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abandono afetivo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL 
CURSO DE DIREITO – CPTL 
 
 
 
 
 
RITA NUNES LIMA DE SÁ 
 
 
 
 
 
 UM ESTUDO SOBRE ABANDONO AFETIVO NO ORDENAMENTO 
JURIDICO BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRÊS LAGOAS, MS 
2018 
10 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL 
CURSO DE DIREITO – CPTL 
 
 
 
 
 
RITA NUNES LIMA DE SÁ 
 
 
 
 
UM ESTUDO SOBRE ABANDONO AFETIVO NO ORDENAMENTO 
JURIDICO BRASILEIRO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Direito da Universidade Federal de Mato 
Grosso do Sul, campus de Três Lagoas, como 
requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel 
em Direito, sob orientação do professor Dr. Cleber 
Affonso Angeluci. 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRÊS LAGOAS, MS 
2018 
 
 
 
11 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
Dedico este trabalho à minha família. Aos meus avós maternos, que lá do céu devem 
estar orgulhosos e comemorando comigo mais esta vitória. Dedico, ainda, à minha mãe, 
Marlene, que sempre esteve ao meu lado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Inicialmente, agradeço a Deus pela minha vida, pela oportunidade de estar realizando o 
sonho de concluir um curso superior através de uma Instituição pública. Foi isso que o 
bacharelado em Direito me proporcionou, além da bagagem de conhecimentos, convivência 
com pessoas que se tornaram amigos e muita superação. Obrigada DEUS de infinita bondade 
por tudo. 
Agradeço à minha família, que muito me apoiou para a realização deste sonho, aos meus 
novos e antigos amigos, desta e da outra graduação. Ao falar de amigos, não posso deixar de 
mencionar a japa Juliana Kubo Midori, que nunca mediu esforços para que eu não desistisse do 
curso, assim como por inúmeras vezes me deu abrigo em sua casa em decorrência de eu morar 
em outra cidade e não ter onde ficar. 
Eu não poderia falar em família sem falar do meu tio Mauricio, durante esses 5 anos de 
graduação me abrigou em sua casa com a intenção de me dar a oportunidade de estudar, uma 
vez que sozinha eu não conseguiria se quer pagar um aluguel, bem como por inúmeras vezes 
me viu chorar pelas dificuldades que enfrentei durante esses anos e me dizia: Filha, calma, tudo 
isso vai valer a pena. 
Agradeço também, ao meu namorado Lucas Danilo, que sempre esteve ao meu lado e 
sempre foi um dos meus maiores incentivadores para concluir este curso, obrigado por acreditar 
em mim, este sonho não foi só meu, mas sim nosso. Eu, te amo! 
Sou grata imensamente a todos os professores do curso, e principalmente, ao meu 
Orientador Cleber Affonso Angeluci, que foi um dos primeiros professores com quem tive aula 
no primeiro ano do curso, pessoa pela qual sempre tive admiração como professor e desde o 
início deste trabalho sempre esteve disposto a me auxiliar, e contribuir para que este trabalho 
fosse feito. Um abraço fraternal, professor! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
RESUMO 
 
Este trabalho apresenta um estudo sobre as consequências do abandono afetivo, com o objetivo 
de estudar como o dano causado na vida de um filho pode ser reparado. Os métodos utilizados 
para a execução do trabalho foram leituras de livros e artigos, a fim de entender o conceito e o 
desenvolvimento histórico da família, evidenciando as mudanças que a mesma sofreu com o 
passar dos anos, chegando assim nas modalidades de instituição familiar no ordenamento 
jurídico brasileiro atual e, por fim, os princípios constitucionais do direito de família. Outro 
método utilizado para conduzir o trabalho, foi a análise de jurisprudências, com o intuito de 
compreender o entendimento dos tribunais sobre o tema. A análise das referências utilizadas 
permitiu entender que segundo a responsabilidade civil, é direito de quem sofre o dano obter 
reparação mediante indenização. Entretanto, é possível concluir que não há unanimidade 
jurisprudencial quando a questão é a reparação do dano causado pelo abandono afetivo, isso 
porque as decisões contra a reparação entendem que não houve dano. 
 
 
Palavras-chave: Direito de família. Direito Civil. Abandono. Afetividade. 
 
14 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This work presents a study about the consequences of affective abandonment, with the aim of 
studying how the damage caused in the life of a child can be repaired. The methods used to 
perform the work were readings of books and articles, in order to understand the concept and 
historical development of the family, showing the changes that it has suffered over the years, 
thus reaching at the modalities of family institution in the current Brazilian legal system and, 
finally, the constitutional principles of family law. Another method used to conduct the work 
was the analysis of jurisprudence, in order to understand the courts' understanding of the 
subject. The analysis of the references used made it possible to understand that according to 
civil liability, it is the right of the injured part to obtain compensation through 
indemnification. However, it is possible to conclude that there is no unanimous jurisprudence 
when the question is the reparation of the damage caused by the abandonment affective because 
the decisions against the redress understand that there was no damage. 
 
Keywords: Civil right. Family right. Abandonment affectivity. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS 
 
 
CC Código Civil 
art. Artigo 
CF Constituição Federal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 17 
1 O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA FAMÍLIA ................................................ 19 
1.1 CONCEITO DE FAMÍLIA ......................................................................................................... 19 
1.1.1 A família em Roma ............................................................................................................... 19 
1.1.2 Família e direito canônico ..................................................................................................... 21 
1.1.3 Conceito moderno de família ................................................................................................ 22 
1.2 AS MODALIDADES DE FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ........ 23 
1.2.1 A família na Constituição Federal de 1988 e no Código Civil de 2002 ............................... 23 
1.2.2 Famílias contemporâneas ...................................................................................................... 24 
1.2.2.1 Família matrimonial ....................................................................................................... 25 
1.2.2.2 Família informal ou União Estável ................................................................................ 27 
1.2.2.3 Família monoparental .................................................................................................... 28 
1.2.2.4 Família anaparental ........................................................................................................28 
1.2.2.5 Família homoafetiva ...................................................................................................... 29 
1.2.2.6 Família eudemonista ou afetiva ..................................................................................... 31 
2 PRINCIPIOS DO DIREITO DE FAMILIA ..................................................................... 33 
2.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA ........................................... 33 
2.1.1 Princípio Da Dignidade Da Pessoa Humana......................................................................... 34 
2.1.2 Princípios Da Igualdade Entre Os Filhos E Da Igualdade Entre Cônjuges .......................... 35 
2.1.3 Princípio Do Planejamento Familiar ..................................................................................... 36 
2.1.4 Princípio Da Não Hierarquia Entre As Modalidades De Família ......................................... 37 
2.1.5 A Afetividade: Um Princípio Jurídico? ................................................................................ 38 
3 ABANDONO AFETIVO ..................................................................................................... 41 
3.1 ABANDONO AFETIVO: CONCEITO E DEFINIÇÃO ............................................................ 41 
3.2 CONSEQUÊNCIAS DO ABANDONO AFETIVO.................................................................... 44 
3.3 EFEITOS JURÍDICOS: RESPONSABILIDADE CIVIL POR RAZÃO DE ABANDONO 
AFETIVO........................................................................................................................................... 45 
3.4 ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS ....................................................................................... 46 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 50 
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 52 
 
17 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
A instituição familiar ao longo do tempo sofreu constantes mudanças, uma vez que suas 
características não são formadas de forma estática. No entanto, a família é a primeira relação 
que o indivíduo tem com uma sociedade, e é neste meio que o mesmo adquire a formação de 
seu caráter. 
Esta pesquisa visa estudar uma das consequências que a ausência familiar acarreta na 
vida de um indivíduo: o abandono afetivo. Vale ressaltar, que tal ausência poderá ser afetiva ou 
material, e para que venha ser entendida melhor, estudaremos o instituto da responsabilidade 
civil. 
Este trabalho justifica-se pela necessidade de estudar como tem sido feito o amparo e 
reparo dos danos causados pela falta de afetividade, de modo a identificar as causas que são 
pautadas para ser fixada a indenização por danos morais para o filho abandonado afetivamente, 
em face de seu responsável legal. Muitas vezes, pela falta de preparação familiar a instituição 
aqui descrita passa por problemas, como por exemplo, a dissolução de tal instituição que resulta 
em inúmeras consequências, dentre essas, o abandono afetivo. 
Dessa forma, o trabalho versa de acordo com a importância de expor os motivos que são 
predominantes para motivarem o filho (a) abandonado por seu responsável a buscar reparação 
diante do Poder Judiciário. 
O presente trabalho está estruturado em três capítulos: O primeiro trata do 
desenvolvimento histórico da família, abordando o conceito e estudando a composição familiar 
com base no direito romano e canônico, chegando por fim, às modalidades de família que são 
compreendidas perante o ordenamento jurídico brasileiro nos dias atuais, ou seja: a família 
perante a Constituição Federal e o Código Civil. 
O segundo capítulo trata de quatro dos princípios constitucionais norteadores do direito 
de família, cujo objetivo é tutelar e garantir a aplicabilidade das normas constitucionais à 
sociedade. Tendo em vista que o ordenamento jurídico está baseado em princípios e que a 
Constituição de 1988 é principiológica, tal estudo faz-se necessário. Considerando a opinião de 
alguns doutrinadores, o final deste capítulo apresenta a visão dos mesmos sobre a afetividade 
ser entendida como um princípio. 
Por fim, o terceiro capítulo aborda o conceito e a definição de abandono afetivo, 
culminando nas consequências oriundas dessa conduta. Além disso, é estudado o 
18 
 
desenvolvimento do abandono afetivo dentro do ordenamento jurídico, bem como a maneira 
pela qual a responsabilidade civil é entendida nos casos de indenização em decorrência disso. 
A fim de ilustrar a falta de concordância dos tribunais sobre a existência do dano, são 
apresentadas jurisprudências a respeito do tema. 
 
