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Impacto do Feminicidio na Corte Interamericana de Direitos Humanos analise do caso Campo Algodoeiro

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Prévia do material em texto

SOCIEDADE EDUCACIONAL DE ITAPIRANGA – SEI 
FACULDADES DE ITAPIRANGA – FAI 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
HUMBERTO CHIODI 
 
 
 
 
 
IMPACTO DO FEMINICÍDIO NA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS 
HUMANOS: ANÁLISE DO CASO CAMPO ALGODOEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ITAPIRANGA, SC 
2017 
 
HUMBERTO CHIODI 
 
 
 
 
 
IMPACTO DO FEMINICÍDIO NA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS 
HUMANOS: ANÁLISE DO CASO CAMPO ALGODOEIRO 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial para 
a aprovação no Curso de Direito da FAI – 
Faculdades e para obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
 
 
 
Professora Orientadora: Me. Izabel Preis Welter 
 
 
ITAPIRANGA, SC 
2017 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 À Deus, por me dar a chance de lutar todas as batalhas, me dando força para 
alcançar cada conquista em minha vida. 
 À minha mãe e minha irmã, são as mulheres com quem passei mais tempo de 
minha vida. Agradeço imensamente à minha mãe Cleusa Maria Walter, pois ela sempre 
está disposta a qualquer desafio, ela que, desde o meu primeiro suspiro tem me 
acompanhado, transmitindo seus ensinamentos, nunca deixando a bola cair, e sempre 
me ensinando o quanto amar e cuidar das pessoas ao nosso redor é essencial. Tenho 
muito a agradecer à minha irmã Laura Maíza Chiodi, por ser uma amiga que me ajuda 
em momentos de dificuldade, sempre me dando a mão quando precisei. Também, 
agradeço a meu irmão Bruno Aluis Chiodi, pois sempre foi a pessoa em que me inspirei, 
buscando tomar atitudes nobres como ele sempre tem ensinado. 
 À minha professora orientadora, Izabel Preis Welter, ela que aceitou o desafio de 
me orientar nessa caminhada, agradeço, pois, foi essencial transmitindo os seus 
conhecimentos e norteando este trabalho. Sou grato por ter me compreendido e 
permanecido ao meu lado até o final da pesquisa. 
 À minha namorada Deise, pois ela tem sido uma pessoa maravilhosa para mim, 
sempre me recebendo de braços abertos quando precisava aliviar as angustias e o 
stress. Obrigado por ser um porto seguro, em que posso me apoiar e, em momentos de 
muito cansaço, posso recarregar minha energia com a tua presença. 
 À Fai Faculdades de Itapiranga/RS e a todos os professores que já 
compartilharam seus ensinamentos no decorrer do curso. Em especial ao professor 
Diego, que é o responsável por eu não ter desistido do curso, apesar das dificuldades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
1º DE JULHO 
Eu vejo que aprendi 
O quanto te ensinei 
E é nos teus braços que ele vai saber 
Não há por que voltar 
Não penso em te seguir 
Não quero mais a tua insensatez 
O que fazes sem pensar aprendeste do olhar 
E das palavras que guardei pra ti 
Não penso em me vingar 
Não sou assim 
A tua insegurança era por mim 
Não basta o compromisso, 
Vale mais o coração 
Já que não me entendes, não me julgues 
Não me tentes 
O que sabes fazer agora 
Veio tudo de nossas horas 
Eu não minto, eu não sou assim 
Ninguém sabia e ninguém viu 
Que eu estava a teu lado então 
Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher 
Minha mãe e minha filha, 
Minha irmã, minha menina 
Mas sou minha, só minha e não de quem quiser 
Sou Deus, tua Deusa, meu amor 
(Renato Russo) 
 
 
 
RESUMO 
Este trabalho tem a finalidade de compreender a influência do crime de feminicídio no 
julgamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, para isso é utilizada uma 
abordagem direta ao caso Campo Algodoeiro, como meio basilar para compreender 
este crime de ódio que assolou Ciudad Juarez. Para isso, este trabalho foi 
desenvolvido utilizando como método de abordagem o estudo de caso, utilizando da 
técnica de pesquisa de documentação indireta, analisando artigos científicos, 
doutrinas, revistas jurídicas, normas e tratados internacionais. Durante o 
desenvolvimento do trabalho são abordadas as formas de violência contra a mulher, 
bem como a dominação masculina denotando os estereótipos do gênero, fazendo 
uma introdução ao feminicídio. Traz também uma introdução e breve análise dos 
principais mecanismos de proteção internacional dos direitos humanos das mulheres, 
ressaltando o funcionamento dos órgãos de proteção dos direitos humanos no sistema 
interamericano de direitos humanos. Ao final do desenvolvimento é estudado o caso 
Campo Algodoeiro, constatando os principais pontos da sentença proferida pela Corte 
Interamericana de Direitos Humanos através de uma perspectiva de gênero. Esta 
pesquisa deve servir para uma futura análise dos motivos que o crime de feminicídio 
deve ser combatido com todas as forças, motivando a sociedade na busca pela 
igualdade entre homens e mulheres. 
 
Palavras-chave: Feminicídio. Violência. Corte. Interamericana. Direitos. Humanos. 
Campo. Algodoeiro. Ciudad. Juarez. 
 
ABSTRACT 
This study ahs as objective to understand the influence of crime of femicide in the 
judgment of the Inter-American Court of Human Rights. In thes case, is used a direct 
approach in the case Field Cotton Plant as a foumdation for understanding this kind of 
hate crime that devastated the Ciudad Juarez. For this case, the study was developed 
using as the method to approach the study case. Using either the technique of indirect 
documentation research. Have been analyzed, scientific articles, doctrines, legal 
journals, standards, and international treaties. During the development of the work are 
discussed the forms of violence against women as well as men domination denoting 
stereotypes, making an introduction to the femicide. Also get an introduction and brief 
analysis of the main mechanisms of international protection of women's human rights, 
emphasizing the operation of the protection of Human Rights in the Inter-American 
system of Human Rights. At the end of the development is studied the case Field cotton 
plant, noting the main points of the sentence handed down by the Inter-American Court 
of Human Rights through a gender perspective. This research should serve for a future 
analysis of the reasons that the crime of femicide must be fought with all the forces, 
motivating the society in the search for equality between men and women. 
 
KEYWORDS: Femicide. Violence. Court. Inter-American. Rights. Human. Field. 
Cotton. plant. Ciudad. Juarez 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 
 
2 VIOLÊNCIA DE GÊNERO ..................................................................................... 10 
2.1 AS FORMAS DE VIOLÊNCIA SOFRIDAS PELAS MULHERES ......................... 12 
2.2 EQUAÇÃO NAS RELAÇÕES DE GÊNERO ....................................................... 14 
2.2.1 A igualdade ..................................................................................................... 16 
2.2.1.1 Igualdade Formal X Igualdade Material ......................................................... 17 
2.3 O FEMINICÍDIO .................................................................................................. 19 
2.3.1 Íntimo ............................................................................................................... 21 
2.3.2 Não íntimo ....................................................................................................... 22 
2.3.3 Social ............................................................................................................... 23 
 
3 SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS .................................. 24 
3.1 DIREITOS HUMANOS ........................................................................................ 25 
3.1.1 Declaração Universal Sobre Direitos Humanos .......................................... 28 
3.1.2 ConvençãoAmericana De Direitos Humanos: “Pacto De San José Da 
Costa Rica” .............................................................................................................. 30 
3.2 DIREITOS HUMANOS DA MULHER .................................................................. 32 
3.2.1 Convenção Sobre A Eliminação de Todas As Formas De Discriminação 
Contra A Mulher – CEDAW ..................................................................................... 35 
3.2.2 Convenção Interamericana Para Prevenir, Punir E Erradicar A Violência 
contra a Mulher – “Convenção de Belém Do Pará” ............................................. 37 
3.3 COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ............................. 40 
3.4 A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ................................ 43 
 
4 A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS E FEMINICIDIO: O 
CASO CAMPO ALGODOEIRO ................................................................................ 47 
4.1 INTRODUÇÃO AO CONTEXTO DA CIUDAD JUAREZ ...................................... 47 
4.2 ESTUDO DO CASO: CAMPO ALGODOEIRO .................................................... 49 
4.2.1 Procedimento perante a Corte Interamericana De Direitos Humanos ....... 51 
4.2.2 A decisão tomada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos através 
de uma perspectiva de gênero ............................................................................... 55 
4.3 IMPACTOS DO FEMINICIDIO NA DECISÃO DA CORTE INTERAMERICANA DE 
DIREITOS HUMANOS .............................................................................................. 58 
 
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 61 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 64 
 
