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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 660-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA 
▪ Não configura desapropriação indireta quando o Estado limita-se a realizar serviços públicos de infraestrutura em 
gleba cuja invasão por particulares apresenta situação consolidada e irreversível. 
 
DIREITO CIVIL 
PRESCRIÇÃO 
▪ A separação de fato por tempo razoável mitiga a regra do art. 197, I, do Código Civil. 
 
PROVEDORES DE ACESSO À INTERNET 
▪ Provedor deve fornecer porta lógica para identificar usuário acusado de atividade irregular na internet. 
 
PROCURAÇÃO 
▪ A procuração que estabelece poderes para alienar "quaisquer imóveis localizados em todo o território nacional" não 
atende aos requisitos do art. 661, § 1º, do CC/2002, que exige poderes especiais e expressos para tal desiderato. 
 
LOCAÇÃO DE IMÓVEIS URBANOS 
▪ O prazo para o fiador exonerar-se da fiança inicia-se do efetivo conhecimento da sub-locação, ainda que a ciência 
não ocorra pela comunicação do locatário sub-rogado. 
 
DÍVIDAS CONDOMINIAIS 
▪ O proprietário de imóvel gerador de débitos condominiais pode ter o seu bem penhorado em ação de cobrança 
ajuizada em face de locatário, já em fase de cumprimento de sentença, da qual não figurou no polo passivo. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO 
▪ O laboratório responde objetivamente pelos danos morais causados à genitora por falso resultado negativo de 
exame de DNA, realizado para fins de averiguação de paternidade. 
 
PLANO DE SAÚDE 
▪ A operadora do plano de saúde tem o dever de custear as despesas de acompanhante do paciente idoso no caso de 
internação hospitalar. 
 
CLÁUSULAS ABUSIVAS 
▪ Súmula 638-STJ 
 
BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES 
▪ Configura dano moral in re ipsa a ausência de comunicação acerca da disponibilização/comercialização de 
informações pessoais em bancos de dados do consumidor. 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO EMPRESARIAL 
MARCA 
▪ O prazo de vigência das patentes concedidas pelo sistema mailbox é de 20 anos contados da data do depósito. 
 
DUPLICATA 
▪ A aposição de número incorreto da fatura na duplicata invalida o título de crédito, retirando-lhe a exigibilidade 
executiva extrajudicial. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
RECURSOS 
▪ É necessária a comprovação de feriado local no ato de interposição do recurso (art. 1.003, § 6º do CPC/2015); para 
o STJ, essa exigência é aplicável apenas para os recursos interpostos após 18/11/2019, data da publicação do REsp 
1.813.684/SP, que fixou esse entendimento. 
 
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE 
▪ A prescrição intercorrente por ausência de localização de bens não retira o princípio da causalidade em desfavor do 
devedor, nem atrai a sucumbência para o exequente. 
 
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 
▪ A sentença foi prolatada e transitou em julgado quando ainda vigorava o CPC/1973; ocorre que o cumprimento de 
sentença foi iniciado quando já estava em vigor o CPC/2015; neste caso, esse cumprimento de sentença será regido 
pelo CPC/2015. 
 
PENHORA 
▪ São penhoráveis as verbas recebidas por escola de samba a título de parceria público-privada com a administração 
pública. 
 
AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS 
▪ É possível o ajuizamento de ação autônoma de exibição de documentos, sob o rito do procedimento comum, na 
vigência do CPC/2015. Ainda existe a ação autônoma de exibição de documentos ou coisas no CPC/2015. 
 
DIREITO PENAL 
FALSIDADE IDEOLÓGICA 
▪ A conduta prevista no revogado art. 125, XIII, da Lei nº 6.815/80, subsume-se agora ao art. 299 do Código Penal 
(falsidade ideológica). 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
PRESÍDIO FEDERAL 
▪ Súmula 639-STJ 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
PRESCRIÇÃO 
▪ O trânsito em julgado da anulação ou da reforma de acórdão favorável a contribuinte marca o início do prazo 
prescricional para o Fisco cobrar o crédito tributário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA 
Não configura desapropriação indireta quando o Estado se limita a realizar serviços públicos de 
infraestrutura em gleba cuja invasão por particulares apresenta situação consolidada e irreversível 
 
Não se imputa ao Poder Público a responsabilidade integral por alegada desapropriação 
indireta quando, em gleba cuja ocupação por terceiros apresenta situação consolidada e 
irreversível, limita-se a realizar serviços públicos de infraestrutura, sem que tenha concorrido 
para o esbulho ocasionado exclusivamente por particulares. 
Assim, na medida em que o Poder Público não pratica o ato ilícito denominado “apossamento 
administrativo” nem, portanto, toma a propriedade do bem para si, não deve responder pela 
perda da propriedade em desfavor do particular, ainda que realize obras e serviços públicos 
essenciais para a comunidade instalada no local. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.770.001-AM, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
Em que consiste a desapropriação indireta? 
A desapropriação indireta ocorre quando o Estado (Poder Público) se apropria do bem de um particular 
sem observar as formalidades previstas em lei para a desapropriação, dentre as quais a declaração 
indicativa de seu interesse e a indenização prévia. 
Trata-se de um verdadeiro esbulho possessório praticado pelo Poder Público. 
A desapropriação indireta é também chamada de apossamento administrativo. 
 
O que a pessoa pode fazer caso tenha sofrido uma desapropriação indireta? 
• Se o bem expropriado ainda não está sendo utilizado em nenhuma finalidade pública: pode ser proposta 
uma ação possessória com o objetivo de que a pessoa mantenha ou retome a posse do bem. 
• Se o bem expropriado já está afetado a uma finalidade pública: considera-se que houve fato consumado 
e somente restará ao particular ajuizar uma “ação de desapropriação indireta” a fim de ser indenizado. 
Nesse sentido é o art. 35 do Decreto-Lei 3.365/41: 
Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de 
reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, 
julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos. 
 
Ação de desapropriação indireta 
A ação de desapropriação indireta é uma ação de indenização proposta contra o Poder Público pelo fato 
de ele ter se apossado do bem pertencente a particular sem cumprir as formalidades legais previstas para 
os casos de desapropriação. 
Trata-se, portanto, de uma ação condenatória objetivando a indenização por perdas e danos. 
Também é chamada de “ação expropriatória indireta” ou “ação de ressarcimento de danos causados por 
apossamento administrativo”. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
Pedro era proprietário de dois grandes lotes de terra não edificados. 
Um desses lotes foi invadido por famílias humildes que não tinham onde morar. 
Diante desse cenário, o Estado promoveu a desapropriação desta gleba, pagando justa e prévia 
indenização em dinheiro a Pedro. 
O objetivo do Estado foi o de realizar no local a edificação de moradias populares para abrigar os invasores. 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
Feita a desapropriação e a edificação das moradias, o Estado também passou a instalar diversos 
“equipamentos públicos” na área com a finalidade de darà comunidade local um suporte mínimo de 
serviços públicos, como postos de saúde, escolas públicas, asfaltamento de vias, dentre outros. 
 
Invasão na outra gleba e tese de que houve desapropriação indireta 
A notícia de que o Estado regularizou a situação da gleba 1 estimulou que outro grupo de pessoas invadisse 
a gleba 2 de Pedro. 
Ocorre que, dessa vez, o Estado resolveu não mais desapropriar o imóvel. 
Diante disso, Pedro ajuizou ação indenizatória por desapropriação indireta contra o Estado alegando que, 
ao disponibilizar os serviços públicos na primeira área desapropriada, o Poder Público teria 
atraído/estimulado novos “invasores”. Assim, para Pedro, o Estado, ao fazer isso, praticou ato ilícito, 
devendo ser, portanto, responsabilizado. 
 
A tese de João acolhida pelo STJ? 
NÃO. 
O fato de o Estado ter instalado equipamentos públicos no local e passado a oferecer serviços à 
comunidade não pode ser classificado como ato ilícito. Trata-se, na verdade, de um mandamento 
constitucional, assim como a urbanização local. 
O esbulho foi praticado pelos invasores e o proprietário deveria ter defendido a sua posse com o uso dos 
interditos previstos na legislação processual, não tendo feito, preferindo aguardar eventual solução do 
problema pelo Estado-membro. 
O caso concreto mais parece ser aquele retratado no art. 1.228, §§ 4º e 5º, do Código Civil, que a doutrina 
alcunha de “desapropriação judicial”, que consiste numa espécie de venda obrigatória da propriedade de 
bem imóvel na hipótese de este consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de 
cinco anos, de um número considerável de pessoas, caracterizando-se essa “desapropriação judicial” pelo 
pagamento do preço pelos próprios possuidores e a sua fixação pelo juiz da causa: 
Art. 1.228 (...) 
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em 
extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número 
de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços 
considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. 
§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; 
pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. 
 
Assim, se o Estado do Amazonas não concorreu para a prática do ato ilícito — e a realização de serviços 
públicos assim não configura — tampouco deve responder pela respectiva indenização. 
 
