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08 - Maquiavel, Hobbes e Rousseau

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Jorge Freire Póvoas
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Maquiavel, Hobbes e Rousseau
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MAQUIAVEL
 Nicolau Maquiavel (1469-1527) observa com apreensão a falta de estabilidade política da Itália, dividida em principados e repúblicas onde cada um possui sua própria milícia, geralmente formada por mercenários que recebem pagamento para manter a ordem. 
 Diante desse panorama Maquiavel escreve o Príncipe que ainda hoje provoca inúmeras interpretações e controvérsias. Uma primeira leitura nos dá uma visão da defesa do mais completo imoralismo: 
 “ É necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade”. 
 Essa primeira leitura apressada da obra levou à criação do mito do maquiavelismo, que tem atravessado os séculos. Esse mito não só representa a figura do político maquiavélico mas se estende até à avaliação das atividades corriqueiras de qualquer pessoa.
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MAQUIAVEL
 Na linguagem comum, chamamos pejorativamente de maquiavélica a pessoa sem escrúpulos, traiçoeira, astuciosa que, para atingir seus fins, usa da mentira, sendo capaz de enganar tão sutilmente que pode nos fazer pensar que agimos livremente quando na verdade somos por ela manipulados.
 Como expressão dessa amoralidade, costuma-se vulgarmente identificar essa famosa máxima de Maquiavel 
 “Os fins justificam os meios”. 
 Ora, essa interpretação se mostra excessivamente simplista e deformadora do pensamento maquiaveliano e, para superá-la, é preciso analisar com mais atenção o impacto das inovações do seu pensamento político.
 Em um primeiro momento, representado pela ação do príncipe, o poder deve ser conquistado e mantido, e para tanto justifica-se o poder absoluto. Posteriormente, alcançada a estabilidade, é possível e desejável a instalação do governo republicano.
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MAQUIAVEL
 Além disso, as ideias democráticas aparecem veladamente também no capitulo IX de O príncipe, quando Maquiavel se refere à necessidade de o governante ter o apoio do povo que é sempre melhor do que o apoio dos grandes, que podem ser traiçoeiros. 
 O que está sendo timidamente esboçado é a ideia de consenso, que terá importância fundamental nos séculos seguintes e para descrever a ação do príncipe, Maquiavel usa as expressões italianas virtú e fortuna. 
 Virtú significa virtude, no sentido grego de força, valor, qualidade de lutador e guerreiro viril. Homens de virtú são homens especiais, capazes de realizar grandes obras e provocar mudanças na história. 
 Não se trata do príncipe virtuoso no sentido medieval, enquanto bom e justo segundo os preceitos da moral cristã, mas sim daquele que tem a capacidade de perceber o jogo de forças que caracteriza a política para agir com energia a fim de conquistar e manter o poder. 
 O príncipe de virtú não deve se valer das normas preestabelecidas da moral cristã, pois isso geralmente pode significar a sua ruína.
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MAQUIAVEL
 A noção de fortuna é aqui entendida, para Maquiavel, como ocasião, acaso, onde o príncipe não deve deixar escapar a fortuna, isto é, a ocasião. 
 De nada adiantaria um príncipe virtuoso, se não soubesse ser precavido ou ousado, aguardando a ocasião propícia, aproveitando o acaso ou a sorte das circunstâncias, como observador atento do curso da história. No entanto, a fortuna ou ocasião, não deve existir sem a virtú, sob pena de se transformar em mero oportunismo.
 A novidade do pensamento maquiaveliano, justamente a que causou maior escândalo e críticas, está na reavaliação das relações entre ética e política. 
 Maquiavel apresenta uma moral diferente da moral cristã, por estabelecer a autonomia da política, negando a anterioridade das questões morais na avaliação da ação política. Para a moral cristã, predominante na Idade Média, há valores espirituais superiores aos políticos, além de que o bem comum da cidade deve se subordinar ao bem supremo da salvação da alma. 
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MAQUIAVEL
 
 A Ética de Maquiavel analisa as ações não mais em função de uma hierarquia de valores dada a priori, mas sim em vista das consequências, dos resultados da ação política. 
 Não se trata de um amoralismo, mas de uma nova moral centrada nos critérios da avaliação do que é útil à comunidade.
