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O direito geral da personalidade e os direitos especiais – Teoria Geral do Direito Civil
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1º Semestre 2006/2007
 Professor Doutor Manuel Pita
 Teoria Geral do Direito Civil I-B
 Os Direitos da Personalidade
 Trabalho realizado por:
 Jorge Gregório
 Sílvia Loureiro
Introdução – os direitos da personalidade: primeiros entendimentos
Para uma primeira compreensão da natureza particularíssima dos direitos de personalidade, seria necessário compreender, sem já querer expor o conflito da doutrina nesta vexatae quaestio, qual, no fundo, seria o objecto da sua tutela: considerando os direitos da personalidade como expressão de posições jurídicas – termo alias muito conveniente pela sua amplitude dogmática e que permite fugir de questões mais complexas, como um pontual carácter relativo dos direitos da personalidade ou a sua individuação relativamente aos genéricos direitos subjectivos – protegidas pelo Direito Objectivo, tais posições, como refere Menezes Cordeiro�, tem a particularidade de se reportarem directamente à própria pessoa tutelada. «Estão em causa, designadamente, realidades como a vida, a integridade física e moral, o bom-nome, a honra e a privacidade do próprio sujeito. Os direitos de personalidade têm, assim e logo à partida, a estranha configuração de traduzirem direitos virados para o titular que deles beneficia.».
	Esta ideia genérica dos direitos da personalidade terem como objecto de tutela certos modos de ser ou de estar da própria pessoa, revela-se útil para primeira compreensão.
	A segunda ideia genérica que importa fixar é a sua sediação na civilística: os direitos de personalidade surgem no Direito Civil, traduzindo a aplicação da técnica jurídica privada no domínio da tutela humana: esta também é uma questão não isenta de doctorum disputae, já que curiosamente existe uma categoria desenvolvida na publicistica que muito se assemelha aos direitos da personalidade: os direitos fundamentais. Mais à frente no trabalho ver-se-á as linhas que delimitam uma e outra� .
A terceira e última ideia genérica que importa reter para posteriormente se passar à ovogenesis desta categoria é a historicidade e culturalidade características: os direitos da personalidade surgem no seio do ius civile. Ora, o direito civil não resulta de um rasgo voluntarista repentino, de uma vontade geral como que jacobina, antes é o produto histórico de uma lenta elaboração cientifico cultural, de uma sucessão de esquemas privados que se sucedem ora complementando-se, ora antagonizando-se, a cada momento gerando sínteses normativas novas para depois serem logo destruídas ou alteradas, ou enriquecidas�; é que as codificações civis foram tão-somente a ponta de um iceberg de evolução jus-personalistica; assim como refere MC, para uma primeira percepção dos direitos da personalidade, importa captar «a natureza histórica, cultural e cientificamente condicionada da sua configuração».
 O sentido útil da expressão «personalidade física e moral», para a ciência natural, para a filosofia e, finalmente, para o Direito; importância da distinção entre personalidade física e moral 
Invariavelmente, o artigo 70º do Código Civil é dos mais importante para efeitos da juspersonalistica; será esta então uma boa altura para apurar o sentido de um conceito amplamente indeterminado que ai subjaz: o conceito de “personalidade física e moral”, dado que os sentidos das demais expressões serão elucidados em altura pertinente no decorrer do trabalho. Antes do grupo apurar o seu sentido jurídico strictu sensu, passar-se-á os olhos pela ciência natural, pela ética e filosofia, a fim delas tirar o respectivo contributo para estabelecer um sentido útil, completo e pleno para a expressão “personalidade física e moral”.
 O substrato bio-psicologico
A personalidade humana é uma estrutura ôntica extremamente complexa e objecto de múltiplas controvérsias, mesmo entre os biólogos e os psicólogos; seguidamente expor-se-á as teorias bio-psicologicas dominantes acerca dos caracteres da estrutura e da dinâmica da personalidade
	
- Segundo FREUD: a personalidade era estruturada ou composta de três grandes sistemas: o Id. (matriz ou sistema original, consistindo em tudo o que é psicologicamente herdado, inclusive os instintos); o ego (que, partindo do Id., funciona como executivo da personalidade, controlando as direcções de acção, seleccionado os aspectos do meio com os quais reagirá e decidindo quais os instintos a ser satisfeitos e de que modo) e o super ego (como representante interno dos valores e ideais da sociedade, reforçado pelo sistema de recompensas e castigos sociais, que habilita a pessoa a agir de harmonia com os padrões morais autorizados pelos agentes);
	-segundo GORDON ALLPORT, a personalidade seria «a organização dinâmica, no quadro do indivíduo, de sistemas psicofisicos que determinam o seu comportamento característico e os seus pensamentos»;
	
	-segundo EISENCK, a personalidade seria «a organização mais ou menos estável e persistente do carácter, temperamento, parte electiva e física do indivíduo que permite o seu ajustamento único ao ambiente»
	-segundo PERVIN, «a personalidade representa as propriedades estruturais e dinâmicas de um indivíduo ou indivíduos, enquanto elas reflectem eles mesmos, em características respostas a situações».
Apesar de certas dissemelhanças, existem elementos comuns nestas definições bio-psicologicas de personalidade humana, podendo-se salientar o carácter dinâmico, unitário, ilimitável em si mesmo e individualizado da personalidade e a sua adaptabilidade ao mundo exterior.
 O substrato ético-filosofico jacente
O artigo 70º, o qual estabelece uma tutela geral da personalidade, leva a cabo uma distinção relevante entre personalidade física e moral.
Como antecedentes de monta para a configuração desse artigo do anteprojecto está o artigo 2383º do Código de Seabra, onde já se fazia a distinção, de entre os prejuízos que derivavam da ofensa «dos direitos primitivos», os que diziam respeito à «personalidade física» e os referentes à «personalidade moral»: esta distinção foi colhida em Kant e recebeu alento na filosofia de Krause, de harmonização dos pensamentos kantiano e hegeliano: distingue-se aqui a Física ( Phisys ) da ética ( Ethos ) e a tutelar quer o homem considerado como sujeito as suas determinantes físicas ( homo phoenomenon ) quer o homem representado como uma personalidade independente dessas determinantes porque dotado de liberdade ( homo noumenon ): é inequívoco que o artigo 70º protege quer os bens ligados à realidade física de cada homem (como a sua vida e a sua integridade física), quer os bens resultantes da sua específica racionalidade, que lhe atribui a categoria de centro autónomo, livre paritário e capaz de concepção e assunção de finalidades de acção (como a sua existência moral, a sua liberdade e a sua honra). Contudo, segundo Capelo de Sousa «o nosso legislador ao empregar a expressão «personalidade física e moral» tem subjacente como bem jurídico unitário e global a personalidade humana, que, com aquelas designações pretende tão só concretizar e explicitar melhor»; isto é apesar da dualidade física e moral, ser fenoménico e ser nouménico, essa dualidade sintetiza-se no carácter unitário da natureza humana. 
	
Capelo de Sousa reflecte acerca das realidades que se pretendem abranger com a ideia de personalidade humana global e unitária: ou seja se é uma realidade arquetípica, tendo em conta uma personalidade «normal», física ou sócio-cultural abstractamente dominanteou se é o homem tido na sua especificidade e na sua concretude. Segundo o civilista, pretende-se tutelar não um paradigma de homem, antes «cada homem em si mesmo, concretizado na sua especifica realidade física e na sua particular realidade moral, o que, incluindo a sua humanidade abrange também a sua individualidade, nomeadamente o seu direito à diferença e à concepção e actuação morais próprias; a própria referência a «os indivíduos» enfatiza essa mesma intenção legislativa individualizante�.
Capelo de Sousa apela ainda para o facto de essa tutela da «personalidade física ou moral » dos «indivíduos» humanos ter em conta uma certa dinâmica e evolução do homem, tido como um ser com um ciclo próprio de vida animal, com uma trajectória particular de existência moral. Em síntese: CS encara o bem da personalidade humana juscivilisticamente tutelado como «o conjunto autónomo, unificado, dinâmico e evolutivo dos bens integrantes da sua materialidade física e do seu espírito reflexivo, sócio-ambientalmente integrados».
Pode parecer uma mera peça de retórica, uma fundamentação ético-filosófica da acepção que a expressão «personalidade física ou moral» toma: a verdade é que ao apontar para a singularidade e não para a padronização e modelização, evidencia-se uma genuína preocupação de proteger o homem – enquanto ser concreto, com carências próprias e específicas; note-se que os transpessoalismos de direita fascista criaram, ao contrário, um “homem paradigma” para poderem cometer as mais atrozes violentações de tudo quanto representasse desvio a esse paradigma.
 Personalidade física e moral: o conteúdo pertinente para o Direito
Delimitando o alcance bio-psicologico e ético-filosofico da expressão «personalidade física e moral», importa fazer a delimitação do conteúdo pertinente em termos jurídicos�: o grupo achou por bem, de entre todas as sistematizações, inserir aqui a de Carvalho Fernandes, quer pela sua completude, quer por nela se ter em atenção esse dualismo homo fenomenon / homo noumenon. 
No respeitante à personalidade física do homem, é abrangido:
-o direito à vida;
-o direito à integridade física;
-o direito ao próprio corpo, considerado quer na sua globalidade, quer em relação a partes dele, susceptíveis de se autonomizarem e cujas principais manifestações pode-se encontrar no direito de dispor de partes do seu corpo (órgãos ), para fins terapêuticos e no direito de dispor do próprio cadáver.
No que respeita à personalidade moral, destacar-se-ia:
-o direito à honra, que envolve o respeito pelo bom-nome e reputação da pessoa;
-o direito à liberdade, formula genérica que abarca as varias modalidades de manifestação da liberdade individual, desde o direito de liberdade de expressão e informação, à liberdade de consciência, culto e religião, à liberdade de criação cultural, à liberdade de reunião e manifestação, à liberdade de associação e à liberdade de ensinar e aprender;
-o direito à intimidade da vida privada (ou mais sucintamente, o direito à intimidade) que envolve o direito à reserva sobre a vida privada, o direito à inviolabilidade do domicilio e ao sigilo da correspondência.
Carvalho Fernandes autonomiza ainda um grupo de direitos da personalidade que designa por instrumentais, dos quais salienta o facto de por um lado «se tratar de direitos dirigidos ao Estado, que impõem a este o dever de adoptar as medidas necessárias e adequadas à sua concretização efectiva» e por outro corresponderem em regra a situações que ele denomina de vinculações de personalidade. Esta instrumentalidade adviria do facto de brotarem da personalidade física e moral humana mediatamente e não imediatamente como os anteriores mencionados, sendo por isso mesmo instrumentais face aos primeiros; contudo careceriam de tutela, «sob pena de, a não serem protegidos, a própria personalidade poder ser atingida ou comprometida a sua realização.». Segundo o autor, só pela autonomização desse grupo e pela sua tutela se atingiria «a plena tutela do direito geral à personalidade.»
 
