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Pronunciamentos judiciais: Os pronunciamentos judiciais são os atos através dos quais o juiz decide uma questão (chamados de decisões lato sensu) ou dá andamento ao processo, avançando nas fases do procedimento (chamados de despachos). Então, os pronunciamentos judiciais são gêneros, dos quais são espécies as decisões judiciais e os despachos. As decisões possuem conteúdo decisório, então as decisões latu sensu são pronunciamentos judiciais com conteúdo decisório, ao contrário dos despachos, que são pronunciamentos judiciais que não tem conteúdo decisório, mas sim tem como objetivo dar andamento ao processo. As decisões lato sensu, por sua vez, podem ser classificadas em duas espécies: decisões proferidas pelo juízo singular e decisões proferidas por um órgão colegiado. Os despachos não possuem conteúdo decisório e podem ser proferidos tanto pelo juízo singular quanto pelo órgão colegiado (art. 203, §3º, CPC). O conceito de despacho é dado por exclusão, ou seja, são os pronunciamentos judiciais que não se encaixam nem no conceito de sentença nem no conceito de decisão interlocutória. As decisões proferidas pelo juízo singular: O art. 203, CPC faz uma sistematização das decisões proferidas pelo juízo singular, as classificando em sentenças e decisões interlocutórias. Sentença: Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. § 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. Aqui temos a conceituação de sentença, que já pontua no início que deve-se observar as peculiaridades dos procedimentos especiais, se for o caso, porém esta se aplica plenamente ao procedimento comum. O art. 458 trata das hipóteses em que não haverá resolução de mérito, e o art. 487 por sua vez, trata das hipóteses em que haverá resolução de mérito. Não é apenas a sentença que pode fundar-se nos arts. 485 e 487 do CPC, acórdãos e decisões proferidas por relator também podem basear-se neles. Até mesmo as decisões interlocutórias podem. Assim, não importa o conteúdo da decisão para defini-la como sentença (pois se pode ter o mesmo conteúdo em um acórdão, decisão interlocutória etc...), mas sim se põe fim ou não ao procedimento em 1ª instância. Em verdade, nas palavras do prof. Fredie Didier Jr., sentença “é o pronunciamento do juízo singular que encerra uma fase do processo, seja ela cognitiva ou executiva. Haverá tantas sentenças quantas sejam as fases do procedimento que se encerram. ” Art. 316. A extinção do processo dar-se-á por sentença. O art. 316, CPC deve ser interpretado com cautela, já que nem todo processo se extingue por sentença (pode ser por meio de acórdão ou até por decisão monocrática do relator, por exemplo). De igual modo, nem toda sentença extingue o processo (basta pensar na interposição de recurso contra a mesma, por exemplo, visto que esse processo prosseguirá para o julgamento do recurso). Decisão interlocutória: Art. 203, § 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no § 1º. Então, chegamos ao conceito de decisão interlocutória por eliminação, visto que seria toda decisão proferida por um juízo singular que não seja uma sentença, visto que como dito nesse parágrafo, não deve se encaixar no §1º, que justamente é onde se conceitua sentença. Em verdade, nas palavras do prof. Fredie Didier Jr, “é o pronunciamento judicial com conteúdo decisório que não põe fim à fase do procedimento em 1ª instância. ” A decisão interlocutória, então, pode ter o mesmo conteúdo da sentença, visto que ambas podem se basear nos arts. 485 e 487. O que importa, a fim de distingui-las é se põe fim ou não à fase do procedimento em 1ª instância (cognitiva ou de execução). Decisões proferidas em órgão colegiado: As decisões proferidas em órgão colegiado podem ser acórdãos ou decisões unipessoais. • Acórdão é uma decisão judicial proferida por um órgão colegiado, ou seja, com mais de um juiz. Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais. Há acórdão final (tem a aptidão para encerrar o procedimento perante o Tribunal, nas ações de competência originária do tribunal, e também no julgamento de recursos) e acórdão interlocutório (que não encerram o procedimento perante o Tribunal, como, por exemplo, o acórdão que examina o pedido de tutela provisória em ADI, porém o procedimento segue). • Decisão unipessoal, por sua vez, é aquela proferida por apenas um dos membros do órgão colegiado, nas hipóteses previstas em lei ou no Regimento Interno do Tribunal. A decisão unipessoal pode ser proferida pelo presidente ou vice-presidente do Tribunal ou pelo relator de um recurso, reexame necessário, incidente ou ação de competência originária do Tribunal. As decisões unipessoais proferidas pelo relator podem ser finais (quando tiver a aptidão de pôr fim ao procedimento naquela instância, se não houver recurso) ou interlocutórias (se não puser fim ao procedimento). Elementos da sentença: Art. 489. São elementos essenciais da sentença: I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem. São, em verdade, elementos essenciais a qualquer decisão judicial e não apenas à sentença. Relatório: Constitui um relato dos fatos da causa, a fim de que o magistrado demonstre que conhece a história do processo em relação ao qual proferirá decisão devida e justa. Ele não é exigido apenas nas sentenças e acórdãos, mas em toda decisão judicial (decisões unipessoais, decisões interlocutórias etc..). A Lei 9.099/95 (lei dos juizados especiais cíveis), em seu art. 38, dispensa o relatório nas sentenças proferidas perante os Juizados Especiais Cíveis, visto que, um dos princípios que regem esses juizados é o princípio da informalidade e também da oralidade, então, em exigência desses princípios, o legislador entendeu por bem retirar a exigência do relatório, porém, se o magistrado assim o desejar, poderá escrever o relatório, pois não está impedido de fazê-lo. Relatório per relationen: à época do CPC/73 admitia-se a validade das decisões em que o juiz se reportava ao relatório feito em outra decisão do processo, desde que isso não ocasionasse nenhum prejuízo às partes. Para o prof. Fredie Didier Jr., em um sistema que valoriza o precedente judicial (como faz o CPC/15), a importância do relatório deve ser revista, já que a identificação da causa é indispensável para que se possa decidir sobre a aplicação ou não do precedente. Então, alguns doutrinadores trabalham com a hipótese de não ser mais possível perante o CPC de 2015 a elaboração de um relatório per relationen, em que o juiz apenas faz menção a um outro relatório proferido em outra decisão judicial dentro do mesmo processo. Isso porque o CPC de 2015 valoriza o sistema de precedentes, e o relatório se faz necessário para identificar a causa perante os jurisdicionados, e então, se houver qualquer situação que diferencie daquela que deu origem ao precedente, pode ser que naquele caso concreto, o precedente não se aplique. Fundamentação: A garantia de motivação das decisões judiciais possui natureza de direito fundamental (art. 93, IX, CF, que diz que toda decisão judicial deve ser fundamentada), sendo consectário da garantia do devido processo legal e manifestação do Estado de Direito. Então, a decisãosó se legitima por meio da fundamentação, por meio da motivação apresentada pelo magistrado, pois é ela que expõe os motivos daquela decisão do magistrado. A fundamentação possui duas funções: a) Função endoprocessual: a fundamentação possibilita que as partes controlem as decisões por meio dos recursos cabíveis, bem como permite que o órgão julgador do recurso tenha subsídio para manter/reformar a decisão. Aqui se fala da importância da fundamentação dentro do próprio processo. b) Função extraprocessual (ou exoprocessual): a fundamentação permite o controle da decisão judicial pela via difusa da democracia participativa, exercida pelo povo em cujo nome a sentença é proferida. Visto que, quando o juiz profere uma decisão, ele estará atuando em nome do Estado, afinal de contas, o monopólio da jurisdição pertence ao Estado, mas como o Estado é uma pessoa jurídica de direito público interno, ele não pode exercer por si a função jurisdicional, por isso ele entrega essa função aos agentes estatais, que são exatamente os juízes, o Estado por sua vez, recebe esse poder jurisdicional do povo, até por que a soberania é popular, mesmo que ela seja exercida indiretamente, então esse povo tem o direito constitucionalmente assegurado de controlar as decisões judiciais, fazendo isso através da fundamentação, visto que é essa que irá mostrar para a população em geral se o magistrado está ou não está atuando de maneira devida, de maneira a atender os anseios da sociedade. Compreendida essas funções, pode-se dizer que a fundamentação é um discurso para a solução do caso (dirigido às partes, para que essas compreendam se essa decisão é justa e devida ou não) e um discurso para a formação do precedente (visto que é indispensável que se análise a fundamentação do caso no momento da formação de um precedente, e é dirigido a coletividade, afinal de contas, a partir do momento em que o precedente se formou, ele passa a ser de observância obrigatória pelos juízes e tribunais em situações idênticas que se apresentam). Racionalidade e controlabilidade: A racionalidade da fundamentação se encontra na exigência de que a decisão parta de princípios racionais comumente aceitos e reconhecidos pela cultura média daquele tempo e lugar em que se atua. Ou seja, é uma forma de controlar a decisão do magistrado no momento de avaliar a prova, os fatos e os argumentos. A controlabilidade se torna viável se a motivação da decisão for compreensível, pública e acessível. Por tal razão, não deve ser elaborada numa linguagem estritamente técnico- jurídica, a fim de permitir não apenas o controle interno, mas também o controle difuso e social das decisões judiciais, para que assim se garanta a função exoprocessual da fundamentação. Conteúdo da fundamentação: 1. Fundamentação de admissibilidade e fundamentação de mérito: Primeiro deve o juiz apreciar as questões processuais suscitadas pelas partes ou cognoscíveis de ofício. Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Então, a decisão com base em fundamento a respeito de qual não se tenha dado as partes oportunidade de se manifestar é passível de invalidação. Se houver qualquer vício formal insanável, o juiz decretará a inadmissibilidade do procedimento, o que ensejará, como regra, a extinção do processo sem resolução de mérito. Temos a fundamentação de admissibilidade e a fundamentação de mérito, na fundamentação de admissibilidade diz respeito a presença ou não de questões de natureza processual (requisitos de admissibilidade para que o processo possa seguir de maneira válida e regular) faltando qualquer uma dessas, o juiz pode verificar se o vício é sanável ou não. Se estivermos diante de um vício processual sanável, o juiz irá mandar corrigi-lo, e uma vez sanado, o processo segue normalmente para a apreciação do mérito. Agora, se o juiz verificar a presença de um vício insanável, nessa situação normalmente teremos a solução do processo sem resolução de mérito, e aí teremos a fundamentação de admissibilidade, onde o juiz deverá fundamentar a sua decisão de extinção do processo sem resolução de mérito no fato de que está diante de um vício insanável, que impede o prosseguimento da demanda para a apreciação do mérito. Só se estivermos diante de um juízo de admissibilidade positivo é que o juiz poderá, em um segundo momento, apreciar o mérito. Deve prevalecer, porém, a decisão de mérito, sempre que possível. Art. 488. Desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento nos termos do art. 485. O art. 485 trata de hipóteses em que não haverá resolução de mérito, em que o juiz não poderá apreciá-lo em virtude de vícios processuais existentes. O que o art. 488 nos traz é o chamado princípio da primazia de decisão de mérito, que vem previsto no CPC de 2015 e que deve ser observado pelo magistrado no momento de proferir a sua decisão. Sabemos que existe a fundamentação de admissibilidade e a fundamentação de mérito, e que se o juiz verificar a presença de um vício insanável ele deverá, via de regra geral, extinguir o processo sem a resolução de mérito, apresentando na sua fundamentação uma justificativa no sentido de que não foi possível admitir o prosseguimento do feito em virtude da ausência de alguma questão processual relevante para o desenvolvimento válido e regular da demanda, mas, apesar disso, o princípio da primazia da decisão de mérito deixa muito claro que o juiz, sempre que possível, deve priorizar a decisão de mérito em detrimento a uma decisão que extingue o processo sem a sua resolução em virtude de algum vício processual. O art. 488 nos diz que se o juiz fosse extinguir o processo sem resolução de mérito em virtude de um vício processual que venha a favorecer a parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento de extinção do processo sem resolução de mérito, o juiz poderá proceder na resolução de mérito, podemos citar como exemplo uma situação em que não houve citação do réu, e sabemos que a citação válida é um pressuposto processual de validade que pode inclusive ser conhecido de ofício pelo magistrado, nesse caso a ausência de citação ou a citação inválida deveria gerar a invalidação de todos os atos processuais subsequentes, porém o juiz verifica que apesar da ausência de citação ou da citação inválida ele vai julgar improcedente o pedido do autor, então nesse caso o réu não sofreria prejuízo algum decorrente da ausência ou invalidade da sua citação, e nesse caso, o réu que seria o favorecido pela invalidação dos atos que se deram posteriormente a citação inválida ou ao fato de não ter havido citação, não vai se prejudicar, já que o juiz decidiu pela improcedência do pedido do autor. Art. 4º. As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. (Princípio da primazia da decisão de mérito). Não havendo questões processuais ou tendo apreciado e rejeitado as que se apresentaram, o juiz deve passar à análise do mérito. 2. Fundamentação de fato e fundamentação de direito: Tanto nas questões de admissibilidade quanto nas de mérito, cabe ao juiz apreciar primeiro as questões de fato e, depois, as de direito. • As questões de fato a serem analisadas estão relacionadas, principalmente, com as provas realizadas no processo. Então, quando falamos em questões de fato, estas podem estar vinculadas tanto a admissibilidade (questões processuais) tanto ás questões de mérito. Quanto a fundamentação de admissibilidade, um bom exemplo é quando o juiz analisa se háou não tramitação simultânea de ações idênticas (para o juiz identificar que ações são idênticas deve-se analisar as partes, pedido e causa de pedir, sendo iguais, as ações são idênticas) então, para o juiz verificar se há essa situação de litispendência (duas ações idênticas tramitando ao mesmo tempo), deverá analisar os fatos, para analisar se os fatos tratados em uma demanda são exatamente iguais aos fatos tratados na outra (que são a chamada causa de pedir remota). Quanto á fundamentação de mérito, temos como exemplo o juiz verificar os elementos da responsabilidade civil (se for uma responsabilidade subjetiva o juiz deverá analisar o ato ilícito, o dano, o nexo de causalidade entre o ato ilícito e o dano e a culpa) então, são questões de fato que devem ser analisadas pelo magistrado e que estão ligadas ao mérito da demanda. Se ao final da instrução, o juiz verificar que um determinado fato não ficou provado (nem por atuação das partes e nem por atuação de ofício do juiz), deve-se aplicar as regras sobre ônus da prova, e ele vai aplicar o ônus á aquele que devia ter feito prova do fato e não o fez, por exemplo se disse respeito a um fato constitutivo do direito, caberia o ônus da prova ao autor, se fosse fato extintivo, modificativo ou impeditivo do fato, caberia a prova ao réu, então, se a parte que deveria fazer a prova do fato não o fez, o juiz irá aplicar o ônus em seu desfavor, se aquele fato for indispensável ao julgamento da causa. Depois de apreciadas as questões de fato, deve o juiz analisar as questões jurídicas ligadas à admissibilidade ou ao mérito e verificar: a) Qual a norma aplicável aquele caso concreto; b) Quais os efeitos podem ser extraídos da incidência dessa norma, visto que a partir do ponto em que o juiz pega a norma em abstrato e aplica ao caso concreto, haverá um esforço interpretativo para tal. c) Resolver possível questão de compatibilidade constitucional da norma jurídica apontada e eventual conflito normativo apontado. • Ao analisar as questões de direito, o juiz pode, por exemplo, dar à situação fática narrada e comprovada nos autos qualificação jurídica diversa da proposta pelo autor. Aqui falamos a respeito da causa de pedir, e quanto a essa vigora no ordenamento jurídico brasileiro a chamada teoria da substanciação, que pode ser explicada através do brocardo “dai-me os fatos que eu lhe darei o direito”, então, por essa teoria é plenamente possível que o juiz, ao analisar as questões jurídicas, ele confira aos fatos narrados pelas partes uma qualificação jurídica diferente daquela que foi trazida por estas. Enunciado 282 do Fórum Permanente dos Processualistas Civis: “Para julgar com base em enquadramento normativo diverso daquele invocado pelas partes, ao juiz cabe observar o dever de consulta, previsto no art. 10.” O art. 10 diz que mesmo nas hipóteses em que o juiz possa decidir de ofício, ele deve, necessariamente, dar as partes oportunidade de se manifestar antes de proferir a sua decisão, isso é uma garantia de contraditório e ampla defesa. Então, esse enunciado nos diz que se o juiz for aplicar a teoria da substanciação e conferir aos fatos narrados pela parte uma qualificação jurídica diferente daquela que a parte deu aos fatos, o juiz deve, antes de proferir essa