 
19 
 
1 O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA FAMÍLIA 
 
Para chegar a um conceito de família, é apresentada a origem da família e sua evolução 
histórica, passando pela concepção da família nos seguintes períodos: direito romano e 
canônico, pois “deixando de lado a família da antiguidade, em sua forma primitiva, é possível 
afirmar que a família brasileira tem como base a sistematização formulada pelo direito romano 
e pelo direito canônico” (NORONHA; PARRON, 2016, p. 3). 
A compreensão do núcleo familiar e suas características não foram e nem serão 
estabelecidas de maneira estática, uma vez que essa instituição passa por constantes mudanças 
ao longo da história. 
Melo (2014, p. 4) assegura que “a família surge como um fato natural, quer dizer, 
próprio da natureza humana, baseada fundamentalmente na necessidade de convivência entre 
pessoas (afetividade)”. Desta maneira, é clara a compreensão de que ao longo da história a 
família passou por transformações e neste capítulo será demonstrada sua evolução ao longo da 
história, baseado no direito romano e canônico. 
 
 1.1 CONCEITO DE FAMÍLIA 
 
1.1.1 A família em Roma 
 
Segundo Gonçalves (2017, p. 31), “no direito romano, a família era organizada sob o 
princípio da autoridade. O pater familias exercia sobre os filhos direito à vida e de morte (ius 
vitae ac necis)”. Nesse ponto, cumpre salientar que a família romana (ou romano-germânica, 
numa concepção mais ampla) é a semente da qual brotaram diversos modelos de família pelo 
mundo, dentre eles, o modelo consagrado pelo direito brasileiro (LEITE, 2016, p. 222). Sabe-
se então, que o direito brasileiro em muito herdou a tradição europeia, isto é, o europeu no que 
tange à justiça. Trata-se de modelos que se assemelham em diversos pontos da cultura ocidental, 
passando por questões religiosas, morais e filosóficas: 
 
Na raiz da cultura europeia, deste modo, estavam os frutíferos coexistência, confronto 
e reconciliação de percepções, poderes e perspectivas divergentes: fides e ratio, papa 
e imperador, Império e territórios singulares que constituíam o Império, Roma e 
Bizâncio, antiguidade clássica nas variantes grega e romana, tradição judaico-cristã e 
os sucessivos ataques dos exércitos muçulmanos facilitaram o surgimento do senso 
de identidade europeu, o papel das revoluções na reforma, mas também preservação 
da identidade, o sentido de ser livre ainda que limitado, os ideais de vita activa e vita 
contemplativa, o Deus único como a trindade divina, Cristo como um homem e Deus 
verdadeiro, o cristão que renúncia ao mundo e, no entanto, que simultaneamente o 
aceita: que, por reconhecer algo que é mais importante do que este mundo, ama mais 
20 
 
este mundo do que aqueles que nada conhecem além deste. Historicamente, a Europa 
e a cultura europeia são constructos intelectuais, estabelecidos por uma fértil tensão 
entre elementos distintos. A oposição entre a unidade e a diversidade elucida a 
característicadinâmica e a habilidade de crescimento e de desenvolvimento da cultura 
europeia. (ZIMMERMANN, 2016, p. 3). 
 
Ou seja, “nosso direito e pensamento jurídico modernos moldaram-se pelo direito romano” 
(ZIMMERMANN, 2016, p. 5). Dessa maneira, a base das famílias romanas era regida pela 
figura paterna, vista como a autoridade do lar; o pai era detentor do poder sobre seus filhos, 
podendo corrigir lhes como achasse necessário, e o mesmo para com sua mulher. 
Dentre os poderes do pater, estava sob sua responsabilidade a figura materna, pois a 
mulher era totalmente submissa ao seu marido e não tinha autonomia alguma em casa. A 
mulher, no núcleo familiar, tinha função de gerar filhos para fins de sucessão. 
Para Nader (2017, p. 9), a “família romana, como a da Grécia antiga, foi patriarcal. O 
pequeno grupo social se reunia em função do pater, que era o único membro com personalidade, 
isto é, que era pessoa. [...]” Em síntese: 
 
[...] a família romana agregava caráter de unidade econômica, religiosa, política e 
jurisdicional. Enquanto a figura materna, para os romanos, demarcava a linhagem 
sanguínea, não influenciando, entretanto, nas relações civis, a figura paterna detinha 
o pátrio poder, exercendo mais que o papel de pai, mas também de chefe de 
comunidade. (CARDOSO, 2017, p. 9). 
 
Nota-se que não havia igualdade de gênero nas relações familiares romanas, pelo menos 
em uma primeira fase. Havia uma hierarquia masculina predominante, enquanto à mulher cabia 
submissão e procriação, o que foi um pouco flexibilizado na fase de Constantino. 
Melhor explica Melo, ao distinguir duas fases no direito romano: 
 
a) 1ª Fase – no antigo direito romano: A família era organizada em torno do pater 
família, que exercia sobre os filhos direito de vida e de morte, e que no qual a mulher 
cumpria um papel de total sobrevivência. O chefe de família era autoridade máxima 
sendo, a um só tempo, chefe político, religioso, sacerdotal e jurisdicional (pater 
potesta). 
b) 2ª Fase – já no século IV DC: Com o imperador Constantino, as regras foram 
atenuadas e a família tomou contornos mais de ordem moral e religiosa, 
permanecendo o marido como o chefe da família, porém dando-se maior autonomia a 
mulher. Neste período, também foi permitido aos filhos economia própria, 
especialmente os militares, que podiam administrar seus próprios soldos e como ele 
formar um patrimônio. Assim também os intelectuais e os artistas. (MELO, 2014, p. 
5) 
 
Este modelo de família durou até o século IV, quando o imperador Constantino assumiu 
o poder de Roma. Dessa forma, são notórios os princípios similares adquiridos do direito 
romano e utilizados no direito da família atual, como o poder familiar. No entanto, com a queda 
21 
 
do Império Romano e o aumento do Cristianismo, houve mudanças no significado da família, 
que serão mais bem trabalhadas posteriormente. (ZIMMERMANN, 2017) 
 
1.1.2 Família e direito canônico 
 
O direito canônico ganhou fôlego com o Cristianismo. As relações familiares eram 
concebidas via cerimônia religiosa, sendo que os pactos formados nesta união deveriam ser 
respeitados, tendo o casamento como sacramento, pois os homens não poderiam dissolver a 
união constituída por Deus. (GONÇALVES, 2017, p. 32) 
 
Com a ascensão do Cristianismo, a Igreja Católica assumiu a função de estabelecer a 
disciplina do casamento, considerando-o um sacramento. Assim, passou a ser 
incumbência do Direito Canônico regrar o casamento, fonte única do surgimento da 
família. (NORONHA; PARRON, 2016, p. 3). 
 
Esse marco histórico trazia resquícios do direito romano no que se refere ao poder 
familiar; no entanto, as relações familiares eram seguidas conforme padrões canônicos, como 
o surgimento de novas famílias exclusivamente pelo instituto do casamento. Por isso, “podemos 
dizer que a família brasileira como é hoje conceituada, sofreu influência da família romana, da 
família canônica e da família germânica”. (GONÇALVES, 2017, P.32) 
No caso do Brasil, a colonização portuguesa foi crucial para a definição dos rumos das 
famílias. As influências de Portugal tinham ligação direta com o direito canônico, o que fez 
com que a colônia absorvesse princípios como o matrimônio indissolúvel e o total controle da 
família pela igreja: 
 
Por muito tempo o casamento perdurou como a única forma de construção familiar 
juridicamente reconhecida, sempre vinculado às cerimônias religiosas. Tão somente 
em 1861, entretanto, foram reconhecidas juridicamente as uniões acatólicas, que 
passaram então a ter valor de casamento civil. A influência dos princípios do direito 
canônico aos casamentos civis ainda perdurou por muitos anos, tendo sido isto 
modificado tão somente em 1890, quando o Decreto nº 181 desvinculou o casamento 
civil do poder religioso, passando a ser celebrado somente por autoridades civis, não 
contendo o casamento religioso qualquer valor jurídico a partir de então. (CARDOSO, 
2017, p. 13). 
 
Em 1916 o Código Civil brasileiro, ao ser criado, sofreu forte influência das normas 
advindas do direito canônico, dentre elas, a legitimidade exclusiva de uniões entre homens e 
mulheres, celebradas pelo casamento. 
Interessante perceber que o direito canônico, fundado em valores cristãos, trouxe alguns 
aspectos positivos, quando em comparação com o direito romano. A solidariedade é um 
22 
 
exemplo disso. Nascimento (2017, p. 12) salienta que, com o “surgimento da igreja católica e 
posteriormente ao direito canônico, aumentou-se muito a percepção da obrigação de pagar 
alimentos aos familiares, inclusive em relações extrafamiliares”, para exemplificar. 
 A família é então desenvolvida no Brasil, na sombra do modelo europeu (especialmente, 
pela colonização portuguesa), mas, sobretudo “sob a tentativa de um controle intenso e 
repressor realizado pela igreja católica” (NORONHA; PARRON, 2016, p. 5). Sendo essa a raiz 
da família brasileira, fica mais compreensível estudar as mudanças que ocorreram desde então. 
 