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 Antecedentes da jus-personalistica: evolução histórica
Suas raízes no direito romano e consecutiva evolução na Idade Media
Importa referir Roma como o berço de onde resultou toda a evolução condutiva aos modernos direitos da personalidade.
A verdade é que no seu período arcaico, monárquico e pré-monarquico, muito possivelmente em virtude da fraca estruturação e hierarquização social, bem como da economia tipicamente rústica, a tutela dos direitos da personalidade (em caso de morte, ofensas corporais, rapto…) se dava pela vingança privada. Só após a instauração da Républica e a codificação de costumes na lei das XII Tábuas é que se inicia uma espécie de tutela da personalidade: o cerne desta lei era o ius civile, as normas respeitantes à esfera jurídica do cidadão individual e o sancionamento das ofensas dos bens da personalidade tinha agora a diferença de, não obstante ter lugar prevalecentemente pela vingança privada, necessitar de uma sentença pública nesse sentido. A grande divisão situava-se entre lesões pessoais ligeiras e lesões graves: nas primeiras prescrevia-se, na generalidade dos casos, uma pena pecuniária a pagar pelo lesante ao lesado; nas segundas, existia uma tipificação mais complexa, nomeadamente na distinção entre ofensas à personalidade física e personalidade moral, ou na distinção entre a acção voluntária da involuntária nas ofensas à pessoa.
Importara referir a actividade jurisprudencial como condição sine qua non para a superação das insuficiências da lei das XII Tábuas em matéria de tutela dos direitos da personalidade e de adaptação do direito romano a vastos domínios e às suas mutações sociais: funcionado este com base nas actiones praetoriae, a ela se deveu a criação da actio iniuriarium que visava uma tutela genérica da pessoa: a iniuria, surgindo primeiramente como o equivalente à ideia de injustiça ou de ilicitude, vê o seu alargamento intensificado, passando a implicar: i)um acto ilícito de qualquer tipo; ii) um acto que envolva os hoje ditos dolo ou culpa; iii) um acto insultuoso. A actio iniuriarium passa assim a proteger não apenas a pessoa como tal, mas também a tutela-la nas suas relações jurídicas concretas, em que apenas esteja mediatamente a pessoa mas em que se vise denegri-la, mediante o absoluto desprezo dos seus direitos.
Tem-se ainda como fontes de direito importantes para a extracção de um conteúdo normativo de tutela da personalidade a Lex Aquilia de damno (entre 289 e 286 a. C.) e a Lex Cornelia, sensivelmente do mesmo período.
A evolução continua com as Institutiones de Justiniano (século VI), onde a iniuria é apresentada como tudo o que não seja juridicamente regular (quod non iure fit), explicitando: a afronta injuriosa a uma pessoa (contumelia), o desprezo, a culpa, a iniquidade e a injustiça.
Deste modo, é verificável que a tutela da personalidade já estava consignada no Direito Romano, transmitindo, este uma ideia clara de que o direito existe primacialmente para defender as pessoas. Esta concepção de que certos bens da personalidade deveriam de ter protecção aparece ainda mais exponencializada com o humanismo cristão que resulta do Cristianismo como religião oficial do Estado.
Com a desagregação do Império Romano do Ocidente, com a instituição do feudalismo e conexamente da sociedade estamental com diversidade de estatutos jurídicos, esta evolução parece ter apresentado alguma regressão, em detrimento de costumes diversos dos povos bárbaros e da justiça privada; só com a Escola dos Glosadores, irradiada a partir de Bolonha no século XII, se afigura um renascimento do direito romano, agora de feição justinianeia, que contudo não parece ter inovado em matéria de jus-personalistica, mantendo as características do actum iniuriarium.
Porem a Idade Média não foi completamente estéril nesta matéria: mestres como S.Tomás de Aquino ou Duns Scotto evidenciam no seu pensamento a emergênciade uma tendecia subjectivante no Direito que se opõe a todo um processualismo do direito romano (para a pessoa reivindicar um direito era necessária a correspondente acção, daí as actio praetoriae ): é com estes mestres que nasce o direito subjectivo, como estrutura da vontade humana ou a ela ligada, verdadeira rampa de lançamento para o reconhecimento na Modernidade de um direito geral de personalidade.
O humanismo renascentista; pormenor da Escola Francesa da jurisprudência elegante
As ideias humanistas, ao assumirem antropocentricamente a condição humana, exponencializam essa progressão do direito cada vez mais ligada à pessoa humana e autonomizam finalmente a teoria dos direitos subjectivos, conseguindo operar uma transposição das actiones para os iura (direitos subjectivos). No contexto específico da evolução da jus-personalistica, MC separa um nome e uma escola: a Escola Francesa humanista e nome chave Donellius.
Segundo MC, Donellius marca a certidão do nascimento dos modernos direitos da personalidade ao distinguir os iura in persona ipsa em quatro vertentes: a vida, que existe e que é reconhecida; a integridade física (corporis incolumitas) que consiste em não ser molestado ou atingido; a liberdade que se traduz em fazer o que se quiser; e a reputação (existimatio) que consiste a um estado de dignidade ilibada.
O jusracionalismo: dogmática apriorística dos direitos subjectivos inatos; bloqueamento da construção dogmática jus-personalistica.
A temática dos direitos subjectivos continuou e foi amplamente aprofundada com o período das luzes (Aufklarung) e com o triunfo da raison raisonnante e, já numa fase mais tardia, com a emergência dos liberalismos oitocentistas: contudo, esse aprofundamento não se operou no sentido do desenvolvimento da teoria jus-personalistica: o triunfo das ideias individual-contratualistas de John Locke e do sistema antropocêntrico da Escola de Direito Natural, de cunho apriorístico e racional-dedutivo fez localizar os direitos subjectivos numa dicotomia individuo/Estado. Os direitos seriam originários, inatos, derivados apenas de um direito natural que pelo seu reconhecimento no direito positivo se haviam transformado em direitos subjectivos e teriam uma vocação para tutelar uma reserva que os privados impunham que o Estado respeitasse; assim a teoria jus-subjectivista foi aprofundada sobretudo em estudo de Direito Publico, maxime em Direito Constitucional.
A reacção da pandetistica alemã: “recaptação” do sentido histórico-cultural dos direitos da personalidade; desenvolvimentos no seio da civilística
No contexto da reacção à tradição jus-racionalista encontra-se Savigny e a maior parte da Escola Histórica alemã: contestam a pretensão de eficácia universal da razão individual na formulação jurídica e antepõem antes o espírito de cada povo enquanto reflexo das respectivas necessidades; deste modo, Savigny evidencia a raiz historicamente existencial dos direitos da personalidade por contraponto à índole apriorística dos direitos fundamentais.
Savigny, contudo, é apresentado como um negativista, em termos de direito da personalidade, opondo-se a Puchta, o qual defendeu a existência de um direito geral da personalidade no seio da categoria mais ampla de direito sobre a própria pessoa: de acordo com Savigny, a tutela da pessoa seria conseguida através de múltiplos “direitos” desde a protecção penal às acções possessórias: a inviolabilidade da pessoa humana seria o fundamento último de toda essa protecção, a qual só seria obscurecida, de acordo com ele, na sua verdadeira natureza, através de construção de direitos sobre a própria pessoa. Assim, ainda que Savigny não discorde de uma tutela da pessoa, duvida essencialmente da viabilidade da categoria de “direitos da personalidade” para a efectivar. MC crê que esta rejeição de Savigny de uma categoria de direitos sobre o próprio indíviduo se justifica pela dificuldade de a arrumar sistematicamente no direito alemão antes do BGB, portanto no direito alemão ainda incodificado.
Se numa primeira fase, aparece Saviny a criticar uma potencial categoria autónoma de direitos da personalidade, em finais do século XIX, Jhering, com base num estudo aprofundado do sistema do actum iniuriarum do direito romano, defende a conceitualidade dessa figura: à função indemnizatória e compensatória, ela soma uma função profiláctica, no sentido de prevenir a repetição futura de violações.
Em termos genéricos, os direitos da personalidade aparecem enriquecidos pelo tratamento dogmático alcançado pelo direito sobre bens imateriais; parece que este reconhecimento não advém somente de uma critica da pandetistica ao positivismo e ao jusracionalismo, mas emerge mesmo de necessidades praticas: MC dá o exemplo paradigmático da rápida industrialização alemã que veio a exigir um sistema de patentes; a doutrina visando explicar a tutela ai dispensada introduz a ideia de “direito individual”, “direito individual” esse que é visto por alguma doutrina como o primeiro reconhecimento de um direito geral da personalidade.
O trabalho dogmático igualmente se debruçou sobre o possível objecto que esses direitos viriam a tutelar: aqui o percurso foi mais curto, sendo que a doutrina alemã maioritária, perante a interpretação do paragrafo 823 do BGB, cedo alcançou a ideia de “bem de personalidade” (ainda que na generalidade não concedessem a um direito geral da personalidade). 
 Acolhimento dos direitos de personalidade nas codificações modernas: caso da França e da Alemanha
As codificações de primeira geração, em termos genéricos, não deixaram espaço nenhum à positivação de direitos da personalidade; seria preciso uma ulterior evolução pela construção de uma certa menschenbild (imagem do homem) que apenas se processou no pós Segunda Grande Guerra.
O Código de Napoleão tem a sua raiz num pensamento jusracionalista: dai, no contexto da problemática da tutela da pessoa pelo direito, esta venha a ser centrada na publicistica, portanto no reconhecimento de direitos inatos ao homem que ele pode arguir para sua defesa conta o estado, num binómio poder de autoridade do estado/ esfera privada dos cidadãos. Dai que no seu artigo 8º, limita-se a dispor que todo o francês gozaria de direitos civis, não identificando sequer a figura. Importa explicar o porque desta ignorância: a verdade é que o Code Civil se encontrava, para efeitos de evolução jus-personalistica, desfazado no espaço e no tempo: no tempo, pois entrando em vigor em inícios de oitocentos, obviamente estaria susceptível somente ao pensamento jusracionalista, avizinhando-se ainda longe a reacção anti-racionalista; no espaço, pois o desenvolvimento crucial da moderna jus-personalistica se deu com o estudo e trabalho dogmático da pandetistica alemã, a França permaneceu insensível a esta pelo menos até finais do século XIX.
O volte face dá se nos princípios do século XX, com a crescente pressão doutrinaria alemã: reconhece-se então a excessiva preocupação do Code Civil com aspectos patrimoniais descurando os direitos de personalidade; de um modo geral, sob a influência da doutrina alemã, o Direito Civil Francês veio a reconhecer diversos direitos da personalidade, tais como o direito à imagem, o direito à honra, o direito à dignidade; importante foi igualmente a jurisprudência, a qual assegurou um regime tutelar através da responsabilidade civil.
O BGB, surgindo de um ambiente de forte discussão doutrinaria sobre o(s) direito(s) geral de personalidade, impressivamente apenas se refere no seu paragrafo 12 ao direito ao nome, não dando uma consagração expressa aos direitos da personalidade.
Apenas o choque do nazismo e da violação animália dos direitos de personalidade então operada pelo Reich promoveu um surto de desenvolvimento de direitos fundamentais e de personalidade.
4.5 O postbellum: reconhecimento de uma menschenbild, sediada numa antropologia civil do homem orientada pela indisponibilidade dos seus direitos
Após aSegunda Grande Guerra ganhou-se particular consciência dos riscos da subalternização do indivíduo humano face aos desígnios da estrutura do poder; por outro lado, a aceleração do desenvolvimento tecnológico acarretou diversas interferências na vida privada dos cidadãos dada, v. g., a penetração e opressão dos mass media, a pressão do consumismo e a impiedade das suas técnicas de publicidade, a subida do stress…
Estes factores convergiram para a necessidade de reconhecer ao homem contemporâneo um certo espaço, uma concreta esfera de resguardo e de acção, bem como um direito à diferença que contemple a especificidade da sua personalidade, avassalada muitas vezes pela “normalização” e pela “massificação”.
Estas reivindicações vêm assim a ser satisfeitas não somente pelo alargamento dos direitos especiais de personalidade mas igualmente pela consagração de um direito geral de personalidade�; esta luta pela unidade e pela expansividade da personalidade humana advém da experiência empírica de que uma tutela parcelar da personalidade, portanto de direitos especiais de personalidade, pode esconder uma instrumentalização do homem pelo poder dominante.
É neste contexto que se recupera de Regelsberger e de Von Gierke a ideia de um direito geral de personalidade: para o efeito, convergem quer a jurisprudência - admitindo pela primeira vez que na violação do direito geral de personalidade houvesse lugar a indemnização, quando esta só era concebida para a violação de um direito subjectivo de tipo absoluto - quer a doutrina – definindo o direito geral como «o direito subjectivo absoluto à manutenção, inviolabilidade, dignidade, reconhecimento e livre desenvolvimento da individualidade das pessoas»�.
Contudo, a declaração mais impressiva da consagração de um direito geral de personalidade encontra-se patente na Lei Fundamental de Bona, a qual passou logo a prever no seu artigo 1º que «a dignidade da pessoa humana é inviolável» e que «todo o poder estatal tem o dever de a respeitar e proteger», que «o povo alemão declara-se partidário, por causa disso, de invioláveis e inalienáveis direitos do homem, como fundamento de toda a comunidade humana, da paz e da justiça no mundo»; já no número 1 do artigo 2º é referido que «todos tem o direito ao livre desenvolvimento da sua personalidade, desde que não violem os direitos de outrem e não atentem contra a ordem constitucional ou a lei moral». Em face deste articulado, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e a generalidade dos autores passaram a admitir a existência de um direito geral de personalidade.
 
