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RESUMÃO AV2 CIVIL I

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Fato Jurídico
Fato Jurídico Lato Sensu(amplo): todo fato que produz efeitos jurídicos, seja pela criação, modificação, extinção ou conservação de direitos e deveres, capaz de produzir efeitos jurídicos. De acordo com a função na relação jurídica, os fatos jurídicos podem ser classificados em:
-constitutivos: são os fatos que criam uma relação jurídica. 
- extintivos: os fatos que põem fim a uma relação jurídica.
-modificativos: aqueles que alteram uma relação jurídica já existente.
Fato Juridico Sentido Estrito: ou natural, é uma ação da natureza, ou seja, acontecimentos que advêm de fenômenos naturais, sem intervenção da vontade humana, e que produzem efeitos jurídicos. Se classificam em:
- Extraordinário: fatos incomuns da vida, isto é, os fatos do acaso: caso fortuito e força maior. O tempo não determina. Tanto o caso fortuito como a força maior são excludentes de responsabilidade civil. Exemplos: raios, terremotos, tsunamis, tempestades etc.
- Ordinário: fatos de ocorrência comum que tem importância para o Direito, o tempo de termina. Exemplos: a concepção e o nascimento, que determinam o início da personalidade jurídica; a morte, que põe fim à mesma personalidade; a maioridade, que confere à pessoa capacidade civil plena; Pode-se considerar a prescrição e a decadência como exemplos de fatos jurídicos naturais ordinários, pois o simples decurso do tempo produz consequências jurídicas: a prescrição extingue a pretensão, e a decadência extingue o direito.
Fato Jurídico Humano: também conhecido como fato jurídico voluntário ou fato jurígeno, é toda conduta humana, comissiva ou omissiva, que gera consequências jurídicas. É caracterizado pela presença da vontade humana (elemento volitivo). Se classifica em:
- Ilícito: todo comportamento humano contrário ao ordenamento jurídico: lei, moral, ordem pública e bons costumes. No Direito Penal, a importância do ato ilícito está na caracterização do crime e sua punição. No Direito Civil, a preocupação do estudioso do Direito está na apuração da responsabilidade patrimonial pelos danos causados. Sua definição está presente no artigo 186 CC. O abuso de poder se caracteriza também como ato ilícito, presente no artigo 187 CC. O ato ilícito previsto no art. 186 é duplamente ilícito: ilícito em seu conteúdo (viola direito) e em sua consequência (causa dano a outrem). O abuso de direito é parcialmente ilícito: é lícito em seu conteúdo (há um direito legítimo), mas ilícito em suas consequências (causa dano a outrem). 
_não se caracteriza como artigo ilícito segundo artigo 188 CC:
 I – os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; 
 II – a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
- Lícito: ou ato jurídico em sentido amplo (lato sensu) é toda ação humana, manifestação de vontade, que estando de acordo com o ordenamento, é capaz de produzir efeitos na órbita jurídica.
 -Se divide em três:
Ato Jurídico em Sentido Estrito (stricto sensu): todo comportamento humano lícito capaz de gerar consequências jurídicas impostas por lei, tanto o conteúdo do ato como as suas consequências estão predeterminados na lei. A vontade humana não tem o condão de determinar ou modificar os efeitos previstos na lei, sua eficácia é ex lege (por força da lei). Exemplos: perfilhação (reconhecimento voluntário de filho/a), notificação para constituição em mora, a fixação de domicílio voluntário e o pagamento.
2- Negócio Jurídico: é todo comportamento humano lícito capaz de gerar consequências jurídicas permitidas pela lei e desejadas pela pessoa. Tanto o conteúdo do negócio como os seus efeitos são determinados pela vontade das partes, gozando, portanto, de eficácia ex voluntate. É no Negócio Jurídico que a autonomia privada se manifesta em sua plenitude, criando um instituto jurídico próprio voltado à composição do interesse das partes, que buscam alcançar um objetivo (finalidade) permitido pela lei. 
Exemplos: contratos, a promessa de recompensa, o testamento etc.
3- Ato-fato Jurídico: espécie de fato jurídico qualificado pela conduta humana sem se levar em consideração a vontade de praticar o ato ou não, ou seja, não importa a intenção da pessoa que realizou o ato, se houve ou não vontade de praticá-lo, tendo relevância apenas os efeitos que o ato produziu. 
Exemplos: como a caça, a pesca, a comissão, o achado do tesouro, a especificação etc. Procurando facilitar a compreensão do instituto, podemos imaginar uma criança de 10 anos de idade que pescou um peixe no mar. Ela será a dona do peixe, não tendo qualquer relevância o fato de ser absolutamente incapaz.
Negócios Jurídicos
De todas as espécies de atos jurídicos, o mais importante é o negócio jurídico.
Classificações: 
-Manifestação quanto a vontade: a vontade é pressuposto básico do negócio jurídico e é imprescindível que se exteriorize. A Manifestação de vontade pode ser tácita, quando a lei não exigir que seja expressa.
Expressa – é a palavra escrita ou falada, gestos, mímica, etc. 
Tácita – é a que se infere da conduta do agente.
-Silêncio: presente no artigo 111 CC “o silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”. Portanto, o silêncio pode ser interpretado como manifestação tácita da vontade quando a lei der a ele tal efeito (ex.: doação pura – art. 539º - CC, mandato – art. 659º CC), ou quando tal efeito ficar convencionado em contrato, ou ainda, resultar dos usos e costumes (art. 432º CC).
 
- Reserva Mental: presente no artigo 110 CC “a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento”. Ocorre quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção, isto é, quando não quer um efeito jurídico que declara querer. Tem por objetivo enganar o outro contratante ou declaratário. Se este, entretanto, não soube da reserva, o ato subsiste e produz os efeitos que o declarante não desejava. A reserva, isto é, o que se passa na mente do declarante é indiferente ao mundo jurídico e irrelevante no que se refere à validade e eficácia do negócio jurídico. Se o declaratário conhece a reserva, a solução é outra. No sistema do atual CC, configurasse hipótese de ausência de vontade, considerando- se inexistente o negócio jurídico.
- A reserva mental é a emissão de uma vontade não desejada em seu conteúdo nem em suas consequências.
- Quando o negócio jurídico é celebrado sem que a outra parte tenha conhecimento da reserva mental do agente, o negócio será válido. Entretanto se a outra parte tiver conhecimento da reserva mental, o negócio não existirá. 
Classificação pelo livro
Unilaterais: são os negócios jurídicos formados pela declaração de vontade de apenas uma pessoa (p. ex.: testamento, renúncia de crédito, promessa de recompensa). Subdividem-se em: a) receptícios: aqueles em que a declaração de vontade deve ser levada ao conhecimento do destinatário para que produza efeitos. Ex.: promessa de recompensa.
b) não receptícios: aqueles em que o conhecimento do destinatário é irrelevante. 
Ex: testamento. 
Bilaterais: aqueles em que há duas manifestações de vontade. Os contratos, por exemplo, exigem, ao menos, dois contratantes, duas manifestações de vontade. 
Plurilaterais: são os negócios jurídicos em que há mais de duas pessoas com interesses coincidentes. Essa situação é comumente verificada em alguns contratos, como o de incorporação imobiliária.
-Quanto às vantagens para as partes 
Gratuitos: são os negócios jurídicos representados por atos de liberalidade, isto é, atos que outorgam vantagens sem exigir uma contraprestação. 
 Exemplos: contrato de doação pura, contrato de comodato, testamento etc. 
Onerosos: são aquelesnegócios que envolvem sacrifícios e vantagens patrimoniais para todos os envolvidos. 
 Exemplos: contrato de compra e venda, contrato de locação etc. 
Bifrontes: são os negócios jurídicos que, de acordo com a vontade das partes, podem ser gratuitos ou onerosos. 
 Exemplos: contrato de depósito, contrato de mútuo, contrato de mandato etc.
Neutros: são aqueles que não podem ser enquadrados na categoria de gratuitos nem de onerosos. Os negócios jurídicos neutros caracterizam-se pela ausência de atribuição patrimonial. 
 Exemplos: instituição de bem de família (Código Civil, arts. 1.711 a 1.722), cláusula de inalienabilidade, incomunicabilidade ou impenhorabilidade etc.
-Quanto ao momento da produção dos efeitos:
Inter vivos: são os negócios jurídicos que têm por objetivo a produção de efeitos durante a vida dos participantes. Como exemplos de negócios inter vivos, podem ser citados os contratos, a promessa de recompensa, o pacto antenupcial. Eventualmente, podem continuar produzindo efeitos após a morte, como ocorre com alguns contratos.
Mortis causa: são aqueles que somente produzem efeitos após a morte da pessoa que manifestou a vontade. A morte é considerada requisito de eficácia do negócio jurídico. Exemplos: testamento e codicilo (ato simplificado de última vontade, para as disposições de pequena monta).