1.1.3 Conceito moderno de família 
 
 Não é uma tarefa fácil conceituar família, haja vista que essa definição pode ser 
pessoalizada nas particularidades de cada indivíduo. Ainda assim, a doutrina tem se esforçado 
em estabelecer um conceito para família: 
 
A família é uma realidade sociológica e constitui a base do Estado, o núcleo 
fundamental em que repousa toda a organização social. Em qualquer aspecto em que 
é considerada, aparece a família como uma instituição necessária e sagrada, que vai 
merecer a mais ampla proteção do Estado. A Constituição Federal e o Código Civil a 
ela se reportam e estabelecem a sua estrutura, sem no entanto defini-la, uma vez que 
não há identidade de conceitos tanto no direito como na sociedade. Dentro do próprio 
direito a sua natureza e a sua extensão variam, conforme o ramo. (GONÇALVES, 
2016, p. 17). 
 
No ordenamento jurídico brasileiro, há a estrutura familiar conceituada em vários 
institutos, bem como pela Constituição Federal de 1988, em que se lê: “a família como a base 
da sociedade e mesma encontra proteção do Estado” (GONÇALVES, 2016, p. 67). 
Para Pereira (2017, p. 49), “ao conceituar a ‘família’, destaque-se a diversificação. Em 
sentido genérico e biológico, considera-se família o conjunto de pessoas que descendem de 
tronco ancestral comum”. 
 A Constituição Federal, no § 4º, do art. 226, traz o entendimento de família como: 
“entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e 
seus descendentes” (PEREIRA, 2017, p. 27). No entanto, é apresentada apenas uma estrutura 
com normas a serem respeitadas, mas não uma definição efetiva. Isso ocorre porque inexiste 
um modelo definido,isto é, um conceito a ser apresentado como único e correto. Esse fato 
decorre da evolução da humanidade e do pensamento social, considerando a variação de 
parâmetros da sociedade conforme o tempo. 
23 
 
O fato é que pessoas formam vínculos a organismos familiares; estando nele, 
permanecerão vinculadas no decorrer de sua existência, logicamente que não de maneira 
efetiva, já que futuramente podem vir a constituir suas respectivas famílias, ou até mesmo se 
distanciar pela proporção tomada pelos rumos da vida, porém, o vínculo familiar permanecerá. 
 
1.2 AS MODALIDADES DE FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 
 
1.2.1 A família na Constituição Federal de 1988 e no Código Civil de 2002 
 
Para a compreensão de família conforme a visão constitucional, a história traz que a 
única modalidade compreendida, antes da modernização da família, era a constituição pelo 
casamento. O matrimônio era entendido como algo sagrado, sendo “abençoado por Deus”; tal 
pensamento era formado por influências religiosas, advindas do direito romano. A realidade 
apresentada era a seguinte: 
 
A mulher dedicava-se aos afazeres domésticos e a lei não lhe conferia os mesmos 
direitos do homem. O marido era considerado o chefe, o administrador e o 
representante da sociedade conjugal. [...] Os filhos submetiam-se à autoridade paterna, 
como futuros continuadores da família, em uma situação muito próxima da família 
romana. (VENOSA, 2017, p. 16). 
 
Atualmente, a Constituição de 1988 (CF/88) traz várias referências à família. O artigo 
226 é o principal dispositivo a ela relacionado, entendendo que a família é o alicerce da 
sociedade, tendo total proteção do Estado (BRASIL, 2018, p. 77). Assim, conforme Venosa: 
 
A Constituição de 1988 consagra a proteção à família no art. 226, compreendendo 
tanto a família fundada no casamento, como a união de fato, a família natural e a 
família adotiva. De há muito, o país sentia necessidade de reconhecimento da célula 
familiar independentemente da existência de matrimônio. (VENOSA, 2017, p. 17). 
 
Antes, o Código Civil de 1916 regulamentava a instituição familiar unicamente formada 
pelo matrimônio, uma vez que a figura patriarcal era evidentemente valorizada. Entretanto, com 
os novos valores familiares e novas formas de família, foram necessários novos entendimentos 
quanto ao direito de família. 
Uma das normas responsáveis pelas mudanças de paradigma, com relação ao direito de 
família, foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948: 
 
A declaração da organização das Nações unidas (ONU) de 1948 proclamou a 
igualdade de direitos entre homens e mulheres no que se refere ao casamento (art. 16, 
24 
 
caput). da mesma forma com os filhos havidos ou não do casamento, ao preceituar 
que ‘todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma 
proteção social’ (art. 25, II). Considerou ademais que a ‘família é o núcleo natural e 
fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado’ (art. 16, 
III). Além disso, ao positivar o princípio da dignidade da pessoa humana e proclamar 
a igualdade entre todos os seres humanos, abriu a discussão sobre a igualdade dos 
cônjuges e dos filhos ao preceituar em seu artigo primeiro: ‘Todas as pessoas nascem 
livres e iguais em dignidade e direitos.’ (MELO, 2014, p. 7). 
 
Na esteira da DUDH e da CF/88, sobre o Código Civil de 2002: “as alterações 
introduzidas visam preservar a coesão familiar e os valores culturais, conferindo-se à família 
moderna um tratamento mais consentâneo à realidade social [...]” (GONCALVES, 2016, p. 22). 
São notórias as mudanças no decorrer do tempo quanto à família; com essa evolução, 
foram necessários novos entendimentos, surgindo, então, novas interpretações, jurisprudências, 
e então, novas visões de família, assim como compreende Gonçalves: 
 
Acrescente-se, por fim, que há, na doutrina, uma tendência de ampliar o conceito de 
família, para abranger situações não mencionadas pela Constituição Federal. Fala-se, 
assim, como: 
a) Família matrimonial: decorrente do casamento; 
b) Família informal: decorrente da união estável; 
c) Família monoparental: constituída por um ou dois genitores com seus filhos; 
d) Família anaparental: constituída somente pelos filhos; 
e) Familia homoafetiva: formada por pessoas do mesmo sexo; 
f) Familia eudemonista: caracterizada pelo vínculo afetivo. (GONÇALVES, 
2016, p. 35) 
 
Essa ampliação, da trata Gonçalves, é fruto de uma interpretação abrangente do que 
entende a Constituição atual. Isso é “ A família, base da sociedade, tem especial proteção do 
Estado”, ou seja, a instituição familiar tem sua previsão legal na Constituição Federal, bem 
como a proteção do Estado. (BRASIL, 2018, p. 77) 
Diante de entendimento da carta magna, a família tem sua proteção estatal, sendo qual 
seja sua maneira de constituição ou até mesmo composição, desde de que seja uma família. Pois 
diante do Estado, o indivíduo tem sua liberdade de escolha nas relações, com base no princípio 
fundamental da dignidade da pessoa humana. No entanto, ocorre que existem entendimentos 
contrários a este dispositivo, pois diante do entendimento de grande parte da sociedade a família 
somente se originaliza através do casamento, de uma união estável, sendo as demais famílias 
ainda uma ideia nova, e pouca compreensão. 
 
1.2.2 Famílias contemporâneas 
 
25 
 
É notória a evolução da família conforme as necessidades apresentadas pela sociedade. 
Certo é que a instituição familiar tão somente se firma nas relações pessoais onde se encontra 
afeto ou afinidade, podendo ela ter como membros quantas pessoas e quais pessoas sejam 
necessárias para a formação desse vínculo. 
A família moderna vem para quebrar paradigmas e enaltecer as relações entre os 
indivíduos, que cada vez mais passa por evoluções e transformações, sendo que a finalidade é 
somente uma: liberdade de opiniões e princípios. 
Para Gagliano e Pamplona Filho (2016, p. 119): “hoje o casamento, assim como as 
outras formas de arranjos familiares, não são fim em si mesmos, mas, tão somente, o locus de 
realização e busca da felicidade dos seus integrantes. Esta, aliás, consoante já anotamos, é a 
verdadeira função social da família”. Assim sendo, passa-se ao conhecimento dessas entidades 
familiares. 
 