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 A Experiência portuguesa na jus-personalistica: das Ordenações do Reino à codificação civil
A tutela da personalidade no direito medievo português veio a entroncar na matriz do direito romano justinianeu, tal como era entendido pelos principais glosadores e comentadores: D. João I determinou que o Corpus Iuris Civilis, a Glosa de Arcusio e os Comentários de Bartolo fossem acatados nos tribunais como direito subsidiário.
Já nas Ordenações Filipinas encontramos:
		
-penas para os que matão, ou ferem ou tirão com arcabuz ou besta;
		
-penas para os autores e divulgadores de cartas difamatórias;
		
-penas para os mexeriqueiros.
Já em pleno liberalismo: não existe um direito geral de personalidade e os direitos especiais de personalidade encontram-se diluídos e indiferenciados nas Constituições Portuguesas em diversos títulos onde se afirmavam genericamente um conjunto de direitos: «Direitos individuais do cidadão» (bases da Constituição de 1821, artigos 1º a 15º); «Dos direitos e deveres individuais dos portugueses» (Constituição politica da monarquia portuguesa de 1822, artigos 1º a 19º); «direitos e garantias individuais» (titulo II, artigos 4º e 5º da Constituição de 1911); artigo 8º da Constituição de 1933: «direitos e garantias individuais dos cidadãos portugueses», com relevo para diversos direitos de personalidade: direito à vida e à integridade pessoal (1º); direito ao bom-nome e à reputação (2º); inviolabilidade do domicilio e sigilo da correspondência (6º) e reparação por danos morais (17º).
Conclui-se que não há uma autonomização dogmática de um direito geral da personalidade e mesmo os direitos especiais da personalidade aparecem confundidos com outras sedes dogmáticas: como um direito subjectivo tout court; como um direito pessoal absoluto; como um direito fundamental materialmente constitucional; e claro, aparecem numa posição garantistica de defesa relativamente às invasivas do estado, numa clara temática publicistica.
 A jus-personalistica no Código de Seabra
Na mesma linha insere-se o Código de Seabra de 1867, onde primeiramente aparece a tutela civil dos direitos fundamentais: continua sem existir uma autonomização dogmática da figura do direito geral da personalidade e de direitos especiais de personalidade: em virtude do pensamento filosófico abstracto jusracionalista e das influências longínquas da escolástica naturalista, os direitos especiais de personalidade aparecem dissolvidos no título I, do livro I, precisamente intitulados Dos Direitos originários (denunciando claramente a sua radicação no racionalismo apriorista). Contudo, não se lhe pode negar mesmo assim o carácter inovador que lhe valeu criticas por parte da doutrina, nomeadamente por parte de Alexandre Herculano – o qual votou pela supressão do titulo, argumentado que se tratavam de disposições inúteis, apenas tendo cabimento nas constituições politicas, em épocas nas quais os direitos naturais do homem não eram devidamente conhecidos e respeitados – Dias Ferreira ou Abel de Andrade, os quais desaprovam o respectivo titulo pela sua inutilidade.
A expressão da doutrina portuguesa face ao direito geral de personalidade e dos direitos especiais de personalidade («direitos originários», na linguagem do Código de Seabra)
 A generalidade da doutrina manifesta-se negativamente: os “direitos originários” seriam inconvenientes, dada a sua dependência de oscilações constitucionais e por conferirem força de lei a construções puramente doutrinarias.
Com os inícios do século XX, dão-se os primeiros contactos com a doutrina pandetistica alemã dos direitos de personalidade: assim, e enquanto que autores como Guilherme Moreira, José Tavares, Cabral de Moncada recusaram a adopção da figura dos direitos de personalidade, houve uma aceitação por parte de Cunha Gonçalves, Manuel de Andrade, Paulo Cunha e Pires de Lima/Antunes Varela.
- Segundo Guilherme Moreira, não poderia haver direitos sobra a própria pessoa: esta viria a ser ao mesmo tempo, sujeito e objecto das relações jurídica, o que seria uma impossibilidade lógica;
- José Tavares ressalta a dificuldade de admitir um direito sobre si próprio bem como a inconveniência de admitir uma disponibilidade sobre aspectos físicos e psíquicos da pessoa;
- Cabral de Moncada refere que a aceitação dos «direitos sobre a própria pessoa» conduziria a conclusões imorais e anti-sociais: haveria de admitir o direito ao suicídio, à escravidão e ao aborto.
	Contudo, esta corrente de pensamento que se manifestava contra os direitos de personalidade não tinha em conta toda uma evolução operada pela sistemática da pandetistica alemã, a qual só na viragem para o século XX foi dada a conhecer pela mão dos alemães Windscheid e de Enneccerus e pela dos italianos Ruggiero e Coviello; ganhou a adesão de Manuel de Andrade, o qual foi autor de um anteprojecto do novo código civil, cujo artigo 6º corresponderia grosso modo – e recolhendo influencias do próprio artigo 2383º do Código de Seabra e dos trabalhos da Comissão de Reforma do Código Civil francês – ao artigo 70º do actual código civil.
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Doutrina geral dos direitos da personalidade: pré-entendimentos; a funcionalidade
Os direitos de personalidade emergiram como figura contraposta à acção do estado, sub-entendidamente ao serviço do interesse público: servem a pessoa singular que se apresente, apenas, como pessoa, opondo-se a todos os interessesorganizados e, particularmente, ao estado, ao poder económico, ao poder politico e ao poder da comunicação social. Assim os direitos de personalidade acham-se em conflito com: o interesse publico (Estado); com outros direitos privados reconhecidos (direito de propriedade e direito de iniciativa privada) ou mesmo certos direitos fundamentais, com relevo para a liberdade de opinião e a liberdade de expressão.
	Por isso não será de admirar que as modalidades mais relevantes dos direitos da personalidade estão, por natureza, reservadas às pessoas singulares, embora outras possam valer para as pessoas colectivas�.
	Os direitos da personalidade beneficiaram de um regime favorável no pós Segunda Grande Guerra, o qual permitiu a passagem de um mero reconhecimento doutrinário para uma efectiva vigência enquanto direito aplicável (já sabemos que as razoes que para isso concorreram prendem-se com o avanço da cultura de mass media e de massas exploratórias da esfera intima dos seres humanos).
Os direitos de personalidade aparecem assim como inerentes à personalidade, tendo como objecto de tutela os seus bens essenciais como sejam a vida, a honra, o nome: a estes bens a doutrina chama “bens de personalidade”; é exactamente tendo em conta esta necessidade de tutelar um tipo de objecto específico que Carvalho Fernandes constrói a sua noção de direitos de personalidade. «São direitos que constituem atributo da própria pessoa e que tem por objecto bens da sua personalidade física, moral e jurídica».
	
Os bens da personalidade em especial
Na doutrina genérica, o “bem” é apresentado como uma realidade capaz de satisfazer necessidades (sentido objectivo) ou apetências (sentido subjectivo) da pessoa.
Para pertinência da jus-personalistica, importa fixar as várias esferas de realidades objectivas ou subjectivamente necessárias ou úteis: mantém-se o critério da funcionalidade ou da idoneidade para a satisfação de fins para se determinar o objecto, que neste caso é o bem da personalidade; só que essas apetências que visam ser satisfeitas não são realidades ônticas distintas do ser humano, antes se apresentam como elementos intrínsecos que estruturam a sua personalidade física e moral, como refere a generalidade da doutrina, modos de ser ou de estar da própria pessoa.
Segundo MC, esses bens carecidos de tutela aparecem tão mais claros se se considerar a vida como uma vantagem, satisfazendo evidentes necessidades ligadas à sobrevivência do ser pensante: «daí podemos extrapolar outras vantagens ou “bens”: a saúde, a integridade física, o repouso, os sono e o ambiente adequado. E assim encontramos os bens da personalidade física. Considerando a vivência espiritual e social do homem, encontramos os bens da personalidade moral: a honra, a consideração, a reputação, o bom-nome.»
Malgrado, os diversos factores que permitem a delimitação dos bens de personalidade (de ordem histórico-cultural, pragmática ou técnico-jurídica), MC enuncia uma noção agregadora que parecer traduzir bem a natureza destes bens: «os bens de personalidade correspondem a aspectos específicos de uma pessoa, efectivamente presentes, e susceptíveis de serem desfrutados pelo próprio»; para a delimitação dos respectivos bens, MC procede ainda a uma visão analítica:
 
