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1 Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix Curso: Bacharel em Teologia Disciplina: Introdução à Filosofia Professor: Antonio Carlos Ferrarezi O Materialismo Histórico em Karl Marx Introdução No início do Século XIX as forças conservadoras do sistema feudal em decomposição, representadas pela nobreza e pelo clero, ansiavam retomar o absolutismo – movimento que triunfou na França do Século XVII mas que foi derrubado com a Revolução Gloriosa de 1688.1 A burguesia e o crescente proletariado representavam as forças revolucionárias do início do Século XIX, ambas insatisfeitas com as condições sociais e econômicas. As forças conservadoras, por sua vez, almejavam retomar as doutrinas do Absolutismo e excluir a burguesia do poder político. Portanto, as revoluções burguesas do Século XVIII – dentre elas a Francesa, que é seu maior expoente – encontravam-se ameaçadas pela ação das forças conservadoras da Europa. A partir de 1848 o proletariado procurou expressar sua própria ideologia que se inspirava no socialismo utópico e que se opunha ao pensamento liberal. Nesse contexto, a Alemanha encontra-se dividida em diversos Estados e repleta de problemas internos. Foi justamente na Alemanha dividida e cheia de problemas que nasceu o marxismo. O sistema do pensamento marxista não é fruto apenas de Karl Marx (1818-1883), mas também de Friedrich Engels (1820-1895), seu amigo pessoal e grande colaborador. 2 Marx e Engels formularam suas teorias a partir da realidade social, política e econômica em que viviam, observando que, apesar dos avanços técnicos implantados com a Revolução Industrial, o que deu ao homem maior poder de ação sobre a Natureza e que produziu riquezas, enriquecimento e progresso de um lado, entretanto todo esse avanço não foi suficiente para construir uma sociedade melhor. Ao contrário, o progresso introduzido pela Revolução Industrial produziu, paradoxal e contraditoriamente, um outro fenômeno que passou a ser analisado com preocupação por Karl Marx e Engels e por demais pensadores que 1 Na Revolução Gloriosa, Guilherme III de Orange é proclamado Rei após aceitar a Declaração de Direitos que limitava sua autoridade e concedia mais poderes ao Parlamento, colocando assim o poder executivo subordinado ao poder legislativo. Essa revolução levou ao estabelecimento de uma monarquia constitucional na Inglaterra.O Absolutismo significou a defesa do poder absoluto do Estado ou a soberania do Estado. O Absolutismo Monárquico do Século XVII tem em Hobbes um de seus maiores defensores. 2 Marx e Engels escreveram juntos: O Manifesto Comunista; A Ideologia Alemã; Marx escreveu, dentre outras obras: O 18 Brumário de Luís Bonaparte; Contribuição à Crítica da Economia Política; O Capital. Engels escreveu: A Dialética da Natureza; A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, dentre outros escritos. 2 começaram a analisar com maior atenção a Sociedade, dando origem assim à Sociologia. Marx e Engels observaram que, ao lado do progresso e do avanço da técnica, aumentava cada vez mais a pobreza e a escravização das classes operárias, as quais tornavam-se cada vez mais empobrecidas. O Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico A teoria marxista é composta de uma teoria científica, que é o materialismo histórico, e de uma filosofia, que é o materialismo dialético. O materialismo histórico é a aplicação dos princípios do materialismo dialético para o campo da história. Significa a explicação da história a partir dos fenômenos materiais, técnicos e econômicos. O Materialismo Histórico de Marx se contrapõe ao Idealismo Alemão hegeliano. Hegel foi o maior expoente do Idealismo Alemão. Segundo suas teorias, a história se move a partir das grandes idéias que nascem e morrem por causa das forças contrárias que nelas estão contidas, gerando assim novas idéias, num processo dialético sem fim. Essa força destruidora é também, segundo Hegel, a força motriz do processo histórico. Entretanto, no entendimento de Marx e de Engels, a teoria hegeliana do desenvolvimento geral do espírito humano não era capaz de explicar a vida social que predominava na Alemanha de seu tempo, onde, de um lado havia o domínio da técnica, o avanço, o progresso e o enriquecimento, mas, de outro, o aumento da pobreza e a escravização do homem pelo homem, através do trabalho alienante. Assim entendendo, Marx e Engels propõem uma inversão no sistema idealista hegeliano, firmando as bases do materialismo dialético e do materialismo histórico. Segundo a teoria do materialismo histórico o mundo material é anterior ao espírito ou ao mundo das idéias. Para Marx, na verdade é o espírito ou a construção ideológica que deriva do mundo material e não o contrário, como propunha Hegel. Para Marx, o senso comum erra ao explicar a história a partir da ação dos chamados “grandes homens e das grandes idéias”. No entendimento de Marx e do Materialismo Histórico, o processo é na verdade inverso, ou seja, são os fatores materiais que determinam a história e a vida em sociedade. Marx não nega o valor das idéias, mas ele as explica a partir da estrutura material da sociedade, ou seja, como derivadas das condições materiais dessa sociedade. Portanto, para Marx, devemos estudar a sociedade não a partir do que os homens dizem, imaginam ou pensam, mas sim a partir da forma através da qual eles produzem as condições materiais necessárias para a sobrevivência. “É analisando o contato que os homens estabelecem com a natureza para transformá-la por meio do trabalho e as relações entre si que se descobre como eles produzem sua vida e suas idéias”. 