-Quanto à forma: 
Solenes ou formais: são os negócios jurídicos que devem seguir uma solenidade ou formalidade imposta pela lei para que sejam válidos. Quando são requisitos de validade, diz-se que a solenidade ou a formalidade são do tipo ad solemnitatem ou ad substantiam. A sua não observância determina a nulidade do negócio jurídico, conforme previsão do art. 166 do Código Civil, exemplo: testamentos, contrato de compra e venda ou doação de imóvel com valor superior a trinta salários mínimos. Quando são exigidas apenas para a prova do ato, são consideradas ad probationem tantum, o art. 227 do Código Civil determina que, salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. 
Não solenes ou informais: são os negócios jurídicos que têm forma livre. No Direito Civil, os negócios são, em regra, não solenes e informais. O art. 107 do Código Civil dispõe que “a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. Exemplo: os contratos de comodato (contrato unilateral e gratuito, pelo qual alguém (comodante) entrega a outrem (comodatário) coisa infungível, para ser usada temporariamente e restituída no tempo combinado) e de locação podem ser celebrados verbalmente.
-Quanto à independência ou autonomia 
Principais (ou independentes): são os negócios jurídicos que têm existência própria, não dependendo de qualquer outro para que tenham validade ou eficácia. A locação é um exemplo clássico de contrato principal.
Acessórios (ou dependentes): são aqueles cuja existência está subordinada a outro negócio jurídico. Exemplos: a cláusula penal e os contratos de fiança, hipoteca, penhor e anticrese.
-Quanto às condições pessoais dos negociantes
Impessoais: são os negócios jurídicos que independem da condição pessoal dos envolvidos. Se uma das partes não cumprir a obrigação assumida, outra pessoa poderá cumpri-la. Essa situação é comum em diversos contratos: na compra e venda, por exemplo, havendo a morte de um dos contratantes, seus herdeiros são obrigados a cumprir o contrato. 
Pessoais: também conhecidos como personalíssimos ou intuitu personae, são os negócios jurídicos que dependem de condição pessoal dos negociantes, havendo obrigação infungível (insubstituível). Em caso de morte, os herdeiros não são obrigados a cumprir o contrato , ex: contrato de prestação de serviço e contrato de fiança.
-Quanto à causa determinante
Causais (ou materiais): são os negócios jurídicos em que o motivo consta expressamente do seu conteúdo. Exemplo: termo de separação ou divórcio. 
Abstratos (ou formais): são aqueles em que a razão não está inserida no conteúdo. Exemplo: termo de transmissão da propriedade; simples emissão de título de crédito etc.
-Quanto ao momento da eficácia 
Consensuais: são os negócios jurídicos que se consideram formados a partir do momento em que há acordo de vontades. Exemplo: compra e venda pura. 
Reais: são os negócios que somente se aperfeiçoam após a entrega do objeto. Exemplos: contrato de comodato, contrato de depósito e contrato estimatório.
-Quanto à extensão dos efeitos 
Constitutivos: são os negócios jurídicos que geram efeitos ex nunc (não retroativos), a partir de sua celebração para o futuro. Em geral os contratos têm eficácia constitutiva. 
Declarativos: são aqueles que produzem efeitos ex tunc (retroativos), a partir do momento em que ocorreu o fato que constitui seu objeto. Como exemplo de negócio declarativo, temos a partilha de bens na sucessão de uma pessoa, que retroage ao momento da morte.
-Elementos Constitutivos Do Negócio Jurídico
Divide-se em três:
Elementos essenciais- são aqueles que conferem a estrutura do negócio jurídico. São os requisitos indispensáveis à existência e à validade do negócio celebrado. Podem ser:
Gerais: são os elementos mínimos exigidos em todos os negócios jurídicos. Ex: objeto lícito. E correspondem aos requisitos que compõem os planos de existência e validade na teoria de Pontes de Miranda
Especiais: são aqueles exigidos somente para determinados negócios. Ex: na compra e venda são elementos essenciais a coisa, o preço e o consentimento.
Elementos naturais- são as regras comuns a determinados negócios jurídicos, sem que seja necessária sua previsão expressa no contrato. Da própria natureza do negócio celebrado, podem ser extraídas algumas consequências determinadas pela lei. Como exemplo de elemento natural, podemos citar a responsabilidade pelo vício redibitório (prevista nos arts. 441 e seguintes do Código Civil) nos contratos comutativos (p. ex.: contratos de compra e venda).
Elementos acidentais: são cláusulas que as partes podem inserir nos negócios jurídicos com o objetivo de alterar a sua eficácia natural. Normalmente o negócio jurídico produz efeitos imediatamente após a sua formação. Então, quando as partes desejam postergar o início da produção dos efeitos ou determinar o momento em que cessarão os efeitos de um negócio, podem (porque se trata de uma faculdade, poder de agir) inserir um elemento acidental. Como exemplos destes, temos a condição, o termo e o modo/encargo.
-Planos do Negócio Jurídico (Escala Ponteana)
Se não forem preenchidos os requisitos de existência, o negócio jurídico será inexistente. Se não forem preenchidos os requisitos de validade, o negócio será inválido, podendo ser nulo ou anulável, a depender da situação específica. E se não forem preenchidos os requisitos de eficácia, o negócio será ineficaz. Entretanto o Código Civil de 2002 não adotou plenamente a escala pontena, deixando de fora o plano de existência. 
-Plano de existência : compreende os elementos mais básicos do negócio jurídico: agente, objeto, vontade e forma. Esses elementos (substantivos) serão adjetivados, ou seja, têm suas qualidades examinadas somente no plano de validade. No plano de existência exige-se apenas que o negócio contenha esses elementos e caso não estejam presentes, o negócio jurídico deverá ser considerado inexistente. Se necessário, poderá ser proposta ação declaratória de inexistência.
-Plano de validade: é a continuação do plano de existência, pois a partir dos elementos do negócio, impõe a análise dos seus requisitos. Indaga-se, desta forma, o que cada um dos elementos do negócio deve conter para que seja válido: os requisitos são as qualidades dos elementos. O art. 104 do Código Civil consta dispondo que a validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescritaou não defesa em lei.
- Para que o negócio jurídico exista ele deve conter agente (parte, sujeito etc.) e, para que seja válido o agente deve ser capaz e legitimado.
- A capacidade exigida, em princípio, é a plena, que decorre das somas da capacidade de direito/gozo, que todas as pessoas têm, com a capacidade de fato/exercício/ação, que decorre do discernimento e é normalmente adquirida com a maioridade.
- Se o agente for incapaz, também poderá ser praticado o ato desde que suprida a incapacidade. Os absolutamente incapazes devem ser representados nos atos da vida civil, sob pena de nulidade, o negócio será considerado nulo e deverá ser proposta ação declaratória de nulidade. Os relativamente incapazes devem ser assistidos nos atos da vida civil, sob pena de anulabilidade: o negócio será anulável, ou seja, poderá ou não ser considerado nulo, devendo ser proposta ação anulatória.
- A legitimidade é uma capacidade especial exigida para a prática de certos negócios jurídicos. Exemplificando, uma pessoa maior de dezoito anos tem capacidade para celebrar contratos de compra e venda de imóvel. Mas, se for casada, dependerá, em regra, de autorização do outro cônjuge – exemplo de legitimidade.
- Todo negócio jurídico possui um objeto, seja ele material ou imaterial, fungível ou infungível, com conteúdo econômico ou não.
- Para que o negócio seja válido, exige-se apenas que o objeto seja lícito, possível, determinado ou determinável. Se o objeto for ilícito, impossível ou indeterminado, o negócio será considerado nulo, devendo ser proposta ação declaratória de nulidade.
Objeto lícito: é aquele que está de acordo com o ordenamento jurídico, pois não ofende a lei, a moral, a ordem pública e os bons costumes. O negócio que tem objeto ilícito, além de ser nulo, pode gerar outras consequências, como a propositura de ação de reparação de danos. Também permite a aplicação do princípio geral de direito pelo qual ninguém pode se valer da própria torpeza (nemo auditur propriam turpitudinem allegans), proibindo, por exemplo, a alegação do dolo recíproco ou bilateral (Código Civil, art. 150), e o pedido de repetição de pagamento feito para obter fim ilícito ou imoral (art. 883).
Objeto possível: é aquele que pode ser realizado do ponto de vista físico e jurídico. A possibilidade física é examinada sob a luz das leis da natureza. Somente a impossibilidade física absoluta (aquela que atinge a todas as pessoas no universo) determina a nulidade do negócio. Exemplos: construir uma ponte ligando a Terra à lua; colocar toda a água do rio São Francisco em um copo etc. 
-Se a impossibilidade for relativa (atingir o devedor, mas não outras pessoas), em princípio o negócio será válido. Conforme o art. 106 do Código Civil, a impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. Se a impossibilidade não cessar até o momento do cumprimento da obrigação ou até o implemento da condição, o negócio será nulo.