-o bem apareceria sempre como algo de delimitado, para poder suportar um direito subjectivo, de modo a que a própria pessoa não operaria como bem delimitado, antes seria possível desconstruir nela analiticamente outros bens delimitados mais específicos; 
-estariam em causa bens de personalidade e não quaisquer outros, ainda que vitais: o bem “vida” não abrangeria o bem “alimentos”, embora estes sejam essenciais àquela;
-o bem de personalidade operaria como algo de “egoísta” ou “introvertido”: o dano provocado noutro, por relevantes sofrimentos que cause ao próprio, não atinge um direito de personalidade. Como refere Capelo de Sousa: «nem tudo o que juridicamente tem como objecto a pessoa humana é integrável no âmbito dos direitos de personalidade. Desde logo, porque os direitos de personalidade têm como objecto imediato a própria pessoa do titular e não a pessoa de outrem ou nem mesmo um certo comportamento de outrem, quer tal comportamento envolva ou não uma parcela significativa da personalidade do respectivo sujeito.»
MC arrisca assim uma distinção entre diversas áreas de bens da personalidade, atendendo: 
-ao ser humano biológico (vida, integridade física, saúde, necessidades vitais como o sono, repouso, alimentação, vestuário, etc.); 
-ao ser humano moral (integridade moral, identidade, nome, imagem, intimidade, etc.); 
-ao ser humano social (família, bom nome e reputação, respeito, etc. …).
Já Castro Mendes traça uma classificação de direitos de personalidade por referência a “elementos”, elementos esses que considera serem as diversas vertentes analiticamente tidas da personalidade humana e, portanto, os diversos bens da personalidade: 
-direitos referentes a elementos internos, inerentes ao próprio titular, e que compreendem os direitos ao próprio corpo, à vida, à liberdade, à saúde e à educação; 
-direitos referentes a elementos externos, que se prendem com a posição do homem na sociedade, e que compreendem os direitos à honra, à intimidade da vida privada, ao ambiente, ao trabalho e à imagem; 
-os direitos referentes a elementos instrumentais, conexos com bens da personalidade, que compreendem o direito à habitação; 
-os direitos referentes a elementos periféricos, que são realidades próximas dos bens da personalidade, que compreendem o direito a cartas missivas.
Capelo de Sousa apela contudo para «um carácter ilimitado, solidário e algo desconhecido dos bens integrantes da natureza humana», não sendo adepto de uma enumeração apriorística completa e indiscutível desses bens; segundo Capelo de Sousa uma própria arquetipização abstracta e apriorística dos elementos componentes da personalidade humana seria imprudente; contudo, reconhecendo a necessidade de «indagar quais os bens, as forças e as expressões que em concreto constituem mais significativamente, o ser e o estar dessa personalidade», Capelo de Sousa, defensor de uma delimitação não taxativa, mas aberta e indeterminada, remete para a «estrutura individualizada bipolar de cada personalidade humana, ou seja, o facto de esta coenvolver, para alem de uma particular unidade somático-psiquica, uma singular unidade funcional “eu”-mundo»: a par de uma organização psicossomática, que segundo Capelo de Sousa, corresponderia à «personalidade física» do artigo 70º do CC, existiria um ser com uma estrutura mais alargada, de teor relacional, sócio-ambientalmente inserida e que seria abarcada pela expressão «personalidade moral» do referido artigo. Assim Capelo de Sousa parte desta dualidade personalidade física versus moral, para de cada uma extrair um conteúdo não taxativo de bens que careceriam de protecção jurídica: concede que a expressão «personalidade física ou moral» é uma cláusula geral instituída pelo legislador para afastar qualquer taxatividade dos bens ai protegidos e para tutelar a personalidade física ou moral, tout court, do indivíduo.
 Estatuto dos direitos da personalidade: a questão da autonomia dogmática autonomia dogmática; figuras afins
Os direitos de personalidade, como categoria jurídica autónoma, são de formação relativamente recente, sem prejuízo de o seu reconhecimento e tutela se fazer, anteriormente, por referencia a outras categorias de direitos.
Estas duas circunstâncias explicam que se verifique, por vezes, alguma dúvida e imprecisão na própria denominação da categoria: contudo, actualmente a expressão direitos da personalidade pode considerar-se hoje dominante e correspondente, com ligeira diversidade, à consagrada pelo legislador. Segundo Carvalho Fernandes, a «expressão direitos da personalidade apresenta-se como a mais adequada, pois tem a virtude de apontar imediatamente para elementos que os definem – a sua conexão coma própria personalidade, a sua incidência sobre os chamados bens da personalidade». 
Importa contudo distinguir esta expressão de outras que ou são sobremaneira imprecisas ou correspondem a orientações diversas que aquela que os direitos da personalidade tomam.
Para esta delimitação, há a destacar o contributo de Castro Mendes dirigida à delimitação da figura dos direitos de personalidade em relação a outras, nomeadamente, os direitos fundamentais, os direitos originários e os Direitos do Homem: «Direitos Fundamentais, em sentido formal, são os atribuídos pela Constituição. Espécie destes direitos – direitos fundamentais comuns, por oposição aos especiais, económicos, sociais culturais – são os direitos, liberdades e garantias. O critério é o da fonte da atribuição. 
Direitos de personalidade são os que incidem sobre elementos desta e realidades afins. O critério é o do objecto.
Direitos originários são os que resultam da própria natureza do Homem, e que a lei positiva reconhece. O critério é o da extensão da sua titularidade positiva ou efectiva.
Direitos do homem são os que resultam da própria natureza da Homem, e que a lei natural e internacional. O critério é o da extensão da sua titularidade natural ou internacional.
Direitos pessoalíssimos são intransmissíveis. O critério é o da possibilidade de transmissão 
Direitos pessoais são, na acepção mais corrente, os não patrimoniais. O critério é o da não avaliabilidade em dinheiro.».
Em termos gerais Carvalho Fernandes concorda com esta sistematização de Castro Mendes, apenas discordando com a necessidade de delimitação face aos direitos pessoais ou pessoalíssimos, já que «naqueles estão em causa classificações de direitos subjectivos em cujos termos cabem, entre muitos outros, os próprios direitos da personalidade». Segundo o autor, os direitos da personalidade seriam uma espécie do género “direitos pessoais” ou “pessoalíssimos”.
Da mesma opinião partilha Capelo de Sousa�. 
Oliveira Ascensão, tal como Castro Mendes, preocupa-se sobremaneira com uma distinção relativamente a outras figuras conexas ou afins que poderiam obscurecer a denominação de direitos da personalidade: acede, tal como Castro Mendes a uma distinção relativamente aos direitos originários � e direitos fundamentais� e aos direitos fundamentais�; concorda igualmente com uma distinção relativamente aos direitos personalíssimos, expressão que segundo ele seria utilizada para designar a categoria de direitos pessoais mais estritamente ligados à personalidade, pois esta expressão acentuaria a tónica da intransmissibilidade de certos direitos; quanto à oposição direito pessoal e de personalidade, Oliveira Ascensão aponta o conteúdo não ético do primeiro – que apenas significaria «não patrimonial», portanto não avaliável em dinheiro – em contraponto ao conteúdo moral do segundo. Em síntese, o ponto de vista de Ascensão conflui com o de CM.
Para Capelo de Sousa será ainda pertinente distinguir os direitos de personalidade dos direitos subjectivos públicos dos particulares, – dado que os direitos subjectivos públicos implicam uma multiplicidade de posições jurídicas activas dos indivíduos face ao estado e demais entes públicos, situando-se num contexto regulativo autónomo; do mesmo modo, a tutela dos direitos subjectivos públicos é garantida mediante acções administrativas e acções sobre a responsabilidade civil do estado e dos demais entes públicos por prejuízos decorrentes de actos de gestão publica –, dos interesses legítimos de personalidade e dos poderes funcionais.
Isto tudo para dizer aquilo que os direitos da personalidade não seriam.
 Direitos da personalidade como direitos subjectivos
Por sua vez, a doutrina na generalidade assente em considerar os direitos de personalidade como direitos subjectivos, na medida em que existe uma permissão normativa para aproveitamento de um bem; como refere MC «o direito de personalidade é um espaço de liberdade concedido ao sujeito: ou não seria direito. (…) O direito à vida permite ao beneficiário inúmeras hipóteses de aproveitamento: não fatalmente todas as possíveis.»; para alem disso, tal como nos direitos subjectivos, existe uma permissão específica (e não genérica, o que faria com que a liberdade de expressão não fosse um direito de personalidade, por envolver uma mera permissão genérica) de aproveitamento de um bem.
Na mesma linha encontra-se Orlando de Carvalho� e Capelo de Sousa�, Manuel de Andrade, enfim a generalidade da doutrina. A argumentação não se desvia muito daquela apresentada por MC.
Constitui de facto uma inegável evolução na doutrina portuguesa, já que a doutrina do princípio do século XX, ainda muito influenciada pelo positivismo legal, recusava a jus-subjectivação dos direitos de personalidade com base em argumentos hoje ultrapassados: seria uma incongruência lógica que a pessoa humana pudesse ser simultaneamente sujeito e objecto de direito, bulindo isso com certos valores éticos prevalecentes ( Moncada afirmaria que desse modo se legitimaria o suicídio); não seria um direito subjectivo por o seu objecto não ter um conteúdo rigorosamente delimitado e por o seu sujeito não exercer um domínio incondicional, dado o elevado número de restrições impostas ao domínio de cada homem sobre os seus bens de personalidade.
