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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – UNESA CURSO SUPERIOR TECNÓLOGICO EM SEGURANÇA PÚBLICA – CSTSP WEMERSON LUIZ RODRIGUES DA SILVA A DESMILITARIZAÇÃO DA POLICIA MILITAR Artigo a ser apresentado à Banca do Exame do Curso Superior de Tecnólogo em Segurança Pública da Universidade Estácio de Sá – CSTSP/UNESA, como requisito para aprovação na disciplina de TCC em Segurança Pública. ORIENTADOR Professor M.sc. Genésio Gregório Filho Vila velha – ES Agosto de 2017 2 ¹Wemerson Luiz Rodrigues graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: wemerson2210gmail.com ² Professor orientador Genésio Gregório Filho UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: genesio.filho@estacio.br A DESMILITARIZAÇÃO DA POLICIA MILITAR THE DEMILITARIZATION OF THE MILITARY POLICE Wemerson Luiz Rodrigues da Silva¹ Genésio Gregório Filho² RESUMO O presente artigo aborda a desmilitarização e suas implicações diretas e imediatas na investidura do policial militar, em relação a seus direitos e deveres constitucionais, visa demostrar importância da preservação da estrutura militar da polícia ostensiva denominada polícia militar, e abordar a importância das atividades desenvolvidas por ela no cumprimento da atribuição constitucional de preservação da ordem. Presente no cotidiano da sociedade a polícia militar é identificada por meio de seus representantes legais os quais circulam devidamente identificados por fardamento padronizado e veículo denominado viatura, de fácil visualização objetivando coibir ações criminosas por meio de patrulhamento e demonstração de força. A Constituição Federal em seu Art. 144 deixa clara a separação das forças de segurança pública bem como a função de cada uma delas. Apesar disso, tramita no Congresso Nacional uma proposta de Emenda Constitucional nº 051 a qual propõe a extinção das polícias militares estaduais de modo que nos estados brasileiros haja uma instituição policial responsável pelas atividades ostensivas, preventivas, investigativas e de persecução criminal desmilitarizando assim a polícia militar. Palavras-chave: Desmilitarização; ethos militar; policiamento comunitário. 3 ¹Wemerson Luiz Rodrigues graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: wemerson2210gmail.com ² Professor orientador Genésio Gregório Filho UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: genesio.filho@estacio.br ABSTRACT This article deals with demilitarization and its direct and immediate implications for the investiture of the military police in relation to their constitutional rights and duties. It aims to demonstrate the importance of preserving the military structure of ostensive police called military police, and to address the importance of the activities developed by It in fulfillment of the constitutional attribution of order preservation. Present in the daily life of the society, the military police are identified through their legal representatives, who circulate properly identified by standardized uniforms and vehicles called vehicles, which are easy to visualize, aiming to curb criminal actions through patrolling and demonstration of force. The federal constitution in its article 144 makes clear the separation of the public security forces as well as the function of each of them. Nevertheless, a proposal for Constitutional Amendment No. 051 is in progress at the national congress, which proposes the extinction of the state military police so that in the Brazilian states there is a police institution responsible for ostensible, preventive, investigative and criminal prosecution activities, thus demilitarizing the military police. Keywords: Demilitarization; Military ethos; Community policing. 