Objeto determinado: é aquele que está individualizado no negócio jurídico. No estudo das obrigações o objeto determinado é o conteúdo da obrigação de dar coisa certa (Código Civil, art. 232). 
Objeto determinável: é aquele que será individualizado no futuro, contendo, de início, ao menos a indicação do gênero e da qualidade. No direito das obrigações o objeto determinável é o conteúdo da obrigação de dar coisa incerta (art. 243). Se faltar a indicação do gênero ou da quantidade, a obrigação e o negócio jurídico serão nulos. 
- A forma é o meio pelo qual se revela a manifestação de vontade do agente.
- Para que o negócio jurídico seja válido, a forma deve ser aquela prescrita ou não defesa (não proibida) em lei. Contudo, no Direito Civil, a regra é a forma livre e somente em situações excepcionais é exigida formalidade (forma escrita) ou solenidade (instrumento público). De acordo com o art. 107 do Código Civil, a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.
- Será nulo o negócio jurídico que não revestir a forma prescrita em lei ou se for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade (Código Civil, art. 166, IV e V). Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país (art. 108).
- Algumas vezes as próprias partes podem determinar que o negócio só será válido se for observada determinada forma. É o que se denomina forma contratual e está prevista no art. 109 do Código Civil: “no negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato”.
- O negócio jurídico é uma manifestação de vontade que está de acordo com o ordenamento jurídico e produz efeitos desejados pelo agente. 
- Para que o negócio seja válido, a vontade deve ser manifestada de forma livre.
Vontade livre: é aquela manifestada de forma consciente e sem qualquer um dos defeitos ou vícios do negócio jurídico: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão, fraude contra credores e simulação. 
- Erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão: denominados vícios da vontade ou do consentimento e contaminam a formação da vontade.
- Fraude contra credores e simulação: denominados vícios sociais e contaminam a manifestação da vontade. 
- Representação é a legitimidade conferida a uma pessoa para praticar atos em nome de outra.
- A pessoa que atua é denominada representante e a pessoa em nome de quem são praticados atos é denominada representado. Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo interessado. 
- Representação Legal: é aquela conferida pela lei aos pais, tutores, curadores, síndicos, administradores etc. Trata-se de um munus público e somente pode ser exercida no interesse do representado. 
- Representação Convencional ou voluntária: é aquela conferida mediante o contrato de mandato. Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato (Código Civil, art. 653).
- Podem ser conferidos poderes para que o representante atue em causa própria (procuração em causa própria). 
- A manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes, produz efeitos em relação ao representado. O representante tem o dever de agir estritamente de acordo com os poderes conferidos pelo representado (art. 116).
- É anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo, se não existir autorização legal ou do representado. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido substabelecidos (art. 117).
- É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. A ação anulatória deve ser proposta no prazo decadencial de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade (art. 119). 
Plano de Eficácia: o negócio jurídico que existe e é válido tem eficácia imediata, devendo as partes cumprir as obrigações assumidas logo após a sua formação. 
- Nada impede que as partes insiram no negócio jurídico uma cláusula acessória para modificar ou limitar os efeitos que seriam produzidos ou até mesmo para determinar o surgimento de um direito. Essas cláusulas acessórias são denominadas elementos acidentais (acidentalia negotii), pois o negócio subsistiria e produziria efeitos mesmo sem eles.
- Alguns negócios jurídicos e atos jurídicos stricto sensu não admitem elementos acidentais, como aqueles que dizem respeito ao estado das pessoas, os direitos de família puros e outros. Exemplos: emancipação, casamento, adoção,reconhecimento de filho, aceitação e renúncia da herança etc.
- Os elementos acidentais mais comuns são: 
-Modo: ou encargo é a cláusula que impõe uma obrigação a quem é beneficiado por uma liberalidade. Como elemento acidental do negócio jurídico, é normalmente identificado pelo uso das expressões “para que” ou “com o fim de” e normalmente tem por objetivo dar relevância aos interesses particulares do autor da liberalidade. 
Exemplos: uma doação de terreno feita ao município de Avaré para que nele seja construída uma escola (doação modal – Código Civil, art. 540); a nomeação de uma pessoa como herdeira em um testamento com a obrigação de cuidar de um animal de estimação.
- A obrigação imposta pelo encargo pode ser de qualquer espécie (dar, fazer ou não fazer) e o seu cumprimento pode ser exigido em juízo mediante a propositura de execução, quando houver título executivo extrajudicial (p. ex.: contrato assinado por duas testemunhas), ou mediante ação de obrigação, quando não houver título executivo (p. ex.: contrato sem a presença de testemunhas). 
- Além da possibilidade de exigir em juízo o cumprimento do encargo, também é possível requerer a revogação da liberalidade, exigindo, por exemplo, a devolução do bem que foi doado. O art. 562 prevê “a doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo, se o donatário incorrer em mora. Não havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida”.
- Nos termos do art. 136 “o encargo não suspende nem a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico pelo disponente, como condição suspensiva”. Assim, ainda que a pessoa que praticou o ato venha a falecer ou se tornar incapaz, a liberalidade não será atingida. Diversamente, se tratar de condição suspensiva, o negócio perderá sua eficácia. 
- Se o encargo for ilícito ou impossível, será considerado não escrito, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.
-Termo: cláusula que subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e certo. 
- Pode ser introduzido no negócio pelas partes (termo convencional) ou pode ser estipulado pela lei (termo legal ou termo de direito). 
- O termo também não deve ser confundido com prazo, que é o lapso temporal existente entre o termo inicial e o termo final. O prazo pode ser contado em minutos, horas, dias, meses ou anos. 
- Classificação do termo quanto aos efeitos:
Termo suspensivo: também conhecido como termo inicial ou dies a quo, é aquele que quando verificado, determina o início dos efeitos negociais. O termo suspensivo suspende o exercício, mas não a aquisição do direito, gerando direito adquirido. Não se confunde com a condição suspensiva, que suspende o exercício e a aquisição do direito, gerando simples expectativa de direito. Exemplo de termo suspensivo: alugarei uma casa a partir do dia 1º de janeiro do próximo ano. 
Termo resolutivo: também conhecido como termo final ou dies ad quem, é aquele que, quando verificado, põe fim aos efeitos do negócio jurídico. Exemplo de termo resolutivo: o contrato de locação vencerá no dia 30 do próximo mês. 
-Diante das semelhanças existentes entre o termo e a condição, o art. 135 do Código Civil prescreve que “ao termo inicial e fi nal aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva”.
- Classificação do termo quanto à certeza :
Termo certo (certus an certus quando): é o termo certo que ocorrerá e se sabe quando ocorrerá. No termo certo o evento é uma decorrência da lei da natureza. Assim, toda data futura é um exemplo de termo certo. Exemplo: no dia 1º de janeiro do ano que vem lhe darei um carro.
Termo incerto (certus an incertus quando): é o termo certo que ocorrerá, mas não se sabe quando. O melhor exemplo de termo incerto é a morte de uma pessoa – sabemos que todos morreremos, mas não sabemos quando.
- Contagem do prazo: prazo é o lapso temporal existente entre um termo inicial e um termo final. Também pode ser conceituado como o lapso de tempo entre a declaração de vontade e a superveniência do termo (inicial ou final). Salvo disposição legal ou convencional em contrário, a contagem do prazo deve ser feita com a exclusão do dia do começo, e com a inclusão do dia do vencimento (Código Civil, art. 132, caput).
- Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e nos contratos em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes (art. 133 do CC).
- Estabelece uma presunção absoluta (jure et jure/ iuris et de iure) a favor dos herdeiros, permitindo que cumpram encargos antes do prazo estabelecido pelo testador. Também permite que o herdeiro antecipe o pagamento do legado. 
- Aos devedores, o dispositivo estabelece presunção relativa (juris tantum), dispondo que são presumidos ao seu favor os prazos para cumprimento das obrigações, salvo se das disposições contratuais ou das circunstâncias do negócio resultar que o prazo foi estabelecido em benefício do credor ou de ambos. 
- Os negócios jurídicos sem prazo, celebrados entre pessoas vivas, exemplo o contrato por prazo indeterminado, têm vencimento imediato, salvo se o negócio tiver de ser cumprido em lugar diverso do contratado ou exigir tempo para sua execução. Nessas hipóteses, o prazo para o cumprimento da obrigação deve ser interpretado de acordo com a natureza e as condições do negócio.
-Condição: é a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e incerto (art. 121).
. É normalmente inserida nos negócios jurídicos pelos termos se ou enquanto (por exemplo compro o seu guarda- chuva se chover amanhã) e pode subordinar tanto o surgimento do direito (condição suspensiva) como a sua extinção (condição resolutiva). 
