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Divulgação científica faça agora ou cale se para sempre comciência

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31/05/2018 Divulgação científica: faça agora ou cale-se para sempre - _comciência
http://www.comciencia.br/divulgacao-cientifica-faca-agora-ou-cale-se-para-sempre/ 1/5
Por Herton Escobar
A comunidade cientí×ca não pode mais delegar à imprensa a responsabilidade de educar a sociedade sobre a
importância da ciência — porque não cabe a ela essa responsabilidade, e mesmo que coubesse, ela não tem
condições de fazer isso sozinha. O abismo é fundo demais para ser preenchido só com folhas de jornal e alguns
minutos de televisão.
ARTIGO, _DOSSIÊ 197
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: FAÇA AGORA OU
CALE-SE PARA SEMPRE
4 DE ABRIL DE 2018
Dossiê Divulgação Cientí×ca (abr/2018) _comciência
31/05/2018 Divulgação científica: faça agora ou cale-se para sempre - _comciência
http://www.comciencia.br/divulgacao-cientifica-faca-agora-ou-cale-se-para-sempre/ 2/5
A
divulgação cientí×ca sempre foi de×ciente no Brasil, mas nunca fez tanta falta quanto agora. A crise
orçamentária que foi imposta à ciência brasileira nos últimos anos escancarou o abismo de
comunicação que existe entre a comunidade cientí×ca-acadêmica e a sociedade da qual ela faz
parte e à qual ela deveria servir. Um abismo que sempre existiu, mas nunca incomodou, porque
nenhum dos lados fazia muita questão de conversar com o outro. Os cientistas não precisavam
do apoio da sociedade para conseguir recursos para suas pesquisas — bastava impressionar seus pares
nas agências de fomento, publicar um paper no ×nal, e estava tudo certo. A sociedade, por sua vez,
nunca enxergou (nem foi ensinada a enxergar) a importância ou a relevância da ciência para as suas
vidas; portanto, não havia muito sobre o que conversar.
Agora, a conversa é outra. O dinheiro secou, e os cientistas se viram obrigados a fazer algo que nunca
precisaram fazer antes: convencer as pessoas de que a ciência é importante e merece (precisa!) ser
×nanciada pelo poder público, para o bem de todos. Não basta mais convencer os seus pares do mérito
cientí×co de seus projetos — “pregar para os convertidos”, por assim dizer. Agora, é preciso convencer
também os ateus, agnósticos e desinformados de todo tipo, incluindo (em especial e em última
instância) a classe política do nosso país — que, convenhamos, mal sabe o que fazer ciência signi×ca e,
mesmo que soubesse, tem outras prioridades na agenda.
A comunidade cientí×ca, sozinha, não tem poder de fogo para convencer a classe política de nada.
Precisa da sociedade. De nada (ou quase nada) adianta escrever cartas e manifestos às autoridades, se
quando vossas excelências olharem pela janela de seus gabinetes não virem uma multidão enfurecida,
dizendo que não votará mais neles se não investirem mais dinheiro na ciência — ×gurativamente
falando. Qual é o custo político de se cortar o orçamento da ciência hoje em Brasília? Muito baixo,
infelizmente. Os cientistas vão ×car furiosos, é claro; mas e daí? Se a sociedade não se importa com a
ciência, porque vossas excelências deveriam se importar? Ninguém vai perder uma eleição por causa
disso.
Argumentos, modelos e estatísticas não faltam para provar, por A mais B, que sem investimento em
ciência, tecnologia e inovação não existe desenvolvimento econômico, social ou intelectual. Tudo que o
Brasil (e qualquer outra nação do mundo) produz é fruto da ciência: a soja da agricultura, o aço da
siderurgia, a cana da biotecnologia, as vacinas da saúde, o petróleo do pré-sal, o café do cafezinho e o
leite do café da manhã… nada disso existiria sem ciência e tecnologia, em grande parte (ou totalmente)
desenvolvidas no Brasil. Mas as pessoas não sabem disso.
