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Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
Todos os julgados foram comentados. 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CIVIL 
INTERDIÇÃO 
ƒ Morte do interditando não acarreta, por si só, a extinção da ação de exigir contas ajuizada por ele. 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL E INTERNET 
ƒ Responsabilidade do provedor de conteúdo em caso de associação indevida entre o argumento de pesquisa e o 
resultado de busca. 
 
CONTRATO DE SEGURO 
ƒ Indenização securitária pelo valor do automóvel no momento do sinistro. 
 
CONTRATO DE LOCAÇÃO 
ƒ Locador de locação comercial não tem a obrigação legal de adaptar o imóvel às peculiaridades da atividade que 
será explorada pelo locatário. 
 
CONTRATOS AGRÁRIOS 
ƒ Empresa rural de grande porte não tem direito de preferência previsto no Estatuto da Terra. 
 
AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA 
ƒ Termo inicial do prazo prescricional da petição de herança em caso de reconhecimento póstumo da paternidade. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES 
ƒ A Súmula 385 do STJ aplica-se também para ações propostas pelo consumidor contra o credor que efetivou a 
inscrição irregular. 
 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA 
ƒ Cumprimento imediato da internação fixada na sentença ainda que tenha havido recurso. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
ADJUDICAÇÃO 
ƒ Forma preferencial de pagamento ao credor. 
ƒ Momento para requerimento da adjudicação. 
 
 
 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO PENAL 
HOMICÍDIO 
ƒ Incompatibilidade entre dolo eventual e a qualificadora de motivo fútil. 
ƒ Inexistência de motivo fútil em homicídio decorrente da prática de "racha". 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
PROVAS 
ƒ Extração sem prévia autorização judicial de dados e de conversas registradas no whatsapp. 
 
INTIMAÇÃO 
ƒ Nulidade da intimação por edital de réu preso. 
 
TRIBUNAL DO JÚRI 
ƒ Possibilidade de extensão de decisão de desclassificação adotada por Júri em favor de corréu. 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
INTERDIÇÃO 
Morte do interditando não acarreta, por si só, a extinção da ação de exigir contas ajuizada por ele 
 
A morte do interditando no curso de ação de interdição não implica, por si só, a extinção do 
processo sem resolução de mérito da ação de exigir contas por ele ajuizada mediante seu 
curador provisório, tendo o espólio legitimidade para prosseguir com a ação de exigir contas. STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.677-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/5/2016 (Info 583). 
 
Curatela 
Em regra, se a pessoa for maior de 18 anos, ela é plenamente capaz e está habilitada à prática de todos os 
atos da vida civil (art. 5º do CC). 
No entanto, existem determinadas pessoas que, mesmo sendo maiores, não podem exercer alguns atos 
patrimoniais da vida civil sozinhos, necessitando da assistência de terceiros. 
Para resguardar os direitos de tais pessoas, o Direito Civil previu uma proteção jurídica chamada de “curatela”. 
 
Mas o que vem a ser a curatela? 
A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”), por meio do qual ele 
assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (“curatelado”) que, apesar de ser maior de idade, 
necessita de auxílio para a prática de determinados atos. 
Por conta disso, o curatelado só poderá praticar certos atos patrimoniais se for assistido pelo curador. 
 
Tutela x Curatela 
Tutela Curatela 
Instrumento jurídico para proteger a criança ou 
adolescente que não goza da proteção do poder 
familiar em virtude da morte, ausência ou 
destituição de seus pais. 
A tutela é uma espécie de colocação da criança ou 
adolescente em família substituta. 
Instrumento jurídico voltado para a proteção de 
uma pessoa que, apesar de ser maior de 18 anos, 
necessita da assistência de outra para a prática de 
determinados atos de cunho patrimonial como 
uma forma de lhe proteger. 
 
Hipóteses em que ocorre a curatela 
O art. 1.767 do CC traz o rol de pessoas que estão sujeitas à curatela. Esse dispositivo foi recentemente 
alterado pela Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Veja a alteração promovida: 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Antes Depois 
Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: 
 
I — aqueles que, por enfermidade ou deficiência 
mental, não tiverem o necessário discernimento 
para os atos da vida civil; 
 
II — aqueles que, por outra causa duradoura, não 
puderem exprimir a sua vontade; 
 
III — os deficientes mentais, os ébrios habituais e 
os viciados em tóxicos; 
 
IV — os excepcionais sem completo 
desenvolvimento mental; 
 
V — os pródigos. 
Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: 
 
I — aqueles que, por causa transitória ou 
permanente, não puderem exprimir sua vontade; 
 
 
II — (Revogado); 
 
 
III — os ébrios habituais e os viciados em tóxico; 
 
 
IV — (Revogado); 
 
 
V — os pródigos. 
 
Repare que a Lei nº 13.146/2015 retirou do art. 1.767 do CC as menções que eram feitas à deficiência 
mental e outras expressões congêneres. Diante disso, indaga-se: pode-se dizer que acabou a 
possibilidade de a pessoa com deficiência ser submetida à curatela? Isso deixou de existir? 
NÃO. Mesmo depois da Lei nº 13.146/2015, ainda existe a possibilidade de a pessoa com deficiência ser 
submetida à curatela quando essa medida protetiva extraordinária se mostrar necessária. 
O Estatuto da Pessoa com Deficiência expressamente prevê isso. Confira: 
Art. 84. (...) 
§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei. 
(...) 
§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, 
proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível. 
(...) 
Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e 
negocial. 
§ 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à 
privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. 
§ 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões e motivações de 
sua definição, preservados os interesses do curatelado. 
(...) 
 
O objetivo da Lei nº 13.146/2015, ao alterar o art. 1.767 do CC, foi o de deixar claro que não é pelo simples 
fato de a pessoa apresentar deficiência que ela terá que ser interditada. Ao contrário. Com a nova Lei, a 
regra passa a ser a não interdição da pessoa com deficiência. A pessoa com deficiência só será submetida à 
curatela quando isso se mostrar necessário e tal situação durará o menor tempo possível. 
 
Como é instituída a curatela? 
Para que a curatela seja instituída, é necessária a instauração de um processo judicial, de jurisdição 
voluntária, regulado pelos arts. 1.177 a 1.186 do CPC 1973 (arts. 747 a 758 do CPC 2015). 
Esse processo é iniciado por meio de uma ação de interdição (ou ação de curatela). 
Obs: alguns autores afirmam que, depois do Estatuto da Pessoa com Deficiência, não se deve mais utilizar 
a expressão "ação de interdição" porque esta terminologia "interdição" possui uma carga de preconceito e 
dá a ideia de que a pessoa fica inteiramente sem autonomia para tomar suas decisões, o que não é 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
verdade já que a curatela afeta tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e 
negocial (art. 85 do Estatuto). No entanto, é possível que você ainda encontre a expressão ação de 
interdição em julgados e nas provas porque esta expressão continua sendo empregada pelo CPC. 
 
LegitimadosO rol dos legitimados para propor ação de interdição está descrito no CPC. Confira: 
CPC 1973 CPC 2015 
Art. 1.177. A interdição pode ser promovida: 
I — pelo pai, mãe ou tutor; 
II — pelo cônjuge ou algum parente próximo; 
III — pelo órgão do Ministério Público. 
Art. 747. A interdição pode ser promovida: 
I — pelo cônjuge ou companheiro; 
II — pelos parentes ou tutores; 
III — pelo representante da entidade em que se 
encontra abrigado o interditando; 
IV — pelo Ministério Público. 
Parágrafo único. A legitimidade deverá ser 
comprovada por documentação que acompanhe a 
petição inicial. 
 
Obs.: o rol de legitimados para a ação de interdição é TAXATIVO. 
 
Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: 
Lucas, filho de João, ajuizou ação de interdição pedindo a curatela de seu pai. 
O juiz deferiu a medida liminar, nomeando-o como curador provisório. 
Em seguida, João, representado por seu filho Lucas (curador provisório), ajuizou ação de prestação de 
contas em desfavor de Maria (irmã de João), pedindo que ela prestasse contas dos valores que sacou da 
conta corrente do autor e que ela movimentava por força de uma procuração outorgada pelo requerente. 
Ocorre que João faleceu no curso do processo. 
O filho de João requereu que o espólio do pai assumisse o polo ativo da demanda e que o processo 
continuasse, conforme autoriza o art. 110 do CPC/2015 (sucessão processual): 
Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus 
sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º. 
 
O juiz, contudo, extinguiu o processo sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, IX, do CPC/2015 
alegando que a ação proposta é personalíssima: 
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: 
IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e 
 
Agiu corretamente o magistrado? 
NÃO. 
 
A morte do interditando no curso de ação de interdição não implica, por si só, a extinção do processo 
sem resolução de mérito da ação de exigir contas por ele ajuizada mediante seu curador provisório, 
tendo o espólio legitimidade para prosseguir com a ação de exigir contas. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.677-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/5/2016 (Info 583). 
 
