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Caso Concreto Direito Penal IV Lei de Drogas

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Universidade Estácio de Sá 
Polo: Parangaba 
Curso: Direito 
Disciplina: Direito Penal IV 
Docente: Antônio Augusto 
Discente: Rubens Melo da Silva 
Matrícula: 2016.01.66.887-2 
Caso Concreto Semana 7 (Lei de Drogas II) 
Aberlado Doidão foi preso em flagrante delito ao transportar na mala de seu 
carro 18 petecas de cocaína, 100 pedras de crack, e 622,86 g de maconha, 
balança de precisão e a quantia de R$ 1.320,00 em notas de 20 e 50 reais. 
Dos fatos restou denunciado e condenado pela conduta prevista no art. 33, 
caput, da lei n. 11.343/2006 à pena de reclusão a ser cumprida inicialmente em 
regime fechado. Inconformado com a decisão interpôs recurso de apelação e, 
em suas razões, pugnou pela desclassificação para a conduta prevista no § 4º 
do citado artigo, bem como a alteração para o regime inicial semiaberto de 
cumprimento, haja vista sua condenação ser inferior a 8 anos. 
 Ante o exposto, responda de forma objetiva e fundamentada, de acordo 
com os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais dominantes se a defesa 
deve prosperar. 
 Não. Não é possível porque se encontra, perfeitamente, configurado o 
crime de Tráfico Privilegiado (art. 33, § 4º) por conta das circunstâncias na qual 
ocorreu o delito. 
 Inicialmente devemos analisar a condição do elemento subjetivo 
presente na conduta no art. 33, caput, segundo Gonçalves (2018, p. 91): 
“Todas as figuras relacionadas ao tráfico de 
entorpecentes são dolosas”. Pressupõe, também, 
prova de que a intenção do agente é entrega da 
droga a outrem, a título gratuito ou oneroso. Essa 
prova pode ser feita pela quantidade do 
entorpecente, pela forma de acondicionamento (em 
várias porções individuais prontas para a entrega ao 
consumo alheio), pela variedade da droga (o mero 
usuário não traz consigo diversos tipos de drogas), 
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pelo comportamento do acusado (parado em via 
pública, aguardando compradores), por 
interceptações telefônicas, pela apreensão de listas 
de clientes etc. É evidente que, quando o sujeito é 
flagrado durante a própria venda, a questão é 
muito mais facilmente solucionada no âmbito 
probatório.” (Grifo nosso). 
 Quando confrontamos com realidades dos fatos probatórios 
encontramos que: a) o agente delitivo encontrava-se com produtos 
entorpecente fracionado, pronto para venda; b) existiam diferentes tipos de 
drogas em seu poder; c) presença de balança de precisão e, por fim, d) valores 
monetários também fracionados. 
 Vale ressaltar que no ato policial desenvolvido foi identificado que 
agente criminoso “transportava”. Com isso, seguimos posicionamento 
apresentado por Marcão (2015, p. 95), sobre tipo objetivo presente no art. 33, 
caput da Lei n. 11.343/2006: 
“É possível praticar o crime de tráfico, consoante o 
art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006, mediante a 
realização de um dos 18 (dezoito) verbos descritos 
na norma penal incriminadora, quais sejam: 1. 
Importar; 2. Exportar; 3. Remeter; 4. Preparar; 5. 
Produzir; 6. Fabricar; 7. adquirir; 8. Vender; 9. Expor 
à venda; 10. Oferecer; 11. Ter em depósito; 12. 
Transportar; 13. Trazer consigo; 14. Guardar; 15. 
Prescrever; 16. Ministrar; 17. Entregar a consumo; 
ou, 18. Fornecer, ainda que gratuitamente”. (Grifo 
nosso) 
 Portanto, ressalta-se que, conforme saliente Marcão (idem, idem): 
“Em qualquer das modalidades típicas previstas é 
necessário observar o elemento normativo do tipo, 
pois a configuração do ilícito exige, em 
complemento, que o agente esteja agindo “sem 
autorização ou em desacordo com determinação 
legal ou regulamentar.” 
 A caracterização do transporte é bem definida pro Gonçalves (2018, p. 
90), quando afirma: 
“Transportar significa conduzir de um local para 
outro em um meio de transporte e, assim, difere de 
conduta “remeter” porque, nesta, não há utilização 
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de meio de transporte viário. Enviar droga por 
correio, portanto, constitui “remessa”, exceto se for 
entre dois países, quando consistirá em “importação” 
ou “exportação”. Por sua vez, o motorista de um 
caminhão que leva a droga de Campo Grande Para 
São Paulo está “transportando” a mercadoria 
entorpecente”. 
 No aspecto jurisprudencial destacamos o seguinte entendimento: 
“Para a ocorrência do elemento subjetivo do tipo 
descrito no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006, é 
suficiente a existência do dolo, assim compreendido 
como a vontade consciente de realizar o ilícito penal, 
o qual apresenta 18 (dezoito) condutas que podem 
ser praticadas, isoladas ou conjuntamente. O tipo 
penal descrito no art. 33 da Lei n. 11.343/2006 não 
faz nenhuma exigência no sentido de que, para a 
caracterização do crime de tráfico de drogas, seja 
necessária a demonstração de dolo específico, 
notadamente quanto ao fim de comercialização do 
entorpecente” (STJ, REsp 1.361.484/MG, 6 ª T. rel. 
Min. Rogério Schietti Cruz, j. 10-6-2014, DJe de 13-
6-2014). 
 Além disso, refutamos a tese argumentativa apresentada pela defesa no 
tocante ao tráfico privilegiado por não estar presente nenhum dos elementos 
legais exigidos no art. 33, § 4º da Lei 11.343/2006, a saber: 
“Art. 33, § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1 
deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um 
sexto a dois terços, desde que o agente seja 
primário, de bons antecedentes, não se dedique às 
atividades criminosas nem integre organização 
criminosa”. 
 Estando presentes elementos que comprovem tráfico ilítico descrito no 
caput do art. 33, afasta-se a condição de tráfico privilegiado. Colaborando com 
essa interpretação recorremos ao ensinamento doutrinário de Gonçalves 
(2018, p. 99), que assim orienta: 
“Saliente-se que a dedicação rotineira ao tráfico 
pode ser comprovada por diversas formas, como, 
por exemplo, pela confissão do réu, pela existência 
de interceptação telefônica demonstrando venda a 
inúmeros usuários, pela apreensão, com o acusado, 
de listas com nomes de clientes, pela quantidade 
elevada de drogas etc.” 
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 Conforme apresentando em nossa argumentação acima e comprovado 
mediante conteúdo probatório descrito nos autos do processo, requer que 
sejam aplicadas as medidas legais cabíveis para efetividade ao combate a 
esse crime que destrói nossa sociedade dia após dia, ceifando vidas, 
aniquilando sonhos, sufocando a esperança de pais e mães que veem seus 
filhos sendo cooptados com criminosos como esse acusado. 
Referência bibliográfica: 
GONÇALVES, Victor Eduardo Rio. Legislação penal especial 
esquematizado. 4. Ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. 
MARCÃO, Renato. Tóxicos: Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006: 
anotada e interpretada. 10 ed. São Paulo, Saraiva, 2015. 
VADE MECUM RT. 14 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista 
do Tribunais, 2017.

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