em países desenvolvidos, como
os Estados Unidos, são beneficiados com um ambiente bastante privilegiado de
cuidado à saúde. Na maioria dos países em desenvolvimento, atualmente, doenças
infecciosas como a tuberculose e a pneumonia permanecem sendo as principais
causas de morte.
As principais causas de morte em países desenvolvidos diferem hoje em dia das
verificadas no começo do século XX de duas formas importantes. Em primeiro lugar,
ao contrário da pneumonia, difteria e outras doenças às quais nossos antepassados
sucumbiam com freqüência, o câncer, o AVC e as doenças cardíacas não resultam de
infecções virais ou bacterianas. Elas são “doenças do estilo de vida” que podem ser
amplamente prevenidas, mas cujas causas não são facilmente identificáveis. Em 1998,
por exemplo, mais de um milhão das mortes listadas na Tabela 1.1 tinha causas
evitáveis, conforme explicado na Tabela 1.2.
Considere duas doenças relacionadas com o estilo de vida: a doença cardíaca e
o câncer. O risco que um indivíduo corre de ter doenças cardíacas ou câncer de
pulmão, na garganta ou na bexiga é aumentado amplamente pelo hábito de fumar
cigarros, levar vida sedentária e consumir dieta com teor elevado de gordura. Cada
um desses comportamentos está enraizado, em níveis variados, em fatores psicológi-
cos e sociais. Abster-se de fumar, manter um programa de exercícios e modificar a
dieta requer grande comprometimento psicológico, que envolve modificar atitudes e
hábitos antigos.
Tabela 1.1
As 10 principais causas de mortes nos Estados Unidos em 1900 e 19981900 Taxa por 100.000 1998 Taxa por 100.000
Doenças cardíacas e AVC 345 Doenças cardíacas 268,2
Influenza e pneumonia 202 Câncer 200,3
Tuberculose 194 AVC 58,6
Gastrite 143 Doenças obstrutivas pulmonares crônicas 41,7
Acidentes 72 Acidentes 36,2
Câncer 64 Pneumonia, influenza 34,0
Difteria 40 Diabete começando na idade adulta 24,0
Febre tifóide 31 Suicídio 11,3
Sarampo 13 Nefrite e nefrose (doenças renais) 9,7
Fontes: Historical Statistics of the United States: Colonial Times to 1970, Pt. 1, de U.S. Bureau of the Census, 1975, Washington, DC:
U.S. Government Printing Office; “Deaths: Final data for 1998”, de S. L. Murphy, 2000, National Vital Statistics Reports, 48(11), p. 5.
Tabela 1.2
Mortes evitáveis e custos associados
Causa Número Custo por
da morte anual Tratamento paciente (U$) Fatores comportamentais
Doença cardíaca 500.000 Cirurgia de ponte de safena 30.000 Fumar, falta de exercícios, dieta deficiente
Câncer 510.000 Radioterapia/quimioterapia 29.000 Fumar, falta de exercícios, dieta deficiente
AVC 150.000 Reabilitação 22.000 Fumar, falta de exercícios, dieta deficiente
Lesões 142.500 Tratamento/reabilitação 570.000 Consumo de álcool, falta do cinto de
 segurança
Baixo peso natal 23.000 Cuidado neonatal 10.000 Comportamentos maternos
Infecção com HIV 1 - 1,5 milhão Farmacologia 75.000 Atividade sexual de risco, uso de agulhas
 contaminadas
Fonte: Healthy People 2000: National health promotion and disease prevention objectives. DHHS Publication No. (PHS) 91-50212, do U.S. Department of Health
and Human Services (USDHHS), 1991, Washington, DC: U.S. Government Printing Office.
38 PARTE 1 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAÚDE
A segunda mudança nas principais causas de morte envolve o padrão da doen-
ça. Antes do século XX, as principais causas de doenças e de morte eram transtornos
agudos, dos quais os indivíduos se recuperavam em questão de semanas, ou morriam
rapidamente. Atualmente, as pessoas vivem com doenças crônicas por muitos anos.
Embora não possam ser curadas, é possível tratar as doenças crônicas para prevenir
mortes prematuras e manter a qualidade de vida.1
Repensando o modelo biomédico
A terceira tendência que ajudou a moldar o campo da psicologia da saúde foi a
necessidade de ir além do modelo biomédico, valendo-se de um modelo mais
abrangente de saúde e doença. Uma limitação da medicina tradicional é sua dificul-
dade para explicar por que o mesmo conjunto de fatores de risco algumas vezes
desencadeia uma doença e em outras não. Como, por exemplo, Frank – um homem
de meia-idade, obeso, fumante e sedentário, com um histórico familiar de doença
cardíaca – tem um ataque cardíaco fatal, enquanto Malcolm – que apresenta pratica-
mente os mesmos fatores de risco – permanece livre de doenças cardíacas? A dificul-
dade encontrada pela biomedicina para prever novos casos de doenças cardíacas
levou os pesquisadores a descobrir que fatores psicológicos – como a maneira de uma
pessoa reagir ao estresse – combinam-se com fatores de risco físicos para determinar
o risco à saúde do indivíduo.