4 ¹Wemerson Luiz Rodrigues graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: wemerson2210gmail.com ² Professor orientador Genésio Gregório Filho UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: genesio.filho@estacio.br 1. INTRODUÇÃO A criação da Polícia Militar no Brasil remonta à visita da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808. À época, uma Guarda Real foi instituída para zelar pela segurança dos nobres, dando origem ao primeiro grupamento do tipo no País. As constituições imperiais, posteriormente, já contemplavam a existência desse tipo de força de segurança nos estados. Grande parte da história nacional apresenta horizontes relacionados às forças militares brasileiras, recebem o mesmo crédito as polícias militares pertencentes aos Estados, as quais tiveram efetiva participação nas questões relacionadas aos conflitos internos, como a inconfidência mineira, a guerra do contestado, a revolução federalista, destaca-se, ainda, a efetiva participação destas instituições nos conflitos externos, como a guerra do Paraguai, onde as tropas pertencentes à Polícia Militar do Paraná e as forças armadas brasileiras, contra as tropas de Solano Lopez. Cada estado brasileiro possui uma força de segurança cuja função é realizar um policiamento ostensivo e preservar a lei e a ordem pública. Subordinam-se aos governadores estaduais e compõem uma reserva das Forças Armadas nacionais. A estrutura de organização da Polícia Militar corresponde àquela adotada pelo Exército, com a divisão em regimentos, batalhões e companhias, bem como a hierarquia nos postos de comando. As principais divisões da PM nos estados brasileiros são o Comando de Policiamento de Área, o Batalhão de Polícia Militar, a Companhia de Polícia Militar, o Pelotão de Polícia Militar, o Destacamento de Polícia Militar e o Posto de Policiamento Comunitário. Atualmente existem propostas no Congresso Nacional, para alteração do sistema de segurança pública, em específico os modelos das polícias estaduais, dentre elas, a Proposta de Emenda Constitucional n° 51/2013. Tal proposta visa alterar os dispositivos constitucionais dos art. 21, 24 e 144 da Constituição Federal/88 e acrescenta outros, reestruturando o modelo de segurança pública a partir da 5 ¹Wemerson Luiz Rodrigues graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: wemerson2210gmail.com ² Professor orientador Genésio Gregório Filho UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: genesio.filho@estacio.br desmilitarização do modelo policial brasileiro, definindo o prazo máximo de 6 anos para a implementação das mudanças. Dentre as propostas estão a Desmilitarização, Carreira Única, Ciclo Completo, Estruturação de Policias Civis nos âmbitos Federal, Estadual e Municipal. No entanto o objeto deste estudo é tão somente acerca da desmilitarização, que por si só é bastante controverso, em face da pouca discussão técnica, acadêmica e científica sobre o tema e suas implicações na investidura dos policiais militares. De maneira geral, avaliam-se as implicações da desmilitarização na investidura dos policiais militares, em relação a seus direitos e deveres constitucionais, em comparação com as disposições da PEC nº 51/2013, sendo os objetivos específicos caracterizar a gênese e a evolução do modelo policial militarizado, pontuar os aspectos da desmilitarização do modelo policial e identificar os direitos e deveres constitucionais inerentes à investidura militar. (https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/materia/114516) Quanto ao método de pesquisautilizou-se a pesquisa bibliográfica e documental como metodologia, com a finalidade de desenvolver, esclarecer conceitos e ideias, em face do problema posto e hipótese formulada, proporcionando uma visão geral, utilizando livros, legislação, artigos, trabalhos científicos e sites, tendo-se o cuidado de analisar em profundidade as informações, confrontando-se entre autores e versões diversas, evitando-se incoerências ou contradições. 6 ¹Wemerson Luiz Rodrigues graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: wemerson2210gmail.com ² Professor orientador Genésio Gregório Filho UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: genesio.filho@estacio.br 2. DESENVOLVIMENTO Observa-se que a nomenclatura “Polícia Militar” é a conjugação da atividade de polícia com a estética, a ética e o ethos militar, para Freitas e Almeida (2007, p. 54-56) a construção do ethos não só desenvolve características explícitas, mas também valores que complementam a rigidez e o garbo militar, a presteza no atendimento das ordens, a negação do medo, a defesa do grupo a que pertence, valores estes notórios durante a formação profissional do policial militar. Moldada ao longo da história da sociedade. Constitucionalmente a corporação é reserva e força auxiliar do exército juntamente com o corpo de bombeiros militar. Isso implica que a sua formação é diferente dos agentes civis, tendo como princípios gerais a hierarquia e disciplina que proporciona efetivo