 O direito geral de personalidade e os direitos especiais
Do artigo 70º do Código Civil resulta o reconhecimento da personalidade humana, enquanto complexa unidade físico-psico-ambiental na relação do homem quo tale consigo mesmo e na sua relação «eu» -mundo, como objecto jurídico directo, autónomo geral e unitário de uma tutela civilística, abarcando responsabilidade civil e outras providências jurisdicionais�: essa valoração normativa só é traduzível através da ideia de um direito geral de personalidade, segundo alguma doutrina.
O denominado direito geral de personalidade é uma criação alemã�: destinava-se no especial ambiente do segundo pos-guerra a suprir as limitações da tutela aquiliana dos direitos; a assimilação doutrinaria nacional desse direito geral de personalidade deu--se por uma pressão doutrinaria alemã no inicio do século XX, sobretudo em Leite de Campos, Capelo de Sousa, Álvaro Dias, Paulo Mota Pinto e Nuno Pinto Oliveira.
Contra um possível direito geral de personalidade, encontra-se na generalidade a Faculdade de Direito de Lisboa, da qual destacamos Oliveira Ascenção e Menezes Cordeiro. Oliveira Ascensão refere-se ao direito geral da personalidade como uma «figura anómala»: 
I – «Por ele, o homem apareceria como objecto de si mesmo, o que é uma impossibilidade lógica»; 
II – a figura de um direito geral de personalidade seria melhor substituída por um regime de numerus apertus de direitos especiais de personalidade;
III – oferece desvantagens específicas, em virtude da sua desmesurada extensão;
IV – poria em causa a segurança jurídica: pelo facto dos terceiros serem surpreendidos pelas consequências que dele se venham a retirar num caso concreto; por não favorecer a tipificação de modalidades de intervenção, dado que se poderia passar directamente da figura geral à figura concreta.
Já MC ainda que reconheça que o artigo 70º confere uma protecção geral à personalidade, admite que tecnicamente não se poderá extrair dai um direito geral, dada a sua indefinição, não se enquadrando na natureza específica que sempre acompanha qualquer direito subjectivo: por causa desse teor geral e indefinido não poderia beneficiar de uma inclusão no regime dos direitos subjectivos, os quais visam um aproveitamento específico de um bem.
A doutrina que se manifesta assim contra um possível direito geral de personalidade, prefere assim a operatividade dos direitos especiais de personalidade, argumentando que ainda que esse direito geral de personalidade tenha sido bastante operativo no postulara na Alemanha, na actualidade se encontra em franco declínio na jurisprudência alemã.
Importa agora saber quais as fontes de ondese poderá retirar as normas que tutelam esses direitos especiais
Enumeração não taxativa de fontes normativas para efeitos de direitos especiais de personalidade
Quanto à existência de direitos especiais de personalidade será possível delinear algumas fontes normativas: admissão expressa pela lei de direitos especiais de personalidade em normas juscivilisticas ou não; experiência jurídica (sobretudo jurisprudencial) promanante da clausula geral do artigo 70º do Código Civil; fonte constitucional.
Em normas juscivilisticas: os artigos 72º a 80º do Código Civil reconhecem direitos especiais de personalidade ao nome, ao pseudónimo, ao segredo das cartas, memorias e certos outros escritos, à imagem e à reserva sobre a intimidade da via privada: tais normas revestem manifestamente o carácter de leges speciales, ao identificarem certas áreas ou bens parcelares da personalidade, ao regularem, por vezes particulares direcções desses circunscritos bens em determinado condicionalismo e ao instituírem, em certas hipóteses, formas especificas de garantia jurídica; relativamente a estas normas, os artigos 70º, 71º e 81º funcionam em regime subsidiário no que não for especialmente previsto nos artigos 72º a 80º do CC.
Em normas fora do Código Civil: podemos dar o exemplo de direitos de personalidade que gozam de garantias especiais no Código de Autor e dos Direitos Conexos: o direito moral do autor (artigo 9º, nº3 e 56ºa 62º) ou o direito dos artistas a que as suas prestações não sejam desfiguradas ou desvirtuadas ou a que delas se não faça uma utilização que atinja o artista na sua honra ou na sua reputação (artigo 282º).
Os artigos 13º, 24º a 27º. 34º a 38º, 41º a 48º, 20º, nº2, 51º, 61º e 62º da Constituição consagram especiais direitos de personalidade fundamentais, dado que tais preceitos constitucionais, nos termos do artigo 18º, nº1 da CRP, são directamente aplicáveis não apenas nas relações entre os particulares e estado, mas também nas relações entre os particulares e entre estes e os estado destituído do seu poder de ius imperium: ou seja pode-se retirar eficácia civil destas normas, dai que acabem por funcionar como leges speciales relativamente ao direito geral de personalidade.
O direito geral de personalidade (bem ou mal querido pela doutrina), enquanto direito-fonte (quellrecht) abarcando a personalidade humana no seu todo, fundamenta, enforma e serve de princípio geral aos próprios direitos especiais de personalidade, os quais embora dotados de relativa autonomia têm por objecto determinadas manifestações parcelares daquela personalidade: dai que as normas de direito geral da personalidade se apliquem subsidariamente aos direitos especiais de personalidade legais; o direito geral de personalidade completa a tutela juscivilistica da personalidade humana, constituindo o seu tatbesstand amplo e aberto, mas suficientemente delimitável, a estrutura normativa directa e imprescindicel para a sanção civil das ofensas ou ameaças de ofensas da personalidade não reguladas especificamente pela lei e das ofensas ou ameaças de ofensas de zonas múltiplas da personalidade, uma tuteladas especialmente na lei e outras abrangidas pelo regime-regra.
 O numerus apertus em especial
Os direitos especiais dependem da existência dos respectivos bens a que se reportam: eles dependem da existência de bens da personalidade. Dai que a doutrina tenha admitido em virtude da multiplicidade da existência de bens da personalidade, um regime não taxativo, de numerus apertus de direitos especiais de personalidade avindos do artigo 70º do CC. Esta recepção do numerus apertus é tanto mais significativa na doutrina que renuncia à extracção de um direito geral da personalidade do artigo 70º: Oliveira Ascensão fundamenta esse regime de numerus apertus no facto de o artigo 70º, nº1 do CC, uma emanação do princípio da tutela da dignidade da pessoa humana constitucionalmente protegida, impor uma tutela de todas as manifestações desta dignidade ( «…contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física ou moral.» ); deste modo, fazendo derivar daquele principio – a da dignidade da pessoa humana – concreto direitos de tutela de personalidade, conseguir-se-ia alcançar satisfatoriamente todos os domínios em que em que a tutela da personalidade se impusesse; Oliveira Ascensão refere ainda benefícios a nível da segurança jurídica, dado que a revelação caso a caso, tipo a tipo permitiria a formação de categorias socialmente reconhecíveis, cortando com o efeito de surpresa.�
Já Capelo de Sousa não concorda que pela utilização do regime de numerus apertus se possa extrair do artigo 70º uma possibilidade de leges speciales, de direitos especiais de personalidade: «nestes casos (…) não estamos perante autenticas normas especiais (…) estamos declaradamente, ainda tão só, no âmbito do direito geral de personalidade, não havendo normas jurídicas especiais a aplicar, mas apenas o regime regra, v. g., dos artigos 70º, 71º e 81º do CC. O que há aqui é, ao nível da aplicação do direito arquetipizações construcionais ou sistematico-doutrinais, em função de objectos parcelarizáveis adentro do bem jurídico geral da personalidade e como tais valorizáveis especificamente.»
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Características dos direitos de personalidade
 A absolutidade
Capelo de Sousa apresenta o direito geral da personalidade e os direitos da personalidade como direitos absolutos�: o titular desse direitos teria poderes directos e imediatos sobre o bem global da sua personalidade, que é afectada de modo exclusivo ao seu uso, fruição, reivindicação e auto-determinação; assim o titular poderia exigir indistintamente de todos os outros sujeitos jurídicos (erga omnes) o respeito do seu direito e todos os não titulares teriam um dever universal de respeito daquele direito, o que implicaria normalmente um dever geral de abstenção ou de não ingerência (dever negativo), obrigação passiva universal ou deveres gerais de acção ou de solidariedade social (dever positivo), abrangendo também estes últimos deveres também toda e qualquer pessoa que se encontrasse em condições de prestar auxilio.�
Desta opinião partilha a esmagadora maioria da doutrina nacional e internacional jus-personalistica�: por este carácter dos poderes jurídicos emergentes da tutela da personalidade diferenciam-se dos poderes jurídicos emergentes de direitos de crédito, que são fruto de um prévio e particular consenso ou ligação entre sujeitos determinados que originavam prestações específicas�.
Contudo, a doutrina tem vindo a evidenciar� uma certa eficácia relativa inter partes de certos direitos especiais de personalidade: aconteceria isso com o direito à confidencialidade de uma carta que seria antes do mais uma pretensão dirigida ao destinatário da carta, ou o direito da confidencialidade das relações que se estabeleçam entre médico e paciente ou entre advogado e o seu constituinte.
 