- A condição pode ser identificada sob três formas: 
a) pendente: é o estado da condição que ainda se verificou ou frustrou;
b) verificada (implemento): é a condição em que se averiguou o seu cumprimento, não importando se é suspensiva ou resolutiva
c) frustrada: é a condição que não foi verificada. Reputa-se verificada (isto é, considera-se ocorrida), quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento (ocorrência) for maliciosamente obstado (ocultado) pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento (art. 129). 
- Requisitos da condição: 
Voluntariedade: a condição deve ser resultado da manifestação de vontade das partes (vontade unilateral ou bilateral). Deve ter sido inserida voluntariamente e expressamente no negócio jurídico, não se admitindo condição tácita ou presumida. Esta é a verdadeira condição, também denominada condição própria, e está regulada nos arts. 121 a 130 do Código Civil.
- Não deve ser confundida com a condição imprópria, também denominada condição legal ou conditio iuris, que nada mais é do que uma exigência legal (um requisito) para validade ou eficácia de um ato jurídico (p. ex.: a exigência de que o absolutamente incapaz seja representado nos atos da vida civil; a exigência de que o pacto antenupcial seja feito mediante escritura pública etc.).
Futuridade: o evento do qual dependerá a eficácia do negócio jurídico seja futuro, isto é, seja um fato posterior à celebração do negócio. Se o evento for presente ou pretérito (conditio in praesens vel in preteritum collata) ou for apenas desconhecido do agente (incerteza subjetiva), não há condição. Se o evento já houver ocorrido, o negócio é considerado plenamente desenvolvido. Se não, o negócio não se formou. 
Incerteza: permite a distinção entre a condição (evento futuro e incerto) e o termo (evento futuro e certo). De acordo com a doutrina, a incerteza que caracteriza a condição deveter natureza objetiva, isto é, deve ser um evento incerto no plano dos fatos, independentemente da pessoa que celebra o negócio.
- Classificação da condição quanto à certeza: 
Condição incerta (incertus an incertus quando): é aquela em que as partes não sabem se o evento ocorrerá nem quando poderá ocorrer. Exemplo: “vou te dar um capacete quando o Rubinho ganhar uma corrida de Fórmula 1” (não se sabe se irá ganhar nem quando irá ganhar). Condição certa (incertus an certus quando): é aquela em que não se sabe se o evento ocorrerá, mas, se ocorrer, deverá ser em um momento determinado. Exemplo: “vou te dar um capacete se o Rubinho ganhar a corrida do dia 15 do mês que vem” (não se sabe se irá ganhar, mas, se ganhar, a condição só vale para aquela corrida determinada). 
-Também é exemplo de condição certa a maioridade de um ser humano, pois não se sabe se o menor estará vivo (incertus an) até o dia do seu aniversário de dezoito anos (certus quando).
-Classificação da condição quanto aos efeitos 
Condição suspensiva: é a condição que suspende o exercício e a aquisição do direito até o seu implemento. Portanto, a condição suspensiva impede que o negócio jurídico produza efeitos desde o momento de sua celebração. A venda a contento (aprovação ad gustum –art. 125) é um bom exemplo de condição suspensiva.
- A condição suspensiva gera expectativa de direito (spes debitum iri), mas este já é objeto de proteção, podendo o seu titular se valer de medidas conservatórias. Exemplo: inscrição do título no registro, interrupção da prescrição etc.
- sob condição suspensiva, o negócio está formado e a relação jurídica, criada, podendo, inclusive, ser transmitido inter vivos ou mortis causa (elemento ativo in fieri do patrimônio). -Evidente que a transmissão do negócio mantém a condição prevista (nemo ad alium plus iuris tranferre potest quam ipse habet).
- Tem em regra eficácia retroativa, mas em alguns negócios em que se exige tradição da coisa ou registro, não retroage. Se a coisa perecer ou se deteriorar de forma não culposa e pendente condição suspensiva, o alienante sofre a perda (regra res perit domino).
Condição resolutiva: é aquela que quando verificada põe fim aos efeitos do negócio. A aquisição do direito ocorre desde a formação do negócio, que produz todos os efeitos enquanto a condição não se verificar (art. 127). 
-Verificada a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe, mas, se aposta em negócio de execução continuada ou diferida, não tem eficácia com relação aos atos já praticados de boa-fé.
Classificação da condição quanto à licitude 
Condição lícita: é a condição que está de acordo com o ordenamento jurídico (lei, moral, ordem pública e bons costumes -art. 122) e consequentemente é validada. Numa perspectiva civil-constitucional, a licitude da condição deve ser verificada também de acordo com os valores do ordenamento, em especial à luz dos princípios fundamentais (dignidade da pessoa humana, liberdade, igualdade etc.).
Condição ilícita: é aquela contrária ao ordenamento jurídico, por ofender a lei, a moral, a ordem pública ou os bons costumes. Exemplo: prometer um prêmio a uma pessoa que atropelar outra. 
- A condição ilícita gera a nulidade do negócio jurídico, não importando se ela é suspensiva ou resolutiva.
- Segundo o artigo 122, são condições ilícitas:
I) condições perplexas ou contraditórias: aquelas que privam de todo o efeito o negócio. Exemplo de Francisco Amaral: Instituo “A” meu herdeiro universal se “B” for meu herdeiro universal.
II) condições puramente potestativas: aquelas que sujeitam a eficácia do negócio ao puro arbítrio de uma das partes.
Classificação da condição quanto à possibilidade 
Condição possível: é a condição que pode ser cumprida tanto do ponto de vista físico como do jurídico. A possibilidade física é analisada a partir das leis da natureza. A possibilidade jurídica tem por base o ordenamento jurídico. As condições possíveis são válidas. 
Condição impossível: a conditio impossibilis é aquela que não pode ser cumprida. Pode ser impossível fisicamente (se nenhuma pessoa puder cumprir a condição) ou juridicamente (se a conduta atentar contra o ordenamento jurídico). 
- nem sempre a condição impossível determinará a nulidade do negócio. Se a condição impossível for suspensiva, o negócio será considerado nulo. Entretanto, se for resolutiva, a condição será considerada inexistente, e o negócio, válido.
Classificação da condição quanto à natureza (ou fonte) 
Condição casual: é a condição que fundamenta em um evento alheio à vontade das partes. Dependem do acaso e do fortuito sem possibilidade de intervenção dos interessados. Por essa razão os eventos da natureza podem ser bons exemplos de condições casuais (ex: prometo doar um guarda-chuva a uma pessoa se chover amanhã em São Paulo). Também são condições casuais aquelas que subordinam a eficácia do negócio ao comportamento de terceiros (ex.: prometo doar um carro a um amigo se Vitor Belfort vencer a próxima luta contra Anderson Silva).
 Condição potestativa: é aquela que depende da vontade de um dos contratantes, que pode provocar ou impedir o seu implemento. 
-Pode ser classificada em simplesmente potestativa e puramente potestativa:
Simplesmente ou meramente potestativa: é a condição cujo implemento depende da vontade intercalada de duas pessoas – uma das partes impõe a condição e a outra deve cumpri-la (ex.: será dado um carro a quem der uma volta correndo no quarteirão). 
-As condições simplesmente ou meramente potestativas são lícitas. 
-No Código Civil também podem ser encontrados exemplos de condições simplesmente potestativas: I) art. 420: trata do direito de arrependimento; II) art. 505: dispõe sobre a cláusula de retrovenda; III) art. 509: trata da venda a contento; IV) art. 513: dispõe sobre o direito de arrependimento.
Puramente potestativa: é a condição que subordina a eficácia do negócio jurídico ao arbítrio de uma das partes. O implemento da condição depende da vontade da própria pessoa que a impôs. 
-As condições puramente potestativas consagram a cláusula si voluero (se me aprouver – exemplo: doarei um relógio amanhã se eu quiser) e, por essa razão, são consideradas ilícitas, gerando a nulidade do negócio. 
-No direito das obrigações, Caio Mário da Silva Pereira aponta que a indeterminação potestativa da prestação (ex: deixar de indicar a quantidade do objeto a ser entregue) é uma espécie de condição potestativa pura. 
-A potestatividade do negócio se desloca da sua realização para a estimativa do res debita. Pagar quanto quiser (quantum volam) é a mesma coisa que pagar se quiser (si volam).
Condição mista: é a condição que depende ao mesmo tempo da conduta (vontade) de uma das partes e de um ato que não depende da vontade das partes (depende do acaso ou da vontade de um terceiro). Exemplo: prometo doar uma televisão a um amigo se ele se casar com determinada pessoa – observe que a celebração do casamento depende não só da vontade de meu amigo, mas também da vontade da outra pessoa. 
-As condições mistas são válidas desde que resultem da combinação de uma condição casual com outra simplesmente potestativa.
Defeitos nos Negócios Jurídicos 
-Quando o problema é interno, na formação da vontade, fala-se em vício da vontade, também denominado defeito do consentimento. 