 O critério para definir o que é moral, é o bem da comunidade. Nesse sentido as vezes é legítimo o recurso ao mal (o emprego da força coercitiva do Estado, a guerra, a prática da espionagem, o emprego da violência). 
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MAQUIAVEL
 Estamos diante de uma moral que vive do relacionamento entre os homens. E se há a possibilidade de os homens serem corruptos, constitui dever do príncipe manter-se no poder a qualquer custo.
 Maquiavel distingue entre o bom governante, que é forçado pela necessidade a usar da violência visando o bem coletivo, e o tirano, que age por capricho ou interesse próprio. 
 O pensamento de Maquiavel nos leva à reflexão sobre a situação dramática e ambivalente do homem de ação: 
 “Se o individuo aplicar de forma inflexível o código moral que rege sua vida pessoal à vida política, sem dúvida colherá fracassos sucessivos, tornando-se um político incompetente”.
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MAQUIAVEL
 Maquiavel não está defendendo o político imoral, os corruptos e os tiranos. Não se trata disso. A leitura maquiaveliana sugere a superação dos escrúpulos imobilistas da moral individual, mas não rejeita a moral própria da ação política: 
"Se o indivíduo, na sua existência privada, tem o direito de sacrificar o seu bem pessoal imediato e até sua própria vida a um valor moral superior, ditado pela sua consciência, pois em tal hipótese estará empenhando apenas seu destino particular, o mesmo não acontece com o homem de Estado, sobre o qual pesam a pressão e a responsabilidade dos interesses coletivos; este, de fato, não terá o direito de tomar uma decisão que envolva o bem-estar ou a segurança da comunidade, levando em conta tão-somente as exigências da moral privada; casos haverá em que terá o dever de violá-la para defender as instituições que representa ou garantir a própria sobrevivência da nação". 
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MAQUIAVEL
 A avaliação moral, para Maquiavel, não deve ser feita antes da ação política, segundo normas gerais e abstratas, mas a partir de uma situação específica que é avaliada em função do resultado dela, já que toda ação política visa a sobrevivência do grupo e não apenas de indivíduos isolados.
 O que ele enfatiza é que os critérios da ética política precisam ser revistos conforme as circunstâncias sempre tendo em vista os fins coletivos.
 No entanto, é bom lembrar que o pensamento de Maquiavel tem um sentido próprio, na medida em que ele expressa a tendência fundamental da sua época, ou seja, a defesa do Estado absoluto e a valorização da política secular, não atrelada à religião. 
 Embora Maquiavel não tivesse usado o conceito de razão de Estado, é considerado o pensador que começa a esboçar essa doutrina, ou seja, quando o governante absoluto, em circunstâncias críticas e extremamente graves, pode violar normas jurídicas, morais, políticas e econômicas para defender o Estado. 
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MAQUIAVEL
 Maquiavel subverte a abordagem tradicional da teoria política feita pelos gregos e medievais e é considerado o fundador da ciência política, ao enveredar por novos caminhos "ainda não trilhados".
Pode-se dizer que a política de Maquiavel é realista, pois procura a verdade efetiva, ou seja, "como o homem age de fato". 
 As observações das ações dos homens do seu tempo e dos estudos dos antigos, sobretudo da Roma Antiga, levam-no à constatação de que os homens sempre agiram pelas vias da corrupção e da violência. 
 Maquiavel parte do pressuposto da natureza humana capaz do mal e do erro, e analisa a ação política sem se preocupar em ocultar “o que se faz e não se costuma dizer”. 
 No entanto, há, de fato, diferenças fundamentais entre o “dever ser” da política clássica e aquele a que se refere Maquiavel. Nessa nova perspectiva, para fazer política é preciso compreender o sistema de forças existentes e calcular a alteração do equilíbrio provocada pela interferência de sua própria ação nesse sistema.
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Hobbes
 Thomas Hobbes (1588-1679), inglês de família pobre, conviveu com a nobreza, de quem recebeu apoio e condições para estudar. 
 Preocupou-se, entre outras coisas, com o problema do conhecimento, tema básico das reflexões do século XVII, representando a tendência empirista. Também escreveu sobre política nas obras De Cive e Leviatã.