A natureza não patrimonial 
Os direitos da personalidade não teriam como objecto um património ou bens que os compusessem, coisas materiais ou corpóreas, prestações por parte de outrem, direitos subjectivos ou coisas incorpóreas: situar-se-iam no hemisfério pessoal do seu titular, seriam insusceptíveis de serem reduzidos a uma soma de dinheiro (o que não impediria que da sua violação resultassem direitos de indemnização, com a sua natureza patrimonial� ). 
MC apresenta contudo adverte para que essa não-patrimonialidade não é linear�, pondo a necessidade de operar distinções entre direitos patrimoniais em sentido forte – em que o Direito não admite que os correspondentes bens sejam permutados por dinheiro: sejam exemplo, o direito à vida, o direito à saúde e à integridade corporal – em sentido fraco – os que não podem ser abdicados por dinheiro embora, dentro de certas regras, se admita que surjam como objecto de negócios patrimoniais ou com algum alcance patrimonial: assim sucede com o direito à saúde ou à integridade física, desde que não sejam irreversivelmenteatingidos, nos termos que regem a experimentação humana – e direitos de personalidade patrimoniais – os quais representam um valor económico, são avaliáveis em dinheiro e podem ser negociados no mercado: nome, imagem e fruto da actividade intelectual�. Deste modo, MC conclui pela não prevalência categórica dos direitos de personalidade, remetendo o conflito de bens tutelados advindo do confronto entre direitos de personalidade e outros direitos (nomeadamente os absolutos, como a propriedade) para o regime do conflito de direitos.
 Indisponibilidade
Dado o carácter essencial, necessário e inseparável da maioria dos bens jurídicos da personalidade física e moral humana, não são em princípio reconhecidas ao sujeito activo dos direitos de personalidade a possibilidade de os extinguir (por renuncia a esses direitos ou por abandono ou destruição do bem da personalidade), de dispor a favor de outrem da capacidade de gozo de tais direitos e até mesmo de se obrigar perante outrem ao exercício desses poderes: deste modo uma pessoa humana não pode renunciar ao direito à vida ou à honra, nem pode suicidar ou auto-reduzir-se à escravidão. Contudo como considera Capelo de Sousa, ainda que estes bens «estejam em princípio fora do comércio e sejam indisponíveis nas relações com os outros seres, tal não impede que no interior da esfera pessoal de cada indivíduo se verifiquem mutações juridicamente tuteladas emergentes do poder de autodeterminação do homem»; a título de exemplo CS refere a liberdade de mudança de religião ou de configuração sexo-corporal.
Por outro lado, CS admite que ainda que a capacidade de gozo dos bens integrantes da personalidade seja sempre indisponível, poderá haver limitações licitas do exercício dos direitos de personalidade: «para tal desde logo é necessário que a limitação seja voluntária, isto é, que a vontade de produção de efeitos jurídicos limitativos tenha sido perfeitamente declarada e tenha sido formada, esclarecida e livre. E importa ainda que a limitação não seja contrária aos princípios da ordem pública�»
No artigo 340, nº1 admite-se igualmente uma certa disponibilidade dos direitos da personalidade, já não por via de uma «vontade» «perfeitamente declarada», antes por um consentimento tolerante: o acto lesivo dos direitos da personalidade é lícito quando o lesado tenha consentimento na lesão, desde que o respectivo consentimento não seja contrário a uma proibição legal ou aos bons costumes: segundo Capelo de Sousa, «trata--se normalmente de um acto permissivo, obrigando a consentimento especifico para cada uma das lesões, só excepcionalmente sendo admissível perante bens da personalidade de pouca monta ou perante condicionalismos» particularmente transitórios, acabando quando o titular a ela se oponha ou não a autorize.
 Intransmissibilidade
Os direitos de personalidade que incidem, unitária e globalmente sobre a personalidade física e moral de um certo homem são insusceptíveis de serem transferidos deste para outro sujeito jurídico, o que alias se torna compreensível face à natureza dos bens jurídicos que constituem o seu objecto: com efeito, os bens jurídicos da personalidade humana física e moral constituem o ser do seu titular, pelo que são inerentes, inseparáveis e necessários à pessoa do seu titular.
	Assim, os direitos de personalidade não podem ser cedidos, alienados, onerados ou subrogados a favor de outrem pois dada esta inseparabilidade, qualquer negocio jurídico a esse respeito seria contrario à ordem publica�.
	Neste contexto, os direitos de personalidade assumem um carácter pessoal ou pessoalíssimo�: contudo pela divergência doutrinal à volta do sentido de pessoal e pessoalíssimo e também obedecendo a um rigor sistemático – dado que como se disse anteriormente, os direitos da personalidade na sua generalidade são uma espécie do género direitos pessoais – o grupo prefere tão-somente a expressão intransmissibilidade.
							
