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Observações Esclarecemos aqui que a maioria do material tem origem externa. Nossos comentários serão colocados em azul, para distinguir de qualquer outro escrito externo. Os textos extraídos de outros livros estarão em cinza. Além disso, no final de cada item, colocamos uma série de questões que podem ajudar na reflexão dos textos que foram lidos. Pensamos nós que as respostas das perguntas levaram, gradualmente, a um entendimento mais amplo sobre matéria e espírito. Etapas para a compreensão do assunto 1. Entendimento do termo matéria a. Primeiramente entender o uso do termo matéria na história da filosofia b. Compreender o uso do termo matéria na compreensão científica c. Compreender o uso do termo matéria na concepção espírita i. Distinguir quando Kardec usa a palavra matéria no seu sentido estrito e quando utiliza em seu sentido filosófico ii. Determinar por qual ponto de vista André Luiz e outros Espíritos utilizam o termo matéria 2. Entendimento do termo Espírito a. Compreender o significado da palavra Espírito (etimologia) b. Compreender o uso que Kardec atribui a palavra Espírito c. Compreender a relação entre o Espírito e a Matéria I. Qual o uso do termo matéria para a filosofia no decorrer da história? Consultando um dicionário de filosofia, encontramos as seguintes definições para a matéria: O termo grego Hyle (matéria em grego) foi usado, primeiramente, com os significados de _bosque, _terra florestal, _madeira. Foi usado depois também com o significado de _metal e de _matéria-prima de qualquer espécie, isto é, substância com a qual se faz, ou se pode fazer, algo. Significados análogos teve o vocábulo latino matéria, usado para designar a madeira e também qualquer material de construção. A matéria foi então concebida como uma realidade puramente sensível, ou então como uma realidade essencialmente mutável.. A consideração da matéria como o elemento no qual radicam o movimento e a diversidade dos corpos levou à ideia de matéria como massa informe dos elementos (especialmente dos quatro elementos: fogo, terra, água e ar), massa de que se supunha que surgiam depois, por diferenciação, os próprios elementos. Assim, originalmente, a palavra matéria era atribuída a todas as coisas que eram feitas de alguma substância, ou seja, feita de algo. Desta forma, matéria, na origem da filosofia, era entendido como tudo aquilo que existia, que era algo. Este tipo de conceituação era importante para diferenciar entre as coisas que eram reais e as coisas que estavam apenas na imaginação humana. 1. De que forma a palavra matéria já foi usada na filosofia? 2. Qual a utilidade da palavra matéria? 3. Por este significado filosófico de matéria, o que não é feito de matéria? II. Como a ciência compreendeu ao longo do tempo o termo matéria? A ciência, principalmente a física, tem progredido muito nos últimos dois séculos. Este progresso vem trazendo uma série de renovações conceituais. Um dos conceitos mais discutidos no século XX e no XXI é o de matéria. Isso porque através da compreensão do que ela é poderemos utiliza-la de uma maneira melhor, de forma a conduzir mais confortavelmente a encarnação, através do desenvolvimento de novas tecnologias. Em um conceito mais clássico (mais antigo) a matéria é vista da seguinte forma: Matéria é tudo que ocupa espaço e possui massa de repouso (ou massa invariante). É um termo geral para a substância na qual todos os objetos físicos consistem. Tipicamente, a matéria inclui átomos e outras partículas que possuem massa. Inércia: É a tendência do corpo de manter-se em repouso ou em movimento, se não existirem forças atuando sobre ele. As propriedades/características da matéria são: Massa: É a propriedade relacionada com a quantidade de matéria existentes em um corpo. Essa definição é simplificada. Em Física,veremos que massa de um corpo está relacionada à medida de sua inércia: quanto maior a massa de um corpo, maior a sua inércia. Extensão: É a propriedade da matéria de ocupar um lugar no espaço, que é medido pelo