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SOCIEDADE EDUCACIONAL DE ITAPIRANGA – SEI FACULDADES DE ITAPIRANGA – FAI CURSO DE DIREITO HUMBERTO CHIODI IMPACTO DO FEMINICÍDIO NA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS: ANÁLISE DO CASO CAMPO ALGODOEIRO ITAPIRANGA, SC 2017 HUMBERTO CHIODI IMPACTO DO FEMINICÍDIO NA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS: ANÁLISE DO CASO CAMPO ALGODOEIRO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a aprovação no Curso de Direito da FAI – Faculdades e para obtenção do título de Bacharel em Direito. Professora Orientadora: Me. Izabel Preis Welter ITAPIRANGA, SC 2017 AGRADECIMENTOS À Deus, por me dar a chance de lutar todas as batalhas, me dando força para alcançar cada conquista em minha vida. À minha mãe e minha irmã, são as mulheres com quem passei mais tempo de minha vida. Agradeço imensamente à minha mãe Cleusa Maria Walter, pois ela sempre está disposta a qualquer desafio, ela que, desde o meu primeiro suspiro tem me acompanhado, transmitindo seus ensinamentos, nunca deixando a bola cair, e sempre me ensinando o quanto amar e cuidar das pessoas ao nosso redor é essencial. Tenho muito a agradecer à minha irmã Laura Maíza Chiodi, por ser uma amiga que me ajuda em momentos de dificuldade, sempre me dando a mão quando precisei. Também, agradeço a meu irmão Bruno Aluis Chiodi, pois sempre foi a pessoa em que me inspirei, buscando tomar atitudes nobres como ele sempre tem ensinado. À minha professora orientadora, Izabel Preis Welter, ela que aceitou o desafio de me orientar nessa caminhada, agradeço, pois, foi essencial transmitindo os seus conhecimentos e norteando este trabalho. Sou grato por ter me compreendido e permanecido ao meu lado até o final da pesquisa. À minha namorada Deise, pois ela tem sido uma pessoa maravilhosa para mim, sempre me recebendo de braços abertos quando precisava aliviar as angustias e o stress. Obrigado por ser um porto seguro, em que posso me apoiar e, em momentos de muito cansaço, posso recarregar minha energia com a tua presença. À Fai Faculdades de Itapiranga/RS e a todos os professores que já compartilharam seus ensinamentos no decorrer do curso. Em especial ao professor Diego, que é o responsável por eu não ter desistido do curso, apesar das dificuldades. 1º DE JULHO Eu vejo que aprendi O quanto te ensinei E é nos teus braços que ele vai saber Não há por que voltar Não penso em te seguir Não quero mais a tua insensatez O que fazes sem pensar aprendeste do olhar E das palavras que guardei pra ti Não penso em me vingar Não sou assim A tua insegurança era por mim Não basta o compromisso, Vale mais o coração Já que não me entendes, não me julgues Não me tentes O que sabes fazer agora Veio tudo de nossas horas Eu não minto, eu não sou assim Ninguém sabia e ninguém viu Que eu estava a teu lado então Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher Minha mãe e minha filha, Minha irmã, minha menina Mas sou minha, só minha e não de quem quiser Sou Deus, tua Deusa, meu amor (Renato Russo) RESUMO Este trabalho tem a finalidade de compreender a influência do crime de feminicídio no julgamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, para isso é utilizada uma abordagem direta ao caso Campo Algodoeiro, como meio basilar para compreender este crime de ódio que assolou Ciudad Juarez. Para isso, este trabalho foi desenvolvido utilizando como método de abordagem o estudo de caso, utilizando da técnica de pesquisa de documentação indireta, analisando artigos científicos, doutrinas, revistas jurídicas, normas e tratados internacionais. Durante o desenvolvimento do trabalho são abordadas as formas de violência contra a mulher, bem como a dominação masculina denotando os estereótipos do gênero, fazendo uma introdução ao feminicídio. Traz também uma introdução e breve análise dos principais mecanismos de proteção internacional dos direitos humanos das mulheres, ressaltando o funcionamento dos órgãos de proteção dos direitos humanos no sistema interamericano de direitos humanos. Ao final do desenvolvimento é estudado o caso Campo Algodoeiro, constatando os principais pontos da sentença proferida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos através de uma perspectiva de gênero. Esta pesquisa deve servir para uma futura análise dos motivos que o crime de feminicídio deve ser combatido com todas as forças, motivando a sociedade na busca pela igualdade entre homens e mulheres. Palavras-chave: Feminicídio. Violência. Corte. Interamericana. Direitos. Humanos. Campo. Algodoeiro. Ciudad. Juarez. ABSTRACT This study ahs as objective to understand the influence of crime of femicide in the judgment of the Inter-American Court of Human Rights. In thes case, is used a direct approach in the case Field Cotton Plant as a foumdation for understanding this kind of hate crime that devastated the Ciudad Juarez. For this case, the study was developed using as the method to approach the study case. Using either the technique of indirect documentation research. Have been analyzed, scientific articles, doctrines, legal journals, standards, and international treaties. During the development of the work are discussed the forms of violence against women as well as men domination denoting stereotypes, making an introduction to the femicide. Also get an introduction and brief analysis of the main mechanisms of international protection of women's human rights, emphasizing the operation of the protection of Human Rights in the Inter-American system of Human Rights. At the end of the development is studied the case Field cotton plant, noting the main points of the sentence handed down by the Inter-American Court of Human Rights through a gender perspective. This research should serve for a future analysis of the reasons that the crime of femicide must be fought with all the forces, motivating the society in the search for equality between men and women. KEYWORDS: Femicide. Violence. Court. Inter-American. Rights. Human. Field. Cotton. plant. Ciudad. Juarez SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 2 VIOLÊNCIA DE GÊNERO ..................................................................................... 10 2.1 AS FORMAS DE VIOLÊNCIA SOFRIDAS PELAS MULHERES ......................... 12 2.2 EQUAÇÃO NAS RELAÇÕES DE GÊNERO ....................................................... 14 2.2.1 A igualdade ..................................................................................................... 16 2.2.1.1 Igualdade Formal X Igualdade Material ......................................................... 17 2.3 O FEMINICÍDIO .................................................................................................. 19 2.3.1 Íntimo ............................................................................................................... 21 2.3.2 Não íntimo ....................................................................................................... 22 2.3.3 Social ............................................................................................................... 23 3 SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS .................................. 24 3.1 DIREITOS HUMANOS ........................................................................................ 25 3.1.1 Declaração Universal Sobre Direitos Humanos .......................................... 28 3.1.2 ConvençãoAmericana De Direitos Humanos: “Pacto De San José Da Costa Rica” .............................................................................................................. 30 3.2 DIREITOS HUMANOS DA MULHER .................................................................. 32 3.2.1 Convenção Sobre A Eliminação de Todas As Formas De Discriminação Contra A Mulher – CEDAW ..................................................................................... 35 3.2.2 Convenção Interamericana Para Prevenir, Punir E Erradicar A Violência contra a Mulher – “Convenção de Belém Do Pará” ............................................. 37 3.3 COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ............................. 40 3.4 A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ................................ 43 4 A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS E FEMINICIDIO: O CASO CAMPO ALGODOEIRO ................................................................................ 47 4.1 INTRODUÇÃO AO CONTEXTO DA CIUDAD JUAREZ ...................................... 47 4.2 ESTUDO DO CASO: CAMPO ALGODOEIRO .................................................... 49 4.2.1 Procedimento perante a Corte Interamericana De Direitos Humanos ....... 51 4.2.2 A decisão tomada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos através de uma perspectiva de gênero ............................................................................... 55 4.3 IMPACTOS DO FEMINICIDIO NA DECISÃO DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS .............................................................................................. 