controle administrativo e comportamental. Outra característica impar dos militares é a atividade de patrulhamento ostensivo que consiste em fiscalizar comportamentos e atividades, regular ou manter a ordem pública, reprimindo crimes, contravenções dentre outras zelando pelo respeito dos indivíduos à legislação. A estética militar é o conjunto de estímulos destinados a despertar ou internalizar no militar uma ética especial, cujo conteúdo são valores como o sentimento exaltado do dever, e o culto à hierarquia e à disciplina. Manifesta-se por meio do cerimonial militar, de gestos, de atitudes, de todo comportamento que materialize a obediência (seja às ordens dos superiores, seja ao ordenamento jurídico do estado) e da disposição incondicional de cumprir o dever. Engloba, dessa forma, valores como o culto à bandeira e demais símbolos nacionais, os sinais de respeito ao superior e ao subordinado, a prática da ordem unida, etc. (CAMARGO 1997, p. 13) Atualmente as organizações militares têm aderido à filosofia de Polícia Comunitária, que visa a participação social envolvendo a comunidade na busca de soluções para a segurança e nos serviços ligados ao bem comum, trabalhando com o máximo de convivência com a comunidade como forma de ampliar a relação de 7 ¹Wemerson Luiz Rodrigues graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: wemerson2210gmail.com ² Professor orientador Genésio Gregório Filho UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: genesio.filho@estacio.br confiança entre o policial e o cidadão. O principal conceito que se tem da polícia comunitária é a sua possibilidade de fazer uma aproximação entre os profissionais que trabalham na segurança pública e os moradores da comunidade onde eles atuam. Um dos eixos centrais da proposta filosófica da polícia comunitária é justamente humanizar sempre que possível o trabalho dos seus profissionais. Polícia comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona uma parceria entre a população e a polícia, baseada na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos, como crimes, drogas, medos, desordens físicas, morais e até mesmo a decadência dos bairros, com o objetivo de melhorar a qualidade geral de vida na área. (http://pm.to.gov.br/policia-comunitaria/) O forte conteúdo histórico eleva as instituições policias militares ao status de organizações de referência, influenciando outras organizações com a adoção de procedimentos e técnicas pelas equipes táticas pertencentes às polícias civis e diversas outras instituições policiais, influenciando também, no modelo de organização estrutural das guardas municipais. Entre os principais argumentos que sustentam a desmilitarização, está a que o fato de os policiais serem treinados via padrões militares são produtores naturais de violência e que devido a isso são ineficientes para a atividade de policiamento como argumenta Felipe Lazzari (2013, p. 2), – sob uma rígida hierarquia, onde os agentes recebem treinamento militar direcionado ao enfrentamento do inimigo, naturalmente estabelecem o padrão de atuação violento. Analistas e organizações civis que defendem a desmilitarização, apontam que uma das causas da violência policial é a estrutura militar que identifica o cidadão como inimigo e criminaliza as classes sociais menos favorecidas A desmilitarização é um viés defendido pela proposta, a qual justifica que para a Polícia Militar implicaria em uma reestruturação profunda na sua reorganização, quanto à divisão interna de 8 ¹Wemerson Luiz Rodrigues graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: wemerson2210gmail.com ² Professor orientador Genésio Gregório Filho UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: genesio.filho@estacio.br funções, na formação, treinamento e normas que regem o trabalho policial, na transformação do padrão de atuação da instituição, mantendo a hierarquia e substituindo a excessiva rigidez por maior autonomia para o policial, com maior controle social e transparência. Na sua justificativa, são expostos argumentos incisivos como, por exemplo, no tocante à atuação da Polícia Militar: “A função de policiar as ruas é exclusiva de uma estrutura militarizada, força de reserva do Exército – a Polícia Militar – formada, treinada e organizada para combater o inimigo, e não para proteger o cidadão [...]”