seu volume. Impenetrabilidade: Dois corpos não podem ocupar um mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo. Divisibilidade: Toda matéria pode ser dividida em partes cada vez menores, até certo limite. Compressibilidade e Elasticidade (expansibilidade): A propriedade da matéria de ser comprimida, isto é, ter seu volume reduzido pela ação de uma força, é chamada compressibilidade. Quando a força que provocou a compressão deixa de ser aplicada, a matéria volta ao seu volume inicial graças à propriedade chamada elasticidade. A compressibilidade e a elasticidade geralmente são imperceptíveis em corpos nos estados sólido e líquido. Descontinuidade: Toda matéria é descontínua, por mais compacta que pareça, devido à existência de espaços vazios entre as menores partículas que caracterizam a matéria. Em uma definição mais recente a matéria pode ser interpretada pelo seguinte ponto de vista: Uma definição de "matéria" em uma escala menor que os átomos e moléculas pode ser dista assim: a matéria é feita do que os átomos e moléculas são feitos, significando qualquer coisa feita de prótons com carga positiva, nêutrons com carga neutra, e elétrons com carga negativa. Esta definição vai além da definição de átomos e moléculas, mas não inclui substâncias feitas destes blocos de construção que não são simples átomos ou moléculas, por exemplo a matéria de anãs brancas - tipicamente núcleos de carbono e oxigênio em um oceano de elétrons degenerados. Em uma escala microscópica, as "partículas" constituintes da matéria como prótons, nêutrons e elétrons obedecem as leis da mecânica quântica, e exibem uma dualidade onda-partícula. Em um nível mais profundo, os prótons e nêutrons são feitos de quarks e campos de força (glúons) que unem eles (veja definição de quarks e léptons abaixo). 1. O que você pode entender como a definição de matéria pela ciência? 2. Quais são as propriedades da matéria segundo a ciência? 3. O Espírito possui estas propriedades? III. Qual o sentido que os Espíritos dão ao termo matéria na codificação de Kardec? Em O Livro dos Espíritos: 22. Define-se geralmente a matéria como sendo — o que tem extensão, o que é capaz de nos impressionar os sentidos, o que é impenetrável. São exatas estas definições? “Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil, que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, não o seria.” a) — Que definição podeis dar da matéria? “A matéria é o laço que prende o espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.” Deste ponto de vista, pode dizer-se que a matéria é o agente, o intermediário com o auxílio do qual e sobre o qual atua o espírito. 367. Unindo-se ao corpo, o Espírito se identifica com a matéria? “A matéria é apenas o envoltório do Espírito, como o vestuário o é do corpo. Unindo-se a este, o Espírito conserva os atributos da natureza espiritual.” Revista Espírita de 1861: Venho em nome do Deus dos vivos, e não dos mortos; só a matéria é perecível, porque é divisível; mas a alma é imortal, porque é una e indivisível. Em A Gênese: À primeira vista, não há o que pareça tão profundamente variado, nem tão essencialmente distinto, como as diversas substâncias que compõem o mundo. Entre os objetos que a Arte ou a natureza nos fazem passar diariamente ante o olhar, haverá duas que revelem perfeita identidade, ousomente paridade de composição? Quanta dessemelhança, sob os aspectos da solidez, da compressibilidade, do peso e das múltiplas propriedades dos corpos, entre os gases atmosféricos e um filete de ouro, entre a molécula aquosa da nuvem e a do mineral que forma a carcaça óssea do globo! que diversidade entre o tecido químico das variadas plantas que adornam o reino vegetal e o dos representantes não menos numerosos da animalidade na Terra! Entretanto, podemos estabelecer como princípio absoluto que todas as substâncias conhecidas e desconhecidas, por mais dessemelhantes que pareçam, quer do ponto de vista da constituição íntima, quer pelo prisma de suas ações recíprocas, são, de fato, apenas modos diversos sob que a matéria se