58 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 61 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 64 8 1 INTRODUÇÃO É fato que a violência contra a mulher é algo constante na sociedade em que vivemos, e isto acompanha a humanidade há séculos. Este é um problema que vem arraigado pelo pensamento ultrapassado das culturas antigas em que predominava a força física do homem. É importante a busca pelo respeito à diversidade. A disparidade de oportunidade que a sociedade coloca para homem e a mulher, pesados em uma balança de direitos, revela uma disparidade, principalmente pela ideologia do gênero Importante é de se pensar que a violência contra a mulher viola direitos humanos fundamentais, o que implica em discriminação e proporciona a desigualdade entre homens e mulheres. Isto é, a mulher vem constantemente lutando contra a situação de desigual, e a crescente evolução das legislações de proteções ao direito da mulher demonstram o importante passo que a sociedade tem dado para acabar com a discriminação. Já o feminicídio, homicídio de mulheres por questões de gênero, é crime contra a vida, porém, indo mais além, é um desequilíbrio social e cultural que, a partir da violência extrema, carece de uma análise sócio jurídica, pois priva a sociedade da presença da mulher. O contexto de Ciudad Juarez, a partir de acordo de livre fronteira, desencadeou um aumento da criminalidade na região, isto culminou nos homicídios de mulheres por questões de gênero, além da impunidade que operava no Estado do México em razão da inércia das autoridades na busca pelos responsáveis pelos crimes, estes fatos propiciaram os acontecimentos que basearam o caso Campo Algodoeiro. Desta forma, este trabalho se propõe a analisar os mecanismos de proteção dos direitos humanos inerentes à mulher, frente ao caso Campo Algodoeiro, e a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, através de uma perspectiva de gênero, denotando o impacto que o feminicídio gera nos julgamentos da Corte. Este é um assunto relevante, eis que envolve o problema social e jurídico em um caso. Diante do exposto, considerando os mecanismos de proteção dos direitos humanos da mulher, o caso proposto e o homicídio de mulheres por questão de gênero, é possível considerar o seguinte questionamento: analisando o caso 9 Campo Algodoeiro, qual o impacto tem o feminicídio nos julgamentos da Corte Interamericana de Direitos Humanos? O objetivo geral do estudo é constatar o entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, frente os casos de feminicídio, tratando especificamente de um estudo do caso Campo Algodoeiro, analisando como são resguardados os direitos relativos à mulher. Para chegar ao ponto central o trabalho será de natureza bibliográfica. O método de abordagem no desenvolvimento do trabalho será o estudo de caso, a partir de obras doutrinárias e normativas. O método de procedimento empregado é o histórico-analítico, buscando as origens do problema, de modo a compreender os impactos que o tema causa. A técnica de pesquisa empregada será a documentação indireta, analisando obras de juristas, incluindo artigos científicos, doutrinas, revistas jurídicas, normas e tratados internacionais. O trabalho está estruturado em três parágrafos. No primeiro propõem-se uma análise da violência de gênero, e como esta violência se manifesta, através do estudo, em específico, do feminicídio. Também, caracterizar as diferenças dos padrões de gênero, através do estudo da igualdade entre homens e mulheres. No segundo capitulo o objetivo é estudar o sistema interamericano de direitos humanos, buscando formar uma base, a partir da observação das normas internacionais de proteção dos direitos da mulher. Ainda, entender o procedimento de análise dos casos, tanto da Comissão Interamericana de Direitos Humanos como da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Por fim, o objetivo do último capítulo adentrar brevemente no contexto da Ciudad Juarez, local de acontecimento dos fatos, conhecendo as fronteiras, refletindo com a violência que ocorre no local, introduzindo o caso Campo Algodoeiro, como forma de entender a onda de feminicídio que aconteceram, bem como, analisar o procedimento e sentença proferida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. 10 2 VIOLÊNCIA DE GÊNERO Gênero é uma construção histórica dos movimentos feministas. Os movimentos feministas tem influência mais intensa nos séculos XIX e XX, e são aludidos a um movimento social organizado, e as primeiras lutas foram sobre o direito de voto, para que fosse igual entre homens e mulheres. 1 A violência de gênero se liga a violência sofrida pela mulher quando, nos anos de 1970 o movimento feminista faz esta ligação, por ser esta alvejada pela violência de gênero. Para Teles, “a própria expressão ‘violência contra a mulher’ foi assim concebida por ser praticada contra pessoa do sexo feminino, apenas e simplesmente pela sua condição de mulher”2. O conceito de ideologia de gênero foi formulado pelas feministas para analisar a diferenciação social entre gêneros e a permanência de uma situação de inferioridade, dominação e opressão das mulheres. 3 Para tratar do tema gênero, a sociologia, a antropologia e outras ciências humanas, focaram para demonstrar as diferenças de aspectos socioculturais existentes entre homens e mulheres, analisando a vida privada e pública para direcionar os papéis diferenciados a eles incumbido, criados através da dominação masculina, durante um longo período histórico. Assim, “o termo gênero pode ser entendido como um instrumento, como uma lente de aumento que facilita a percepção das desigualdades sociais e econômicas entre mulheres e homens.” 4 A percepção de que havia muito mais de cultura do que de biologia no que se colocava – e ainda se coloca, em especial nos processos socializatórios mais iniciais, com crianças pequenas, nas famílias e nas escolas – como padrão de comportamento “natural” de homens e mulheres impulsionou um novo movimentosocial, o feminista. 5 1 LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 11. Ed. Petrópolis, RJ. Vozes, 2010. Pg 14-15 2 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2012. Pg 17. 3 COULOURIS, Daniella Georges. Gênero e discurso jurídico: possibilidades para uma análise sociológica. In: Produzindo Gênero. Coord. Maria Jane Soares Carvalho e Cristianne Maria Fammer Rocha (orgs.) – Porto Alegre: Sulina, 2004. Pg 66. 4 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2012. Pg 14-15 5 GONÇALVES, Tamara Amoroso. A Proteção à liberdade sexual feminina como expressão da tutela da dignidade humana: os direitos sexuais da mulher na contemporaneidade. In: Manual dos Direitos da Mulher. Coord. FERRAZ, Carolina Valença [et al.] – São Paulo: Saraiva, 2013, pg. 36. 11 Violência toma significado com o uso de força física, psicológica ou intelectual com o intuito de coagir outra pessoa a praticar ato que esta não teria vontade, em outras palavras é impedir que uma pessoa se manifeste segundo seu desejo e vontade, “sob pena de viver sob ameaças ou até mesmo agressões.” 6 Segundo a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher – “Convenção de Belém do Pará”, define a violência contra a mulher “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado.” 7 Para Joan Scott o gênero é fonte primária para qual podemos dar significado ao poder, e como ele é articulado.8 Fazendo uma relação ao conceito adotado por Foucault, explicado por Dreyfus e Rabinow, o poder não é mercadoria, não é uma recompensa, é um processo de tecnologias políticas e a expansão dessas tecnologias reflete nas relações desiguais e assimétricas. Para o autor, o poder é algo que deve funcionar em um sistema de rede. Desta forma nunca estará focalizado nas mãos de uns, tanto uns como outros revezam-se nas posições de poder. 9 Para Pierre Bourdie, o dominado exerce os esquemas de pensamento daquele que domina, com submissão, condicionada às relações de dominação impostas. Assim, são imperceptíveis os atos de reconhecimento ao poder masculino, como explica o autor: Todo domínio simbólico pressupõe, por parte daqueles que o sofrem, uma forma de cumplicidade que não é nem submissão passiva a uma condicionante exterior, em adesão livre aos seus valores [...] ela inscreve- 6 RIBEIRO, Dominique de Paula. Violência contra a mulher: aspectos gerais e questões práticas da Lei nº 11.340/2006. 1 ed. – Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. Pg. 35. 7 Organização dos Estados Americanos. Convenção Interamericana para Prevenir Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher: Convenção de Belém do Pará. Belém do Pará, Brasil em 09 de junho de 1994. Disponível em < https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/m.Belem.do.Para.htm> Último acesso: 09 de maio de 2017 8 SCOTT, Joan W. Gender: a useful category of historical analysis. The American Historical Review, v. 91, n. 5, 1986, p. 1053-1075. Disponível em: <http://www.westga.edu/~history/FacultyUpdated/EMacKinnon/Spring%202011%20Syllabi%20and %20Materials/Gender.pdf> Último acesso em: 07 de maio 2017. 9 DREYFUS, Hubert L.; RABINOW, Paul. Michael Foucault, uma trajetória filosófica: (para além do estruturalismo e da hermenêutica). Tradução de Vera Porto Carrero – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. Pg. 203-208. 12 se no estado prático, nas disposições que são insensivelmente inculcadas, através de um longo processo de aquisição. 