Em suma: 
Não configura desapropriação indireta quando o Estado se limita a realizar serviços públicos de 
infraestrutura em gleba cuja invasão por particulares apresenta situação consolidada e irreversível. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.770.001-AM, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
DIREITO CIVIL 
 
PRESCRIÇÃO / DIVÓRCIO 
A separação de fato por tempo razoável mitiga a regra do art. 197, I, do Código Civil 
 
O art. 197, I, do Código Civil prevê que “não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância 
da sociedade conjugal”. 
Se os cônjuges estão separados há muitos anos, não se deve aplicar a regra do art. 197, I, do 
CC. 
Mesmo não estando prevista no rol do art. 1.571 do CC, a separação de fato muito prolongada, 
ou por tempo razoável, também pode ser considerada como causa de dissolução da sociedade 
conjugal e, em assim sendo, tem o condão de impedir a fluência do prazo prescricional da 
pretensão de partilha de bens de ex-cônjuges. 
Caso concreto: a pretensão de partilha de bem comum após mais de 30 anos da separação de 
fato e da partilha amigável dos bens comuns do ex-casal está fulminada pela prescrição. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.947-TO, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João e Maria são casados sob o regime da comunhão universal de bens. 
Ocorre que, desde 1989, eles não mais vivem juntos. O amor chegou ao fim e cada um foi viver em uma 
casa diferente e eles têm contato esporádico. Houve, portanto, a chamada “separação de fato”. 
 
O que é separação de fato? 
“Separação de fato, singelamente, deve ser entendido como a livre decisão dos cônjuges em pôr fim à 
sociedade conjugal, sem recurso aos meios legais. Ela põe fim aos direitos, deveres e efeitos do casamento, 
mas os cônjuges permanecem no estado civil de casados.” (Min. Moura Ribeiro). 
Segundo Orlando Gomes, a separação de fato caracteriza-se tanto pela existência de elemento subjetivo, 
quanto objetivo. Este seria a própria separação, passando os cônjuges a viver em tetos distintos, deixando, 
por outras palavras, de cumprir o dever de coabitação, no mais amplo sentido da expressão. Já o elemento 
subjetivo é o animus de dar como encerrada a vida conjugal, comportando-se como se o vínculo 
matrimonial fosse dissolvido (Direito de Família. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 25). 
 
Acordo informal no momento da separação de fato 
No momento da separação de fato, eles fizeram uma espécie de acordo: João ficaria com a casa onde 
moravam e Maria receberia um outro imóvel menor. 
Em 2019, ou seja, 30 anos depois, Maria ajuizou ação de divórcio contra João, pedindo a dissolução formal 
do vínculo conjugal. 
Além disso, na ação, argumentou que a divisão dos bens efetuada por ocasião da separação de fato não 
foi correta e que ela foi prejudicada porque o bem recebido era de valor bem inferior à casa. 
O juiz decidiu que a pretensão de partilha dos bens, após 30 anos da separação de fato do casal, estava 
fulminada pela prescrição. 
Maria interpôs recurso, alegando que não correu a prescrição neste caso por conta do art. 197, I, do Código 
Civil, que dispõe: 
Art. 197. Não corre a prescrição: 
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; 
 
O Tribunal de Justiça manteve a sentença porque entendeu que a quebra da sociedade conjugal em 
virtude da separação de fato do casal por mais de 30 anos, ainda que a ruptura não tivesse sido feita na 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
forma legal, mas por decisão voluntária de ambos, fez cessar o regime de bens estabelecidos entre eles, 
permitindo o curso normal da prescrição e os efeitos jurídicos e patrimoniais do divórcio, desde a 
consumada separação de fato. 
Assim, separação de fato por longo período mitiga a regra do art. 197, I, do CC/02, que obsta a fluência da 
prescrição entre cônjuges. 
 
O STJ concordou com a argumentação do Tribunal de Justiça? 
SIM. 
 
Separação de fato também pode ser considerada como causa de dissolução da sociedade conjugal, 
mesmo não estando prevista no art. 1.571 do CC 
O Código Civil prevê, no art. 1.571, os casos em que a sociedade conjugal tem fim: 
Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: 
I - pela morte de um dos cônjuges; 
II - pela nulidade ou anulação do casamento; 
III - pela separação judicial; 
IV - pelo divórcio. 
 
Mesmo não estando prevista no rol do art. 1.571, a separação de fato muito prolongada, ou por tempo 
razoável, também pode ser considerada como causa de dissolução da sociedade conjugal e, em assim sendo, 
tem o condão de impedir a fluência do prazo prescricional da pretensão de partilha de bens de ex-cônjuges. 
O intérprete nem sempre deve se apegar somente à literalidade do texto da lei, necessitando também, ao 
realizar o seu juízo de hermenêutica, perquirir a finalidade da norma, ou seja, a sua razão de ser e o bem 
jurídico que ela visa proteger, nos exatos termos do art. 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro– LINDB. É necessário, portanto, ter uma visão holográfica. 
 
Qual é a razão de existência do art. 197, I, do CC? 
A doutrina explica que são razões de ordem moral que impedem que o prazo prescricional corra entre 
cônjuges, na constância da sociedade conjugal. 
Entre cônjuges deve existir harmonia e não haveria estabilidade caso a prescrição estivesse correndo, 
obrigando que um tivesse que ajuizar ações contra o outro, na constância do casamento, para evitar que 
essa pretensão fosse extinta pela prescrição. 
Assim, a finalidade do dispositivo é preservar a a harmonia e a estabilidade do vínculo matrimonial (bem 
jurídico protegido). 
 
Sociedade conjugal é diferente de vínculo conjugal 
Paulo Nader explica que: 
• O vínculo conjugal é a relação jurídica que se instaura entre os cônjuges. 
• A sociedade conjugal é o compromisso de comunhão de vida. 
Se o vínculo conjugal é dissolvido, extingue-se a sociedade conjugal. A recíproca nem sempre é verdadeira. 
Assim, o término da sociedade conjugal não acaba, necessariamente, com o vínculo conjugal. 
O vínculo conjugal somente se dissolve, no casamento válido, com a morte (real ou presumida), declaração 
judicial de ausência ou pelo divórcio. 
(Curso de Direito Civil; V. 5: Direito de Família. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 197). 
 
Separação de fato extingue o regime de bens e cessa os deveres matrimoniais 
A jurisprudência entende que a separação de fato põe fim ao regime matrimonial de bens e acaba com os 
deveres matrimoniais de coabitação e fidelidade recíproca. Nesse sentido: 
A separação de fato põe fim ao regime matrimonial de bens. 
STJ. 4ª Turma. REsp 678.790/PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 10/06/2014. 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
 
Constatada a separação de fato, cessam os deveres conjugais e os efeitos da comunhão de bens. 
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 880.229/CE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 07/03/2013. 
 
Separação de fato significa o fim da affectio maritalis 
A configuração da separação de fato implica o fim da affectio maritalis entre os cônjuges, com a vontade 
de dar por encerrado o vínculo conjugal, e, em assim sendo, o art. 197, I, do CC/02 também deve abranger 
tal situação fática, que é jurídica. 
 
Em suma: 
A separação de fato, por tempo razoável, mitiga a regra do art. 197, I, do Código Civil de 2002. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.947-TO, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
 
 
PROVEDORES DE ACESSO À INTERNET (RESPONSABILIDADE CIVIL) 
Provedor deve fornecer porta lógica para identificar usuário 
acusado de atividade irregular na internet 
 
É obrigatória, por parte dos provedores de conexão e de aplicação, a guarda e apresentação 
dos dados relacionados à porta lógica de origem associadas aos endereços IPs. 
Com a porta lógica de origem é possível identificar o usuário, mesmo que ele esteja 
compartilhando um mesmo número de IP na internet com outras pessoas. Trata-se, portanto, 
de dado essencial para o correto funcionamento da rede e de seus agentes operando sobre ela. 
Em razão disso, sua guarda é fundamental para a preservação de possíveis interesses 
legítimos a serem protegidos em lides judiciais ou em investigações criminais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.777.769-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Um blog na internet estava promovendo fradulentamente supostas promoções como se fossem de uma 
empresa famosa de cosméticos. 
Esse blog era hospedado pelo “Alugaweb”, um provedor de conexão e de aplicação de internet. 
A empresa de cosméticos ajuizou ação de obrigação de fazer contra o “Alugaweb”, pedindo para obter os 
dados de cadastro e registros eletrônicos que identificassem o responsável pelo blog, fornecendo, 
inclusive, a porta lógica de origem associada aos endereços IP. 
 