decisão, dar as partes a oportunidade de se manifestar sobre ela. Esses enunciados não têm força normativa, mas é uma interpretação que os processualistas estão dando a esse dispositivo. Decisão sem fundamentação: A ausência de fundamentação invalida a decisão (art. 93, IX, CF, que traz a exigência da motivação das decisões judiciais). Da mesma forma, a decisão com fundamentação deficiente (aquela que não é capaz de justificar racionalmente a decisão) e a ausência de correlação entre a fundamentação e decisão, são atos viciados, que podem gerar a invalidação da decisão. Enunciado 10 do ENFAM (Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados) - A fundamentação sucinta não se confunde com a ausência de fundamentação e não acarreta a nulidade da decisão se forem enfrentadas todas as questões cuja resolução, em tese, influencie a decisão da causa. O art. 489, §1º, CPC traz um rol exemplificativo de decisões não fundamentadas, já que tem por objetivo concretizar o direito fundamental à motivação das decisões judiciais (art. 93, IX, CF). Exemplos de decisão não-fundamentada: Art. 489, § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; É essencial que o juiz explique o motivo da escolha da norma, não bastando a indicação da lei ou do enunciado que fundamenta o julgado. Ele precisará fazer uma correlação, mostrando para as partes por que aquela norma prevista em abstrato no ordenamento jurídico foi aplicada a aquele caso concreto. II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; Os conceitos vagos podem abranger diversas situações concretas. Por isso, a necessidade de que o juiz explique o motivo da incidência do conceito no caso concreto, evitando arbitrariedades em sua decisão. III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; O juiz deve justificar o seu posicionamento, não podendo apenas proferir uma decisão padrão. Deve justificar a sua decisão de maneira clara e precisa, mostrando que conhece bem o caso concreto e baseou a sua decisão nos fatos que ali se apresentaram. Do contrário, a mesma se mostraria inútil. IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; O juiz tem o dever de apreciar as alegações das partes e confrontá-las com o caso concreto e com a lei, principalmente aquelas que levariam a uma conclusão diferente, então, todos os argumentos que o juiz decidir contra, deverão ser refutados individualmente e justificadamente. Não se admite a fundamentação incompleta. “Nula é a sentença que, julgando improcedente a ação, abstém-se de examinar um dos fundamentos, apresentado como causa de pedir.” (STJ, 3ª Turma, Resp 14.825/PR, DJU 02/12/1991). Enunciado 12, ENFAM - Não ofende a norma extraível do inciso IV do § 1º do art. 489 do CPC/2015 a decisão que deixar de apreciar questões cujo exame tenha ficado prejudicado em razão da análise anterior de questão subordinante. Esse enunciado quer dizer que se a fundamentação do magistrado, em seu conjunto, já automaticamente rechaçar aquela causa de pedir específica ou aquele fundamento de defesa específico, não haverá necessidade de que o juiz fundamente a sua decisão especificamente em relação á aquela causa de pedir ou fundamento de defesa, visto que aquela questão já foi rebatida pelo magistrado considerando a sua fundamentação em seu conjunto, ou seja, quando ele analisou as outras questões, automaticamente passou por aquela. Enunciado 13, ENFAM - O art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015 não obriga o juiz a enfrentar os fundamentos jurídicos invocados pela parte, quando já tenham sido enfrentados na formação dos precedentes obrigatórios. Então, se estivermos diante de um caso concreto em que a situação exija a aplicação de um precedente obrigatório, e aqueles fundamentos trazidos pela parte já foram enfrentados no momento de se constituir o próprio precedente, não haverá necessidade, segundo esse enunciado, de que o juiz os aprecie novamente, basta que se busque o inteiro teor da decisão que deu origem a aquele precedente para que se veja que aquelas questões trazidas pelas partes já foram examinadas e discutidas na decisão judicial que deu origem ao precedente. V - se limitar a invocarprecedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; O juiz deve demonstrar a semelhança do caso concreto com o precedente ou com o quadro fático que ensejou a elaboração da súmula, para justificar sua utilização. VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. O juiz não pode ignorar precedentes e súmulas, devendo demonstrar que o caso apresenta peculiaridades em relação àquele do precedente ou que a tese tratada anteriormente já se encontra superada. Ou seja, se a parte, no momento de elaborar a sua petição inicial, ou no momento de contestar, trouxe um enunciado de súmula ou um precedente obrigatório para justificar a decisão do magistrado, caso o magistrado vá decidir em sentido contrário a aquela sumula ou precedente, ele não poderá pura e simplesmente decidir ao contrário, ele deverá mostrar para as partes, na sua fundamentação, o motivo pelo qual ele não está as aplicando ao caso concreto (distinguishing), seja por não haver semelhança entre a súmula ou precedente e o caso concreto ou por estes já terem sido superados pelo STF ou STJ (overruling). Da conjugação dos incisos V e VI do §1º do art. 489, CPC, tem-se o seguinte: a) Ao invocar um precedente como argumento ou como norma jurídica aplicável ao caso concreto, deve o juiz demonstrar, por meio do distinguishing (método de contraposição), que a ratio decidendi se aplica a esse caso (art. 489, §1º, V). Então, o juiz terá que demonstrar por meio desse método de contraposição que a razão de decidir se aplica ao caso, e para isso ele deve mostrar que aquele caso concreto possui peculiaridades e distinções que fazem com que ali não se aplique determinado precedente ou enunciado de súmula que tenha sido invocado pela parte. b) Se algum sujeito processual invocar um precedente como norma jurídica, a sua não aplicação ao caso concreto dependerá da realização de distinguishing (resultado), ou seja, da demonstração de que não há semelhança contextual entre o paradigma e o caso posto, ou da demonstração de overruling ou overriding (superação) (art. 489, §1º, VI). Enunciado 09, ENFAM - É ônus da parte, para os fins do disposto no art. 489, § 1º, V e VI, do CPC/2015, identificar os fundamentos determinantes ou demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento, sempre que invocar jurisprudência, precedente ou enunciado de súmula. O que esse enunciado faz é atribuir ás próprias partes o dever de indicar o overrruling ou o distinguishing do precedente, então se a parte invocou o precedente que for, cabe à parte contrária demonstrar para o juiz a existência da distinção entre o caso que deu origem ao precedente e o caso concreto, ou a superação do precedente. Enunciado 11, ENFAM - Os precedentes a que se referem os incisos V e VI do § 1º do art. 489 do CPC/2015 são apenas os mencionados no art. 927 e no inciso IV do art. 332. O art. 927 elenca quais são as decisões judiciais que são passíveis de formação de precedentes: Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; II - os enunciados de súmula vinculante; III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados. § 1º Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, § 1º , quando decidirem com fundamento neste artigo. § 2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese. § 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica. § 4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia. § 5º Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede mundial de computadores. Já o art. 332, IV fala das hipóteses de improcedência liminar do pedido, e ao falar sobre elas, coloca que uma das hipóteses seria quando um pedido contraria um precedente obrigatório, e os elenca da seguinte maneira: Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. Outros exemplos de decisão não-fundamentada: a) Quando o juiz não expõe um juízo de valor sobre as provas produzidas pela parte vencida. No momento em que o juiz vai proferir a sua decisão, ao fundamentá-la, ele deve mostrar por que, naquele caso concreto, ele não valorou as provas produzidas pela parte vencida, ou que a prova apresentada por aquela parte não foi o suficiente para demonstrar a verdade das suas alegações. O juiz não pode proferir uma decisão contra a parte sem mostrar para ela o motivo pelo qual ele afastou as provas por ela produzidas, caso contrário essa decisão seria considerada não fundamentada e poderia ser invalidada. b) Quando não esclarece a ponderação feita em caso de conflito normativo. Se no caso concreto houver conflito entre normas, o juiz na hora de decidir terá de fazer uma ponderação dessas normas, aplicando os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade fazendo uma ponderação, e assim mostrar para a parte o porquê de ter aplicado uma norma em detrimento da outra, em casos