10 Constitui violência de gênero, nas palavras de Janete R. Martins, citando Saffioti, “toda violência sofrida pelo fato de ser mulher, sem distinção de raça, classe social, religião, idade ou qualquer outra condição, produto de um sistema social que subordina o sexo feminino.”11 O termo “violência doméstica” serve para especificar a violência sofrida por pessoas que tem relação intrafamiliar, também abrangendo aquelas de convívio esporádico. Em contraponto, o termo “violência familiar” está relacionado aquelas pessoas que tem relação de família, ligadas por “laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa”. A autora escreve, “o correto é utilizar a expressão violência doméstica e familiar contra a mulher para se referir à violência de gênero”.12 De suma importância o tema dos direitos humanos da mulher, visto que o principal obstáculo para que a mulher viva uma vida digna, sendo respeitadas como cidadãs, é a discriminação e a violência. 2.1 AS FORMAS DE VIOLÊNCIA SOFRIDAS PELAS MULHERES Há que se destacar alguns tipos de violência que assombram o cotidiano das mulheres, dentre as quais estão, violência sexual, discriminação e preconceito, lesões corporais, ameaças e assassinatos. Teles revela que, a violência doméstica é aquela que deriva da relação de pessoas da mesma família, porém, a violência contra a mulher fica mascarada neste conceito, pois “independente da faixa etária das pessoas que sofrem espancamentos, humilhações e ofensas nas relações descritas, as mulheres são o alvo principal”. Existem também os que chamam de violência intrafamiliar, porém a autora faz uma crítica, dizendo que essa terminologia “estaria escondendo a violência contra a mulher”. 13 10 BOURDIE, Pierre. A dominação masculina. Tradução por: Maria Helena Kühner – 2ª ed. – Rio de Janeiro: BestBolso, 2014. Pg. 32. 11 MARTINS, Janete Rosa. A violência contra mulher e a Lei Maria da Penha. In: In: BOFF, Salete Oro (Org.). Gênero: discriminações e reconhecimento. Passo Fundo: IMED, 2011. Pg. 141. 12 RIBEIRO, Dominique de Paula. Violência contra a mulher: aspectos gerais e questões práticas da Lei nº 11.340/2006. 1 ed. – Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. Pg. 37. 13 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2012. Pg. 18. 13 O professor Damásio de Jesus complementa, narrando que os grupos com maior vulnerabilidade à violência doméstica “são as mulheres as crianças, as pessoas com deficiências físicas e mentais da terceira idade.” Para compreender os aspectos da violência familiar, faz-se necessário analisar dois fatores, “seu caráter cíclico e sua intensidade crescente.”14 A discriminação consiste em distinguir através de ato de anulação ou limitação de reconhecimento de direitos, seja no campo político, social, econômico ou cultural. É isolar, sendo entendido, deveras, por um desrespeito. A violência de gênero tem origem na discriminação histórica sofrida pelas mulheres, ações que visam a subordinação do feminino.15 Quando se fala de violência física, o professor Rogério Sanches Cunha explica que se trata do “uso de força, mediante socos, tapas, pontapés, empurrões, arremesso de objetos, queimaduras, etc. visando, desse modo ofender a integridade ou a saúde corporal da vítima”. Diz o autor, ainda, que o resultado dessas agressões pode deixar ou não marcas aparentes.16 A ameaça consiste, segundo a lei penal, em causar mal injusto e grave, por meio de palavra, escrita ou gesto, até mesmo qualquer outro ato simbólico. Este é um crime que ocupa destaque nas denúncias feitas pelas mulheres nas relações familiares. O crime de ameaça cria, um sentimento de insegurança, medo e incapacidade de sair da situação. Pode ser considerado uma espécie de violência psicológica, já que produz, muitas vezes, efeito perverso. A lesão corporal,bem como as ameaças empregadas são precedentes para os homicídios. O termo empregado (feminicídio) é o entendimento de que a causa da morte seja a discriminação da mulher por questões relacionadas ao gênero.17 Por outro lado, no que se refere à violência sexual, Maria Berenice Dias aponta, com indignação, o problema da “resistência da doutrina e jurisprudência em admitir a possibilidade da ocorrência de violência sexual nos vínculos familiares”. Restava incompreensível que, pelo fato de unir-se em relação nupcial, 14 JESUS, Damásio de. Violência contra a mulher: aspectos criminais da lei 11.340/2006. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015. Pg. 9. 15 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2012. Pg 27-28. 16 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Violência doméstica: Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), comentada artigo por artigo. 2ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. Pg. 61. 17 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2012. Pg 47-48. 14 fosse tido a sexualidade como exercício do casamento, como se a mulher tivesse um “débito conjugal” com o marido.18 Para Damásio de Jesus, este é “um crime clandestino e subnotificado, praticado contra a liberdade sexual da mulher”. 19 Interessante, também, para o tema, tratar daquilo que Bourdieu denomina de “violência simbólica”, sendo por ele definida como violência suave, invisível. Assim, a própria vítima, em ato de conformação, reconhece uma hierarquia, em que fica submissa na relação social, compreendendo ser natural esta posição.20 2.2 EQUAÇÃO NAS RELAÇÕES DE GÊNERO O gênero está pautado nas diferenças entre as relações sociais, culturais, econômicas e políticas entre homens e mulheres. A argumentação que se faz necessária é que, essas diferenças, segundo Guacira Lopes Louro, “não estão ligadas as características sexuais, mas a forma como essas características são representadas e valorizadas”. Para a autora, é a análise, em determinado período histórico, daquilo que se pensa e o que se diz que vai construir o que é feminino e masculino em uma sociedade. 21 Durante o decorrer da vida, e enquanto a pessoa passa pelo processo de socialização, tem como valor social algumas práticas de ideologias sobre as relações de gênero. Com o principal foco no espaço do homem como sendo o público, com superioridade na hierarquia social, e o papel da mulher como sendo o privado, onde os deveres da mulher são principalmente os cuidados com a casa e filhos. 22 O paradoxo está no fato de que são as diferenças visíveis entre o corpo feminino e o masculino que, sendo percebidas e construídas segundo os esquemas práticos da visão androcêntrica, tornam-se o penhor mais perfeitamente indiscutível de significações e valores que estão de acordo com os princípios desta visão: não é o falo (ou a falta de) que é o 18 DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate a violência doméstica e familiar contra a mulher. 2ª ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. Pg. 67. 19 JESUS, Damásio de. Violência contra a mulher: aspectos criminais da lei 11.340/2006. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015. Pg. 8. 20 BOURDIE, Pierre. A dominação masculina. Tradução por: Maria Helena Kühner – 2ª ed. – Rio de Janeiro: BestBolso, 2014. Pg. 12. 21 LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 11. Ed. Petrópolis, RJ. Vozes, 2010. Pg. 21. 22 PRA, Jussara Reis. Gênero, cidadania e participação na esfera pública. In: Produzindo Gênero. Coord. Maria Jane Soares Carvalho e Cristianne Maria Fammer Rocha (orgs.) – Porto Alegre: Sulina, 2004. Pg 46-47. 15 fundamento dessa visão de mundo, e sim é essa visão de mundo que, estando organizada segundo a divisão em gêneros relacionais, masculino e feminino, pode instituir o falo, constituído em símbolo da virilidade, do ponto de honra caracteristicamente masculino, e instituir a diferença entre os corpos biológicos em fundamentos objetivos da diferença entre os sexos, no sentido de gêneros construídos como duas essências sociais hierarquizadas.23 O que Bourdieu explica é o retrato de que, as assimetrias relacionadas ao sexo biológico, são organizadas no sentido inverso. Não é a imagem do órgão sexual masculina que educa a equação do gênero, mas a visão do mundo estabelece essa imagem, como “símbolo da virilidade”, nivelando o gênero nas camadas sócias. Para tanto, é pertinente fazer uma análise das particularidades que caracterizam a experiência do dia-a-dia, comparando, atividades desenvolvidas por homem e mulher, e refletir, as ligações entre as funções sociais impostas, contrastando, com o sexo biológico. Desta forma, fica inegável que o convívio em sociedade, no transcorrer dos anos, formulou padrões impostos a cada ser, ratificando as assimetrias de gênero. As assimetrias podem, facilmente, ser observadas como fruto da história, como aponta a autora Flavia Lages de Castro, a mulher, por ter nascido do sexo feminino, foi afastada do foco da história. Salienta ainda que, a mulher, sendo analisada juridicamente, nunca era desvinculada do poder masculino: As romanas jamais eram dissociadas do ser mãe, mulher ou filha de alguém, preferencialmente do sexo masculino e, mesmo quando encorajadas a desenvolver capacidades ou talentos próprios, isto era feito não objetivando benefícios para a mulher, mas para o agrado do homem.24 Na visão de Bourdieu explicando a dominação masculina, entendendo a distribuição de poderes entre homens e mulheres, ele explica que, não importa qual seja a posição da mulher na sociedade, ela sempre estará separada “dos homens por um coeficiente simbólico negativo que, tal como a cor da pele para os negros, ou qualquer outro sinal de pertencer a um grupo social estigmatizado, afeta negativamente tudo que elas são e fazem”.25 O que tem privado o espaço da mulher 23 BOURDIE, Pierre. A dominação masculina. Tradução por: Maria Helena Kühner – 2ª ed. – Rio de Janeiro: BestBolso, 2014. Pg. 39-40. 