Não há dúvidas de que a morte do interditando no curso do processo de interdição acarreta a extinção do 
processo sem resolução do mérito, visto que se trata de ação de natureza personalíssima. No entanto, isso 
não ocorre com a ação de exigir contas (art. 550 do CPC/2015). 
A ação de exigir contas (chamada na época do CPC/1973 de "ação de prestação de contas") é considerada 
personalíssima apenas em relação ao requerido (réu da ação). No que tange ao requerente (autor), ela não 
é personalíssima, podendo ser assumida, no polo ativo, pelo espólio do falecido. 
 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL E INTERNET 
Responsabilidade do provedor de conteúdo em caso de associação indevida 
entre o argumento de pesquisa e o resultado de busca 
 
Importante!!! 
Não há dano moral quando o Google exibe, como resultado de uma busca, a indicação do link de 
um site que não mais contém aquela palavra ou frase porque já foi removida. Ex: determinado 
blog publicou a frase "João de Tal é um péssimo médico". Depois de um tempo, o administrador 
deste blog retirou a expressão, mas manteve o restante do texto. O Google demorou para 
atualizar seu sistema de buscas e continua exibindo o link deste blog quando a pessoa digita o 
nome "João de Tal", mesmo não havendo mais qualquer referência no texto. Esse fato não gera, 
por si só, dano moral a ser pago pelo Google. 
A ausência de congruência entre o resultado atual e os termos pesquisados, ainda que 
decorrentes da posterior alteração do conteúdo original publicado pela página, configuram 
falha na prestação do serviço de busca, que deve ser corrigida nos termos do art. 20 do CDC, por 
frustrarem as legítimas expectativas dos consumidores. 
Não há dano moral quando o provedor de busca, mesmo após ser cientificado pelo 
consumidor, continua exibindo resultado desatualizado. Ex: ao se digitar o nome desse 
consumidor (argumento de pesquisa) continua aparecendo, entre os resultados, determinado 
site que tinha realmente este nome do consumidor, mas que já foi retirado de lá. Em outras 
palavras, não há dano moral quando o provedor, mesmo depois de alertado sobre a falha, 
exibe associação indevida entre o argumento de pesquisa e o resultado de busca. 
O provedor de busca cientificado pelo consumidor sobre vínculo virtual equivocado entre o 
argumento de pesquisa (nome de consumidor) e o resultado de busca (sítio eletrônico) é 
obrigado a desfazer a referida indexação, ainda que esta não tenha nenhum potencial ofensivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/5/2016 (Info 583). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João é um médico famoso. Certa vez, ele digitou seu nome completo no Google e um dos resultados que 
apareceu foi o depoimento de um ex-paciente seu que falava mal do tratamento dele em um blog. 
O médico interpelou extrajudicialmente o ex-paciente e este manteve o depoimento no blog, mas retirou 
o nome do médico e qualquer referência que pudesse identificá-lo. 
Mesmo depois desta retirada, ao se digitar o nome de João no Google, continua aparecendo, como um 
dos resultados da busca, o referido depoimento no blog. No entanto, ao se abrir a página, não se encontra 
mais o nome do médico no texto. 
João notificou o Google para que este não fizesse mais essa associação, no entanto, seu pedido não foi 
atendido. 
Diante disso, ele ajuizou ação de indenização por danos morais contra o Google, por continuar vinculando 
no resultado das buscas de seu nome o referido depoimento. 
Vejamos algumas conclusões do STJ relacionadas com esse tema. 
 
A relação da pessoa que pede a retirada do conteúdo e o Google é uma relação de consumo? A pessoa 
pode ser considerada consumidora e o Google fornecedor de serviços? 
SIM. Os serviços prestados pelo Google na internet, como é o caso de seu sistema de buscas, mesmo 
sendo gratuitos, configuram relação de consumo. 
O fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de Internet ser gratuito não desvirtua a relação de 
consumo, pois o termo “mediante remuneração”, contido no art. 3º, § 2º, do CDC, deve ser interpretado 
de forma ampla, de modo a incluir o ganho indireto do fornecedor. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/6/2012 (Info 500). 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
 
Qual é a natureza jurídica do serviço de pesquisa via internet? 
Os sites de pesquisa (provedores de pesquisa), como o Google, são uma espécie do gênero “provedor de 
conteúdo”, pois esses sites não incluem, hospedam, organizam ou de qualquer outra forma gerenciam as 
páginas virtuais indicadas nos resultados disponibilizados, se limitando a indicar links onde podem ser 
encontrados os termos ou expressões de busca fornecidos pelo próprio usuário. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/6/2012 (Info 500). 
 
Qual é a responsabilidade dos provedores de pesquisa (espécie do gênero provedor de conteúdo)? 
A responsabilidade dos provedores de pesquisa deve ficar restrita à natureza da atividade por eles desenvolvida 
que, como visto, corresponde a facilitar a localização de informações na web. Assim, os provedores de 
pesquisa devem garantir o sigilo, a segurança e a inviolabilidade dos dados cadastrais de seus usuários e 
das buscas por eles realizadas, bem como o bom funcionamento e manutenção do sistema. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi,julgado em 26/6/2012 (Info 500). 
 
Os provedores de pesquisa podem ser responsabilizados pelo conteúdo do resultado das buscas 
realizadas pelos usuários? 
NÃO. Na visão do STJ, não se trata de atividade intrínseca ao serviço por eles prestado. Logo, não se pode 
reputar como defeituoso, nos termos do art. 14 do CDC, o site de pesquisa que não exerce esse controle 
sobre os resultados das buscas. Como o provedor de pesquisa age como mero intermediário, repassando 
textos e imagens produzidas por outras pessoas, sobre essas informações não exerceu fiscalização ou juízo 
de valor, não podendo ser responsabilizado por eventuais excessos e ofensas à moral, à intimidade e à 
honra de terceiros. Não se aplica aqui a teoria do risco da atividade. Conclui-se, portanto, ser ilegítima a 
responsabilização dos provedores de pesquisa pelo conteúdo do resultado das buscas realizadas por seus 
usuários. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/6/2012 (Info 500). 
 
Os provedores de pesquisa podem ser obrigados a filtrar o conteúdo das pesquisas feitas por cada usuário? 
NÃO. Os provedores de pesquisa realizam suas buscas dentro de um universo virtual, cujo acesso é público e 
irrestrito, ou seja, seu papel se restringe à identificação de páginas na web onde determinado dado ou 
informação, ainda que ilícito, estão sendo livremente veiculados. 
Dessa forma, ainda que seus mecanismos de busca facilitem o acesso e a consequente divulgação de 
páginas cujo conteúdo seja potencialmente ilegal, fato é que essas páginas são públicas e compõem a rede 
mundial de computadores e, por isso, aparecem no resultado dos sites de pesquisa. Ora, se a página 
possui conteúdo ilícito, cabe ao ofendido adotar medidas para que haja a supressão da página e, com isso, 
automaticamente, ele não mais aparecerá nos resultados de busca virtual dos sites de pesquisa. 
Não se ignora a evidente dificuldade de assim proceder, diante da existência de inúmeras páginas 
destinadas à exploração de conteúdo ilícito – sobretudo imagens íntimas, sensuais e/ou pornográficas, 
mas isso não justifica a transferência, para mero provedor de serviço de pesquisa, da responsabilidade 
pela identificação desses sites, especialmente porque teria as mesmas dificuldades encontradas por cada 
interessado individualmente considerado. 
Sopesados os direitos envolvidos e o risco potencial de violação de cada um deles, o fiel da balança deve 
pender para a garantia da liberdade de informação assegurada pelo art. 220, § 1º, da CF/88, sobretudo 
considerando que a Internet representa, hoje, importante veículo de comunicação social de massa. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/6/2012 (Info 500). 
 
Há possibilidade, de ordem técnica, para que os provedores de pesquisa possam controlar e filtrar os 
conteúdos ilícitos das páginas? 
NÃO. Inúmeras páginas são criadas diariamente e, além disso, a maioria das milhões de páginas existentes 
na web sofre atualização regularmente, por vezes em intervalos inferiores a uma hora, sendo que em 
qualquer desses momentos pode haver a inserção de informação com conteúdo ilícito. Essa circunstância, 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
aliada ao fato de que a identificação de conteúdos ilícitos ou ofensivos não pode ser automatizada (deve 
ser feita por humanos), torna impraticável o controle prévio por parte dos provedores de pesquisa da cada 
página nova ou alterada, sob pena, inclusive, de seus resultados serem totalmente desatualizados. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/6/2012 (Info 500). 
 
Em suma 
Segundo o STJ, os provedores de pesquisa: 
a) não respondem pelo conteúdo do resultado das buscas realizadas por seus usuários; 
b) não podem ser obrigados a exercer um controle prévio do conteúdo dos resultados das buscas feitas 
por cada usuário; e 
c) não podem ser obrigados a eliminar do seu sistema os resultados derivados da busca de determinado 
termo ou expressão, tampouco os resultados que apontem para uma foto ou texto específico, 
independentemente da indicação do URL da página onde este estiver inserido. 
 