O pedido da empresa deve ser acolhido? Os provedores de aplicações de internet possuem a obrigação 
de armazenar, para fins de eventual necessidade de identificação dos terceiros usuários de seus serviços, 
informações relativas às portas lógicas de origem eventualmente associadas aos IPs a eles atribuídos? 
SIM. 
É obrigatória, por parte dos provedores de conexão e de aplicação, a guarda e apresentação dos dados 
relacionados à porta lógica de origem associadas aos endereços IPs. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.777.769-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) 
As obrigações e a responsabilidade civil de empresas atuantes no ambiente da internet são regidas pela 
Lei nº 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet. 
Veja o que diz o art. 10, § 1º da Lei: 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
Art. 10. A guarda e a disponibilização dos registros de conexão e de acesso a aplicações de internet 
de que trata esta Lei, bem como de dados pessoais e do conteúdo de comunicações privadas, 
devem atender à preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das partes 
direta ou indiretamente envolvidas. 
§ 1º O provedor responsável pela guarda somente será obrigado a disponibilizar os registros 
mencionados no caput, de forma autônoma ou associados a dados pessoais ou a outras 
informações que possam contribuir para a identificação do usuário ou do terminal, mediante 
ordem judicial, na forma do disposto na Seção IV deste Capítulo, respeitado o disposto no art. 7º. 
(...) 
 
IP (Internet Protocol) 
IP, abreviatura de “Internet Protocol”, é um número que identifica o dispositivo (computador, celular, 
impressora etc) conectado a uma rede (como a internet). É como se fosse um “RG” ou “CPF” do dispositivo 
que está conectado. 
O IP é uma informação essencial, especialmente em caso de investigações investigações civis ou criminais 
que necessitam identificar a autoria de ilícitos ocorridos na Internet. Isso porque por meio do IP é possível 
localizar o terminal e, por consequência, a pessoa que o utilizava para a realização de ilícitos. 
Em razão disso, a Lei determina o dever de guarda e armazenamento de um conjunto de informações 
utilizadas pelos usuários na internet, entre eles, o número IP. 
 
Esgotamento da versão 4 do IP (IPv4), implementação de sua versão 6 (IPv6) e o compartilhamento de 
IPs como solução transitória 
Para o bom funcionamento da internet e para garantir que as pessoas que cometerem crimes na rede 
sejam identificadas, é essencial que os números do IP sejam únicos. Em outras palavras, cada usuário deve 
ter seu número de IP. 
No entanto, os números IPs são finitos, necessitando de adaptações e novas versões que permitam sua 
expansão. Aqui, a analogia pode ser feita com números de telefone celular, que tiveram um número nove 
acrescentado a seu início. 
Assim, o número de IPs, na versão atual (chamada de Ipv4) acabou. 
Tantas pessoas utilizam a internet que o número de IP, na versão como tradicionalmente foi idealizada, 
acabou. 
Apenas para você entender melhor, é como se o número de combinações possíveis do CPF tivesse 
acabado. 
Por isso, está sendo implementada uma nova versão do padrão de IP. Estamos saindo do chamado Ipv4 
para o Ipv6. Essa nova versão utiliza quatro dígitos hexadecimais que permitem uma quantidade 
virtualmente inesgotável de endereços (HINDEN, R. M.; DEERING, S. E. Internet Protocol, Version 6 (IPv6). 
Internet Engineering Task Force – IETF. RFC2460. Dezembro de 1998. Disponível em: 
https://www.ietf.org/rfc/rfc2460.txt). 
Enquanto essa versão não é implementada totalmente, tem sido permitido o compartilhamento de um 
mesmo número de IP por vários usuários (dispositivos). Apenaspara você entender, é como mais de uma 
pessoa estivesse utilizado um mesmo número de CPF. 
Assim, o Comitê Gestor da Internet no Brasil autorizou o compartilhamento de endereços de IP do IPv4 
entre mais de um usuário da internet. 
Essa solução provisória foi necessária para que as pessoas pudessem continuar usando a internet, no 
entanto, dificulta o rastreamento e a identificação pessoas que estejam, eventualmente, praticando 
ilícitos por meio da rede mundial de computadores. 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
Solução tecnológica para identificar o usuário mesmo que ele esteja compartilhando o IP: as portas 
lógicas de origem 
Há uma solução tecnológica que viabiliza a individualização da conexão e da navegação mesmo que mais 
de um dispositivo se encontre simultaneamente conectado à internet com o mesmo número IP: são as 
portas lógicas. 
A porta lógica é como se fosse um número que permite identificar o usuário mesmo que ele esteja 
compartilhando o IP com outras pessoas. 
 
Ementa 
Veja alguns trechos da ementa que resumem bem a controvérsia: 
(...) 4. Os endereços IPs são essenciais arquitetura da internet, que permite a bilhões de pessoas e 
dispositivos se conectarem à rede, permitindo que trocas de volumes gigantescos de dados sejam 
operadas com sucesso. 
5. A versão 4 dos endereços IPs (IPv4) esgotou sua capacidade e, atualmente, há a transição para a versão 
seguinte (IPv6). Nessa transição, adotou-se o compartilhamento de IP, via porta lógica de origem, como 
solução temporária. 
6. Apenas com as informações dos provedores de conexão e de aplicação quanto à porta lógica de origem 
é possível resolver a questão da identidade de usuários na internet, que estejam utilizam um 
compartilhamento da versão 4 do IP. 
7. O Marco Civil da Internet dispõe sobre a guarda e fornecimento de dados de conexão e de acesso à 
aplicação em observância aos direitos de intimidade e privacidade. 
8. Pelo cotejamento dos diversos dispositivos do Marco Civil da Internet mencionados acima, em especial 
o art. 10, caput e § 1º, percebe-se que é inegável a existência do dever de guarda e fornecimento das 
informações relacionadas à porta lógica de origem. 
9. Apenas com a porta lógica de origem é possível fazer restabelecer a univocidade dos números IP na 
internet e, assim, é dado essencial para o correto funcionamento da rede e de seus agentes operando 
sobre ela. Portanto, sua guarda é fundamental para a preservação de possíveis interesses legítimos a 
serem protegidos em lides judiciais ou em investigações criminais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.777.769-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
Existe outro precedente do STJ no mesmo sentido: 
(...) 4. A obrigatoriedade de fornecimento dos dados de acesso decorre da necessidade de balanceamento 
entre o direito à privacidade e o direito de terceiros, cujas esferas jurídicas tenham sido aviltadas, à 
identificação do autor da conduta ilícita. 
5. Os endereços de IP são os dados essenciais para identificação do dispositivo utilizado para acesso à 
internet e às aplicações. 
6. A versão 4 dos IPs (IPv4), em razão da expansão e do crescimento da internet, esgotou sua capacidade 
de utilização individualizada e se encontra em fase de transição para a versão 6 (IPv6), fase esta em que 
foi admitido o compartilhamento dos endereços IPv4 como solução temporária. 
7. Nessa fase de compartilhamento do IP, a individualização da navegação na internet passa a ser 
intrinsecamente dependente da porta lógica de origem, até a migração para o IPv6. 
8. A revelação das portas lógicas de origem consubstancia simples desdobramento lógico do pedido de 
identificação do usuário por IP. 
9. Recurso especial provido. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1784156/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/11/2019. 
 
 
 
 
 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
PROCURAÇÃO 
A procuração que estabelece poderes para alienar "quaisquer imóveis localizados em todo o 
território nacional" não atende aos requisitos do art. 661, § 1º, do CC/2002, que exige poderes 
especiais e expressos para tal desiderato 
 
Em regra, o mandato só confere poderes que o mandatário administre os bens do mandante: 
Art. 661. O mandato em termos gerais só confere poderes de administração. 
Para que o mandatário possa dispor, alienar ou gravar o patrimônio do mandante, exige-se a 
confecção de instrumento de procuração com poderes expressos e especiais. É o que prevê o § 1º 
do art. 661: “Para alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros quaisquer atos que exorbitem 
da administração ordinária, depende a procuração de poderes especiais e expressos.” 
A outorga de poderes de alienação de “quaisquer imóveis em todo o território nacional” não 
supre o requisito de especialidade exigido pelo art. 661, § 1º do CC, que exige referência e 
determinação dos bens concretamente mencionados na procuração. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.814.643-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/10/2019 (Info 660). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João (70 anos) é casado com Maria (69 anos). 
Como possuem dificuldade de locomoção, contrataram um advogado (Pedro) para cuidar dos negócios 
relacionados com os imóveis de sua titularidade. 
Por orientação de Pedro, João e Maria outorgaram ao advogado uma procuração pública por meio da qual 
outorgaram ao causídico poderes para que ele pudesse “alienar quaisquer imóveis localizados em todo 
território nacional”. 
Com essa procuração, Pedro alienou um imóvel do casal situado na Rua das Flores, nº 254, Bairro da Glória. 
 
Essa procuração é válida? Essa alienação é eficaz em relação à João e Maria? 
NÃO. Vamos entender os motivos. 
 
Mandato 
O casal celebrou com Pedro um contrato de mandato, que é previsto no art. 653 do Código Civil: 
Art. 653. Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, 
praticar atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato. 
 
Em regra, o mandato só confere poderes que o mandatário administre os bens do mandante: 
Art. 661. O mandato em termos gerais só confere poderes de administração. 
 
