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Sentença É o pronunciamento por meio do qual o juiz põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, com fundamento nos arts. 485 ou 487, bem como extingue a execução (art. 203, §1º). → A sentença não encerra o processo. → Após a sentença, inicia-se a fase recursal, ou a fase de cumprimento, que pode ser voluntário pelo devedor, ou forçado. → A sentença pode ser reformada parcialmente ou totalmente. Elementos da sentença (art. 489 do CPC) Relatório: Nele deverá conter o nome das partes, a identificação do caso, com resumo da pretensão do autor e da defesa do réu, o registro de eventuais incidentes processuais e dos principais atos ocorridos no processo. Embora o seu conteúdo seja meramente descritivo, o relatório é um elemento essencial da sentença e será nula a sentença que não o tiver. Entretanto, é dispensado em sede de Juizado Especial Cível, conforme se depreende do art. 38 da Lei nº 9.099/1995. Fundamentos: O art. 93, IX, da CF/1988 dispõe que todos os julgamentos do Poder Judiciário devem ser fundamentados sob pena de nulidade. Será nula a decisão que descumprir tal preceito (a jurisprudência ainda não é pacífica neste ponto). O juiz não deve fundamentar superficialmente, sem explicar as razões que o levaram a tomar sua decisão. Parte dispositiva da sentença: É na parte dispositiva que o juiz determinará, com todas as especificações, a obrigação que deverá ser cumprida pelo réu, nos casos de procedência do pedido, ou declarará improcedente o pedido. Trata-se de elemento de fundamental importância, pois sobre ele incidirá os efeitos da coisa julgada material. Exemplo: se o juiz condenar o réu, na parte dispositiva, a pagar a quantia de R$ 100.000,00, com atualização desde a citação (mas o correto seria desde a ocorrência do fato), prevalece o critério fixado pelo juiz se a parte não interpuser o recurso cabível. Princípio da adstrição: O art. 492 do CPC regulamenta este princípio, também conhecido como correlação, no sentido de impedir que o juiz profira sentença diversa da pretensão formulada pelo autor. Exemplo: se o autor pretende revisão do auxílio-doença, o juiz não poderá julgar procedente o pedido para determinar a aposentadoria por invalidez. E então, esta sentença será declarada nula. Após a publicação da sentença, esta não mais poderá ser alterada pelo juiz. Mesmo nos casos em que o julgador perceba, após a publicação, que aplicou mal o direito ao caso concreto, nada poderá fazer se a parte interessada não interpuser o recurso cabível. Porém, o juiz poderá alterar a decisão proferida nas hipóteses mencionadas no art. 494 do CPC. A sentença poderá ser alterada, de ofício ou a requerimento das partes, nos casos em que houver necessidade de se corrigir inexatidões materiais ou erro de cálculo (art. 494, I), ou através de embargos de declaração (art. 1.022). Classificação das sentenças Sentença declaratória: art. 19, I, do CPC, o interesse do autor pode limitar-se à declaração acerca da existência ou inexistência de uma relação jurídica. Exemplo: suponha que determinado cidadão recebeu uma fatura de um cartão de crédito que nem ao menos solicitou. Embora tenha ocorrido ilícito, o cidadão pretende tão somente a declaração judicial acerca da inexistência de relação jurídica com a administradora de cartão de crédito. Nesse caso, após o trânsito em julgado da sentença declaratória, não haverá mais dúvida acerca da inexistência de relação jurídica. Sentença constitutiva: é aquela que cria, extingue ou modifica uma relação jurídica. Exemplo: Quando o juiz decreta o divórcio está extinguindo uma relação jurídica, qual seja o vínculo conjugal. A sentença que determina a dissolução de uma sociedade empresária ou mesmo a sentença de interdição Sentença que condena em obrigação de pagar: Quando a pretensão do autor tem como escopo a condenação do réu em uma obrigação de pagar, o juiz, ao julgá-la procedente, determinará o seu devido pagamento fixando na sentença, de forma precisa, o valor e sua forma de atualização. O art. 491 do CPC dispõe que a sentença, nas obrigações de pagar, definirá, desde logo, a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for à hipótese. Embora não conste na redação do referido dispositivo, o juiz deverá, também, fixar a condenação ao pagamento das despesas (art. 82, §2º) e honorários advocatícios (art. 85). Sentença que condena em obrigação de fazer ou não fazer: A pretensão autoral poderá limitar-se à condenação do réu em uma obrigação de fazer ou de não fazer. O juiz, ao sentenciar, nesses casos, concederá a tutela específica para que o réu cumpra a obrigação nos termos formulados pelo autor. Denomina-se tutela específica porque se buscará, com a sentença, alcançar exatamente aquilo que o autor pretende. Sentença que condena em obrigação de entrega de coisa: Proferida a sentença que determina a entrega de determinada coisa, o juiz fixará prazo para que a obrigação seja cumprida. Considerando que se trata de uma modalidade de tutela específica, o juiz fixará prazo suficiente para se alcançar o cumprimento da obrigação (art. 498). Quando a obrigação tiver como objeto entrega de coisa determinada pelo gênero ou pela quantidade, o autor deverá individualizá-la na petição inicial, se a escolha do gênero ou da quantidade lhe couber. Se a escolha couber