3 3 ARANHA, Maria Lúcia Arruda de, e MARTINS, Maria Helena Pires, Filosofando – Introdução à Filosofia, S. Paulo, Ed. Moderna, 2 a. ed., 1999, p. 120. 3 Para Marx, segundo sua teoria do materialismo histórico e dialético, a sociedade se estrutura em níveis, a saber: 1. Infra-Estrutura: a infra-estrutura é a base econômica da sociedade e que engloba as relações do homem com a Natureza com o objetivo de produzir os meios para a sua sobrevivência e que, portanto, acabam também englobando as relações dos homens entre si, em termos de proprietários e não proprietários, entre os não proprietários e os meios do trabalho. Segundo a teoria do materialismo histórico, é a infra-estrutura o elemento determinante das relações sociais, isto é, da forma com vive e pensa e sociedade em geral. 2. Superestrutura: a superestrutura é o segundo nível e significa o nível político e ideológico da sociedade, determinado pela infra-estrutura. A superestrutura se constitui de dois principais ramos: a) a estrutura jurídico-política que é representada pelo Estado e pelo Direito, sendo que, na visão crítica de Marx, o Estado se coloca a serviço das classes dominantes; b) a estrutura ideológica: que se refere aos mecanismos da consciência social representados pela religião, pelas leis, pela educação e ainda: a literatura, a filosofia, a ciência, a arte etc. Também nesse campo, entende Marx, se dá a sujeição ideológica das classes dominantes, utilizando desses mecanismos para reforçar suas idéias e seus valores. A Luta de Classes, a Alienação e a Reificação do Homem Para Marx e para a doutrina do materialismo histórico, a luta de classes é que se constitui na força motriz da história e não as idéias, como afirmava o idealismo alemão. Segundo Marx, o modo de produção capitalista significou a nova SÍNTESE que nasceu das ruínas do modo de produção anterior – o feudalismo, onde se deu a contradição entre a TESE (Senhor Feudal) e a ANTÍTESE (Servo). Portanto, Marx demonstra assim que é verdadeiramente a luta de classes que movea história, entendendo luta de classes como sendo o confronto entre classes antagônicas que lutam por seus interesses (de classe). No modo de produção do CAPITALISMO, a relação antitética (isto é, em que se aplica a teoria hegeliana da TESE x ANTÍTESE = SÍNTESE) se dá entre a força da burguesia, que é a detentora do capital e dos meios de produção, e o proletariado, que nada possui e só lhe resta vender sua força de trabalho, sua mão de obra. Essa relação, segundo Marx, produz um trabalho alienado e alienante em função da exploração que é imposta ao trabalhador pelo sistema capitalista. Ao trabalhar a questão da alienação, Marx rejeita as explicações comuns que aparecem na história da Filosofia, apresentando contornos metafísicos, religiosos e morais. Para Marx, a alienação deve ser entendida a partir da análise das condições reais do trabalho humano e afirma que a alienação tem origem na vida econômica. Sua teoria é a de que o operário, ao vender no mercado sua força de trabalho, não tem mais direito sobre o produto que resultou de seu esforço, ou seja, aquele produto não mais lhe pertence e passa a ter existência própria, independente do operário que o produziu. E mais, analisa Marx: a perda do produto significa outras perdas para o operário, pois ele não mais projeta ou concebe o que vai ser produzido, estabelecendo-se assim uma dicotomia, uma separação enter a concepção e a execução do trabalho, entre o pensar e o agir; com a aceleração da produção e a 4 mecanização do trabalho, o operário executa cada vez mais pequenas operações, realizando apenas uma parte do produto; o ritmo de produção também não acompanha o ritmo natural de seu corpo, mas lhe é dado externamente, determinado pela classe dominante que detém os meios de produção. Portanto, conclui Marx, o produto final do trabalho do operário se subtrai à sua vontade, à sua consciência e ao seu controle, de modo que o produtor não se reconhece mais no produto que fabricou. O produto surge então como uma realidade fora de si mesmo, como um poder separado de quem o produziu, como uma realidade soberana e tirânica que o domina e o ameaça. Portanto, entende Marx, o modo de produção capitalista torna o trabalho alienante e alienado. A esse processo Marx denomina de fetichismo da mercadoria. Segundo a tese do fetichismo da mercadoria, o produto não é apenas o resultado da relação de produção, mas vale por si mesmo, tem valor como realidade autônoma e não apenas isso, mas passa também a ser determinante da vidas das pessoas, produzindo assim o que Marx chama de reificação do homem (do Latim res, que significa coisa). A reificação do homem é o contraponto do fetichismo da mercadoria. Quando a mercadoria “se anima e se humaniza” (por isso o termo fetichismo), obriga o homem a sucumbir às forças das leis do mercado. A conseqüência é a desumanização do homem, sua reificação. O que impede que os homens não percebam o processo de reificação no qual estão mergulhados é o poder da ideologia, que se coloca a serviço das classes dominantes. Lembremos que, em Marx, a ideologia é parte da superestrutura da sociedade. BIBLIOGRAFIA 1. ABBAGNANO, Nicola, Diccionario de Filosofia, México, Fondo de Cultura Económica, 13ª ed., 1996. 2. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, e MARTINS, Maria Helena Pires, Filosofando – Introdução à Filosofia, S. Paulo, Ed. Moderna, 2ª ed., 1999.
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