1.2.2.1 Família matrimonial 
 
A família matrimonial é a forma de família mais conhecida popularmente e pelo 
ordenamento jurídico, uma vez que é a mais comum e ainda muito evidente nos dias atuais. É 
o mais antigo instituto que surge com o casamento. 
Conforme entendimento de Maluf (2010, p. 19), a instituição familiar tem por influência 
o direito canônico, uma vez que a mesma é constituída através do matrimônio, havendo a 
concepção de sacramento, bem como era proposto pelos padrões religiosos, aplicando suas 
concepções no núcleo familiar. 
A família constituída através do casamento, como já mencionado, é a modalidade mais 
comum na atualidade, tal como, tem sua previsão legal expressa e clara no Código Civil de 
2002 no artigo 1.511 “o casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade 
de direitos e deveres dos cônjuges”. (BRASIL, 2018, p. 217) 
Na Constituição Federal é notório o entendimento de que o casamento tem sua previsão 
legal, assim como descreve artigo 226. Desta maneira, o parágrafo 1° transcreve quanto à 
celebração do casamento civil que será gratuita e o parágrafo 2° discorre quanto ao casamento 
religioso que terá efeito civil. (BRASIL, 2018, p. 77) 
Conforme entendimento de Maluf: 
 
O casamento civil é um ato solene em que o Estado intervém desde a habilitação, 
controla a existência de impedimentos,bem como a realização pela autoridade 
competente. Caracteriza-se por ser um contrato, pois se faz necessário o 
26 
 
consentimento das partes contraentes. Para ter eficácia erga omnes, registra-se o 
casamento no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais. (MALUF, p. 103) 
 
Ainda a respeito da natureza jurídica do casamento, a grande questão é que existem 
divergências entre as doutrinas. Ou seja: alguns entendem casamento por um contrato, outros 
entendem por um contrato especial ou ainda como instituição, ou seja, instituição ou contrato. 
(MALUF; MALUF, 2016, p. 5) 
Ademais, assim como se pode constituir a família através do casamento, a mesma tem 
autonomia quanto a sua dissolução, como previsto legalmente na CF/88 no art. 226, parágrafo 
6º “o casamento civil pode ser dissolvido pelo divorcio”. (BRASIL, 2018, p. 78) 
Isto posto, o divórcio vem como mecanismo de auxílio para as pessoas que não estão 
contentes com suas relações familiares, assim como “ [...] admitir que a dignidade da pessoa 
humana esteja acima da tentativa do estado de manter algo que já se findou, ou seja, o casamento 
que já não deu certo, o afeto já não existe mais”. (RIBEIRO, 2017, p. 23) 
Entretanto, quando se fala em divórcio, cabe mencionar que quanto ao tema houve 
mudanças através da Emenda Constitucional n. 66, de 13.07.2010, pois a mesma alterou o art. 
226, § 6º, da Constituição Federal, enfatizando que o casamento poderá ser dissolvido através 
do divórcio, uma vez que anteriormente era necessária uma prévia separação judicial tendo 
como requisito mais de um ano ou também a separação de fato por mais de dois anos. (MALUF; 
MALUF, 2016, p. 32) 
Tratando-se de divórcio, abre-se uma discussão a respeito da culpa - se poderá ser 
questionada diante de um processo de divórcio - buscando entender se é possível 
responsabilizar alguém quanto à dissolução dessa instituição familiar. No entanto, não existe 
algo sólido a respeito deste pensamento. 
Para Maluf e Maluf (2016, p. 53) “ [...] a culpa esta intimamente ligada a um ato de 
vontade, a uma liberdade. A ideia da culpa no direito de família decorrente da ancestral 
descrição da família como uma instituição, e para sua ruptura, que ainda guarda certa 
polemica”. 
Conforme entendimento doutrinário, a culpa até poderia ser objeto de questionamento, 
dado que “o código civil admite a discussão da culpa pelo fim do casamento em sede de ação 
litigiosa de separação”. (CASSETARI, 2017, p. 661). Dessa maneira, esta discussão será em 
momento posterior à dissolução da conjugalidade, na ocasião de questionamentos de direitos 
adquiridos posterior à separação. 
A vista disso, conforme entendimento de Cassettari: 
 
27 
 
Com o fim da separação, a culpa não poderá ser discutida na ação de divór- cio. Assim 
sendo, a discussão sobre culpa fica mitigada com a modificação constitucional, pois 
ela será discutida em sede de ação de alimentos, para que o réu possa se defender 
quando buscar a improcedência do pedido com base no art. 1.704 do Código Civil, e 
em ação indenizatória, quando um cônjuge causar danos materiais, morais e estéticos 
ao outro, já que a culpa é elemento da res- ponsabilidade civil. Porém, cumpre lembrar 
que, no caso dos alimentos, as sanções do citado artigo podem ser relativizadas, como 
já explicado anteriormente. (CASSETTARI, 2017, p. 661) 
 
Diante disso, não há mais o que se falar em culpa na dissolução conjugal, sendo então 
que esse entendimento já foi superado. Ou seja, cada integrante de um núcleo familiar tem 
autonomia e vontade e poderá dissolver a união quando achar necessário. 
 
1.2.2.2 Família informal ou União Estável 
 
A família informal, ou para alguns doutrinadores, união estável, se forma com a união 
de pessoas que queiram formar uma família, de forma tal que não se baseiam em formalidades, 
como por exemplo: o casamento. Esta maneira de constituição de família se pauta na 
convivência estável, durável e pública. 
Ao entendimento de Maluf: 
 
 [...] a família formada pela união estável representa um fato natural e bastante 
presente na sociedade através dos tempos históricos, legitimada na realidade brasileira 
pela jurisprudência, por leis esparsas até contrar respaldo constitucional, rompendo 
assim a injustiça, o causismo, o preconceito, permitindo o homem inserido na 
tipologia de familia que melhor lhe convier possa, tendo sua intrínseca dignidade 
valorizada, desenvolver os atributos inerentes a sua personalidade. (MALUF, 2010, 
p. 108) 
 
No Código Civil de 2002, a união estável está reconhecida por meio do caput do artigo 
1.723: “é reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, 
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de 
constituição de família” (BRASIL, 2018, p. 227). 
A CF/88 também traz menção à união estável, em seu artigo 226, com o entendimento 
de que a família deverá ter proteção do Estado; nesse entendimento, vem o §3º, do artigo citado: 
“para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher 
como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” (BRASIL, 2018, 
p. 77). Cabe frisar que o Supremo Tribunal Federal, por meio da ADI 4277 e da ADPF 132, 
reconheceu a união estável homoafetiva, a despeito da CF/88 e do Código Civil trazerem “entre 
o homem e a mulher”. Isto porque a Corte atribuiu novo sentido aos artigos 1.723 do Código 
28 
 
Civil e 226 da Constituição Federal, interpretando-os conforme as leis como um todo, 
avançando na ampliação do conceito de entidade familiar. 
 
1.2.2.3 Família monoparental 
 
A família monoparental, inicia-se com apenas um dos pais, assim como seus 
descendentes. Esta família não é tão comum por não ter como base um casal, como 
normalmente decorrem as demais modalidades de família, tendo sua origem através de uma 
relação “amorosa”. Poderá também ter sua constituição através de outra instituição familiar 
dissolvida ou até mesmo através de adoção. 
Desta forma, essa maneira de família difere do padrão “família tradicional”, no entanto, 
ela é totalmente protegida por lei, como é descrito no artigo 226, §4°: “Entende-se, também, 
como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes” 
(BRASIL, 2018, p. 78). Neste entendimento, conforme Maluf: 
 
A familia monoparental configura-se de forma desvinculada da ideia de um casal e 
seus filhos, pois é formada pela presença e inter-relação da prole com apenas um dos 
seus genitores por diversas razões: viuvez, divórcio, separação judicial, adoção 
unilateral, não reconhecimento da prole pelo outro genitor, inseminação artificial 
(homóloga- após, a morte do marido, ou da mulher solteira, heteróloga), produção 
independente. (MALUF, 2010, p. 112) 
 
Ainda neste entendimento, conforme Costa: 
 
Um modelo familiar que difere da norma nuclear constituída é o das famílias 
monoparentais. Nesse caso, a família não é formada pela união de um homem, uma 
mulher e seus descendentes, mas sim por apenas um dos pais e seus filhos. Ocorre 
muitas vezes em caso de falecimento de um dos indivíduos constituidores ou então 
pelo abandono afetivo e patrimonial, geralmente por parte do pai, além da 
possibilidade cada vez mais comum da adoção de crianças por apenas um indivíduo. 
(COSTA, 2017, p. 33) 
 
A compreensão dessa modalidade de família é de suma importância para o Direito de 
Família, uma vez que a família constantemente passa por mudanças e, com elas, traz demandas 
a serem debatidas na esfera judicial. Assim, qualquer diferenciação é desnecessária, pois a 
família monoparental tem suas particularidades, mas com finalidadeigual a todas as demais 
famílias. 
 
1.2.2.4 Família anaparental 
 
29 
 
A família anaparental - constituída sem pais - talvez não seja muito frequente em nosso 
ordenamento. No entanto, sua formação é resultado de conflitos de outras formas de família, 
uma vez que esta família é formada por filhos que tiveram pais e, por motivos alheios, também 
não estão dentro desta família. Melhor explicando: a família anaparental é formada por parentes 
em linha colateral (ou não parentes) na ausência dos ascendentes. Seu núcleo é formado pela 
vontade de ser família, isto é, o laço fraterno: “a convivência entre parentes ou entre pessoas, 
ainda que não parentes, dentro de uma estruturação com identidade de propósito, impõe o 
reconhecimento da existência de entidade familiar batizada com o nome de família parental ou 
anaparental” (DIAS, 2015, p. 140). 
Barros (2003, s.p), que inclusive é o criador da expressão família anaparental, discorre 
em seu texto que “deve ser incluído na proteção jurídica um tipo de família cada vez mais 
frequente nos meios brasileiros, sobretudo nos grandes centros urbanos. São as famílias que 
não mais contam com os pais, as quais eu chamo famílias anaparentais”. 
Ainda neste entendimento, a Constituição Federal de 1988 de modo expresso, teve que 
reconhecer a entidade familiar conhecida como anaparental, de forma tal que a mesma por 
muitas vezes deriva de outra família como a que se originaliza do casamento, por exemplo. No 
entanto, é diferente do mesmo, tendo sua formação diante de apenas um dos pais. (BARROS, 
2003, s.p) 
Assim sendo, “entende-se por familia anaparental, a convivência de parentes ou pessoas 
não ligadas por laços de parentesco, em um mesmo lar, dentro de uma estruturação com 
identidade de propósito de constituir uma família [...]” (SILVA, 2017, p. 49) 
Portanto, a questão é que as famílias em algum momento se diferenciam das demais, 
como é o caso da família anaparental, por terem suas próprias características. Mas a grande 
verdade é que independente de como ou onde for criado esta família, prevalecerá a finalidade 
de cada uma, ou seja, o interesse próprio de cada um pela qual escolheu se integralizar a esta 
modalidade de família. 
 