Até aí, tudo bem. Acima nós temos o entendimento majoritário no STJ. No entanto, nosso exemplo 
possui uma peculiaridade que ainda não havia sido enfrentada pelo Tribunal. O interessado (João) 
conseguiu, extrajudicialmente, retirar o conteúdo nocivo da página (com a supressão de seu nome). 
Apesar disso, o índice do Google Search permanece exibindo o link como se na página indicada ainda 
houvesse o conteúdo retirado. Por que isso acontece? Por que o Google continua exibindo-o em seus 
resultados mesmo o nome do interessado já tendo sido excluído? 
Os sítios de busca, como o Google, disponibilizam uma ferramenta por meio da qual o usuário realiza as 
pesquisas acerca de qualquer assunto ou conteúdo existente na web, mediante fornecimento de critérios 
ligados ao resultado desejado, obtendo, como resposta imediata, os respectivos links das páginas onde a 
informação pode ser localizada. Ok, isso todo mundo sabe porque já fez uma pesquisa no Google. 
O que nem todo mundo sabe é que, para fazer isso, o Google já rastreou e indexou, previamente, trilhões 
de páginas disponíveis na web, organizando essas informações em seus bancos de dados. Em outras 
palavras mais simples, é como se o Google constantemente rastreasse as páginas da web e organizasse 
essas informações em "estantes" para que, quando o usuário pesquise, esta busca seja rápida e forneça os 
resultados necessários conforme eles já foram organizados. 
Essa indexação ("organização em estantes") é atualizada, em regra, da seguinte forma: o sistema do Google 
vai acrescentando novas páginas à essa base de dados a partir de novas varreduras que faz na web. No 
entanto, em regra, o Google não retira essas páginas da indexação (não retira os sites das suas "estantes"). 
Essa exclusão até ocorre, mas de acordo com critérios e segundo uma periodicidade que é prevista no 
algoritmo do sistema de buscas do Google. Não se trata de algo automático e imediato. Se você publicou 
algum texto em um blog e depois de um tempo excluiu uma frase dele, isso não significa que haverá a 
imediata exclusão disso do sistema de busca do Google. Esta ferramenta possui mecanismos próprios para 
realizar a atualização de seus resultados. 
 
O fato de o Google não atualizar instantaneamente esses resultados gera, por si só, dano moral aos 
interessados? 
NÃO. Segundo o STJ, essa ausência de atualização constante não gera, por si só, dano suscetível de 
imputar ao provedor de pesquisa a responsabilidade civil. 
O resultado apontado em decorrência da ausência de atualização automática não é o conteúdo ofensivo 
em si, mas a mera indicação do link de uma página. Ao acessar a página por meio do link, todavia, o 
conteúdo exibido é exatamente aquele existente na página já atualizada e, portanto, livre do conteúdo 
ofensivo e do potencial danoso. 
Em outras palavras, mesmo exibindo nos resultados uma frase que não mais existe no site, quando a 
pessoa abre o link informado não irá encontrar aquela referência e, portanto, não há, nesta 
desatualização, um fato que gere, por si só, dano moral. 
 
 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
Não há dano moral quando a Google exibe, como resultado de uma busca, a indicação do link de um site que 
não mais contém aquela palavra ou frase porque já foi removida. Ex: determinado blog publicou a frase 
"João de Tal é um péssimo médico". Depois de um tempo, o administrador deste blog retirou a expressão, 
mas manteve o restante do texto. A Google demorou para atualizar seu sistema de buscas e continua 
exibindo o link deste blog quando a pessoa digita o nome "João de Tal"mesmo não havendo mais qualquer 
referência ao nome no texto. Esse fato não gera, por si só, dano moral a ser pago pelo Google. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/5/2016 (Info 583). 
 
Não há dano moral, mas essa situação pode ser considerada como uma falha do sistema de buscas? É 
possível que o interessado requeira que o Google corrija esta vinculação desatualizada que está sendo 
feita com seu nome? 
SIM. Ao espelhar um resultado que um dia esteve disponível mas que não mais se encontra publicado na 
rede mundial na data da busca, a ferramenta de pesquisa apresenta-se falha em seu funcionamento, não 
correspondendo adequadamente ao fim a que se destina. 
Como já vimos, o serviço oferecido pelo Google é regido também pelo CDC e este diploma estabelece, em 
seu art. 20, que é dever dos fornecedores entregarem serviços que se mostrem adequados aos fins que 
razoavelmente deles se esperam. 
Assim, o Google tem o dever de corrigir sua base de dados e adequá-la aos resultados de busca atuais, 
fazendo cessar a vinculação do nome do autor à página por ele indicada. Este é um dever seu enquanto 
fornecedor do serviço de busca, ou seja, o dever de entregar respostas adequadas ao critério pesquisado. 
Em um ambiente tão dinâmico e complexo como a internet, é normal que ocorram falhas e incorreções 
decorrentes de informações desatualizadas. Também por isso o STJ entendeu que não caberia indenização 
por danos morais. No entanto, depois de o consumidor comunicar ao Google que está havendo essa 
incorreção, é dever dele corrigir a falha de seu serviço. 
 
A ausência de congruência entre o resultado atual e os termos pesquisados, ainda que decorrentes da 
posterior alteração do conteúdo original publicado pela página, configuram falha na prestação do 
serviço de busca, que deve ser corrigida nos termos do art. 20 do CDC, por frustrarem as legítimas 
expectativas dos consumidores. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/5/2016 (Info 583). 
 
Caso o provedor não retire o resultado incorreto (desatualizado), nesta hipótese, podemos dizer que 
existe dano moral? 
Também NÃO. 
 
Não há dano moral quando o provedor de busca, mesmo após ser cientificado pelo consumidor, 
continua exibindo resultado desatualizado. Ex: ao se digitar o nome desse consumidor (argumento de 
pesquisa) continua aparecendo, entre os resultados, determinado site que tinha realmente este nome 
do consumidor, mas que já foi retirado de lá. 
Em outras palavras, não há dano moral quando o provedor, mesmo depois de alertado sobre a falha, 
exibe associação indevida entre o argumento de pesquisa e o resultado de busca. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/5/2016 (Info 583). 
 
Mas neste caso, o consumidor ficará prejudicado? Ficará sem instrumentos para corrigir a falha? 
NÃO. O consumidor poderá ajuizar ação contra o provedor de pesquisa (no caso, o Google) pedindo que 
seja corrigida a falha, inclusive com a fixação de astreintes (multa cominatória). 
 
O provedor, para tentar se isentar do dever de corrigir a falha, poderá argumentar que esse erro não 
gera nenhum prejuízo ao consumidor? Esta alegação é válida? 
NÃO. 
 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
O provedor de busca cientificado pelo consumidor sobre vínculo virtual equivocado entre o argumento 
de pesquisa (nome de consumidor) e o resultado de busca (sítio eletrônico) é obrigado a desfazer a 
referida indexação, ainda que esta não tenha nenhum potencial ofensivo. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/5/2016 (Info 583). 
 
 
 
CONTRATO DE SEGURO 
Indenização securitária pelo valor do automóvel no momento do sinistro 
 
Importante!!! 
No caso de contrato de seguro de automóvel, havendo perda total, a seguradora deverá 
indenizar o segurado com base na tabela vigente na data do sinistro, e não na data do efetivo 
pagamento (liquidação do sinistro). 
É abusiva a cláusula de contrato de seguro de automóvel que, na ocorrência de perda total do 
veículo, estabelece a data do efetivo pagamento (liquidação do sinistro) como parâmetro do 
cálculo da indenização securitária a ser paga conforme o valor médio de mercado do bem, em 
vez da data do sinistro. STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.163-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2016 (Info 583). 
 
Tabela FIPE 
FIPE é a sigla de "Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas", uma organização de direito privado ligada 
ao Departamento de Economia da USP. Esta fundação elabora, mensalmente, uma tabela prevendo os 
preços médios dos veículos usados que são vendidos no mercado nacional. 
Ex: segundo a tabela FIPE, um Fiat Palio City 1.0 4p, ano 2000, custa em, em julho de 2016, R$ 10.435,00. 
Os valores estabelecidos na tabela variam em função da região, conservação, cor, acessórios ou qualquer 
outro fator que possa influenciar as condições de oferta e procura por um veículo específico. 
Vale ressaltar que o preço dos carros, em regra, vai diminuindo com o passar dos meses. Ex: em maio de 
2016, o valor do mesmo Fiat Palio City 1.0 4p, ano 2000, era de R$ 10.516,00 na tabela FIPE. Já em julho de 
2016, caiu para R$ 10.435,00, como vimos acima. 
As seguradoras utilizam a Tabela FIPE para determinar o valor do automóvel segurado. 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A empresa "XX" fez um contrato de seguro para cobrir possíveis sinistros em seus veículos. 
Em abril de 2016, um caminhão da empresa envolveu-se em um acidente e houve perda total do veículo. 
Na data do sinistro, o caminhão estava avaliado em R$ 110 mil, segundo a Tabela FIPE. 
A empresa acionou o seguro e iniciaram-se os procedimentos para "liquidação do sinistro", ou seja, 
pagamento da indenização. 
Em regra, o procedimento de liquidação do sinistro não pode durar mais que 30 dias, conforme regras da 
SUSEP (Superintendência de Seguros Privados). No entanto, em alguns casos, é possível sim que atrase 
mais que isso se houver dúvida fundada e justificável, situação em que serão necessárias novas exigências, 
inclusive de documentos. 
Voltando ao nosso exemplo, suponhamos que três meses depois, ou seja, em julho de 2016, a seguradora 
realizou o pagamento. 
Ocorre que aí surgiu um problema. Isso porque em julho de 2016, segundo a Tabela FIPE, o caminhão valia 
R$ 100 mil, ou seja, menos que em abril de 2016. 
O contrato de seguro assinado prevê que o valor da indenização deve ser calculado no momento da 
realização do sinistro (data do pagamento). Diante disso, a seguradora quer pagar apenas R$ 100 mil. A 
empresa, no entanto, não se conforma e deseja receber R$ 110 mil (preço do veículo na data do sinistro). 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
 
Neste caso concreto, quem tem razão, segundo o STJ? 
A empresa. A indenização deve ser calculada com base no valor médio de mercado considerando-se a data 
do sinistro. 
 