apresenta; variedades em que ela se transforma sob a direção das forças inumeráveis que a governam. A Química, cujos progressos foram tão rápidos depois da minha época, em que seus próprios adeptos ainda a relegavam para o domínio secreto da magia; esta nova ciência que se pode considerar, com justiça, filha do século da observação e baseada unicamente, de maneira bem mais sólida do que suas irmãs mais velhas, no método experimental; a Química, digo, fez tábua rasa dos quatro elementos primitivos que os antigos concordaram em reconhecer na natureza; mostrou que o elemento terrestre mais não é do que a combinação de diversas substâncias variadas ao infinito; que o ar e a água são igualmente decomponíveis e produtos de certo número de equivalentes de gás; que o fogo, longe de ser também um elemento principal, é apenas um estado da matéria, resultante do movimento universal a que esta se acha submetida e de uma combustão sensível ou latente. Em compensação, a Química fez surgir considerável número de princípios, até então desconhecidos, que lhe pareceram formar, por determinadas combinações, as diversas substâncias, os diversos corpos que ela estudou e que atuam simultaneamente, segundo certas leis e em certas proporções, nos trabalhos que se realizam dentro do grande laboratório da natureza. Deu a esses princípios o nome de corpos simples, indicando de tal modo que os considera primitivos e indecomponíveis e que nenhuma operação, até hoje, pôde reduzi-los a frações relativamente mais simples do que eles próprios. Mas onde param as apreciações do homem, mesmo ajudadas pelos mais impressionantes sentidos artificiais, prossegue a obra da natureza; onde o vulgo toma a aparência como realidade, onde o prático levanta o véu e percebe o começo das coisas, o olhar daquele que pode apreender o modo de agir da natureza apenas vê, nos materiais constitutivos do mundo, a matéria cósmica primitiva, simples e una, diversificada em certas regiões na época do seu aparecimento, repartida em corpos solidários entre si durante a sua vida, e que um dia os materiais se desmembram, por efeitos da decomposição no receptáculo da imensidão. Há questões que nós mesmos, Espíritos amantes da Ciência, não podemos aprofundar e sobre as quais não poderemos emitir senão opiniões pessoais, mais ou menos hipotéticas. Sobre essas questões, calar-me-ei ou justificarei a minha maneira de ver. A com que nos ocupamos, porém, não pertence a esse número. Àqueles, portanto, que fossem tentados a enxergar nas minhas palavras unicamente uma teoria ousada, direi: abarcai, se for possível, com olhar investigador, a multiplicidade das operações da natureza e reconhecereis que, se se não admitir a unidade da matéria, impossível será explicar, já não direi somente os sóis e as esferas, mas, sem ir tão longe, a germinação de uma semente na terra, ou a produção dum inseto. Se se observa tão grande diversidade na matéria, é porque, sendo em número ilimitado as forças que hão presidido às suas transformações e as condições em que estas se produziram, também as várias combinações da matéria não podiam deixar de ser ilimitadas. Logo, quer a substância que se considere pertença aos fluidos propriamente ditos, isto é, aos corpos imponderáveis, quer revista os caracteres e as propriedades ordinárias da matéria, não há, em todo o universo, senão uma única substância primitiva; o cosmo ou matéria cósmica dos uranógrafos. 1. Qual a interpretação de matéria segundo O Livro dos Espíritos? 2. Qual a interpretação de matéria segundo a Revista Espírita? 3. Qual a interpretação de matéria segundo A Gênese? IV. Em algum momento Kardec usa o termo matéria em seu sentido filosófico? 