- existindo cinco espécies no Código Civil de 2002: erro ou ignorância, dolo, coação, estado de perigo e lesão. 
-Quando o problema é externo, isto é, na declaração da vontade, fala-se em vício social, sendo exemplos deste a fraude contra credores e a simulação.
- Nos vícios da vontade o prejudicado é sempre um dos contratantes.
- Quando o vício é social, o prejudicado é um terceiro, isto é, uma pessoa que não participou da relação contratual, mas foi atingida por ela.
- art. 138: são anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face dascircunstâncias do negócio.
- Vícios da Vontade: 
Erro- é a falsa representação da realidade, a falsa percepção sobre um elemento determinante na realização de um negócio jurídico. 
- a ignorância é um erro mais acentuado, o regramento conferido aos institutos é o mesmo, devendo estes ser tratados como sinônimos. A ignorância é o completo desconhecimento da realidade.
-Consequências do erro: quando presente o erro ou a ignorância, o negócio jurídico é considerado anulável, devendo ser proposta ação anulatória no prazo decadencial de quatro anos, a contar da data da celebração do negócio jurídico (art. 178, II). A ação somente pode ser proposta pela parte prejudicada pelo erro, não pela beneficiada. 
- A transmissão errônea da vontade é anulável, seja quando ocorre por meio direto. 
Ex: pessoalmente.
- Por meios interpostos, tal como um meio de comunicação. 
Ex: internet, e-mail, fax etc.
- por um intermediário. Ex: art. 141- a transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta.
- art. 144- o erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.- ele rege o princípio da conservação do contrato, que decorre do princípio da função social do contrato, ao preferir a revisão do contrato à anulação.
-Classificação quanto a sua determinação
.Erro Substancial: ou erro essencial é aquele que recai sobre aspecto determinante do negócio, incidindo sobre o núcleo essencial da declaração, logo que se a pessoa tivesse conhecimento da realidade, o negócio não teria sido celebrado. Ele anula um negócio jurídico.
- art. 139 determina quais são os erros substanciais, saõ eles:
I- interessa à natureza do negócio: error in negotio: (ex.: a pessoa aluga uma casa, mas achava que a estava emprestando); ao objeto principal da declaração: error in corpore (ex: a pessoa acredita que está comprando um determinado carro e na verdade adquire outro); a alguma das qualidades a ele essenciais: error in qualitate ou in substantia (ex: a pessoa compra um relógio de latão, achando que é de ouro)
II- concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante: error in persona (ex: a pessoa acha que está contratando uma banda famosa, mas acaba contratando uma homônima).
III- sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico (error iuris).
- Error Iuris: erro de direito, é aquele em que a pessoa desconhece o conteúdo ou a consequência de um dever jurídico imposto por lei ou assumido mediante acordo de vontade, se tem um falso conhecimento ou uma falsa interpretação sobre o direito. 
- Para que o erro de direito possa conduzir à anulação do negócio, devem estar presentes dois requisitos: 
-Motivo determinante: a pessoa deve ter declarado a vontade somente porque teve uma errônea compreensão da norma jurídica. 
-Não pode implicar recusa à aplicação da lei.
Erro acidental- aquele que recai sobre aspecto secundário, ou seja: a pessoa tem uma falsa percepção sobre um elemento que não é determinante para a concretização do negócio jurídico. Por essa razão, afirma-se que o negócio viciado por erro acidental não é anulável.
- art. 142: o erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio, quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identifi car a coisa ou pessoa cogitada.
- se as qualidades secundárias da pessoa ou da coisa forem consideradas como razões determinantes do negócio, se estará diante de hipótese de erro substancial, permitindo a anulação.
- O erro que incide sobre a qualidade acessória do objeto (error in qualitate) ou sobre sua medida; peso ou quantidade (error in quantitate) é considerado acidental desde que não importe efetivo prejuízo ao contratante.
- O erro sobre o motivo ou erro quanto ao fim colimado, em regra, não permite a anulação do negócio, os motivos que levaram uma pessoa a agir de determinada forma normalmente não têm importância para o direito.
- O erro sobre o cálculo também é como exemplo de erro acidental, pois não contamina o negócio jurídico e portanto não permite a sua anulação. É uma espécie de erro material retificável, daí por que o art. 143 apenas autoriza a retificação da declaração de vontade, isto é, o recálculo, consagrando o princípio da conservação do contrato.
-art. 143: o erro de calculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.
Erro obstativo- erro obstativo, obstáculo ou impróprio é aquele de exagerada importância, constituindo uma profunda divergência entre as partes contratantes de tal modo que não haveria vontade negocial. No direito brasileiro o legislador não fez distinção entre o erro obstativo e o erro substancial, acolhendo todas as hipóteses como erro substancial e, portanto, anuláveis.
Dolo- é o artifício (manobra, maquinação) utilizado com o propósito de enganar uma pessoa para que ela celebre determinado negócio. Para que o negócio seja anulável, não se exige a demonstração de efetivo prejuízo, sendo suficiente a intenção de prejudicar. 
- O dolo não deve ser confundido com o erro. No erro há um equívoco espontâneo do celebrante e no dolo a pessoa é induzida a errar pelo outro contratante ou por um terceiro.
-Consequências do dolo: o dolo também torna o negócio anulável. A parte enganada poderá propor ação anulatória no prazo decadencial de quatro anos, a contar da data da celebração do negócio jurídico (art. 178- II)
-Classificação do dolo quanto à determinação: 
Dolo essencial: ou dolo principal e dolus causam, é aquele que contamina o negócio jurídico, permitindo a sua anulação pelo fato de ter sido a sua causa, a pessoa somente realizou o negócio jurídico por ter sido enganada, uma vez que se o contratante tivesse conhecimento da realidade, o negócio não seria anulado. art. 145 “são os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa”.
Dolo acidental: dolus incidens, não constitui vício de consentimento, por não influir diretamente na realização do ato, que se teria praticado independentemente do emprego de artifícios pelo outro contratante. Não acarreta a anulação do ato, obrigando apenas à satisfação de perdas e danos ou a uma redução proporcional da prestação contratada. 
art. 146 “o dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo”.
-Classificação do dolo quanto à conduta 
Dolo positivo: ou comissivo, é aquele consistente em uma ação voltada a enganar uma das partes contratantes, permitindo, consequentemente, a anulação do negócio jurídico. 
Exemplo: uma pessoa vende um relógio para outra afirmando que é feito de ouro, quando na verdade é feito de latão.
Dolo negativo: aquele que consiste na omissão, o silêncio, de um aspecto relevante para realização do negócio, permitindo a sua anulação. Para que ocorra dolo negativo ou omissivo, a pessoa deve omitir informação de que tinha conhecimento. Se não tinha conhecimento, não haverá dolo. 
Exemplo: uma pessoa vende um relógio para outra afirmando não saber qual o material com que ele é feito, mas tendo ciência de que se trata de latão.
- De acordo com o art. 147 nos negócios jurídicos bilaterais (aqueles que estabelecem obrigações para ambos os contratantes), o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
Dolo bilateral ou recíproco- ocorre quando ambos os contratantes agem com dolo. Como ninguém pode se valer da própria malícia (nemo auditur propriam turpitudinem allegans), o dolo bilateral não permite a anulação do negócio nem pedido de reparação de danos, quando o prejuízo de uma das partes for maiorque o da outra. O dolo de uma parte sempre compensa o da outra parte, não importando o tipo de dolo. Desta forma, mesmo que uma das partes tenha agido com dolo essencial e a outra com dolo acidental, não será possível a anulação do negócio jurídico nem o pedido de reparação de danos proporcional.
- Classificação do dolo quanto ao conteúdo 
Dolo mau- (dolus malus) consiste no emprego de manobras astuciosas destinadas a prejudicar alguém. Por ser utilizado para iludir e prejudicar a outra parte acaba por viciar o negócio jurídico, tornando-o anulável, em regra. 
Dolo bom- a doutrina aponta dois sentidos para o dolo bom (dolus bonus). 
- No primeiro é entendido como um comportamento lícito e tolerado no comércio, consistente em reticências, exageros nas boas qualidades ou dissimulações de defeitos (ex: quando o vendedor fala que uma TV é a melhor do mundo). Se houver abuso ou prejuízo, o negócio poderá ser anulado. Nas relações de consumo, essa espécie de dolo não é tolerada, pois caracteriza propaganda enganosa e induz o consumidor a erro. 
- No segundo sentido, fala-se em dolus bonus quando uma pessoa engana a outra com o objetivo de beneficiar a pessoa enganada (ex: uma pessoa que compra um relógio de um amigo pagando um preço mais caro com o objetivo de ajudar). No caso, o artifício não tem a finalidade de prejudicar. Independentemente do sentido adotado, o dolus bonus não gera a anulabilidade do negócio.