Mas e a cláusula contratual afirmando que o valor deve ser calculado com base na data do pagamento? 
Trata-se de cláusula abusiva, que deve ser tida como não-escrita. 
 
É abusiva a cláusula de contrato de seguro de automóvel que, na ocorrência de perda total do veículo, 
estabelece a data do efetivo pagamento (liquidação do sinistro) como parâmetro do cálculo da 
indenização securitária a ser paga conforme o valor médio de mercado do bem, em vez da data do sinistro. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.163-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2016 (Info 583). 
 
Princípio indenitário 
O CC/2002 prevê, em seu art. 781, o chamado princípio indenitário, segundo o qual a indenização 
securitária deve corresponder ao valor real dos bens perdidos, destruídos ou danificados que o seguradopossuía logo antes da ocorrência do sinistro. Veja: 
Art. 781. A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento do sinistro, e, em 
hipótese alguma, o limite máximo da garantia fixado na apólice, salvo em caso de mora do segurador. 
 
Dessa forma, o total da indenização está, em regra, limitado ao valor do dano atual e efetivo sofrido. Em 
outras palavras, deve-se pagar pelo prejuízo que a pessoa sofreu. Isso se justifica porque o contrato de 
seguro não deve ser causa de enriquecimento do segurado. O seu objetivo é apenas o de restabelecer a 
situação das coisas, em nível patrimonial, ao mesmo patamar de antes do sinistro. 
Por força do princípio indenizatório, a indenização deve corresponder ao valor do efetivo prejuízo 
experimentado pelo segurado no momento do sinistro, mesmo em caso de perda total dos bens 
garantidos. Assim, é abusiva a cláusula contratual do seguro de automóvel que impõe o cálculo da 
indenização securitária com base no valor médio de mercado do bem vigente na data de liquidação do 
sinistro, pois onera desproporcionalmente o segurado, colocando-o em situação de desvantagem 
exagerada, indo de encontro ao princípio indenitário, visto que os veículos automotores sofrem, com o 
passar do tempo, depreciação econômica, e quanto maior o lapso entre o sinistro e o dia do efetivo 
pagamento, menor será a recomposição do patrimônio garantido. 
Esta cláusula é, portanto, uma disposição unilateral e benéfica somente à seguradora, a qual poderá 
também atrasar o dia do pagamento, ante os trâmites internos e burocráticos de apuração do sinistro. 
Desse modo, no caso de contrato de seguro de automóvel, havendo perda total, a seguradora deverá 
indenizar o segurado com base na tabela vigente na data do sinistro, e não na data do efetivo pagamento 
(liquidação do sinistro). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
CONTRATO DE LOCAÇÃO 
Locador de locação comercial não tem a obrigação legal de adaptar o imóvel 
às peculiaridades da atividade que será explorada pelo locatário 
 
Na hipótese de locação de imóvel comercial, salvo disposição contratual em sentido contrário, a 
obrigação do locador restringe-se tão somente à higidez e à compatibilidade do imóvel ao uso 
comercial e não abrange a adaptação do bem às peculiaridades da atividade a ser explorada pelo 
locatário ou mesmo o dever de diligenciar perante os órgãos públicos para obter alvará de 
funcionamento ou qualquer outra licença necessária ao desenvolvimento do negócio. 
Em outras palavras, na hipótese de locação comercial, a Lei não impõe ao locador o encargo de 
adaptar o imóvel às peculiaridades da atividade que será explorada pelo locatário. Também 
não obriga o locador a diligenciar junto aos órgãos públicos para obter alvará de 
funcionamento ou qualquer outra licença necessária ao desenvolvimento do negócio. Essas 
são obrigações do locatário, salvo se houver alguma previsão contratual em sentido contrário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.317.731-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/4/2016 (Info 583). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João desejava abrir um bar em determinado bairro. 
Localizou um imóvel onde funcionava uma loja e que estava para alugar e entrou em contato com Pedro 
(proprietário). 
João e Pedro fizeram, então, um contrato de locação comercial. 
Pedro entregou as chaves e a empresa tomou posse do imóvel, iniciando a decoração do local, colocação 
de placa, das mesas etc. 
Ocorre que João não conseguiu obter alvará de funcionamento porque a Prefeitura afirmou que nesta 
área, apesar de ser comercial, não era permitida a instalação de bares por força do plano diretor. Além 
disso, também não houve autorização do Corpo de Bombeiros. 
Diante disso, Pedro, que já estava devendo três meses de aluguel, devolveu o imóvel para João e afirmou 
que estava desobrigado de pagar a quantia porque o imóvel teria sido alugado para ele sem que estivesse 
em condições de uso para o fim a que se destinava. 
 
A tese de Pedro (locatário) foi aceita pelo STJ? 
NÃO. 
 
Na hipótese de locação de imóvel comercial, salvo disposição contratual em sentido contrário, a 
obrigação do locador restringe-se tão somente à higidez e à compatibilidade do imóvel ao uso comercial 
e não abrange a adaptação do bem às peculiaridades da atividade a ser explorada pelo locatário ou 
mesmo o dever de diligenciar perante os órgãos públicos para obter alvará de funcionamento ou 
qualquer outra licença necessária ao desenvolvimento do negócio. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.317.731-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/4/2016 (Info 583). 
 
A regularização do bem perante os órgãos públicos não está entre as obrigações conferidas ao locador 
pelo art. 22, I, da Lei nº 8.245/91, sendo fato imputável exclusivamente ao locatário. 
Ademais, não havia nenhuma cláusula no contrato que estipulasse a obrigação do locador de adaptar o 
imóvel para fins de funcionamento de um bar. Na verdade, no contrato só dizia que o locatário faria uso 
do imóvel para fins comerciais. 
 
Obrigação do locador de entregar imóvel que sirva ao uso a que se destina 
Segundo o art. 22, I, da Lei nº 8.245/91 (Lei do Inquilinato), o locador é obrigado a "entregar ao locatário o 
imóvel alugado em estado de servir ao uso a que se destina". 
A locação urbana pode ser: 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
x para o uso residencial: destinado à moradia (arts. 46 e 47); 
x para temporada: destinado à residência temporária do locatário, para prática de lazer, realização de 
cursos, tratamento de saúde, feitura de obras em seu imóvel, e outros fatos que decorrem tão 
somente de determinado tempo, e contratada por prazo não superior a 90 dias, esteja ou não 
mobiliado o imóvel (arts. 48 a 50); ou 
x para o uso comercial: destinado para instalação de escritórios, comércio, indústria ou qualquer outra 
atividade que não seja residencial (arts. 51 a 57). 
 
Logo, quando o art. 22, I, afirma que é dever do locador entregar ao locatário o imóvel de forma 
compatível com o uso a que se destina, o que se está dizendo é que ele deve ser entregue com condições 
de ser utilizado para locação residencial, para temporada ou comercial (a depender do caso). 
Assim, por exemplo, na hipótese de locação residencial, é dever do locador observar se o local onde 
situado o imóvel autoriza a utilização do bem para o fim de moradia, se apresenta condições de uso e gozo 
e outras condições de habitabilidade. 
Já nos casos de locação para fins comerciais, a obrigação do locador restringe-se tão somente à higidez e à 
compatibilidade do imóvel ao uso comercial. Em outras palavras, basta que o locador alugue um imóvel 
que possa ser utilizado para atividades empresariais. O locador não tem a obrigação de entregar um 
imóvel que seja adequado para a atividade comercial específica que o locatário deseja exercer. 
Compete, portanto, ao locatário analisar perviamente se o bem que ele irá alugar é compatível com a 
atividade empresarial que deseja realizar no local. Esse exame deve envolver inclusive os documentos 
relativos a esse imóvel. 
 
Locador não tem obrigação de preparar o imóvel para a atividade que será explorada pelo locatário 
Assim, na hipótese de locação comercial, a Lei não impõe ao locador o encargo de adaptar o imóvel às 
peculiaridades da atividade que será explorada pelo locatário. Também não obriga o locador a diligenciar 
junto aos órgãos públicos para obter alvará de funcionamento ou qualquer outra licença necessária ao 
desenvolvimento do negócio. Essas são obrigações do locatário, salvo se houver alguma previsão 
contratual em sentido contrário. 
 
Postura colaborativa do locador 
Vale ressaltar, no entanto, que o locador, em virtude dos chamadosdeveres anexos à boa-fé (deveres de 
informação, cooperação, lealdade e probidade) tem a obrigação de colaborar com o locatário fornecendo 
os documentos e as informações necessárias à implementação da atividade no imóvel objeto da locação. 
Isso, contudo, é diferente de ele ter a obrigação de resolver os entraves. 
 