 
8 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
É fato que a violência contra a mulher é algo constante na sociedade em que 
vivemos, e isto acompanha a humanidade há séculos. Este é um problema que 
vem arraigado pelo pensamento ultrapassado das culturas antigas em que 
predominava a força física do homem. É importante a busca pelo respeito à 
diversidade. A disparidade de oportunidade que a sociedade coloca para homem e 
a mulher, pesados em uma balança de direitos, revela uma disparidade, 
principalmente pela ideologia do gênero 
Importante é de se pensar que a violência contra a mulher viola direitos 
humanos fundamentais, o que implica em discriminação e proporciona a 
desigualdade entre homens e mulheres. Isto é, a mulher vem constantemente 
lutando contra a situação de desigual, e a crescente evolução das legislações de 
proteções ao direito da mulher demonstram o importante passo que a sociedade 
tem dado para acabar com a discriminação. 
Já o feminicídio, homicídio de mulheres por questões de gênero, é crime 
contra a vida, porém, indo mais além, é um desequilíbrio social e cultural que, a 
partir da violência extrema, carece de uma análise sócio jurídica, pois priva a 
sociedade da presença da mulher. 
O contexto de Ciudad Juarez, a partir de acordo de livre fronteira, 
desencadeou um aumento da criminalidade na região, isto culminou nos homicídios 
de mulheres por questões de gênero, além da impunidade que operava no Estado 
do México em razão da inércia das autoridades na busca pelos responsáveis pelos 
crimes, estes fatos propiciaram os acontecimentos que basearam o caso Campo 
Algodoeiro. 
 Desta forma, este trabalho se propõe a analisar os mecanismos de proteção 
dos direitos humanos inerentes à mulher, frente ao caso Campo Algodoeiro, e a 
sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, através de uma 
perspectiva de gênero, denotando o impacto que o feminicídio gera nos 
julgamentos da Corte. Este é um assunto relevante, eis que envolve o problema 
social e jurídico em um caso. 
Diante do exposto, considerando os mecanismos de proteção dos direitos 
humanos da mulher, o caso proposto e o homicídio de mulheres por questão de 
gênero, é possível considerar o seguinte questionamento: analisando o caso 
9 
 
Campo Algodoeiro, qual o impacto tem o feminicídio nos julgamentos da Corte 
Interamericana de Direitos Humanos? 
O objetivo geral do estudo é constatar o entendimento da Corte 
Interamericana de Direitos Humanos, frente os casos de feminicídio, tratando 
especificamente de um estudo do caso Campo Algodoeiro, analisando como são 
resguardados os direitos relativos à mulher. 
Para chegar ao ponto central o trabalho será de natureza bibliográfica. O 
método de abordagem no desenvolvimento do trabalho será o estudo de caso, a 
partir de obras doutrinárias e normativas. O método de procedimento empregado é 
o histórico-analítico, buscando as origens do problema, de modo a compreender os 
impactos que o tema causa. A técnica de pesquisa empregada será a 
documentação indireta, analisando obras de juristas, incluindo artigos científicos, 
doutrinas, revistas jurídicas, normas e tratados internacionais. 
O trabalho está estruturado em três parágrafos. No primeiro propõem-se 
uma análise da violência de gênero, e como esta violência se manifesta, através do 
estudo, em específico, do feminicídio. Também, caracterizar as diferenças dos 
padrões de gênero, através do estudo da igualdade entre homens e mulheres. 
No segundo capitulo o objetivo é estudar o sistema interamericano de 
direitos humanos, buscando formar uma base, a partir da observação das normas 
internacionais de proteção dos direitos da mulher. Ainda, entender o procedimento 
de análise dos casos, tanto da Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
como da Corte Interamericana de Direitos Humanos. 
Por fim, o objetivo do último capítulo adentrar brevemente no contexto da 
Ciudad Juarez, local de acontecimento dos fatos, conhecendo as fronteiras, 
refletindo com a violência que ocorre no local, introduzindo o caso Campo 
Algodoeiro, como forma de entender a onda de feminicídio que aconteceram, bem 
como, analisar o procedimento e sentença proferida pela Corte Interamericana de 
Direitos Humanos. 
 
10 
 
2 VIOLÊNCIA DE GÊNERO 
 
Gênero é uma construção histórica dos movimentos feministas. Os 
movimentos feministas tem influência mais intensa nos séculos XIX e XX, e são 
aludidos a um movimento social organizado, e as primeiras lutas foram sobre o 
direito de voto, para que fosse igual entre homens e mulheres. 1 A violência de 
gênero se liga a violência sofrida pela mulher quando, nos anos de 1970 o 
movimento feminista faz esta ligação, por ser esta alvejada pela violência de 
gênero. Para Teles, “a própria expressão ‘violência contra a mulher’ foi assim 
concebida por ser praticada contra pessoa do sexo feminino, apenas e 
simplesmente pela sua condição de mulher”2. 
 
O conceito de ideologia de gênero foi formulado pelas feministas para 
analisar a diferenciação social entre gêneros e a permanência de uma 
situação de inferioridade, dominação e opressão das mulheres. 3 
 
Para tratar do tema gênero, a sociologia, a antropologia e outras ciências 
humanas, focaram para demonstrar as diferenças de aspectos socioculturais 
existentes entre homens e mulheres, analisando a vida privada e pública para 
direcionar os papéis diferenciados a eles incumbido, criados através da dominação 
masculina, durante um longo período histórico. Assim, “o termo gênero pode ser 
entendido como um instrumento, como uma lente de aumento que facilita a 
percepção das desigualdades sociais e econômicas entre mulheres e homens.” 4 
 
A percepção de que havia muito mais de cultura do que de biologia no que 
se colocava – e ainda se coloca, em especial nos processos socializatórios 
mais iniciais, com crianças pequenas, nas famílias e nas escolas – como 
padrão de comportamento “natural” de homens e mulheres impulsionou 
um novo movimentosocial, o feminista. 5 
 
 
1
 LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 
11. Ed. Petrópolis, RJ. Vozes, 2010. Pg 14-15 
2
 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São 
Paulo: Brasiliense, 2012. Pg 17. 
3
 COULOURIS, Daniella Georges. Gênero e discurso jurídico: possibilidades para uma 
análise sociológica. In: Produzindo Gênero. Coord. Maria Jane Soares Carvalho e Cristianne 
Maria Fammer Rocha (orgs.) – Porto Alegre: Sulina, 2004. Pg 66. 
4 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São 
Paulo: Brasiliense, 2012. Pg 14-15 
5
 GONÇALVES, Tamara Amoroso. A Proteção à liberdade sexual feminina como expressão da 
tutela da dignidade humana: os direitos sexuais da mulher na contemporaneidade. In: Manual 
dos Direitos da Mulher. Coord. FERRAZ, Carolina Valença [et al.] – São Paulo: Saraiva, 2013, pg. 
36. 
11 
 
Violência toma significado com o uso de força física, psicológica ou 
intelectual com o intuito de coagir outra pessoa a praticar ato que esta não teria 
vontade, em outras palavras é impedir que uma pessoa se manifeste segundo seu 
desejo e vontade, “sob pena de viver sob ameaças ou até mesmo agressões.” 6 
Segundo a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a 
Violência contra a Mulher – “Convenção de Belém do Pará”, define a violência 
contra a mulher “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, 
dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público 
como no privado.” 7 
Para Joan Scott o gênero é fonte primária para qual podemos dar significado 
ao poder, e como ele é articulado.8 Fazendo uma relação ao conceito adotado por 
Foucault, explicado por Dreyfus e Rabinow, o poder não é mercadoria, não é uma 
recompensa, é um processo de tecnologias políticas e a expansão dessas 
tecnologias reflete nas relações desiguais e assimétricas. Para o autor, o poder é 
algo que deve funcionar em um sistema de rede. Desta forma nunca estará 
focalizado nas mãos de uns, tanto uns como outros revezam-se nas posições de 
poder. 9 
Para Pierre Bourdie, o dominado exerce os esquemas de pensamento 
daquele que domina, com submissão, condicionada às relações de dominação 
impostas. Assim, são imperceptíveis os atos de reconhecimento ao poder 
masculino, como explica o autor: 
 
Todo domínio simbólico pressupõe, por parte daqueles que o sofrem, uma 
forma de cumplicidade que não é nem submissão passiva a uma 
condicionante exterior, em adesão livre aos seus valores [...] ela inscreve-
 
6
 RIBEIRO, Dominique de Paula. Violência contra a mulher: aspectos gerais e questões práticas 
da Lei nº 11.340/2006. 1 ed. – Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. Pg. 35. 
7 Organização dos Estados Americanos. Convenção Interamericana para Prevenir Punir e 
Erradicar a Violência Contra a Mulher: Convenção de Belém do Pará. Belém do Pará, Brasil em 09 
de junho de 1994. Disponível em < 
https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/m.Belem.do.Para.htm> Último acesso: 09 de maio de 
2017 
8
 SCOTT, Joan W. Gender: a useful category of historical analysis. The American Historical 
Review, v. 91, n. 5, 1986, p. 1053-1075. Disponível em: 
<http://www.westga.edu/~history/FacultyUpdated/EMacKinnon/Spring%202011%20Syllabi%20and
%20Materials/Gender.pdf> Último acesso em: 07 de maio 2017. 
9
 DREYFUS, Hubert L.; RABINOW, Paul. Michael Foucault, uma trajetória filosófica: (para além 
do estruturalismo e da hermenêutica). Tradução de Vera Porto Carrero – Rio de Janeiro: Forense 
Universitária, 1995. Pg. 203-208. 
12 
 
se no estado prático, nas disposições que são insensivelmente 
inculcadas, através de um longo processo de aquisição. 10 
 
Constitui violência de gênero, nas palavras de Janete R. Martins, citando 
Saffioti, “toda violência sofrida pelo fato de ser mulher, sem distinção de raça, classe 
social, religião, idade ou qualquer outra condição, produto de um sistema social que 
subordina o sexo feminino.”11 
O termo “violência doméstica” serve para especificar a violência sofrida por 
pessoas que tem relação intrafamiliar, também abrangendo aquelas de convívio 
esporádico. Em contraponto, o termo “violência familiar” está relacionado aquelas 
pessoas que tem relação de família, ligadas por “laços naturais, por afinidade ou 
por vontade expressa”. A autora escreve, “o correto é utilizar a expressão violência 
doméstica e familiar contra a mulher para se referir à violência de gênero”.12 
De suma importância o tema dos direitos humanos da mulher, visto que o 
principal obstáculo para que a mulher viva uma vida digna, sendo respeitadas como 
cidadãs, é a discriminação e a violência. 
 