Dolo de terceiro- normalmente na caracterização do dolo temos uma das partes sendo levada a erro pela outra parte, mas também é possível que um terceiro (pessoa estranha ao negócio jurídico) realize a indução. 
- De acordo com o art. 148, “pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou”.
- o dolo de terceiro pode ocorrer com a cumplicidade da parte a quem aproveita, com mero conhecimento da parte a quem aproveita e ainda, exclusivamente por conta do terceiro, sem que dele tenha conhecimento a parte favorecida. As duas primeiras hipóteses são passíveis de anulação. Na última hipótese, o negócio persiste, mas o autor do dolo (o terceiro) responde pelas perdas e danos em razão do ilícito praticado.
Dolo do representante- “dolo do representante legal obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que tirou. Entretanto, tratando-se de representação convencional, aquela em que o representado escolhe e nomeia o seu representante, aceitando todos os riscos que assim corre, o representado responderá solidariamente pelas perdas e danos (art. 149)”. Se for chamado a reparar os danos, o representado terá direito à ação de regresso em face do representante. 
- A distinção promovida pelo art. 149 do Código Civil entre a representação legal e convencional é coerente, pois na representação legal (pais, tutores e curadores) o representado não escolhe quem será o seu representante, devendo ser mais protegido. 
- Na representação convencional, a escolha do representante decorre da vontade do representado. Se escolheu mal, deverá reparar o dano causado por seu representante. Tanto na hipótese de dolo do representante legal como na de dolo do representante convencional, o negócio será anulável se o dolo for substancial e não será anulável se o dolo for acidental.
Coação- é qualquer forma de ameaça injusta, física ou moral, com o objetivo de forçar uma pessoa a realizar determinado negócio jurídico. Quem exerce a coação é denominado coator, e quem sofre é denominado coato, coagido ou paciente. 
- Não necessariamente quem exerce a coação é quem dela se beneficia.
-Espécies de coação: 
Coação relativa- também conhecida como coação moral, psicológica ou vis compulsiva. Funda-se no temor, receio, medo, de dano iminente e considerável à pessoa do negociante, aos seus bens ou à sua família. Ela deixa opção ao coagido, que prefere celebrar o negócio a sofrer o dano. É espécie de vício do consentimento, pois contamina a formação da vontade e gera a anulabilidade do negócio, como veremos adiante.
- Art. 151: a coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que desperte ao paciente temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Paragrafo Único: se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. 
-Requisitos da coação: 
A ameaça deve ser grave: a ameaça somente caracterizará coação se for grave e causar fundado temor de dano iminente ao coagido. A análise desse requisito não deve levar em consideração o homem médio, mas sim a vítima em concreto da coação. Por essa razão o art. 152 determina que “no apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela”. A ameaça que pode ser grave para uma idosa que mora sozinha pode não ser grave para um homem adulto.
- Temor reverencial é o receio de desagradar uma pessoa a quem devemos respeito e obediência. Exemplos: o respeito que os filhos têm pelos pais; os empregados pelos empregadores; Não haverá coação, já que não há ameaça grave.
A ameaça deve ser de dano iminente: deve ser um dano atual que não pode ser evitado pelo coagido. Entretanto, dano iminente não significa dano imediato. O importante é que a ameaça cause prontamente fundado temor de dano ao coagido. Por outro lado, se o dano puder ser evitado pelo agente, sozinho ou com ajuda de terceiros, a ameaça não caracteriza a coação. Também não existirá coação se o mal for impossível.
A ameaça deve ser injusta: somente haverá coação se a ameaça consistir na prática de um ato contrário ao ordenamento jurídico, um ato ilícito (ex: uma pessoa ameaça agredir outra se uma dívida não for paga). 
- De acordo com o art. 153, se a ameaça corresponder ao exercício regular de um direito, não haverá coação (ex.: uma pessoa ameaça protestar o cheque devolvido sem fundos no Cartório de Protesto de Títulos). 
- Se consistir em ameaça de abuso de direito, também haverá coação porque é espécie de ato ilícito (ex: uma pessoa ameaça colocar um outdoor de cobrança na frente da casa do devedor se a dívida não for paga).
A ameaça deve recair sobre a pessoa, seus familiares ou seus bens: o art. 151 do Código Civil determina que a ameaça deve ser dirigida ao próprio coagido, à sua família, ou aos seus bens (ex: ameaça incendiar o automóvel do coagido). 
- o legislador utilizou o termo “família” em vez de “parentes” com o propósito de ampliar as possibilidades (ex: o filho do cunhado não é parente, mas pode ser considerado familiar). E, mesmo que a pessoa não pertença à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, poderá decidir se houve coação, conforme dispõe o parágrafo único do art. 151 (ex: noivos, namorados, amigos íntimos etc.). 
A ameaça deve ser a causa da celebração do negócio: o negócio jurídico só será anulado por coação se a ameaça foi o fator determinante para sua celebração. Assim como na responsabilidade civil, deve estar presente um nexo de causalidade entre o fato (a ameaça) e o dano (o negócio celebrado). Se o coagido celebrasse o negócio mesmo sem a ameaça, não haveria coação.
-Consequências da coação: a coação determina a anulabilidade do negócio jurídico. A ação cabível é a anulatória, devendo ser ajuizada no prazo decadencial de quatro anos a contar do dia em que cessar a coação. A legitimidade para a propositura da ação é da pessoa coagida. Na parte especial (Direito de Família), o Código Civil estabelece o prazo de quatro anos para anulação do casamento por coação, contado o prazo da data da celebração (art. 1.560, IV). Além da anulabilidade do negócio, a parte prejudicada pela coação também poderá pleitear o ressarcimento pelas perdas e danos, cumulando a ação anulatória com pedido dereparação de danos (materiais, morais etc.).
-Coação por terceiro: se outra pessoa realizar a coação em vez do contratante, o negócio será anulável desde que o contratante beneficiado tivesse ou devesse ter conhecimento da coação realizada. Nessa hipótese, além da anulabilidade do negócio, o terceiro e o contratante que se aproveitou da coação responderão solidariamente pelos danos causados ao coagido. No entanto, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento, o negócio não será anulável, mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coato.
Estado de perigo: consiste na celebração de um negócio jurídico com onerosidade excessiva porque o agente estava premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte (art. 156).
- O estado de perigo não se confunde com a coação, uma vez que nesta o outro contratante compele o agente a contratar. No estado de perigo, há uma situação que força o agente a celebrar o negócio. No estado de perigo deve estar presente a onerosidade excessiva (requisito objetivo), enquanto na coação não importa se o coagido sofreu prejuízo ou não.
Exemplos de estado de perigo: a) a pessoa que dá um cheque caução de alto valor em um hospital para garantir a internação de um familiar doente; 
b) a pessoa que aceita pagar a um médico o dobro do valor normalmente cobrado por uma cirurgia para salvar a vida do filho atropelado; 
c) a pessoa que vende uma casa a um amigo por um preço irrisório para pagar o resgate do sequestro de seu irmão etc. 
- Requisitos do estado de perigo:
Onerosidade excessiva: para que o negócio possa ser anulado por estado de perigo, será necessário que a obrigação assumida seja exorbitante, isto é, que gere onerosidade excessiva para o agente. O Código Civil não estabelece qualquer porcentagem para a caracterização da onerosidade, deixando o seu reconhecimento a cargo do juiz, que irá analisar as circunstâncias do caso concreto e decidir com base na equidade. Essa onerosidade deve ser avaliada no momento da celebração do negócio, não importando se o objeto do contrato sofreu redução ou majoração de valor no futuro. Assim, se uma pessoa vender uma casa por um preço justo para pagar o tratamento de saúde de um filho e dois anos após a venda a casa dobrar de valor, não será possível a anulação do negócio.
Situação de perigo: para caracterização do estado de perigo, o agente deve ter assumido a obrigação excessivamente onerosa com o objetivo de livrar a si próprio, um familiar ou uma pessoa próxima de uma situação iminente de perigo de vida (morte) ou grave dano moral (integridade física, moral ou intelectual). A situação de perigo é a razão de a pessoa contratar em condições desfavoráveis. Devemos lembrar que cônjuge e companheiro não são parentes, embora exista parentesco com os parentes destes (parentesco por afinidade).
- o parágrafo único do art. 156 dispõe que “tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias”. Admite-se, assim, que o estado de perigo seja reconhecido quando o agente praticar o ato para salvar um grande amigo, a namorada, a noiva etc.
Dolo de aproveitamento: art. 156 do Código Civil exige que a situação de perigo que levou o agente a contratar seja conhecida do agente que se beneficiou. Exemplo: a pessoa que comprou a casa por preço irrisório sabia que a outra estava vendendo para salvar a vida do filho. A expressão dolo de aproveitamento representa corretamente o seu conteúdo: intenção de se aproveitar. Em algumas situações, esse requisito pode ressaltar da própria circunstância que envolve o negócio jurídico. Exemplo: o hospital que exige o cheque caução para aceitar internar um enfermo, mas em geral deverá ser objeto de prova específica no processo. 