1.2.2.5 Família homoafetiva 
 
A constituição familiar que resulta da união homoafetiva é alvo de grandes 
questionamentos, sejam eles no âmbito social ou jurídico. Juridicamente, o que se entende por 
família não traz distinção pelo gênero, no entanto, é preciso haver interpretações extensivas 
para que os direitos de pessoas classificadas como casais homoafetivos sejam resguardados. 
30 
 
Existe uma lacuna quanto ao real reconhecimento dessa categoria como família. A 
jurisprudência vem demonstrando que são necessárias mudanças, pois o assunto ainda é bem 
questionado quanto à sua legalidade: 
 
O ordenamento jurídico brasileiro não traz o reconhecimento dos direitos de união e 
de casamento do grupo LGBT, ou homoafetivo, mediante legislação, fruto de reflexão 
dos representantes do povo. Existe uma decisão tomada pelo Supremo Tribunal 
Federal em 2011, que concedeu uma reinterpretação do artigo 1.723 do Código Civil 
na conversão das uniões estáveis em casamento. (MATTOS; DIAS, 2016, p. 3) 
 
Na opinião de Dias (2014), a Constituição Federal, ao ser interpretada de maneira 
extensiva, é clara no sentido de não discriminar quais seriam as famílias dignas de proteção, 
pois isso seria excluir determinadas entidades, ferindo o princípio da dignidade humana. Por 
isso, os tribunais têm se posicionado, no sentido de dar essa interpretação às leis vigentes no 
Brasil. 
Cabe mencionar que quanto à relação homoafetiva, “no Brasil, embora não tenha 
alguma legislação favorecendo essa união, é demonstrado conforma entendimentos 
doutrinários, bem como jurisprudência vem apontando e demonstrando o entendimento que 
essa família deve ser reconhecida como tal”. (MALUF, 2010, p.52) 
Desta maneira, é clara a problemática do entendimento de que as relações familiares 
seriam constituídas através de homem e mulher, porém, este requisito foi afastado conforme 
entendimento do STJ, bem como é entendido por Gonçalves: 
 
Assim sendo, as famílias formadas por pessoas homoafetivas não são menos dignas 
de proteção do Estado se comparadas com aquelas apoiadas na tradição e formadas 
por casais heteroafetivos. O que se deve levar em consideração é como aquele arranjo 
familiar deve ser levado em conta e, evidentemente, o vínculo que mais segurança 
jurídica confere às famílias é o casamento civil. Assim, se é o casamento civil a forma 
pela qual o Estado melhor protege a família e se são múltiplos os arranjos familiares 
reconhe- cidos pela CF/1988, não será negada essa via a nenhuma família que por ela 
optar, independentemente de orientação sexual dos nubentes, uma vez que as famílias 
constituídas por pares homoafetivos possuem os mesmos núcleos axiológicos 
daquelas constituídas por casais heteroafetivos, quais sejam, a dignidade das pessoas 
e o afeto. Por consequência, o mesmo ra- ciocínio utilizado tanto pelo STJ quanto pelo 
STF para conceder aos pares homoafetivos os direitos decorrentes da união estável 
deve ser utilizado para lhes proporcionar a via do casamento civil, ademais porque a 
CF determina a facilitação da conversão da união estável em casamento (art. 226, § 
3°) . (GONÇALVES, 2017, p. 39) 
 
Sendo assim, o casamento ou qualquer outra maneira de relação entre pessoas do mesmo 
sexo terão total proteção do Estado, estando seus membros resguardados de seus direitos e 
deveres quando estão enquadrados dentro de relações familiares, ou seja, o casamento entre 
pessoas do mesmo sexo poderá ocorrer, bem como ocorre entre o homem e a mulher. 
31 
 
Como já mencionado, uma vez reconhecida a união homoafetiva, a mesma diante do 
Estado não difere das demais relações, assim como a união estável ou até mesmo o casamento, 
pois “neste sentido, podemos perceber que a formação atual da família obedece a ditames 
pessoais, as liberdades individuais, com frontal valorização dos direitos da personalidade e dos 
direitos humanos” (MALUF; MALUF, 2016, p. 39). 
Outrossim, o reconhecimento dessa instituição familiar é de total importância para a 
atualidade, uma vez que tal instituição possui suas particularidades e ainda sofre diante da 
sociedade religiosa - que acredita na união somente entre homem e mulher - sendo então, o 
reconhecimento dessa família diante do Estado totalmente relevante, uma vez que ele reflete na 
atual sociedade. 
 
1.2.2.6 Família eudemonista ou afetiva 
 
As famílias socioafetivas são baseadas no afeto, mostrando que, para ser classificado 
como pai e mãe, não necessariamente precisa haver relação de sangue, seja como for, o que irá 
prevalecer será o vínculo afetivo que os membros desta família têm e no qual acreditam. 
A relação familiar socioafetiva terá pai ou mãe “de coração”, ou seja, assemelha-se em 
certa medida com a adoção, uma vez que a relação será de afeto, de carinho, baseada em valores, 
e não em vínculo sanguíneo. 
A família eudemonista é uma instituição familiar inovadora no direito de família, 
fundada exatamente nesses vínculos afetivos, pois “o eudemonismo se caracteriza como a busca 
da felicidade, objetivo principal do sujeito quando decide formar sua família” (LOPES, 2018, 
p. 24). 
Para Cavalheiro: 
 
O conceito de Família Eudemonista é um conceito mais adequado à realidade social 
atual, uma vez que [...] há um interesse pela busca da realização individual, a 
sociedade familiar se manifesta no interesse mútuo, busca-se a igualdade entre os 
membros familiares e a felicidade e a afetividade entre eles. (CAVALHEIRO, 2013, 
p. 92) 
 
Dessaforma, pode-se pensar que esse novo modelo de família veio para concretizar a 
ideia que, desde meados do século XX para o início do século XXI, tem sido feita de família: 
aquela cujo vínculo é, basicamente, afetivo, já que, para que seja base da sociedade, a família 
precisa estar internamente bem resolvida e bem cuidada. 
32 
 
A família eudemonista em sua finalidade poderia ser entendida como um gênero das 
demais relações familiares existentes na atualidade, uma vez que busca a realização pessoal ou 
a felicidade de cada um de seus membros, como fazem os integrantes de qualquer das demais 
modalidades de família aqui já mencionadas, que terão evidentemente a mesma busca quando 
se integralizarem a um núcleo familiar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
2 PRINCIPIOS DO DIREITO DE FAMILIA 
 
2.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO DE FAMÍLIA 
 
A Constituição Federal de 1988 é reconhecida como uma constituição principiológica e 
visa enaltecer os valores jurídicos. À vista disso, em nosso ordenamento, as leis, sozinhas, não 
conseguem trazer entendimentos de forma efetiva, conforme a demanda evolutiva da sociedade, 
uma vez que as relações pessoais são amplas e variáveis. 
Consequentemente, no estudo do direito, é permitido utilizar-se de costumes como 
fonte, que tem por finalidade ser recurso de auxílio para os operadores da matéria se basear e 
buscar por melhores adequações quanto ao caso concreto e a qual entendimento se filiarem. 
Para Barroso (2013, p. 245), os “princípios constitucionais incidem sobre o mundo 
jurídico e sobre a realidade fática de diferentes maneiras. Por vezes, o princípio será 
fundamento direto de uma decisão” (grifo nosso). Dessa maneira, cabe esclarecer que os 
princípios surgem com a finalidade de auxílio para a interpretação judicial, por isso, há o 
entendimento de que não existe hierarquia jurídica entre os princípios e as regras. 
Discorrer acerca de princípios, significa tratar de fontes do direito, sendo que “entre 
todas as fontes do Direito, nos ‘princípios’ é onde se encontra a melhor viabilização para 
adequação da justiça no particular e em especial campo do Direito de Família” (PEREIRA, 
2016, p. 57). Isso significa que, para que se chegue a uma correta aplicação da legislação nas 
demandas que passam pelas Varas de Família, é necessário que ela seja interpretada em 
conformidade com os princípios destinados a esse ramo do direito, os quais são delimitados 
neste capítulo. 
Conforme entendimento de Barroso: 
 
[...] prevalece a concepção de que o sistema jurídico ideal se consubstancia em uma 
distribuição equilibrada de regras e princípios, nos quais as regras desempenham o 
papel referente a segurança jurídica previsibilidade e objetividade e objetividade das 
condutas, e os princípios, com sua flexibilidade, dão margem à realização da justiça 
no caso concreto. (BARROSO, 2013, p. 343) 
 