Para que o mandatário possa dispor, alienar ou gravar o patrimônio do mandante, exige-se a confecção 
de instrumento de procuração com poderes expressos e especiais. É o que prevê o § 1º do art. 661: 
Art. 661 (...) 
§ 1º Para alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros quaisquer atos que exorbitem da 
administração ordinária, depende a procuração de poderes especiais e expressos. 
 
Poderes especiais é diferente de poderes expressos 
Pontes de Miranda explicou a distinção entre os poderes expressos e os poderes especiais: 
• poderes expressos: são “os poderes que foram manifestados com explicitude”; 
• poderes especiais: são aqueles “outorgados para a prática de algum ato determinado ou de alguns atos 
determinados”. 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
Em conclusão, nas palavras do jurista, “não pode hipotecar o imóvel o mandatário que tem procuração 
para hipotecar, sem se dizer qual o imóvel: recebeu poder expresso, mas poder geral, e não especial” 
(Tratado de Direito Privado. T. 43. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1984, p. 35) 
 
Assim, os poderes expressos identificam, de forma explícita (não implícita ou tácita), exatamente qual o 
poder conferido (por exemplo, o poder de vender). Já os poderes serão especiais quando determinados,particularizados, individualizados os negócios para os quais se faz a outorga (por exemplo, o poder de 
vender tal ou qual imóvel). 
 
Procuração outorgada não atendeu ao requisito da especialidade 
No caso concreto, a procuração outorgada ao mandatário conferia “amplos e gerais poderes para vender, 
ceder, transferir ou por qualquer forma e título alienar, pelo preço e condições que ajustar, QUAISQUER 
IMÓVEIS LOCALIZADOS EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL (...)”. 
A outorga de poderes de alienação de “quaisquer imóveis em todo o território nacional' não supre o 
requisito de especialidade exigido por lei que, como anteriormente referido, exige referência e 
determinação dos bens concretamente mencionados na procuração. 
 
Em suma: 
A procuração que estabelece poderes para alienar "quaisquer imóveis localizados em todo o território 
nacional" não atende aos requisitos do art. 661, § 1º, do CC/2002, que exige poderes especiais e 
expressos para tal desiderato. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.814.643-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/10/2019 (Info 660). 
 
 
 
LOCAÇÃO DE IMÓVEIS URBANOS 
O prazo para o fiador exonerar-se da fiança inicia-se do efetivo conhecimento da sub-locação, 
ainda que a ciência não ocorra pela comunicação do locatário sub-rogado 
 
Atenção! Juiz de Direito e DPE 
O art. 12 da Lei nº 8.245/91 prevê que “em casos de separação de fato, separação judicial, 
divórcio ou dissolução da união estável, a locação residencial prosseguirá automaticamente 
com o cônjuge ou companheiro que permanecer no imóvel.” 
O § 1º do art. 12 afirma que o locatário sub-rogado deverá notificar o fiador, informando sobre 
essa separação, a fim de que o fiador decida se deseja ou não continuar com este encargo. 
Segundo o § 2º do art. 12, o fiador, depois de ser notificado pelo sub-rogado, poderá, no prazo 
máximo de 30 dias, informar ao locador que quer se exonerar das suas responsabilidades. 
Suponhamos que o locatário sub-rogado não informou o fiador. O locador, contudo, assumiu 
esse papel e notificou o fiador, comunicando que houve a sub-rogação. Mesmo assim o prazo 
do fiador já começou a correr? O prazo de 30 dias para que o fiador peça a sua exoneração 
começou a ser contado a partir dessa notificação feita pelo locador? 
SIM. O prazo para o fiador exonerar-se da fiança inicia-se do efetivo conhecimento da sub-
locação, ainda que a ciência não ocorra pela comunicação do locatário sub-rogado. 
Apesar de o art. 12, § 2º, da Lei nº 8.245/91 afirmar que é o locatário original que deverá fazer 
a notificação do fiador, é possível a relativização dessa formalidade por meio da aplicação do 
princípio da instrumentalidade das formas. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.510.503-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, 
julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Ricardo (proprietário/locador) celebrou contrato de locação de um apartamento com Gustavo (locatário), 
por prazo indeterminado. 
Manoel figurou no contrato como fiador de Gustavo (seu primo). 
Vale ressaltar que Gustavo morava no apartamento com sua companheira (Olívia) e os filhos. 
Depois de alguns meses, Gustavo e Olívia decidiram romper a união estável. 
No acordo de dissolução da união estável, ficou combinado que Gustavo iria para a casa da mãe e Olívia 
continuaria morando no apartamento com as crianças. 
 
Nesta situação, o contrato de locação permanece válido? 
Em princípio, SIM. Veja o que diz o art. 12 da Lei nº 8.245/91: 
Art. 12. Em casos de separação de fato, separação judicial, divórcio ou dissolução da união estável, 
a locação residencial prosseguirá automaticamente com o cônjuge ou companheiro que 
permanecer no imóvel. 
 
Diz-se que, neste caso, houve uma sub-rogação pessoal, por força de lei. 
Vale ressaltar que esse art. 12 só é aplicável quando o locatário original - aquele que assina o contrato - 
se retira do imóvel, nele deixando o cônjuge ou o companheiro que não figurava no pacto. Assim, se o 
“contrato foi celebrado com o cônjuge ou companheiro que, após a separação, permanecer no imóvel, o 
dispositivo é inócuo, pois não haverá qualquer repercussão do fato sobre a relação de locação, que 
permanecerá íntegra” (SOUZA, Sylvio Capanema. A lei do inquilianto comentada - 11ª ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2019, p. 97). 
Explicando melhor com o nosso exemplo: 
• se Gustavo (quem assinou o contrato) tivesse permanecido no imóvel, não se aplicaria o art. 12. 
• como Gustavo foi quem saiu e deixou no imóvel sua ex-companheira, aplica-se o art. 12. 
 
O locador e o fiador precisam ser informados dessa situação? 
SIM. Confira o que prevê o § 1º do art. 12: 
§ 1º Nas hipóteses previstas neste artigo e no art. 11, a sub-rogação será comunicada por escrito 
ao locador e ao fiador, se esta for a modalidade de garantia locatícia. 
 
O fiador poderá se exonerar da obrigação que havia assumido? Em palavras mais simples, o indivíduo 
pode pedir para deixar de ser fiador por conta dessa mudança na situação? 
SIM. A fiança é baseada na confiança que o fiador possui no afiançado. Se o locatário deixa o imóvel, que 
o fiador pode decidir não mais ser o garantidor da pessoa que permaneceu no apartamento. O legislador, 
atento a essa característica do contrato de fiança, deixou expressa essa possibilidade no § 2º do art. 12: 
Art. 12 (...) 
§ 2º O fiador poderá exonerar-se das suas responsabilidades no prazo de 30 (trinta) dias contado 
do recebimento da comunicação oferecida pelo sub-rogado, ficando responsável pelos efeitos da 
fiança durante 120 (cento e vinte) dias após a notificação ao locador. 
 
Prazo decadencial de 30 dias para pedir a exoneração 
Assim, o fiador, depois de ser informado que houve essa sub-rogação poderá decidir que não mais quer 
ser fiador. Vale ressaltar que ele tem um prazo para tomar essa decisão: 30 dias. Se deixar passar esse 
prazo e não se manifestar, presume-se que aceitou continuar no encargo. 
Reforçando: após o transcurso do prazo de 30 dias, o fiador não mais poderá - em razão da sub-rogação - 
exonerar-se da garantia ofertada. O trintídio legal mencionado possui natureza decadencial, sendo um 
direito potestativo conferido ao fiador. 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
Se o fiador não se exonerar da fiança dentro do prazo de 30 dias a partir da comunicação da sub-rogação, 
ele estará vinculado ao negócio jurídico locatício até o término do contrato. 
 
Se decidir pedir a exoneração, deverá notificar o locador no prazo de 30 dias 
Se decidir que não mais será fiador, ele deverá, no prazo de 30 dias, enviar uma notificação ao locador 
informando de sua intenção exoneratória. 
Essa notificação, no entanto, não produzirá efeitos de imediato. Mesmo depois de notificar o locador, o 
fiador ainda permanece responsável pelas dívidas durante um prazo de 120 dias. 
 
Voltando ao nosso exemplo: 
No dia 17/03/2018, Olívia (ex-companheira de Gustavo - locatário original) notificou Ricardo (locador) de 
que Gustavo e ela haviam se “separado” e que ela (ex-companheira) é quem permaneceria morando no 
apartamento. Assim, Olívia é a sub-rogada. 
Ocorre que Olívia não informou Manoel (fiador) acerca dessa situação. 
No dia 07/06/2018, Ricardo (locador) informou Manoel (fiador) sobre a sub-rogação legal do contrato, ou 
seja, foi o locador quem avisou o fiador da “separação” e da consequente sub-rogação. 
 