-Consequências: conforme determinação do art. 178, II, o estado de perigo determina a anulabilidade do negócio, devendo ser proposta ação anulatória no prazo decadencial de quatro anos a contar da celebração do negócio. A legitimidade para a propositura da ação é da parte prejudicada pelo negócio com onerosidade excessiva. 
Lesão: é a celebração de um negócio jurídico com onerosidade excessiva porque o agente se encontrava em uma situação de premente necessidade ou de inexperiência. Nesse sentido, o art. 157, caput, dispõe que “ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta”. 
lesão subjetiva: exigem para sua caracterização a análise dos motivos que levaram a pessoa a contratar com onerosidade.
lesão objetiva: grave desequilíbrio entre as prestações assumidas pelas partes em um contrato, sem investigação dos motivos que levaram as partes a contratar.
- a lesão pode estar presente em qualquer contrato bilateral, também denominado sinalagmático. Exemplo.: compra e venda, locação, prestação de serviço, empreitada, transporte etc.), com qualquer espécie de obrigação (dar, fazer ou não fazer).
-Requisitos da lesão: 
Onerosidade excessiva: requisito objetivo, o simples fato de contratar sob premente necessidade ou por inexperiência não permite a anulação do negócio jurídico. Para que tal ocorra, é necessário que o agente assuma obrigação com prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta (onerosidade excessiva). Como o Código Civil não estabelece uma porcentagem a ser observada, cabe ao juiz analisar se a desproporção entre as prestações é excessiva. 
- art. 157: “aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico”.
- Se o desequilíbrio entre as prestações for provocado por fato futuro (ex: alta no preço dos imóveis, inflação, alta do dólar etc.), não poderá ser invocada a lesão para a anulação do negócio jurídico. Nesse caso, a parte prejudicada poderá se valer da revisão contratual por onerosidade excessiva superveniente, mas deverá comprovar que o fato que provocou o desequilíbrio é extraordinário e imprevisível (Código Civil, arts. 317 e 478 a 480).
Premente necessidade ou inexperiência: o que distingue essencialmente a lesão do estado de perigo é o motivo que levou o agente a contratar, indaga-se o que levou alguém a contratar em condições tão desfavoráveis. Nesse ponto, o requisito subjetivo da lesão pode ser a situação de premente necessidade ou de inexperiência, basta uma delas.
- Consequências da lesão: o art. 178, II, estabelece que o negócio jurídico viciado pela lesão é anulável, devendo ser proposta ação anulatória no prazo decadencial de quatro anos, a contar da celebração do negócio jurídico. A legitimidade para propositura da ação é apenas da parte prejudicada.
- A anulação do negócio jurídico poderá ser evitada se o réu da ação anulatória (a parte favorecida) oferecer suplemento suficiente ou concordar com a redução do proveito. Essa regra, prevista no art. 157, § 2º, decorre do princípio da conservação contratual. Exemplo: se uma pessoa, por inexperiência, vender uma casa que valia um milhão de reais pela metade do preço e propuser ação anulatória, o comprador evitará a anulação se oferecer a outra metade do valor. 
Fraude contra credores: é o ato do devedor insolvente ou próximo da insolvência alienar, vender ou desfazer-se de algum outro modo, de um bem com o objetivo de prejudicar o credor, em virtude da diminuição do seu patrimônio. 
Exemplo: uma pessoa está devendo cem mil reais e, sem quitar a dívida, doa para um amigo o único bem que poderia ser utilizado para pagá-la. 
 -representa uma violação ao princípio da responsabilidade patrimonial, pelo qual o patrimônio de uma pessoa responde por suas obrigações. O devedor se antecipa à reação de seus credores, alienando ou onerando seus bens que poderiam ser objeto de expropriação judicial.
-Requisitos para caracterização da fraude contra credores : o reconhecimento da fraude contra credores dependedo reconhecimento de três requisitos: evento danoso, anterioridade do crédito e conluio fraudulento (ou ciência da fraude). Os dois primeiros requisitos têm natureza objetiva e devem ser provados em todas as hipóteses de fraude. O último requisito, de natureza subjetiva, deverá ser provado em algumas situações e em outras será presumido.
Evento danoso (eventus damni): o credor deverá provar que o ato de alienação tachado de fraudulento reduziu o devedor à condição de insolvente. O requisito do evento danoso depende da análise do patrimônio do devedor (créditos e débitos) no momento em que aliena o bem.
Anterioridade do crédito: para caracterização da fraude contra credores o autor da ação pauliana deverá provar que já era credor do réu no momento em que ele alienou ou onerou os bens. A anterioridade do crédito não leva em consideração o momento do vencimento dele, mas, sim, da sua origem.
- Ação pauliana: também denominada revocatória, é aquela que visa desfazer a fraude contra credores, de modo que os bens alienados fraudulentamente pelo devedor retornem ao seu patrimônio por determinação judicial, a fim de que sejam usados pelo credor para a satisfação da dívida.
- Em se tratando de responsabilidade civil contratual, o crédito reputa-se constituído no momento da formação do contrato. Exemplo: se uma pessoa recebeu dinheiro emprestado em 2013, alienou bens em 2014 e não pagou o empréstimo no momento do seu vencimento em 2015, terá agido em fraude, uma vez que já era devedora desde 2013.
- Na hipótese de responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana, o crédito considerar se á constituído desde o momento em que foi praticado o ato ilícito. Exemplo: se uma pessoa atropelou outra em 2012, alienou bens em 2013, foi processada em 2014 e condenada em 2015 a reparar os danos causados, terá agido em fraude porque já era devedora desde 2012. 
Conluio fraudulento (consilium fraudis) ou ciência da fraude (scientia fraudis): o credor deverá provar que o adquirente do bem agiu em conluio com o devedor ou que tinha ciência da situação de insolvência do devedor. Deverá ser provada a má-fé do adquirente. A prova do conluio ou da ciência da fraude pode ser feita por todos os meios admissíveis no processo civil, inclusive indícios e presunções. Como exemplos de forte indício de fraude, podemos apontar a aquisição de bens por preço vil e a aquisição de bens por parentes próximos.
- nem sempre precisará ser provado. Se a alienação de bens pelo devedor for gratuita (ex:doação), a má-fé do adquirente será presumida (presunção absoluta). Se a alienação de bens for onerosa (ex: compra e venda), em regra será necessário provar a má-fé do adquirente (que agiu em conluio ou que tinha ciência da fraude). 
- art. 164: “presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família”. 
- O objetivo da norma é: 
primeiro- evitar que a situação do devedor seja agravada com a paralisação da sua atividade econômica. Assim, o comerciante que estiver insolvente poderá continuar vendendo os produtos de sua loja (negócio ordinário), mas incorrerá em fraude se alienar o próprio estabelecimento (negócio extraordinário). 
segundo- é a garantia da subsistência do devedor e de sua família, em atenção ao princípio da dignidade da pessoa humana. Seria absurdo proteger o crédito de uma pessoa em detrimento da sobrevivência de outra. 
- Hipóteses de fraude contra credores
Atos de transmissão gratuita, remissão de dívidas ou renúncia de direitos (art. 158): ocorre quando um devedor insolvente cede parte de seu patrimônio reduzido, abrindo mão do que indiretamente pertence a seus credores. Nessas hipóteses não importa a ciência da insolvência do doador pelo donatário, pois o interesse do credor prevalece sobre o interesse do donatário. É mais justo proteger o devedor para que não fique com prejuízo do que proteger o lucro do donatário. Essa é a razão pela qual a prova do conluio fraudulento é dispensada. Aplica-se o mesmo raciocínio para a remissão (perdão) de dívidas ou remissão de direitos, já que, quando o devedor perdoa alguma dívida ou renuncia a algum direito, estará reduzindo o patrimônio ou direito que poderia ser executado pelos seus credores. 
Alienações onerosas quando a insolvência é notória ou de conhecimento do outro contraente (art. 159): nessa hipótese existe um conflito entre o credor do alienante (devedor) e o adquirente de boa-fé. Se o adquirente não tem ciência da insolvência do devedor, seu interesse é que vai prevalecer sobre o do credor. Porém, se o adquirente sabia da insolvência do devedor ou se a insolvência é notória (ex: tem títulos protestados) e agiu de má-fé, o negócio será anulável. 
-O art. 160 do Código Civil determina que, se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados. Porém, se for inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.
Pagamento antecipado de dívida a credor quirografário (art. 162): se o devedor paga dívidas vencidas, age licitamente. Porém, se paga débitos que ainda não venceram, age de maneira anormal, que já revela o propósito fraudulento. Nessa hipótese, o art. 162 dispõe que o credor quirografário (aquele sem preferência no crédito), que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. 