2.1 AS FORMAS DE VIOLÊNCIA SOFRIDAS PELAS MULHERES 
 
Há que se destacar alguns tipos de violência que assombram o cotidiano das 
mulheres, dentre as quais estão, violência sexual, discriminação e preconceito, 
lesões corporais, ameaças e assassinatos. 
Teles revela que, a violência doméstica é aquela que deriva da relação de 
pessoas da mesma família, porém, a violência contra a mulher fica mascarada 
neste conceito, pois “independente da faixa etária das pessoas que sofrem 
espancamentos, humilhações e ofensas nas relações descritas, as mulheres são o 
alvo principal”. Existem também os que chamam de violência intrafamiliar, porém a 
autora faz uma crítica, dizendo que essa terminologia “estaria escondendo a 
violência contra a mulher”. 13 
 
10 BOURDIE, Pierre. A dominação masculina. Tradução por: Maria Helena Kühner – 2ª ed. – Rio 
de Janeiro: BestBolso, 2014. Pg. 32. 
11 MARTINS, Janete Rosa. A violência contra mulher e a Lei Maria da Penha. In: In: BOFF, 
Salete Oro (Org.). Gênero: discriminações e reconhecimento. Passo Fundo: IMED, 2011. Pg. 141. 
12
 RIBEIRO, Dominique de Paula. Violência contra a mulher: aspectos gerais e questões 
práticas da Lei nº 11.340/2006. 1 ed. – Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. Pg. 37. 
13
 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São 
Paulo: Brasiliense, 2012. Pg. 18. 
13 
 
O professor Damásio de Jesus complementa, narrando que os grupos com 
maior vulnerabilidade à violência doméstica “são as mulheres as crianças, as 
pessoas com deficiências físicas e mentais da terceira idade.” Para compreender 
os aspectos da violência familiar, faz-se necessário analisar dois fatores, “seu 
caráter cíclico e sua intensidade crescente.”14 
A discriminação consiste em distinguir através de ato de anulação ou 
limitação de reconhecimento de direitos, seja no campo político, social, econômico 
ou cultural. É isolar, sendo entendido, deveras, por um desrespeito. A violência de 
gênero tem origem na discriminação histórica sofrida pelas mulheres, ações que 
visam a subordinação do feminino.15 
Quando se fala de violência física, o professor Rogério Sanches Cunha 
explica que se trata do “uso de força, mediante socos, tapas, pontapés, empurrões, 
arremesso de objetos, queimaduras, etc. visando, desse modo ofender a 
integridade ou a saúde corporal da vítima”. Diz o autor, ainda, que o resultado 
dessas agressões pode deixar ou não marcas aparentes.16 
A ameaça consiste, segundo a lei penal, em causar mal injusto e grave, por 
meio de palavra, escrita ou gesto, até mesmo qualquer outro ato simbólico. Este é 
um crime que ocupa destaque nas denúncias feitas pelas mulheres nas relações 
familiares. O crime de ameaça cria, um sentimento de insegurança, medo e 
incapacidade de sair da situação. Pode ser considerado uma espécie de violência 
psicológica, já que produz, muitas vezes, efeito perverso. A lesão corporal,bem 
como as ameaças empregadas são precedentes para os homicídios. O termo 
empregado (feminicídio) é o entendimento de que a causa da morte seja a 
discriminação da mulher por questões relacionadas ao gênero.17 
Por outro lado, no que se refere à violência sexual, Maria Berenice Dias 
aponta, com indignação, o problema da “resistência da doutrina e jurisprudência 
em admitir a possibilidade da ocorrência de violência sexual nos vínculos 
familiares”. Restava incompreensível que, pelo fato de unir-se em relação nupcial, 
 
14
 JESUS, Damásio de. Violência contra a mulher: aspectos criminais da lei 11.340/2006. 2ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2015. Pg. 9. 
15
 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São 
Paulo: Brasiliense, 2012. Pg 27-28. 
16
 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Violência doméstica: Lei Maria da Penha 
(Lei 11.340/2006), comentada artigo por artigo. 2ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 2008. Pg. 61. 
17
 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São 
Paulo: Brasiliense, 2012. Pg 47-48. 
14 
 
fosse tido a sexualidade como exercício do casamento, como se a mulher tivesse 
um “débito conjugal” com o marido.18 Para Damásio de Jesus, este é “um crime 
clandestino e subnotificado, praticado contra a liberdade sexual da mulher”. 19 
Interessante, também, para o tema, tratar daquilo que Bourdieu denomina 
de “violência simbólica”, sendo por ele definida como violência suave, invisível. 
Assim, a própria vítima, em ato de conformação, reconhece uma hierarquia, em que 
fica submissa na relação social, compreendendo ser natural esta posição.20 
 
2.2 EQUAÇÃO NAS RELAÇÕES DE GÊNERO 
 
O gênero está pautado nas diferenças entre as relações sociais, culturais, 
econômicas e políticas entre homens e mulheres. A argumentação que se faz 
necessária é que, essas diferenças, segundo Guacira Lopes Louro, “não estão 
ligadas as características sexuais, mas a forma como essas características são 
representadas e valorizadas”. Para a autora, é a análise, em determinado período 
histórico, daquilo que se pensa e o que se diz que vai construir o que é feminino e 
masculino em uma sociedade. 21 
Durante o decorrer da vida, e enquanto a pessoa passa pelo processo de 
socialização, tem como valor social algumas práticas de ideologias sobre as 
relações de gênero. Com o principal foco no espaço do homem como sendo o 
público, com superioridade na hierarquia social, e o papel da mulher como sendo o 
privado, onde os deveres da mulher são principalmente os cuidados com a casa e 
filhos. 22 
 
O paradoxo está no fato de que são as diferenças visíveis entre o corpo 
feminino e o masculino que, sendo percebidas e construídas segundo os 
esquemas práticos da visão androcêntrica, tornam-se o penhor mais 
perfeitamente indiscutível de significações e valores que estão de acordo 
com os princípios desta visão: não é o falo (ou a falta de) que é o 
 
18
 DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de 
combate a violência doméstica e familiar contra a mulher. 2ª ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010. Pg. 67. 
19
 JESUS, Damásio de. Violência contra a mulher: aspectos criminais da lei 11.340/2006. 2ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2015. Pg. 8. 
20
 BOURDIE, Pierre. A dominação masculina. Tradução por: Maria Helena Kühner – 2ª ed. – Rio 
de Janeiro: BestBolso, 2014. Pg. 12. 
21 LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 
11. Ed. Petrópolis, RJ. Vozes, 2010. Pg. 21. 
22 PRA, Jussara Reis. Gênero, cidadania e participação na esfera pública. In: Produzindo 
Gênero. Coord. Maria Jane Soares Carvalho e Cristianne Maria Fammer Rocha (orgs.) – Porto 
Alegre: Sulina, 2004. Pg 46-47. 
15 
 
fundamento dessa visão de mundo, e sim é essa visão de mundo que, 
estando organizada segundo a divisão em gêneros relacionais, masculino 
e feminino, pode instituir o falo, constituído em símbolo da virilidade, do 
ponto de honra caracteristicamente masculino, e instituir a diferença entre 
os corpos biológicos em fundamentos objetivos da diferença entre os 
sexos, no sentido de gêneros construídos como duas essências sociais 
hierarquizadas.23 
 
O que Bourdieu explica é o retrato de que, as assimetrias relacionadas ao 
sexo biológico, são organizadas no sentido inverso. Não é a imagem do órgão 
sexual masculina que educa a equação do gênero, mas a visão do mundo 
estabelece essa imagem, como “símbolo da virilidade”, nivelando o gênero nas 
camadas sócias. 
Para tanto, é pertinente fazer uma análise das particularidades que 
caracterizam a experiência do dia-a-dia, comparando, atividades desenvolvidas por 
homem e mulher, e refletir, as ligações entre as funções sociais impostas, 
contrastando, com o sexo biológico. Desta forma, fica inegável que o convívio em 
sociedade, no transcorrer dos anos, formulou padrões impostos a cada ser, 
ratificando as assimetrias de gênero. 
As assimetrias podem, facilmente, ser observadas como fruto da história, 
como aponta a autora Flavia Lages de Castro, a mulher, por ter nascido do sexo 
feminino, foi afastada do foco da história. Salienta ainda que, a mulher, sendo 
analisada juridicamente, nunca era desvinculada do poder masculino: 
 
As romanas jamais eram dissociadas do ser mãe, mulher ou filha de 
alguém, preferencialmente do sexo masculino e, mesmo quando 
encorajadas a desenvolver capacidades ou talentos próprios, isto era feito 
não objetivando benefícios para a mulher, mas para o agrado do homem.24 
 
Na visão de Bourdieu explicando a dominação masculina, entendendo a 
distribuição de poderes entre homens e mulheres, ele explica que, não importa qual 
seja a posição da mulher na sociedade, ela sempre estará separada “dos homens 
por um coeficiente simbólico negativo que, tal como a cor da pele para os negros, 
ou qualquer outro sinal de pertencer a um grupo social estigmatizado, afeta 
negativamente tudo que elas são e fazem”.25 O que tem privado o espaço da mulher 
 