 
 
CONTRATOS AGRÁRIOS 
Empresa rural de grande porte não tem direito de preferência previsto no Estatuto da Terra 
 
O direito de preferência para a aquisição do imóvel arrendado, previsto no art. 92, § 3º, do 
Estatuto da Terra, não é aplicável à empresa rural de grande porte (arrendatária rural). STJ. 3ª Turma. REsp 1.447.082-TO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/5/2016 (Info 583). 
 
Arrendamento rural 
De forma resumida, arrendamento rural é um contrato por meio do qual o arrendador aluga um imóvel 
que será utilizado por outra pessoa (arrendatário) para a exploração de atividade rural (agrícola, pecuária, 
granjeira etc). 
 
 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
Vamos detalhar essa definição: 
Arrendamento rural é... 
- o contrato agrário 
- por meio do qual uma pessoa se obriga a ceder à outra, 
- por tempo determinado ou indeterminado, 
- o uso e gozo de imóvel rural (no todo ou em parte), 
- incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, 
- com o objetivo de que nele seja exercida atividade de 
- exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, 
- pagando o arrendatário ao arrendador uma retribuição ou aluguel, 
- observados os limites percentuais da Lei. 
 
O contrato de arrendamento rural é regido pelo Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64) e pelo Decreto nº 
59.566/66. 
 
Direito de preferência 
O Estatuto da Terra prevê que, se o arrendador quiser vender o imóvel, o arrendatário terá direito de 
preferência, ou seja, terá direito de comprar, desde que aceite pagar o valor que os demais interessados 
haviam oferecido. Veja como isso está previsto: 
Art. 92 (...) 
§ 3º No caso de alienação do imóvel arrendado, o arrendatário terá preferência para adquiri-lo em 
igualdade de condições, devendo o proprietário dar-lhe conhecimento da venda, a fim de que possa 
exercitar o direito de perempção dentro de trinta dias, a contar da notificação judicial ou 
comprovadamente efetuada, mediante recibo. 
§ 4º O arrendatário a quem não se notificar a venda poderá, depositando o preço, haver para si o imóvel 
arrendado, se o requerer no prazo de seis meses, a contar da transcrição do ato de alienação no Registro 
de Imóveis. 
 
Imagine agora a seguinte situação adaptada: 
A "XXX Agropecuária" é uma empresa rural de grande porte. 
João, dono de uma fazenda, firmou contrato particular de arrendamento rural com a "XXX Agropecuária" 
por meio do qual esta, arrendatária, poderia explorar, durante 2 anos, o imóvel de João, devendo pagar a 
ele, em contraprestação, R$ 20 mil por mês. 
Faltando alguns meses para chegar ao fim o prazo de vigência do contrato, João vende o imóvel para 
Pedro, dono da fazenda vizinha. 
Quando descobriu que houve a alienação, a empresa arrendatária exigiu seu direito de preferência, nos 
termos do art. 92, §§ 3º e 4º do Estatuto da Terra. 
 
O pedido da empresa deverá ser acolhido? 
NÃO. 
 
O direito de preferência para a aquisição do imóvel arrendado, previsto no art. 92, § 3º, do Estatuto da 
Terra, não é aplicável à empresa rural de grande porte (arrendatária rural). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.447.082-TO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/5/2016 (Info 583). 
 
Regulamento do Estatuto da Terra limita os direitos nele previstos 
O Estatuto da Terra não impôs nenhuma restrição quanto à pessoa do arrendatário para o exercício do 
direito de preferência, de modo que, ao menos numa interpretação literal, nada obstaria a que uma 
grande empresa rural viesse a exercer o direito de preempção. Porém, o Decreto nº 59.566/66, que 
regulamenta o Estatuto da Terra, estabeleceu que os benefícios nele previstos seriam restritos àqueles 
que explorem atividade rural direta e pessoalmente, como o típico homem do campo (art. 38), fazendo 
uso eficiente e correto da terra, contando essencialmente com a força de trabalho de sua família (art. 8º). 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
 
Estatuto da Terra deve ser examinado à luz da função social da propriedade e da justiça social 
Analisando-se o Estatuto da Terra como um microssistema normativo, percebe-se que seus princípios 
orientadores são, essencialmente, a função social da propriedade e a justiça social (arts. 1º e 2º da Lei nº 
4.504/64). Portanto, cabe interpretar o direito de preferência à luz desses dois princípios. 
Sob o prisma da função social da propriedade, a terra é vista como um meio de produção que deve ser 
mantido em grau satisfatório de produtividade, observadas as normas ambientais e trabalhistas. No caso 
do arrendamento, o arrendatário tem total interesse em manter a terra produtiva, pois seria 
antieconômico pagar aluguel e deixar a terra ociosa. Desse modo, o exercício do direito de preferência 
pelo arrendatário possibilitaria a continuidade da atividade produtiva, atendendo-se, assim, ao princípio 
da função social da propriedade. Observe-se que essa conclusão independe do porte econômico do 
arrendatário, pois o foco é produtividade da terra, respeitadas as normas ambientais e trabalhistas. 
Entretanto, os princípios da função social da propriedade e da justiça social nem sempre andam juntos. 
O princípio da justiça social preconiza a desconcentração da propriedade das mãos dos grandes grupos 
econômicos e dos grandes proprietários, para que seja dado acesso à terra ao homem do campo e à sua 
família. Preconiza, também, a proteção do homem do campo nas relações jurídicas de direito agrário. 
A falta ou a ineficiência de uma política agrária faz com que rurícolas migrem para as grandes cidades, 
onde, não raras vezes, são submetidos a condições de vida degradantes, como temos testemunhado em 
nosso país, ao longo de décadas de êxodo rural contínuo. 
Assim, não é por outra razão que o Estatuto da Terra assegura a todo agricultor o direito de "permanecer 
na terra que cultive", bem como estabelece que é dever do Poder Público "promover e criar condições de 
acesso do trabalhador rural à propriedade da terra" (art. 2º, §§ 2º e 3º). 
 
Direito de preferência só atende ao princípio da justiça social quando o arrendatário é um homem do campo 
Diante disso, o direito de preferência previsto no Estatuto da Terra atende ao princípio da justiça social 
quando o arrendatário é um homem do campo, pois possibilita que esse permaneça na terra, passando à 
condição de proprietário. Por outro lado, quando o arrendatário é uma grande empresa, desenvolvendo o 
chamado agronegócio, o princípio da justiça social deixa de ter aplicabilidade, pois ausente a 
vulnerabilidade social que lhe é pressuposto. Tem-se, na hipótese em análise, portanto, uma situação em 
que, embora o princípio da função social seja aplicável, não o é o princípio da justiça social. 
Assim, agiu corretamente o Decreto nº 59.566/66 ao limitar os benefícios nele previstos a quem explore a 
terra direta e pessoalmente, como verdadeiro homem do campo, contando essencialmente com a força de 
trabalho de sua família. 
 
Quando a arrendatária é uma empresa rural de grande porte incide o Código Civil 
Dessa forma, quando a arrendatária é uma empresa rural de grande porte, não lhe é aplicável o Estatuto 
da Terra, incidindo o Código Civil, que não prevê direito de preferência no contrato de locação de coisas, 
cabendo às partes pactuarem uma cláusula com esse teor. 
Se fosse reconhecido direito de preferência neste caso, as grandes empresas rurais exerceriam esse direito 
contra os terceiros adquirentes, ainda que estes sejamhomens do campo, invertendo-se, assim, a lógica 
de proteção do Estatuto da Terra que é, como já dito, proteger o pequeno produtor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA 
Termo inicial do prazo prescricional da petição de herança 
em caso de reconhecimento póstumo da paternidade 
 
Na hipótese em que ação de investigação de paternidade post mortem tenha sido ajuizada após 
o trânsito em julgado da decisão de partilha de bens deixados pelo de cujus, o termo inicial do 
prazo prescricional para o ajuizamento de ação de petição de herança é a data do trânsito em 
julgado da decisão que reconheceu a paternidade, e não o trânsito em julgado da sentença que 
julgou a ação de inventário. 
Em suma, o termo inicial para o ajuizamento da ação de petição de herança é a data do trânsito 
em julgado da ação de investigação de paternidade, quando, em síntese, confirma-se a 
condição de herdeiro. STJ. 3ª Turma. REsp 1.475.759-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/5/2016 (Info 583). 
 
Ação de petição de herança 
Ação de petição de herança é aquela proposta por alguém que quer ser reconhecido como herdeiro do 
falecido e, como via de consequência, ter direito à herança (no todo ou em parte). Petição = pedido. Logo, 
petição de herança significa pedir a herança. 
Trata-se de ação para que um herdeiro preterido possa reivindicar a totalidade ou parte do acervo 
hereditário, sendo movida contra o detentor da herança, com o objetivo de que seja realizada nova 
partilha dos bens. 
Ex1: mulher vivia em união estável com o morto, mas isso não estava oficializado e os filhos do defunto 
não a reconhecem como sua companheira. Ela poderá ajuizar ação de reconhecimento de união estável 
post mortem cumulada com petição de herança. 
Ex2: filho não reconhecido pelo morto poderá ajuizar ação de reconhecimento de paternidade post 
mortem cumulada com petição de herança. 
 