Diante disso, indaga-se: o prazo de 30 dias para que o fiador peça a sua exoneração começou a ser 
contado a partir dessa notificação feita pelo locador? O dever de fazer a notificação era do locatáriosub-rogado e quem fez a comunicação foi o locador. Mesmo assim o prazo do fiador já começou a correr? 
SIM. O STJ decidiu que: 
O prazo para o fiador exonerar-se da fiança inicia-se do efetivo conhecimento da sub-locação, ainda que 
a ciência não ocorra pela comunicação do locatário sub-rogado. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.510.503-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, 
julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
Apesar de o art. 12, § 2º, da Lei nº 8.245/91 afirmar que é o locatário sub-rogado que deverá fazer a 
notificação do fiador, é possível a relativização dessa formalidade por meio da aplicação do princípio da 
instrumentalidade das formas. 
Assim, mesmo que o fiador tome ciência da ocorrência da sub-rogação por meio diverso da efetiva 
comunicação por parte do locatário sub-rogado, em razão da aplicação da instrumentalidade das formas 
pelo alcance da finalidade do ato, o prazo para se exonerar da fiança se iniciará da data em que tiver o 
efetivo conhecimento da sub-rogação originada pela separação do casal. 
A garantia do contrato se presta ao locador e não ao locatário, não podendo aquele ser prejudicado, no 
contrato, pela inércia deste. 
Pensar de forma diversa incentiva o locatário sub-rogado (em eventual conluio com o próprio fiador) a 
não cumprir as determinações contidas nos §§ 1º e 2º do art. 12 da Lei nº 8.245/91, tendo em vista que o 
resultado seria a rejeição legal da fiança até então prestada, em incontestável prejuízo do locador (o qual 
se veria descoberto de qualquer garantia de um contrato de locação que sequer teve a oportunidade de 
escolher com quem iria pactuar, pois a sub-rogação nesta hipótese é imposta por força de lei). 
 
Não se aplica a Súmula 214 do STJ 
O STJ possui um enunciado que diz o seguinte: 
Súmula 214-STJ: O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não 
anuiu. 
 
Essa súmula não é aplicável para as hipóteses do art. 12 da Lei nº 8.245/91, tendo em vista que o contrato 
de locação não sofre aditamento nestes casos. Trata-se, conforme já explicado, de uma sub-rogação legal. 
Aditamento é diferente de sub-rogação legal. 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
No aditamento contratual da locação, está se falando na existência de outro contrato, com nova 
manifestação de vontade dos contratantes, havendo modificação da obrigação original (prazos 
contratuais distintos, aumento no valor do aluguel mensal, entre outros). 
Por outro lado, na sub-rogação legal locatícia, ocorrerá a alteração dos locatários por força de lei e não 
por vontade das partes, mantendo-se o mesmo prazo contratual e demais obrigações constantes no pacto 
locatício, não sendo necessária - sequer - a elaboração de eventual retificação do contrato locatício com 
a modificação das partes contratantes, sendo suficiente a comunicação por escrito ao locador. 
Dessa forma, não existe aditamento em contrato de locação sub-rogado por lei, nos termos do art. 12, 
caput, §§ 1º e 2º, da Lei nº 8.245/91. 
 
 
DÍVIDAS CONDOMINIAIS 
O proprietário de imóvel gerador de débitos condominiais pode ter o seu bem penhorado em 
ação de cobrança ajuizada em face de locatário, já em fase de cumprimento de sentença, da 
qual não figurou no polo passivo 
 
O proprietário do imóvel gerador dos débitos condominiais pode ter o seu bem penhorado no 
bojo de ação de cobrança, já em fase de cumprimento de sentença, da qual não figurou no polo 
passivo, uma vez que ajuizada, em verdade, em face da então locatária do imóvel. 
Ex: o condomínio ajuizou ação de cobrança de cotas condominiais apenas contra o locatário; 
o pedido foi julgado procedente determinando que o locatário pagasse os débitos 
condominiais; iniciou-se a fase de cumprimento de sentença; o STJ afirmou que o juiz pode 
determinar a penhora do imóvel mesmo o locador (proprietário) não tendo figurado no polo 
passivo da ação de cobrança. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.829.663-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
Vale ressaltar que existe decisão em sentido contrário envolvendo o promitente comprador: 
Em ação de cobrança de cotas condominiais proposta somente contra o promissário comprador, não é possível 
a penhora do imóvel que gerou a dívida - de propriedade do promissário vendedor -, admitindo-se, no entanto, 
a constrição dos direitos aquisitivos decorrentes do compromisso de compra e venda. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.273.313-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 3/11/2015 (Info 573). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João mora “de aluguel”, no apartamento 502, localizado no condomínio Jardim do Sol. 
O proprietário do imóvel é Pedro (locador). 
Ocorre que João atrasou 6 meses de cotas condominiais. 
Diante disso, o condomínio ajuizou ação de cobrança contra João (locatário). 
O juiz proferiu sentença de procedência determinando que João pague R$ 12 mil de dívidas em atraso. 
Como não houve pagamento espontâneo, o condomínio requereu o cumprimento de sentença. 
Na fase de cumprimento de sentença o juiz determinou a penhora do apartamento 502 para pagamento 
da dívida. 
Ao tomar conhecimento disso, Pedro (proprietário), que não figurou no polo passivo da ação de cobrança, 
opôs embargos de terceiro alegando que o imóvel não poderia ter sido penhora considerando que ele 
(embargante) é o proprietário do bem e não foi réu na ação de cobrança. Logo, para o proprietário, a 
penhora feita viola o art. 506 do CPC: 
Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. 
 
O debate jurídico, portanto, é o seguinte: o proprietário do imóvel gerador dos débitos condominiais 
pode ter o seu bem penhorado no bojo de ação de cobrança, já em fase de cumprimento de sentença, 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
da qual não figurou no polo passivo, uma vez que ajuizada, em verdade, em face da então locatária do 
imóvel? Em nosso caso concreto, o juiz agiu corretamente ao determinar a penhora? 
SIM. 
 
Obrigações propter rem 
A obrigação de pagamento das despesas condominiais é de natureza propter rem, ou seja, é obrigação 
“própria da coisa”, ou, melhor ainda, assumida “por causa da coisa”. 
Obrigações propter rem (também chamadas de obrigações ambulatórias) são aquelas que se vinculam à 
titularidade de um direito real, independentemente da manifestação de vontade do titular, e, por isso, 
são transmitidas a todos os que lhe sucederem em sua posição; são, pois, assumidas “por causa da coisa” 
(propter rem). 
As obrigações que os condôminos possuem em relação ao condomínio são ordinariamente qualificadas 
como ambulatórias (propter rem). Como essas obrigações decorrem da mera titularidade do direito real 
sobre o imóvel, elas incidem e acompanham a coisa em todas as suas mutações subjetivas (mudanças de 
“dono”). 
Diz-se, então, que a obrigação propter rem é dotada de ambulatoriedade, ou, ainda, que se trata, ela 
mesma, de obrigação ambulatória. Assim, independentemente da vontade dos envolvidos, a obrigação de 
satisfazer determinadas prestações acompanha a coisa em todas as suas mutações subjetivas. 
 
Outro exemplo de obrigação propter rem 
A obrigação imposta aos proprietários e inquilinos de um prédio de não prejudicarem a segurança, o 
sossego e a saúde dos vizinhos (art. 1.277 do CC). 
Por se transferir a eventuais novos ocupantes do imóvel, é também denominada obrigação ambulatória 
(GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 2: teoria geral das obrigações. 13ª ed. São 
Paulo: Saraiva, 2016, p. 27). 
 
Responsabilidade pelas despesas condominiais 
As despesascondominiais, compreendidas como obrigações propter rem, são de responsabilidade: 
• daquele que detém a qualidade de proprietário da unidade imobiliária; ou 
• do titular de um dos aspectos da propriedade, tais como a posse, o gozo, a fruição, desde que esse tenha 
estabelecido relação jurídica direta com o condomínio. 
 
Vale ressaltar que o credor (condomínio) pode escolher contra quem irá ajuizar a ação. Aquele que pagar 
poderá eventualmente ter direito de regresso contra o outro coobrigado. 
“A natureza das despesas condominiais permite, mais, que a ação de cobrança seja ajuizada diretamente 
contra o locatário ou o comodatário, se assim for de interesse do condomínio (LOUREIRO, Eduardo. Código 
Civil comentado : doutrina e jurisprudência : Lei n. 10.406, de 10.01.2002 / coordenador Cezar Peluso. 8 
ed. rev. e atual. São Paulo: Manole, 2014, p. 1.277). 
 
