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Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ELEITORAL 
ELEIÇÃO SUPLEMENTAR 
ƒ Ausência de responsabilidade civil por gastos decorrentes de eleição suplementar. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
OAB 
ƒ Inscrição na OAB de graduado em curso de Direito não reconhecido pelo MEC. 
 
CÓDIGO DE TRÂNSITO 
ƒ Aplicação de multa por excesso de velocidade pelo DNIT. 
 
DIREITO CIVIL 
PRESCRIÇÃO 
ƒ Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner. 
 
SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO 
ƒ Ação de consignação em pagamento proposta por mutuário regido pelo Plano de Comprometimento da Renda e 
que não quer a renegociação da dívida. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
PLANO DE SAÚDE 
ƒ Validade da cláusula de coparticipação. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
CONTRATOS EMPRESARIAIS 
ƒ Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
COMPETÊNCIA 
ƒ Dever de remessa dos autos ao juízo competente mesmo em caso de processo eletrônico. 
 
AÇÃO DEMARCATÓRIA 
ƒ Ação demarcatória parcial e inexistência de litisconsórcio necessário com os confinantes de imóveis cujos limites 
não estão sendo discutidos. 
 
DIREITO PENAL 
CONFISSÃO 
ƒ Emprego da confissão qualificada como atenuante. 
 
 
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DESOBEDIÊNCIA 
ƒ Não configuração do crime de desobediência na hipótese de não atendimento por Defensor Público-Geral de 
requisição judicial de nomeação de defensor. 
 
LEI DE DROGAS 
ƒ Tráfico cometido nas dependências de estabelecimento prisional e bis in idem. 
ƒ Só poderá incidir a interestadualidade se ficar demonstrado que a intenção do agente era pulverizar a droga em 
mais de um Estado-membro. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
AÇÃO PENAL PRIVADA 
ƒ Honorários advocatícios sucumbenciais em ação penal privada extinta sem julgamento de mérito. 
 
COMPETÊNCIA 
ƒ Crime praticado por militar da ativa e conduta prevista apenas na Lei de Licitações. 
 
REMIÇÃO 
ƒ Remição de pena por trabalho em domingos e feriados. 
 
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR 
COMPETÊNCIA 
ƒ Crime previsto apenas na Lei de Licitações. 
 
DIREITO INTERNACIONAL 
HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA 
ƒ Homologação de sentença estrangeira e confisco de imóvel situado no Brasil 
 
 
DIREITO ELEITORAL 
 
ELEIÇÃO SUPLEMENTAR 
Ausência de responsabilidade civil por gastos decorrentes de eleição suplementar 
 
O candidato ao cargo de prefeito que obtém o deferimento do registro de sua candidatura no 
juízo eleitoral de primeiro grau, mas, depois de eleito, tem o registro indeferido pelo TSE, não 
deve indenização à União por gastos decorrentes de eleição suplementar. 
Entende-se que, neste caso, o candidato, ao tentar concorrer mesmo tendo sido impugnado, 
age no exercício regular de um direito, conduta que não configura ato ilícito indenizável (art. 
188, I, do CC). STJ. 1ª Turma. REsp 1.596.589-AL, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/6/2016 (Info 586). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 2008, João foi candidato ao cargo de Prefeito. 
Vale ressaltar que a candidatura de João foi impugnada pelo Ministério Público sob o argumento de que 
ele estaria inelegível com base no art. 1º, I, "g", da LC 64/90, considerando que tinha uma condenação 
imposta pelo TCU em virtude de suas contas como ex-administrador terem sido desaprovadas. 
João conseguiu uma liminar autorizando que ele concorresse enquanto se discutia a punição imposta pelo TCU. 
O Ministério Público não se conformou e recorreu contra o deferimento do registro da candidatura. 
Antes que o recurso do MP fosse definitivamente julgado, João foi eleito Prefeito. 
No entanto, alguns meses depois, o TSE indeferiu o registro da candidatura de João, dando razão aos 
argumentos do MP. 
Diante disso, foi convocada a realização de nova eleição para o cargo de Prefeito sem a participação de João. 
 
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Ação de indenização 
As eleições, no Brasil, são custeadas pelo orçamento da Justiça Eleitoral, que é um órgão da União. 
Depois de ter sido realizada esta eleição suplementar acima explicada, a União, por meio da AGU, propôs 
ação de indenização contra João, alegando que ele concorreu à eleição para Prefeito mesmo estando 
inelegível por força de lei. Desse modo, ele praticou um ato ilícito que gerou dano aos cofres públicos, 
considerando que foi necessária a realização de novo pleito após o julgamento em definitivo de sua 
inelegibilidade. 
Assim, a União pediu que João fosse condenado a pagar os custos desta nova eleição que foi realizada. 
 
Onde esta ação foi proposta? 
Na Justiça Federal comum (art. 109, I, da CF/88). Isso porque a ação proposta tem como causa de pedir o 
tema "responsabilidade civil", não se tratando de matéria eleitoral propriamente dita. Logo, a 
competência não é da Justiça Eleitoral. 
A competência será da Justiça Federal, por sua vez, porque tem a União como autora. 
 
O pedido da União foi acolhido pelo STJ? 
NÃO. 
 
O candidato ao cargo de prefeito que obtém o deferimento do registro de sua candidatura no juízo 
eleitoral de primeiro grau, mas, depois de eleito, tem o registro indeferido pelo TSE, não deve 
indenização à União por gastos decorrentes de eleição suplementar. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.596.589-AL, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/6/2016 (Info 586). 
 
A União sustenta que o réu teria violado dever jurídico ao registrar sua candidatura mesmo sabendo possuir 
prestação de contas rejeitada pelo TCU. Contudo, o art. 188 do Código Civil afirma que não se constitui ato 
ilícito quando o ato do agente foi praticado "no exercício regular de um direito reconhecido" (inciso I). 
 
O candidato conseguiu concorrer por força de decisão liminar. Somente após as eleições é que esta decisão 
foi revertida. Desse modo, ele conseguiu disputar e vencer a eleição em virtude, principalmente, do atraso 
do TSE na apreciação do recurso que, por força de Resolução do próprio Tribunal, deveria ter sido julgado até 
antes das eleições, o que acabou não acontecendo (art. 62 da Resolução TSE 22.717/2008). 
 
Dessa forma, percebe-se que a realização da eleição suplementar foi ocasionada pela morosidade na 
prestação jurisdicional. As novas eleições poderiam ter sido evitadas caso tivesse sido cumprido pelo TSE o 
prazo que o próprio tribunal estabeleceu na Resolução nº 22.717⁄2008, que editou para regulamentar a 
escolha e registro dos candidatos municipais na eleição de 2008. 
 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
OAB 
Inscrição na OAB de graduado em curso de Direito não reconhecido pelo MEC 
 
A inscrição como advogado, nos quadros da OAB, de quem apresente diploma ou certidão de 
graduação em Direito "obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada" 
(art. 8º, II, do Estatuto da Advocacia) não pode ser impedida pelo fato de o curso de Direito não 
ter sido reconhecido pelo MEC. STJ. 1ª Turma. REsp 1.288.991-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/6/2016 (Info 586). 
 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
O MEC autorizou que a faculdade "XXX" abrisse o curso de Direito. 
Vale ressaltar que, apesar de o curso ter sido autorizado, o MEC ainda não terminou o processo de 
reconhecimento. Em outras palavras, o curso de Direito da faculdade "XXX", apesar de já autorizado, ainda 
não foi reconhecido pelo MEC. 
João matriculou-se e, após cinco anos, concluiu o curso de Direito na faculdade "XXX". 
Mesmo tendo se passado todo esse tempo, o MEC ainda não terminou o processo de reconhecimento do 
cursode Direito na faculdade "XXX". 
João fez o Exame da Ordem e foi aprovado. Diante disso, pediu a sua inscrição como advogado. Ocorre 
que o requerimento foi indeferido pela OAB sob o argumento de que o curso de Direito da faculdade 
"XXX" ainda não foi reconhecido pelo MEC. A OAB afirmou que este reconhecimento é uma exigência legal 
para a inscrição como advogado, nos termos do art. 8º, II, da Lei nº 8.906/94: 
Art. 8º Para inscrição como advogado é necessário: 
II - diploma ou certidão de graduação em direito, obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada 
e credenciada; 
 
O argumento da OAB foi aceito pelo STJ? Para que o bacharel em Direito possa se inscrever como 
advogado é indispensável que o curso de Direito, além de autorizado, tenha sido reconhecido pelo MEC? 
NÃO. 
 
A inscrição como advogado, nos quadros da OAB, de quem apresente diploma ou certidão de graduação 
em Direito "obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada" (art. 8º, II, do 
Estatuto da Advocacia) não pode ser impedida pelo fato de o curso de Direito não ter sido reconhecido 
pelo MEC. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.288.991-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/6/2016 (Info 586). 
 