Outorga fraudulenta de garantias reais (art. 163): presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor. O devedor insolvente que presta qualquer forma de garantia real (hipoteca, penhor, anticrese ou propriedade fiduciária – alienação fiduciária) a um de seus credores quirografários acaba prejudicando os demais em razão da preferência estabelecida. Se a garantia prestada for pessoal/fidejussória (fiança ou aval), não haverá fraude, pois estas não geram preferência e por isso não prejudicam os demais credores. O art. 163 estabelece uma presunção legal absoluta (juris et de jure) de fraude, acarretando a anulabilidade da garantia. Com a anulação da garantia (não do crédito) o credor retornará à condição de credor quirografário (sem preferência). 
-Consequências da fraude contra credores: a anulabilidade do negócio jurídico.
- Para que o negócio jurídico seja anulado, o credor prejudicado deverá propor ação revocatória, também denominada ação no prazo decadencial de quatro anos a contar da celebração do negócio jurídico. 
- Fraude à execução: instituto de direito processual civil, o devedor já tem contra si processo judicial capaz de reduzi-lo à insolvência e, ainda assim, atua ilicitamente, alienando ou onerando seus bens em prejuízo não só dos seus credores, mas também do próprio processo, caracterizando reprovável atitude de desrespeito à justiça. Conduz à ineficácia do negócio jurídico e o seu reconhecimento não depende de propositura de ação específica, podendo ser alegada incidentalmente mediante simples petição no processo, resultando em decisão interlocutória. 
- Fraude contra credores: instituto de direito civil, o devedor não se insurge contra o processo ou a autoridade judicial. Procura apenas se desfazer do seu patrimônio executável para que não responda pelas obrigações anteriormente assumidas em contrato ou impostas pela lei. determina a anulabilidade do negócio e exige a propositura da ação pauliana para o seu reconhecimento. De acordo com a Súmula 195 do STJ, “em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores”
Invalidade dos Negócios Jurídicos
Invalidade, em sentido amplo, é expressão utilizada para designar o negócio que não produz as consequências desejadas pelas partes. É gênero do qual decorremduas espécies: a nulidade (negócio jurídico nulo); e a anulabilidade (negócio jurídico anulável). 
- nulidade: quando há ofensa a princípios básicos do ordenamento jurídico e, consequentemente, lesão a interesse da coletividade (hipóteses mais graves).
- anulabilidade: quando o interesse é particular (hipóteses menos graves). 
- a ausência dos elementos que compõem o plano de existência (partes, objeto, forma e vontade) determina sua inexistência.
- Já a invalidade decorre da não observância dos requisitos exigidos pelo plano de validade.
- ato inexistente: é aquele que não preenche os elementos essenciais à sua constituição. Ao contrário dos atos inválidos, o ato inexistente é considerado um simples fato que não tem força para produzir efeitos jurídicos. Desta forma, em princípio, não é sequer necessária a propositura de ação judicial para reconhecer o ato como inexistente (o ato existe no mundo dos fatos, mas não no do direito). 
- Nulidade: em sentido amplo é a sanção legal que determina a privação de efeitos jurídicos do negócio praticado em desacordo ao ordenamento jurídico. Pode ser de dois tipos: a nulidade e a anulabilidade. 
- A nulidade em sentido estrito decorre da violação de preceitos de ordem pública que consagram interesses sociais. 
- A anulabilidade será estudada mais à frente e decorre da violação de interesses privados. A nulidade textual é aquela em que a própria norma jurídica dispõe expressamente que o ato será nulo (ex: Código Civil, art. 166). A nulidade virtual ou implícita é aquela deduzida de expressões utilizadas pelo legislador com o fim de proibir a prática de determinados atos (ex: “não pode”, “não se admite” etc.).
- Hipóteses de nulidade: O art. 166 contém sete hipóteses em que o negócio jurídico será considerado nulo. Será nulo o negócio quando: 
I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz: quando a pessoa é absolutamente incapaz sua vontade é desprezada pelo ordenamento jurídico, devendo ser representada (a vontade é substituída) nos atos da vida civil sob pena de nulidade do ato. O rol dos absolutamente incapazes está previsto no art. 3º do Código Civil. 
II – for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto: o negócio será nulo se o objeto for: 
a) ilícito: aquele que viola o ordenamento jurídico (lei, moral, ordem pública ou bons costumes); 
b) impossível: aquele que não pode ser cumprido em razão dos limites físicos dos seres humanos (impossibilidade física) ou dos limites jurídicos (impossibilidade jurídica);
c) indeterminável: aquele que não permite individualização (ex: falta do gênero ou da quantidade em uma obrigação de dar).
 III – o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito: o motivo que leva uma pessoa a realizar um negócio jurídico em regra não tem relevância para análise da validade deste. Contudo, quando o motivo for a razão determinante do negócio, há relevância jurídica na sua análise, determinando a nulidade do ato.
IV – não revestir a forma prescrita em lei: em regra o direito civil não exige formalidade para a validade dos negócios jurídicos (Código Civil, art. 107). Contudo, quando esta é exigida e não for cumprida, o negócio será nulo. 
V – for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade: embora alguns autores utilizem as expressões “solenidade” e “formalidade” como sinônimas, entendemos que a formalidade diz respeito à exigência de forma escrita, enquanto a solenidade é a exigência de instrumento público (ex: Código Civil, art. 108). A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre que este puder provar-se por outro meio. VI – tiver por objetivo fraudar lei imperativa: deve ser considerado nulo o negócio jurídico que tenha por objetivo violar norma jurídica considerada de ordem pública (aquelas que não podem ser afastadas pelo exercício da autonomia privada). 
VII – a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção: o negócio jurídico será nulo se a lei assim o determinar (nulidade textual ou expressa) ou se proibir a prática do ato sem estabelecer sanção específica (nulidade virtual ou implícita).
- o art. 167 do Código Civil dispõe que “é nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma”.
- Regras da nulidade: quando o negócio jurídico é considerado nulo, deve ser proposta ação declaratória de nulidade. Qualquer interessado ou até mesmo o Ministério Público têm legitimidade para requerer a declaração de nulidade do negócio jurídico nas hipóteses previstas nos arts. 166 e 167 do Código Civil. 
- art. 168, parágrafo único- as nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz (decretação de ofício), quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes. 
- o negócio jurídico nulo não pode ser suprido, sanado ou convalidado, mas pode ser objeto de conversão. 
- art. 170: “se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade”.
- Anulabilidade: é a sanção imposta pela lei quando presente violação de interesses particulares. Ao contrário da nulidade, que apresenta um estado fixo (o negócio já nasce nulo), a anulabilidade revela um estado mutável (o negócio nasce com a possibilidade de ser anulado). É por essa razão que o negócio jurídico nulo não produz efeitos, e o negócio jurídico anulável produz efeitos até ser anulado.
- Hipóteses de anulabilidade: O art. 171 prevê que, além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I – por incapacidade relativa do agente: os relativamente incapazes devem ser assistidos nos atos da vida civil, sob pena de anulabilidade do negócio.
II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores: o legislador consagrou o princípio da operabilidade ao uniformizar o tratamento conferido aos vícios do negócio jurídico no Código Civil de 2002: todos determinam a anulabilidade do negócio e ação deve ser proposta no prazo decadencial de quatro anos. A simulação não seguiu o mesmo padrão, pois o legislador entendeu que ela não seria vício do negócio. 
- Código Civil apresenta diversas outras hipóteses de anulabilidade: arts. 117, 119, 141, 496, 533, II, 1.550, 1.558, 1.649 e 2.027.
- Consequências da anulabilidade: para que o negócio seja anulado, a parte interessada deverá propor ação anulatória. A legitimidade ativa é exclusiva da parte prejudicada pelo ato e os seus efeitos só aproveitam aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade do objeto.
- A anulabilidade não pode ser pronunciada de ofício pelo juiz e produz efeito antes de julgada por sentença. Essa sentença tem natureza desconstitutiva e eficácia ex nunc consoante doutrina majoritária. 
- O negócio jurídico anulável pode ser confirmado pelas partes, retroagindo à data em que foi celebrado o ato. Essa confirmação do ato não será possível se prejudicar direito de terceiro de boa-fé. 
- O ato de confirmação pode ser expresso ou tácito.
- confirmação expressa: deverá conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo. Também deverá ser observada a solenidade se esta for da substância do ato.
- confirmação tácita: pode ser verificada em duas hipóteses: a primeira decorre do fim do prazo decadencial para a anulação do negócio; a segunda resulta do cumprimento parcial do negócio pelo devedor, quando ciente do vício que o inquinava (o art. 174 dispõe que é escusada – ou seja, dispensada – a confirmação expressa nesta situação). 
- A ação anulatória deverá ser proposta no prazo decadencial de quatro anos, contado: 
I – no caso de coação, do dia em que ela cessar; 
II – no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; 
III – no de atos de incapazes, do

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