 O que acontece no século XVII, época em que Hobbes viveu? O absolutismo que atingindo o apogeu, encontra-se em vias de ser ultrapassado, e enfrenta inúmeros movimentos de oposição baseados em idéias liberais. 
 Na primeira fase (Inglaterra de Isabel e França de Luís XIV) o absolutismo favorece a economia mercantilista, pois as indústrias nascentes são protegidas pelo governo. 
 Já na segunda fase o desenvolvimento do capitalismo comercial repudia o intervencionismo estatal, uma vez que a burguesia ascendente agora aspira à economia livre.
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Hobbes - Estado de Natureza e Contrato
 A partir da tendência de secularização do pensamento político, os filósofos do século XVII estão preocupados em justificar racionalmente e legitimar o poder do Estado sem recorrer à intervenção divina ou a qualquer explicação religiosa. Dai a preocupação com a origem do Estado.
 É bom lembrar que não se trata de uma visão histórica, de modo que seria ingenuidade concluir que a "origem" do Estado se refere à preocupação com o seu "começo". 
 O termo deve ser entendido no sentido lógico, e não cronológico, como "princípio" do Estado, ou seja, sua raison d'être (razão de ser). 
 O ponto crucial não é a história, mas a validade da ordem social e política, a base legal do Estado.
 As teorias contratualistas representam a busca da legitimidade do poder que os novos pensadores políticos esperam encontrar na representatividade do poder e no consenso. 
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Hobbes - Estado de Natureza e Contrato
 O que há de comum entre os filósofos contratualistas é que eles partem da análise do homem em estado de natureza, isto é, antes de qualquer sociabilidade, quando, por hipótese, desfruta de todas as coisas, realiza os seus desejos e é dono de um poder ilimitado. 
 No estado de natureza, o homem tem direito a tudo: "O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam jus naturale, é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e, consequentemente, de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim".
 Ora, enquanto perdurar esse estado de coisas, não haverá segurança nem paz alguma. A situação dos homens deixados a si próprios é de anarquia, geradora de insegurança, angústia e medo. 
 Os interesses egoístas predominam e o homem se toma um lobo para o outro homem. As disputas geram a guerra de todos contra todos, cuja conseqüência é o prejuízo para a indústria, a agricultura, a navegação, para a ciência e o conforto dos homens. 
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Hobbes - O Estado Absoluto 
 Para Hobbes, o homem reconhece a necessidade de “renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relação a si mesmo”. 
 A nova ordem é celebrada mediante um contrato, um pacto, pelo qual todos abdicam de sua vontade em favor de “um homem ou de uma assembléia de homens, como representantes de suas pessoas”. 
 O homem, não sendo sociável por natureza, o será por artifício. E o medo e o desejo de paz que o levam a fundar um estado social e a autoridade política, abdicando dos seus direitos em favor do soberano.
 Qual é a natureza do poder legítimo resultante do consenso? Que tipo de soberania resulta do pacto? Para Hobbes, o poder do soberano deve ser absoluto, isto é, ilimitado. A transmissão do poder dos indivíduos ao soberano deve ser total, caso contrário, um pouco que seja conservado da liberdade natural do homem, instaura-se de novo a guerra. 
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Hobbes - O Estado Absoluto 
 Se não há limites para a ação do governante, não é sequer possível ao súdito julgar se o soberano é justo ou injusto, tirano ou não, pois é contraditório dizer que o governante abusa do poder, não há abuso quando o poder é ilimitado. 
 Na verdade, o Estado pode ser monárquico, quando constituído por apenas um governante, como pode ser formado por alguns ou muitos, por exemplo, por uma assembleia. 
 O importante é que, uma vez instituído, o Estado não pode ser contestado, ele é absoluto, para Hobbes. 
 Cabe ao soberano julgar sobre o bem e o mal, sobre o justo e o injusto; ninguém pode discordar, pois tudo o que o soberano faz é resultado do investimento da autoridade consentida pelo súdito. 
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Hobbes - O Estado Absoluto 
 Hobbes usa a figura bíblica do Leviatã, (Leviatã é um monstro bíblico cruel e invencível que simboliza, em Hobbes, o poder do Estado absoluto animal monstruoso e cruel, mas que de certa forma defende os peixes menores de serem engolidos pelos mais fortes. 
 É essa figura que representa o Estado, um gigante, que existe para a defesa daqueles que o elegeram. 