Lógicas e verdades cientí×cas no papel não bastam. Para pressionar os políticos é preciso, primeiro,
convencer a sociedade; e é aí que entra (ou deveria entrar) a divulgação cientí×ca. Para que as pessoas
defendam a ciência, elas precisam, primeiro, entender porque a ciência é importante para a vida delas; e
ninguém melhor para explicar isso do que os próprios cientistas. A pesquisa Percepção Pública da
Ciência e Tecnologia no Brasil 2015 [clique aqui para baixar o Sumário] mostra que as pessoas con×am
nos cientistas mais do que em qualquer outro pro×ssional (inclusive jornalistas e médicos). A maioria,
infelizmente, não é capaz de citar o nome de um único cientista ou instituição cientí×ca brasileira; mas a
percepção geral, ainda assim, é de que os cientistas são pessoas con×áveis, bem informadas e bem
intencionadas. A comunidade cientí×ca precisa tirar proveito dessa con×ança — no bom sentido.
31/05/2018 Divulgação científica: faça agora ou cale-se para sempre - _comciência
http://www.comciencia.br/divulgacao-cientifica-faca-agora-ou-cale-se-para-sempre/ 3/5
E
A imprensa tem uma papel importante nessa história também, como fonte de informações e formadora
de opiniões; mas não pode ser o único canal de comunicação entre a comunidade cientí×ca e a
sociedade. É como tentar apagar um incêndio com um regador. Os jornalistas que se dedicam à
cobertura da ciência são poucos, e o espaço que a grande mídia costuma dar ao tema é pequeno.
Poderia (e deveria) ser maior, sem dúvida; mas vale lembrar que a missão primordial do jornalismo é
informar a sociedade, não educá-la. A imprensa só vai noticiar aquilo que é inédito, e a maior parte do
que falta à sociedade saber sobre a ciência não é notícia, é conhecimento.
Ou seja, a comunidade cientí×ca não pode mais delegar à imprensa a responsabilidade de educar a
sociedade sobre a importância da ciência — porque não cabe a ela essa responsabilidade, e mesmo que
coubesse, ela não tem condições de fazer isso sozinha. O abismo é fundo demais para ser preenchido só
com folhas de jornal e alguns minutos de televisão.
ntão, qual é a solução? A comunidade cientí×ca precisa acordar para a realidade, sair da sua
torre de mar×m acadêmica, e começar a dialogar direta e diariamente com a sociedade. Até
alguns anos atrás, era até justo cobrar mais atenção da mídia, pois não havia outros meios
práticos e efetivos disponíveis para se comunicar com a sociedade de maneira regular. Para fazer uma
informação chegar à sociedade, o cientista precisava de um interlocutor: o jornalista. Agora, não. Graças
à internet e às redes sociais, qualquer cientista pode se comunicar hoje diretamente com a sociedade,
sem necessidade de intermediário, por meio de sites, blogs, vídeos, podcasts e outras plataformas
diversas. Em muitos casos, basta uma conta no Facebook.
Essa tem sido minha mensagem principal nos vários eventos a que sou convidado para falar sobre
divulgação cientí×ca: Faça sua própria mídia! Se você tem algo a dizer, diga! Não espere que outros
digam por você. Mostre para a sociedade porque a sua pesquisa é importante; o que a sua ciência já fez
e ainda pode fazer por ela.
Ao dizer isso, pode parecer que estou dando um tiro no pé, tornando-me desnecessário. A×nal, na
minha função de jornalista, eu dependo da obtenção de informações exclusivas para ser um bom
repórter. Nesse caso, quanto mais as pessoas dependessem de mim para se comunicar com a sociedade,
melhor. Mas não. Como já indiquei acima, jornalismo cientí×co e divulgação cientí×ca são atividades
distintas, com ×nalidades distintas. O jornalismo só se importa com aquilo que é inédito, enquanto que a
divulgação pode tratar de qualquer assunto, a qualquer hora e em qualquer lugar.