Segundo o art. 8º, II da Lei nº 8.906/94, para a inscrição no quadro da OAB, é necessária a apresentação de 
diploma ou certidão de graduação em Direito, "obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e 
credenciada". 
 
A OAB embaralhou os conceitos e fez exigência que não consta na lei. No processo de funcionamento da 
instituição privada de ensino superior existem três etapas que são diferentes e não podem ser 
confundidas: 
1) credenciamento da IES: para iniciar suas atividades, as instituições de educação superior (IES) devem 
solicitar o credenciamento junto ao MEC. 
2) autorização: para iniciar a oferta de um curso de graduação, a instituição depende de autorização do 
Ministério da Educação. Desse modo, autorização é o ato formal que permite a uma instituição de ensino 
superior criar e iniciar a implantação de um curso superior de graduação. 
3) reconhecimento: o reconhecimento deve ser solicitado pela IES quando o curso de graduação tiver 
completado 50% de sua carga horária. O reconhecimento de curso é condição necessária para a validade 
nacional dos respectivos diplomas (art. 48 da Lei nº 9.394/96). 
 
O art. 8º, II, do Estatuto da OAB exige apenas que: 
x a pessoa tenha um diploma ou certidão de graduação em Direito; e 
x que a instituição de ensino que o forneceu tenha sido oficialmente autorizada e credenciada. 
 
Repare, portanto, que a Lei não exige que o curso de Direito já tenha sido reconhecido. Desse modo, a 
exigência de reconhecimento do curso não encontra amparo legal nem mesmo para a inscrição como 
advogado, tendo em vista que a Lei nº 8.906/94 apenas prevê a conclusão do curso em instituição 
oficialmente autorizada e credenciada. Portanto, a exigência feita pela OAB foi ilegal. 
 
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É desarrazoado exigir do estudante que aguarde, por prazo indeterminado, estagnado no mercado de trabalho, 
o fim da demora da Administração Pública que ainda não terminou de fiscalizar o curso já autorizado a 
funcionar (STJ. 2ª Turma. REsp 1.277.643/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJ 27/2/2012). 
 
 
 
CÓDIGO DE TRÂNSITO 
Aplicação de multa por excesso de velocidade pelo DNIT 
 
Atenção! Concursos federais 
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) tem competência para 
autuar e aplicar sanções por excesso de velocidade em rodovias e estradas federais. 
A competência da Polícia Rodoviária Federal para aplicar multas de trânsito nas rodovias 
federais não é exclusiva. 
Se analisarmos o art. 82, § 3º da Lei nº 10.233/2001 combinado com o art. 21, VI, da Lei nº 
9.503/97, veremos que o DNIT detém competência para aplicar multa por excesso de velocidade. STJ. 1ª Turma. REsp 1.583.822-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/6/2016 (Info 586). STJ. 2ª Turma. REsp 1592969/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/05/2016. 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João estava dirigindo seu veículo a 150km/h em uma rodovia federal, quando, então, foi multado por 
excesso de velocidade. 
Ocorre que esta multa foi aplicada por um servidor do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de 
Transporte). 
Inconformado, João ingressou com ação na Justiça Federal pedindo a anulação da sanção sob o argumento 
de que a competência para aplicar multas de trânsito nas rodovias federais é exclusiva da Polícia 
Rodoviária Federal. Teria havido, assim, violação da competência para praticar o ato administrativo. 
 
A tese de João pode ser aceita? A competência para aplicar multas de trânsito nas rodovias federais é 
exclusiva da PRF? O DNIIT está impedido de aplicá-las? 
NÃO. 
 
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) tem competência para autuar e aplicar 
sanções por excesso de velocidade em rodovias e estradas federais. 
STJ. 1ª Turma. REsp 1.583.822-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/6/2016 (Info 586). 
 
Atribuições do DNIT 
As atribuições do DNIT estão previstas no art. 82 da Lei nº 10.233/2001 (Art. 82. São atribuições do DNIT, 
em sua esfera de atuação...). 
Se você ler os incisos do art. 82, não irá realmente encontrar a atribuição de aplicar multas. No entanto, 
veja o que diz o § 3º do art. 82: 
§ 3º É, ainda, atribuição do DNIT, em sua esfera de atuação, exercer, diretamente ou mediante convênio, 
as competências expressas no art. 21 da Lei nº 9.503, de 1997, observado o disposto no inciso XVII do art. 
24 desta Lei. 
 
A Lei nº 9.503/97 é o Código de Trânsito brasileiro e o art. 24 elenca as competências dos órgãos e 
entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. 
 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Dentre as competências previstas aos órgãos e entidades executivos rodoviários pelo art. 21 da Lei nº 
9.503/97, seu inciso VI determina de forma clara: 
Art. 21. Compete aos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal 
e dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição: 
(...) 
VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar, aplicar as penalidades de advertência, por escrito, e ainda as 
multas e medidas administrativas cabíveis, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar; 
 
Portanto, se analisarmos o art. 82, § 3º da Lei nº 10.233/2001 combinado com o art. 21, VI, da Lei nº 
9.503/97, veremos que o DNIT detém competência para aplicar multa por excesso de velocidade. 
 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
PRESCRIÇÃO 
Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner 
 
É de 1 ano o prazo de prescrição da pretensão do segurador, sub-rogado nos direitos do 
segurado, de indenização pela deterioração de carga em navio por falha em contêiner. 
Aplica-se, neste caso, o art. 8º do Decreto-Lei 116/1967, que trata sobre o prazo prescricional 
envolvendo as ações por extravio, perdas e avarias de carga. 
Não se aplica o art. 206, § 3º, V, do CC considerando que se trata de norma geral e, por isso, não 
revogou o art. 8º do DL nº 116/1967, que é considerado norma especial. 
Aplica-se à presente situação a Súmula 151 do STF que, apesar de antiga, continua vigente: 
Súmula 151-STF: Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver 
indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio. STJ. 4ª Turma. REsp 1.278.722-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/5/2016 (Info 586). 
 
Vide comentários em Direito Empresarial. 
 
 
 
SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO 
Ação de consignação em pagamento proposta por mutuário regido pelo Plano de 
Comprometimento da Renda e quenão quer a renegociação da dívida 
 
No contrato de financiamento habitacional regido pelo Plano de Comprometimento da Renda – 
PCR (Lei nº 8.692/93) as parcelas que irão ser pagas pelo mutuário deverão ser fixadas em um 
valor que não ultrapasse 30% da sua renda bruta mensal. 
Em caso de redução da renda, a Lei determina que o mutuário deverá procurar a instituição 
financeira e renegociar as condições de amortização. Assim, a parcela irá ser reduzida para 
ficar no máximo legal, mas haverá dilação do prazo de liquidação do financiamento. 
Determinado mutuário adquiriu uma casa por meio de financiamento bancário regido pelo SFH 
em conformidade com o PCR. Houve uma redução de sua renda mensal e, em razão disso, ele 
ajuizou ação de consignação em pagamento pedindo a quitação e extinção de suas obrigações tão 
somente por meio da consignação dos valores que ele unilateralmente entende como devidos. 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
Esta ação deverá ser julgada improcedente. A solução prevista pela Lei para esta situação é a 
renegociação da dívida, com a redução negociada das parcelas mediante prolongamento do 
prazo de pagamento. STJ. 4ª Turma. REsp 886.846-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 7/6/2016 (Info 586). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João adquiriu uma casa por meio de financiamento bancário regido pelo Sistema Financeiro da Habitação. 
O SFH é um programa do Governo Federal, criado pela Lei nº 4.380/64, com o objetivo de facilitar que 
pessoas de baixa renda possam adquirir a sua casa própria. 
A legislação que rege o SFH prevê condições mais favoráveis às pessoas que adquirem os imóveis porque 
existe um incentivo (subsídio) estatal. Em compensação, o adquirente tem que cumprir certas obrigações 
e, em caso de inadimplemento, são estipuladas regras mais céleres para a cobrança do débito. 
 
Plano de Comprometimento da Renda (Lei nº 8.692/93) 
O contrato celebrado por João era regido pela Lei nº 8.692/93, que trata sobre o Plano de 
Comprometimento da Renda (PCR). 
O contrato de financiamento habitacional regido pelo PCR funciona da seguinte forma: as parcelas que 
irão ser pagas pelo mutuário (pessoa que tomou o empréstimo) deverão ser fixadas em um valor que não 
ultrapasse 30% da sua renda bruta mensal. 
Ex: se João possuía uma renda bruta de R$ 10 mil, a parcela do financiamento deveria ser fixada em, no 
máximo, R$ 3 mil. 
 
E se a renda bruta do mutuário diminuir? Ex: João mudou de emprego e passou a receber apenas R$ 5 mil. 
O que fazer com as parcelas do financiamento? 
Neste caso, a Lei determina que o mutuário deverá procurar a instituição financeira e renegociar as 
condições de amortização. Assim, a parcela irá ser reduzida para ficar no máximo legal (30%), mas haverá 
dilação do prazo de liquidação do financiamento (art. 4º, §§ 3º e 4º). 
 