Previsão 
A petição de herança está prevista nos arts. 1.824 a 1.828 do CC: 
Art. 1.824. O herdeiro pode, em ação de petição de herança, demandar o reconhecimento de seu direito 
sucessório, para obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, 
ou mesmo sem título, a possua. 
 
Prazo prescricional 
A pretensão de petição de herança prescreve no prazo de 10 anos, nos termos do art. 205 do CC, já que 
não existe um prazo específico fixado no Código: 
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João, viúvo, faleceu e deixou dois filhos: Antônio e Bento. 
Com a morte, foi aberto inventário e, em 2002, realizou-se a partilha dos bens de João entre os dois 
herdeiros acima mencionados. 
Ocorre que havia uma história que poucos sabiam. João teve mais um filho (Carlos), que não foi registrado 
em seu nome. 
Em 2012, Maria, mãe de Carlos, decide contar a verdade para seu filho e o incentiva a procurar seus direitos. 
Diante disso, Carlos ajuíza ação de investigação de paternidade post mortem pedindo que seja 
reconhecido como filho de João. Havia várias provas desse fato e a sentença foi procedente e transitou em 
julgado em 2014. 
Em 2015, Carlos propôs ação de petição de herança contra Antônio e Bento pedindo a sua parte na herança. 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
Os réus suscitaram a ocorrência de prescrição, argumentando que a ação de petição de herança prescreve 
em 10 anos. Como a sentença que julgou o inventário e fez a partilha transitou em julgado em 2002, 
arguiram que João tinha até o ano de 2012 para propor a demanda. 
 
O argumento dos réus foi aceito pelo STJ? Houve a prescrição considerando que a ação de petição de 
herança foi proposta mais de 10 anos depois do trânsito em julgado da partilha? 
NÃO. 
 
Na hipótese em que ação de investigação de paternidade post mortem tenha sido ajuizada após o trânsito 
em julgado da decisão de partilha de bens deixados pelo de cujus, o termo inicial do prazo prescricional 
para o ajuizamento de ação de petição de herança é a data do trânsito em julgado da decisão que 
reconheceu a paternidade, e não o trânsito em julgado da sentença que julgou a ação de inventário. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.475.759-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/5/2016 (Info 583). 
 
Segundo o art. 189 do CC, o prazo prescricional somente começa a correr quando há violação do direito 
subjetivo alegado. 
Não há que se falar em petição de herança enquanto não houver a confirmação da paternidade. Dessa 
forma, conclui-se que o termo inicial para o ajuizamento da ação de petição de herança é a data do 
trânsito em julgado da ação de investigação de paternidade, quando, em síntese, confirma-se a condição 
de herdeiro. 
No mesmo sentido é o entendimento da doutrina majoritária: 
"O termo inicial do lapso prescricional é coincidente com a data da abertura da sucessão, como já decidiu 
o Supremo Tribunal Federal, uma vez que não se pode postular acerca de herança de pessoa viva. 
Somente depois da morte há legitimação ativa para suceder, por parte de quem tiver de pleitear a 
herança. 
(...) 
Todavia, se a legitimação depender do prévio reconhecimento da paternidade, o dies a quo do prazo 
prescricional será a data em que o direito puder ser exercido, ou seja, o momento em que for reconhecida 
a paternidade, e não o da abertura da sucessão." (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: 
direito das sucessões. 10ª ed., v. 7. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 142). 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES 
A Súmula 385 do STJ aplica-se também para ações propostas pelo consumidor 
contra o credor que efetivou a inscrição irregular 
 
Importante!!! 
A inscrição indevida comandada pelo credor em cadastro de proteção ao crédito, quando 
preexistente legítima inscrição, não enseja indenização por dano moral, ressalvado o direito 
ao cancelamento. 
A Súmula 385-STJ também é aplicada às ações voltadas contra o suposto credor que efetivou 
inscrição irregular. STJ. 2ª Seção. REsp 1.386.424-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/4/2016 (Info 583). 
 
 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João deixou de pagar a prestação de uma geladeira. Diante disso, a loja comunicou o fato ao SERASA, que 
expediu uma correspondência ao endereço do consumidor. Nesta carta, João foi informado de que existia 
a referida dívida e que se ela não fosse regularizada no prazo de 10 dias, seu nome seria inserido no 
cadastro negativo. 
Infelizmente João não tinha condições de quitar o débito e seu nome foi incluído no banco de dados do 
SERASA. 
Passaram-se dois anos deste fato. 
Determinado dia, João recebe uma nova carta do SERASA afirmando que a operadora de telefonia celular 
estava pedindo a sua inclusão no banco de dados de devedores em virtude de ele ter deixado de pagar a conta 
de dezembro/2015, no valor de R$ 100. O nome de João foi, então, incluído no SERASA por essa nova conta. 
Diante desse fato, João propôs ação de indenização por danos morais contra a operadora de telefonia 
afirmando que ela ordenou indevidamente sua inscrição no cadastro de inadimplentes considerando que a 
dívida já estava paga. 
Em sua defesa, a companhia telefônica afirmou que já ordenou a retirada do nome de João do SERASA, 
mas argumentou que não deveria haver condenação por danos morais, tendo em vista que o consumidor 
já possuía outra anotação legítima no cadastro de inadimplentes. Invoca, para fundamentar sua tese, a 
súmula 385 do STJ: 
Súmula 385-STJ: Da anotaçãoirregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por 
dano moral quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento. 
 
João, assistido pela Defensoria Pública, refutou o argumento da operadora de telefonia afirmando que os 
precedentes que deram origem a essa súmula 385 foram de ações propostas pelo consumidor contra os 
cadastros de inadimplência (consumidor x SERASA/SPC). 
Alegou, portanto, que a súmula 385-STJ não se aplicaria para ações propostas pelo consumidor lesado 
contra o próprio credor, como no caso em tela. 
 
A tese de João foi aceita pelo STJ? A súmula 385 do STJ aplica-se apenas para os casos de ações 
propostas pelo consumidor contra os cadastros de inadimplência (SPC/SERASA)? 
NÃO. A Súmula 385-STJ também é aplicada às ações voltadas contra o suposto credor que efetivou 
inscrição irregular. 
 
Na prática forense, esta tese levantada por João é comumente alegada pelos Defensores Públicos e 
advogados e chegou até mesmo a ser acolhida em muitos julgados, inclusive do STJ. No entanto, o 
Tribunal, ao reapreciar o tema em sede de recurso especial repetitivo, pacificou o assunto em sentido 
contrário e definiu a seguinte tese: 
 
A inscrição indevida comandada pelo credor em cadastro de proteção ao crédito, quando preexistente 
legítima inscrição, não enseja indenização por dano moral, ressalvado o direito ao cancelamento. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.386.424-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Maria 
Isabel Gallotti, julgado em 27/4/2016 (Info 583). 
 
Realmente, a súmula 385 do STJ surgiu de precedentes que envolviam ações propostas pelo consumidor 
contra o SPC/SERASA. Isso é verdade. No entanto, o STJ afirmou que a razão de ser deste enunciado pode 
ser aplicada também para ações ajuizadas pelo consumidor contra o credor. Não há nada que justifique 
tratamento diferenciado. 
 
Ressalte-se, todavia, que isso não quer dizer que o credor não possa responder por algum outro tipo de 
excesso. A anotação irregular, já havendo outras inscrições legítimas contemporâneas, não enseja, por si 
só, dano moral. Mas o dano moral pode ter por causa de pedir outras atitudes do suposto credor, como a 
insistência em uma cobrança eventualmente vexatória e indevida, ou o desleixo de cancelar, assim que 
ciente do erro, a anotação indevida. 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
 
ECA 
 
CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA 
Cumprimento imediato da internação fixada na sentença ainda que tenha havido recurso 
 
Importante!!! 
Atualize o Info 553-STJ 
Atualize seu livro de 2015 (p. 717) 
Atualize livro Julgados Resumidos (p. 385) 
É possível que o adolescente infrator inicie o imediato cumprimento da medida socioeducativa 
de internação que lhe foi imposta na sentença, mesmo que ele tenha interposto recurso de 
apelação e esteja aguardando seu julgamento. 
Esse imediato cumprimento da medida é cabível ainda que durante todo o processo não tenha 
sido imposta internação provisória ao adolescente, ou seja, mesmo que ele tenha permanecido 
em liberdade durante a tramitação da ação socioeducativa. 
Em uma linguagem mais simples, o adolescente infrator, em regra, não tem direito de 
aguardar em liberdade o julgamento da apelação interposta contra a sentença que lhe impôs a 
medida de internação. STJ. 3ª Seção. HC 346.380-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/4/2016 (Info 583). 
 
No caso de apuração de ato infracional, aplica-se subsidiariamente o CPP ou o CPC? 
Depende. Aplica-se: 
x o CPP para o processo de conhecimento (representação, produção de provas, memoriais, sentença); 
x o CPC para as regras do sistema recursal (art. 198 do ECA). 
 