É um desa×o que cabe tanto aos cientistas individualmente quanto às suas instituições. As
universidades e institutos de pesquisa do Brasil precisam urgentemente criar programas de divulgação
cientí×ca, bem estruturados, bem ×nanciados e com recursos humanos quali×cados na área de
comunicação. É uma questão de sobrevivência perante a opinião pública. Não basta ter uma assessoria
de imprensa — que aliás, na maioria dos casos, existe muito mais para blindar as instituições da
imprensa do que ajudá-la. São coisas diferentes.
Aqui vale fazer uma analogia com a questãoda inovação. Muito se fala (com razão) que não existe uma
“cultura de inovação” na academia brasileira, e muitas universidades criaram núcleos ou agências
institucionais nos últimos anos, dedicadas a fomentar essa cultura e auxiliar seus pesquisadores no
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http://www.comciencia.br/divulgacao-cientifica-faca-agora-ou-cale-se-para-sempre/ 4/5
O
desenvolvimento de projetos, obtenção de patentes, contatos com a indústria, negociação de contratos
etc. Nem todo acadêmico serve para ser um empreendedor, mas para aqueles que têm essa vocação, a
ajuda está disponível. E assim as coisas têm andado.
mesmo vale para a divulgação cientí×ca. Ela não vai acontecer por conta própria, num passe
de mágica. É preciso fomentar essa cultura dentro da academia e criar uma infraestrutura de
apoio minimamente adequada, para que aqueles que tiverem interesse de trabalhar com isso
consigam fazê-lo com um mínimo de sucesso. Nenhum pesquisador deve ser obrigado a fazer
divulgação cientí×ca, mas todos deveriam ser incentivados a fazê-lo. Certamente, em todos os
departamentos e faculdades desse Brasil afora há professores e jovens cientistas interessados em
trabalhar com divulgação cientí×ca, precisando apenas de um pouco de apoio e orientação para
começar.
Recentemente fui procurado pelo diretor de um importante instituto da Universidade de São Paulo
(USP), que conheço há muitos anos, e o dilema dele era exatamente esse: “Queremos conversar com a
sociedade, mas não sabemos como. Nos ajude.” Eu ajudei com algumas dicas, claro, mas quem tem que
dar esse apoio são as instituições, não a imprensa.
Já aviso que não vai ser fácil, e que os resultados não vão aparecer do dia para a noite. A comunicação é
uma arte que exige estudo, treinamento, experiência e quali×cação para ser feita com qualidade. Não se
pode esperar que um cientista saiba fazer comunicação, assim como é injusto esperar que um
comunicador saiba fazer ciência. Você pode criar uma página na internet e enchê-la de conteúdo, fazer
postagens diárias no Facebook, e de nada vai adiantar se esse conteúdo não estiver com a linguagem
certa e a formatação ideal para o público-alvo que se deseja atingir. Não basta escrever algo
cienti×camente correto; é preciso trabalhar com plataformas multimídia, explorando ferramentas de
vídeo, áudio, fotogra×a, desenho, animações. A concorrência pela atenção das pessoas no mundo digital
é feroz, e o que não falta na internet são conteúdos inúteis ou esquecidos, que não atingem ninguém.
A divulgação cientí×ca não vai trazer o orçamento da ciência brasileira de volta, nem neste ano nem no
próximo. É um investimento a longo prazo, de caráter educativo, para garantir (ou pelo menos tentar
evitar) que situações críticas como essa voltem a acontecer no futuro. Essa consciência sobre a
importância da ciência não vai surgir espontaneamente na sociedade, é algo que precisa ser construído,
semeado e irrigado diariamente. Está posto o desa×o.
Herton Escobar é jornalista especializado na cobertura de ciência e meio ambiente. Desde janeiro de 2000 é
repórter do jornal O Estado de S. Paulo, com mais de 2 mil matérias publicadas em formato impresso e
digital, sobre uma grande variedade de temas, abrangendo pesquisa básica, política cientí×ca,
desenvolvimento tecnológico e inovação. Desde janeiro de 2015 é também colaborador internacional da
revista Science.
Leia também:
A universidade calada, de Ricardo Whiteman Muniz
31/05/2018 Divulgação científica: faça agora ou cale-se para sempre - _comciência
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