28. Pois que o espírito é, em si, alguma coisa, não seria mais exato e menos sujeito a confusão dar aos dois elementos gerais as designações de — matéria inerte e matéria inteligente? “As palavras pouco nos importam. Compete-vos a vós formular a vossa linguagem de maneira a vos entenderdes. As vossas controvérsias provêm, quase sempre, de não vos entenderdes acerca dos termos que empregais, por ser incompleta a vossa linguagem para exprimir o que não vos fere os sentidos.” Um fato patente domina todas as hipóteses: vemos matéria destituída de inteligência e vemos um princípio inteligente que independe da matéria. A origem e a conexão destas duas coisas nos são desconhecidas. Se promanam ou não de uma só fonte; se há pontos de contacto entre ambas; se a inteligência tem existência própria, ou se é uma propriedade, um efeito; se é mesmo, conforme à opinião de alguns, uma emanação da Divindade, ignoramos. Elas se nos mostram como sendo distintas; daí o considerarmo-las formando os dois princípios constitutivos do Universo. Vemos acima de tudo isso uma inteligência que domina todas as outras, que as governa, que se distingue delas por atributos essenciais. A essa inteligência suprema é que chamamos Deus. 1. De que maneira poderemos considerar que neste trecho Kardec utiliza o sentido filosófico de matéria? 2. Quais as conclusões podemos tirar dos comentários de Kardec neste trecho? V. Qual a explicação de outros Espíritos acerca da matéria? No livro A Luz da Oração Eustáquio diz: A medida que se desenvolve nos domínios da inteligência, compreende o homem com mais força que toda a matéria é condensação de energia. No livro Dicionário da alma, Emmanuel assevera: Se o objetivo da matéria é dar corpo e expressão às vibrações do Espírito, a função da alma é apurá-la, santificá-la. Quando o homem compreender o alcance dessa realidade, as taras desaparecerão do planeta. Em Evolução em dois Mundo, André Luiz diz que: Em análogo alicerce, as Inteligências humanas que ombreiam conosco utilizam o mesmo fluído cósmico, em permanente circulação no Universo, para a Co-criação em plano menor, assimilando os corpúsculos da matéria com a energia espiritual que lhes é própria, formando assim o veículo fisiopsicossomático em que se exprimem ou cunhando as civilizações que abrangem no mundo a humanidade Encarnada e a Humanidade Desencarnada. Dentro das mesmas bases, plasmam também os lugares entenebrecidos pela purgação infernal, gerados pelas mentes desequilibradas ou criminosas nos círculos inferiores e abismais, e que valem por aglutinações de duração breve, no microcosmo em que estagiam, sob o mesmo princípio de comando mental com que as Inteligências Maiores modelam as edificações macrocósmicas, que desafiam a passagem dos milênios. Cabe-nos assinalar, desse modo, que, na essência, toda a matéria é energia tornada visível e que toda a energia, originariamente, é força divina de que nos apropriamos para interpor os nossos propósitos aos propósitos da Criação, cujas leis nos conservam e prestigiam o bem praticado, constrangendo-nos a transformar o mal de nossa autoria no bem que devemos realizar, porque o Bem de Todos é o seuEterno Princípio. Em Mecanismos da Mediunidade, encontramos: O homem passou a compreender, enfim, que a matéria é simples vestimenta das forças que o servem nas múltiplas faixas da Natureza e que todos os domínios da substância palpável podem ser plenamente analisados e explicados em linguagem matemática, embora o plano das causas continue para ele indevassado, tanto quanto para nós, as criaturas terrestres temporariamente apartadas da vida física. 1. Os Espíritos citados acima estão falando a mesma coisa que está na codificação? a. Se sim, aponte o que está igual b. Se não, aponte o motivo e quais as diferenças VI. Qual a origem da palavra espírito? A palavra espírito tem sua raiz etimológica do Latim "spiritus", significando "respiração" ou "sopro", mas também pode estar se referindo a "alma", "coragem", "vigor" e finalmente, fazer referência a sua raiz no idioma PIE *(s)peis- (“soprar”). Na Vulgata, a palavra em Latim é traduzida a partir do grego "pneuma" (πνευμα), (em Hebreu (חור) ruah), e está em oposição ao termo anima, traduzido por "psykhē". 1. A origem da palavra Espírito nos diz alguma coisa sobre o significado desta palavra na Doutrina Espírita? Por que? VII. Qual o significado que a Espiritualidade superior dá para o Espírito? Por sua vez, na codificação temos que o significado de Espírito muito bem trabalhado. Embora que este significado dificilmente pode ser dito em linguagem humana. 