Isto significa dizer que, conforme a estagnação da legislação e a evolução dinâmica da 
sociedade (especialmente das famílias), os princípios cumprem o papel de, uma vez 
flexibilizados, atenderem às demandas com uma justiça que a “letra fria da lei” não conseguiria 
realizar, pois está presa no tempo em que foi produzida, naturalmente, dado que é impossível 
que o legislador preveja o futuro das relações familiares. Logo, os princípios existem com a 
34 
 
função de fonte subsidiária ao direito, uma vez que surgiram para preenchimento das brechas 
legais (BARROSO, 2013). 
Para Carvalho: 
 
As diferentes perspectivas e os diversos discursos para compreender e aplicar o 
Direito excluem na atualidade uma concepção exclusivamente positivista, diante das 
diversas situações existentes que envolvem as relações familiares, que somente podem 
ser agasalhadas em um discurso principiológico que ampare a dignidade do ser 
humano, acolhendo na plenitude seus direitos fundamentais. Necessário, portanto, 
uma breve analise dos direitos fundamentais e dos princípios constitucionais 
norteadores do direito de família, que se tornaram fonte principal da norma, ao 
estabelecer regras norteadoras e as diretrizes básicas do sistema jurídico-familiar, 
impedindo interpretação dissonantes da legislação infraconstitucional que não 
promova o espírito igualitário e solidário das garantias fundamentais. (CARVALHO, 
2017, p. 71) 
 
Assim sendo, o ordenamento jurídico está baseado em princípios que indicam o caminho 
que levará a alcançar determinada finalidade. A Constituição Federal de 1988 traz, em seu 
bojo, inúmeros princípios, cuja finalidade é tutelar e garantir a aplicabilidade das normas 
constitucionais à sociedade. O direito de família, consequentemente, conta com princípios 
próprios, voltados especificamente para as situações instauradas nesse âmbito. 
 
2.1.1 Princípio Da Dignidade Da Pessoa Humana 
 
A dignidade humana é fundamento da República, conforme enuncia o artigo 1º, inciso 
III, da Constituição Federal de 1988. Nas palavras de Tartuce (2016, 2017, p. 7), é um 
“superprincípio”, isto é, o “auge” principiológico do ordenamento jurídico brasileiro. É 
inafastável, que herda a ideia de Kant de que o homem é “um fim em si mesmo”. 
Para o direito de família, especialmente, a dignidade humana trata-se de um princípio 
de grande importância, afinal, é o ramo do direito que mais interfere na vida privada dos 
indivíduos; trata-se, comumente, de uma seara em que estão sendo judicializadas demandas as 
quais envolvem o sentimento humano. 
Diante disso, considera-se a dignidade humana o “núcleo existencial que é 
essencialmente comum a todas as pessoas humanas, como membros iguais do gênero humano, 
impondo-se um dever geral de respeito, proteção e intocabilidade” (LÔBO, 2010, p. 53). 
Segundo Gonçalves (2017, p. 23), este princípio consiste na “base da comunidade 
familiar, garantindo o pleno desenvolvimento e a realização de todos os seus membros, 
principalmente da criança e do adolescente”. Ou seja, na medida em que o princípio da 
dignidade humana é essencial para a comunidade familiar, ele auxilia na compreensão de que, 
35 
 
na seara do direito de família, a pessoa não deve ser reduzida a patrimônio. A realização e o 
desenvolvimento do ser humano dentro da família é o que está em evidência, sendo 
inadmissível sua coisificação, pois “viola o princípio da dignidade da pessoa humana todo ato, 
conduta ou atitude que coisifique a pessoa, ou seja, que a equipare a uma coisa disponível, ou 
a um objeto” (LÔBO, 2010, p. 53). 
Nesse entendimento, cabe mencionar que o que está sendo compreendido é a proteção 
individual de cada cidadão, sendo que, dessa maneira, ele será respeitado perante a sociedade, 
assim como consta na Constituição federal, no artigo 227, ao afirmar que é função da família, 
da sociedade e do Estado assegurar a aplicabilidade das garantias e dos direitos fundamentais 
às crianças e aos adolescentes (BRASIL, 2018, p. 78). Ou seja, “a entidade familiar não é 
tutelada para si, senão como instrumento de realização existencial de seus membros” (LÔBO, 
2010, p. 55). Em vista disso, o crescimento e a formação do caráter de um indivíduo são 
constituídos por carinho e educação dentro do núcleo familiar, visto que, é nesta instituição que 
serão ensinados valores e diretrizes para que o cidadão cresça e construa seus valores morais - 
que nada mais é, do que a realização prática do princípio da dignidade humana dentro da 
família. 
 
2.1.2 Princípios Da Igualdade Entre Os Filhos E Da Igualdade Entre Cônjuges 
 
Na CF/88, § 6º, do artigo 227, o princípio da igualdade dos filhos, está assim disposto: 
“os filhos havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terãoos mesmos direitos e 
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas a filiação” (BRASIL, 
2018, p. 78). Segundo Tartuce (2016), trata-se de uma ramificação do princípio da igualdade 
em sentido amplo, trazido também, pela Constituição vigente (todos são iguais perante a lei), 
no artigo 5º, caput. Ou seja, se todos são iguais perante a lei, não há motivo para a própria lei 
discriminar filhos dentro de uma entidade familiar. Isto é: 
 
Em suma, todos os filhos são iguais perante a lei, havidos ou não durante o casamento. 
Essa igualdade abrange também os filhos adotivos e aqueles havidos por inseminação 
artificial heteróloga (com material genético de terceiro). Diante disso, não se pode 
mais utilizar as odiosas expressões filho adulterino ou filho incestuoso que são 
discriminatórias. Igualmente, não podem ser utilizadas, em hipótese alguma, as 
expressões filho espúrio ou filho bastardo, comuns em passado não tão remoto. 
(TARTUCE, 2016, p. 16, grifos do autor). 
 
O que Tartuce (2016) quer dizer com “comuns em passado não tão remoto” é que a 
igualdade entre os filhos - apesar de hoje ser vista normalmente entre as famílias existentes - 
36 
 
anteriormente não existia, pois os filhos sofriam tratamentos diferenciados em decorrência de 
sua origem. Inclusive, esse entendimento era sustentado pelo Código Civil de 1916 (que ficou 
em vigor até ser substituído pelo Código de 2002, isto é, de fato, “um passado não tão remoto”. 
No que se refere à igualdade dos cônjuges, ela é demonstrada atualmente na CF/88, 
conforme artigo 226, §5º: “os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos 
igualmente pelo homem e pela mulher” (BRASIL, 2018, p. 78). Assim como Tartuce (2016) 
compreende que o princípio da igualdade entre filhos descende do princípio macro da 
igualdade, Dias (2015, p. 65) afirma que o princípio da igualdade entre cônjuges também é fruto 
do reconhecimento constitucional cuja “ideia central é garantir a igualdade”. Para ele, a 
Constituição foi enfática e “até repetitiva ao afirmar que homens e mulheres são iguais em 
direitos e obrigações (CF 5.º I), decantando mais uma vez a igualdade de direitos e deveres de 
ambos no referente à sociedade conjugal (CF 226 §5º)”. Já na visão de Diniz (2011, p. 33), 
“com esse princípio desaparece o poder marital, e a autocracia do chefe de família é substituída 
por um sistema em que as decisões devem ser tomadas de comum acordo entre conviventes ou 
entre marido e mulher [...]”. 
Dessa forma, fica superada a desproporcionalidade trazida pelo Código Civil de 1916, 
que era discriminatório com as mulheres em diversos pontos, sendo mais importante a 
atribuição do “pátrio poder” ou da chefia familiar exclusivamente ao homem. Isso, nada mais 
era que um reflexo das famílias existentes no direito romano, baseado na submissão, em que a 
figura paterna era detentora de todo o poder e os filhos e a mulher eram totalmente submissos 
ao pai. 
 
2.1.3 Princípio Do Planejamento Familiar 
 
O princípio do planejamento familiar tem por alvo demonstrar a autonomia das famílias 
quanto à sua construção, posto que, o casal dispõe de liberdade para escolher quantos filhos 
deseja ter, logo, esses filhos poderão ser de quaisquer origens escolhida pela família. Trata-se 
do conhecido princípio da não intervenção ou da liberdade, trazido no artigo 1513, do Código 
Civil vigente. Tem, ainda, “relação direta com o princípio da autonomia privada, que deve 
existir no âmbito do Direito de Família” (TARTUCE, 2016, p. 20). 
Conforme o Código Civil, não será permitido qualquer intervenção quanto às escolhas 
dos responsáveis pela instituição familiar (artigo 1.565): “o planejamento familiar é livre 
decisão do casal [...]” (BRASIL, 2002), sendo, ainda, um princípio constitucional. Afinal de 
contas, “quando escolhemos, na escalada do afeto [...], com quem ficar, com quem namorar, 
37 
 
com quem noivar, com quem ter uma união estável ou com quem casar, estamos falando em 
autonomia privada” (TARTUCE, 2016, p. 21). 
Válido lembrar que esse princípio demostra que há liberdade no poder de escolha do 
casal quanto à formação da sua família, bem como, por meio dessa liberdade. Em contrapartida, 
surge a responsabilidade quanto à criação e qualidade de vida dos filhos. De fato, a Constituição 
de 1988 incentiva a paternidade responsável e o planejamento familiar, não eximindo, no 
entanto, o Estado de fornecer os meios para tanto: educação e saúde pública de qualidade, 
assistência social às famílias, acesso à justiça, etc. Assim, “a liberdade se realiza [...] no 
planejamento familiar [...], sem interferências públicas ou privadas; na garantia contra a 
violência, exploração e opressão no seio familiar; na organização familiar mais democrática, 
participativa e solidária” (LÔBO, 2010, p. 63). Trata-se, pois, de uma limitação para garantir 
autonomia da família, porém, aliada a uma ideia de não abandono estatal. 
 
