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Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre homens.

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BIANCA SILVA DE ABREU
“DISCURSO SOBRE A ORIGEM E 
OS FUNDAMENTOS DA DESIGUALDADE ENTRE OS HOMENS”
Fichamento do ensaio “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”, de Jean-Jacques Rousseau, apresentado para a disciplina de Introdução à Sociologia, ministrada pela Profª Dra. Maria Ribeiro Ribeiro do Valle.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara
Curso de Ciências Sociais
Junho de 2018
ROUSSEAU, Jean-Jacques. “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens“. Editora Universidade de Brasília – Brasília/DF. Editora Ática. São Paulo/SP – 1989.
	
INTRODUÇÃO
TEMA: ANÁLISE DO ENSAIO “DISCURSO SOBRE A ORIGEM E OS FUNDAMENTOS DA DESIGUALDADE ENTRE OS HOMENS”, DE JEAN-JACQUES ROUSSEAU. Serão apresentadas as reflexões obtidas a partir da leitura das partes 1 e 2 do Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens e do acompanhamento das explicações em aula.
OBJETIVO. Em seu discurso, com o objetivo de demonstrar como teria surgido a desigualdade entre os homens, Rousseau explica a distinção de duas igualdades existentes, descreve o homem natural e utiliza uma história hipotética para descrever como se deu à passagem do estado natural para o estado social.
MÉTODO. Rousseau se fazia o seguinte questionamento: como conhecer as desigualdades do homem se não conhece-lo a si próprio? A partir da busca da resposta para essa pergunta, Jean-Jacques entendeu que, para alcançá-la, precisaria estudar sobre quem era o homem natural. E assim o fez, como veremos a seguir.
HIPÓTESES
O DISCURSO: 1ª PARTE. Rousseau inicia a primeira parte do Discurso fazendo uma distinção das duas desigualdades existentes: a desigualdade natural ou física e a desigualdade moral ou política. A desigualdade natural, que se refere a sexo, idade, força, etc., não é o objetivo dos estudos do filósofo, pois como o próprio nome já afirma, esta desigualdade tem uma origem natural e não foi ela que submeteu um homem a outro. A origem da desigualdade moral ou política é o que o interessa.
Jean-Jacques trata, em todo o início do Discurso sobre o homem natural rebatendo as teses de Hobbes, Buffon e outros que tratam do mesmo assunto, mas que enxergavam o homem natural a partir da visão do homem social (o homem do homem). Partindo de sua teoria dos dois princípios básicos que regem a alma humana, Rousseau descreve o homem natural como um ser solitário, possuidor de um instinto de autopreservação, dotado de sentimento de compaixão pelos outros de sua espécie e possuindo a razão apenas potencialmente. O sentimento de comiseração pode ser visto também como instinto ou um mecanismo de autopreservação da espécie.
O filósofo não vê na vida do homem natural motivos que o levem à vida em sociedade. O homem natural vive o presente, é robusto e bem organizado e, apesar de não possuir habilidades específicas, pode aprendê-las todas. É inocente, não possuindo noções do bem e do mal, e possui duas características que o distingue dos outros animais que são: a liberdade e a perfectibilidade. Esta última é um neologismo criado por ele mesmo para exprimir a capacidade que o homem possui de aperfeiçoar-se.
Utilizando como exemplo o estudo sobre a origem da linguagem, Rousseau tenta demonstrar a falta de ligação entre o homem natural e o homem social. Termina esta primeira parte deste seu trabalho afirmando que a passagem do homem natural ao homem social, que é onde se origina as desigualdades, não pode ser obra do próprio homem, mas sim de algum fator externo. O homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe.
O DISCURSO: 2ª PARTE. Nesta segunda parte, a fim de demonstrar a origem das desigualdades entre os homens, Rousseau utiliza uma história hipotética para descrever de que forma se deu a passagem do estado natural para o estado social. A capacidade de aperfeiçoamento que possui o homem é a base dessa transformação.