. Em seu bojo, nota-se a previsão de cláusula que, em tese, preservaria todos os direitos, inclusive aqueles de caráter remuneratório e previdenciário, dos profissionais de segurança pública, civis e militares. (BRASIL, 2013a) Sob aspectos práticos a desmilitarização pode ser entendida como retirar o papel constitucional das polícias militares como força auxiliar e reserva do Exército Nacional; desvincular as polícias da coordenação e controle da Inspetoria Geral das Polícias Militares (IGPM)3; desvincular o processo e julgamento do policial militar da Justiça Militar Estadual; desprover o policial militar de sua investidura constitucional e consequentemente de seus direitos e deveres expressos na Carta Magna; tornar toda a legislação afeta às Polícias Militares insubsistente, como as normas constitucionais federal e estadual, Lei do Serviço Militar, Código Penal e de Processo Penal Militar, Estatuto, Lei de Organização Básica, Lei de Remuneração, Regulamento de Continências, Regulamento Disciplinar, dentre outras; retirar a estética, a ética e o ethos militar da corporação policial. Por outro lado, em sentido de que sejam preservadas as estruturas das polícias militares, argumenta Assis (1992, p. 14), – frente às críticas e declarações de autoridades diversas e políticos em relação ao tema – que o aumento da criminalidade e da violência Brasil não resulta da deficiência das polícias militares, mas de uma má distribuição de riquezas. Para Brisolla 6 (2003, p. 47) os problemas afetos à violência policiale à ineficiência das organizações policiais, não se encontram no modelo ou estética 9 ¹Wemerson Luiz Rodrigues graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: wemerson2210gmail.com ² Professor orientador Genésio Gregório Filho UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: genesio.filho@estacio.br adotado pelas organizações, mas em aspectos mais profundos, os quais exigem uma mudança na cultura organizacional, ou seja, a desmilitarização não se apresenta como medida eficaz, mas superficial e de cunho político em resposta ao clamor público ou que provém de pessoas com pouco esclarecimento a respeito das questões de segurança pública. 10 ¹Wemerson Luiz Rodrigues graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: wemerson2210gmail.com ² Professor orientador Genésio Gregório Filho UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: genesio.filho@estacio.br 3. CONCLUSÃO A preservação das estruturas das instituições policiais militares é notória, evidente e indiscutível, portanto ao identificar a desmilitarização das polícias como solução para os problemas na área de segurança pública comete-se um claro equívoco desviando- se das nítidas razões que assolam a segurança pública brasileira. Não se pode afastar a necessidade de mudanças em relação ao modelo de segurança pública brasileiro, porém estas mudanças devem ir além do âmbito da cultura das organizações policiais por serem superficiais e inócuas. As polícias militares possuem uma grande relevância no contexto histórico nacional, o que dá credibilidade junto à sociedade, servindo-se de elemento relacionado à identidade das instituições. Conforme Teza (2013, p. 36) o conhecimento das pessoas sobre o tema é muito pequeno e limitado, “justamente porque geralmente repercutem o que ouviram dizer de outros, inclusive os ditos especialistas que, na maioria das vezes, sem possuir o domínio completo do tema, acabam por influenciar as pessoas menos avisadas. 11 ¹Wemerson Luiz Rodrigues graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: wemerson2210gmail.com ² Professor orientador Genésio Gregório Filho UNESA – Universidade Estácio de Sá - Email: genesio.filho@estacio.br REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. CONSTITUIÇÃO. FEDERAL. Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm PRIORE, Mary Del. VENANCIO, Renato. Uma Breve História do Brasil. São Paulo: Planeta, 2010. PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO nº 51, de 2013 https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/114516 acesso em agosto de 2017. CAMARGO, Carlos Alberto de. Estética militar e instituições policiais. PMESP. São Paulo, 1997 . Polícia comunitária. http://pm.to.gov.br/policia-comunitaria/ acesso em agosto de 2017. BRISOLLA BALESTRERI, Ricardo. Direitos Humanos, coisa de polícia. 3. ed. rev. amp. Passo Fundo: Berthier, 2003.
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