Feitos estes esclarecimentos, voltemos ao nosso exemplo: 
João pagava parcelas de R$ 3 mil, o que correspondia a 30% de sua renda bruta. 
Ocorre que sua renda bruta diminuiu para R$ 5 mil. 
Diante disso, ele ajuizou ação de consignação em pagamento contra a instituição financeira dizendo que a 
partir daquele momento sua prestação seria de R$ 1.500. Vale ressaltar que o autor não quer que o prazo 
de pagamento seja ampliado, ou seja, não quer o aumento do número das prestações. 
 
Esta ação de consignação em pagamento deverá ser julgada procedente? 
NÃO. 
 
Deverá ser julgada improcedente a ação de consignação em pagamento no caso em que o autor - 
mutuário de contrato de financiamento habitacional celebrado no âmbito do SFH em conformidade com 
o Plano de Comprometimento da Renda (Lei nº 8.692/93) que, em razão da redução de sua renda, a viu 
comprometida em percentual superior ao máximo estabelecido no contrato - a tenha ajuizado buscando 
a quitação e extinção de suas obrigações tão somente por meio da consignação dos valores que ele 
unilateralmente entende como devidos. 
STJ. 4ª Turma. REsp 886.846-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 7/6/2016 (Info 586). 
 
A solução prevista pela Lei para esta situação é a renegociação da dívida, com a redução negociada das 
parcelas mediante prolongamento do prazo de pagamento. 
Caso a renegociação não se mostrasse possível na prática, o autor deveria ter proposto ação de 
consignação cumulada com ação de revisão do contrato, invocando o art. 4º, §§ 3º e 4º da Lei nº 8.692/93. 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
No entanto, em vez de buscar a renegociação, o autor limitou-se a ajuizar ação de consignação em 
pagamento com a qual busca simplesmente a quitação e extinção de suas obrigações sem levar em conta 
a necessidade de prolongar o prazo de pagamento. 
Como o autor não pretende com a ação renegociar ou revisar as condições da amortização, com a dilação 
do prazo de financiamento, mas sim consignar o valor que unilateralmente entende devido, mostra-se 
improcedente sua pretensão. 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
PLANO DE SAÚDE 
Validade da cláusula de coparticipação 
 
Importante!!! 
Não é abusiva cláusula contratual de plano privado de assistência à saúde que estabeleça a 
coparticipação do usuário nas despesas médico-hospitalares em percentual sobre o custo de 
tratamento médico realizado sem internação, desde que a coparticipação não caracterize 
financiamento integral do procedimento por parte do usuário, ou fator restritor severo ao 
acesso aos serviços. STJ. 3ª Turma. REsp 1.566.062-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/6/2016 (Info 586). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João é cliente de um plano de saúde. Segundo o contrato assinado, o plano de saúde arca com 80% dos 
tratamentos e o próprio consumidor tem que pagar os 20% restantes. Na linguagem dos planos, isso é 
chamado de coparticipação do usuário. 
João precisou realizar um tratamento de quimioterapia e ajuizou ação pedindo que não tivesse que 
cumprir a cláusula da coparticipação. Alegou que ela seria abusiva, considerando que acarreta 
desvantagem exagerada do consumidor frente à operadora de plano de saúde, devendo ser considerada 
nula de pleno direito, com base no art. 51, IV do CDC: 
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de 
produtos e serviços que: 
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem 
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; 
 
A tese de João foi aceita pelo STJ? Esta previsão é abusiva? Em princípio, a cláusula que preveja a 
coparticipação do usuário nas despesas médico-hospitalares afronta direitos do consumidor e a 
legislação dos planos de saúde? 
NÃO. 
 
Regra: não é abusiva cláusula contratual de plano privado de assistência à saúde que estabeleça a 
coparticipação do usuário nas despesas médico-hospitalares em percentual sobre o custo de tratamento 
médico realizado sem internação. 
 
Exceção: esta cláusula será abusiva em dois casos: 
1) Se a coparticipação do usuário financiar integralmente o procedimento médico-hospitalar; 
2) Se o percentual exigido do usuário representar, no caso concreto, uma restrição severa aos serviços 
médico-hospitalares. 
 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
Não é abusiva cláusula contratual de plano privado de assistência à saúde que estabeleça a 
coparticipação do usuário nas despesas médico-hospitalares em percentual sobre o custo de tratamento 
médico realizado sem internação, desde que a coparticipação não caracterize financiamento integral do 
procedimento por parte do usuário, ou fator restritor severo ao acesso aos serviços. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.566.062-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/6/2016 (Info 586). 
 
Espécies de planosde saúde 
Os planos de saúde podem ser: 
a) integrais (completos): quando é apenas exigida uma mensalidade fixa do contratante, mas quando este 
necessita de algum atendimento médico ou hospitalar, não terá que pagar mais nada; 
b) coparticipativos: são aqueles em que o plano de saúde cobra uma mensalidade reduzida. No entanto, 
para o contratante utilizar algum serviço médico ou hospitalar, ele terá que pagar um percentual dos 
custos do procedimento e o plano arca com o restante. 
 
Lei nº 9.656/98 permite planos coparticipativos 
Os planos coparticipativos são permitidos pela Lei nº 9.656/98, que rege os planos de saúde. É o que se 
pode extrair da interpretação do art. 16, VIII da Lei: 
Art. 16. Dos contratos, regulamentos ou condições gerais dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do 
art. 1º desta Lei devem constar dispositivos que indiquem com clareza: 
(...) 
VIII - a franquia, os limites financeiros ou o percentual de co-participação do consumidor, contratualmente 
previstos nas despesas com assistência médica, hospitalar e odontológica; 
 
Assim, o art. 16, VIII, da Lei nº 9.656/1998 permitiu a inclusão de fatores moderadores, paralelos às 
mensalidades, no custeio dos planos de saúde, como a coparticipação, a franquia e os limites financeiros, 
que devem estar devidamente previstos no contrato, de forma clara e legível, desde que também não 
acarretem o desvirtuamento da livre escolha do consumidor. 
Segundo o art. 3º, da Resolução n. 8/1998 do Conselho de Saúde Suplementar (CONSU), franquia é o valor 
estabelecido no contrato de plano de saúde até o qual a operadora não tem responsabilidade de 
cobertura, e a coparticipação é a parte efetivamente paga pelo consumidor à operadora referente à 
realização de determinado procedimento, que se soma à mensalidade. 
Logo, para o STJ, não há ilegalidade na contratação de plano de saúde em regime de coparticipação. Ao 
contrário, existe até mesmo previsão expressa na Lei (art. 16, VIII, da Lei nº 9.656/98). 
 
Sistema de coparticipação reduz valor das mensalidades e estimula a prudência 
A adoção da coparticipação no plano de saúde implica diminuição do risco assumido pela operadora, o 
que provoca redução do valor da mensalidade a ser paga pelo usuário que, por sua vez, caso utilize 
determinada cobertura, arcará com valor adicional apenas quanto a tal evento. 
O sistema de coparticipação, além de proporcionar mensalidades mais módicas, é uma medida que inibe 
condutas descuidadas e pródigas do usuário, visto que o uso indiscriminado de procedimentos, consultas e 
exames afetará negativamente o seu patrimônio. Em outras palavras, tem por objetivo evitar a utilização 
"desnecessária" do plano. 
 
Limites aos planos coparticipativos 
É proibida a cláusula de coparticipação em dois casos: 
1) quando preveja o financiamento integral do procedimento por parte do usuário; 
2) quando representar fator restritor severo ao acesso aos serviços. 
 
Tais limitações estão previstas no art. 2º, VII da Resolução nº 8/1998 do CONSU: 
Art. 2º Para adoção de práticas referentes à regulação de demanda da utilização dos serviços de saúde, 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
estão vedados: 
(...) 
VII - estabelecer co-participação ou franquia que caracterize financiamento integral do procedimento por 
parte do usuário, ou fator restritor severo ao acesso aos serviços; 
 
Não é possível atribuir ao usuário de plano de saúde, sob o disfarce da coparticipação, o custeio da maior 
parte das despesas médicas, impedindo-o de usufruir dos serviços de assistência à saúde contratados. Ex: 
seria abusiva a cláusula que previsse que o plano de saúde pagaria 20% do tratamento e o usuário os 80% 
restantes. 
 
Plano coparticipativo e internação 
No caso de internação, a Resolução do CONSU determina que é possível a cláusula de coparticipação, mas 
esta não poderá ser fixada em percentuais, devendo o contrato determinar valores prefixados a fim de 
não surpreender o contrante. Veja: 
Art. 2º Para adoção de práticas referentes à regulação de demanda da utilização dos serviços de saúde, 
estão vedados: 
(...) 
VIII - estabelecer em casos de internação, fator moderador em forma de percentual por evento, com 
exceção das definições específicas em saúde mental. 
 