24 CASTRO, Flavia Lages. Mulheres Romanas. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Lumen juris, 2013. Pg. 11. 25 BOURDIE, Pierre. A dominação masculina. Tradução por: Maria Helena Kühner – 2ª ed. – Rio de Janeiro: BestBolso, 2014. Pg. 130. 16 na sociedade são as diferenças e características biológicas do ser humano, que denotam a conjuntura da sociedade, estes por sua vez, não devem ser o fator para a distribuição de privilégios entre homens e mulheres. Como aponta Guacira Lopes Louro, parafraseando Joan Scott, se torna uma armadilha conceber o conceito de “igualdade-diferença”. Na busca de igualdade teremos indivíduos em situações diferentes, em que por meio de algum tipo de intervenção se tornem igualitários. Portanto a “igualdade é um conceito político que pressupõe diferenças.” 26 As desigualdades do gênero são ideias construídas com o tempo, atribuindo atividades em razão do sexo, o que coloca a mulher em situação de desigual nas relações com os homens, seja na vida pública ou privada, acesso as garantias de direitos ou qualquer outra garantia básica para a manutenção da vida. Resta saber que é importante é perceber que as distinções são frutos de nossa ideia, construídas a partir do processo cultural histórico que desiguala os gêneros, não podendo ser justificadas pelas diferenças biológicas de cada sexo.27 2.2.1 A igualdadeA discriminação contra a mulher está, muitas vezes, pautada nas características biológicas dispares de homens e mulheres. Desta forma, é importante entender o conceito da igualdade entre homens e mulheres pretendido pelos direitos humanos, para equiparar as oportunidades nas relações sociais. Como base inicial, podemos perceber que, o direito a igualdade entre todos é garantido na Declaração Universal dos Direitos Humanos: Art. VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. 28 26 LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 11. Ed. Petrópolis, RJ. Vozes, 2010. Pg. 46. 27 LIBARDONI, Alice. Direitos humanos das mulheres: em outras palavras: subsídios para capacitação legal de mulheres e organizações. Coor. Alice Libardoni. Brasilia: AGENDE, 2002. Pg. 109. 28 Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em: < http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf > Último acesso em: 09 de maio de 2017. 17 Existe uma responsabilidade dos Estados e sociedade acerca da proteção dos direitos humanos, com isto, os estados devem seguir o padrão de direito internacional, internalizando normas e políticas de proteção, de respeito e garantia, através da edição de leis e decretos conforme os modelos dos Tratados e Convenções internacionais sobre direitos humanos. Isto é, proteger os direitos das pessoas conforme a norma internacional, por meio de políticas de respeito e garantia, nas palavras de Dominique de Paula Ribeiro, “não violando os direitos da pessoa e assegurando soluções a alguém que tenha seus direitos violados.” 29 Na ideia de Dworkin não existe paradoxo na imagem de que o direito do cidadão em ser tratado de maneira igual esbarre em uma política social desejável, para que torne a sociedade, em outros termos, igual. Em se tratando de princípio da igualdade, o autor vai mais além e destaca: O primeiro é o direito a igual tratamento, que é o direito a uma igual distribuição de alguma oportunidade, recurso ou encargo. Todo cidadão por exemplo, tem direito a um voto igual em democracia [...] O segundo é o direito ao tratamento como igual, que é o direito, não de receber a mesma distribuição de algum encargo ou benefício, mas de ser tratado com o mesmo respeito e consideração que qualquer outra pessoa.30 A igualdade vem a ser o equiparado de direitos entre pessoas de distintos aspectos, onde analisasse a situação fática da pessoa, e através da desigualdade existente é que se busca a igualdade, que deve ocorrer no mundo dos fatos. É com isso que se busca a conservação dos direitos humanos, através dos direitos pautados nas dificuldades enfrentadas por cada pessoa, seja por questões de raça, etnia, religião, gênero, etc. 2.2.1.1 Igualdade Formal X Igualdade Material O conceito de igualdade formal toma figura a partir das Revoluções Liberais, e consiste no tratamento que a lei garante de forma igualitária entre os cidadãos, assim como os governantes, naquilo em que forem iguais. À época, a elaboração dessa igualdade tinha como propósito a eliminação de privilégios a determinados 29 RIBEIRO, Dominique de Paula. Violência contra a mulher: aspectos gerais e questões práticas da Lei nº 11.340/2006. 1ª ed. Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. Pg. 45-47 30 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a Sério. Tradução de Nelson Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 2002, pg. 349. 18 setores da sociedade.31 O que o autor quer dizer é que a igualdade formal está no plano de tratar todos com os mesmos padrões e conceitos, como se todos fossem iguais. A igualda material tem se consolidado através de diversas políticas de inserção da mulher na sociedade, dando ênfase a Constituição Federal, que buscou romper a barreira do “sistema legal fortemente discriminatório (negativamente)”, para que se conseguisse a tão sonhada igualdade entre gênero feminino e masculino. De maneiras que, a mulher, tem assegurado o seu direito, sem distinção de qualquer natureza. 32 Reconhecido o direito da mulher do Direito Humano, a legislação internacional começa a se moldar para que as garantias dos direitos da mulher sejam alcançadas, em 1994 temos o destaque para a Convenção Interamericana Para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, ratificada pelo Brasil em 1995. Dá-se ênfase também ao trabalho realizado pela Organização dos Estados Americanos (OEA), que dá tratamento especial ao cria a Convenção de Belém do Para As Nações Unidas inserem também como meio de proteção, em 1979, a Convenção sobre Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. 33 Os apontamentos feitos por Teles a respeito são de que: A definição trazida pela convenção reveste-se de significativa importância ao preocupar-se com a violência na esfera privada, a chamada violência doméstica, pois os agressores das mulheres geralmente são parentes ou pessoas próximas. Dessa forma, a violação dos direitos humanos da mulher, ainda que ocorra no âmbito da família ou da unidade doméstica, interessa a sociedade e ao poder público. 34 Podemos observar os mecanismos de proteção dos direitos humanos das mulheres tomando forma, em busca da igualdade material entre as relações de gênero existentes na sociedade, a partir da perspectiva de que, a igualdade deve ser vista através da desigualdade cultural existente, onde o menos privilegiado tem 31 ALMEIDA, Guilherme Assis de; ZAPATER, Maíra Cardoso. Direito à igualdade e formas de discriminação contra a mulher. In: Manual dos Direitos da Mulher. Coord. FERRAZ, Carolina Valença [et al.] – São Paulo: Saraiva, 2013, pg. 99. 32 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2012. Pg 61. 33 RIBEIRO, Dominique de Paula. Violência contra a mulher: aspectos gerais e questões práticas da Lei nº 11.340/2006. 1ª ed. Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. Pg. 53-54 34 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2012. Pg 68. 19 o direito, em nome da honra, de ser equiparado pela lei, para que as desigualdades se dissolvam. Essas diferenças repercutem no campo jurídico, devendo sempre ser observados, revelando a realidade do contexto social, isso é, essas “diferenças naturais justificariam um tratamento jurídico desigual”.35 Dessa foram, é importante que os órgãos de defesas dos direitos reconheçam que as diferenças são obstáculos para a garantia plena de direitos. Como relata o professor Ricardo Castilho, a busca pela igualdade das relações de gênero está pautada em três objetivos prioritário: “igualdade no acesso à educação, igualdade de oportunidades no trabalho e atenção a saúde das mulheres.” Entretanto, o panorama cultural existente inviabiliza tal cenário, apontando o homem como principal fator que dificulta a reversão desta desigualdade, resultando com isso, em uma abreviação do quadro de mulheres em funções de relevante valor na sociedade.36 Dessa maneira, não é permitido hoje, no direito contemporâneo que seja concebido o direito sem analisar esses dois vieses, o formal e o material. Em matéria da Carta Magna brasileira, está expressa por diversas vezes discriminações positivas que contribuem para a igualdade nas relações de gênero em sua dimensão material. 