2.1.4 Princípio Da Não Hierarquia Entre As Modalidades De Família 
 
O princípio em pauta simboliza a diversidade de famílias existentes, e que, mesmo 
existindo posicionamentos claros com relação ao tratamento de todos de forma igual, 
independentemente de suas escolhas (no caso, opções quanto à maneira com que constitui sua 
família), ainda existem distinções e relutâncias quanto à veracidade e validação jurídica de cada 
uma. 
Na doutrina de Dias, trata-se do princípio do pluralismo das entidades familiares: 
 
Desde a Constituição Federal, as estruturas familiares adquiriram novos contornos. 
Nas codificações anteriores, somente o casamento merecia reconhecimento e 
proteção. Os demais vínculos familiares eram condenados à invisibilidade. A partir 
do momento em que as uniões matrimonializadas deixaram de ser reconhecidas como 
a única base da sociedade, aumentou o espectro da família. o princípio do pluralismo 
das entidades familiares é encarado como o reconhecimento pelo Estado da existência 
de várias possibilidades de arranjos familiares. (DIAS, 2015, p. 67) 
 
Isto é, se as famílias são plurais, são diversas. Se os arranjos familiares são diferentes entre si, 
e, ainda, se existe o “superprincípio” da dignidade humana, aliado ao princípio da igualdade, 
então não faz sentido que um ou outro “modelo de família” seja hierarquicamente superior a 
outro. Assim, volta-se à premissa de que todos são iguais perante a lei. 
É inevitável percebermos que, mesmo existindo uma diversidade de núcleos familiares, 
“a família seguia um modelo único, formado exclusivamente a partir do matrimônio, restando 
excluídas do sistema as demais formas de união, que simplesmente não eram reconhecidas pelo 
38 
 
direito” (CALDERÓN, 2013, p. 231). No entanto, como bem pondera Dias (2015, p. 68), depois 
da CF/88, “excluir do âmbito da juridicidade entidades familiares [...] é ser conivente com a 
injustiça”. Por isso, compreende-se, no âmbito do direito de família constitucional, que não há 
família válida ou família inválida, muito menos família com mais direitos do que outra. O que 
há é uma pluralidade de entidades familiares, que devem ser tratadas com igualdade. 
A busca da pluralidade da família (assim como igualdade de direitos) equivale a todas 
as famílias. Na verdade o que se busca é, unicamente, uma família, sendo ela como for - em sua 
origem ou componentes. 
 
2.1.5 A Afetividade: Um Princípio Jurídico? 
 
Este princípio consiste no fundamento do “direito de família na estabilidade das relações 
socioafetivas e na comunhão de vida, com primazia sobre as considerações de caráter 
patrimonial ou biológico” (LÔBO, 2010, p. 63). A afetividade dentro das relações familiares 
existia, mas não deforma tão clara como vista atualmente, passando a ser a base das relações 
familiares, conforme descreve Calderón: 
 
A partir do seu reconhecimento como elemento do convívio familiar, a afetividade fez 
percurso que pode ser descrito como da periferia ao cerne destas relações e, a partir 
de então, passou a exercer um outro e importante papel. 
O inicio deste século XXI tornou perceptível como a afetividade passou a figurar de 
forma central nos vínculos familiares, não em substituição aos critérios biológicos ou 
matrimonias (que persistem, com inegável importância), mas ao lado deles se 
apresentou como relevante uma ligação afetiva. [...]. (CALDERÓN, 2013, p. 205) 
 
À vista disso, é notória a necessidade da presença do afeto nas relações familiares, 
dentro dos núcleos familiares bem como nas relações pessoais, de maneira que o poder de amar 
e respeitar ao próximo são demostrados por meio de cada indivíduo de forma diferente. Dessa 
maneira, “a afetividade, o amor, o carinho [...], são indispensáveis ao convívio entre pais e 
filhos, caso contrário haverá lesão a dignidade moral destes” (OLIVEIRA JÚNIOR, 2016, p. 
40). Tanto é que o afeto é apontado pela doutrina como a base das relações familiares; em um 
contexto pós-Constituição de 1988: “mesmo não constando a expressão afeto do Texto Maior 
como sendo um direito fundamental, pode-se afirmar que ele decorre da valorização constante 
da dignidade humana” (TARTUCE, 2016, p. 23-24, grifo do autor). 
Para Tartuce (2016), Dias (2015) e Lôbo (2010), o princípio da afetividade é válido 
como um princípio jurídico do direito de família, apesar de não previsto expressamente na 
legislação. Para explicar esse fenômeno, Tartuce (2016, p. 24) explica que “os princípios 
39 
 
jurídicos são concebidos como abstrações realizadas pelos intérpretes, a partir das normas, dos 
costumes, da doutrina, da jurisprudência e de aspectos políticos, econômicos e sociais”. 
A solidificação da afetividade como princípio de direito de família significa a tentativa 
de conforme dito anteriormente, não reduzir as relações familiares ao aspecto patrimonial, a 
fim de não objetificar as pessoas, ferindo o princípio da dignidade humana. 
Evidentemente, não se pode obrigar alguém a amar outra pessoa. Porém, quando se fala 
em afeto dentro da família, fala-se em uma interação inevitável, que deve ser compreendida e 
da qual o Judiciário não pode se esquivar - sob pena de estar pondo de lado a maneira com a 
qual a dinâmica familiar afeta os indivíduos nela contidos - até porque “o vínculo familiar 
constitui mais um vínculo de afeto do que um vínculo biológico” (TARTUCE, 2016, p. 25). 
Exatamente por isso, muito se discute a possibilidade de reparação quando há o 
descumprimento da afetividade. Cabe ressaltar que o que se pretende reparar é o não 
cumprimento dos deveres do poder familiar dos pais para com os filhos, não tendo a pretensão 
de questionar o valor do amor ou afeto. 
A CF/88 mostra um rol de direitos individuais e sociais, uma vez que cada indivíduo 
tem direito à dignidade perante o ordenamento, o Estado-juiz deve assegurar a todos a dignidade 
humana. Para Diniz (2010, p. 71), “ainda que com grande esforço se consiga visualizar na lei a 
elevação do afeto a valor jurídico, mister reconhecer que tímido mostrou-se o legislador”. Ainda 
conforme entendimento do autor: 
 
O afeto não é fruto da biologia. Os laços de afeto e de solidariedade derivam da 
convivência familiar, não do sangue. Assim, a posse de estado filho nada mais é do 
que o reconhecimento jurídico do afeto, com o claro objetivo de garantir a felicidade, 
como um direito a ser alcançado. O afeto não é somente um laço que envolve os 
integrantes de uma família. Igualmente tem um viés externo, entre as famílias, pondo 
humanidade universal, cujo lar é a aldeia global, cuja base é o globo terrestre, mas 
cuja origem sempre será, como sempre foi, a família. (DINIZ, 2010, p. 71). 
 
Ou seja, conectando todos os princípios citados concernentes ao direito de família, todos 
convergem para o mesmo sentido: a relação privada familiar de afeto, pessoalizada e não 
objetificada por meio da estrita patrimonialização - que em um passado não muito distante era 
o que ditava as regras do direito de família. Dessa maneira, para Silva (2017, p. 67) “a 
afetividade é o princípio que fundamenta o Direito de Família na estabilidade das relações 
socioafetivas e na comunhão de vida, com primazia em face de considerações de caráter 
patrimonial ou biológico”. 
Para Maluf e Maluf: 
 
40 
 
A afetividade, como princípio jurídico, não se confunde com o afeto, fato psicológico 
ou anímico, porquanto pode ser presumida quando este faltar na realidade das 
relações. Assim, a afetividade é um dever imposto aos pais em relação aos filhos e 
destes em relação àqueles, ainda que haja desamor ou desafeição entre eles”. Assim, 
“sem qualquer contradi- ção, podemos referir a dever jurídico de afetividade oponível 
a pais e filhos e aos parentes entre si, em caráter permanente, independentemente dos 
sentimentos que nutram entre si, e aos cônjuges e companheiros enquanto perdurar a 
convivência. (MALUF; MALUF, 2016, p. 49) 
 
Assim sendo, o afeto é algo que não pode ser manipulado, até mesmo exigido, no 
entanto, o mesmo é o elemento irradiador da convivência familiar, ou seja, qualquer relação 
familiar terá o elemento afeto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
3 ABANDONO AFETIVO 
 
3.1 ABANDONO AFETIVO: CONCEITO E DEFINIÇÃO 
 
O objeto de estudo do Direito de Família nos últimos anos tem se mostrado 
evidentemente aceitável aos laços emocionais diante das relações familiares. Isto é, a família 
na sua evolução, nitidamente, passa por um processo de constantes mudanças, e, nessa 
perspectiva, o afeto tem sido a motivação de discussões da esfera familiar. Todavia, a falta de 
afeto diante da estrutura familiar (e vislumbrado sob o alcance do desamparo e desprezo) coloca 
o abando afetivo na esfera jurídico-social, com discussões de ordem técnica e conceitual, pois 
“o afeto, no sentido de cuidado, conduta, não pode faltar para o desenvolvimento de uma 
criança” (BARBOSA, 2015, p. 404). 
Dessa maneira, entendem Pereira, Coltro e Oliveira, a respeito de afeto: 
 