 Carácter originário ou adquirido 
Embora não totalmente, a maioria dos bens jurídicos emergentes da tutela da personalidade tem um carácter originário ou inato, no sentido de que são conaturais ao sujeito de direito, decorrendo directa e exclusivamente do mero reconhecimento da personalidade jurídica, não se tornando deste modo necessário para a usa existência qualquer outro pressuposto ulterior: assim ocorre, nomeadamente, com a vida, o corpo, a liberdade, a honra e a identidade.
O carácter inato dos direitos de personalidade começou por ser afirmado no esquema filosófico da escola clássica do direito natural do século XVII de Grocio, Samuel Pufendorf, Wolf, Leibniz e outros, distinguindo entre os direitos originários e os adquiridos e opondo ambos ao poder real, o que vem mais tarde a obter tradução na Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Entre nós, há a referir um título especialmente dedicado aos direitos originários no Código de Seabra, dos quais se equivaliam aos direitos de personalidade os consignados nos artigos 359º, 2382º e 2383º.
Como foi referido no início, embora não totalmente. De facto há direitos de personalidade que só posteriormente ao memento da aquisição da personalidade jurídica são reconhecidos na esfera do seu titular, nomeadamente, o direito ao nome, ao direito moral de autor, ao sigilo das cartas-missivas…
Esta distinção tem contudo sobremaneira de utilidade: como refere Capelo de Sousa tem o mérito de lhes conferir uma certa inderrogabilidade perante a lei: quanto a estes, os que advém a título inato, deverão ser mais circunscritas as restrições legais, mais condicionadas as autorizações legislativas ao governo e mais limitada a revisão constitucional.
 O alargamento às pessoas colectivas 
Os direitos de personalidade foram historicamente e dogmaticamente pensados para servir o ser humano: a pessoa singular. Transpô-los para além desse campo equivaleria a uma distorção da figura, na medida em que corromperia a sua conexão humanística ontologicamente decisiva. Deste modo existiria boas razoes para não reconhecer a titularidade de direitos de personalidade nas pessoas colectivas: um alargamento praeter legem às pessoas colectivas poderia provocar desvirtuamentos e distorções.
É neste contexto que o artigo 160º do Código Civil, não faz atribuir às pessoas colectivas uma capacidade jurídica geral, mas sim de natureza específica, em mera função dos particulares fins a que cada uma daquelas pessoas colectivas está adstrita (apenas os direitos e obrigações necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins).
Ficam excluídos, por conseguinte, das pessoas colectivas quaisquer direitos especiais de personalidade que sejam inseparáveis da personalidade humana (o direito à vida, o direito à integridade corporal, espiritual e anímica, o direito à liberdade de movimentos físicos, o direito à saúde …); há no entanto que reconhecer às pessoas colectivas, titulares de valores e motivações pessoais, alguns dos direitos especiais de personalidade que se ajustem à particular natureza e à especificidade das características das pessoas colectivas, ao seu círculo de actividades, às suas relações e aos seus interesses dignos de tutela jurídica: é desde logo, o caso do direito à identidade pessoal, abarcando o direito ao nome e a outros sinais jurídicos recognitivos e distintivos, a honra, o decoro, o bom-nome e o crédito, entre outros; consequentemente também beneficiam de tutela: sempre que estejam em causa bens juscivilisticamente protegidos, as pessoas colectivas ilicitamente ofendidas podem exigir indemnização civil por danos não patrimoniais e requerer as providências constantes do artigo 70º, nº 2.
Na Alemanha pôs-se ainda a questão de saber se para alem destes direitos especiais de personalidade, as pessoas colectivas poderiam titular um direito geral de personalidade: quanto à jurisprudência, esta apenas reconheceu, num aresto do BundesVerfassungGericht�, que o direito geral de personalidade, nas sociedades comerciais, mais não seria que a liberdadede iniciativa económica.
Já a doutrina divide-se em três concepções: os autores que pura e simplesmente recusam um direito geral de personalidade das pessoas colectivas; os autores que reconhecem às pessoas colectivas um direito geral de personalidade, mas muito limitado pelas suas funções estatutário-legais e de bem menor extensão do que o das pessoas físicas; a doutrina do realismo jurídico que defende que as pessoas colectivas tem uma «verdadeira personalidade», análoga à das pessoas naturais e equipada com individualidade, valor próprio, dignidade e um direito a uma tutela geral da sua personalidade.
A doutrina nacional que defende a existência de um direito geral de personalidade extraído do artigo 70, nº1 é relutante em atribui-lo às pessoas colectivas, exactamente porque à luz da interpretação do artigo, acha-o especialmente talhado para as pessoas singulares�. Quanto a titularidade de direitos especiais de personalidade, a doutrina no geral defende um critério casuístico para essa mesma atribuição�.
 Negociabilidade limitada; imprescritibilidade; respeito pela ordem pública e demais requisitos
Pela característica da extra-patrimonialidade e da pessoalidade dos direitos de personalidade, já foi deixado antever que estes seriam por essência extra commercium. Também foi igualmente visto que alguma doutrina� consagra uma tríplice distinção entre direitos não patrimoniais em sentido forte, em sentido fraco e direitos patrimoniais. 
O artigo 81º admite limitações voluntárias ao exercício dos direitos de personalidade, que não contrariem os princípios da ordem pública; o artigo 79/1 refere a propósito do direito à imagem, a hipótese de o retrato de uma pessoa ser «lançado no comércio», termos esses que são repetidos no nº3 desse mesmo artigo; o artigo 340º permite a exclusão da ilicitude de actos lesivos dos direitos da personalidade, quando o lesado tenha consentido na lesão e tal consentimento não seja contrário a uma proibição legal ou aos bons costumes. São estas as condições legais que possibilitam restrições legais do exercício dos direitos de personalidade para efeitos de celebração de negócios jurídicos.
Contudo essas restrições não podem de maneira nenhuma ser tão profundas que façam perigar a dignidade humana e o livre desenvolvimento da personalidade no domínio das relações negociais, dai que alguns juristas como MC se refiram a uma “negociabilidade limitada” destes negócios jurídicos, pautada por critérios de graciosidade, temporalidade, eticidade e proporcionalidade:
	
-graciosidade: deveras que o Direito poderá consentir em limitações graciosas ao exercício de direitos de personalidade: segundo MC «será o caso dos direitos do círculo biológico e do círculo moral»; no entanto «apenas caso a caso será possível formular um juízo definitivo»;
	
-temporalidade: o artigo 81º fixa uma regra de livre revogabilidade, «ainda que com obrigação de indemnizar os prejuízos causados às legitimas expectativas da outra parte»�: daqui decorre que as partes não podem apor prazos em direito no comercio de direitos de personalidade, vigorando um regime geral de não caducidade da invocação dos direitos de personalidade;
	
-eticidade: critérios como «os princípios da ordem publica» (artigo 81º), ou determinabilidade e não contrariedade aos bons costumes (artigo 280º) são os valores injuntivos do ordenamento que os cujos negócios devem respeitar,
	