37 2.3 O FEMINICIDIO O pontoextremo desse tipo de violência contra a mulher é o óbito. A este, dá-se o nome de feminicídio. Qual seja, o homicídio praticado contra a mulher, unicamente, por questões de gênero, não importando para sua definição a raça, cor, religião, e outros fatores que poderiam influenciar. Observa-se que, a grande parte das agressões praticadas contra a mulher estão inseridas no contexto intrafamiliar, ou seja, dentro de casa, pelos parceiros ou ex-parceiros, que 35 ALMEIDA, Guilherme Assis de; ZAPATER, Maíra Cardoso. Direito à igualdade e formas de discriminação contra a mulher. In: Manual dos Direitos da Mulher. Coord. FERRAZ, Carolina Valença [et al.] – São Paulo: Saraiva, 2013, pg. 104. 36 CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos: processo histórico – evolução do mundo, direitos fundamentais: constitucionalismo contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2010. Pg. 212. 37 ALMEIDA, Guilherme Assis de; ZAPATER, Maíra Cardoso. Direito à igualdade e formas de discriminação contra a mulher. In: Manual dos Direitos da Mulher. Coord. FERRAZ, Carolina Valença [et al.] – São Paulo: Saraiva, 2013, pg. 100. 20 acontecem em situações nas quais a mulher não tem meios suficientes para defesa.38 Feminicídio é, portanto, a morte movida pelo sentimento de ódio que o agressor tem pelo fato da vítima ser mulher. Femicide is on the extreme end of a continuum of antifemale terror that includes variety of verbal and physical abuse, such as rape, tortute, sexual slavery (particularly in prostitution), incestuous and extrafamilial child sexual abuse, physical and emotional battery, sexual harassment (on the phone, in the streets, at the office, and in the classroom), genital mutilation (clitoridectomies, excision, infibulations), unnecessary gynecologial operations (gratuitous hysterectomies), forced heterosexuality, forced sterilization, forced motherhood (by criminalizing contraception and abortion), psyschosurgery, denial of food to women in some cultures, cosmetic surgery, and other mutilations in the name of beautification. Whenever these forms os terrorism result in death, they become femicides. 39 Entende-se, portanto, que estes são crimes de ódio. Um crime de ódio é uma conduta violenta, onde a motivação da fúria é a percepção negativa de diferenças entre indivíduos. Estes crimes têm como característica a percepção das pessoas que pertencem a uma categoria social diferente, indicando que são passiveis à hostilidades em razão de sua identidade. 40 Conceituar o feminicídio é importante, como aponta Damásio de Jesus, para que se possa indicar “o caráter social e generalizado da violência baseada na inequidade de gênero e impede de elaborar teses que tendam a culpar as vítimas e representar os agressores como ‘loucos’”, impede ainda de conceber este crime 38 GARCIA, Leila Posenato et el. Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil (Sum). São Paulo: Ipea, 2013. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130925_sum_estudo_feminicidio_leilagarcia.p df >. Último acesso em: 10 de maio de 2017. 39 RUSSEL, Diana E. H.; RADFORD, Jill. Femicide: The Politics of Woman Killing. Nova York: Twayne Publishers, 1992. Disponível em < http://www.dianarussell.com/f/femicde(small).pdf>. Acessado em: 09 set. 2015. Tradução livre: “O femicídio representa o extremo de um caminho de terrorismo anti-feminino e inclusive uma ampla variedade de abusos verbais e físicos, como violação, tortura, escravidão sexual (particularmente por prostituição), abuso sexual infantil incestuoso ou extra-familiar, agressões físicas e emocionais, assédio sexual (por telefone, nas ruas, no escritório, na aula), mutilação genital, operações ginecológicas desnecessárias, heterossexualidade forçada, esterilização forçada, maternidade forçada (pela criminalização da contracepção e do aborto), psicocirurgia, negação de comida para mulheres em algumas culturas, cirurgia plástica e outras mutilações em nome do embelezamento. Sempre que destas formas de terrorismo resultar a morte, elas se transformam em femicídios.” 40 HUAROTO, Beatriz Ramirez. Cuando la muerte se explica por el género. Problematizado la tipificacion del feminicídio/femicidio. 2011. Disponível em: < http://works.bepress.com/cgi/viewcontent.cgi?article=1007&context=beatrizramirezhuaroto> Acessado em: 09 set. 2015. 21 como crime passional. Isto mostra este tipo de crime no cerne do seu caráter social, produto das relações onde o homem domina a mulher. 41 Para Pasinato, dá-se destaque ao fato de que o feminicídio é um episódio que não está isolado na vida da mulher, ele decorre de um contínuo ato de violência sofrida, tendo fundamento na dominação patriarcal. Aponta ainda que, este tipo de violência, assim como os outros, é um meio de manutenção das desigualdades. O feminicídio é um crime cometido com repulsa contra a mulher, e tem características misóginas, alguns autores defendem o termo de generocídio. 42 2.3.1 Íntimo Feminicídio íntimo é aquele ligado ao âmbito da violência doméstica, onde a violência acontece nos relacionamentos sérios, entre parceiros que convivem em relação de sentimento. Em comparação a esta definição, Russel prefere o termo “Feminicídio de parceira íntima”, e explica que este termo é aplicado nos casos de “feminicídio de pais e outros membros da família”43 Segundo apontamentos da Organização Mundial da Saúde, 35% dos casos de feminicídio no mundo estão ligados ao âmbito familiar, e são cometidos por parceiros íntimos das vítimas. Em contraponto, apenas 5% dos homicídios praticados, onde o homem é vítima, são cometidos por parceiros íntimos. Isto aponta que são poucos os casos em que a mulher recorre ao extremo da violência para se defender as intimidações feitas pelos parceiros. 44 O problema gerado com o feminicídio íntimo é que, acabam os filhos ficando sem a mãe, perdendo ela para a raiva que o pai sente, e ainda, quando condenado pelo crime, a criança perde o pai para a cadeia, gerando um forte impacto para as 41 JESUS, Damásio de. Violência contra a mulher: aspectos criminais da lei 11.340/2006. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015. Pg. 13-14. 42 PASINATO, Wânia. “Femicídios” e as mortes de mulheres no Brasil. Cadernos Pagu, v. 37, p. 219-246, jul./dez. 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/cpa/n37/a08n37.pdf>. Último acesso em: nov. 2015. Pg. 12. 43 RUSSEL, Diana E. e HARMES, Robera A. Feminicidio: uma perspectiva global. Pg, 84. Disponivel em https://books.google.com.br/books?id=Aq1yKJQFjLYC&printsec=frontcover&dq=feminicidio&hl=pt- BR&sa=X&ved=0ahUKEwj9pczjy5PTAhVEgJAKHYKBBf0Q6AEIHTAA#v=onepage&q=feminicidio &f=false> Último Acesso em: abril de 2017. 44 OMS (Organização Mundial da Saúde). Femicide. Understanding and addressing violence against women. 2012. Disponível em: < http://www.who.int/reproductivehealth/publications/violence/rhr12_38/en/>. Último acesso em: nov. 2015. 22 pessoas que cercam a vítima. Não podendo mais morar na casa dos pais, a criança é, por diversas vezes, levada a um novo ambiente, onde podem sofrer o preconceito de ser denominada como filho de assassino. 2.3.2 Não íntimo É o feminicídio cometido por uma pessoa que não possui relação intima com a vítima. Pode ter sido cometido por alguém com que a vítima tinha relação de confiança, colega de trabalho, hierarquicamente superior em algum momento, ou até mesmo desconhecidos.45 Consiste em feminicídio não íntimo, o feminicídio pratica sem nenhuma ligação de intimidade entre agressor e vítima. Esta espécie de feminicídio pode ter a ilusão de que acontece de maneira aleatória, porémexiste um caráter ordenado em casos como na Ciudad Juaréz, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, onde cerca de 400 mulheres foram assassinadas. Ainda, há o caso da Guatemala, onde mais de 700 mulheres foram assassinadas, e muitas dessas sofreram abuso sexual e tortura antes de serem mortas. 46 Alguns homens se sentem no direito de matar mulheres que eles acreditam ter violado o poder por desafiar sua autoridade masculina e sua superioridade em relação à mulher. Em algumas regiões, o feminicídio não íntimo afeta de forma desproporcional mulheres que trabalham com profissões estigmatizadas socialmente, como trabalhadoras do sexo.47 Ainda, como forma de feminicídio não intimo é o que acontece após as violações sexuais, onde o agressor estupra ou abusa da vítima antes de matá-la. O feminicídio com conotação sexual coloca as mulheres em um estado de insegurança contínua, tornando-se forma de terrorismo a dominação masculina. 45 BUZZI, Ana Carolina de Macedo. Feminicidio e o projeto de Lei nº 292/2013 do Senado Federal. 2014. Monografia Direito – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014. Disponível em < https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/122342> Último acesso: 10 de maio de 2017 46 OMS (Organização Mundial da Saúde). Femicide. Understanding and addressing violence against women. 2012. Disponível em: < http://www.who.int/reproductivehealth/publications/violence/rhr12_38/en/>. Último acesso em: nov. 2015. 47 HOCHMÜLLER, Mariele de Almeida. REFLEXOS DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO NA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS: uma análise do Caso Campo Algodoeiro. 2014. Monografia Curso de Relações Internacionais – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014. Disponível em < https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/128085/Monografia%20da%20Mariele .pdf?sequence=1&isAllowed=y> Último acesso em: 09 de maio de 2017. 