23. Que é o espírito? “O princípio inteligente do Universo.” a) — Qual a natureza íntima do espírito? “Não é fácil analisar o espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa. Ficai sabendo: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe.” 24. É o espírito sinônimo de inteligência? “A inteligência é um atributo essencial do espírito. Uma e outro, porém, se confundem num princípio comum, de sorte que, para vós, são a mesma coisa.” 27. Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o espírito? “Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas, ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o espírito não o fosse. Está colocado entre o espírito e a matéria; é fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.” A alma é um Espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório. Há no homem três coisas: 1º, o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2º, a alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo; 3º, o laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito. Kardec vai comentar sobre as pessoas que acreditam que o Espírito (Alma) é material, ou seja, ele se confundiria com o próprio perispírito, este comentário esta em O Livro dos Médiuns: Sistema da alma material. — Consiste apenas numa opinião particular sobre a natureza íntima da alma. Segundo esta opinião, a alma e o perispírito não seriam distintos uma do outro, ou, melhor, o perispírito seria a própria alma, a se depurar gradualmente por meio de transmigrações diversas, como o álcool se depura por meio de diversas destilações, ao passo que a Doutrina Espírita considera o perispírito simplesmente como o envoltório fluídico da alma, ou do Espírito. Sendo matéria o perispírito, se bem que muito etérea, a alma seria de uma natureza material mais ou menos essencial, de acordo com o grau da sua purificação. Este sistema não infirma qualquer dos princípios fundamentais da Doutrina Espírita, pois que nada altera com relação ao destino da alma; as condições de sua felicidade futura são as mesmas; formando a alma e o perispírito um todo, sob a denominação de Espírito, como o gérmen e o perisperma o formam sob a de fruto, toda a questão se reduz a considerar homogêneo o todo, em vez de considerá-lo formado de duas partes distintas. Como se vê, isto não leva a conseqüência alguma e de tal opinião não houvéramos falado, se não soubéssemos de pessoas inclinadas a ver uma nova escola no que não é, em definitivo, mais do que simples interpretação de palavras. Semelhante opinião, restrita, aliás, mesmo que se achasse mais generalizada, não constituiria uma cisão entre os espíritas, do mesmo modo que as duas teorias da emissão e das ondulações da luz não significam uma cisão entre os físicos. Os que se decidissem a formar grupo à parte, por uma questão assim pueril, provariam, só com isso, que ligam mais importância ao acessório do que ao principal e que se acham compelidos à desunião por Espíritos que não podem ser bons, visto que os bons Espíritos jamais insuflam a acrimônia, nem a cizânia. Daí o concitarmos todos os verdadeiros espíritas a se manterem em guarda contra tais sugestões e a não darem a certos pormenores mais importância do que merecem. O essencial é o fundo. Julgamo-nos, entretanto, na obrigação de dizer algumas palavras acerca dos fundamentos em que repousa a opinião dos que consideram distintos a alma e o perispírito. Ela se baseia no ensino dos Espíritos, que nunca divergiam a esse respeito. Referimo-nos aos esclarecidos, porquanto, entre os Espíritos em geral, muitos há que não sabem mais, que sabem mesmo menos do que os homens, ao passo que a teoria contraria é de concepção humana. Não inventamos, nem imaginamos o perispírito, para explicar os fenômenos. Sua existência nos foi revelada pelos Espíritos e a experiência no-la confirmou (O Livro dos Espíritos, nº 93). Apoia-se também no estudo das sensações dos Espíritos (O Livro dos Espíritos, nº 