 Em resumo, o homem abdica da liberdade dando plenos poderes ao Estado absoluto a fim de proteger a sua própria vida. 
 Além disso, o Estado deve garantir que o que é meu me pertença exclusivamente, garantindo o sistema da propriedade individual. 
 O poder do Estado se exerce pela força, pois só a iminência do castigo pode atemorizar os homens. “Os pactos sem a espada não são mais que palavras”.
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Hobbes - O Estado Absoluto 
 Investido de poder, o soberano não pode ser destituído, punido ou morto. Tem o poder de prescrever as leis, escolher os conselheiros, julgar, fazer a guerra e a paz, recompensar e punir. 
 Hobbes preconiza ainda a censura, já que o soberano é juiz das opiniões e doutrinas contrárias à paz. E quando, afinal, o próprio Hobbes pergunta se não é muito miserável a condição de súdito diante de tantas restrições, conclui que nada se compara à condição de homens sem senhor ou às misérias que acompanham a guerra civil.
 Para Hobbes o Estado surge de um contrato, pois, o pacto visa garantir os interesses dos indivíduos, sua conservação e sua propriedade. 
 Se no Estado de Natureza "não há propriedade, nem domínio, nem distinção entre o meu e o teu", no Estado de soberania a liberdade dos súditos está naquelas coisas que o soberano permitiu, "como a liberdade de comprar e vender, ou de outro modo realizar contratos mútuos; de cada um escolher sua residência, sua alimentação, sua profissão, e instruir seus filhos conforme achar melhor”. 
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Hobbes - O Estado Absoluto 
 O contrato surge como decorrência da atribuição de uma qualidade possessiva ao homem que, por natureza, tem medo da morte, anseia por viver confortável e pela segurança. É movido pelo instinto de posse e desejo de acumulação. 
 Para Hobbes o homem "se encontra na sua concepção do indivíduo como sendo essencialmente o proprietário de sua própria pessoa e de suas próprias capacidades, nada devendo à sociedade por elas. (...) A sociedade torna-se uma porção de indivíduos livres e iguais, relacionados entre si como proprietários de suas próprias capacidades e do que adquiriram mediante a prática dessas capacidades. A sociedade consiste de relações de troca entre proprietários. A sociedade política torna-se um artifício calculado para a proteção dessa propriedade e para a manutenção de um ordeiro relacionamento de trocas".
 Embora Hobbes defende o Estado absoluto, já são perceptíveis em seu discurso alguns dos elementos que marcarão o pensamento burguês e liberal daí em diante: o individualismo, a garantia da propriedade a preservação da paz e a segurança indispensáveis para os negócios.
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Rousseau
 Assim como seu antecessor Hobbes, Rousseau (1712 – 1778) procura resolver a questão da legitimidade do poder fundado no contrato social. 
 Sua posição é, num aspecto inovadora, na medida em que distingue os conceitos de soberano e governo, atribuindo ao povo uma soberania.
 No Discurso sobre a Origem da Desigualdade Rousseau cria a hipótese dos homens em estado de natureza, vivendo sadios, bons e felizes enquanto cuidam de sua própria sobrevivência.
 Até o momento em que é criada a propriedade e uns passam a trabalhar para outros, gerando escravidão e miséria..
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Rousseau
 Rousseau parece demonstrar extrema nostalgia do estado feliz em que vivia o bom selvagem, quando é introduzida a desigualdade entre os homens, a diferenciação entre o rico e o pobre, o poderoso e o fraco, o senhor e o escravo e a predominância da lei do mais forte. 
 O homem que surge da desigualdade é corrompido pelo poder e esmagado pela violência. Há que se considerar a possibilidade de um contrato verdadeiro e legítimo, pelo qual o povo esteja reunido sob uma só vontade.
 O contrato social, para ser legítimo, deve se originar do consentimento necessariamente unânime. Cada associado se aliena totalmente, ou seja, abdica sem reserva de todos os seus direitos em favor da comunidade. 
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Rousseau
 Mas, como todos abdicam igualmente, na verdade cada um nada perde, pois "este ato de associação produz, em lugar da pessoa particular de cada contratante, um corpo moral e coletivo composto de tantos membros quantos são os votos da assembléia e que, por esse mesmo ato, ganha sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade".