23 2.3.3 Social Este tipo de feminicídio ocorre nos lugares onde há uma falha estatal, quando o Estado falha com seu dever de garantir a segurança e integridade das mulheres, ou quando cria um ambiente em que as mulheres não estão seguras, e mesmo quando não há incriminação nos casos de violência contra a mulher. Em alguns povos há uma prática na qual a família da mulher oferece o chamado dote, consiste, nos pais da moça, fazerem uma oferta de pagamento em dinheiro para atrair um bom marido para a filha. Diversas vezes o noivo faz propostas absurdas para que aconteça o casamento, e a família da mulher acaba se endividando e não conseguindo pagar. Quando as exigências não são cumpridas, a mulher é maltratada, através de abusos físicos e morais pela nova família, o que acaba muitas vezes terminando em atos suicidas, já que não pode voltar para sua família, sob pena de ser considerado uma desonra. Em outros casos a mulher é assassinada pela família do noivo. Estes são tipos de feminicídios que podem acontecer quando o agressor é, tanto homem quanto mulher, porém as razões são sempre misóginas.48 Em culturas regidas pelo poder patriarcal, muitas vezes ocorrem esse tipo de feminicídio em nome da honra, para justificar a traição ou pelo desrespeito da mulher perante o homem. Assim, para manter a honra, o homem “teria o direito” de matá-la, assim este tipo de crime pode ocorrer por outros membros da família. Há países em que a justiça vê esse tipo de crime como uma “tradição cultural”, quando deveriam perceber o lado horripilante desses crimes. Isso acarreta em inadequadas medidas de prevenção a violência contra a mulher. 49 48 HOCHMÜLLER, Mariele de Almeida. REFLEXOS DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO NA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS: uma análise do Caso Campo Algodoeiro. 2014. Monografia Curso de Relações Internacionais – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014. Disponível em < https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/128085/Monografia%20da%20Mariele .pdf?sequence=1&isAllowed=y> Último acesso em: 09 de maio de 2017. 49 OMS (Organização Mundial da Saúde). Femicide. Understanding and addressing violence against women. 2012. Disponível em: < http://www.who.int/reproductivehealth/publications/violence/rhr12_38/en/>. Último acesso em: nov. 2015. 24 3 SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS É importante tomar noção do sistema interamericano de direitos humanos, eis que a ocorrência da violação de direitos aconteceu em um Estado-membro deste sistema. Entretanto, é óbvio que, para o caso deve-se verificar a existência de normas de proteção específica, neste caso, de proteção ao direito das mulheres. Assim, a análise que será feita será quanto ao sistema de proteção e garantias de direitos fundamentais individuais, buscando adentrar aos direitos humanos das mulheres, mais especificamente, àqueles violados no caso em estudo, além de uma introdução aos órgãos de proteção destes direitos no sistema interamericano. Celebrado em 1948, a proclamação da Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) dá origem ao sistema interamericano de proteção aos direitos humanos, tendo como instrumento primordial para garantia dos direitos humanos, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica). Assinada no ano de 1969, somente os Estados-membros da Organização dos Estados Americanos tem a garantia de tomar parte dela, tendo o Brasil ratificado este mecanismo em 1992.50 Baseado, fortemente, no modelo europeu, o sistema americano de proteção dos direitos humanos é um bom exemplo da cooperação entre os estados integrantes da OEA, contando com um total de 35 membros, a carta demonstra a verdadeira preocupação desta organização com os Direitos Humanos, onde prevê o tripé legal institucional do Sistema Interamericano, formado pela Convenção, a Comissão Americana de Direitos Humanos, e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.51 No contexto da criação da OEA, Estados Unidos buscava uma política de interesses em mercadores, e influência sobre os outros países da América, enquanto os países-latino americanos buscavam se firmar politicamente como Estados soberanos. A autora Theresa Rache Couto Correia, ainda aponta que, nos anos pós criação da OEA, alguns países latino-americanos foram tomados por 50 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Pg. 114. 51 CASADO FILHO, Napoleão. Direitos humanos fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2012. Disponível em < http://www.fkb.br/biblioteca/Arquivos/Direito/Direitos%20Humanos%20Fundamentais.pdf> Último acesso em: 10 de maio de 2017. 25 tropas militares dos Estados Unidos, o que desencadeou no que ela chama de um sentimento “anti-americanista”, o que dificultou o acertamento de uma associação regional. Já no âmbito político ela aponta que: [...] os propósitos essenciais da OEA: garantir a paz e a segurança continentais, promover e consolidar a democracia representativa, respeitando o princípio da não-intervenção; prevenir as possíveis causas de dificuldades e assegurar a solução pacifica de controvérsias que surgirem entre seus membros; organizar ações solidárias destes em casos de agressão; procurar a solução dos problemas políticos, jurídicos e econômicos que surgirem entre os Estados membros; promover, por meio de ação cooperativa, seu desenvolvimento econômico, social e cultural; erradicar a pobreza crítica, que constitui um obstáculo ao pleno desenvolvimento democrático dos povos do hemisfério e alcançar a efetiva limitação de armamentos convencionais que permita dedicar a maior soma de recursos ao desenvolvimentoeconômico-social dos Estados-membros.52 Como aponta a professora Flavia Piovesan, ao analisar o quadro social em que se instalou o Sistema Interamericano de proteção aos direitos humanos, ela explica que esta é uma região “marcada por elevado grau de exclusão e desigualdade social ao qual se soma democracias em fase de consolidação”, e que os países que compõem o sistema americano ainda constituem de uma “cultura de violência e impunidade” e ainda conta com uma “precária tradição de respeito aos direitos humanos no âmbito doméstico”.53 Com isto, podemos concluir que o objetivo do sistema interamericano de direitos humanos é prevenir o regresso entre os direitos dos Estados membros, buscando a proteção dos direitos humanos, e aniquilar ameaças que possam afrontar os avanços democráticos na região da OEA. 3.1 DIREITOS HUMANOS Os direitos humanos são pautados na evolução dos seres vivos, portanto se modificam com o tempo, e tem origem na igualdade, a partir da “revelação de que todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais que os distinguem entre si, merecem igual respeito, como únicos entes no mundo 52 CORREIA, Theresa Rachel Couto. Corte interamericana de direitos humanos. Curitiba: Juruá, 2008. Pg. 93-94. 53 PIOVESAN, Flávia. Temas de direitos humanos. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014. Pg 92 26 capazes de ama, descobrir a verdade e criar a beleza,” como explica o professor Fábio Konder Comparato.54 Óbvio dizer que os direitos humanos surgiram, uma vez que este direito foi violado, é uma reparação ao dano anteriormente justo, pois, o pensamento humano evolui e observa o vilipendio do mínimo existencial do indivíduo menosprezado. A época da institucionalização dos direitos humanos é muito bem observada pelo autor Sidney Guerra, que proclama a moderna garantia dos direitos humanos: O moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos é um fenômeno do pós-guerra, e seu desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da era Hitler e a crença de que parte dessas violações poderia ser prevenida se um efetivo sistema de proteção internacional dos direitos humanos já existisse, o que motivou o surgimento da Organização das Nações Unidas 55 Indiscutível a universalidade dos direitos humanos, quanto ao parâmetro de proteção que estes abrangem, de modo global. Inegável também a essencialidade da criação de normas, padrões, e ainda, de órgãos que primam pela proteção destes direitos56, isto é, o sistema integrado destes direitos, é fruto do simbolismo compartilhado entre estados, que buscam também a conscientização destes direitos, e isto torna injustificável o descumprimento da norma, outrora, ratificada pelo estado. Explica o autor André de Carvalho Ramos, que os direitos humanos estão pautados em um emaranhado de normas, que presume o “indispensável para uma vida humana pautada na liberdade, igualdade e dignidade.”57. Estes direitos variam conforme as exigências da época vão estreitando estes direitos, de forma a ser uma mutação, sendo o indispensável a vida digna. Essa “codificação” internacional em matéria de direitos humanos ocorre principalmente pelo fato de o próprio Estado ser o maior violador desses direitos58 54 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Pg. 13. 55 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 2013. Pg. 103. Disponível em < https://www.passeidireto.com/arquivo/19783289/direitos-humanos-elementar--- sidney-guerra> Último Acesso: 14/04/2017. 56 RAMOS, Andre de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. Pg 43. 