Um problema intimamente relacionado ao modelo biomédico é explicar por
que uma forma de tratamento (como o uso de certa medicação) pode curar determi-
nada doença em uma pessoa, mas não em outra. Os psicólogos da saúde têm apren-
dido que o fato de uma droga específica ou alguma forma de tratamento ser eficaz é
substancialmente influenciado por fatores psicológicos e sociais.
Um desses fatores é o poder de cura do efeito placebo, ou a fé do paciente e do
profissional no valor terapêutico de um certo tratamento. Placebo, em latim, significa
“vou satisfazer”. Na medicina, um placebo é uma substância inativa ou um tratamen-
to que é apresentado de tal forma que faz com que o paciente espere que a substân-
cia ou tratamento funcione de verdade. Todos os tratamentos dependem mais ou
menos dessa fé e é por isso que determinada terapia pode ser capaz de curar certa
doença mobilizando os próprios poderes de cura do paciente (Relman, 1998). Qual-
quer procedimento médico, das drogas à cirurgia, pode ter efeito placebo ou, além
disso, um efeito nocebo, em que a pessoa conecta uma expectativa negativa, ao invés
de positiva, ao tratamento. O próprio relacionamento entre médico e paciente já é
um bom exemplo. Pesquisas verificaram, por exemplo, que a quantidade diária de
insulina necessária para estabilizar pacientes de diabete flutua dependendo da har-
monia do paciente com seu médico.
Devido à credibilidade da ciência médica, tratamentos com base nas mais re-
centes tecnologias (ultra-som, estimulação transcutânea de nervos) são especialmente
suscetíveis ao efeito placebo (Brody, 2000b). A terapia com placebos tem-se mostra-
do eficaz para uma variedade de doenças, incluindo alergias, asma, câncer, depres-
são, diabete, epilepsia, insônia, enxaquecas, esclerose múltipla, úlceras e verrugas.
Examinaremos o efeito placebo de forma mais detalhada no Capítulo 14.
Aumento dos custos do atendimento em saúde
O último fator que ajudou a moldar a psicologia da saúde foi o rápido aumento
nos custos dos serviços de saúde. Em 1980, o custo anual dos serviços de saúde nos
Estados Unidos foi de 156 bilhões de dólares, ou aproximadamente de mil dólares
por pessoa. Atualmente, esses custos consomem mais de 13% do produto interno
bruto (1,5 trilhão de dólares), ou mais de 3.900 dólares para cada homem, mulher e
criança (Figura 1.3).
Esses números ajudaram a focar a atenção na eficácia do custo para promover
e manter a saúde. A ênfase da psicologia da saúde em modificar os comportamen-
� efeito placebo o poder da cren-
ça de uma pessoa na eficácia
de um tratamento, a ponto de
influenciar sua intervenção
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DA SAÚDE CAPÍTULO 1 39
tos de risco das pessoas, antes que eles causem doenças, tem o potencial de reduzir
custos com a saúde de forma expressiva (Kaplan, 2000). Por exemplo, a cada ano,
surgem aproximadamente um milhão de casos novos de câncer e ocorrem aproxi-
madamente 500 mil mortes relacionadas com ele. Muitas formas de câncer são
evitáveis, reduzindo ou eliminando o hábito de fumar ou aumentando o uso de
testes diagnósticos.
PERSPECTIVAS EM PSICOLOGIA DA SAÚDE
Você já viu como as tendências sociais e históricas criaram a necessidade de um
modelo novo e mais amplo de saúde e de doença. De fato, os psicólogos da saúde
desenvolveram diversos modelos, ou perspectivas, para guiar seu trabalho. À me-
dida que você ler, lembre de que cada perspectiva proporciona uma forma dife-
rente de ver a mesma coisa e, juntas, formam a imagem completa da saúde e da
doença.
Perspectiva do curso de vida
Em todos os estágios da vida, as pessoas enfrentam desafios à sua saúde e ao
seu bem-estar geral. Desde o momento da concepção até o dia em que morremos,
cada um de nós é moldado por uma variedade única de fatores genéticos, biológi-
cos e socioculturais. A perspectiva do curso de vida na psicologia da saúde
concentra-se em importantes aspectos da saúde e da doença relacionados com a
idade (Jackson, 1996). Essa perspectiva considera, por exemplo, a maneira como
o uso de drogas psicoativas por uma mulher grávida afeta o desenvolvimento de
seu bebê ao longo de sua vida. Talvez seu filho nasça prematuramente e sofra de
baixo peso neonatal (menos de 2.500 gramas), um dos problemas mais comuns e
mais evitáveis no desenvolvimento pré-natal, e que deixa marcas no desenvolvi-
mento físico e cognitivo do indivíduo por muitos anos. Entre as conseqüências
disso estão o desenvolvimento motor, social e lingüístico lento; maior risco de
paralisia cerebral; e, ainda, dificuldades de aprendizagem a longo prazo (Liaw e
Brooks-Gunn, 1993).
� perspectiva do curso de vida
perspectiva teórica concentra-
da em aspectos da saúde e da
doença relacionados com a
idade
Figura 1.3
Gastos per capita com saúde nos Estados Unidos de 1960 a 2000
Em 1980, o custo anual dos serviços

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