Art. 4º As operadoras de planos ou seguros privados de assistência à saúde, quando da utilização de 
mecanismos de regulação, deverão atender às seguintes exigências: 
(...) 
VII - estabelecer, quando optar por fator moderador em casos de internação, valores prefixados que não 
poderão sofrer indexação por procedimentos e/ou patologias. 
 
 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
CONTRATOS EMPRESARIAIS 
Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner 
 
É de 1 ano o prazo de prescrição da pretensão do segurador, sub-rogado nos direitos do 
segurado, de indenização pela deterioração de carga em navio por falha em contêiner. 
Aplica-se, neste caso, o art. 8º do Decreto-Lei 116/1967, que trata sobre o prazo prescricional 
envolvendo as ações por extravio, perdas e avarias de carga. 
Não se aplica o art. 206, § 3º, V, do CC considerando que se trata de norma geral e, por isso, não 
revogou o art. 8º do DL nº 116/1967, que é considerado norma especial. 
Aplica-se à presente situação a Súmula 151 do STF que, apesar de antiga, continua vigente: 
Súmula 151-STF: Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver 
indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio. STJ. 4ª Turma. REsp 1.278.722-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/5/2016 (Info 586). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
A empresa Sadia S.A. celebrou contrato com uma transportadora referente a 3 mil caixas de frango 
congelado, que seriam transportadas em um contêiner localizado dentro de um navio. 
Ocorre que o sistema de refrigeração do contêiner em que a carga estava depositada apresentou 
vazamento de gás, o que ocasionou o descongelamento e deterioração dos produtos, sendo, por esse 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
motivo, totalmente rejeitado para consumo humano pelos órgãos de fiscalização sanitária. 
Sorte da Sadia que havia feito um contrato de seguro da carga com a Bradesco Seguros S.A., que indenizou 
o prejuízo para a empresa segurada. 
Depois de pagar, a Bradesco Seguros S.A. (seguradora) sub-rogou-se nos direitos da segurada (Sadia). Em 
outras palavras, o direito que a Sadia possuía de ser indenizada pela transportadora passou para a 
seguradora, que poderá cobrar esta quantia. 
Diante disso, a Bradesco Seguros S.A. ajuizou ação de indenização contra a transportadora pedindo o 
recebimento do valor pago a título de indenização à sua segurada. 
 
Discussão quanto à prescrição 
A Bradesco Seguros ajuizou a ação depois de dois anos do ocorrido. Em razão disso, a transportadora 
alegou que a pretensão estaria prescrita, considerando que o prazo seria de 1 ano, nos termos do art. 8º 
do Decreto-Lei nº 116/1967: 
Art. 8º Prescrevem ao fim de um ano, contado da data do término da descarga do navio transportador, as 
ações por extravio de carga, bem como as ações por falta de conteúdo, diminuição, perdas e avarias ou 
danos à carga. 
 
A seguradora não concordou e contra-argumentou afirmando que o prazo prescricional seria de 3 anos, 
conforme previsto no art. 206, § 3º, V, do CC, que é norma posterior e, portanto, teria revogado a anterior: 
Art. 206. Prescreve: 
§ 3º Em três anos: 
V - a pretensão de reparação civil; 
 
Quem teve a sua tese acolhida pelo STJ: a transportadora ou a seguradora? Qual é o prazo prescricional 
neste caso? 
A transportadora. 
 
É de 1 ano o prazo de prescrição da pretensão do segurador, sub-rogado nos direitos do segurado, de 
indenização pela deterioração de carga em naviopor falha em contêiner. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.278.722-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/5/2016 (Info 586). 
 
A lei especial prevalece sobre a norma geral. Isso significa que o art. 206, § 3º, V, do CC não revogou o art. 
8º do DL nº 116/1967, considerando que esta é norma especial que regula o prazo prescricional envolvendo 
as ações por extravio, perdas e avarias de carga. Desse modo, não se aplica ao caso o Código Civil, mas sim a 
legislação específica. 
 
Aplica-se à presente situação a Súmula 151 do STF que, apesar de antiga, continua vigente: 
Súmula 151-STF: Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver indenização por 
extravio ou perda de carga transportada por navio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
COMPETÊNCIA 
Dever de remessa dos autos ao juízo competente mesmo em caso de processo eletrônico 
 
Se o juízo reconhece a sua incompetência absoluta para conhecer da causa, ele deverá determinar 
a remessa dos autos ao juízo competente e não extinguir o processo sem exame do mérito. 
O argumento de impossibilidade técnica do Poder Judiciário em remeter os autos para o juízo 
competente, ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico, não pode ser 
utilizado para prejudicar o jurisdicionado, sob pena de configurar-se indevido obstáculo ao 
acesso à tutela jurisdicional. 
Assim, implica indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional a decisão que, após o 
reconhecimento da incompetência absoluta do juízo, em vez de determinar a remessa dos 
autos ao juízo competente, extingue o feito sem exame do mérito, sob o argumento de 
impossibilidade técnica do Judiciário em remeter os autos para o órgão julgador competente, 
ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico. STJ. 2ª Turma. REsp 1.526.914-PE, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3ª Região), julgado em 21/6/2016 (Info 586). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João impetrou mandado de segurança na Justiça Federal de 1ª instância da Seção Judiciária de Recife (PE) 
contra ato praticado pelo Superintendente de uma entidade federal. 
O Juiz Federal entendeu que a autoridade apontada como coatora possui domicílio funcional em Brasília (DF), 
de forma que a Justiça Federal da Seção Judiciária de Brasília (DF) seria competente para conhecer a demanda. 
Diante disso, o Juiz Federal de Recife, de ofício, reconheceu sua incompetência para o julgamento da causa. 
 
A incompetência, neste caso, é absoluta ou relativa? 
Absoluta. Segundo entendimento consolidado no STJ, “em se tratando de mandado de segurança, a 
competência para processamento e julgamento da demanda é estabelecida de acordo com a sede 
funcional da autoridade apontada como coatora e a sua categoria profissional, o que evidencia a natureza 
absoluta e a improrrogabilidade da competência, bem como a possibilidade de seu conhecimento ex 
officio" (STJ. 1ª Seção. CC 41.579/RJ, Rel. Min. Denise Arruda, julgado em 14/09/2005). 
 
Assim, se a parte resolve impetrar mandado de segurança contra uma autoridade federal, será competente a 
seção judiciária do local onde esta autoridade tenha sede funcional, ou seja, onde ela trabalha. Não se aplica 
ao autor do mandado de segurança a prerrogativa prevista no art. 109, § 2º da CF/88: 
Art. 109 (...) 
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado 
o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a 
coisa, ou, ainda, no Distrito Federal. 
 
A justificativa dada é a de que, em se tratando de mandado de segurança, é a autoridade impetrada que 
será notificada para prestar informações. Logo, se a autoridade possui sede funcional em Brasília, o 
mandamus deverá ser impetrado na Seção Judiciária do DF, sendo inviável que a autoridade que more e 
resida em um local seja demandada em outro. Diferente seria o caso se a parte autora tivesse ingressado 
com uma ação ordinária. Nesta hipótese, ela teria opções e poderia propor a ação na seção judiciária: 
a) onde ela mora; 
b) onde o ato ou fato ocorreu; 
c) onde esteja situada a coisa; 
d) ou no DF. 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
 
Tendo a parte optado por ingressar com MS, ela deverá se sujeitar às regras próprias de competência deste 
tipo de ação, sendo competente o local da sede funcional da autoridade. Esta competência é absoluta. 
 
O juiz poderia ter declarado a incompetência de ofício? 
Sim. A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser 
declarada de ofício (art. 64, § 1º do CPC/2015). 
 
Quando o juiz reconhece a sua incompetência absoluta, qual a providência que ele deve adotar? 
O juiz, reconhecendo sua incompetência, deverá remeter os autos ao juízo competente (art. 64, § 3º do 
CPC/2015). 
Vale ressaltar que se o juízo incompetente já tiver praticado atos decisórios, em regra, eles continuarão 
produzindo efeitos até que o juízo competente os confirme ou revogue. Veja: 
Art. 64 (...) § 4º Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida 
pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente. 
 
O juiz deverá remeter os autos ao juízo competente mesmo que a ação proposta tenha sido um 
mandado de segurança? O art. 64, § 3º do CPC é aplicado também para os processos de MS? 
SIM. Nesse sentido já decidiu o STJ na vigência do CPC passado: STJ. 1ª Seção. MS 21.744/DF, Rel. Min. Og 
Fernandes, julgado em 23/09/2015. O mesmo entendimento continua válido com o novo CPC. 
 