57 RAMOS, Andre de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. Pg 24 58 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 2013. Pg. 105. Disponível em < https://www.passeidireto.com/arquivo/19783289/direitos-humanos-elementar--- sidney-guerra> Último Acesso: 14/04/2017. 27 Na forma pura e simples, os direitos humanos, são direitos protegidos pela ordem internacional59, em forma, as que o Estado cometa contra as pessoas protegidas por esta ordem. Assim, são normas que conduzem o mínimo existencial, o que pressupõe que o estado deva suprir estas necessidades, como aponta o autor Sidney Guerra, são direitos “reconhecidos por Estados soberanos, que produzem efeitos no plano doméstico em conformidade com a própria ordem jurídica interna de cada Estado”60. É como conta o autor Alexandre de Moraes, ao escrever sobre a evolução histórica dos direitos humanos, a iniciativa dos direitos humanos individuais, pode ser encontrada no antigo Egito, com o Código de Hammurabi, este, por sua vez, consagrava direitos ao homem, tais como a vida, a propriedade, a honra. Em relação ao regime feudal, apesar da separação de classes da época, ainda haviam documentos que reconhecendo a presença de direitos humanos. E esta evolução percorre a história até chegar a França, em 1789, que consagrou as normativas expressas dos direitos humanos, com a promulgação da Declaração dos Direitos Humanos e do Cidadão, com 17 artigos.61 O caráter único e insubstituível de cada ser humano, portador de um valor próprio, veio demonstrar que a dignidade da pessoa existe singularmente em todo indivíduo.62 É a partir deste entendimento, que podemos compreender a ideia de que os direitos humanos devem atender a demandas de caráter individual, referentes a cada indivíduo. Interessante lembrar que, ao passo que o tempo passa, os direitos humanos tiveram de conviver com institutos, hoje, repudiados, exemplo da escravidão, perseguição religiosa, submissão da mulher, discriminação de minorias. Desta forma, os direitos humanos são uma obra inacabada, porém, teve um início, e pode- 59 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Pg. 22. 60 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 2013. Pg. 47. Disponível em < https://www.passeidireto.com/arquivo/19783289/direitos-humanos-elementar--- sidney-guerra> Último Acesso: 14/04/2017. 61 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos arts. 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 11ª ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2017. Pg, 9. 62 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Pg. 43. 28 se dizer que este se deu com a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948.63 3.1.1 Declaração Universal Sobre Direitos Humanos Como mecanismo de proteção dos direitos humanos, a Declaração Universal sobre Direitos Humanos é um dos principais instrumentos de formação da dignidade humana, aprovada em 48 estados, com apenas 8 recusas. Conforme afirma Flavia Piovesan: A inexistência de qualquer questionamento ou reserva feita pelos Estados aos princípios da Declaração, bem como de qualquer voto contrário às suas disposições, confere à Declaração Universal o significado de um código e plataforma comum de ação. 64 Acontece que, com a consolidação da Declaração, isso mostra o desenvolvido processo de internacionalização dos direitos humanos, afinal, estando os estados de acordo com as definições da Declaração, sem opor-se a nada, consolida a afirmação de direitos universais e indivisíveis65. Para Roberto Bobbio, a declaração coloca em xeque uma fase de “afirmação dos direitos universal e positiva”, assim, não os direitosprotegidos por este instrumento, não dizem respeito ao indivíduo de um Estado, mas sim, dilata o alcance de proteção a todos os homens, inclusive, no que diz respeito a positividade, requer que esses direitos, não só sejam reconhecidos, como, efetivamente, sejam protegidos.66 Seja como for, a Declaração, retomando os ideais da Revolução Francesa, representou a manifestação histórica de que se formara, enfim, em âmbito universal, o reconhecimento dos valores supremos da igualdade, da liberdade e da fraternidade entre os homens [...] 67 63 RAMOS, Andre de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. Pg 28 64 PIOVESAN, Flavia. Direitos Humanos e direito constitucional internacional. São Paulo: Saraiva, 2015. Pg 215 65 PIOVESAN, Flavia. A universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos: desafios e perspectivas. Im: BALDI, César Augusto (org.). Direitos Humanos da Sociedade Contemporânea. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. Pg. 49 66 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Nova ed. 13ª reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Pg. 29-30. 67 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Pg. 238. 29 Com o ímpeto de estabelecer um mínimo de garantias de direitos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos universaliza o direito, dando a pessoa condições, apenas pela condição de existir, de exigir proteção, em todos os casos e em qualquer circunstância. Além do mais, ela pressupõe a voz das pessoas.68 Além do mais, como analisado por Roberto Bobbio, os direitos proclamados na Declaração, de forma alguma são estáticos, refletindo que, os direitos contidos neste instrumento, são os que emergiam em meio as tragédias da Segunda Guerra Mundial, sendo que, com o mundo comunicativo que viria pela frente, produziriam mudanças nas relações sociais, e assim careceria de novas demandas pela liberdade e poderes: A Declaração Universal representa a consciência histórica que a humanidade tem dos próprios valores fundamentais na segunda metade do século XX. É uma síntese do passado em uma inspiração para o futuro: mas suas tábuas não foram gravadas de uma vez para sempre.69 Dessa forma, a declaração estabelece um padrão de ética, entre os estados, relativos aos direitos humanos, dando valor a dignidade e liberdade, onde a indivisibilidade do indivíduo fica clara, o que reflete, de forma positiva, o fundamento de muitas constituições. Com isto, o indivíduo passa a ter o direito de ter direitos.70 Há alguns pontos interessantes de destacar na Declaração, o que está estabelecido no artigo 2ª, § 1º, que versa sobre a possibilidade para gozar dos direitos descritos na declaração, constatando que, “sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, linga, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”. Não obstante, está o descrito no artigo 3º, que garante o “direito a vida, a liberdade e a segurança pessoal. O princípio da igualdade, predisposto no artigo 7º, onde descreve que todos “são iguais perante a lei e tem direitos, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei”. Além do descrito no artigo 10º, que garante a busca do direito, com julgamento público e imparcial para decidir de seus direitos.71 68 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Pg. 70. 69 BOBBIO, Roberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Nova ed. 13ª reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Pg. 33. 70 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: curso elementar. São Paulo: Saraiva, 2013. Pg. 109. Disponível em < https://www.passeidireto.com/arquivo/19783289/direitos-humanos-elementar--- sidney-guerra> Último Acesso: 14/04/2017. 71 Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 10 de dezembro de 1948. Disponível em: < http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf > acessado em: nov. de 2015. 30 Com força no artigo 28 da Declaração, que os Estados membros, tem o dever de promover os direitos humanos estabelecidos, apresentando, segundo Piovesan, “força jurídica obrigatória e vinculante”, para que os direitos e liberdades sejam plenamente realizados. Ainda que não apresente forma de um tratado, os Estados assumem o compromisso pela promoção dos direitos elencados na Declaração.72 3.1.2 Convenção Americana De Direitos Humanos: “Pacto De San José Da Costa Rica” Como explica a autora Theresa Rachel Couto Correia, sobre a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, este é o principal instrumento de garantias dos direitos humanos no sistema interamericano, tanto que entre os 35 países membros da OEA, 25 assinaram o pacto,73 sendo que, dentre os principais direitos garantidos por este instrumento estão o direito a vida (art. 4º), direito a integridade pessoal (art. 5º), direito a liberdade pessoal (art. 7º), proteção da honra e da dignidade (art. 11), igualdade perante a lei (art. 24) e proteção judicial (art. 25). 74 Esta convenção exterioriza reconhecimento do ser humano, não pela nacionalidade, mas sim pela condição de existir, sendo ela complementar as normas de garantias desenvolvidas pelos Estados. Além do mais, ressalta que as condições para a vida digna do ser humano, livre de miséria e temor, só ocorrerá se “forem criadas condições que permitam a cada pessoa gozar não só dos seus direitos civis e políticos, mas também dos seus direitos econômicos, sociais e culturais”. 