onde as normas entram em conflito. Se ao realizar a fundamentação o magistrado não faz essa ponderação nos casos em que há normas conflitantes regendo a situação em concreto, essa decisão também é deficiente ou ausente de fundamentação e ela pode ser invalidade nos termos do art. 93, IX da CF. Temos como exemplo o caso em que um indivíduo se recusa a receber transfusão sanguínea devido a sua religiosidade, nesse caso o magistrado terá que ponderar entre dois direitos fundamentais que são o direito à vida e a liberdade de culto, assim, na sua decisão deverá fundamentar por que um direito preponderou sobre o outro. Art. 489, §2º. No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão. c) Quando não explica a incompatibilidade entre a norma constitucional e a norma infraconstitucional. Então se termos uma incompatibilidade entre norma constitucional e norma infraconstitucionalo juiz deverá demonstrar essa incompatibilidade, sob pena de proferir uma decisão não fundamentada. d) Quando altera orientação jurisprudencial sem fundamentação adequada e específica, conforme exigido pelo art. 927, §4º, CPC, que fala sobre a observância obrigatória pelos juízes e tribunais ao sistema de precedentes. Então, se o juiz vai alterar uma orientação jurisprudencial, ele deverá apresentar uma fundamentação adequada e específica, demonstrando que ele altera naquele caso concreto aquela determinada orientação jurisprudencial, caso contrário a decisão pode vir a ser invalidada. O ordenamento brasileiro não admite a substituição tácita da tese jurídica (implied overruling), impondo um esforço argumentativo no sentido de se contrapor aos fundamentos que lastreavam a tese jurídica até então consolidada, sob pena de se caracterizar ausência de fundamentação, nos termos do art. 927, §4º e 489, §1º, ambos do CPC. Nesse sentido, quando o juiz altera uma orientação jurisprudencial, o ordenamento jurídico brasileiro não aceita uma substituição tácita da tese jurídica, para que o juiz faça a substituição de uma tese jurídica por outra ele deve fundamentar expressamente essa alteração. e) Na hipótese de fundamentação per relationem, quando não se atenta para circunstâncias específicas. A motivação per relationem ocorre quando o juiz se reporta, em seus fundamentos, a outro ato do processo (outra decisão ou parecer, p. ex.). Então, a fundamentação ou motivação per relationem é aquela em que o juiz, no momento de fundamentar ou de motivar a sua decisão, ele na verdade, se reporta a outra decisão já proferida naquele processo ou até mesmo de um parecer do Ministério Público por exemplo, e ele fundamenta a sua decisão com base naquela fundamentação ou motivação já exposta em outra decisão proferida pelo próprio magistrado ou parecer do MP. A propósito da motivação per relationem, há divergência entre o STF e o STJ: - Para o STF, foi preenchida a exigência constitucional de motivação das decisões judiciais e, portanto, não há nulidade quando o acórdão adota, p. ex., um parecer do MP como razão de decidir. “Reveste-se de plena legitimidade jurídico- constitucional a utilização, pelo Poder Judiciário, da técnica da motivação per relationem, que se mostra compatível com o que dispõe o rt. 93, IX, da Constituição da República.” (STF, 2ª Turma, AI 825.520 AgR-ED/SP, Dje 09/09/2011). - Para o STJ, considera-se nulo o acórdão, por ausência de fundamentação, a motivação per relationem mediante simples e vaga remissão a alguma decisão ou parecer constante do processo, pode se basear nesta, porém precisa de fundamentação completa. “Na hipótese dos autos, o acórdão proferido é nulo por ausência de fundamentação, uma vez que se limita a fazer referência à sentença, em formato genérico de resposta judicial, sem a reprodução de nenhum trecho do julgado e sem apresentar motivação própria. Essa situação possibilita, inclusive, a fácil multiplicação de seu conteúdo em diversas outras ocasiões, com a alteração de parcas informações.” (STJ, 5ª Turma. AgRg no Resp 1.223.861/RJ, Dje 06/03/2013). Dispositivo: Dispositivo é o fecho da sentença, que contém a decisão da causa. É a conclusão do silogismo judicial, em que se examina se a pretensão formulada pelo autor na petição inicial pode ou não ser apreciada, e em caso positivo, se pode ou não ser acolhida. É preciso que haja coerência entre a fundamentação e o dispositivo. Somente o dispositivo da sentença de mérito se revestirá de autoridade de coisa julgada material. No dispositivo o juiz poderá invalidar o processo (falta de pressuposto processual), declarar sua extinção, julgar o pedido procedente ou improcedente. O dispositivo pode ser: • Direto: quando especifica a prestação imposta ao vencido. Então quando o dispositivo além de julgar procedente ou improcedente o pedido, ele especifica a prestação imposta ao vencido, ele será direto. • Indireto: quando o juiz apenas se reporta ao pedido do autor para julgá-lo procedente ou improcedente. Teoria dos capítulos de sentença: A decisão judicial, embora formalmente única, em algumas situações admite uma cisão material, que serão os diversos capítulos que formam a sentença: a) Quando a decisão contém o julgamento de mais de uma pretensão. Como por exemplo um autor que requereu em sua petição inicial indenização por danos materiais e também por danos morais, nesse caso, essas duas pretensões darão origem a dois capítulos de sentença, um referente ao dano moral e um referente ao dano material. b) Quando a pretensão, embora única, seja decomponível, como nos casos de contagem, medição, pesagem, ou qualquer ordem de quantificação. Como por exemplo no caso de o autor requerer 10 mil reais a título de indenização e o juiz deferir apenas 6 mil reais, implicitamente teríamos o capítulo que defere os 6 mil reais e o capítulo que indefere os 4 mil reais restantes, essa separação em capítulos é importante para a interposição de recurso, pois o réu pode recorrer do capítulo que deferiu o pagamento dos 6 mil reais e o autor recorrer do capítulo que indeferiu os 4 mil reais. c) Quando o juiz, independente da quantidade de pretensões, analisa questões processuais e as repele, passando a analisar o objeto litigioso. No momento em que o juiz rejeita uma preliminar de mérito, uma questão processual que tenha sido levantada pela parte e passa a apreciação do mérito, teremos dois capítulos de sentença, aquele que decidiu acerca da questão processual e aquele que decidiu acerca da questão de mérito. Se for feita uma análise mais atenciosa, percebemos que em todas as vezes que o juiz analisou o mérito, a bem da verdade ele admitiu aquela demanda, do ponto de vista processual, afinal, o juiz só pode passar para a apreciação do mérito se ele verificar antes que não existem vícios processuais que sejam capazes de impedir o julgamento da causa, então nesse caso, se for implícita a admissibilidade do procedimento, não iremos falar em dois capítulos de sentença, visto que no processo civil brasileiro não se admite decisão implícita, tendo em vista a exigência de motivação das decisões judiciais, então, nesses casos só teremos dois capítulos de sentença se o juiz explicitamente decidiu acerca de uma questão processual, rejeitou essa questão processual arguida pela parte e passou a apreciação do mérito. De acordo com Fredie Didier Jr., “capítulo de sentença é toda unidade decisória autônoma contida na parte dispositiva de uma decisão judicial. ” A decisão é homogênea quando contém apenas os capítulos puramente processuais ou capítulos de mérito. É, por sua vez, heterogênea, quando contém tanto capítulos processuais como capítulos de mérito, como no caso em que o juiz repele a questão processual e analisa o mérito, seja para acolher ou negar os pedidos formulados pelo autor. É possível falar ainda em uma cisão jurídica do dispositivo, quando, por exemplo, o pedido imediato (provimento jurisdicional a ser requerido) pode ser dividido em duas partes: um capítulo que reconhece o direito do autor e outro que lhe nega, num primeiro momento, o direito de exigi-lo, porque não vencido, como por exemplo, quando a parte busca o reconhecimento de uma dívida, que, entretanto, ainda não venceu, o juiz em um primeiro momento irá reconhecer o direito da parte de pleitear aquela quantia, mas que apenas poderá ser cobrada em juízo quando a mesma vencer e se tornar exigível. A categoria dos capítulos de sentença foi expressamente incorporada pelo CPC/15 (ver arts. 966, §3º, 1013, §1º e 1034, parágrafo único). Alguns exemplos de aplicação prática da teoria dos capítulos de sentença: a) Se a decisão for ultra petita (juiz defere mais do quefoi pedido), basta que se retire o capítulo em excesso, mantendo o outro que obedeceu aos limites da demanda, uma vez que o pedido limita a atuação do órgão julgador. Temos como exemplo uma ação em que foi pleiteado 25 mil reais a título de indenização e o juiz deferiu 30 mil reais, o capítulo que defere os 5 mil reais excedentes deve ser