Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, FISIOTERAPIA E DANÇA CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA – LICENCIATURA PROFESSORA: LISIANE TORRES Bruno Kraus do Amaral ENSAIO ESTÁGIO INFANTIL Porto Alegre 2018 A IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Bruno Kraus do Amaral 1. INTRODUÇÃO Este texto expõe as experiências praticadas no Estágio de Docência de Educação Física na Educação Infantil, na Creche Vera Fabrício Carvalho do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. No período de março a junho de 2018. O estágio foi realizado com a turma Jardim A, composta por 26 alunos, na faixa etária entre 4 e 5 anos de idade. As aulas de Educação Física aconteceram nas segundas e quartas, das 16h30min às 17h. O movimento é reconhecido como sendo o objeto de estudo e aplicação da educação física. Seja qual for à área de atuação, a educação física trabalha com movimento e, pelo acima exposto, é inegável a sua contribuição ao desenvolvimento global do ser humano, desde que estes trabalhos sejam adequados (GOTANI et al., 1988). A Educação Infantil proporciona um espaço em que a criança aprende, brinca, se relaciona com outras crianças, dialoga, desenvolve seus aspectos cognitivos, sociais, afetivos. E isso é essencial, já que é a primeira experiência educacional da criança fora do ambiente familiar. É neste momento que destacamos a importância da Educação Física na Educação Infantil, pois esta trabalha o movimento, a linguagem corporal, a cultura da criança por meios de atividades lúdicas, jogos e brincadeiras. Pois é meio de alcançarmos de forma pedagógica o desenvolvimento, crescimento e a aprendizagem das crianças. A brincadeira é algo normal para as crianças, onde se sentem felizes, sentem prazer, desenvolvem sua imaginação, assumem outros papéis. (Vygotsky, 1984). O desenvolvimento motor sofre grande influência, do meio social e biológico, podendo sofrer alterações durante seu processo. Sabe-se que a escola é um dos locais de oferta de espaço adequado para o desenvolvimento motor da criança, visto que o brincar significa o meio mais importante para as aprendizagens dos pequenos. (Gallahue, Ozmun, 2002). Como educação do movimento compreende-se a realização de atividades motoras que visam o desenvolvimento das habilidades (correr, saltar, saltitar, arremessar, empurrar, puxar, balançar, subir, descer, andar), da capacidade física (agilidade, destreza, velocidade, velocidade de reação) e das qualidades físicas (força, resistência muscular, resistência aeróbica e resistência anaeróbica). (Mattos, 1999). 2. PRIMEIRO CONTATO, DIAGNÓSTICO, PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DAS AULAS Nas primeiras observações diagnósticas, constatei uma turma bastante animada, agitada, curiosa, muito engajada e participativa, mas que carecem de desenvolver as suas habilidades motoras básicas. As capacidades de coordenação motora são à base de uma boa capacidade de aprendizagem sensório-motora. Quanto mais elevado for seu nível de desenvolvimento, mais rápido e mais seguramente poderão ser aprendidos movimentos novos ou difíceis, com uma economia de esforço, propiciando melhor orientação e precisão (Pereira, 2002). Para a psicomotricidade o desenvolvimento psicomotor passa a ser pré-requisito de conteúdos cognitivos. Desloca-se a preocupação da educação do movimento para a educação pelo movimento. (BRACH apud BATISTELLA, 2001). Estudiosos da educação defendem que as experiências motoras que se iniciam na infância são de fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo, principal meio pelo qual a criança explora, relaciona e controla seu meio ambiente. O movimento se relaciona com o desenvolvimento cognitivo, no sentido de que a integração das sensações provenientes de movimentos resulta na percepção e toda aprendizagem simbólica posterior depende da organização destas percepções em forma de estruturas cognitivas. Por meio da exploração motora a criança desenvolve consciência do mundo que a cerca, e de si própria. O controle motor possibilita à criança experiências concretas, que servirão como base para a construção de noções básicas para o seu desenvolvimento intelectual (ROSA NETO, 2002). A partir do diagnóstico da turma, o planejamento foi construído com a intenção de oportunizar o aprimoramento dos elementos básicos do desenvolvimento motor: Motricidade fina: atividade de movimento espacialmente pequena, que requer um emprego de força mínima, mas grande precisão ou velocidade ou ambos, sendo executada principalmente pelas mãos e dedos, às vezes também pelos pés” (MEINEL, 1984, p.154). Habilidades motoras finas requerem a capacidade de controlar os músculos pequenos do corpo, a fim de atingir a execução bem-sucedida da habilidade (MAGILL, 1984). Conforme Canfield (1981), a motricidade fina envolve a coordenação óculo-manual e requerem um alto grau de precisão no movimento para o