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Autoestima como fator de criatividade Alessandra Jungblut Introdução Situações difíceis podem causar desânimo e falta de motivação para desenvolver a criatividade. Experiências como rejeição, fracasso e críticas excessivas podem afetar de maneira negativa o indi- víduo e conduzir a um autoconceito negativo e a um sentimento de baixa autoestima. Desenvolver a autoestima permite ao ser humano obter maior confiança em seu potencial criativo. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • identificar as aflições que obstaculizam a criatividade; • conhecer as características valorativas que estimulam a criatividade; 1 Os sofrimentos psíquicos que impedem a criatividade Segundo Bock et al (2009), o sofrimento psíquico pode acontecer com qualquer pessoa e advém de situações altamente estressantes ou mesmo da perda de alguém próximo. É possível superar essas situações sem comprometer a adaptação social, ou seja, o indivíduo continua com suas atividades rotineiras criando formas de canalizar produtivamente este mal-estar. O sofrimento pode acarretar desânimo e falta de motivação. Segundo Predebon (2010), essas características dificultam o engajamento e os processos de criatividade e inovação. Em casos patológicos, não só inibem a criatividade como também os tornam pessoas infelizes e evi- tadas pelo meio social. Segundo Winnicott (1975 apud Franco, 2010), o viver infeliz é aquele no qual não existe o elemento criativo. A criatividade é a experiência de sentir o valor da vida e essa capacidade é desenvolvida já na primeira infância. Algumas pessoas, no entanto, apenas reagem às situações cotidianas e sua criatividade desaparece devido à falta de estímulos, restando apenas ações com- pulsivas e ausência de liberdade. Sobre essa questão, Freud (1996 apud Franco, 2010), aponta a submissão como uma forma não criativa de lidar com a realidade. Uma vida saudável é aquela em que há a aceitação da realidade e a intenção de transformá-la por meio do ato criativo. EXEMPLO Em um relacionamento amoroso, no qual não há respeito e aceitação da individuali- dade do outro, há o risco de um dos parceiros ter sua criatividade tolhida em função da falta de liberdade de expressão. Figura 1 – Autoconceito Fonte: fgnvzql/Shutterstock.com De acordo com Alencar e Fleith (2009), um aspecto importante para o desenvolvimento da criatividade é o autoconceito. Ele afeta a personalidade e pode favorecer ou restringir o potencial criativo. Em função de experiências de fracasso, rejeição e críticas excessivas, há pessoas que crescem com uma imagem extremamente negativa de si mesmas e não se sentem capazes de criar. São crenças negativas que causam sofrimento ao indivíduo ao provocar sentimentos de incapacidade, insegurança e baixa autoestima. 2 Debilidades de estima por si mesmo O autoconceito, segundo Branden (2009), é tudo o que pensamos sobre nós mesmos – características físicas, psicológicas, pontos positivos e negativos – e a autoestima faz parte do autoconceito como um componente avaliador de adequação ou inadequação. SAIBA MAIS! Leia este artigo sobre autoestima, autoconceito e autoimagem publicado na Revista Equilíbrio Corporal e Saúde. Acesse: <http://www.pgsskroton.com.br/seer/index. php/reces/article/view/22/19>. A autoestima envolve sentimentos de competência pessoal e de valor pessoal e é definida como a “(...) soma da autoconfiança com o autorrespeito. Ela reflete o julgamento implícito da nossa capacidade de lidar com os desafios da vida (entender e dominar os problemas) e o direito de ser feliz (respeitar e defender os próprios interesses e necessidades) ” (BRANDEN, 2009, p. 10-11). Para Rosenberg (1989 apud Assis e Avanci, 2004), a autoestima é uma atitude, uma avaliação que o indivíduo faz de si mesmo e que pode ser tanto positiva (aprovação) como negativa (desa- provação). A forma como nos sentimos com relação a nós mesmos afeta diretamente nossas experiências em vários setores da vida e o modo como reagimos às situações. A baixa autoestima faz o indivíduo sentir-se desajustado como pessoa; ele não se sente merecedor e competente. São pessoas que sofrem com a insegurança, a dúvida, a culpa, o medo de participar plenamente da vida e uma vaga sensação de não ser bom o suficiente. Nem sempre esses sentimentos são conscientes, mas estão enraizados no indivíduo. Pessoas com baixa autoestima podem ser amadas pela família, admiradas pelos amigos e colegas de trabalho e, ainda assim, não conseguirem amar a si mesmas. Indivíduos que obtêm sucesso podem se sentir como impostores caso não consigam desenvolver uma autoestima posi- tiva (BRANDEN, 2009). Figura 2 – O ciclo da baixa autoestima Fracasso realBaixa autoestima Baixa expectativa de desempenho Esforço reduzido Alta ansiedade Fonte: FELDMAN, 2015. De acordo com Feldman (2015), algumas pessoas possuem um sentimento crônico de baixa autoestima e o fracasso é visto como algo inevitável em suas vidas. Essa crença eleva o nível de ansiedade desses indivíduos, tornando as tarefas mais difíceis de serem executadas e ocasio- nando o insucesso – o que confirma sua crença. É um ciclo autodestrutivo onde as consequências negativas reforçam o sentimento de baixa autoestima. FIQUE ATENTO! A falta de autoestima pode gerar ansiedade, comprometer o bom desempenho e ser autodestrutiva. 