257) e, sobretudo, no fenômeno das aparições tangíveis, fenômeno que, de conformidade com a opinião que estamos apreciando, implicaria a solidificação e a desagregação das partes constitutivas da alma e, pois, a sua desorganização. Fora mister, além disso, admitir-se que esta matéria, que pode ser percebida pelos nossos sentidos, é, ela própria, o princípio inteligente, o que não nos parece mais racional do que confundir o corpo com a alma, ou a roupa com o corpo. Quanto à natureza intima da alma, essa desconhecemo-la. Quando se diz que a alma é imaterial, deve-se entendê-lo em sentido relativo, não em sentido absoluto, por isso que a imaterialidade absoluta seria o nada. Ora, a alma, ou o Espírito, são alguma coisa. Qualificando-a de imaterial, quer-se dizer que sua essência é de tal modo superior, que nenhuma analogia tem com o que chamamos matéria e que, assim, para nós, ela é imaterial. (O Livro dos Espíritos, nos 23 e 82). Eis aqui a resposta que, sobre este assunto, deu um Espírito: “O que uns chamam perispírito não é senão o que outros chamam envoltório material fluídico. Direi, de modo mais lógico, para me fazer compreendido, que esse fluido é a perfectibilidade dos sentidos, a extensão da vista e das idéias. Falo aquidos Espíritos elevados. Quanto aos Espí- ritos inferiores, os fluidos terrestres ainda lhes são de todo inerentes; logo, são, como vedes, matéria. Daí os sofrimentos da fome, do frio, etc., sofrimentos que os Espíritos superiores não podem experimentar, visto que os fluidos terrestres se acham depurados em torno do pensamento, isto é, da alma. Esta, para progredir, necessita sempre de um agente; sem agente, ela nada é, para vós, ou, melhor, não a podeis conceber. O perispírito, para nós outros Espíritos errantes, é o agente por meio do qual nos comunicamos convosco, quer indiretamente, pelo vosso corpo ou pelo vosso perispírito, quer diretamente, pela vossa alma; donde, infinitas modalidades de médiuns e de comunicações. “Agora o ponto de vista científico, ou seja: a essência mesma do perispírito. Isso é outra questão. Compreendei primeiro moralmente. Resta apenas uma discussão sobre a natureza dos fluidos, coisa por ora inexplicável. A ciência ainda não sabe bastante, porém lá chegará, se quiser caminhar com o Espiritismo. O perispírito pode variar e mudar ao infinito. A alma é o pensamento: não muda de natureza. Não vades mais longe, por este lado; trata-se de um ponto que não pode ser explicado. Supondes que, como vós, também eu não perquiro? Vós pesquisais o perispírito; nós outros, agora, pesquisamos a alma. Esperai, pois.” — Lamennais. Assim, Espíritos, que podemos considerar adiantados, ainda não conseguiram sondar a natureza da alma. Como poderíamos nós fazê-lo? É, portanto, perder tempo querer perscrutar o princípio das coisas que, como foi dito em O Livro dos Espíritos (nos 17 e 49), está nos segredos de Deus. Pretender esquadrinhar, com o auxílio do Espiritismo, o que escapa à alçada da humanidade, é desviá-lo do seu verdadeiro objetivo, é fazer como a criança que quisesse saber tanto quanto o velho. Aplique o homem o Espiritismo em aperfeiçoar-se moralmente, eis o essencial. O mais não passa de curiosidade estéril e muitas vezes orgulhosa, cuja satisfação não o faria adiantar um passo. O único meio de nos adiantarmos consiste em nos tornarmos melhores. Os Espíritos que ditaram o livro que lhes traz o nome demonstraram a sua sabedoria, mantendo-se, pelo que concerne ao princípio das coisas, dentro dos limites que Deus não permite sejam ultrapassados e deixando aos Espíritos sistemáticos e presunçosos a responsabilidade das teorias prematuras e errôneas, mais sedutoras do que sólidas, e que um dia virão a cair, ante a razão, como tantas outras surgidas dos cérebros humanos. Eles, ao justo, só disseram o que era preciso para que o homem compreendesse o futuro que o aguarda e para, por essa maneira, animá-lo à prática do bem. (Vede, aqui, adiante, na 2ª parte, o cap. 1º: Da ação dos Espíritos sobre a matéria.)
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