ao réu, o juiz fixará prazo para sua individualização. Sentença que condena em obrigação de emitir declaração de vontade: situações em que uma pessoa depende de ato de outra pessoa para concretizar a quitação de determinado negócio jurídico. Exemplo: um imóvel financiado foi adquirido através de contrato de gaveta e o adquirente, após a quitação, pretende obter junto ao banco financiador uma declaração de quitação, para registrar o imóvel em seu nome, mas depende do comparecimento da pessoa que figura como comprador no contrato de financiamento originário. Se o comprador originário comparecer voluntariamente o problema estará resolvido. Se o comprador se negar a comparecer ou emitir a correspondente declaração, o adquirente que quitou o imóvel necessitará de uma tutela específica para obter judicialmente a emissão da declaração de vontade. Remessa necessária (art. 496, CPC) Publicada a sentença, a parte sucumbente poderá interpor recurso de apelação, no prazo de quinze dias, objetivando a reapreciação do julgado. O recurso interposto pela parte, nessa hipótese, será voluntário. Por sua vez, há casos em que a reapreciação do julgado será obrigatória, independentemente de recurso interposto pela parte. Trata-se da denominada remessa necessária, nos casos em que a sentença proferida contrariar os interesses da Fazenda Pública. Essa regra tem como escopo garantir mais controle sobre as decisões contrárias à Fazenda Pública em razão do interesse público envolvido. Segundo a redação do art. 496, está sujeita à remessa necessária a sentença: a) proferida contra a União, os estados, o Distrito Federal, os municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público ou a que b) julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal. Em ambos os casos, os interesses da Fazenda Pública foram contrariados e a sentença somente terá eficácia após a sua revisão em segunda instância. Coisa julgada O maior objetivo é garantir a segurança jurídica dos julgados, consolidando a decisão sobre os direitos em conflito que tiveram de ser solucionados perante o Judiciário, garantindo a segurança jurídica do Estado Democrático de Direito. A coisa julgada pode ser formal e material. Formal→ corresponde à impossibilidade de se discutir a matéria no mesmo processo em que foi proferida, podendo ser discutida em outro processo. Ocorre nos casos de extinção sem resolução do mérito. Material→ imutável e indiscutívela decisão de mérito não mais sujeita a recurso. O que foi decidido na sentença de mérito, em que se operou a coisa julgada material, não poderá mais ser discutido no processo em que foi proferida a decisão nem em qualquer outro processo. Limites da coisa julgada: Os limites subjetivos da coisa julgada estão relacionados com as pessoas que serão afetadas por ela. A sentença faz coisa julgada entre as partes, não prejudicando terceiros (art. 506). Assim, se A ingressa com uma ação em face de B discutindo a propriedade de um veículo, a coisa julgada, nesse caso, alcançará somente A e B. Entretanto, se C ajuizar uma ação em face de B discutindo a propriedade do mesmo veículo, este último não poderá alegar como defesa processual a coisa julgada (art. 337, VII), pois os limites da coisa julgada no processo anterior não alcançaram C. Os limites objetivos da coisa julgada correspondem ao tratamento da questão principal expressamente decidida na sentença de mérito. É nessa circunstância que a sentença de mérito tem força de lei, nos termos do art. 503 do CPC. → É na parte dispositiva da sentença, em regra, que se reconhece o limite objetivo da coisa julgada. Por esse motivo, o art. 504 do CPC estatui que não fazem coisa julgada os motivos, ainda que importantes, para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença (art. 504, I) e a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença (art. 504, II). → Consoante dispõe o art. 503, §1º, do CPC, a questão prejudicial decidida expressamente fará coisa julgada quando: a) dessa resolução depender o julgamento do mérito; b) a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não aplicando no caso de revelia; e c) o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. Ação rescisória A coisa julgada torna indiscutível e imutável a questão principal, decidida na sentença de mérito. Até mesmos os vícios sanáveis são suplantados pela coisa julgada. Porém, há vícios, considerados insanáveis pelo Código, que permanecem mesmo após a ocorrência da coisa julgada, e contra esses vícios cabe a ação rescisória. A ação rescisória deve ser proposta no prazo de 2 (dois) anos, contados a partir do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo (art. 975). A ação rescisória é uma ação autônoma com a função específica de afastar vício insanável de decisão de mérito proferida por juiz ou colegiado. Será cabível ação rescisória quando: a) se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; b) for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente; c) resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; d) ofender a coisa julgada; e) violar manifestamente norma jurídica; f) for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; g) obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; e h) for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.
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