O bebê humano necessita dos dois alimentos: o nutriente, de preferência o leite 
materno, e o afeto. Faz-se necessário esclarecer que afeto não é dizer ‘te amo’, beijar 
e agarrar, mas é dar cuidados de qualidade, é respeitar sua vulnerabilidade, é ajudar 
para que ele caminhe no processo de organização de sua mente facilitando seu 
amadurecimento neurológico, é proteger e incentivar suas explorações do mundo e 
das relações com as pessoas. Enfim, é olhar no olho do bebê sempre que ele procura 
o olhar da mãe. (PEREIRA; COLTRO; OLIVEIRA, 2017, p. 23) 
 
Ainda sobre o afeto, Barros entende que: 
 
O direito ao afeto é a liberdade de afeiçoar-se um indivíduo a outro. O afeto ou afeição 
constitui, pois, um direito individual: uma liberdade, que o Estado deve assegurar a 
cada indivíduo, sem discriminações, senão as mínimas necessárias ao bem comum de 
todos. (BARROS, 2013, s. p) 
 
Sendo assim, é claro o entendimento de que o ser humano desde o seu nascimento e até 
após sua formação adulta, necessita de afeto, bem como dos alimentos devido às necessidades 
biológicas. A ausência afetiva resulta em problemas para sua formação, sendo estes, talvez, 
irreversíveis. 
Na opinião de Pereira, Coltro e Oliveira (2017, p. 21), o abandono acontece dentro dos 
lares, ou seja, é intrafamiliar. Existem laços afetivos rasos, nada consistentes, porque muitas 
vezes as crianças são geradas para cumprir um roteiro preconcebidode família feliz para a foto. 
Para Maluf e Maluf: 
 
O abandono afetivo é um conceito novo atribuído à ausência de afeto entre pais e 
filhos, em que estes buscam por intermédio de demanda judicial a reparação dessa 
lacuna existente em sua vida. Vê-se, entretanto, que o al- cance do princípio jurídico 
42 
 
da afetividade não abrange o obrigar o amor ou a demonstração de afeto entre as 
pessoas. Mas posicionam-se os tribunais favoravelmente à indenização por abandono 
afetivo: ‘o art. 226 da Consti- tuição não se resume ao cumprimento do dever de 
assistência material. Abrange também a assistência moral, que é dever jurídico cujo 
descumprimento pode levar à pretensão indenizatória’. Dessa forma, ‘o abandono 
afetivo nada mais é que inadimplemento dos deveres jurídicos de paternidade’. 
(MALUF; MALUF, 2016, p. 51) 
 
Sob tal conceito, percebe-se a importância do tema sob a visão da situação de 
vulnerabilidade em que fica o filho na posição de “filho abandonado”, que é alguém 
negligenciado, vítima de omissão, de indiferença, de ausência de afeto e amor. E, diante de tal 
ausência familiar (pode ser ela paterna ou materna), o filho busca por reparação em vias 
judiciais. 
Uma das formas de abandono afetivo pode ser ocasionada pelo genitor que, ao deixar o 
lar, passa a viver em outro e se esquece de suas obrigações como pai. Ou seja: “No caso do 
abandono afetivo há a ausência ou a raridade do quesito afeto, fator essencial para legitimar a 
criação e o cuidado” (ALVES, 2013, p. 4). Dessa forma, a criança tem uma relação mais distante 
com quem a abandonou, o que se nota é que, por algum problema em que se encontram os 
responsáveis pelas crianças, eles se distanciam dos filhos, resultando no abandono. No entanto, 
é valido ressaltar que é muito comum também o abandono de maneira material, quando os filhos 
são deixados com algum responsável legal, o qual precisa arcar com todas as despesas do 
menor, sem qualquer ajuda do outro responsável, precisando este ser lembrado de suas 
obrigações para com os filhos mediante vias judiciais. 
Cabe frisar que, nos termos da Constituição da República Federativa do Brasil, 
encontra-se o poder familiar mencionado como um dever, sendo que é comum entre os 
genitores ou, melhor dizendo, os responsáveis pelo sustento e proteção dos filhos, de maneira 
que se faz entender o quão são fundamentais para o desenvolvimento sadio. 
Conforme Tartuce (2017, p. 507), entende-se o poder familiar “como sendo o poder 
exercido pelos pais em relação os filhos, dentro da ideia de família democrática, do regime de 
colaboração familiar e de relações baseadas, sobretudo, no afeto”. 
Para Gonçalves (2017, p. 410), o poder familiar é “um conjunto de direitos e deveres 
atribuídos aos pais, no tocante a pessoa e aos bens dos filhos menores”. Sendo assim, conforme 
artigo 1.630, do CC, “os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menor” (BRASIL, 
2018, p. 223). 
Dessa forma, é entendimento doutrinário que o poder familiar, conforme transcreve o 
Código Civil 2002, será exercido pela mãe e/ou pelo pai, deixando de lado a visão de que 
somente a figura paterna é poder supremo da casa, entendimento este totalmente superado. Ou 
43 
 
seja, há direitos e deveres iguais aos responsáveis pela família (LOBÔ, 2017, p. 507). No 
entanto, o poder familiar poderá ser extinto por decisão judicial ou, bem como dispõe o artigo 
1.635 do Código Civil: 
 
Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar: 
I - pela morte dos pais ou do filho; 
II - pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único; 
III - pela maioridade; 
IV - pela adoção; 
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638. (BRASIL, 2002). (BRASIL, 2018, 
p. 223) 
 
Assim extinto, o poder familiar poderá ser suspenso, bem como dispõe o artigo 1.637, 
do atual código civil: 
 
Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles 
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, 
ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do 
menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha. 
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à 
mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a 
dois anos de prisão. (BRASIL, 2018, p. 223). 
 
A suspensão é uma “sanção aplicada aos pais pelo juiz, não tanto como intuito punitivo, 
mas para proteger o menor” (GONÇALVES, 2017, p. 432). Ou seja, o critério para se avaliar a 
suspensão do poder familiar será sempre o melhor interesse para o menor. Dessa maneira, o 
poder familiar tem como finalidade o melhor interesse para com o menor, estando sujeito à 
suspensão, uma vez que não sejam respeitados os critérios estipulados por lei, pois a real 
finalidade é o melhor convívio entre os integrantes da família. 
As decisões a serem tomadas mediante os pedidos de reparação diante do poder 
judiciário irão seguir pelo caminho do melhor interesse da criança, sendo o mesmo um princípio 
“que leva em conta primordialmente a condição especial de serem pessoas em via de 
desenvolvimento e que em todos os atos relacionados com a criança deve ser considerado o seu 
melhor interesse” (PEREIRA, 2008, p. 952-953). 
É bastante comum, diante da dissolução da união do casal, que os laços afetivos com os 
filhos sejam desconsiderados. A partir de divórcios litigiosos, as relações que dali em diante 
serão estabelecidas, sofrem influência dos resultados oriundos da dissolução familiar, pois 
surgem obrigações, como prestações de cunho alimentar que dão ensejo a relações conflituosas 
entre pais e filhos. 
44 
 
Os reflexos do abandono afetivo são percebidos na vida e no desenvolvimento da 
criança e do adolescente no decorrer de sua formação como ser humano. Com o passar do 
tempo, os resultados surgem naturalmente e são refletidos por meio de ações ou 
comportamentos dessas pessoas. No entanto, esses reflexos não são previsíveis, uma vez que 
são variáveis de acordo com cada pessoa, sendo que cada um reage diferente diante de 
determinadas situações. Assim: 
 
As consequências desse abandono são as mais variadas, e incluem estigma de rejeição, 
de ser ignorado, destrói princípios, desvia o caráter, desestrutura personalidades, 
destrói a autoestima e a autoconfiança da criança ou do jovem, o que poderá acarretar, 
no futuro, a construção de um adulto desestimulado, que apresenta dificuldades em 
expressar seus sentimentos, bem como com problemas psíquicos, como por exemplo, 
depressão, ansiedade, traumas, o que será refletido nas pessoas que convivem com 
ele. (ALVES, 2013, p. 3). 
 
Nesse contexto, muitos buscam nas vias judicias, uma tutela diante de um 
reconhecimento de paternidade ou até mesmo uma prestação de natureza alimentar, sendo 
evidente o direito de recorrer ao Judiciário para pedidos de indenização baseados em problemas 
psicológicos, pautados no orgulho humano e na frivolidade. 
 
3.2 CONSEQUÊNCIAS DO ABANDONO AFETIVO 
 
Expostos os entendimentos a respeito do abandono afetivo, resta explanar possíveis 
consequências oriundas dessa conduta oposta ao que se busca nos modelos atuais de família. 
Nessa esfera, sabe-se que o estudo da Psicologia aplicada ao Direito busca compreender 
o abandono afetivo, seu surgimento e seus efeitos na procura pelo entendimento dos danos 
causados por este, sendo que o descumprimento dos responsáveis pela família para com os 
filhos dentro do convívio familiar pode gerar indenização. 
A criança, na sua formação, necessita da presença familiar para seu primeiro contato 
com as relações interpessoais, surgindo então, o início da

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