23
 BOURDIE, Pierre. A dominação masculina. Tradução por: Maria Helena Kühner – 2ª ed. – Rio 
de Janeiro: BestBolso, 2014. Pg. 39-40. 
24 CASTRO, Flavia Lages. Mulheres Romanas. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Lumen juris, 
2013. Pg. 11. 
25 BOURDIE, Pierre. A dominação masculina. Tradução por: Maria Helena Kühner – 2ª ed. – Rio 
de Janeiro: BestBolso, 2014. Pg. 130. 
16 
 
na sociedade são as diferenças e características biológicas do ser humano, que 
denotam a conjuntura da sociedade, estes por sua vez, não devem ser o fator para 
a distribuição de privilégios entre homens e mulheres. 
Como aponta Guacira Lopes Louro, parafraseando Joan Scott, se torna uma 
armadilha conceber o conceito de “igualdade-diferença”. Na busca de igualdade 
teremos indivíduos em situações diferentes, em que por meio de algum tipo de 
intervenção se tornem igualitários. Portanto a “igualdade é um conceito político que 
pressupõe diferenças.” 26 
As desigualdades do gênero são ideias construídas com o tempo, atribuindo 
atividades em razão do sexo, o que coloca a mulher em situação de desigual nas 
relações com os homens, seja na vida pública ou privada, acesso as garantias de 
direitos ou qualquer outra garantia básica para a manutenção da vida. Resta saber 
que é importante é perceber que as distinções são frutos de nossa ideia, 
construídas a partir do processo cultural histórico que desiguala os gêneros, não 
podendo ser justificadas pelas diferenças biológicas de cada sexo.27 
 
2.2.1 A igualdadeA discriminação contra a mulher está, muitas vezes, pautada nas 
características biológicas dispares de homens e mulheres. Desta forma, é 
importante entender o conceito da igualdade entre homens e mulheres pretendido 
pelos direitos humanos, para equiparar as oportunidades nas relações sociais. 
Como base inicial, podemos perceber que, o direito a igualdade entre todos é 
garantido na Declaração Universal dos Direitos Humanos: 
 
Art. VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer 
distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra 
qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer 
incitamento a tal discriminação. 28 
 
 
26 LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 
11. Ed. Petrópolis, RJ. Vozes, 2010. Pg. 46. 
27 LIBARDONI, Alice. Direitos humanos das mulheres: em outras palavras: subsídios para 
capacitação legal de mulheres e organizações. Coor. Alice Libardoni. Brasilia: AGENDE, 2002. Pg. 
109. 
28 Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948. 
Disponível em: < http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf > Último acesso em: 09 de maio de 
2017. 
 
17 
 
Existe uma responsabilidade dos Estados e sociedade acerca da proteção 
dos direitos humanos, com isto, os estados devem seguir o padrão de direito 
internacional, internalizando normas e políticas de proteção, de respeito e garantia, 
através da edição de leis e decretos conforme os modelos dos Tratados e 
Convenções internacionais sobre direitos humanos. Isto é, proteger os direitos das 
pessoas conforme a norma internacional, por meio de políticas de respeito e 
garantia, nas palavras de Dominique de Paula Ribeiro, “não violando os direitos da 
pessoa e assegurando soluções a alguém que tenha seus direitos violados.” 29 
Na ideia de Dworkin não existe paradoxo na imagem de que o direito do 
cidadão em ser tratado de maneira igual esbarre em uma política social desejável, 
para que torne a sociedade, em outros termos, igual. Em se tratando de princípio 
da igualdade, o autor vai mais além e destaca: 
 
O primeiro é o direito a igual tratamento, que é o direito a uma igual 
distribuição de alguma oportunidade, recurso ou encargo. Todo cidadão 
por exemplo, tem direito a um voto igual em democracia [...] O segundo é 
o direito ao tratamento como igual, que é o direito, não de receber a 
mesma distribuição de algum encargo ou benefício, mas de ser tratado 
com o mesmo respeito e consideração que qualquer outra pessoa.30 
 
A igualdade vem a ser o equiparado de direitos entre pessoas de distintos 
aspectos, onde analisasse a situação fática da pessoa, e através da desigualdade 
existente é que se busca a igualdade, que deve ocorrer no mundo dos fatos. É com 
isso que se busca a conservação dos direitos humanos, através dos direitos 
pautados nas dificuldades enfrentadas por cada pessoa, seja por questões de raça, 
etnia, religião, gênero, etc. 
 
2.2.1.1 Igualdade Formal X Igualdade Material 
 
O conceito de igualdade formal toma figura a partir das Revoluções Liberais, 
e consiste no tratamento que a lei garante de forma igualitária entre os cidadãos, 
assim como os governantes, naquilo em que forem iguais. À época, a elaboração 
dessa igualdade tinha como propósito a eliminação de privilégios a determinados 
 
29 RIBEIRO, Dominique de Paula. Violência contra a mulher: aspectos gerais e questões práticas 
da Lei nº 11.340/2006. 1ª ed. Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. Pg. 45-47 
30
 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a Sério. Tradução de Nelson Boeira. São Paulo: 
Martins Fontes, 2002, pg. 349. 
18 
 
setores da sociedade.31 O que o autor quer dizer é que a igualdade formal está no 
plano de tratar todos com os mesmos padrões e conceitos, como se todos fossem 
iguais. 
 A igualda material tem se consolidado através de diversas políticas de 
inserção da mulher na sociedade, dando ênfase a Constituição Federal, que buscou 
romper a barreira do “sistema legal fortemente discriminatório (negativamente)”, 
para que se conseguisse a tão sonhada igualdade entre gênero feminino e 
masculino. De maneiras que, a mulher, tem assegurado o seu direito, sem distinção 
de qualquer natureza. 32 
 Reconhecido o direito da mulher do Direito Humano, a legislação 
internacional começa a se moldar para que as garantias dos direitos da mulher 
sejam alcançadas, em 1994 temos o destaque para a Convenção Interamericana 
Para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, ratificada pelo Brasil 
em 1995. Dá-se ênfase também ao trabalho realizado pela Organização dos 
Estados Americanos (OEA), que dá tratamento especial ao cria a Convenção de 
Belém do Para As Nações Unidas inserem também como meio de proteção, em 
1979, a Convenção sobre Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra 
a Mulher. 33 
 Os apontamentos feitos por Teles a respeito são de que: 
 
A definição trazida pela convenção reveste-se de significativa importância 
ao preocupar-se com a violência na esfera privada, a chamada violência 
doméstica, pois os agressores das mulheres geralmente são parentes ou 
pessoas próximas. Dessa forma, a violação dos direitos humanos da 
mulher, ainda que ocorra no âmbito da família ou da unidade doméstica, 
interessa a sociedade e ao poder público. 34 
 
Podemos observar os mecanismos de proteção dos direitos humanos das 
mulheres tomando forma, em busca da igualdade material entre as relações de 
gênero existentes na sociedade, a partir da perspectiva de que, a igualdade deve 
ser vista através da desigualdade cultural existente, onde o menos privilegiado tem 
 
31 ALMEIDA, Guilherme Assis de; ZAPATER, Maíra Cardoso. Direito à igualdade e formas de 
discriminação contra a mulher. In: Manual dos Direitos da Mulher. Coord. FERRAZ, Carolina 
Valença [et al.] – São Paulo: Saraiva, 2013, pg. 99. 
32
 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São 
Paulo: Brasiliense, 2012. Pg 61. 
33
 RIBEIRO, Dominique de Paula. Violência contra a mulher: aspectos gerais e questões 
práticas da Lei nº 11.340/2006. 1ª ed. Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. Pg. 53-54 
34
 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São 
Paulo: Brasiliense, 2012. Pg 68. 
19 
 
o direito, em nome da honra, de ser equiparado pela lei, para que as desigualdades 
se dissolvam. 
Essas diferenças repercutem no campo jurídico, devendo sempre ser 
observados, revelando a realidade do contexto social, isso é, essas “diferenças 
naturais justificariam um tratamento jurídico desigual”.35 Dessa foram, é importante 
que os órgãos de defesas dos direitos reconheçam que as diferenças são 
obstáculos para a garantia plena de direitos. 
Como relata o professor Ricardo Castilho, a busca pela igualdade das 
relações de gênero está pautada em três objetivos prioritário: “igualdade no acesso 
à educação, igualdade de oportunidades no trabalho e atenção a saúde das 
mulheres.” Entretanto, o panorama cultural existente inviabiliza tal cenário, 
apontando o homem como principal fator que dificulta a reversão desta 
desigualdade, resultando com isso, em uma abreviação do quadro de mulheres em 
funções de relevante valor na sociedade.36 
Dessa maneira, não é permitido hoje, no direito contemporâneo que seja 
concebido o direito sem analisar esses dois vieses, o formal e o material. Em 
matéria da Carta Magna brasileira, está expressa por diversas vezes 
discriminações positivas que contribuem para a igualdade nas relações de gênero 
em sua dimensão material. 37 
 
2.3 O FEMINICIDIO 
 
O pontoextremo desse tipo de violência contra a mulher é o óbito. A este, 
dá-se o nome de feminicídio. Qual seja, o homicídio praticado contra a mulher, 
unicamente, por questões de gênero, não importando para sua definição a raça, 
cor, religião, e outros fatores que poderiam influenciar. Observa-se que, a grande 
parte das agressões praticadas contra a mulher estão inseridas no contexto 
intrafamiliar, ou seja, dentro de casa, pelos parceiros ou ex-parceiros, que 
 
35 ALMEIDA, Guilherme Assis de; ZAPATER, Maíra Cardoso. Direito à igualdade e formas de 
discriminação contra a mulher. In: Manual dos Direitos da Mulher. Coord. FERRAZ, Carolina 
Valença [et al.] – São Paulo: Saraiva, 2013, pg. 104. 
36
 CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos: processo histórico – evolução do mundo, direitos 
fundamentais: constitucionalismo contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2010. Pg. 212. 
37 ALMEIDA, Guilherme Assis de; ZAPATER, Maíra Cardoso. Direito à igualdade e formas de 
discriminação contra a mulher. In: Manual dos Direitos da Mulher. Coord. FERRAZ, Carolina 
Valença [et al.] – São Paulo: Saraiva, 2013, pg. 100. 
20 
 
acontecem em situações nas quais a mulher não tem meios suficientes para 
defesa.38 Feminicídio é, portanto, a morte movida pelo sentimento de ódio que o 
agressor tem pelo fato da vítima ser mulher. 
 