Vamos voltar ao nosso exemplo: 
O Juiz Federal de Recife decidiu que era absolutamente incompetente para julgar o MS. No entanto, em 
vez de remeter os autos ao juízo competente, ele extinguiu o processo sem resolução do mérito. 
O magistrado argumentou que o processo é eletrônico e que, como são regiões diferentes (TRF5 e TRF1) 
existe uma impossibilidade técnica de enviar os autos para a Seção Judiciária do DF pelo sistema do PJE 
(Processo Judicial Eletrônico). 
 
O argumento invocado pelo magistrado foi aceito pelo STJ? 
NÃO. 
 
Se o juízo reconhece a sua incompetência absoluta para conhecer da causa, ele deverá determinar a 
remessa dos autos ao juízo competente e não extinguir o processo sem exame do mérito. 
O argumento de impossibilidade técnica do Poder Judiciário em remeter os autos para o juízo competente, 
ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico, não pode ser utilizado para prejudicar o 
jurisdicionado, sob pena de configurar-se indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional. 
Assim, implica indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional a decisão que, após o reconhecimento da 
incompetência absoluta do juízo, em vez de determinar a remessa dos autos ao juízo competente, extingue o 
feito sem exame do mérito, sob o argumento de impossibilidade técnica do Judiciário em remeter os autos 
para o órgão julgador competente, ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.526.914-PE, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3ª 
Região), julgado em 21/6/2016 (Info 586). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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AÇÃO DEMARCATÓRIA 
Ação demarcatória parcial e inexistência de litisconsórcio necessário 
com os confinantes de imóveis cujos limites não estão sendo discutidos 
 
Em ação demarcatória de parte de imóvel, é facultativo - e não necessário - o litisconsórcio 
passivo entre o réu e os confinantes da área do bem que não é objeto de demarcação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.403-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha,julgado em 23/6/2016 (Info 586). 
 
Ação demarcatória 
Ação demarcatória (ou ação de demarcação) é aquela proposta... 
- pelo proprietário 
- com o objetivo de obrigar o seu confinante ("vizinho que faz fronteira") 
- a colocar limites (fronteiras) entre os respectivos imóveis, 
- ou seja, definir onde termina um imóvel e começa o outro, 
- fixando novos limites entre eles (caso não haja ou estejam errados), 
- ou aviventando (realçando, reavivando) os limites que já existiram, mas estão apagados. 
 
Previsão 
O direito material à demarcação está previsto no art. 1.297 do CC: 
Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, 
urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois 
prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se 
proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas. 
 
O CPC regulamenta a parte processual no art. 569, I e nos arts. 574 a 587. Veja os principais dispositivos 
sobre o tema: 
Art. 569. Cabe: 
I - ao proprietário a ação de demarcação, para obrigar o seu confinante a estremar os respectivos prédios, 
fixando-se novos limites entre eles ou aviventando-se os já apagados; 
 
 
Art. 574. Na petição inicial, instruída com os títulos da propriedade, designar-se-á o imóvel pela situação e 
pela denominação, descrever-se-ão os limites por constituir, aviventar ou renovar e nomear-se-ão todos 
os confinantes da linha demarcanda. 
 
Art. 580. Concluídos os estudos, os peritos apresentarão minucioso laudo sobre o traçado da linha 
demarcanda, considerando os títulos, os marcos, os rumos, a fama da vizinhança, as informações de 
antigos moradores do lugar e outros elementos que coligirem. 
 
 
Art. 581. A sentença que julgar procedente o pedido determinará o traçado da linha demarcanda. 
Parágrafo único. A sentença proferida na ação demarcatória determinará a restituição da área invadida, 
se houver, declarando o domínio ou a posse do prejudicado, ou ambos. 
 
Art. 582. Transitada em julgado a sentença, o perito efetuará a demarcação e colocará os marcos necessários. 
Parágrafo único. Todas as operações serão consignadas em planta e memorial descritivo com as 
referências convenientes para a identificação, em qualquer tempo, dos pontos assinalados, observada a 
legislação especial que dispõe sobre a identificação do imóvel rural. 
 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
Art. 587. Assinado o auto pelo juiz e pelos peritos, será proferida a sentença homologatória da 
demarcação. 
 
Ponto de destaque: demarcação extrajudicial 
O CPC/2015 trouxe uma interessante novidade ao prever que a demarcação poderá ser feita 
extrajudicialmente. Confira: 
Art. 571. A demarcação e a divisão poderão ser realizadas por escritura pública, desde que maiores, 
capazes e concordes todos os interessados, observando-se, no que couber, os dispositivos deste Capítulo. 
 
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: 
João é proprietário de uma fazenda. Na sua esquerda, o imóvel faz fronteira com a chácara de Pedro; na 
direita, com o sítio de Antônio; na parte de trás, o imóvel confinante pertence a Carlos. Estes são os 
vizinhos imediatos do imóvel de João. 
Não existe cerca dividindo a fazenda com a chácara de Pedro. João percebeu que Pedro acabou avançando 
e ocupando boa parte de seu imóvel. 
Diante disso, ele ajuizou contra Pedro ação demarcatória pedindo que o juiz nomeie perito e que este defina 
a linha que divide os dois imóveis, após o que serão colocadas cercas separando as duas propriedades. 
O réu foi citado pelos correios (art. 576 do CPC/2015), com prazo de 15 dias para contestar (art. 577). 
Na contestação, Pedro alegou, dentre outras matérias, que o autor deveria ter ajuizado a ação contra 
todos os confinantes da área do bem que é objeto da demarcação. Em outras palavras, Antônio e Carlos 
também deveriam ter sido citados porque seriam litisconsortes necessários. 
 
A tese de Pedro foi aceita pelo STJ? 
NÃO. 
 
Em ação demarcatória de parte de imóvel, é facultativo - e não necessário - o litisconsórcio passivo entre 
o réu e os confinantes da área do bem que não é objeto de demarcação. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.403-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 23/6/2016 (Info 586). 
 
Demarcatória parcial 
No caso concreto, tem-se uma ação demarcatória parcial. Isso porque só se está pleiteando a demarcação 
de parte da propriedade do autor, que teria sido objeto de esbulho possessório pelo réu indicado na 
petição inicial. 
O confinante que foi regularmente citado não tem legitimidade para arguir a nulidade por ausência de 
participação dos proprietários das áreas contíguas. Para ele não há nenhum prejuízo no fato de os demais 
vizinhos não estarem participando da lide, já que estes não têm qualquer relação com a discussão entre o 
autor e o réu. A participação dos demais confinantes como réus não traria qualquer benefício ou utilidade 
para o processo. 
Assim, nas demarcatórias parciais, há o litisconsórcio passivo necessário apenas entre os vizinhos lindeiros 
da área específica cuja demarcação é pretendida. 
Quanto aos demais vizinhos, trata-se, no máximo, de litisconsórcio passivo facultativo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
DIREITO PENAL 
 
CONFISSÃO 
Emprego da confissão qualificada como atenuante 
 
A confissão, mesmo que qualificada, dá ensejo à incidência da atenuante prevista no art. 65, III, 
d, do CP, quando utilizada para corroborar o acervo probatório e fundamentar a condenação. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.416.247-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 22/6/2016 (Info 586). Importante recordar o entendimento sumulado do STJ sobre o tema: 
Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do 
julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal. 
 
CONFISSÃO ESPONTÂNEA: ATENUANTE 
A confissão espontânea é atenuante genérica prevista no art. 65, III, “d”, do CP: 
Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: 
III — ter o agente: 
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; 
 
Como se trata de atenuante, a confissão serve para diminuir a pena do condenado, o que é feito na 2ª fase 
da dosimetria da pena. 
 
CONFISSÃO PARCIAL 
A confissão parcial ocorre quando o réu confessa apenas parcialmente os fatos narrados na denúncia. 
Ex.: o réu foi denunciado por furto qualificado pelo rompimento de obstáculo (art. 155, § 4º, I, do CP). Ele 
confessa a subtração do bem, mas nega que tenha arrombado a casa. 
 
Se a confissão foi parcial e o juiz a considerou no momento da condenação, este magistrado deverá 
fazer incidir a atenuante na fase da dosimetria da pena? 
SIM. Se a confissão, ainda que parcial, serviu de suporte para a condenação, ela deverá ser utilizada como 
atenuante (art. 65, III, “d”, do CP) no momento de dosimetria da pena. 
STJ. 6ª Turma. HC 217.683/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 25/06/2013. 
STJ. 5ª Turma. HC 328.021-SC, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJ-PE), 
julgado em 3/9/2015 (Info 569). 
 
CONFISSÃO QUALIFICADA 
A confissão qualificada ocorre quando o réu admite a prática do fato, no entanto, alega em sua defesa um 
motivo que excluiria o crime ou o isentaria de pena. Ex: eu matei sim, mas foi em legítima defesa. 
Obs: por serem muito próximos os conceitos, alguns autores apresentam a confissão parcial e a qualificada 
como sinônimas. 
 