Resumindo: 
1ª opção: normas do ECA. 
Na falta de normas específicas: 
x CPP: para regular o processo de conhecimento. 
x CPC: para regular o sistema recursal. 
 
Imagine agora a seguinte situação adaptada: 
João, adolescente, praticou ato infracional equiparado a roubo majorado (art. 157, § 2º, I e II, do CP). 
Durante todo o processo, João permaneceu em liberdade. 
O magistrado proferiu sentença aplicando-lhe medida socioeducativa de internação. 
A defesa interpôs recurso de apelação. 
A apelação foi recebida apenas no seu efeito devolutivo (ou seja, não foi recebida no efeito suspensivo). 
Como o recurso não suspendeu a sentença, isso significa que, na prática, o adolescente deverá aguardar 
no centro de internação o julgamento da apelação. Em outros termos, foi negado ao adolescente o direito 
de recorrer em liberdade e ele iniciará o cumprimento da medida de internação. 
 
A decisão foi acertada? Em regra, a apelação contra a sentença que aplica medida socioeducativa de 
internação deverá ser recebida no efeito meramente devolutivo? É possível o imediato cumprimento da 
medida de internação mesmo que o adolescente tenha interposto recurso? 
SIM. 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
 
É possível que o adolescente infrator inicie o imediato cumprimento da medida socioeducativa de 
internação que lhe foi imposta na sentença, mesmo que ele tenha interposto recurso de apelação e 
esteja aguardando seu julgamento. 
Esse imediato cumprimento da medida é cabível ainda que durante todo o processo não tenha sido 
imposta internação provisória ao adolescente, ou seja, mesmo que ele tenha permanecido em liberdade 
durante a tramitação da ação socioeducativa. 
Em uma linguagem mais simples, o adolescente infrator, em regra, não tem direito de aguardar em 
liberdade o julgamento da apelação interposta contra a sentença que lhe impôs a medida de internação. 
STJ. 3ª Seção. HC 346.380-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio 
Schietti Cruz, julgado em 13/4/2016 (Info 583). 
 
Tema outrora polêmico 
Este tema era extremamente polêmico no STJ, havendo inúmeras decisões em ambos os sentidos. 
Vale ressaltar, no entanto, que a decisão proferida neste HC 346.380-SP foi tomada pela 3ª Seção (que 
abrange a 5ª e 6ª Turmas, que julgam direito infracional). Dessa forma, a tendência é que esta posição se 
consolide, apesar do resultado da votação ter sido extremamente apertado (5x4). 
Havendo mais alguma novidade, você será alertado. 
Vejamos, abaixo, os principais argumentos do STJ. 
 
Iniciar o cumprimento imediato atende aos princípios da proteção integral, da prioridade absoluta e da 
atualidade 
A medida socioeducativa tem como missão precípua não a punição pura e simples do adolescente em 
conflito com a lei, mas, principalmente, a ressocialização e a proteção do jovem infrator. 
As medidas previstas nos arts. 112 a 125 do ECA não são penas e possuem o objetivo primordial de proteção 
dos direitos do adolescente, de modo a afastá-lo da conduta infracional e de uma situação de risco. Isso atende 
aos princípios da proteção integral e da prioridade absoluta (art. 227 da CF/88 e arts. 3º e 4º do ECA). 
Desse modo, postergar (retardar) o início de cumprimento da medida socioeducativa imposta na sentença 
significa fazer com que se perca a atualidade da resposta estatal, enfraquecendo o objetivo ressocializador 
e permitindo que o adolescente permaneça em situação de risco, uma vez que ele continuará exposto às 
mesmas circunstâncias que o levaram à prática infracional. 
 
Não há ofensa ao princípio da não-culpabilidade (presunção de inocência) porque a medida 
socioeducativa não é pena 
Ao analisar o tema, não se deve equiparar o adolescente que pratica ato infracional ao adulto imputável 
autor de crime. De acordo com o art. 228 da CF/88, os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis e 
estão sujeitos às normas da legislação especial. 
No processo penal, as regras têm por objetivo, fundamentalmente, proteger o acusado contraingerências 
abusivas do Estado em sua liberdade. A pena criminal é uma punição e o princípio da presunção de não 
culpabilidade é levado ao extremo. 
Por outro lado, a medida socioeducativa não representa punição, sendo um mecanismo de proteção do 
adolescente e da sociedade, possuindo natureza pedagógica e ressocializadora. Por essas razões, para o 
STJ, a imediata execução da sentença que aplica medida socioeducativa não ofende o princípio da não 
culpabilidade (art. 5º, LVII, da CF/88). 
 
Princípio da intervenção precoce 
Ainda que o adolescente infrator tenha respondido ao processo de apuração de prática de ato infracional 
em liberdade, a prolação de sentença impondo medida socioeducativa de internação autoriza o 
cumprimento imediato da medida imposta, tendo em vista os princípios que regem a legislação menorista, 
um dos quais é o princípio da intervenção precoce na vida do adolescente, positivado no parágrafo único, 
VI, do art. 100 do ECA. 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Art. 100 (...) 
Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas: 
(...) 
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a 
situação de perigo seja conhecida; 
 
Revogação do inciso VI do art. 198 do ECA 
Um argumento contrário ao cumprimento imediato da medida socioeducativa era o inciso VI do art. 198 
do ECA, que previa que os recursos seriam recebidos apenas no efeito devolutivo, sendo que este inciso 
foi revogado pela Lei nº 12.010/2009. Veja o que dizia o inciso VI: 
VI - a apelação será recebida em seu efeito devolutivo. Será também conferido efeito suspensivo quando 
interposta contra sentença que deferir a adoção por estrangeiro e, a juízo da autoridade judiciária, sempre 
que houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação; (Revogado pela Lei nº 12.010/2009) 
 
Dessa forma, alguns autores defendiam a seguinte tese: ora, como o inciso VI foi revogado, isso significa 
que agora os recursos no ECA deverão obedecer a legislação subsidiária, ou seja, o CPC. E o art. art. 1.012 
do CPC/2015 afirma que, em regra, o recurso de apelação deverá ser recebido no seu duplo efeito. Diante 
disso, para essa tese, com a revogação do inciso VI, não poderia ser admitida a execução provisória de 
sentença que impõe medida socioeducativa. 
 
A maioria dos Ministros do STJ, contudo, não aderiu a essa tese e contra-argumentou afirmando que a 
regra no ECA continua sendo que os recursos tenham efeito apenas devolutivo. Isso porque continua a 
vigorar o art. 215 do ECA, que prevê: 
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte. 
 
Ora, se o art. 215 estabelece que o juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, isso significa que, 
como regra, eles não possuem esse efeito. 
Para o STJ, ainda que este art. 215 esteja em um capítulo que não trata sobre medidas socioeducativas, é 
possível que ele seja aplicado, supletivamente, para se concluir que os recursos serão recebidos, salvo 
decisão em contrário, apenas no efeito devolutivo, ao menos em relação aos recursos contra sentença que 
acolhe representação do Ministério Público e impõe medida socioeducativa ao adolescente infrator, sob 
pena, repita-se, de frustração da principiologia e dos objetivos a que se destina a legislação menorista. 
 
Em suma: 
Condicionar, de forma peremptória, o cumprimento da medida socioeducativa ao trânsito em julgado da 
sentença que acolhe a representação – apenas porque não se encontrava o adolescente já segregado 
anteriormente à sentença – constitui verdadeiro obstáculo ao escopo ressocializador da intervenção 
estatal, além de permitir que o adolescente permaneça em situação de risco, exposto aos mesmos fatores 
que o levaram à prática infracional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
ADJUDICAÇÃO 
Forma preferencial de pagamento ao credor 
Momento para requerimento da adjudicação 
 
Ao analisar o instituto da adjudicação e em especial a sua preferência sobre outras formas de 
expropriação e o momento de realizá-la, o STJ enunciou duas conclusões 
I - A adjudicação é forma preferencial de pagamento ao credor, devendo ser assegurada ao 
legitimado que oferecer preço não inferior ao da avaliação. Assim, se um dos legitimados 
previstos em lei requereu a adjudicação e ofereceu preço não inferior ao da avaliação, não 
deve o magistrado indeferir o pedido e determinar a alienação do bem penhorado. 
II - A adjudicação poderá ser requerida após resolvidas as questões relativas à avaliação do 
bem penhorado e antes de realizada a alienação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.505.399-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/4/2016 (Info 583). 
 
O que acontece com o bem penhorado? 
Se o bem penhorado for dinheiro, ele é transferido ao credor, quitando-se a obrigação. 
Se o bem penhorado for coisa diferente de dinheiro, ele poderá ser: 
a) adjudicado; 
b) alienado; 
c) concedido em usufruto ao exequente. 
 
Quando acontece uma dessas três situações acima, dizemos que houve a “expropriação”, conforme 
previsto no art. 825 do CPC/2015: 
Art. 825. A expropriação consiste em: 
I - adjudicação; 
II - alienação; 
III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens. 
 
Obs: esses incisos estão organizados segundo uma preferência legal. Em outras palavras, se houver 
interessados em adjudicar (inciso I), não será necessário fazer a alienação. Se não ocorrer a adjudicação, 
deve-se tentar a alienação (inciso II) antes da apropriação de frutos (inciso III). 
 