Femicide is on the extreme end of a continuum of antifemale terror that 
includes variety of verbal and physical abuse, such as rape, tortute, sexual 
slavery (particularly in prostitution), incestuous and extrafamilial child 
sexual abuse, physical and emotional battery, sexual harassment (on the 
phone, in the streets, at the office, and in the classroom), genital mutilation 
(clitoridectomies, excision, infibulations), unnecessary gynecologial 
operations (gratuitous hysterectomies), forced heterosexuality, forced 
sterilization, forced motherhood (by criminalizing contraception and 
abortion), psyschosurgery, denial of food to women in some cultures, 
cosmetic surgery, and other mutilations in the name of beautification. 
Whenever these forms os terrorism result in death, they become femicides. 
39
 
 
Entende-se, portanto, que estes são crimes de ódio. Um crime de ódio é uma 
conduta violenta, onde a motivação da fúria é a percepção negativa de diferenças 
entre indivíduos. Estes crimes têm como característica a percepção das pessoas 
que pertencem a uma categoria social diferente, indicando que são passiveis à 
hostilidades em razão de sua identidade. 40 
Conceituar o feminicídio é importante, como aponta Damásio de Jesus, para 
que se possa indicar “o caráter social e generalizado da violência baseada na 
inequidade de gênero e impede de elaborar teses que tendam a culpar as vítimas 
e representar os agressores como ‘loucos’”, impede ainda de conceber este crime 
 
38
 GARCIA, Leila Posenato et el. Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil (Sum). São 
Paulo: Ipea, 2013. Disponível em: 
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130925_sum_estudo_feminicidio_leilagarcia.p
df >. Último acesso em: 10 de maio de 2017. 
39
 RUSSEL, Diana E. H.; RADFORD, Jill. Femicide: The Politics of Woman Killing. Nova York: 
Twayne Publishers, 1992. Disponível em < http://www.dianarussell.com/f/femicde(small).pdf>. 
Acessado em: 09 set. 2015. Tradução livre: “O femicídio representa o extremo de um caminho de 
terrorismo anti-feminino e inclusive uma ampla variedade de abusos verbais e físicos, como 
violação, tortura, escravidão sexual (particularmente por prostituição), abuso sexual infantil 
incestuoso ou extra-familiar, agressões físicas e emocionais, assédio sexual (por telefone, nas ruas, 
no escritório, na aula), mutilação genital, operações ginecológicas desnecessárias, 
heterossexualidade forçada, esterilização forçada, maternidade forçada (pela criminalização da 
contracepção e do aborto), psicocirurgia, negação de comida para mulheres em algumas culturas, 
cirurgia plástica e outras mutilações em nome do embelezamento. Sempre que destas formas de 
terrorismo resultar a morte, elas se transformam em femicídios.” 
40
 HUAROTO, Beatriz Ramirez. Cuando la muerte se explica por el género. Problematizado la 
tipificacion del feminicídio/femicidio. 2011. Disponível em: < 
http://works.bepress.com/cgi/viewcontent.cgi?article=1007&context=beatrizramirezhuaroto> 
Acessado em: 09 set. 2015. 
21 
 
como crime passional. Isto mostra este tipo de crime no cerne do seu caráter social, 
produto das relações onde o homem domina a mulher. 41 
Para Pasinato, dá-se destaque ao fato de que o feminicídio é um episódio 
que não está isolado na vida da mulher, ele decorre de um contínuo ato de violência 
sofrida, tendo fundamento na dominação patriarcal. Aponta ainda que, este tipo de 
violência, assim como os outros, é um meio de manutenção das desigualdades. O 
feminicídio é um crime cometido com repulsa contra a mulher, e tem características 
misóginas, alguns autores defendem o termo de generocídio. 42 
 
2.3.1 Íntimo 
 
Feminicídio íntimo é aquele ligado ao âmbito da violência doméstica, onde a 
violência acontece nos relacionamentos sérios, entre parceiros que convivem em 
relação de sentimento. Em comparação a esta definição, Russel prefere o termo 
“Feminicídio de parceira íntima”, e explica que este termo é aplicado nos casos de 
“feminicídio de pais e outros membros da família”43 
Segundo apontamentos da Organização Mundial da Saúde, 35% dos casos 
de feminicídio no mundo estão ligados ao âmbito familiar, e são cometidos por 
parceiros íntimos das vítimas. Em contraponto, apenas 5% dos homicídios 
praticados, onde o homem é vítima, são cometidos por parceiros íntimos. Isto 
aponta que são poucos os casos em que a mulher recorre ao extremo da violência 
para se defender as intimidações feitas pelos parceiros. 44 
O problema gerado com o feminicídio íntimo é que, acabam os filhos ficando 
sem a mãe, perdendo ela para a raiva que o pai sente, e ainda, quando condenado 
pelo crime, a criança perde o pai para a cadeia, gerando um forte impacto para as 
 
41 JESUS, Damásio de. Violência contra a mulher: aspectos criminais da lei 11.340/2006. 2ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2015. Pg. 13-14. 
42 PASINATO, Wânia. “Femicídios” e as mortes de mulheres no Brasil. Cadernos Pagu, v. 37, p. 
219-246, jul./dez. 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/cpa/n37/a08n37.pdf>. Último 
acesso em: nov. 2015. Pg. 12. 
43
 RUSSEL, Diana E. e HARMES, Robera A. Feminicidio: uma perspectiva global. Pg, 84. 
Disponivel em 
https://books.google.com.br/books?id=Aq1yKJQFjLYC&printsec=frontcover&dq=feminicidio&hl=pt-
BR&sa=X&ved=0ahUKEwj9pczjy5PTAhVEgJAKHYKBBf0Q6AEIHTAA#v=onepage&q=feminicidio
&f=false> Último Acesso em: abril de 2017. 
44 OMS (Organização Mundial da Saúde). Femicide. Understanding and addressing violence 
against women. 2012. Disponível em: < 
http://www.who.int/reproductivehealth/publications/violence/rhr12_38/en/>. Último acesso em: nov. 
2015. 
22 
 
pessoas que cercam a vítima. Não podendo mais morar na casa dos pais, a criança 
é, por diversas vezes, levada a um novo ambiente, onde podem sofrer o preconceito 
de ser denominada como filho de assassino. 
 
2.3.2 Não íntimo 
 
É o feminicídio cometido por uma pessoa que não possui relação intima com 
a vítima. Pode ter sido cometido por alguém com que a vítima tinha relação de 
confiança, colega de trabalho, hierarquicamente superior em algum momento, ou 
até mesmo desconhecidos.45 
Consiste em feminicídio não íntimo, o feminicídio pratica sem nenhuma 
ligação de intimidade entre agressor e vítima. Esta espécie de feminicídio pode ter 
a ilusão de que acontece de maneira aleatória, porémexiste um caráter ordenado 
em casos como na Ciudad Juaréz, segundo dados da Organização Mundial da 
Saúde, onde cerca de 400 mulheres foram assassinadas. Ainda, há o caso da 
Guatemala, onde mais de 700 mulheres foram assassinadas, e muitas dessas 
sofreram abuso sexual e tortura antes de serem mortas. 46 
 
Alguns homens se sentem no direito de matar mulheres que eles 
acreditam ter violado o poder por desafiar sua autoridade masculina e sua 
superioridade em relação à mulher. Em algumas regiões, o feminicídio não 
íntimo afeta de forma desproporcional mulheres que trabalham com 
profissões estigmatizadas socialmente, como trabalhadoras do sexo.47 
 
Ainda, como forma de feminicídio não intimo é o que acontece após as 
violações sexuais, onde o agressor estupra ou abusa da vítima antes de matá-la. 
O feminicídio com conotação sexual coloca as mulheres em um estado de 
insegurança contínua, tornando-se forma de terrorismo a dominação masculina. 
 