75 A Convenção Americana não enuncia de forma especifica qualquer direito social, cultural ou econômico; limita-se a determinar aos Estados que alcancem, progressivamente, a plena realização desses direitos, mediante 72 PIOVESAN, Flavia. Direitos Humanos e direito constitucional internacional. São Paulo: Saraiva, 2015. Pg 215 73 CORREIA, Theresa Rachel Couto. Corte interamericana de direitos humanos. Curitiba: Juruá, 2008. Pg. 100. 74 Organização dos Estados Americanos. Convenção Americana de Direitos Humanos. San José, Costa Rica, em 22 de novembro de 1969. Disponível em < https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm> Último acesso: 09 de maio de 2017 75 RAMOS, Andre de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. Pg 239. 31 a adoção de medidas legislativas e outras que se mostrem apropriadas, nos termos do art. 26 da Convenção.76 É nesse sentido que explica a autora Gilda Russomano, em que, ao analisar a Declaração, explica que os direitos sociais têm significado especial nesta legislação, eis que ela valoriza significativamente os direitos humanos, tanto que declara que estes direitos são “inerentes a condição humana e sem os quais sua personalidade sucumbe, ou, pelo menos, não se desenvolve plenamente”.77 Como explica Mazzuoli, a Convenção atuará no segundo plano, dando sempre prioridade para o Estado na busca de soluções quanto às garantias dos direitos humanos, oferecendo sempre como direito interno dos Estados: Tal significa que não se retira dos Estados a competência primária para amparar e proteger os direitos das pessoas sujeitas a sua jurisdição, mas que nos casos de falta de amparo ou de proteção aquém da necessária, em desconformidade com os direitos e garantias previstos pela Convenção, pode o sistema interamericano atuar concorrendo (de modo coadjuvante, complementar) para o objetivo comum de proteger determinado direito que o Estado não garantiu ou preservou menos do que deveria.78 Para tanto, a convenção institui entidadesresponsáveis pela busca da implementação dos direitos protegidos (ou não) pelos Estados, integrados pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, conferindo competência a estes dois órgãos para “satisfação das obrigações enumeradas pela Convenção por parte dos Estados.79 É reconhecido pela Convenção, no artigo 44, que qualquer pessoa ou entidade não governamental pode submeter denuncia de violação de direitos humanos a Comissão.80 Com fulcro no artigo 50 da referida Convenção, que temos a previsão quanto ao procedimento legal, para apreciação da Comissão em razão de denúncias ou queixas de violação dos direitos humanos. Havendo previsão da possibilidade de 76 PIOVESAN, Flavia. Direitos Humanos e direito constitucional internacional. São Paulo: Saraiva, 2015. Pg 341 77 RUSSOMANO, Gilda Maciel Correa Meyer. Direitos Humanos. 2ª ed. 4ª reimp. Curitiba: Juruá, 2011. Pg. 21. 78 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Pg. 115. 79 CORREIA, Theresa Rachel Couto. Corte interamericana de direitos humanos. Curitiba: Juruá, 2008. Pg. 101. 80 GOMES, Luiz Flávio, MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Comentários a Convenção Americana de Direitos Humanos: pacto de San José da Costa Rica. 3ed. rev., atual e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. Pg.261-262. 32 serem requisitadas informações do Estado denunciado, e no caso da não solução do problema, será enviado relatório da Comissão para o Estado violador, com proposições e recomendações, com prazo de três meses para solução. Ainda, após decorrido este prazo, é emitida opinião e conclusão pela Comissão, podendo fixar prazo para o Estado tomar medidas adequadas.81 Entretanto, a fiscalização do cumprimento das regras internacionais é dificultada, principalmente em estados federativos, que não tem suporte institucional para aplicação e inspeção dos direitos humanos em seus territórios. É como aponta o professor Fabio Konder Comparato, analisando a norma da Convenção, explica que a Convenção até tenta resolver este problema, porém, de maneira ineficaz: Foi para resolver essa questão que se redigiu o art. 28. A norma do § 2º, que diz respeito diretamente ao problema mencionado, não parece, porém, de grande eficiência, como a experiência tem demonstrado. 82 Entre os principais questionamentos efetuados pelas feministas, está a imunidade e neutralidade das normas internacionais, buscando uma contenção, para que os mecanismos internacionais pressionem os Estados que ratificaram estes instrumentos de proteção dos direitos humanos das mulheres, para que efetivamente, executem os compromissos assumidos, para que assim, de forma igualitária, possa ser garantido maior autonomia para as mulheres.83 3.2 DIREITOS HUMANOS DA MULHER Meio primordial na busca pela igualdade entre todos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é clara ao afirmar que todas as pessoas nascem livres, portadoras de direitos, e estes podem ser reivindicados a qualquer momento de suas vidas. Isto deixa claro que, todos os direitos conquistados pelo homem devem 81 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos humanos Fundamentais. 13ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2011. Pg 116. 82 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Pg. 384. 83 SABADELL, Ana Lucia; SOUZA, Anamaria Monteiro de Castro. O impacto da teoria feminista do direito no âmbito internacional: Observações acerca da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher. In: Manual dos Direitos da Mulher. Coord. FERRAZ, Carolina Valença [et al.] – São Paulo: Saraiva, 2013, pg. 471 33 também ser inerentes, em tom de igualdade, para a mulher, para que assim, não haja discriminação entre os sexos. Conforme Inácio Cappellari, buscar a efetividade dos direitos humanos está ligada à aceitação do multiculturalismo, sendo a partir dessa aceitação que poderá ser espalhada a ideia de direitos humanos baseado no princípio da dignidade da pessoa humana. Com isto, a população em que foi alcançada pela semente dos direitos humanos poderá buscar formas de igualdade para minorias e grupos mais fracos, como forma de garantia de direitos fundamentais, de modo efetivo.84 A autora Alice Libardoni compara a evolução dos direitos das mulheres com a escravidão, abolida há pouco mais de cem anos, aonde os negros eram comparados a mercadorias, vendidos e comprados. Nesta mesma época, as mulheres também não tinham direitos, nem eram consideradas cidadãs. Isto mostra que os direitos são conquistados após muita luta, somando-se durante a história, e estão sempre em evolução, sendo hoje compreendido que estes direitos são parte de um conjunto que garante a vida e dignidade de mulheres, homens, crianças e idosos, como ela escreve: Educação, saúde, trabalho, sexualidade e reprodução, ou o direito de viver a vida sem discriminação, violência e tortura são diferentes aspectos dos direitos humanos, ligados uns aos outros. Cada um deles se soma e integra ao outro, trazendo como resultado a igualdade de direitos e oportunidades entre as pessoas em todas as áreas de suas vidas, considerando suas características e vidas diferentes.85 As narrativas históricas sempre foram voltadas para o homem, como se a mulher não pudesse ter tomado rumos distintos do mesmo. Durante quase toda a história o que se pode constatar é a submissão da mulher à vontade do homem. Já nas sociedades da antiguidade, vale ressalta que, isso era a razão para distinção dos gêneros. 86 A ideologia do sistema patriarcal, com o passar dos anos, buscou de todas as formas o controle sobre o desenvolvimento físico e psíquico da mulher, por meio da construção de diversos tabus, inferiorizando a capacidade da mulher, fazendo 84 CAPPELLARI, Inácio. Direito natural e direitos humanos. Curitiba: Juruá, 2012. Pg. 146. 85 LIBARDONI, Alice. Direitos humanos das mulheres: em outras palavras: subsídios para capacitação legal de mulheres e organizações. Coor. Alice Libardoni. Brasilia: AGENDE, 2002. Pg. 16. 86 BOFF, Salete Oro. O gênero no tempo: reflexões a respeito da inserção e da igualdade da mulher na sociedade. In: BOFF, Salete Oro (Org.). Gênero: discriminações e reconhecimento. Passo Fundo: IMED, 2011. Pg. 13. 34 com elas se sentissem como meras espectadoras do meio social, e subordinadas ao controle do homem. No início da proteção internacional dos direitos humanos, as pessoas protegidas não eram vistas a partir das suas características próprias, em suas dificuldades, fragilidades e em suas diferenças, ou seja, protegia-se o ser humano genericamente considerado, de forma abstrata, sem levar em consideração as circunstâncias concretas: quem a pessoa era e como vivia.87 O sistema organizado de forma a garantir a proteção da mulher é fruto das reinvindicações feitas pelo movimento feminista, durante o século XX, como explica Mazzuoli, estes protestos levaram a “adoção de uma arquitetura internacional de proteção às mulheres”, isto tudo estava ligado ao “direito a igualdade formal, à liberdade sexual e reprodutiva, ao impulso da igualdade econômica, a redefinição dos papeis sociais e ao direito a diversidade de raça, etnia, entre outras”.88 Convém lembrar que a luta pelos direitos humanos é frequente, os avanços são significativos, porém, a busca pela igualdade não chegou ao final. Entre os mecanismos de defesa dos direitos humanos da mulher, resta destacar aqui alguns: Convenção Interamericana sobre a Concessão
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