Regra do art. 506 do CPC/2015 não é absoluta 
Realmente, o art. 506 do CPC/201 afirma que os efeitos da coisa julgada apenas se operam inter partes, 
não beneficiando nem prejudicando estranhos à relação processual em que se formou. 
No entanto, essa regra não é absoluta e comporta exceções. 
Em determinadas hipóteses, a coisa julgada pode atingir, além das partes, terceiros que não participaram 
de sua formação. 
E, partindo da premissa de que, em última análise, o próprio imóvel gerador das despesas constitui 
garantia ao pagamento da dívida, dada a natureza propter rem da obrigação, deve-se admitir a inclusão 
do proprietário no cumprimento de sentença em curso. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
A solução da controvérsia perpassa pelo princípio da instrumentalidade das formas, aliado ao princípio da 
efetividade do processo, no sentido de se utilizar a técnica processual não como um entrave, mas como 
um instrumento para a realização do direito material. 
Afinal, se o débito condominial possui caráter ambulatório, não faz sentido impedir que, no âmbito 
processual, o proprietário possa figurar no polo passivo do cumprimento de sentença. 
Deve prevalecer o interesse da coletividade dos condôminos, permitindo que o condomínio receba as 
despesas indispensáveis e inadiáveis à manutenção da coisa comum. 
 
Em suma: 
O proprietário de imóvel gerador de débitos condominiais pode ter o seu bem penhorado em ação de 
cobrança ajuizada em face de locatário, já em fase de cumprimento de sentença, da qual não figurou no 
polo passivo. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.829.663-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
Vale ressaltar que existe decisão em sentido contrário envolvendo o promitente comprador 
Cobrança de cota condominial proposta apenas contra o promitente comprador e impossibilidade de 
penhora do imóvel 
Em ação de cobrança de cotas condominiais proposta somente contra o promissário comprador, não é 
possível a penhora do imóvel que gerou a dívida - de propriedade do promissário vendedor -, admitindo-
se, no entanto, a constrição dos direitos aquisitivos decorrentes do compromisso de compra e venda. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.273.313-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 3/11/2015 (Info 573). 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO 
O laboratório responde objetivamente pelos danos morais causados à genitora por falso 
resultado negativo de exame de DNA, realizado para fins de averiguação de paternidade 
 
À luz do art. 14, caput e § 1º, do CDC, o fornecedor responde de forma objetiva, ou seja, 
independentemente de culpa, pelos danos causados por defeito na prestação do serviço, que 
se considera defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar. 
Em se tratando da realização de exames médicos laboratoriais, tem-se por legítima a 
expectativa do consumidor quanto à exatidão das conclusões lançadas nos laudos respectivos, 
de modo que eventual erro de diagnóstico de patologia ou equívoco no atestado de 
determinada condição biológica implica defeito na prestação do serviço, a atrair a 
responsabilidade objetiva do laboratório. 
O simples fato do resultado negativo do exame de DNA agride, ainda, de maneira grave, a 
honra e reputação da mãe, ante os padrões culturais que, embora estereotipados, 
predominam socialmente. Basta a ideia de que a mulher tenha tido envolvimento sexual com 
mais de um homem, ou de que não saiba quem é o pai do seu filho, para que seja questionada 
sua honestidade e moralidade. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.700.827-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Beatriz e André tiveram um rápido relacionamento. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
Beatriz apareceu grávida e afirmou para André que era seu filho. Ocorre que ele não acreditou e, após a 
criança nascer, Beatriz ajuizou ação de investigação de paternidade. 
Foi realizado exame de DNA no laboratório e o resultado deu “negativo”, ou seja, o laboratório afirmou 
que havia 99,99%% de chances de André não ser pai do filho de Beatriz. 
Beatriz não acreditou no resultado porque não havia mantido relações sexuais com mais nenhum outro 
homem e conseguiu convencer André a realizar outro exame. Este segundo exame, feito no mesmo 
laboratório, deu “positivo”. 
Para que não houvesse dúvidas, foi realizado um terceiro exame de DNA, agora em laboratório diverso, 
tendo este último resultado também sido “positivo”. 
Em suma, o primeiro exame realizado teve resultado incorreto (houve um “falso resultado negativo”). 
Diante do cenário acima, Beatriz ajuizou ação de indenização por danos morais contra o laboratório que 
realizou o primeiro exame. 
 
Beatriz terá direito à indenização? 
SIM. 
 
Responsabilidade objetiva do laboratório por erro em resultado de exame (art. 14 do CDC) 
O serviço prestado por laboratórios na realização de exames médicos é considerado como uma relação de 
consumo. Logo, a responsabilidade do laboratório por defeito ou falha no serviço deve ser aferida de 
acordo com o disposto no art. 14 do CDC, que imputa ao fornecedor o dever de reparação dos danos 
causados ao consumidor independentemente da existência de culpa: 
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela 
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, 
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. 
 
O § 1º do art. 14 do CDC afirma que o serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o 
consumidor dele pode esperar. Para analisar isso, deve-se levar em consideração: 
• o modo como ele foi fornecido; 
• o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
• a época em que foi fornecido. 
 
A imputação da responsabilidade objetiva fundamenta-se na frustração da razoável expectativa de 
segurança do consumidor. 
 
Qual é a expectativa que os consumidores possuem em relação aos serviços prestados por um 
laboratório de exames médicos? 
Quando falamos em exames de diagnóstico laboratoriais, o consumidor possui legítima a expectativa de 
que as conclusões do laudo serão exatas (corretas). Isso significa que eventual erro de diagnóstico de 
doença ou equívoco no atestado de determinada condição biológica significa que houve defeito na 
prestação do serviço, atraindo, portanto, a responsabilização do laboratório. 
 
Os laboratórios possuem obrigação de resultado ou obrigação de meio? 
Obrigação de resultado. 
Os laboratórios possuem, na realização de exames médicos, verdadeira obrigação de resultado, e não de 
meio, restando caracterizada sua responsabilidade civil na hipótesede falso diagnóstico. Nesse sentido: 
(...) O laboratório possui obrigação de resultado na realização de exame médico, de maneira que o 
fornecimento de diagnóstico incorreto configura defeito na prestação do serviço, a implicar 
responsabilidade objetiva, com base no art. 14, caput, do CDC. 
2. A complexidade do exame, com a possibilidade de obtenção de resultados variados, não é fundamento 
suficiente, por si só, para afastar o defeito na prestação do serviço por parte do laboratório, sobretudo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
porque lhe incumbia dentro de tais circunstâncias, prestar as informações necessárias ao consumidor, 
dando-lhe ciência do risco de incorreção no diagnóstico e sugerindo-lhe a necessidade de realização de 
exames complementares. (...) 
STJ. 3ª Turma. REsp 1653134/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/10/2017. 
 
Logo, não há dúvidas de que, no presente caso, houve defeito na prestação do serviço. 
 
Configuração do dano moral 
Para que esteja configurado o dano moral, o julgador deve ser capaz de identificar, na hipótese concreta, 
uma grave agressão ou atentado à dignidade da pessoa humana, capaz de ensejar sofrimentos e 
humilhações intensos, descompondo o equilíbrio psicológico do indivíduo por um período de tempo 
desarrazoado. 
Como não existem padrões éticos e morais objetivos ou amplamente aceitos em sociedade, o julgador 
deve fazer essa análise com base na sensibilidade ético-social do homem comum, nem muito reativa a 
qualquer estímulo ou tampouco insensível ao sofrimento alheio. 
Existe uma espécie de “sacralização” do exame de DNA – corriqueiramente considerado pelo senso 
comum como prova absoluta da (in)existência de vínculo biológico. Diante disso, o resultado negativo gera 
na mãe um estado de angústia e sofrimento íntimo, pois lança dúvidas sobre a credibilidade de sua 
palavra, além de pôr a virtude, a honestidade, a moralidade, da mulher em condição de suspeita. 
É que, a despeito das conquistas havidas, atribui-se ainda ao gênero feminino, no que concerne à 
sexualidade, estereótipo pautado pelas virtudes de contenção e de abstinência, pela honra extremamente 
ligada à virgindade e à fidelidade. 
Assim, o simples fato do resultado do exame de DNA dar negativo, isso agride, de maneira grave, a honra 
e reputação da mãe, ante os padrões culturais que, embora estereotipados, predominam socialmente. 
Basta a ideia de que a mulher tenha tido envolvimento sexual com mais de um homem, ou de que não 
saiba quem é o pai de seu filho, para que seja questionada sua honestidade e moralidade. 
 