45
 BUZZI, Ana Carolina de Macedo. Feminicidio e o projeto de Lei nº 292/2013 do Senado Federal. 
2014. Monografia Direito – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014. Disponível 
em < https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/122342> Último acesso: 10 de maio de 2017 
46
 OMS (Organização Mundial da Saúde). Femicide. Understanding and addressing violence 
against women. 2012. Disponível em: < 
http://www.who.int/reproductivehealth/publications/violence/rhr12_38/en/>. Último acesso em: nov. 
2015. 
47 HOCHMÜLLER, Mariele de Almeida. REFLEXOS DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO NA CORTE 
INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS: uma análise do Caso Campo Algodoeiro. 2014. 
Monografia Curso de Relações Internacionais – Universidade Federal de Santa Catarina, 
Florianópolis, 2014. Disponível em < 
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/128085/Monografia%20da%20Mariele
.pdf?sequence=1&isAllowed=y> Último acesso em: 09 de maio de 2017. 
23 
 
2.3.3 Social 
 
Este tipo de feminicídio ocorre nos lugares onde há uma falha estatal, 
quando o Estado falha com seu dever de garantir a segurança e integridade das 
mulheres, ou quando cria um ambiente em que as mulheres não estão seguras, e 
mesmo quando não há incriminação nos casos de violência contra a mulher. 
Em alguns povos há uma prática na qual a família da mulher oferece o 
chamado dote, consiste, nos pais da moça, fazerem uma oferta de pagamento em 
dinheiro para atrair um bom marido para a filha. Diversas vezes o noivo faz 
propostas absurdas para que aconteça o casamento, e a família da mulher acaba 
se endividando e não conseguindo pagar. Quando as exigências não são 
cumpridas, a mulher é maltratada, através de abusos físicos e morais pela nova 
família, o que acaba muitas vezes terminando em atos suicidas, já que não pode 
voltar para sua família, sob pena de ser considerado uma desonra. Em outros casos 
a mulher é assassinada pela família do noivo. Estes são tipos de feminicídios que 
podem acontecer quando o agressor é, tanto homem quanto mulher, porém as 
razões são sempre misóginas.48 
Em culturas regidas pelo poder patriarcal, muitas vezes ocorrem esse tipo 
de feminicídio em nome da honra, para justificar a traição ou pelo desrespeito da 
mulher perante o homem. Assim, para manter a honra, o homem “teria o direito” de 
matá-la, assim este tipo de crime pode ocorrer por outros membros da família. Há 
países em que a justiça vê esse tipo de crime como uma “tradição cultural”, quando 
deveriam perceber o lado horripilante desses crimes. Isso acarreta em inadequadas 
medidas de prevenção a violência contra a mulher. 49 
 
 
48 HOCHMÜLLER, Mariele de Almeida. REFLEXOS DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO NA CORTE 
INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS: uma análise do Caso Campo Algodoeiro. 2014. 
Monografia Curso de Relações Internacionais – Universidade Federal de Santa Catarina, 
Florianópolis, 2014. Disponível em < 
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/128085/Monografia%20da%20Mariele
.pdf?sequence=1&isAllowed=y> Último acesso em: 09 de maio de 2017. 
49 OMS (Organização Mundial da Saúde). Femicide. Understanding and addressing violence 
against women. 2012. Disponível em: < 
http://www.who.int/reproductivehealth/publications/violence/rhr12_38/en/>. Último acesso em: nov. 
2015. 
24 
 
3 SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS 
 
É importante tomar noção do sistema interamericano de direitos humanos, 
eis que a ocorrência da violação de direitos aconteceu em um Estado-membro 
deste sistema. Entretanto, é óbvio que, para o caso deve-se verificar a existência 
de normas de proteção específica, neste caso, de proteção ao direito das mulheres. 
Assim, a análise que será feita será quanto ao sistema de proteção e garantias de 
direitos fundamentais individuais, buscando adentrar aos direitos humanos das 
mulheres, mais especificamente, àqueles violados no caso em estudo, além de uma 
introdução aos órgãos de proteção destes direitos no sistema interamericano. 
Celebrado em 1948, a proclamação da Carta da Organização dos Estados 
Americanos (OEA) dá origem ao sistema interamericano de proteção aos direitos 
humanos, tendo como instrumento primordial para garantia dos direitos humanos, 
a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa 
Rica). Assinada no ano de 1969, somente os Estados-membros da Organização 
dos Estados Americanos tem a garantia de tomar parte dela, tendo o Brasil 
ratificado este mecanismo em 1992.50 
Baseado, fortemente, no modelo europeu, o sistema americano de proteção 
dos direitos humanos é um bom exemplo da cooperação entre os estados 
integrantes da OEA, contando com um total de 35 membros, a carta demonstra a 
verdadeira preocupação desta organização com os Direitos Humanos, onde prevê 
o tripé legal institucional do Sistema Interamericano, formado pela Convenção, a 
Comissão Americana de Direitos Humanos, e a Corte Interamericana de Direitos 
Humanos.51 
No contexto da criação da OEA, Estados Unidos buscava uma política de 
interesses em mercadores, e influência sobre os outros países da América, 
enquanto os países-latino americanos buscavam se firmar politicamente como 
Estados soberanos. A autora Theresa Rache Couto Correia, ainda aponta que, nos 
anos pós criação da OEA, alguns países latino-americanos foram tomados por 
 
50 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2014. 
Pg. 114. 
51
 CASADO FILHO, Napoleão. Direitos humanos fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2012. 
Disponível em < 
http://www.fkb.br/biblioteca/Arquivos/Direito/Direitos%20Humanos%20Fundamentais.pdf> Último 
acesso em: 10 de maio de 2017. 
25 
 
tropas militares dos Estados Unidos, o que desencadeou no que ela chama de um 
sentimento “anti-americanista”, o que dificultou o acertamento de uma associação 
regional. Já no âmbito político ela aponta que: 
 
[...] os propósitos essenciais da OEA: garantir a paz e a segurança 
continentais, promover e consolidar a democracia representativa, 
respeitando o princípio da não-intervenção; prevenir as possíveis causas 
de dificuldades e assegurar a solução pacifica de controvérsias que 
surgirem entre seus membros; organizar ações solidárias destes em 
casos de agressão; procurar a solução dos problemas políticos, jurídicos 
e econômicos que surgirem entre os Estados membros; promover, por 
meio de ação cooperativa, seu desenvolvimento econômico, social e 
cultural; erradicar a pobreza crítica, que constitui um obstáculo ao pleno 
desenvolvimento democrático dos povos do hemisfério e alcançar a 
efetiva limitação de armamentos convencionais que permita dedicar a 
maior soma de recursos ao desenvolvimentoeconômico-social dos 
Estados-membros.52 
 
Como aponta a professora Flavia Piovesan, ao analisar o quadro social em 
que se instalou o Sistema Interamericano de proteção aos direitos humanos, ela 
explica que esta é uma região “marcada por elevado grau de exclusão e 
desigualdade social ao qual se soma democracias em fase de consolidação”, e que 
os países que compõem o sistema americano ainda constituem de uma “cultura de 
violência e impunidade” e ainda conta com uma “precária tradição de respeito aos 
direitos humanos no âmbito doméstico”.53 
Com isto, podemos concluir que o objetivo do sistema interamericano de 
direitos humanos é prevenir o regresso entre os direitos dos Estados membros, 
buscando a proteção dos direitos humanos, e aniquilar ameaças que possam 
afrontar os avanços democráticos na região da OEA. 
 
3.1 DIREITOS HUMANOS 
 
Os direitos humanos são pautados na evolução dos seres vivos, portanto se 
modificam com o tempo, e tem origem na igualdade, a partir da “revelação de que 
todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais que 
os distinguem entre si, merecem igual respeito, como únicos entes no mundo 
 
52 CORREIA, Theresa Rachel Couto. Corte interamericana de direitos humanos. Curitiba: 
Juruá, 2008. Pg. 93-94. 
53
 PIOVESAN, Flávia. Temas de direitos humanos. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014. Pg 92 
26 
 
capazes de ama, descobrir a verdade e criar a beleza,” como explica o professor 
Fábio Konder Comparato.54 
Óbvio dizer que os direitos humanos surgiram, uma vez que este direito foi 
violado, é uma reparação ao dano anteriormente justo, pois, o pensamento humano 
evolui e observa o vilipendio do mínimo existencial do indivíduo menosprezado. A 
época da institucionalização dos direitos humanos é muito bem observada pelo 
autor Sidney Guerra, que proclama a moderna garantia dos direitos humanos: 
 
O moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos é um fenômeno do 
pós-guerra, e seu desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas 
violações de direitos humanos da era Hitler e a crença de que parte dessas 
violações poderia ser prevenida se um efetivo sistema de proteção 
internacional dos direitos humanos já existisse, o que motivou o 
surgimento da Organização das Nações Unidas 55 
 
Indiscutível a universalidade dos direitos humanos, quanto ao parâmetro de 
proteção que estes abrangem, de modo global. Inegável também a essencialidade 
da criação de normas, padrões, e ainda, de órgãos que primam pela proteção 
destes direitos56, isto é, o sistema integrado destes direitos, é fruto do simbolismo 
compartilhado entre estados, que buscam também a conscientização destes 
direitos, e isto torna injustificável o descumprimento da norma, outrora, ratificada 
pelo estado. 
Explica o autor André de Carvalho Ramos, que os direitos humanos estão 
pautados em um emaranhado de normas, que presume o “indispensável para uma 
vida humana pautada na liberdade, igualdade e dignidade.”57. Estes direitos variam 
conforme as exigências da época vão estreitando estes direitos, de forma a ser 
uma mutação, sendo o indispensável a vida digna. 
 