desempenho da habilidade específica, num grande nível de realização. Atua para inúmeras atividades como pegar ou lançar objetos, escrever, desenhar, pintar, etc. (ROSA NETO, 1996). Velasco (1996, p. 107) destaca que as interações com pequenos objetos exigem da criança os movimentos de preensão e pinça que representam a base para o desenvolvimento da coordenação motora fina”. Motricidade global: Segundo Batistella (2001), a motricidade global tem como objetivo a realização e a automação dos movimentos globais complexos, que se desenrolam num certo período de tempo e que exigem a atividade conjunta de vários grupos musculares. Envolve movimentos que envolvem grandes grupos musculares em ação simultânea, com vistas à execução de movimentos voluntários mais ou menos complexos. As capacidades motoras globais são caracterizadas por envolver a grande musculatura como base principal de movimento. No desempenho de habilidades motoras globais, a precisão do movimento não é tão importante para a execução da habilidade, como nos casos das habilidades motoras finas. Embora a precisão não seja um componente importante nesta tarefa, a coordenação perfeita na realização deste movimento é imprescindível ao desenvolvimento hábil desta tarefa (MAGILL, 1984). A coordenação global e as experimentações feitas pela criança levam a adquirir a dissociação do movimento, levando-a a ter condições de realizar diversos movimentos simultaneamente, sendo que cada um destes movimentos pode ser realizado com membros diferentes sem perder a unidade do gesto (OLIVEIRA, 2001). Equilíbrio: base primordial de toda ação diferenciada dos membros superiores. Quanto mais defeituoso é o movimento mais energia consome, tal gasto energético poderia ser canalizado para outros trabalhos neuromusculares. O equilíbrio considerado como o estadode um corpo, quando distintas e encontradas forças que atuam sobre ele se compensam e se anulam mutuamente. Desde o ponto de vista biológico, a possibilidade de manter posturas, posições e atitudes indica a existência de equilíbrio. Conforme Rosa Neto (1996), a postura inadequada está associada a uma excessiva tensão que favorece um maior trabalho neuromuscular, dificultando a transmissão e informações dos impulsos nervosos. Esquema corporal: O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança. É a representação relativamente global, científica e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo (WALLON, 1975). A criança percebe-se e percebe os seres e as coisas que a cercam, em função de sua pessoa. Sua personalidade se desenvolverá a uma progressiva tomada de consciência de seu corpo, de seu ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo à sua volta. Ela se sentirá bem na medida em que seu corpo lhe obedece, em que o conhece bem, em que o utiliza não só para movimentar-se, mas também para agir (PEREIRA, 2002). A imagem corporal como resultado complexo de toda a atividade cinética, sendo a imagem do corpo a síntese de todas as mensagens, de todos os estímulos e de todas as ações que permitam a criança se diferenciar do mundo exterior, e de fazer do “EU” o sujeito de sua própria existência. O esquema corporal pode ser definido no plano educativo, como a chave de toda a organização da personalidade (PEREIRA, 2002). Organização espacial: As primeiras experiências espaciais estão estreitamente associadas ao funcionamento dos diferentes receptores sensoriais sem os quais a percepção subjetiva do espaço não poderia existir; a integração contínua das informações recebidas conduz a sua estruturação, e ação eficaz sobre o meio externo. Olho e ouvido; labirinto; receptores articulares e tendinosos; fusos neuromusculares e pele; representam o ponto de partida de nossa experiência espacial (ROSA NETO, 1996). Todas as modalidades sensoriais participam pouco ou muito na percepção espacial: a visão; a audição; o tato; a propriocepção; e o olfato. A orientação espacial designa nossa habilidade para avaliar com precisão a relação física entre nosso corpo e o meio ambiente, e a tratar as modificações no curso de nossos deslocamentos (OLIVEIRA, 2001). A percepção relativa à posição do corpo no espaço e de movimento tem como origem estes diferentes receptores com seus limites funcionais, enquanto que a orientação espacial dos objetos ou dos elementos do meio, necessita mais da visão e audição. Está praticamente estabelecido que da interação e da integração destas informações internas e externas provêm nossa organização espacial (OLIVEIRA, 2001). Organização temporal: Os dois grandes componentes da organização temporal, a ordem e a duração, que o ritmo reúne, o primeiro define a sucessão que existe entre os acontecimentos que se produzem, uns a continuação de outros, numa ordem física irreversível; a segunda permite a variação do intervalo que separa os dois pontos, o princípio e o fim de um acontecimento. Esta medida possui diferentes unidades