Existe outro precedente no mesmo sentido: 
(...) 6. Em se tratando da realização de exames médicos laboratoriais, tem-se por legítima a expectativa 
do consumidor quanto à exatidão das conclusões lançadas nos laudos respectivos, de modo que eventual 
erro de diagnóstico de patologia ou equívoco no atestado de determinada condição biológica implica 
defeito na prestação do serviço, a atrair a responsabilidade objetiva do laboratório. 
7. Consoante preconiza a jurisprudência desta Corte, os laboratórios possuem, na realização de exames 
médicos, efetiva obrigação de resultado, e não de meio, restando caracterizada sua responsabilidade civil 
na hipótese de falso diagnóstico. Precedentes. 
8. Na espécie, é incontroverso que o exame de DNA realizado pelo laboratório recorrente apresentou 
resultado equivocado, atribuindo ao recorrido paternidade inexistente. Outrossim, não logrou o 
recorrente comprovar quaisquer das excludentes de responsabilidade previstas no § 3º do art. 14 do CDC, 
a saber, a inexistência do defeito ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
9. Não socorre ao laboratório o argumento de que o falso positivo decorreu do “isolamento genético” da 
comunidade onde viviam o recorrido, a criança e sua mãe. Essa circunstância se insere dentre os riscos 
assumidos pela instituição no exercício de sua atividade empresarial, na medida em que o teste de DNA 
para investigação de paternidade envolve o uso de dados estatísticos referentes ao perfil genético da 
população. 
10. Perante o consumidor responde apenas o laboratório, pois o médico subscritor do laudo do exame de 
DNA não se enquadra no conceito de fornecedor, haja vista que não ofereceu no mercado qualquer 
serviço, atuando como mera mão-de-obra daquele. Assim, é despiciendo perquirir acerca da existência de 
culpa do médico na realização do exame, discussão que somente interessa ao laboratório e seu preposto, 
em eventual ação regressiva. (...) 
STJ. 3ª Turma. REsp 1386129/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/10/2017. 
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Valor da indenização 
A título de curiosidade, no caso concreto, o laboratório foi condenado a pagar R$ 50 mil à mulher. 
 
Em suma: 
À luz do art. 14, caput e § 1º, do CDC, o fornecedor responde de forma objetiva, ou seja, 
independentemente de culpa, pelos danos causados por defeito na prestação do serviço, que se 
considera defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar. 
Em se tratando da realização de exames médicos laboratoriais, tem-se por legítima a expectativa do 
consumidor quanto à exatidão das conclusões lançadas nos laudos respectivos, de modo que eventual 
erro de diagnóstico de patologia ou equívoco no atestado de determinada condição biológica implica 
defeito na prestação do serviço, a atrair a responsabilidade objetiva do laboratório. 
O simples fato do resultado negativo do exame de DNA agride, ainda, de maneira grave, a honra e 
reputação da mãe, ante os padrões culturais que, embora estereotipados, predominam socialmente. 
Basta a ideia de que a mulher tenha tido envolvimento sexual com mais de um homem, ou de que não 
saiba quem é o pai do seu filho, para que seja questionada sua honestidade e moralidade. 
O laboratório responde objetivamente pelos danos morais causados à genitora por falso resultado 
negativo de exame de DNA, realizado para fins de averiguação de paternidade. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.700.827-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
 
 
PLANO DE SAÚDE 
A operadora do plano de saúde tem o dever de custear as despesas de acompanhante 
do paciente idoso no caso de internação hospitalar 
 
Importante!!! 
A operadora do plano de saúde tem o dever de custear as despesas de acompanhante do 
paciente idoso no caso de internação hospitalar. 
Fundamento: art. 16 do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) e art. 22 da Resolução 
Normativa nº 428/2017, da ANS. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.793.840-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João, idoso de 70 anos, é cliente de determinado plano de saúde. 
Ele precisou ficar internado no hospital durante 30 dias para a realização de um tratamento médico. 
Durante esse período, João ficou sendo assistido por seu filho, que ficou no quarto do hospital como seu 
acompanhante. 
O plano de saúde custeou integralmente as despesas de João com a internação. No entanto, está se 
recusando a pagar as diárias do acompanhante no hospital. 
O argumento foi o de que o plano de saúde somente seria obrigado a pagar as despesas de acompanhante 
no caso de pacientes menores de 18 anos, conforme prevê o art. 12, II, “f”, da Lei nº 9.656/98 (Lei dos 
Planos de Saúde): 
Art. 12. São facultadas a oferta, a contratação e a vigência dos produtos de que tratam o inciso I 
e o § 1º do art. 1º desta Lei, nas segmentações previstas nos incisos I a IV deste artigo, respeitadas 
as respectivas amplitudes de cobertura definidasno plano-referência de que trata o art. 10, 
segundo as seguintes exigências mínimas: 
(...) 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
II - quando incluir internação hospitalar: 
(...) 
f) cobertura de despesas de acompanhante, no caso de pacientes menores de dezoito anos; 
 
O argumento do plano de saúde é acolhido pelo STJ? A recusa ao pagamento foi legítima? 
NÃO. 
Depois da Lei nº 9.656/98, foi aprovado o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), que estabeleceu que o 
paciente idoso que estiver internado terá direito a um acompanhante, nos seguintes termos: 
Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo 
o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em tempo 
integral, segundo o critério médico. 
Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo tratamento conceder 
autorização para o acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, justificá-la por 
escrito. 
 
Diante desta obrigação criada pelo art. 16 da Lei nº 10.741/2003, a Agência Nacional de Saúde 
Suplementar (ANS) definiu que cabe aos planos de saúde o custeio das despesas referentes ao 
acompanhante desse paciente, as quais devem incluir a totalidade dos serviços oferecidos pelo prestador 
de serviço e relacionadas com a permanência do acompanhante na unidade de internação. 
Por meio da edição das Resoluções Normativas nº 211/2010, nº 387/2015 e nº 428/2017, a ANS 
determinou que os planos hospitalares incluam as despesas com acompanhante para pacientes a partir 
de 60 (sessenta) anos de idade. 
Essa é a redação da Resolução Normativa nº 428/2017: 
Art. 22. O Plano Hospitalar compreende os atendimentos realizados em todas as modalidades de 
internação hospitalar e os atendimentos caracterizados como de urgência e emergência, 
conforme Resolução específica vigente, não incluindo atendimentos ambulatoriais para fins de 
diagnóstico, terapia ou recuperação, ressalvado o disposto no inciso X deste artigo, observadas as 
seguintes exigências: 
(...) 
VII - cobertura das despesas, incluindo alimentação e acomodação, relativas ao acompanhante, 
salvo contraindicação justificada do médico ou do cirurgião-dentista assistente, nos seguintes 
casos: 
(...) 
b) idosos a partir dos 60 anos de idade. 
 
Quais despesas com acompanhante devem ser cobertas pelo plano de saúde? 
A cobertura das despesas relacionadas a um acompanhante será o total daquilo que for oferecido pelo 
prestador de serviço (hospital), incluindo refeições e taxas básicas (indispensáveis) relacionadas à sua 
permanência na unidade de internação. 
Por exemplo, no que se refere ao fornecimento de refeições: se o hospital A, credenciado da operadora 
X, oferece aos acompanhantes de seus clientes três refeições por dia, a operadora X deverá custear as 
despesas dessas três refeições. Se o hospital B, também credenciado da Operadora X, oferece aos 
acompanhantes de seus clientes apenas uma refeição por dia, a operadora X deverá custear as despesas 
referentes a esta refeição. Ou seja, quem define o que é ofertado ao acompanhante é o prestador de 
serviços, de acordo com o que a instituição disponibiliza aos seus clientes em geral, cabendo à operadora 
apenas custear tais despesas. 
Os acompanhantes são para: crianças e adolescentes menores de 18 anos, idosos a partir dos 60 anos de 
idade, pessoas com deficiência e gestantes no trabalho de parto, parto e pós-parto. 
Fonte: ANS (www.ans.gov.br) 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
 
Em suma: 
A operadora do plano de saúde tem o dever de custear as despesas de acompanhante do paciente idoso 
no caso de internação hospitalar. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.793.840-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/11/2019 (Info 660). 
 
Esse dever de custeio do plano de saúde existe mesmo que o contrato tenha sido assinado antes do 
Estatuto do Idoso? 
SIM. O Estatuto do Idoso é norma de ordem pública e de aplicação imediata, devendo incidir inclusive 
sobre contratos firmados antes de sua vigência. 
 
 
 
CLÁUSULAS ABUSIVAS 
Súmula 638-STJ 
É nula a cláusula que limite o valor da indenização na hipótese de eventual furto, roubo ou 
extravio do bem empenhado 
 
Súmula 638-STJ: É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de 
instituição financeira pelos danos decorrentes de roubo, furto ou extravio de bem entregue 
em garantia no âmbito de contrato de penhor civil. 
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 27/11/2018, DJe 5/12/2018. 
 
Penhor civil 
Penhor é o direito real pelo qual o devedor ou terceiro transfere ao credor, em garantia do débito, a posse 
de uma coisa móvel. 
A coisa dada em penhor é “empenhada” ou “apenhada”. 
Não se pode confundir penhor (garantia real) com penhora (ato do processo de execução). 
 
Penhor de joias 
A Caixa Econômica Federal oferece uma forma de conferir empréstimo de modo mais ágil e sem 
burocracia. Trata-se do empréstimo com penhor. 
A pessoa interessada em obter um empréstimo procura a CEF e obtém o empréstimo, oferecendo, como 
garantia, joias, pedras preciosas, canetas, relógios etc. 
Quando a pessoa paga o empréstimo, recebe de volta o bem empenhado. 
Se o mutuário não quitar o empréstimo, a coisa apenhada é leiloada. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
Pedro, precisando de dinheiro, resolve tomar um empréstimo na CEF e, como garantia, entrega o seu anel 
de formatura. 
No contrato assinado, havia uma cláusula que dizia que, em caso de roubo, furto ou extravio da joia 
empenhada, a CEF deveria pagar ao mutuário, a título de danos materiais e morais, o valor máximo de 1,5 
vezes da quantia pela qual foi avaliado o bem. Ex: se o bem tivesse sido avaliado em R$ 10 mil, a CEF 
pagaria, no máximo, R$ 15 mil de indenização. 
Uma semana após Pedro dar o bem em garantia, houve um furto na agência da CEF e levaram o anel, que 
estava guardado em um cofre. 
 