Essa “codificação” internacional em matéria de direitos humanos ocorre 
principalmente pelo fato de o próprio Estado ser o maior violador desses 
direitos58 
 
 
54
 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8ª ed. São Paulo: 
Saraiva, 2013. Pg. 13. 
55
 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 2013. Pg. 103. 
Disponível em < https://www.passeidireto.com/arquivo/19783289/direitos-humanos-elementar---
sidney-guerra> Último Acesso: 14/04/2017. 
56 RAMOS, Andre de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. Pg 43. 
57
 RAMOS, Andre de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. Pg 24 
58
 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 2013. Pg. 105. 
Disponível em < https://www.passeidireto.com/arquivo/19783289/direitos-humanos-elementar---
sidney-guerra> Último Acesso: 14/04/2017. 
27 
 
Na forma pura e simples, os direitos humanos, são direitos protegidos pela 
ordem internacional59, em forma, as que o Estado cometa contra as pessoas 
protegidas por esta ordem. Assim, são normas que conduzem o mínimo existencial, 
o que pressupõe que o estado deva suprir estas necessidades, como aponta o 
autor Sidney Guerra, são direitos “reconhecidos por Estados soberanos, que 
produzem efeitos no plano doméstico em conformidade com a própria ordem 
jurídica interna de cada Estado”60. 
É como conta o autor Alexandre de Moraes, ao escrever sobre a evolução 
histórica dos direitos humanos, a iniciativa dos direitos humanos individuais, pode 
ser encontrada no antigo Egito, com o Código de Hammurabi, este, por sua vez, 
consagrava direitos ao homem, tais como a vida, a propriedade, a honra. Em 
relação ao regime feudal, apesar da separação de classes da época, ainda haviam 
documentos que reconhecendo a presença de direitos humanos. E esta evolução 
percorre a história até chegar a França, em 1789, que consagrou as normativas 
expressas dos direitos humanos, com a promulgação da Declaração dos Direitos 
Humanos e do Cidadão, com 17 artigos.61 
 
O caráter único e insubstituível de cada ser humano, portador de um valor 
próprio, veio demonstrar que a dignidade da pessoa existe singularmente 
em todo indivíduo.62 
 
É a partir deste entendimento, que podemos compreender a ideia de que os 
direitos humanos devem atender a demandas de caráter individual, referentes a 
cada indivíduo. 
Interessante lembrar que, ao passo que o tempo passa, os direitos humanos 
tiveram de conviver com institutos, hoje, repudiados, exemplo da escravidão, 
perseguição religiosa, submissão da mulher, discriminação de minorias. Desta 
forma, os direitos humanos são uma obra inacabada, porém, teve um início, e pode-
 
59 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2014. 
Pg. 22. 
60
 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 2013. Pg. 47. 
Disponível em < https://www.passeidireto.com/arquivo/19783289/direitos-humanos-elementar---
sidney-guerra> Último Acesso: 14/04/2017. 
61 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos arts. 
1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 11ª ed. rev. e 
atual. São Paulo: Atlas, 2017. Pg, 9. 
62
 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8ª ed. São Paulo: 
Saraiva, 2013. Pg. 43. 
28 
 
se dizer que este se deu com a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 
1948.63 
 
3.1.1 Declaração Universal Sobre Direitos Humanos 
 
Como mecanismo de proteção dos direitos humanos, a Declaração 
Universal sobre Direitos Humanos é um dos principais instrumentos de formação 
da dignidade humana, aprovada em 48 estados, com apenas 8 recusas. Conforme 
afirma Flavia Piovesan: 
 
A inexistência de qualquer questionamento ou reserva feita pelos Estados 
aos princípios da Declaração, bem como de qualquer voto contrário às 
suas disposições, confere à Declaração Universal o significado de um 
código e plataforma comum de ação. 64 
 
Acontece que, com a consolidação da Declaração, isso mostra o 
desenvolvido processo de internacionalização dos direitos humanos, afinal, 
estando os estados de acordo com as definições da Declaração, sem opor-se a 
nada, consolida a afirmação de direitos universais e indivisíveis65. Para Roberto 
Bobbio, a declaração coloca em xeque uma fase de “afirmação dos direitos 
universal e positiva”, assim, não os direitosprotegidos por este instrumento, não 
dizem respeito ao indivíduo de um Estado, mas sim, dilata o alcance de proteção a 
todos os homens, inclusive, no que diz respeito a positividade, requer que esses 
direitos, não só sejam reconhecidos, como, efetivamente, sejam protegidos.66 
 
Seja como for, a Declaração, retomando os ideais da Revolução Francesa, 
representou a manifestação histórica de que se formara, enfim, em âmbito 
universal, o reconhecimento dos valores supremos da igualdade, da 
liberdade e da fraternidade entre os homens [...] 67 
 
 
63 RAMOS, Andre de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. Pg 28 
64 PIOVESAN, Flavia. Direitos Humanos e direito constitucional internacional. São Paulo: 
Saraiva, 2015. Pg 215 
65
 PIOVESAN, Flavia. A universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos: desafios e 
perspectivas. Im: BALDI, César Augusto (org.). Direitos Humanos da Sociedade Contemporânea. 
Rio de Janeiro: Renovar, 2004. Pg. 49 
66 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Nova ed. 13ª 
reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Pg. 29-30. 
67 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8ª ed. São Paulo: 
Saraiva, 2013. Pg. 238. 
29 
 
Com o ímpeto de estabelecer um mínimo de garantias de direitos, a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos universaliza o direito, dando a pessoa 
condições, apenas pela condição de existir, de exigir proteção, em todos os casos 
e em qualquer circunstância. Além do mais, ela pressupõe a voz das pessoas.68 
Além do mais, como analisado por Roberto Bobbio, os direitos proclamados 
na Declaração, de forma alguma são estáticos, refletindo que, os direitos contidos 
neste instrumento, são os que emergiam em meio as tragédias da Segunda Guerra 
Mundial, sendo que, com o mundo comunicativo que viria pela frente, produziriam 
mudanças nas relações sociais, e assim careceria de novas demandas pela 
liberdade e poderes: 
 
A Declaração Universal representa a consciência histórica que a 
humanidade tem dos próprios valores fundamentais na segunda metade 
do século XX. É uma síntese do passado em uma inspiração para o futuro: 
mas suas tábuas não foram gravadas de uma vez para sempre.69 
 
 Dessa forma, a declaração estabelece um padrão de ética, entre os estados, 
relativos aos direitos humanos, dando valor a dignidade e liberdade, onde a 
indivisibilidade do indivíduo fica clara, o que reflete, de forma positiva, o fundamento 
de muitas constituições. Com isto, o indivíduo passa a ter o direito de ter direitos.70 
 Há alguns pontos interessantes de destacar na Declaração, o que está 
estabelecido no artigo 2ª, § 1º, que versa sobre a possibilidade para gozar dos 
direitos descritos na declaração, constatando que, “sem distinção de qualquer 
espécie, seja de raça, cor, sexo, linga, religião, opinião política ou de outra natureza, 
origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”. Não 
obstante, está o descrito no artigo 3º, que garante o “direito a vida, a liberdade e a 
segurança pessoal. O princípio da igualdade, predisposto no artigo 7º, onde 
descreve que todos “são iguais perante a lei e tem direitos, sem qualquer distinção, 
a igual proteção da lei”. Além do descrito no artigo 10º, que garante a busca do 
direito, com julgamento público e imparcial para decidir de seus direitos.71 
 
68
 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2014. 
Pg. 70. 
69 BOBBIO, Roberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Nova ed. 13ª 
reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Pg. 33. 
70
 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 2013. Pg. 109. 
Disponível em < https://www.passeidireto.com/arquivo/19783289/direitos-humanos-elementar---
sidney-guerra> Último Acesso: 14/04/2017. 
71 Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 10 de 
dezembro de 1948. Disponível em: < http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf > acessado 
em: nov. de 2015. 
30 
 
 Com força no artigo 28 da Declaração, que os Estados membros, tem o 
dever de promover os direitos humanos estabelecidos, apresentando, segundo 
Piovesan, “força jurídica obrigatória e vinculante”, para que os direitos e liberdades 
sejam plenamente realizados. Ainda que não apresente forma de um tratado, os 
Estados assumem o compromisso pela promoção dos direitos elencados na 
Declaração.72 
 
3.1.2 Convenção Americana De Direitos Humanos: “Pacto De San José Da 
Costa Rica” 
 
Como explica a autora Theresa Rachel Couto Correia, sobre a Convenção 
Interamericana de Direitos Humanos, este é o principal instrumento de garantias 
dos direitos humanos no sistema interamericano, tanto que entre os 35 países 
membros da OEA, 25 assinaram o pacto,73 sendo que, dentre os principais direitos 
garantidos por este instrumento estão o direito a vida (art. 4º), direito a integridade 
pessoal (art. 5º), direito a liberdade pessoal (art. 7º), proteção da honra e da 
dignidade (art. 11), igualdade perante a lei (art. 24) e proteção judicial (art. 25). 74 
Esta convenção exterioriza reconhecimento do ser humano, não pela 
nacionalidade, mas sim pela condição de existir, sendo ela complementar as 
normas de garantias desenvolvidas pelos Estados. Além do mais, ressalta que as 
condições para a vida digna do ser humano, livre de miséria e temor, só ocorrerá 
se “forem criadas condições que permitam a cada pessoa gozar não só dos seus 
direitos civis e políticos, mas também dos seus direitos econômicos, sociais e 
culturais”. 75 
 
A Convenção Americana não enuncia de forma especifica qualquer direito 
social, cultural ou econômico; limita-se a determinar aos Estados que 
alcancem, progressivamente, a plena realização desses direitos, mediante 
 