A subsistência era a única preocupação do homem natural, porém, à medida que as dificuldades do meio se apresentavam, ele se via obrigado a superá-las e adquiria, desta forma, novos conhecimentos. O homem natural aprendeu a pescar, caçar e, diante da necessidade de defesa ou para melhor resultados em suas caças, aprendeu a associar-se a outros homens; estas associações eram, até então, realizadas de maneira aleatória. É neste momento que surge a primeira grande mudança em seus hábitos: a construção de abrigos. O surgimento das casas fez com que o homem natural permanecesse mais tempo em um mesmo local e na companhia de seus companheiros, nascendo, assim, as famílias e, com elas, os sentimentos mais ternos que são conhecidos dos homens, o amor conjugal e o amor paterno. Ao decorrer dos tempos em que os homens vivem uns em companhia dos outros, surgem novas formas de linguagem. Uma noção, claramente ainda precária, de propriedade passa a fazer parte deste novo universo em que se veem os homens naturais. Por motivos de segurança, alimentação e dos fenômenos naturais, estas famílias que surgem passam a conviver cada vez mais próximas, surgindo, assim, as primeiras comunidades.
Para Rousseau, era neste estágio em que o homem deveria ter parado. Vivendo em sociedade, com suas poucas necessidades e com plenas condições de supri-las, o homem teria tudo para viver com prosperidade. Mas a perfectibilidade não o permitiu assim permanecer. A pequena comunidade ali sentada em volta da fogueira, cantando e dançando, começa a se enxergar. Os homens começam a comparar-se: o melhor caçador, o mais forte, o mais bonito, o mais hábil, e/ou o que reúne o maior conjunto dessas características, é o de maior destaque e, dali em diante, o ser e o parecer tornam-se distintos. Os homens agrupados ainda sem nenhuma lei ou líder têm como único juiz a sua própria consciência; a partir disto, com cada qual sendo juiz À sua própria maneira, se inicia o estado de guerra de todos contra todos. Paralelamente a isso, surge a agricultura e a metalurgia, evento ao qual Rousseau nomeia de "a grande Revolução". Consequência desses eventos, surge a divisão do trabalho e a noção de propriedade se enraíza: passa a existir homens ricos e homens pobres, que dependeram, outrora, uns dos outros. É dentro desta situação caótica que os homens viram a necessidade de estabelecer leis para proteção: uns para protegerem suas propriedades e outros para se protegerem das arbitrariedades dos mais poderosos.
Neste ponto do texto, Jean-Jacques começa a indagar que tipos de governos podem ter surgido. De antemão descarta a possibilidade de um governo despótico ter sido o iniciador do processo, pois o sentimento de liberdade do homem não o permitiria. Ele diz que os governantes devem ter surgido de forma eletiva: se em uma comunidade uma única pessoa era considerada digna e capacitada para governá-la, surgiria um estado monárquico; se eram várias as pessoas que gozavam ao mesmo tempo de condições para tal, surgiria um estado aristocrático; porém, se todos as pessoas possuíam qualidades homogêneas e resolvessem administrar conjuntamente, surgiria uma democracia. O desvirtuamento dessas formas de governo, consequente da ambição de alguns, é que deram origem a estados autoritários e despóticos.
O filósofo conclui demonstrando que a finalidade de seu texto era a exposição da origem e do decorrer do processo que resultou na desigualdade entre os homens. O surgimento da propriedade divide os homens entre ricos e pobres, o surgimento de governos divide entre governantes (poderosos) e governados (fracos) e o surgimento de estados despóticos divide os homens entre senhores e escravos. Rousseau finaliza dizendo “essa destinação determina suficientemente o que se pensar, nesse sentido, da espécie de desigualdade que reina entre todos os povos policiados, pois é manifestante mente contra a lei de natureza, de qualquer maneira que a definamos, que uma criança mande num velho, que um imbecil conduza um homem sábio, ou que um punhado de pessoas nadeno supérfluo, enquanto à multidão esfomeada falta o necessário” [p. 141]. A soberania e a dominação de um homem diante do outro, no momento de governar, para ele, é legitimada a partir disto.
CONCLUSÕES. No Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Rousseau nos mostra um problema: a degeneração social provocada pelo distanciamento do homem social em relação ao homem natural. A exemplo dos físicos que criaram a teoria dos gases perfeitos, que na natureza não existem, mas servem para o estudo de todos os outros gases através do método de comparação, Jean-Jacques utiliza a "noção de estado de natureza", que nunca existiu efetivamente, mas que serve de patamar de comparação, para verificarmos o quão distante uma sociedade está do estado natural.
O autor também tem uma preocupação perceptível com a religiosidade ao redigir seu discurso. Em alguns pontos do texto, faz questão de lembrar que o homem natural é uma ficção criada por ele para explicar sua teoria, e que tal homem não existiu em época alguma da história, portanto seu texto não estaria, de forma alguma, contrariando as escrituras sagradas.

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