A CEF deverá indenizar Pedro por esse furto? 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
SIM. O furto ocorrido deve ser entendido como fortuito interno, inerente à atividade explorada pelo 
banco. Assim, a instituição financeira é responsável por furtos ou mesmo roubos em seus cofres (STJ. 4ª 
Turma. REsp 1.250.997/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 5/2/2013). 
 
Essa cláusula que limita o valor da indenização é válida? 
NÃO. O CDC prevê, em seu art. 51, I: 
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento 
de produtos e serviços que: 
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer 
natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações 
de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, 
em situações justificáveis; 
 
No contrato de penhor celebrado com a Caixa, é notória a hipossuficiência do consumidor, pois este, 
necessitando de empréstimo, apenas adere a um contrato cujas cláusulas são inegociáveis, submetendo-
se, inclusive, à avaliação unilateral realizada pela instituição financeira. Vale ressaltar que, comumente, a 
avaliação é inferior ao preço cobrado do consumidor no mercado varejista de joias. 
Ao aceitar dar em penhor sua joia pessoal, o consumidor demonstra não estar interessado em vender esse 
bem empenhado, preferindo transferir apenas a posse temporária dela à instituição financeira, em 
garantia deum empréstimo. Pago o empréstimo, ele tem plena expectativa de ter de volta seu bem. Isso 
revela que, em regra, o mutuário possui uma relação afetiva com a coisa apenhada. 
 
O que fazer, então, no caso concreto? 
O juiz deverá reconhecer que a cláusula é nula de pleno direito, nos termos do art. 51, I, do CDC, devendo 
condenar à CEF a pagar um valor justo de indenização, que atenda estritamente aos princípios da 
razoabilidade e da proporcionalidade. 
Deve-se salientar que, além dos danos materiais, a CEF deverá ser condenada a pagar também danos 
morais, uma vez que, conforme já salientado, o consumidor que decide pelo penhor assim o faz 
pretendendo receber o bem de volta, e, para tanto, confia que o mutuante o guardará pelo prazo ajustado. 
Se a coisa empenhada fosse para o proprietário um bem qualquer, sem nenhum valor sentimental, 
provavelmente o consumidor optaria pela venda da joia, e, certamente, obteria um valor maior. 
 
Qual é o prazo prescricional para o ajuizamento dessa ação de indenização? 
5 anos, nos termos do art. 27 do CDC: 
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do 
produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a 
partir do conhecimento do dano e de sua autoria. 
 
O furto das joias, objeto do penhor, constitui falha do serviço prestado pela instituição financeira, devendo 
incidir o prazo prescricional de 5 anos para a ação de indenização, conforme previsto no art. 27 do CDC. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.369.579-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/10/2017 (Info 616). 
 
 
 
 
 
 
BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
Configura dano moral in re ipsa a ausência de comunicação acerca da 
disponibilização/comercialização de informações pessoais em bancos de dados do consumidor 
 
Configura dano moral in re ipsa a ausência de comunicação acerca da 
disponibilização/comercialização de informações pessoais em bancos de dados do 
consumidor. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.758.799-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/11/2019 (Info 660). 
 
PROCOB 
PROCOB é uma empresa que trabalha com a gestão e o fornecimento de informações relacionados com 
consumidores e que estão armazenadas em seu banco de dados. 
Explicando melhor. A PROCOB possui um banco de dados alimentado com dados pessoais de milhares de 
consumidores, incluindo informações como nome, endereço, data de nascimento etc. 
A PROCOB oferece o serviço chamado “know your customer” por meio do qual oferece às empresas que 
contratarem um relatório geral contendo várias informações sobre o consumidor, dentre elas o endereço, 
telefones, e-mails, situação na Receita Federal, Geomarketing, possíveis parentes, residentes no mesmo 
endereço etc. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João descobriu que seus dados pessoais estavam armazenados pela PROCOB e foram disponibilizados 
(comercializados) para uma determinada empresa com quem ele estava negociando. 
Diante disso, João ajuizou ação de indenização por danos morais alegando que o PROCOB não poderia ter 
vendido esses dados sem comunicá-lo. 
 
Primeira pergunta: é necessário que a empresa comunique o consumidor caso faça a 
disponibilização/comercialização das informações pessoais desse consumidor e que estão armazenadas 
em seu banco de dados? 
SIM. 
 
Lei nº 12.414/2011 
A Lei nº 12.414/2011 disciplina a formação e consulta a bancos de dados com informações de 
adimplemento, de pessoas naturais ou de pessoas jurídicas, para formação de histórico de crédito. 
Segundo o art. 2º, I, desta Lei, considera-se “banco de dados” o conjunto de dados relativo a pessoa 
natural ou jurídica armazenados com a finalidade de subsidiar a concessão de crédito, a realização de 
venda a prazo ou de outras transações comerciais e empresariais que impliquem risco financeiro. 
 
Dever de informação 
A gestão do banco de dados impõe a estrita observância das regras do CDC e da Lei nº 12.414/2011. 
Dentre as exigências da lei, destaca-se, o dever de informação, que tem como uma de suas vertentes o 
dever de comunicar por escrito ao consumidor a abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e 
de consumo, quando não solicitada por ele, consoante determina o § 2º do art. 43 do CDC: 
Art. 43 (...) § 2º A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser 
comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele. 
 
O consumidor tem o direito de tomar conhecimento de que informações a seu respeito estão sendo 
arquivadas/comercializadas por terceiro, sem a sua autorização, porque desse direito decorrem outros 
dois que lhe são assegurados pelo ordenamento jurídico: 
a) o direito de acesso aos dados armazenados e; 
b) o direito à retificação das informações incorretas. 
 
 Informativo 
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Informativo 660-STJ (06/12/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
Conforme explica Leonardo Roscoe Bessa: 
“Em sua origem, a privacidade estava associada ao direito de ser deixado em paz – right to bel et 
alone. A preocupação atual, entretanto, é proteger o cidadão em relação aos modernos – e cada 
vez mais eficientes – mecanismos de informática de tratamento (coleta, armazenamento e 
difusão) de dados. Some-se a isso a crescente tendência de análise, juízos de valor das pessoas a 
partir de um perfil digital, ou seja, de dados obtidos friamente em redes eletrônicas, pela internet, 
por transferências não autorizadas que, invariavelmente, não correspondem a situações reais, 
ensejando tratamento discriminatório, julgamentos rápidos e equivocados ou acesso a 
informações que integram dados sensíveis. Esta nova configuração de tratamento de dados, 
permitida pelo progresso na área da informática apresenta, ao lado de benefícios, ameaça à 
dignidade da pessoa humana, a direitos da personalidade, podendo significar a perda ou 
significativa diminuição de autonomia e liberdade pessoais.” (BESSA, Leonardo Roscoe. 
Responsabilidade civil dos bancos dos dados de proteção ao crédito: diálogo entre o Código de 
Defesa do Consumidor e a Lei do Cadastro Positivo. Revista de Direito do Consumidor: RDC, v. 23, 
n. 92, mar./abr. 2014). 
 
Assim, a inobservância de qualquer dos deveres associados ao tratamento (que inclui a coleta, o 
armazenamento e a transferência a terceiros) dos dados do consumidor – dentre os quais se inclui o dever 
de informar – faz nascer para este a pretensão de indenização pelos danos causados e a de fazer cessar, 
imediatamente, a ofensa aos direitos da personalidade. 
 
Voltando ao caso concreto 
Para o STJ, a PROCOB violou o dever de informação e também manteve anotações de “informações 
excessivas”, como as relativas aos possíveis parentes, aos residentes no mesmo endereço, e aos vizinhos 
dos endereços pesquisados – as quais em nada contribuem para a avaliação da situação econômica do 
cadastrado, como exige o § 1º do art. 3º da Lei nº 12.414/2011, e que, por isso, são expressamente 
proibidas pelo art. 3º, § 3º, I: 
Art. 3º Os bancos de dados poderão conter informações de adimplemento do cadastrado, para a 
formação do histórico de crédito, nas condições estabelecidas nesta Lei. 
§ 1º Para a formação do banco de dados, somente poderão ser armazenadas informações 
objetivas, claras, verdadeiras e de fácil compreensão, que sejam necessárias para avaliar a 
situação econômica do cadastrado. 
§ 2º Para os fins do disposto no § 1º , consideram-se informações: 
I - objetivas: aquelas descritivas dos fatos e que não envolvam juízo de valor; 
II - claras: aquelas que possibilitem o imediato entendimento do cadastrado independentemente

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