3 Como desenvolver a autoestima O desenvolvimento da autoestima, de acordo com Assis e Avanci (2004), tem início na infân- cia. As experiências nesse período moldam a opinião que a criança terá sobre si mesma e atos constantes de humilhação, depreciação e punições podem contribuir para a formação de crenças negativas. Porém, pessoas significativas para a criança (família, por exemplo) podem ensiná-la a enfrentar as dificuldades e a ter autoconfiança. Segundo Branden (2009), a verdadeira autoestima não envolve competitividade e compara- ções, ou seja, sentir-se melhor que os demais ou superestimar as próprias habilidades não reflete o sentimento de autoestima. Para ter autoestima não é preciso ser perfeito. EXEMPLO Posso compreender aspectos negativos a respeito de meu comportamento e ainda assim gostar de mim mesmo e me aceitar. Para Adler (1964 apud FEIST, FEIST E ROBERTS, 2015), cada pessoa é livre para criar seu estilo de vida. Embora a personalidade seja formada por aspectos genéticos e sociais, o indivíduo é ator em seu próprio ambiente e é capaz de desenvolver autoestima. Figura 3 – Criar a si mesmo Fonte: pathdoc/Shutterstock.com Para desenvolver a autoestima e sentimentos de autoconfiança e respeito próprio, Branden (2002) apresenta seis pilares: 1. Viver conscientemente: ter consciência da realidade e das próprias ações, objetivos e valores. Aceitar a realidade é estar aberto às experiências; 2. Autoaceitação: aceitar-se como é, reconhecendo seus sentimentos e seu próprio valor independente de aprovação ou desaprovação; 3. Viver com responsabilidade: assumir responsabilidade pelas próprias escolhas e ações; conquistar o que se deseja sem esperar ou culpar os outros; manter uma atitude ativa; 4. Autoafirmação (autenticidade): evitar fingir para ser aceito, valorizar a sua própria ver- dade; fingir implica em rejeitar a si mesmo; pessoas autênticas sabem ser elas mes- mas e se mostram assim para o mundo; 5. Viver com um propósito: ter objetivos e lutar por eles com disciplina, perseverança e confiança no próprio potencial; 6. Viver com integridade: agir de acordo com os próprios ideais e valores, ser coerente. FIQUE ATENTO! Pessoas com baixa autoestima desde a infância podem desenvolver a autoestima durante a vida e aprender a ter sentimentos positivos sobre si mesmas. 4 Relações entre a alta autoestima e a criação criativa Segundo Predebon (2010), o autoconhecimento permite que o indivíduotenha consciência de si mesmo e consequentemente obtenha um aumento de sua autoestima, que, por sua vez, pro- piciará maior segurança para desenvolver a atividade criativa e para enfrentar as consequências positivas (aceitação social) ou negativas de seus resultados. Isso porque o novo pode gerar oposição entre o grupo social, e a autoestima permite a sereni- dade necessária para lidar com críticas sem perder a motivação de continuar criando. Para Ashton (2016), a pessoa criativa comete erros, está exposta à rejeição e os maiores criadores são os mais críticos de si mesmos. Figura 4 – Brincando com as ideias Fonte: Sunny studio/Shutterstock.com Por isso, sentimentos positivos a respeito do próprio valor são tão importantes – o que deter- mina o sucesso no processo criativo não é o nível de inteligência, de talento ou de esforço, mas principalmente, a reação perante às adversidades da criação. SAIBA MAIS! O filme “Julie e Julia” apresenta a história de duas mulheres em épocas diferentes que enfrentaram adversidades, confiaram em seu potencial criativo e desenvolveram a persistência em busca de seus objetivos. Acesse em: <https://www.youtube.com/ watch?v=qqQICUzdKbE>. Oech (1988) afirma que pessoas criativas são aquelas que acreditam em seu potencial. Quem vê a si mesmo como criativo sente liberdade para brincar com o conhecimento e valoriza até mesmo as pequenas ideias. Essa liberdade é descrita por Predebon (2010) como leveza, oti- mismo e jovialidade. É uma característica de pessoas excepcionalmente criativas. Além disso, a própria prática criativa propicia o crescimento e alimenta aspectos positivos de nossa individua- lidade, permitindo maior incremento na autoestima. FIQUE ATENTO! Autoestima é importante para a criatividade – indivíduos conscientes de seu pró- prio valor não desistem facilmente e possuem a estrutura necessária para enfrentar eventuais críticas. Fechamento Ao final desta aula, você teve a oportunidade de: • aprender sobre o sofrimento psíquico e sua influência no desempenho criativo; • identificar os conceitos de autoestima e autoconceito; • compreender o que é a baixa autoestima e sua relação com a criatividade; • conhecer alguns aspectos que facilitam o desenvolvimento da autoestima. Referências ALENCAR, Eunice e FLEITH, Denise. Criatividade: múltiplas perspectivas. 3. ed. Brasília: UNB, 2009. ASHTON, Kevin. A história secreta da criatividade. Rio de Janeiro: Sextante, 2016. ASSIS, Simone Gonçalves e AVANCI, Joviana Quintes. Labirinto de espelhos: formação da autoes- tima na infância e na adolescência. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004. BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair e TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. BRANDEN, Nathaniel. Como aumentar sua autoestima. Rio de Janeiro: Sextante, 2009. _________________ Autoestima e os seus seis pilares. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. FELDMAN, Robert S. Introdução à Psicologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. FEIST, Jess; FEIST, Gregory e ROBERTS, Tommi-Ann. Teorias da Personalidade. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. FRANCO, Sérgio de Gouvêa. Sofrimento e o viver criativo. Revista Liceu On-Line - FECAP, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 12-15, 2010. OECH, Roger Von. Um toc na cuca. 12. ed. São Paulo: Editora de Cultura, 1988. PREDEBON, José. Criatividade: abrindo o lado inovador da mente. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
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