 Em outras palavras, pelo pacto o homem abdica de sua liberdade, mas sendo ele próprio parte integrante e ativa do todo social, ao obedecer à lei, obedece a si mesmo e, portanto, é livre: "A obediência à lei que se estituiu a si mesma é liberdade". 
 Isso significa que, para Rousseau, o contrato não faz o povo perder a soberania, pois não é criado um Estado separado dele mesmo. Como isto é possível?
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Rousseau
 Mesmo quando cada associado se aliena totalmente em favor da comunidade, nada perde de fato, pois, enquanto povo incorporado, mantém a soberania. 
 Assim para Rousseau, o corpo coletivo que expressa, através da lei, a vontade geral. 
 É a soberania do povo que se manifesta pelo legislativo. Assim a democracia em Rousseau considera que toda lei não-ratificada pelo povo em pessoa é nula.
 Os magistrados que constituem o governo estão subordinados ao poder de decisão do soberano e apenas executam as leis, devendo haver inclusive boa rotatividade na ocupação dos cargos. 
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Rousseau
 Rousseau preconiza a democracia direta ou participativa, mantida por meio de assembleias frequentes de todos os cidadãos. Enquanto soberano, o povo é ativo e considerado cidadão. 
 Há também uma soberania passiva, assumida pelo povo enquanto súdito. Então, o mesmo homem enquanto faz a lei é um cidadão e enquanto a ela obedece e se submete, é um súdito. 
 O que vem a ser a vontade geral? É preciso antes fazer distinção entre pessoa pública (cidadão ou súdito) e pessoa privada. A pessoa privada tem uma vontade individual que geralmente visa o interesse egoísta e a gestão dos bens particulares. Se somarmos as decisões baseadas nos benefícios individuais, teremos a vontade de todos. 
 Mas, cada homem particular também pertence a um espaço público, é parte de um corpo coletivo com interesses comuns, expressos pela vontade geral. Nem sempre o interesse de um coincide com o de outro, pois muitas vezes o que beneficia a pessoa privada pode ser prejudicial ao coletivo.
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Rousseau
 Por isso, também não se pode confundir a vontade de todos com a vontade geral, pois a somatória dos interesses privados pode ter outra natureza que o interesse comum.
 Assim como imagina um homem em estado de natureza, Rousseau também cria, ao elaborar o esboço de uma pedagogia.
 É a figura de Emílio, modelo que o ajuda a procurar aquilo que o homem é antes de ser homem. 
 Tudo se passa nesse romance como se o homem natural fosse o ideal que se submete à regra da educação. Para não correr o risco de ser contaminado por preconceitos.
 Emílio é educado por um preceptor à margem do contato pernicioso da sociedade, seguindo a ordem da própria natureza, não a natureza do selvagem, mas a verdadeira natureza que responde à vocação humana. 
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Rousseau
 A educação começa pelo desenvolvimento das sensações, dos sentimentos, pois, antes da "idade da razão" (15 anos), existe uma "razão sensitiva". É preciso não abafar os instintos, os sentidos, as emoções, os sentimentos que são anteriores ao próprio pensamento elaborado. 
 A espontaneidade é valorizada e não há castigos, pois a experiência é a melhor conselheira. Por isso Rousseau não dá valor ao conhecimento livresco transmitido, pois quer que a criança aprenda a pensar por si própria. 
 A concepção pedagógica rousseauísta não é magistrocêntrica, pois não é o mestre que se encontra no centro do processo educativo; esse lugar é reservado à criança. 
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Rousseau
 Para ele, não se educa a criança nem para Deus, nem para a vida em sociedade, mas sim para si mesma: "Viver é o que eu desejo ensinar-lhe. Quando sair das minhas mãos, ele não será magistrado, soldado ou sacerdote, ele será, antes de tudo, um homem".
 A concepção política de Rousseau é tramada contra o absolutismo e propõe uma visão mais democrática de poder. Sem dúvida, empolgou políticos como o jovem Marx. 
 Os aspectos avançados do pensamento de Rousseau estão no fato de denunciar a violência daqueles que abusam do poder conferido pela propriedade, bem como por ter desenvolvido uma concepção mais democrática de poder, baseada na soberania popular e no conceito-chave de vontade geral. 
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