Se a confissão foi qualificada e o juiz a considerou no momento da condenação, este magistrado deverá 
fazer incidir a atenuante na fase da dosimetria da pena? 
A confissão qualificada (aquela na qualo agente agrega teses defensivas discriminantes ou exculpantes), 
quando efetivamente utilizada como elemento de convicção, enseja a aplicação da atenuante prevista na 
alínea “d” do inciso III do art. 65 do CP (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.198.354-ES, Rel. Min. Jorge Mussi, 
julgado em 16/10/2014). 
 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
Obs: o STF possui precedentes em sentido contrário. Veja: 
(...) A confissão qualificada não é suficiente para justificar a atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do 
Código Penal (...) 
STF. 1ª Turma. HC 119671, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 05/11/2013. 
 
Como o último julgado do STF sobre o tema é relativamente antigo (2013), em provas, é mais provável que 
seja cobrado o entendimento do STJ. 
 
CONFISSÃO RETRATADA 
A chamada confissão retratada ocorre quando o agente confessa a prática do delito e, posteriormente, se 
retrata, negando a autoria. 
Ex: durante o inquérito policial, João confessa o crime, mas em juízo volta atrás e se retrata, negando a 
imputação e dizendo que foi torturado pelos policiais. 
 
O agente confessa na fase do inquérito policial e, em juízo, se retrata, negando a autoria. O juiz condena o 
réu fundamentando sua sentença, dentre outros argumentos e provas, na confissão extrajudicial. Deverá 
incidir a atenuante? 
SIM. Se a confissão do agente é utilizada pelo magistrado como fundamento para embasar a condenação, 
a atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea “d”, do CP deve ser aplicada em favor do réu, não 
importando que, em juízo, este tenha se retratado (voltado atrás) e negado o crime (STJ. 5ª Turma. HC 
176.405/RO, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/04/2013). 
 
Em suma, na sentença, o juiz poderá utilizar a confissão parcial, a confissão qualificada ou a confissão 
com retratação posterior para, em conjunto com outras provas, condenar o réu? 
SIM. 
 
Neste caso, o juiz deverá aplicar a atenuante do art. 65, III, “d”, do CP? 
SIM. 
 
(...) A orientação desta Corte é pela irrelevância de ser a confissão parcial ou total, condicionada ou 
irrestrita, com ou sem retratação posterior, devendo incidir a atenuante do art. 65, III, "d", do Código 
Penal, desde que utilizada como fundamento para a condenação. (...) 
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1450875/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 04/08/2015. 
 
Obs: o STF possui julgado em sentido contrário: 
(...) 1. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: a retratação em juízo da anterior confissão policial 
obsta a invocação e a aplicação obrigatória da circunstância atenuante referida no art. 65, inc. III, alínea 
‘d’, do Código Penal. Não é de se aplicar a atenuante da confissão espontânea para efeito de redução da 
pena se o réu, denunciado por tráfico de droga, confessa que a portava apenas para uso próprio. (...) 
STF. 2ª Turma. HC 118375, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 08/04/2014. 
 
Como o último julgado do STF sobre o tema é relativamente antigo (2014), em provas, é mais provável que 
seja cobrado o entendimento do STJ. 
 
SÚMULA 545-STJ 
O STJ resumiu seus entendimentos sobre a confissão em um enunciado que diz o seguinte: 
Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu 
fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal. 
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 14/10/2015, DJe 19/10/2015. 
 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Desse modo, a Súmula 545 do STJ vale tanto para casos de confissão parcial, de confissão qualificada e 
confissão com retratação posterior. Em suma, se o juiz utilizou a confissão como fundamento (elemento 
de argumentação) para embasar a condenação, ele, obrigatoriamente, deverá aplicar a atenuante prevista 
no art. 65, inciso III, alínea “d”, do CP. 
 
Ora, a confissão é um fato processual que gera um ônus e um bônus para o réu. O ônus está no fato de 
que isso será utilizado contra ele como elemento de prova no momento da sentença. O bônus foi 
concedido pela lei e consiste na atenuação de sua pena. Não seria justo que o magistrado utilizasse a 
confissão apenas para condenar o réu, sem lhe conferir o bônus, qual seja, o reconhecimento da confissão. 
 
Obs: em provas de concurso, penso que irão cobrar, durante um bom tempo, a mera redação da Súmula 
545 do STJ. Algo como: “segundo o entendimento sumulado do STJ...”. 
 
 
 
DESOBEDIÊNCIA 
Não configuração do crime de desobediência na hipótese de não atendimento por Defensor 
Público-Geral de requisição judicial de nomeação de defensor 
 
Importante!!! 
Não configura o crime de desobediência (art. 330 do CP) a conduta de Defensor Público Geral 
que deixa de atender à requisição judicial de nomeação de defensor público para atuar em 
determinada ação penal. STJ. 6ª Turma. HC 310.901-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 16/6/2016 (Info 586). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
O advogado do réu renunciou ao patrocínio da causa. 
O acusado foi intimado para constituir novo advogado, mas quedou-se inerte. 
Diante disso, o juiz do feito oficiou ao Defensor Público-Geral requerendo a indicação de um Defensor 
Público para atuar no processo. 
O Defensor Público-Geral respondeu ao juízo comunicando que o órgão não efetuaria a designação de 
Defensor Público para atuar no referido processo, considerando que aquela comarca não estava abrangida 
pelos serviços atualmente prestados pelos Defensores Públicos que, em razão do número reduzido de 
membros não têm condições de atuar em todos os Municípios do Estado. 
Diante da resposta, o magistrado requisitou a instauração de inquérito policial contra o Defensor Público-
Geral para apurar a eventual prática do crime de desobediência: 
Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público: 
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. 
 
A questão chegou até o STJ? A conduta do Defensor Público-Geral, no caso concreto, configura o crime 
de desobediência? 
NÃO. 
 
Não configura o crime de desobediência (art. 330 do CP) a conduta de Defensor Público Geral que deixa de 
atender à requisição judicial de nomeação de defensor público para atuar em determinada ação penal. 
STJ. 6ª Turma. HC 310.901-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 16/6/2016 (Info 586). 
 
 
 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
A Constituição Federal assegura às Defensorias Públicas autonomia funcional e administrativa (art. 134, § 2º). 
A autonomia administrativa e a independência funcional asseguradas constitucionalmente às Defensorias 
Públicas não permitem que o Poder Judiciário interfira nas escolhas e nos critérios de atuação dos 
Defensores Públicos que foram definidos pelo Defensor Público-Geral. 
O destinatário da ordem não tinha obrigação jurídica de cumpri-la. A Defensoria Pública é instituição 
dotada de autonomia funcional e administrativa, de modo que um magistrado não tem o poder de entrar 
na discricionariedade do chefe de uma instituição e dizer onde esse deve ou não alocar os Defensores 
Públicos da instituição a qual chefia. Logo, como a ordem dada foi ilegal e inconstitucional, não é apta a 
tipificar o crime de desobediência. 
 
 
 
LEI DE DROGAS 
Tráfico cometido nas dependências de estabelecimento prisional e bis in idem 
 
A circunstância de o crime ter sido cometido nas dependências de estabelecimento prisional 
não pode ser utilizada como fator negativo para fundamentar uma pequena redução da pena 
na aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 e, ao mesmo 
tempo, ser empregada para aumentar a pena como majorante do inciso III do art. 40. Utilizar 
duas vezes essa circunstância configura indevido bis in idem. 
Desse modo, neste caso, esta circunstância deverá ser utilizada apenas como causa deaumento do art. 40, III, não sendo valorada negativamente na análise do § 4º do art. 33. STJ. 5ª Turma. HC 313.677-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/6/2016 (Info 586). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Maria foi visitar seu marido, que cumpre pena em um presídio, e, na oportunidade, levou uma pequena 
quantidade de droga para entregar a ele. 
A conduta de Maria foi descoberta, tendo ela sido julgada e condenada por tráfico de drogas privilegiado 
(art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006). 
O § 4º do art. 33 permite que o magistrado reduza a pena em um percentual que varia de 1/6 até 2/3. 
O juiz afirmou, na sentença, que iria reduzir no menor percentual (1/6), considerando que Maria praticou 
o crime nas dependências de um presídio, situação que era extremamente grave. 
Ocorre que o magistrado também utilizou esta mesma circunstância (o fato de o crime ter sido cometido 
dentro do presídio) para aplicar uma causa de aumento prevista no art. 40, III, da Lei de Drogas. Veja: 
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: 
(...) 
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de 
ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou 
beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de 
qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de 
unidades militares ou policiais ou em transportes públicos; 
 
Agiu corretamente o magistrado? 
NÃO. Ao utilizar a mesma circunstância duas vezes no momento de aplicação da pena, o magistrado puniu 
a ré duas vezes pelo mesmo fato, o que configura o chamado bis in idem. Veja o que decidiu o STJ: 
 
A circunstância de o crime ter sido cometido nas dependências de estabelecimento prisional não pode 
ser utilizada como fator negativo para fundamentar uma pequena redução da pena na aplicação da 
minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 e, ao mesmo tempo, ser empregada para 
aumentar a pena como majorante do inciso III do art. 40. Utilizar duas vezes essa circunstância configura 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
indevido bis in idem. 
Desse modo, neste caso, esta circunstância deverá ser utilizada apenas como causa de aumento do art. 
40, III, não sendo valorada negativamente na análise do § 4º do art. 33. 
STJ. 5ª Turma. HC 313.677-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/6/2016 (Info 586). 
 