invalidado. b) Possibilidade de resolução antecipada parcial do mérito (art. 356, CPC). Essa pretensão que foi resolvida antecipadamente dá origem a um capítulo de sentença, este que pode ser objeto, em tese, de recurso, ou também de execução imediata. c) Na teoria dos recursos, a interposição de recurso parcial faz com que, em regra, haja preclusão quanto à discussão sobre os capítulos não impugnados. d) A ação rescisória pode ter por objeto apenas um ou alguns dos capítulos da decisão (art. 966, §3º, CPC). A ação rescisória tem por objetivo desconstituir uma sentença já transitada em julgado, que é permitida apenas nas hipóteses previstas em lei. Essa ação pode dizer respeito a apenas um ou alguns dos capítulos de sentença, sendo assim, proposta apenas em face destes. e) Quando há sucumbência recíproca, responderá o autor pelas despesas e honorários relativos ao capítulo em que foi sucumbente, cabendo ao réu arcar com as despesas quanto ao capítulo em que se viu vencido. f) Mesmo havendo sucumbência total, é possível que somente o capítulo quanto às despesas e honorários seja objeto de recurso pelo vencido. g) Na execução, o capítulo que impõe a obrigação de pagar quantia deverá sujeitar-se à execução nos termos do art. 523 e ss., CPC, enquanto o que impõe obrigação de fazer ou dar coisa seguirá o art. 536, CPC. h) Havendo um capítulo líquido e outro ilíquido, é possível ao credor promover a liquidação deste e a execução daquele (art. 509, §1º, CPC). Condições formais da sentença: A decisão judicial deve ser clara e precisa, do contrário, admite-se a interposição de embargos de declaração, para sanar obscuridade ou contradição (art. 1022, CPC). Então, apesar de não termos um dispositivo no CPC de 2015 que traga a exigência de que a decisão seja clara e precisa, isso decorre, além da própria lógica sistemática das decisões judiciais, da própria ideia de possibilidade de interposição dos embargos de declaração, o art. 1.022 do CPC diz que se pode interpor embargo de declaração para sanar omissão, obscuridade, contradição ou erro material em qualquer decisão judicial, mas aqui, mais especificamente quando se cobra que a decisão judicial seja clara e precisa, os embargos de declaração irão atuar principalmente nos casos em que houver obscuridade ou contradição. 1) Clareza: é clara a sentença que se apresenta inteligível, compreensível, evitando interpretações ambíguas ou incertezas. Esse fator é muito importante para que se possa haver a controlabilidade das decisões judiciais, tanto interno quanto externo. 2) Precisão: refere-se à certeza da decisão. A sentença é incompatível com a dúvida. Decisão incerta, torna a sentença inexequível. Art. 492, parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional. Ademais, para a sentença ser precisa, deve estar dentro dos limites do que foi pedido. Não pode dar o que não foi pedido, nem mais do que se pediu, e nem tampouco deixar de decidir sobre parte do pedido. Sendo assim, é vedada a prolação de sentença extra, ultra ou citra petita. Então, quando falamos que a sentença deve ser precisa, se quer dizer que ela deve ser proferida nos exatos limites do que foi pedido, isso está ligado ao chamado princípio da congruência (também chamado de princípio da adstrição) que diz que o pedido formulado pela parte limita a atuação do órgão julgador. Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. O CPC/73 trazia regra que impedia o juiz de proferir sentença ilíquida, quando o autor formulava pedido certo (art. 459, parágrafo único). Como o CPC/15 não reproduziu essa regra, há quem entenda (como Humberto Theodoro Jr., p. ex.), que o juiz pode acolher genericamente o pedido certo, quando não encontre elementos na prova para quantificar a condenação em termos exatos. Em contrapartida, mesmo diante de pedido genérico do autor (nos casos em que a lei permite, no art. 324, §1º) o juiz deve proferir condenação líquida, desde que haja no processo elementos que definam o montante da obrigação. A precisão da sentença no caso de obrigação de pagar quantia certa: Art. 491 Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso. Da leitura do art. 491, caput, do CPC, pode-se deduzir que a condenação relacionada com obrigação por quantia certa deverá ser líquida, não importando se o pedido foi líquido ou genérico. Então, se tivermos uma obrigação por quantia certa, regra geral, essa sentença deve ser sempre que possível líquida, ainda que o autor tenha formulado pedido ilíquido ou pedido genérico. Ademais, ainda que a condenação seja genérica, a sentença deverá conter os elementos necessários à determinação da extensão da obrigação, no que se refere ao principal e acessórios. Art. 491, § 2º O disposto no caput também se aplica quando o acórdão alterar a sentença. Esse parágrafo nos traz a informação de que essas mesmas regras que se aplicam a sentença também se aplicam ao acórdão. A condenação relacionada com obrigação de pagar quantia certa somente poderá ser ilíquida ou genérica em duas situações previstas no art. 491, CPC, quais sejam: Art. 491. Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso, salvo quando: I - não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido; Regra geral, o juiz deve proferir sentença líquida, mesmo que o autor tenha formulado pedido genérico, sempre que possível, se o juiz puder quantificar com base nas provas produzidas nos autos o valor da condenação. Porém há hipóteses que tanto o autor formulando pedido certo quanto genérico não será possível para o juiz proferir sentença líquida, pois, não é possível determinar, de modo definitivo, o montante devido, mas, mesmo proferindo sentença ilíquida, mas os parâmetros mínimos já devem estar determinados na sentença judicial. II - a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na sentença. Nessa segunda hipótese se faz necessária a produção de uma prova ou muito dispendiosa ou demorada, e que em virtude disso o juiz prefere deixar para que ela seja produzida em um outro momento, chamado de fase de liquidação de sentença, em que será produzida para que o juiz chegue ao montante que deverá ser pago. § 1º Nos casos previstos neste artigo, seguir-se-á a apuração do valor devido por liquidação. Ou seja, mesmo genérica, sentença ilíquida deve ser precisa, tanto quanto possível, acerca da extensão da prestação imposta à parte, ainda que seu montante não tenha sido definido. Não se admite, p. ex., sentença que vagamente condenam a perdas e danos, sem esclarecer a sua extensão. Sentença condenatória ilíquida: No CPC/15 há sentenças líquidas (o valor é determinado) ou ilíquidas (o valor será posteriormente apurado). Para que se possa proceder ao cumprimento de sentença faz-se necessário antes aapuração do quantum debeatur, já que a execução reclama sempre título de obrigação líquida, certa e exigível (art. 783, CPC). Então, se o juiz profere uma sentença ilíquida, uma sentença na qual se sabe que o direito foi reconhecido, mas não se sabe qual o valor da condenação, necessariamente, antes de se iniciar a execução dessa sentença, se deve passar pela fase ou incidente de liquidação de sentença, visto que, para se promover uma execução se faz necessário que a obrigação que está sendo exigida seja líquida, certa e exigível. A certeza está ligada aos elementos da obrigação, então, todos os parâmetros da decisão judicial devem estar ali presentes para que a obrigação seja certa, a exigibilidade se dá no sentido de que a obrigação já deve estar vencida, se ela estiver sujeita a termo ou condição, a parte terá que provar que o termo ou a condição já se implementaram, para que assim possa executar a obrigação e por fim a liquidez, que determina qual é o valor da condenação (nos casos de obrigação de pagar quantia certa). Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor. A liquidação da sentença poderá ser requerida independente do trânsito em julgado, na pendência de recurso. Nós temos a chamada liquidação de sentença definitiva e a liquidação de sentença provisória. Liquidação de sentença definitiva: Quando a liquidação de sentença é feita para apurar o valor devido em uma sentença já transitada em julgado. Então, se tivermos uma decisão judicial já transitada em julgada que reconhece o direito do autor a receber determinada quantia, mas não diz qual o valor devido, teremos a liquidação de sentença definitiva. Liquidação de sentença provisória: É a liquidação de sentença que ocorre na pendência de recurso não dotado de efeito suspensivo. A liquidação de sentença é realizada através de um simples incidente complementar do processo em que se profere condenação genérica, sendo a decisão nela proferida passível de agravo de instrumento (art. 1015, parágrafo único, CPC). Isso tudo dentro do chamado processo sincrético, que é dividido em fase de conhecimento e fase de execução, mas, se o juiz, na fase de conhecimento profere uma sentença ilíquida, antes de se iniciar a fase de execução, haverá necessidade de que se proceda na chamada fase de liquidação de sentença. A precisão da sentença que tenha por objeto obrigação de fazer ou não fazer: Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente. Esse artigo determina de maneira clara que, nas obrigações de fazer ou de não fazer, o que se busca é o cumprimento da obrigação in natura, ou seja, o que se busca é a tutela específica, ou não sendo possível a tutela específica, a tutela pelo resultado prático equivalente (que um terceiro cumpra a obrigação do devedor ás suas custas) e somente em último caso que a parte terá que converter essa obrigação de fazer em perdas e danos, visto que, a ideia do legislador é buscar que tais sejam cumpridas através do cumprimento da tutela específica, de forma a impedir o simples pagamento de multas contratuais ou de perdas e danos, estes que seriam apenas execuções paliativas, pois se, o que se busca é a efetividade do processo e essa efetividade se traduz em “dar a cada um o que é seu de direito no menor espaço de tempo possível”, o processo será tanto mais efetivo quanto se aproximar da tutela específica. O tratamento processual dispensado a tais obrigações é o da garantia da tutela específica, de modo a impedir, num primeiro momento, o simples pagamento de multas contratuais ou perdas e danos. Ademais, sobre a concessão de tutela inibitória, determina o parágrafo único do art. 497: Art. 497, p. único: Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo. A ideia da tutela inibitória é proibir ou inibir a prática de um ato ilícito ou a continuação da prática daquele ato ilícito. No momento em que o magistrado defere uma tutela específica, buscando inibir uma conduta ilícita, impedir a sua continuação ou praticar a remoção do ilícito já realizado, não importará se a parte que tenha cometido o ilícito tenha agido com culpa ou dolo, também não é necessário demonstrar que a parte que pleiteia a tutela específica já tenha sofrido algum tipo de dano, independentemente disso a tutela inibitória deve ser deferida pelo magistrado, pois o que se busca alcançar é a tutela específica, que é o cumprimento de uma obrigação de fazer ou de não fazer. art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente. Ou seja, é somente em um segundo momento que se pode buscar a conversão em perdas e danos, primeiro se busca a tutela específica e depois a prestação equivalente ás custas de quem deveria cumprir com a obrigação. Art. 500. A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa fixada periodicamente para compelir o réu ao cumprimento específico da obrigação. Como visto, a conversão em perdas e danos se dará em duas situações, ou a requerimento do credor ou por que a execução da obrigação se tornou impossível, de todo modo, enquanto foi requerida a tutela específica, é possível que a parte requeira ou o próprio juiz fixe de ofício uma multa diária, também chamada de astreintes, esta que tem por objetivo forçar o cumprimento da obrigação. Se a parte requerer a conversão em perdas e danos, essa indenização será dada sem que se prejudique a multa fixada para forçar o cumprimento da obrigação, isso por que a astreinte tem natureza coercitiva e as perdas e danos tem caráter reparador, então, como elas tem naturezas jurídicas distintas, uma não prejudicará a outra. Admite-se também, antes da sentença definitiva, a tutela provisória de urgência, sob a forma de liminar, desde que presentes o “fumus boni iuris” e o “periculum in mora” (art. 300, CPC). A medida liminar e a sentença podem ser reforçadas com a imposição de astreintes ao réu. Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável para cumprimento do preceito. Para a aplicação da astreinte não necessariamente deve haver requerimento da parte, podendo essa ser fixada de ofício pelo magistrado, se esse entender que essa multa é necessária para forçar o cumprimento da obrigação específica ou a tutela pelo resultado prático equivalente. Porém isso não impede que o credor requeira ao magistrado a fixação dessa multa, se ele entender que é necessária ou que ela pode facilitar a obtenção da obrigação in natura. A fixação dessa multa contribui para a efetividade do processo, que é dar a cada um o que é seu de direito no exato limite do que cada um tem direito a receber e no menor espaço de tempo possível. Esse artigo ainda nos coloca que as astreintes podem ser fixadas tanto no processo de conhecimento quanto no de execução, na fase de conhecimento elas podem ser fixadas na tutela provisória ou também na sentença, já na fase de execução também é possível que o juiz as fixe, se entender que isso se faz necessário para forçar o cumprimento da obrigação. Também nos é trazido que antes do juiz fixar o termo inicial para o cumprimento das astreintes,deve conceder um prazo razoável para que a parte devedora possa cumprir espontaneamente com a sua obrigação. § 1º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que: Esse parágrafo confere ao juiz a possibilidade de, de ofício ou a requerimento da parte interessada, modificar o valor ou a periodicidade da multa vincenda, ou até mesmo excluí-la. O juiz poderá fazer isso nas seguintes situações: I - se tornou insuficiente ou excessiva; Como por exemplo, nos casos em que a multa estipulada tem um valor muito baixo e a parte que sofre com ela não se sente efetivamente forçada a cumprir com a sua obrigação, nesse caso a multa é insuficiente. O contrário também é verdade, se o juiz verificar que, para o credor o recebimento da multa passa a ser mais interessante que insistir no cumprimento da obrigação de fazer, verificará o juiz que a multa se tornou excessiva e o credor passa a ter um enriquecimento injustificado ao contrário do devedor que passa a ter um empobrecimento injustificado, nesse caso o juiz também poderá alterar o valor da multa, sendo no seu valor ou na sua periodicidade, em ambos os casos. Além disso, o magistrado analisando o caso concreto também poderá excluir a multa, se ele verificar que ela é excessiva, que está gerando enriquecimento ou empobrecimento indevido etc... II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou justa causa para o descumprimento. Pode ocorrer que o devedor, após o prazo fixado pelo magistrado, tenha cumprido ainda que parcialmente a obrigação, então, o juiz poderá verificar que diante do cumprimento parcial daquela obrigação, aquela multa se tornou excessiva, e que vai acabar gerando um empobrecimento sem causa por parte do devedor (e via de consequência um enriquecimento sem causa do credor), isso também poderá se dar quando o devedor apresenta uma justa causa para o descumprimento daquela obrigação, podendo o juiz até mesmo excluir a multa que foi fixada. § 2º O valor da multa será devido ao exequente. A astreinte, uma vez fixada e executada será revertido em proveito do credor, isso porque é ele o maior prejudicado com o descumprimento da obrigação dentro do prazo fixado pelo magistrado. § 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte. É possível a execução provisória da multa diária. Isso significa que a decisão ainda não transitou em julgado, por ter sido fixada, por exemplo, em uma tutela provisória ou ainda em uma sentença alvo de recurso sem efeito suspensivo, em uma situação como essas, o credor poderá promover imediatamente a execução das astreintes. Essa execução é chamada de provisória pois é ainda passível de sofrer reforma. Se a execução se der provisoriamente, o devedor deverá depositar o valor em juízo, sem que esse dinheiro seja entregue automaticamente ao credor, o que só irá acontecer se, transitada em julgado a decisão que a fixou, essa decisão for favorável ao credor. § 4º A multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimento da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado. Aqui temos o termo inicial e o termo final de cobrança da multa. O termo inicial será determinado pelo juiz, que dará um prazo razoável para o cumprimento da obrigação e findo aquele prazo para o cumprimento espontâneo, a multa começa a vigorar, e uma vez que essa multa passa a vigorar, ela só deixará de fazê-lo se for cumprida a obrigação (porém o próprio artigo 537 permite que se fixe uma periodicidade para que a multa surta os seus efeitos, podendo ser limitado, por exemplo, em 20 dias-multa). Não há objeção para que a multa supere o valor da obrigação. O juiz pode, ainda, determinar de ofício ou a requerimento da parte medidas de apoio (medidas que tem por objetivo permitir o exercício do direito do credor reconhecido pelo magistrado): Art. 536, § 1º Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial. Esse é um rol exemplificativo de medidas de apoio que podem ser fixadas pelo magistrado além das astreintes. Se necessário o juiz pode inclusive pedir o auxílio de força policial para tanto. Extensão das regras de tutela às obrigações de fazer e não fazer aos deveres de natureza não obrigacional: Art. 536, § 5º O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao cumprimento de sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de natureza não obrigacional. Sempre que a parte puder exigir da outra determinada conduta positiva ou negativa, ainda que derivem diretamente de mandamentos legais, a sentença que a imponha será executada dentro dos procedimentos aplicáveis às obrigações negociais. Regras especiais de tutela às obrigações de entrega de coisa: Para apreciação e julgamento das ações reipersecutórias, o art. 538, §3º, CPC, estendeu às obrigações de entrega de coisa as regras previstas em lei para as obrigações de fazer e não fazer. Art. 498. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação. O juiz, ao proferir uma decisão judicial onde fixa uma obrigação de entrega de coisa, dará um prazo razoável para o cumprimento da obrigação sob a pena de fixação de multa, conversão em perdas e danos etc... Parágrafo único. Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o autor individualizá-la-á na petição inicial, se lhe couber a escolha, ou, se a escolha couber ao réu, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz. Aqui refere-se a entrega de coisa incerta (pois é determinada apenas pelo gênero e quantidade), sendo que a sua qualidade deve ser determinada pela parte a quem couber a escolha da coisa. Quanto a quem cabe a escolha, será determinado pelo contrato, porém, o que a lei nos diz é que essa escolha não estiver prevista no contrato, a escolha caberá ao devedor. Se a escolha couber ao credor, este deverá individualiza-la já na petição inicial, já se a escolha couber ao devedor, esse deverá entregá-la já individualizada no prazo a ser fixado pelo magistrado. Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente. Aqui é trazido para a obrigação de entrega de coisa a mesma regra que é aplicada na obrigação de fazer e de não fazer. Se não for possível a obtenção da tutela específica ou a tutela pelo resultado prático equivalente, aí sim poderá requerer o credor a conversão em perdas e danos. As astreintes também são aplicáveis às obrigações de entrega de coisa (arts. 536, §1º e 538, §3º, CPC). Ocorrendo a inviabilização da entrega de coisa, sua conversão em indenização pelas perdas e danos se dará sem prejuízo da multa prevista (art. 500, CPC), visto que o caráter da multa e das perdas e danos são diferentes, a primeira tem caráter coercitivo e a segunda reparador. Mesma regra que se aplica as obrigações de fazer e não fazer. Não deve ser imposta a multa (astreinte), se a entrega da coisa se inviabilizou antes da condenação ou se, de antemão, o credor já optou pelo equivalente econômico. Nessas duas situações a obrigação não será cumprida in natura, que é o objetivo da fixação da multa. É possível a tutela provisória (art. 300, CPC), com base em prova documental pré-constituída, ou mediantejustificação prévia, com a citação do réu. Então, o deferimento de tutela provisória que preveja o cumprimento de uma obrigação de entrega de coisa é plenamente possível, importante é que o credor, para obter essa tutela provisória, demonstre os requisitos necessários para a sua obtenção, que são a plausibilidade do direito existir e o risco de lesão grave ou de difícil reparação, provados esses requisitos o juiz poderá deferi-la, podendo basear em documentos pré-constituídos capazes de demonstrar esses elementos ou também com a designação pelo magistrado de uma audiência de justificação prévia, para colher provas desses elementos, com a participação do réu, para que aí sim defira ou não a tutela antecipada. A fixação de multa por atraso na entrega da coisa poderá ser usada tanto na sentença quanto na concessão da tutela provisória, e sempre será vinculada a um prazo razoável para o cumprimento do preceito (art. 537, CPC). O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, empregar medidas de apoio ou pressão, como multa, apreensão de pessoas ou coisas etc, inclusive com requisição de força policial (art. 537, §1º e 538). Regra especial de tutela específica às obrigações de declaração de vontade: Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida. O art. 501, CPC se refere a qualquer promessa de contratar (embora a mais comum seja o compromisso de compra e venda), salvo aquelas que admitirem a possibilidade de arrependimento. Uma vez proferida a sentença que condenou o devedor a emitir a prometida declaração de vontade, o atendimento da pretensão do credor não mais depende do devedor, pois a sentença supre essa declaração. A sentença transitada em julgado substituirá a declaração não emitida, produzindo os efeitos jurídicos a que esta se destinava. O registro da sentença, que deve ser feito mediante mandado do juiz da causa, não é propriamente uma forma de execução, tendo apenas a função própria dos atos de registro público, quais sejam, eficácia erga omnes, transferência dominial, criação de direito real etc. Publicação, interpretação e correção da sentença: Publicação e intimação da sentença: A sentença pode ser proferida na AIJ ou nos 30 dias após a audiência, conforme art. 366, CPC: “Encerrado o debate ou oferecidas as razões finais, o juiz proferirá sentença em audiência ou no prazo de 30 (trinta) dias”. Então, caso o magistrado tenha designado audiência de instrução ou julgamento para produção de prova oral, ele poderá, ao fim da AIJ, proferir sentença imediatamente, dentro da própria audiência. Importante ressaltar que nem sempre o processo entrará na fase instrutória, podendo ser alvo de uma das hipóteses de julgamento antecipado do mérito. Ademais, se o julgamento se der independente de audiência, nos 30 dias seguintes à conclusão (quando os autos são remetidos ao gabinete do magistrado para que possa proferir decisão), em documento redigido pelo juiz (art. 354 c/c 226, III, CPC). A sentença é ato público (art. 189, CPC) e, enquanto não publicada, não produzirá qualquer efeito. Com a publicação da sentença, o juiz já não pode mais alterar o seu decisório, ou seja, o seu conteúdo (art. 494, CPC). Quando proferida em audiência, a publicação consiste na leitura da sentença, que produz o mesmo efeito daquela feita pela imprensa (órgão oficial), com ou sem a presença das partes, desde que elas tenham sido intimadas a comparecer a aquela audiência. Somente haverá necessidade de intimação pela forma usual, se o advogado não tiver sido intimado para a audiência. Regra geral, publicação e intimação são atos distintos, salvo quando a sentença é proferida em audiência, em que ambas ocorrem simultaneamente. Assim, primeiro o escrivão publica a decisão, fazendo-a integrar o processo por meio de termo de juntada lavrado nos autos e, em seguida, ocorre a intimação das partes, através dos diversos meios de comunicação autorizados por lei (imprensa, oficial de justiça, correio etc). Uma vez realizada a publicação, nos termos da lei, alguns efeitos se manifestam, quais sejam: a) Torna-se pública a prestação jurisdicional: Uma vez que a sentença foi publicada, torna-se público o conteúdo daquela decisão judicial e torna-se pública a prestação jurisdicional, que se dá com a entrega da decisão feita pelo magistrado. b) Fixa-se o teor da sentença, que se torna irretratável para o seu prolator: O próprio juiz que proferiu aquela decisão não poderá altera-la, salvo nas hipóteses em que a própria lei a interposição de embargos de declaração para que o magistrado sane alguma omissão, obscuridade, contradição ou erro material. Ao publicar a sentença de mérito, portanto, o juiz cumpre o seu ofício jurisdicional. Isso não quer dizer, contudo, que o juiz não possa praticar nenhum outro ato no processo, podendo, por exemplo, julgar os embargos de declaração contra a própria decisão, praticar atos executivos etc. Correção e integração da sentença: A lei abre duas exceções ao princípio da irretratabilidade ou imutabilidade da sentença de mérito pelo próprio julgador: Art. 494. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá- la: I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo; Então, uma vez publicada a sentença o juiz entrega a sua prestação jurisdicional e em regra não pode mais alterar a sua decisão, salvo nesse caso, onde o juiz irá corrigir inexatidões materiais ou erros de cálculo. Esse inciso permite que o juiz reveja essas questões de ofício ou também a requerimento das partes. II - por meio de embargos de declaração. Os embargos de declaração podem ser interpostos contra qualquer decisão judicial e o seu objetivo é sanar alguma omissão, obscuridade, contradição ou erro material na decisão do magistrado. Então se a parte verificar a existência de qualquer um desses vícios ela pode, por meio dos recursos de embargo de declaração, que será interposto em um prazo de cinco dias, requerer ao magistrado que sane o vício constante em sua sentença, e o juiz terá um prazo de cinco dias para julgar os embargos de declaração e corrigir aquele vício apontado, se ele verificar que de fato esse exista. Outra exceção que ocorre na prática é aquela ocasionada pelo acolhimento do recurso pelo Tribunal, quando se cassa a sentença terminativa (sem decisão de mérito) ou se anula a decisão da lide a fim de que outra sentença seja proferida pelo juízo “a quo” (de primeira instancia). Então aqui, o Tribunal julga o recursa e opta por devolver o processo ao juiz de primeira instancia para que profira outra sentença. Princípio da demanda e princípio da congruência: O princípio da demanda, que se inspira na exigência de imparcialidade, determina que o juiz não pode prestar a tutela jurisdicional senão quando requerida pela parte, essa é a regra geral. Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. Esse artigo perfeitamente elenca o princípio da demanda, quando fala que o processo, regra geral, se inicia por iniciativa da parte, porém possui algumas exceções, como por exemplo, a ação de inventário que em alguns casos pode se iniciar de ofício pelo magistrado. Mas uma vez iniciado o processo por iniciativa da parte, o processo se desenvolve por impulso oficial, o que significa dizer que é o juiz que vai tocar o processo, fase por fase, até que se chegue na prestação jurisdicional a ser entregue aos jurisdicionados. O andamento do processo feito pelo magistrado se dá através dos chamados despachos de mero expediente, que são atos judiciais que não tem conteúdo decisórioe que tem por objetivo exatamente dar andamento ao processo, através do impulso oficial. O princípio da congruência (ou adstrição) entre o pedido e a sentença determina que a sentença não pode versar senão sobre o que pleiteia o demandante, ou seja, o pedido é o limite da jurisdição. Então, o juízo não só é inerte como também deve atuar nos exatos limites daquilo que foi requerido pela parte, não extrapolando aquilo que foi objeto do pedido. Então podemos dizer que esse princípio limita a atuação do órgão julgador. Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte. Como colocado nesse artigo, se o juiz atua nos exatos limites do pedido, ele não poderá exceder o objeto do pedido (ultra petita), não podendo apreciar algo que não foi requerido pela parte, ressalvando as hipóteses em que a lei permite a iniciativa do juiz de ofício. Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. O princípio da congruência, que impede o julgamento fora (extra petita) ou além do pedido (ultra petita), é uma garantia de contraditório e ampla defesa, já que o processo deve ficar bem claro e preciso para que sobre ele possa manifestar-se a defesa do réu. Isso se dá por que quando as partes sabem que o juiz irá se manifestar exatamente dentro dos limites daquilo que foi pedido, elas terão maior segurança no momento de se manifestar, no momento de produzir provas etc... O mesmo se diz sobre o princípio da demanda, porque sua inobservância comprometeria a imparcialidade do julgador. O juiz está vinculado não apenas ao pedido, mas também à causa de pedir, não podendo solucionar o litígio com motivos diversos daqueles formulados pelas partes. Com base no princípio da congruência, Chiovenda chega as seguintes conclusões: - Ao juiz é impossível decidir a respeito de pessoas que não sejam sujeitos do processo, então, no momento em que o juiz profere decisão, aquela decisão, via de regra geral, atingirá apenas as partes do processo, ou seja, autor e réu, não beneficiando nem prejudicando terceiros. Mas como sabemos há hipóteses em que essa decisão judicial poderá afetar terceiros, hipóteses essas que o terceiro poderá inclusive intervir no feito. - É-lhe vedado conferir ou denegar coisa distinta da solicitada, isso claramente decorre do princípio da congruência, então se o juiz está limitado a aquilo que foi objeto do pedido, ele não poderá conferir nem negar a parte algo diferente do que ela solicitou, nesse caso estaríamos diante de uma sentença extra petita. - Não lhe é possível alterar a causa de pedir eleita pela parte, ou seja, não cabe ao juiz fazer a alteração da causa de pedir, em verdade, só quem pode alterar a causa de pedir é a própria parte, e isso só pode ser feito segundo as limitações já vistas. O pedido é a condição e o limite da prestação jurisdicional. Quando dizemos que o pedido é o limite da prestação jurisdicional, significa dizer que o juiz irá prestar a tutela jurisdicional, ou seja, irá conferir as partes a tutela que o Estado dá a aquele conflito de interesses, porém apenas sobre aquilo que foi limitado pela parte, mas além de ser o limite da prestação jurisdicional, é também a condição, já que pelo princípio da demanda, o juiz só age quando provocado então é condição para que ele preste a tutela jurisdicional que a parte formule requerimento destinado a solução de determinado conflito de interesses. Dessa forma, a sentença, como resposta ao pedido, não pode ficar aquém das questões por ele suscitadas (decisão citra petita), nem se situar fora delas (decisão extra petita) e tampouco ir além delas (decisão ultra petita). Referido limite alcança tanto os aspectos objetivos (pedido e causa de pedir) como os subjetivos (partes do processo). Nulidade da sentença ultra petita, citra petita e extra petita: Extra Petita A sentença extra petita incide em nulidade porque soluciona causa diversa daquela que foi proposta pelo pedido, e sabemos que o juiz só poderá dar o que foi pedido, negar o que foi pedido ou dar em parte o que foi pedido, casos em que falamos de procedência, improcedência ou parcial procedência do pedido. Então, se for pedido uma coisa e o juiz conceder outra, completamente distinta da que foi pedida, a decisão judicial será nula, por desrespeitar o princípio da congruência, fugindo dos limites da demanda. Há julgamento fora do pedido quando o juiz defere uma prestação diversa da que lhe foi postulada ou quando defere a prestação pedida, mas com base em fundamento jurídico não invocado como causa de pedir na propositura da ação. Também é extra petita a sentença que acolhe, contra o pedido, exceção não constante da defesa do réu, salvo se a matéria puder ser conhecida de ofício pelo julgador (como matérias de ordem pública, via de regra geral). Ultra Petita O vício da sentença ultra petita está no fato de o juiz ir além do que foi pedido, dando ao autor mais do que fora pleiteado. Nesse caso, a nulidade é parcial, não indo além do excesso praticado, de forma que ao julgar o recurso, o Tribunal não anulará todo o decisório, mas apenas decotará aquilo que ultrapassou o pedido. É entendimento que vem ganhando força na jurisprudência (porém ainda não pacífico) de que nos casos de indenização por dano moral não há que se falar em sentença ultra petita, visto que o valor requerido pelo autor na petição inicial seria uma simples sugestão e que na verdade, é o magistrado, com base nas suas máximas de experiência e na sua vivencia diária de situações semelhantes é que deve, ao seu prudente arbítrio, definir qual o valor a ser fixado a título de dano moral. Citra Petita A sentença citra petita, por sua vez, ocorre quando o juiz não examina todas as questões propostas pelas partes. O exame incompleto ou imperfeito de uma questão não induz, necessariamente, nulidade da sentença, já que o Tribunal pode, no julgamento da apelação, completar tal exame, em virtude do efeito devolutivo (art. 1013, §1º, CPC), este que permite ao tribunal, quando dada a apreciação do recurso de apelação analisar todas as questões que foram suscitadas e discutidas ao longo do processo ainda que elas não tenham sido objeto de decisão pelo magistrado, e é exatamente o que ocorre no caso de sentença citra petita, a questão foi suscitada e discutida ao longo do processo mas não chegou a ser apreciada pelo juiz no momento de proferir a sua sentença, mas com base nesse efeito devolutivo em profundidade, o tribunal poderia, em apelação, apreciar e examinar essa questão que não foi apreciada pelo juiz de 1º instância, e nesse caso o tribunal completaria essa sentença citra petita. Para tanto, faz-se necessário que a causa esteja madura, ou seja, para que o tribunal possa passar imediatamente a análise da questão que não foi decidida pelo juiz de primeira instância, a causa deve estar em imediatas condições de julgamento, não havendo necessidade de produção de outras provas além das que já foram produzidas no processo (art. 1013, §3º, CPC). Se a instrução já se encontra completa e encerrada, o Tribunal não deverá anular a sentença citra petita, podendo a completar. Do contrário, se a questão reclama instrução probatória ainda não realizada, o Tribunal terá que anular a sentença para ensejar a coleta de provas e a prolação de novo julgamento pelo juiz de primeiro grau. Se a parte vencedora não se interessou em impugnar a sentença citra petita, no que se refere à omissão, que só a ela interessava, não seria razoável anular de ofício um julgamento que lhe fora favorável. A lacuna no julgamento, de forma
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