cronométricas como o dia e suas divisões, horas, minutos e segundos. A ordem ou distribuição cronológica das mudanças ou acontecimentos sucessivos representa o aspecto qualitativo do tempo e a duração seu aspecto quantitativo (ROSA NETO, 1996). A organização temporal inclui uma dimensão lógica (conhecimento da ordem e duração, os acontecimentos se sucedem com intervalos), uma dimensão convencional (sistema cultural de referências, horas, dias, semanas, meses e anos) e um aspecto de vivência, que aparece antes dos outros dois (percepção e memória da sucessão e da duração dos acontecimentos na ausência de elementos lógicos ou convencionais). (RIGAL, 1988) Lateralidade: O corpo humano está caracterizado pela presença de partes anatômicas pares e globalmente simétricas. Esta simetria anatômica se redobra, não obstante, por uma assimetria funcional no sentido de que certas atividades que só intervêm numa das partes. Por exemplo, escrevemos com uma só mão; os centros de linguagem se situam na maioria das pessoas no hemisfério esquerdo. A lateralidade é a preferência da utilização de uma das partes simétricas do corpo: mão, olho, ouvido, perna; a lateralização cortical é a especialidade de um dos dois hemisférios enquanto ao tratamento da informação sensorial ou enquanto ao controle de certas funções (OLIVEIRA, 2001). Segundo Pereira (2002), a definição de uma das partes do corpo só ocorre por volta dos sete anos de idade, antes disso, devem-se estimular ambos os lados, para que a criança possa descobrir por si só, qual o seu lado de preferência. “A preferência pelo uso de uma das mãos geralmente se evidencia aos três anos”. Avaliação Motora: Normalmente utilizam-se testes para conhecer as características e necessidades individuais das pessoas, isto se torna indispensável se pensar em cada vez mais atender o desenvolvimento das pessoas, em especial as crianças, como o máximo de acertos possíveis para que seu desenvolvimento ocorra dentro dos períodos desejáveis, contribuindo assim, para com um desenvolvimento pleno. É importante destacar que para esta avaliação não são utilizados somente um único teste e sim um conjunto de testes, a fim de examinarmos a criança em todas as dimensões do desenvolvimento humano (ROSA NETO, 1996). Nas avaliações da turma do Jardim A, utilizamos o Test Of Gross Motor Development (TGMD-2), fazendo as avaliações dos conjuntos de habilidades locomotoras e de controle de objeto. 3. Conclusão Com o conhecimento dos elementos básicos do desenvolvimento motor, temos a possibilidade de elaborar atividades que contemplem os conjuntos das habilidades motoras básicas, com o intuito de oportunizar atividades que possibilitem o pleno desenvolvimento motor e cognitivo do indivíduo nesta fase que é tão importante para o seu desenvolvimento. A partir destes elementos citados anteriormente, utilizamos como embasamento para o planejamento tanto das aulas de Educação Física na Educação Infantil, com a turma: Jardim A, como também utilizamos para fazer a avaliação do desenvolvimento das habilidades motoras básicas ao final das nossas aulas. Entendendo que a criança tem como característica principal a intensidade de movimentos, compreendemos como de fundamental importância tratar das especificidades do campo do conhecimento da Educação Física desde a Educação Infantil. Assim, podemos verificar a necessidade de uma concepção didático-metodológica para ser desenvolvida na Educação Infantil que respeite a criança em seu desenvolvimento, e que trabalhe os aspectos cognitivos, sociais, afetivos e motores de forma integrada, buscando desenvolvero olhar crítico da criança para as relações sociais da sociedade em que está inserida, partindo da compreensão do seu mundo vivido. 4. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Ministério da Educação, 1996. GALLAHUE, D. e DONNELLY, F.C. Educação física desenvolvimentista para todas as crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2008. GALLAHUE, D. e OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005. ROCHA, Y.F.O. Piaget na sala de aula: uma abordagem lúdica. Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI. 2009. SOARES, C.L. et al. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1999. BATISTELLA, P. A. Estudo de Parâmetros Motores em Escolares com Idade de 6 a 10 anos da Cidade de Cruz Alta – R.S. Dissertação de mestrado (Ciências do Movimento Humano). Centro de Ciências da Saúde e do Esporte da Universidade do Estado de Santa Catarina – CEFID/UDESC, 2001. GOTANI, G.et al. Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU: Editora da Universidade de São Paulo, 1988. OLIVEIRA, G.C. Psicomotricidade: Educação e Reeducação num enfoque Psicopedagógico. 5.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. ROSA NETO, F. Manual de Avaliação Motora. Porto Alegre: Artmed, 1996. CANFIELD, J.T. Aprendizagem Motora. Santa Maria: Universitária, 1981.
Compartilhar