 
LEI DE DROGAS 
Só poderá incidir a interestadualidade se ficar demonstrado que a intenção do agente era 
pulverizar a droga em mais de um Estado-membro 
 
Se o agente importa a droga com objetivo de vendê-la em determinado Estado da Federação, 
mas, para chegar até o seu destino, ele tem que passar por outros Estados, incidirá, neste caso, 
apenas a causa de aumento da transnacionalidade (art. 40, I), não devendo ser aplicada a 
majorante da interestadualidade (art. 40, V) se a intenção do agente não era a de 
comercializar o entorpecente em mais de um Estado da Federação. 
As causas especiais de aumento da pena relativas à transnacionalidade e à interestadualidade 
do delito, previstas, respectivamente, nos incisos I e V do art. 40 da Lei de Drogas, até podem 
ser aplicadas simultaneamente, desde que demonstrada que a intenção do acusado que 
importou a substância era a de pulverizar a droga em mais de um Estado do território 
nacional. Se isso não ficar provado, incide apenas a transnacionalidade. 
Assim, é inadmissível a aplicação simultânea das causas de aumento da transnacionalidade 
(art. 40, I) e da interestadualidade (art. 40, V) quando não ficar comprovada a intenção do 
importador da droga de difundi-la em mais de um Estado-membro. O fato de o agente, por 
motivos de ordem geográfica, ter que passar por mais de um Estado para chegar ao seu destino 
final não é suficiente para caracterizar a interestadualidade. STJ. 6ª Turma. HC 214.942-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/6/2016 (Info 586). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Pablo comprou cocaína na Bolívia e a trouxe para o Brasil, entrando em nosso país por meio do Município 
de Corumbá, em Mato Grosso do Sul. 
De Corumbá , Pablo pegou um ônibus com destino a Brasília, onde iria comercializar a droga. 
O ônibus passou pelo Estado de Goiás e, quando chegou no Distrito Federal, Pablo foi preso em uma 
fiscalização de rotina da Polícia Rodoviária Federal. 
Pablo confessou a prática do crime relatando que adquiriu o entorpecente na Bolívia e que pretendia 
vendê-lo para um cliente em Brasília. 
 
De quem é a competência para julgar este delito? 
Justiça Federal, considerando que ficou provado o caráter transnacional do delito, nos termos do art. 109, 
V, da CF/88 e art. 70 da Lei nº 11.343/2006: 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o 
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; 
 
Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito 
transnacional, são da competência da Justiça Federal. 
 
Voltando ao exemplo 
Pablo foi denunciado e condenado pela prática de tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006) com as 
causas de aumento da transnacionalidade (art. 40, I) e da interestadualidade (art. 40, V): 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: 
I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato 
evidenciarem a transnacionalidade do delito; 
(...) 
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal; 
 
A defesa recorreu alegando que não restou provada a interestadualidade prevista no art. 40, V. 
 
O STJ concordou com a tese da defesa? 
SIM. 
 
O magistrado fez incidir a causa de aumento do art. 40, V, sob o argumento de que a droga atravessou 
mais de um Estado da Federação, considerando que entrou no Brasil no Estado do Mato Grosso do Sul, 
passou pelo Estado de Goiás e chegou até o Distrito Federal. 
Ocorre que não existe nenhum indício de que a intenção do agente fosse difundir o entorpecente em mais 
de um Estado da Federação. 
A droga, adquirida na Bolívia, atravessou a fronteira com o MS e perpassou outro Estado rumo ao DF 
(destino final), por imperativos de ordem geográfica e pela própria lógica da importação, de modo que, 
sem a existência de elementos concretos acerca da intenção do paciente de pulverizar a droga em outros 
Estados do território nacional, não há como condenar o réu pela majorante do inciso V do art. 40 da Lei nº 
11.343/2006 em concomitância com a causa especial de aumento relativa à transnacionalidade do delito, 
sob pena de bis in idem. 
 
Veja precedente do STJ neste mesmo sentido: 
Embora possível a cumulação das causas de aumento referente a internacionalidade e interestadualidade 
do tráfico ilícito de entorpecentes, esta última poderá incidir somente quando houver, pelo menos, a 
comprovação do interesse em difusão da droga em mais de um Estado da Federação. Assim, não se revela 
admissível sua incidência em hipóteses de mero transporte terrestre da mercadoria proveniente do 
exterior com destino final certo em localidade estranha ao Estado fronteiriço pelo qual ingressou. 
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1273754/MS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 23/10/2014. 
 
Resumindo: 
As causas especiais de aumento da pena relativas à transnacionalidade e à interestadualidade do delito, 
previstas, respectivamente,nos incisos I e V do art. 40 da Lei de Drogas, até podem ser aplicadas 
simultaneamente, desde que demonstrada que a intenção do acusado que importou a substância era a 
de pulverizar a droga em mais de um Estado do território nacional. Se isso não ficar provado, incide 
apenas a transnacionalidade. 
Assim, é inadmissível a aplicação simultânea das causas de aumento da transnacionalidade (art. 40, I) e 
da interestadualidade (art. 40, V) quando não ficar comprovada a intenção do importador da droga de 
difundi-la em mais de um Estado-membro. O fato de o agente, por motivos de ordem geográfica, ter que 
passar por mais de um Estado para chegar ao seu destino final não é suficiente para caracterizar a 
interestadualidade. 
STJ. 6ª Turma. HC 214.942-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/6/2016 (Info 586). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
AÇÃO PENAL PRIVADA 
Honorários advocatícios sucumbenciais em ação penal privada 
extinta sem julgamento de mérito 
 
É possível condenar o querelante em honorários advocatícios sucumbenciais na hipótese de 
rejeição de queixa-crime por ausência de justa causa. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.218.726-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586). 
 
Ação penal privada 
No processo penal, a ação penal é classificada segundo a legitimação ativa, ou seja, de acordo com a 
pessoa que pode propô-la. Assim, nós temos: 
 
AÇÃO PENAL PÚBLICA AÇÃO PENAL PRIVADA 
Divide-se em: 
a) ação penal pública incondicionada; 
b) ação penal pública condicionada; 
c) ação penal pública subsidiária da pública. 
Divide-se em: 
a) ação penal privada personalíssima; 
b) ação penal privada propriamente dita; 
c) ação penal privada subsidiária da pública. 
A peça acusatória é a denúncia. A peça acusatória é a queixa-crime. 
 
Queixa-crime é... 
ƒ a petição inicial da ação penal privada, 
ƒ ajuizada pelo querelante (ofendido ou seus sucessores* do art. 31, CPP), 
ƒ devendo ser subscrita por advogado dotado de procuração com poderes especiais, 
ƒ por meio da qual se pede, ao juízo competente, 
ƒ a instauração de processo penal e 
ƒ a condenação do suposto autor do delito (querelado) a uma sanção penal. 
 
* no caso da ação penal privada personalíssima, somente o ofendido pode ajuizar a ação penal e, se ele 
morrer, os seus sucessores não poderão dar continuidade à ação, ocorrendo a extinção da punibilidade. 
 
Queixa-crime e honorários advocatícios 
João, no exercício de suas funções, fez diversas críticas à conduta de Pedro em um relatório que emitiu. 
Pedro contratou um advogado e ajuizou queixa-crime (ação penal privada) contra João alegando que ele 
praticou os delitos de calúnia (art. 138 do CP), difamação (art. 139) e injúria (art. 140). 
O juiz rejeitou a queixa-crime sob a o argumento de que faltava justa causa para a ação penal proposta: 
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: 
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. 
 
Pedro (querelado) opôs embargos de declaração pedindo que o juiz condenasse João (querelante) ao 
pagamento de honorários advocatícios de sucumbência. 
João apresentou contrarrazões aos embargos alegando que não seriam devidos honorários, advocatícios já 
que o CPP não os prevê e, além disso, não chegou a haver sentença de mérito, tendo ocorrido a rejeição 
da própria queixa-crime com base na ausência de justa causa. 
 
Cabem honorários ou não? É possível a fixação de honorários advocatícios em caso de rejeição de 
queixa-crime por ausência de justa causa? 
SIM. 
 
 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
É possível condenar o querelante em honorários advocatícios sucumbenciais na hipótese de rejeição de 
queixa-crime por ausência de justa causa. 
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.218.726-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586). 
 
Aplicação supletiva do CPC 
O STJ possui jurisprudência pacífica no sentido de que cabe condenação em honorários advocatícios em 
caso de ação penal privada com base no princípio geral de sucumbência e aplicação supletiva do CPC. 
 