72
 PIOVESAN, Flavia. Direitos Humanos e direito constitucional internacional. São Paulo: 
Saraiva, 2015. Pg 215 
73 CORREIA, Theresa Rachel Couto. Corte interamericana de direitos humanos. Curitiba: 
Juruá, 2008. Pg. 100. 
74 Organização dos Estados Americanos. Convenção Americana de Direitos Humanos. San José, 
Costa Rica, em 22 de novembro de 1969. Disponível em < 
https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm> Último acesso: 09 de 
maio de 2017 
75 RAMOS, Andre de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. Pg 239. 
31 
 
a adoção de medidas legislativas e outras que se mostrem apropriadas, 
nos termos do art. 26 da Convenção.76 
 
É nesse sentido que explica a autora Gilda Russomano, em que, ao analisar 
a Declaração, explica que os direitos sociais têm significado especial nesta 
legislação, eis que ela valoriza significativamente os direitos humanos, tanto que 
declara que estes direitos são “inerentes a condição humana e sem os quais sua 
personalidade sucumbe, ou, pelo menos, não se desenvolve plenamente”.77 
Como explica Mazzuoli, a Convenção atuará no segundo plano, dando 
sempre prioridade para o Estado na busca de soluções quanto às garantias dos 
direitos humanos, oferecendo sempre como direito interno dos Estados: 
 
Tal significa que não se retira dos Estados a competência primária para 
amparar e proteger os direitos das pessoas sujeitas a sua jurisdição, mas 
que nos casos de falta de amparo ou de proteção aquém da necessária, 
em desconformidade com os direitos e garantias previstos pela 
Convenção, pode o sistema interamericano atuar concorrendo (de modo 
coadjuvante, complementar) para o objetivo comum de proteger 
determinado direito que o Estado não garantiu ou preservou menos do 
que deveria.78 
 
Para tanto, a convenção institui entidadesresponsáveis pela busca da 
implementação dos direitos protegidos (ou não) pelos Estados, integrados pela 
Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana de 
Direitos Humanos, conferindo competência a estes dois órgãos para “satisfação 
das obrigações enumeradas pela Convenção por parte dos Estados.79 É 
reconhecido pela Convenção, no artigo 44, que qualquer pessoa ou entidade não 
governamental pode submeter denuncia de violação de direitos humanos a 
Comissão.80 
Com fulcro no artigo 50 da referida Convenção, que temos a previsão quanto 
ao procedimento legal, para apreciação da Comissão em razão de denúncias ou 
queixas de violação dos direitos humanos. Havendo previsão da possibilidade de 
 
76 PIOVESAN, Flavia. Direitos Humanos e direito constitucional internacional. São Paulo: 
Saraiva, 2015. Pg 341 
77
 RUSSOMANO, Gilda Maciel Correa Meyer. Direitos Humanos. 2ª ed. 4ª reimp. Curitiba: Juruá, 
2011. Pg. 21. 
78 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2014. 
Pg. 115. 
79 CORREIA, Theresa Rachel Couto. Corte interamericana de direitos humanos. Curitiba: 
Juruá, 2008. Pg. 101. 
80 GOMES, Luiz Flávio, MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Comentários a Convenção Americana 
de Direitos Humanos: pacto de San José da Costa Rica. 3ed. rev., atual e ampl. – São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2010. Pg.261-262. 
32 
 
serem requisitadas informações do Estado denunciado, e no caso da não solução 
do problema, será enviado relatório da Comissão para o Estado violador, com 
proposições e recomendações, com prazo de três meses para solução. Ainda, após 
decorrido este prazo, é emitida opinião e conclusão pela Comissão, podendo fixar 
prazo para o Estado tomar medidas adequadas.81 
Entretanto, a fiscalização do cumprimento das regras internacionais é 
dificultada, principalmente em estados federativos, que não tem suporte 
institucional para aplicação e inspeção dos direitos humanos em seus territórios. É 
como aponta o professor Fabio Konder Comparato, analisando a norma da 
Convenção, explica que a Convenção até tenta resolver este problema, porém, de 
maneira ineficaz: 
 
Foi para resolver essa questão que se redigiu o art. 28. A norma do § 2º, 
que diz respeito diretamente ao problema mencionado, não parece, 
porém, de grande eficiência, como a experiência tem demonstrado. 82 
 
 Entre os principais questionamentos efetuados pelas feministas, está a 
imunidade e neutralidade das normas internacionais, buscando uma contenção, 
para que os mecanismos internacionais pressionem os Estados que ratificaram 
estes instrumentos de proteção dos direitos humanos das mulheres, para que 
efetivamente, executem os compromissos assumidos, para que assim, de forma 
igualitária, possa ser garantido maior autonomia para as mulheres.83 
 
3.2 DIREITOS HUMANOS DA MULHER 
 
Meio primordial na busca pela igualdade entre todos, a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos é clara ao afirmar que todas as pessoas nascem livres, 
portadoras de direitos, e estes podem ser reivindicados a qualquer momento de 
suas vidas. Isto deixa claro que, todos os direitos conquistados pelo homem devem 
 
81 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos humanos Fundamentais. 13ª ed. – São Paulo: 
Saraiva, 2011. Pg 116. 
82 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8ª ed. São Paulo: 
Saraiva, 2013. Pg. 384. 
83 SABADELL, Ana Lucia; SOUZA, Anamaria Monteiro de Castro. O impacto da teoria feminista 
do direito no âmbito internacional: Observações acerca da Convenção Interamericana para 
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher. In: Manual dos Direitos da Mulher. 
Coord. FERRAZ, Carolina Valença [et al.] – São Paulo: Saraiva, 2013, pg. 471 
33 
 
também ser inerentes, em tom de igualdade, para a mulher, para que assim, não 
haja discriminação entre os sexos. 
Conforme Inácio Cappellari, buscar a efetividade dos direitos humanos está 
ligada à aceitação do multiculturalismo, sendo a partir dessa aceitação que poderá 
ser espalhada a ideia de direitos humanos baseado no princípio da dignidade da 
pessoa humana. Com isto, a população em que foi alcançada pela semente dos 
direitos humanos poderá buscar formas de igualdade para minorias e grupos mais 
fracos, como forma de garantia de direitos fundamentais, de modo efetivo.84 
A autora Alice Libardoni compara a evolução dos direitos das mulheres com 
a escravidão, abolida há pouco mais de cem anos, aonde os negros eram 
comparados a mercadorias, vendidos e comprados. Nesta mesma época, as 
mulheres também não tinham direitos, nem eram consideradas cidadãs. Isto mostra 
que os direitos são conquistados após muita luta, somando-se durante a história, e 
estão sempre em evolução, sendo hoje compreendido que estes direitos são parte 
de um conjunto que garante a vida e dignidade de mulheres, homens, crianças e 
idosos, como ela escreve: 
 
Educação, saúde, trabalho, sexualidade e reprodução, ou o direito de viver 
a vida sem discriminação, violência e tortura são diferentes aspectos dos 
direitos humanos, ligados uns aos outros. Cada um deles se soma e 
integra ao outro, trazendo como resultado a igualdade de direitos e 
oportunidades entre as pessoas em todas as áreas de suas vidas, 
considerando suas características e vidas diferentes.85 
 
As narrativas históricas sempre foram voltadas para o homem, como se a 
mulher não pudesse ter tomado rumos distintos do mesmo. Durante quase toda a 
história o que se pode constatar é a submissão da mulher à vontade do homem. Já 
nas sociedades da antiguidade, vale ressalta que, isso era a razão para distinção 
dos gêneros. 86 
A ideologia do sistema patriarcal, com o passar dos anos, buscou de todas 
as formas o controle sobre o desenvolvimento físico e psíquico da mulher, por meio 
da construção de diversos tabus, inferiorizando a capacidade da mulher, fazendo 
 
84 CAPPELLARI, Inácio. Direito natural e direitos humanos. Curitiba: Juruá, 2012. Pg. 146. 
85 LIBARDONI, Alice. Direitos humanos das mulheres: em outras palavras: subsídios para 
capacitação legal de mulheres e organizações. Coor. Alice Libardoni. Brasilia: AGENDE, 2002. Pg. 
16. 
86 BOFF, Salete Oro. O gênero no tempo: reflexões a respeito da inserção e da igualdade da 
mulher na sociedade. In: BOFF, Salete Oro (Org.). Gênero: discriminações e reconhecimento. 
Passo Fundo: IMED, 2011. Pg. 13. 
34 
 
com elas se sentissem como meras espectadoras do meio social, e subordinadas 
ao controle do homem. 
 
No início da proteção internacional dos direitos humanos, as pessoas 
protegidas não eram vistas a partir das suas características próprias, em 
suas dificuldades, fragilidades e em suas diferenças, ou seja, protegia-se 
o ser humano genericamente considerado, de forma abstrata, sem levar 
em consideração as circunstâncias concretas: quem a pessoa era e como 
vivia.87 
 
O sistema organizado de forma a garantir a proteção da mulher é fruto das 
reinvindicações feitas pelo movimento feminista, durante o século XX, como explica 
Mazzuoli, estes protestos levaram a “adoção de uma arquitetura internacional de 
proteção às mulheres”, isto tudo estava ligado ao “direito a igualdade formal, à 
liberdade sexual e reprodutiva, ao impulso da igualdade econômica, a redefinição 
dos papeis sociais e ao direito a diversidade de raça, etnia, entre outras”.88 
Convém lembrar que a luta pelos direitos humanos é frequente, os avanços 
são significativos, porém, a busca pela igualdade não chegou ao final. Entre os 
mecanismos de defesa dos direitos humanos da mulher, resta destacar aqui alguns: 
Convenção Interamericana sobre a Concessão

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