Adjudicação (inciso I) 
A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem penhorado (móvel ou imóvel) é transferida para o 
exequente (ou para um terceiro legitimado a adjudicar), como forma de pagamento da dívida que está 
sendo cobrada em juízo. 
O instituto encontra-se previsto no art. 876 do CPC/2015, cujo caput estabelece: 
Art. 876. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer que lhe sejam 
adjudicados os bens penhorados. 
 
O caput do art. 876 fala apenas no exequente, mas o § 5º prevê outros legitimados que também podem 
adjudicar. Veja: 
§ 5º Idêntico direito pode ser exercido por aqueles indicados no art. 889, incisos II a VIII, pelos credores 
concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelo companheiro, pelos descendentes 
ou pelos ascendentes do executado. 
 
 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
A adjudicação é forma preferencial de pagamento ao credor, devendo ser assegurada ao legitimado que 
oferecer preço não inferior ao da avaliação. 
Assim, se um dos legitimados previstos em lei requereu a adjudicação e ofereceu preço não inferior ao 
da avaliação, não deve o magistrado indeferir o pedido e determinar a alienação do bem penhorado. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.505.399-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/4/2016 (Info 583). 
 
Essa preferência fica clara ao se ler o art. 880 do CPC/2015, que afirma que a alienação somente ocorrerá 
se "não efetivada a adjudicação": 
Art. 880. Não efetivada a adjudicação, o exequente poderá requerer a alienação por sua própria iniciativa 
ou por intermédio de corretor ou leiloeiro público credenciado perante o órgão judiciário. 
 
A lei não prevê expressamente o prazo máximo para o exequente ou demais legitimados pedirem a 
adjudicação. Diante disso, o STJ decidiu que: 
A adjudicação poderá ser requerida após resolvidas as questões relativas à avaliação do bem penhorado 
e antes de realizada a alienação. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.505.399-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/4/2016(Info 583). 
 
A legislação não estabelece expressamente o limite temporal para requerimento da adjudicação, mas isso 
pode ser extraído da redação do art. 880 do CPC/2015, vista acima. 
 
Desse modo, podemos concluir que o termo inicial para o pedido de adjudicação é a entrega da avaliação. 
Tendo o bem sido avaliado, ele já poderá ser adjudicado. Por outro lado, o termo final da adjudicação é a 
realização da alienação. Se a coisa já foi alienada (seja por iniciativa particular, seja por leilão judicial), não 
é mais permitida a adjudicação. 
 
Imagine agora que o exequente, em um primeiro momento, não queira adjudicar o bem. Diante disso, são 
iniciados os preparativos para a realização da sua alienação. Ocorre que também não se consegue vender 
a coisa. O novo CPC prevê, de forma inovadora, que, nesta situação, será permitido novamente que o 
exequente (ou algum legitimado) requeira a adjudicação. Veja do que estou falando: 
Art. 878. Frustradas as tentativas de alienação do bem, será reaberta oportunidade para requerimento de 
adjudicação, caso em que também se poderá pleitear a realização de nova avaliação. 
 
Confira os comentários de Daniel Amorim Assumpção Neves a respeito deste dispositivo: 
"Conforme indicado pelo art. 880, caput, do Novo CPC, a adjudicação é a forma preferencial de satisfação 
do direito do exequente, no sentido de que, antes de ser determinada qualquer outra medida que busque 
tal satisfação, poderá ocorrer a adjudicação. Mas não se deve entender que exista uma preclusão temporal 
que impeça a adjudicação de ocorrer depois desse momento inicial de expropriação, desde que ela ainda 
seja materialmente possível. É natural que não tenha sentido falar em adjudicação após o bem penhorado 
já ter sido alienado ou, ainda, já estar em curso o seu 'usufruto executivo'. Mas nenhuma preclusão 
impedirá que, frustrada a alienação do bem, o exequente ou qualquer outro legitimado requeira a 
adjudicação do bem." (Novo CPC Comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 1391-1392). 
 
Alienação (inciso II) 
Segundo o art. 879 do CPC 2015, existem duas espécies de alienação do bem: 
a) por iniciativa particular: ocorre quando o próprio exequente (ou algum corretor ou leiloeiro público 
credenciado) tenta conseguir um comprador para o imóvel, seguindo determinadas regras impostas pela lei. 
b) leilão judicial (eletrônico ou presencial): é a oferta do bem penhorado aos interessados em adquiri-lo 
em um evento organizado pelo Estado-juiz. 
 
 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
Observação: 
No CPC 2015, o que é chamado atualmente de “leilão judicial” era conhecido como “hasta pública” 
(expressão do CPC 1973). Assim, no CPC 1973 existiam duas formas de hasta pública (art. 686, IV): 
a) praça, quando a coisa a ser alienada era bem imóvel; 
b) leilão, quando a coisa a ser alienada era bem móvel. 
 
O CPC 2015 não repete tais palavras e não mais faz essa distinção. Agora, fala-se em leilão judicial tanto 
para bens móveis como imóveis. 
 
Apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens (antigo 
“usufruto de bem móvel ou imóvel”) (inciso III) 
No CPC 1973, isso era tratado como sendo “usufruto de bem móvel ou imóvel”, expressão que era 
criticada pela doutrina e que, por isso, foi substituída no novo Código. Compare: 
CPC 1973 CPC 2015 
Art. 716. O juiz pode conceder ao exequente o 
usufruto de móvel ou imóvel, quando o reputar 
menos gravoso ao executado e eficiente para o 
recebimento do crédito. 
Art. 867. O juiz pode ordenar a penhora de frutos 
e rendimentos de coisa móvel ou imóvel quando a 
considerar mais eficiente para o recebimento do 
crédito e menos gravosa ao executado. 
 
Ex: foi penhorado um apartamento do executado, que se encontra alugado a um terceiro; pode o juiz 
determinar que o exequente fique recebendo o valor dos aluguéis até que o débito da execução seja 
totalmente pago. 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
HOMICÍDIO 
Incompatibilidade entre dolo eventual e a qualificadora de motivo fútil 
 
A qualificadora do motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP) é compatível com o homicídio 
praticado com dolo eventual? A pessoa que cometeu homicídio com dolo eventual pode 
responder pela qualificadora de motivo fútil? 
1ª corrente: SIM. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte, aspecto 
caracterizador do dolo eventual, não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por 
motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo 
que ensejou a conduta, mostrando-se, em princípio, compatíveis entre si. STJ. 5ª Turma. REsp 
912.904/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 06/03/2012. 
2ª corrente: NÃO. A qualificadora de motivo fútil é incompatível com o dolo, tendo em vista a 
ausência do elemento volitivo. STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para 
acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583). STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583). 
 
A qualificadora do motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP) é compatível com o homicídio praticado com 
dolo eventual? A pessoa que cometeu homicídio com dolo eventual pode responder pela qualificadora 
de motivo fútil? 
 
 
Informativo 583-STJ (13/05 a 26/05/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
SIM NÃO 
O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o 
resultado morte, aspecto caracterizador do dolo 
eventual, não exclui a possibilidade de o crime ter 
sido praticado por motivo fútil, uma vez que o 
dolo do agente, direto ou indireto, não se 
confunde com o motivo que ensejou a conduta, 
mostrando-se, em princípio, compatíveis entre si. 
STJ. 5ª Turma. REsp 912.904/SP, Rel. Min. Laurita 
Vaz, julgado em 06/03/2012. 
A qualificadora de motivo fútil é incompatível com 
o dolo, tendo em vista a ausência do elemento 
volitivo. 
STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi 
Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis 
Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583). 
 
Obs: antes desta última decisão da 6ª Turma, prevalecia no STJ a primeira corrente, ou seja, a 
compatibilidade entre dolo eventual e motivo fútil. Vamos aguardar a definição do tema e qualquer 
novidade, você será avisado(a). 
 
 
 
HOMICÍDIO 
Inexistência de motivo fútil em homicídio decorrente da prática de "racha" 
 
Não incide a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP), na hipótese de homicídio 
supostamente praticado por agente que disputava "racha", quando o veículo por ele conduzido 
- em razão de choque com outro automóvel também participante do "racha" - tenha atingido o 
veículo da vítima, terceiro estranho à disputa automobilística. 
Motivo fútil corresponde a uma reação desproporcional do agente a uma ação ou omissão da 
vítima. No caso de "racha", tendo em conta que a vítima (acidente automobilístico) era um 
terceiro, estranho à disputa, não é possível considerar a presença da qualificadora de motivo 
fútil, tendo em vista que não houve uma reação do agente a uma ação ou omissão da vítima. STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João, conduzindo um Camaro amarelo, estava participando de um "racha", disputando corrida com seu 
amigo Pedro, que conduzia um Porsche. 
Em determinada curva, os veículos se tocaram e João perdeu o controle do carro atropelando e matando 
Maria, que estava na parada de ônibus. 
O Ministério Público denunciou João e Pedro pela prática de homicídio doloso (dolo eventual), com a 
qualificadora do motivo fútil, prevista no art. 121, § 2º, II, do CP. 
A defesa de João pediu a exclusão da qualificadora,

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