-proporcionalidade e clareza: «qualquer limitação aos direitos de personalidade deve ser clara e perceptível, sob pena de poder assumir proporções que o sujeito não pudesse contar» (MC) 
 A imprescritibilidade e perenitude
Segundo Capelo de Sousa: «Os poderes emergentes da tutela geral da personalidade não são apenas vitalícios, na medida em que permaneçam ad vitam na esfera do próprio titular, mas também por força do artigo 71º do CC, vocacionalmente perpétuos, dado ai gozarem de protecção depois da morte do respectivo titular sem restrições temporais.»; daqui resultaria a perenidade.
Contudo, esta perenidade significaria que os direitos de personalidade do ser humano sobreviveriam ao próprio defunto, existindo em analogia com o caso paradigmático dos nascituros e dos concepturos uma situação de direitos sem sujeito; para mais, esta perenitude parece infundada legalmente, dado que a personalidade jurídica, nos termos do artigo 68º do CC cessa com a morte que, para efeitos do direito, corresponde à cessação definitiva e irreversível das funções do tronco cerebral; ora, se a personalidade é construída dogmaticamente como a idoneidade ou aptidão para ser titular de direitos e vinculações, por maioria de razão os direitos de personalidade extinguir-se-iam com a morte. Isto num raciocínio muito linear, por que a doutrina tem--se degladeado e antagonizado fortemente sobre esta matéria da continuidade de uma esfera de direitos post mortem. Não cabe no âmbito do trabalho discorrer sobre estas vexatae quaestiones; daí que o grupo, apesar de ter apresentado a concepção de perenitude de Capelo de Sousa prefere não a tomar como uma característica dos direitos de personalidade.
Já a imprescritibilidade é inegável: em correspondência com a inseparabilidade e necessidade dos bens da personalidade ao ser respectivo e com o facto do seu exercício se processar muitas vezes tanto por acção como por omissão, não são passíveis de uma restrição extintiva, ou seja não podem extinguir-se pelo não uso.
Os artigos 298º a 327º do CC deixam isso bem claro: eles visam claramente os direitos de conteúdo patrimonial e mesmo quanto a estes estabelece no artigo 298º, nº1 do CC que não se aplica aos «direitos indisponíveis»: ora os direitos de personalidade são indisponíveis a favor de terceiros no que toca ao gozo dos direitos de personalidade; de resto, por maioria de razão muito menos é possível neste caso a prescrição aquisitiva ou usocapiao que, nos termos do artigo 1287º, só pode provir da «posse do direito de propriedade ou de outros direitos reais de gozo, mantida por certo lapso de tempo».
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Responsabilidade civil: responsabilidade ou obrigação de indemnizar; providencias preventivas ou atenuantes; exclusão de ilicitude
Dentro do enquadramento genérico de responsabilidade civil, pode-se distinguir uma responsabilidade subjectiva – em que é determinante o elemento “ilicitude”, respondendo subjectivamente o indivíduo por esses mesmos factos ilícitos – e uma responsabilidade objectiva, em que existe obrigação de indemnizar mesmo por cometimento de facto licito. Sentidamente analisar-se-á o modo pelo qual se concretizam estas duas configurações de responsabilidade civil.
«A lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita (…) à sua personalidade física e moral.»; daqui ressalta de forma bastante evidente o primeiro modelo: a responsabilidade subjectiva por factos ilícitos.
Responsabilidade por factos ilícitos: a voluntariedade e a ilicitude constituem, nos termos do artigo 483º, nº1 do CC, os primeiros pressupostos da responsabilidade civil por factos ilícitos culposos, mas para esta ter lugar importa ainda que se verifiquem, como é sabido, o nexo de imputação do facto ao lesante (o qual envolve uma censura ético-juridica ao sujeito e desdobrando-se em dois elementos, a imputabilidade e a culpa), o dano e o nexo de causalidade entre o facto e o dano.
Não requerendo aprofundar muito sobre estes elementos da responsabilidade civil (dado que escapa ao âmbito temático do trabalho) será contudo importante uma especial atenção ao dano: não pode haver a respectiva responsabilização e consequente obrigação de indemnizar sem a existência de danos ou prejuízo a ressarcir na esfera de personalidade violada: tem que haver uma perda in natura de utilidades ou potencialidades do bem geral ou dos bens especiais de personalidade juridicamente tutelados. Dado que a personalidade humana do lesado não integra propriamente o seu património, acontece que da violação da sua personalidade emergem sobretudo danos não patrimoniais oumorais isto é prejuízos de ordem biológica, espiritual, ideal ou moral que sendo insusceptíveis de avaliação pecuniária, podem ser compensados e não propriamente indemnizados. Contudo, conexamente também pode resultar da ofensa de direitos da personalidade danos patrimoniais, os quais podem ser sujeito a avaliação pecuniária e como tal estritamente reparados ou indemnizados: só que estes danos patrimoniais não decorrem directamente da violação desses direitos e desses bens, antes são por assim dizer efeitos mediatos em segunda ordem, que recaem sobre interesses de natureza material ou económica, reflectindo-se sobre o património do lesado: são danos patrimoniais que derivam de um dano não patrimonial violador de direitos ou bens da personalidade anterior�.
Os artigos 2384º a 2387º do Código de Seabra dispunham sobre prejuízos ressarcíveis no caso de homicídio ou de ferimentos: só especificavam danos não patrimoniais, abstraindo dos restantes. Os danos morais não seriam ressarcíveis, por falta de base legal; a doutrina, na generalidade partilhava também desta visão�.
Presentemente, a indemnizabilidade dos danos não patrimoniais emergentes da violação de direitos da personalidade resulta claramente do artigo 496º, nº1, artigo 759º ( «Satisfação do dano não patrimonial» ) e do artigo 476º do CC e é pacifica na jurisprudência e na doutrina, a qual alude à função compensatória e punitivo-dissuasora da indemnização por danos não patrimoniais�. Contudo, é limitada a ressarcibilidade dos danos não patrimoniais àqueles que «pela sua gravidade, mereçam tutela do direito», devendo o montante da indemnização por danos não patrimoniais ser fixado equitativamente pelo tribunal, tendo em atenção o grau de culpabilidade do responsável, a situação económica do lesante e do lesado e demais circunstâncias do caso. De resto, no actual código civil. De resto, como limitativo do alcance indemnizatório está o pensamento fundamental da doutrina da causalidade adequada: não são indemnizáveis todos os danos sobrevindos ao facto violador da personalidade alheia, mas apenas aqueles que, nos termos do artigo 563º do CC, «o lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão; ou seja, o autor da violação da personalidade alheia só está obrigado a reparar aqueles aqueles danos que se não teriam verificado sem essa violação e que, se se abstraísse dela, ao tempo da violação e face às circunstâncias então conhecidas ou reconhecíveis pelo lesado, que não se tivessem produzido;
 As providencias cíveis preventivas e atenuantes de violações da personalidade: traços comuns
A garantia civil dos direitos e bens da personalidade não se limita a um dever de indemnizar a posteriori o lesado por parte do lesante, já ocorrido o facto ( em causalidade directa com uma situação de dano ) de violação desses direitos ou desses bens: nos termos do artigo 70º/2, pode-se ainda delinear uma tutela preventiva em caso de ameaça ou atenuante em caso de ofensa já consumada ( «a pessoa ameaçada ou ofendida pode requerer as providencias adequadas às circunstâncias do caso, com o fim de evitar a consumação da ameaça ou atenuar os efeitos da ofensa já cometida.» ).
Como refere MC « “Ameaça” aqui não traduz o sentido comum do acto ou efeito de “ameaçar”; exprime, tão-só, a ofensa eminente ou em curso a um direito de personalidade.»: trata-se claramente da necessidade de conferir uma tutela preventiva; continuando o autor « “Ofensa” exprime a violação consumada»: aqui confere-se uma providência atenuante ».
Ambas – providência preventiva e atenuante – impõem por um lado a verificação de um facto jurídico humano voluntário e ilícito, ou seja, um facto dominável ou controlável pela vontade do violador e contrario aos seus deveres legais de abstenção e, em certos casos como já foi anteriormente visto no trabalho, mesmo de acção, face à personalidade de outrem; por outro lado, é necessário que haja igualmente um nexo de dano entre esses factos ilícitos e a personalidade física ou moral juridicamente tutelada de todo e qualquer indivíduo. Importa ainda explicitar dois aspectos que aparecem relevantes na lei: «a pessoa ameaçada ou ofendida pode requerer as providências adequadas às circunstâncias do caso»): o legislador achou bem gravar aqui um critério de proporcionalidade; ainda que o termo adequadas pareça se referir ao principio da adequação ou conformidade ( «Geeignetheit» ), portanto uma das vertentes do principio da proporcionalidade ou da proibição do excesso ( «Ubermassverbot» ), o grupo parece entender que deste elemento textual poder-se-á extrair as três vertentes do principio da proporcionalidade: a adequação ou conformidade, a exigibilidade das providencias – os meios – relativamente à necessidade de prevenir ou atenuar a violação desses bens de personalidade – os fins – e a proporcionalidade em sentido estrito. Por outro lado essas providências devem ser adequadas não a uma qualquer situação aprioristicamente tomada pelo legislador, mas de acordo com uma estruturação casuística, sem dúvida em função dos objectivos de índole preventiva ou atenuante: poderá parecer de pouca esta necessidade de falar deste critério casuístico na determinação das providências; tal não é pouca monta pois este critério confere ao julgador uma larga margem de ponderação de interesses, que segundo Capelo de Sousa, «lhe permite decretar providências atípicas, não especificadas mas ajustadas à multiplicidade das situações da vida real.».
As providencias preventivas em especial
As providências preventivas aparecem tão mais essenciais quando se fala daqueles bens e daqueles proeminentes direitos extra patrimoniais da personalidade, como a vida, a saúde, a liberdade, a intimidade da vida privada: é neste sentido que para a garantia deste núcleo irredutível de bens da personalidade se sancione desde logo as ameaças de ofensas à personalidade. A doutrina levado a cabo uma enumeração não taxativa dos casos em que possa se decretar providencias tutelares preventivas de violações da personalidade:
-providencias que proíbam e sancionem o acesso e o registo de informações ou de dados da vida privada das pessoas, sobretudo através de computorização;
-providencias que impeçam a utilização, a reprodução ou a divulgação abusivas de imagem alheia ou que vedem a publicação não autorizada ou a quebra de reserva de cartas confidenciais, memorias familiares e outros escritos confidenciais;
-providencias preventivas de violações da personalidade quanto à publicação e divulgação de livros, filmes ou outras criações intelectuais, quando essa publicação seja lesiva de direitos do seu autor ou quando tais obras contenham graves ofensas à identidade ou honra pessoal de terceiros;
-providencias preventivas de violações da personalidade que proíbam ou sancionem a colocação ou ulterior utilização de maquinismos ou fontes produtoras de ruídos, cheiros, fumos e outros poluentes prejudiciais ao repouso, à saúde, ao sossego ou à qualidade de vida dos vizinhos;
-providencias preventivas no caos de ameaças concretas à vida, à liberdade ou à integridade física de pessoas determinadas ou determináveis: estas, para alem do recurso aos mecanismos penais, podem requerer as providências preventivas cíveis adequadas às circunstâncias do caso que evitem a consumação das ameaças.
 
As providencias atenuantes em especial
Como refere Capelo de Sousa «não se trata agora de defender a personalidade face a meras ameaças de ofensas mas de a tutelar relativamente a ofensas já consumadas»; segundo o mesmo autor visa-se «surpreender e agir directamente sobre fenómenos existenciais em curso, ou seja, sobre a acção ofensiva em si mesma ou sobre os seus efeitos, enquanto alterações ontológicas ou existenciais».
A expressão «atenuar os efeitos da ofensa já cometida» deve ser entendida no sentido de não só abranger a atenuação dos efeitos dessas acção lesiva como também, e por maioria de razão, abranger a cessação imediata da acção ofensiva em curso. A

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