Não importa que não tenha havido sentença de mérito 
O regime de fixação de honorários advocatícios em sede de ação penal privada deve seguir a mesma lógica 
do processo civil. 
Assim, mesmo que a queixa-crime tenha sido rejeitada, são cabíveis os honorários. Isso porque no 
processo civil, ainda que o processo seja extinto sem resolução do mérito, haverá condenação em 
honorários advocatícios da parte que deu causa à instauração do processo ante o princípio da causalidade. 
 
 
COMPETÊNCIA 
Crime praticado por militar da ativa e conduta prevista apenas na Lei de Licitações 
 
Importante!!! 
Compete à Justiça Comum Federal - e não à Justiça Militar - processar e julgar a suposta 
prática, por militar da ativa, de crime previsto apenas na Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações), 
ainda que praticado contra a administração militar. STJ. 3ª Seção. CC 146.388-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586). 
 
Vide comentários em Direito Penal e Processual Penal Militar. 
 
 
 
REMIÇÃO 
Remição de pena por trabalho em domingos e feriados 
 
Se o preso, ainda que sem autorização do juízo ou da direção do estabelecimento prisional, 
efetivamente trabalhar nos domingos e feriados, esses dias deverão ser considerados no 
cálculo da remição da pena. STJ. 5ª Turma. HC 346.948-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/6/2016 (Info 586). 
 
O art. 126 da Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/84) estabelece: 
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho 
ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. 
 
O art. 126 da LEP trata, portanto, da remição (ato de remir). 
 
O que é a remição? 
Remição é... 
x o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente 
x de reduzir o tempo de cumprimento da pena 
x mediante o abatimento 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
x de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou 
x de 1 dia de pena a cada 3 dias de trabalho. 
 
É uma forma de estimular e premiar o condenado para que ocupe seu tempo com uma atividade 
produtiva (trabalho ou estudo), servindo, ainda, como forma de ressocialização e de preparação do 
apenado para que, quando termine de cumprir sua pena, possa ter menos dificuldades de ingressar no 
mercado de trabalho. 
 
O tempo remido será considerado como pena cumprida, para todos os efeitos (art. 128). 
 
Obs: a remição de que trata a LEP é com “ç” (remição). Remissão (com “ss”) significa outra coisa, qual seja, 
perdão, renúncia etc., sendo muito utilizada no direito civil (direito das obrigações) para indicar o perdão 
do débito. 
 
 
Remição pelo TRABALHO Remição pelo ESTUDO 
A cada 3 dias de trabalho, 
diminui 1 dia de pena. 
 
Obs.: somente poderão ser considerados, para fins 
de remição, os dias em que o condenado cumprir a 
jornada normal de trabalho, que não pode ser 
inferior a 6h nem superior a 8h (art. 33). 
A cada 12 horas de estudo, 
diminui 1 dia de pena. 
 
Obs.: as 12 horas de estudo deverão ser divididas 
em, no mínimo, 3 dias. 
Somente é aplicada se o condenado cumpre pena 
em regime fechado ou semiaberto. 
 
Obs.: não se aplica se o condenado estiver 
cumprindo pena no regime aberto ou se estiver 
em livramento condicional. 
Pode ser aplicada ao condenado que cumpra pena 
em regime fechado, semiaberto, aberto ou, ainda, 
que esteja em livramento condicional. 
 
Atenção: perceba a diferença em relação à 
remição pelo trabalho. 
 
É possível a remição para condenados que cumprem pena em regime aberto? 
ƒ Remição pelo trabalho: NÃO. 
ƒ Remiçãopelo estudo: SIM. 
 
Outras regras importantes sobre a remição: 
x As atividades de estudo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino 
à distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos cursos 
frequentados (§ 2º do art. 126). 
x É possível que o condenado cumule a remição pelo trabalho e pelo estudo, desde que as horas diárias 
de trabalho e de estudo sejam compatíveis (§ 3º do art. 126). 
x O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos, continuará a 
beneficiar-se com a remição (§ 4º do art. 126). 
x O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) caso o condenado 
consiga concluir o ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena (§ 5º do 
art. 126). 
x A remição pode ser aplicada para a pessoa presa cautelarmente (§ 7º do art. 126). Assim, se o 
indivíduo está preso preventivamente e decide trabalhar, esse tempo será abatido de sua pena caso 
venha a ser condenado no futuro. 
x A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa (§ 8º do art. 126). 
 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: 
João cumpria pena em regime fechado. 
Foi autorizado que ele trabalhasse na cozinha do presídio, fazendo jus à remição. 
A autorização foi para que ele trabalhasse de segunda a sábado, em uma jornada de 6 horas diárias. 
Ocorre que, na prática, João trabalhava também aos domingos e feriados, considerando que não havia 
outro cozinheiro disponível. 
Depois de alguns meses, João pediu a remição dos dias trabalhados. 
O juiz das execuções penais deferiu, em parte, o pedido, uma vez que não aceitou fazer a remição dos dias 
trabalhados aos domingos e feriados, sob o argumento de que não havia autorização para o labor neste 
período. 
O apenado, por meio da Defensoria Pública, recorreu contra esta decisão. 
 
O que decidiu o STJ? O condenado possui direito à remição pelos dias trabalhados aos domingos e 
feriados mesmo sem autorização? 
SIM. 
 
Se o preso, ainda que sem autorização do juízo ou da direção do estabelecimento prisional, 
efetivamente trabalhar nos domingos e feriados, esses dias deverão ser considerados no cálculo da 
remição da pena. 
STJ. 5ª Turma. HC 346.948-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/6/2016 (Info 586). 
 
 
 
DIREITO PENAL E 
PROCESSUAL PENAL MILITAR 
 
COMPETÊNCIA 
Crime previsto apenas na Lei de Licitações 
 
Importante!!! 
Compete à Justiça Comum Federal - e não à Justiça Militar - processar e julgar a suposta 
prática, por militar da ativa, de crime previsto apenas na Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações), 
ainda que praticado contra a administração militar. STJ. 3ª Seção. CC 146.388-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João, sargento do Exército, contratou, sem licitação, empresa ligada à sua mulher para prestar 
manutenção na ambulância utilizada no Hospital militar. 
 
Qual foi o crime praticado, em tese, por João? 
O delito do art. 89 da Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações): 
Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as 
formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: 
Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa. 
 
De quem é a competência para julgar esta conduta? 
Justiça FEDERAL comum (não se trata de competência da Justiça Militar). 
 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 26 
Compete à Justiça Comum Federal - e não à Justiça Militar - processar e julgar a suposta prática, por 
militar da ativa, de crime previsto apenas na Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações), ainda que praticado 
contra a administração militar. 
STJ. 3ª Seção. CC 146.388-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586). 
 
Competências da Justiça Militar 
Compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes militares, assim definidos em lei (art. 124 da CF/88). 
A lei que prevê os crimes militares é o Código Penal Militar (Decreto-Lei 1.001/1969). 
x No art. 9º do CPM são conceituados os crimes militares, em tempo de paz. 
x No art. 10 do CPM são definidos os crimes militares em tempo de guerra. 
 
Assim, para verificar se o fato pode ser considerado crime militar, sendo, portanto, de competência da 
Justiça Militar, é preciso que ele se amolde em uma das hipóteses previstas nos arts. 9º e 10 do CPM. 
 
 
Crimes militares em tempo de paz (art. 9º) 
Não estamos (felizmente) em "tempo de guerra". Portanto, a conduta de João não poderia ser enquadrada 
no art. 10. Vejamos agora se ela poderia se amoldar ao art. 9º: 
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: 
 
I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não 
previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; 
 
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, 
quando praticados: 
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou 
assemelhado; 
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra 
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; 
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em 
formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, 
ou civil; 
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou 
assemelhado, ou civil; 
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, 
ou a ordem administrativa militar; 
 
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, 
considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: 
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; 
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou 
contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; 
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, 
exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; 
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou 
no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou 
judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal 
superior. 
 
Resumindo as hipóteses do art. 9º: 
 
Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 27 
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: 
Inciso I Inciso II Inciso III 
Para se enquadrar no inciso I: 
1) a conduta deve ser prevista 
como crime no CPM; e 
2) não seja punida como crime 
na legislação penal comum ou, 
se for, que a redação dada ao 
delito na legislação penal 
comum seja diversa daquele 
conferida no CPM. 
Ex: deserção (art. 187 do CPM) é 
punida apenas no CPM. 
Ex2: uniforme privativo (art. 172) 
é punido com redação diversa na 
legislação penal comum. 
Para se enquadrar no inciso II: 
1) a conduta deve ser prevista 
como crime no CPM; e 
2) deve ter sido praticada por 
um MILITAR em alguma das 
situações descritas nas letras "a" 
a "e" do inciso II. 
Para se enquadrar no inciso III: 
1) a conduta

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