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Cap´ıtulo 10 Dimensionamento de Estruturas de Drenagem Superficial (Sarjetas) 10.1 Introduc¸a˜o A erosa˜o e´ um processo natural que tem como agentes principais, nas regio˜es tropicais, a a´gua (precipitac¸o˜es pluviome´tricas) e o vento ( especialmente nas a´reas onde ocorrem solos francamente arenosos). Acontece, principalmente, atrave´s de escoamento superficial concentrado, provocando o aparecimento de sulcos e ra- vinas nas encostas mais inclinadas, ale´m de deslizamentos de terra (quedas de barreiras). Os processos erosivos podem ser favorecidos em raza˜o de: • comprimento e forma dos gradientes; • movimentac¸a˜o do relevo; • caracter´ısticas e composic¸a˜o dos solos; • tipo de uso e cota do lenc¸ol frea´tico. Os processos erosivos tambe´m sa˜o frequentemente acelerados pelas ac¸o˜es humanas: • desmatamentos; • alterac¸o˜es topogra´ficas; • construc¸a˜o de obras e benfeitorias; • extrac¸a˜o de materiais de construc¸a˜o; • extrac¸a˜o mineral. Um projeto de drenagem superficial, que assegure um desague seguro das a´guas captadas em superf´ıcie representa um dos mais importantes projetos de protec¸a˜o do capital investido na construc¸a˜o da infraestru- tura ferrovia´ria e rodovia´ria. O sistema de drenagem superficial tem por objetivo a captac¸a˜o ou interceptac¸a˜o e remoc¸a˜o das a´guas precipitadas sobre as estradas, as ferrovias e a´reas adjacentes, que escoam superficial- mente. As a´guas superficiais devem ser removidas ou conduzidas para locais apropriados, visando evitar a sua acumulac¸a˜o, bem como proporcionar estabilidade aos macic¸os de terra que constituem a infrestrutura e na˜o causar erosa˜o nos terrenos marginais. 94 Um sistema de drenagem de a´guas pluviais e´ composto de uma se´rie de unidades e dispositivos hidra´ulicos para os quais existe uma terminologia pro´pria e cujos elementos mais frequentes sa˜o : • Greide - e´ uma linha do perfil correspondente ao eixo longitudinal da superf´ıcie livre da via pu´blica. • Guia - tambe´m conhecida como meio-fio, e´ a faixa longitudinal de separac¸a˜o do passeio com o leito via´rio, constituindo-se geralmente de pec¸as de granito argamassadas. • Sarjeta - e´ o canal longitudinal, em geral triangular, situado entre a guia e a pista de rolamento, destinado a coletar e conduzir as a´guas de escoamento superficial ate´ os pontos de coleta. • Sarjeto˜es - canal de sec¸a˜o triangular situado nos pontos baixos ou nos encontros dos leitos via´rios das vias pu´blicas, destinados a conectar sarjetas ou encaminhar efluentes destas para os pontos de coleta. • Bocas coletoras - tambe´m denominadas de bocas de lobo, sa˜o estruturas hidra´ulicas para captac¸a˜o das a´guas superficiais transportadas pelas sarjetas e sarjeto˜es; em geral situam-se sob o passeio ou sob a sarjeta. • Poc¸os de visita: dispositivos localizados em pontos convenientes do sistema de galerias para permi- tirem mudanc¸a de direc¸a˜o, mudanc¸a de declividade, mudanc¸a de diaˆmetro e inspec¸a˜o e limpeza das canalizac¸o˜es; • Trecho: porc¸a˜o da galeria situada entre dois poc¸os de visita; • Tubos de ligac¸o˜es: sa˜o canalizac¸o˜es destinadas a conduzir as a´guas pluviais captadas nas bocas-de-lobo para as galerias e os poc¸os de visita; • Galeria: canalizac¸o˜es usadas para conduzir as a´guas pluviais provenientes das bocas-de-lobo e das ligac¸o˜es privadas; • Condutos forc¸ados: obras destinadas a` conduc¸a˜o das a´guas superficiais coletadas, de maneira segura e eficiente, sem preencher totalmente a sec¸a˜o transversal dos condutos; • Estac¸o˜es de Bombeamento: conjunto de obras e equipamentos destinados a retirar a a´gua de um canal de drenagem, quando na˜o mais houver condic¸a˜o de escoamento por gravidade, para um outro canal em n´ıvel mais elevado ou receptor final da drenagem em estudo. Os principais dispositivos de drenagem superficial sa˜o: • Sarjeta e meio-fio de aterro; • Sarjeta de corte; • Valetas de protec¸a˜o de corte e de aterro; • Sarjeta de canteiro central e de banquetas; • Transposic¸a˜o de segmentos de sarjetas; • Sa´ıda e descida d’a´gua em talude; • Dissipador de energia; • Caixa coletora; 95 • Bacia de captac¸a˜o e vala de derivac¸a˜o; • Vala lateral e corta-rio. O Projeto de Drenagem Superficial tem por objetivo o dimensionamento dos dispositivos capazes de captar e conduzir adequadamente as a´guas superficiais de modo a preservar a estrutura da via, bem como possibilitar sua operac¸a˜o durante a incideˆncia de precipitac¸o˜es intensas. Desta forma, os trabalhos a serem desenvolvidos devem abordar, basicamente, o dimensionamento dos seguintes dispositivos: • Sarjetas de aterro; • Valetas de protec¸a˜o para cortes e aterros; • Sarjetas de corte; • Sarjeta das banquetas de corte e aterro. 10.2 Dimensionamento das Sarjetas de Aterro A sarjeta de aterro e´ o elemento longitudinal responsa´vel pela interceptac¸a˜o das a´guas da plataforma estradal, que potencialmente podem erodir a borda externa do acostamento, ou seja, o topo do talude de aterro. A indicac¸a˜o da sarjeta de aterro deve fundamentar-se nas seguintes situac¸o˜es: • trechos onde a velocidade das a´guas provenientes da pista provoque erosa˜o na borda da plataforma; • trechos onde, em conjunto com a terraplenagem, for mais econoˆmica a utilizac¸a˜o da sarjeta, aumen- tando com isso a altura necessa´ria para o primeiro escalonamento de aterro; • intersec¸o˜es, para coletar e conduzir as a´guas provenientes dos ramos, ilhas, etc. Suas considerac¸o˜es elementares de projeto sa˜o: • A sarjeta de aterro posiciona-se na faixa da plataforma cont´ıgua ao acostamento; • A sec¸a˜o transversal pode se triangular, trapezoidal, retangular, etc, de acordo com a natureza e a categoria da rodovia; • Sendo a sarjeta de aterro um dispositivo que pode comprometer a seguranc¸a do tra´fego, cuidados especiais devem ser tomados quanto ao posicionamento e a` sec¸a˜o transversal a ser utilizada, de modo a garantir a seguranc¸a dos ve´ıculos em circulac¸a˜o; • Um tipo de sarjeta de aterro muito usado atualmente nas rodovias federais, estaduais, intersec¸o˜es e trechos urbanos e´ o meio-fio-sarjeta conjugados; • Em situac¸o˜es eventuais, no caso de ser poss´ıvel considerar um alagamento tempora´rio do acostamento, o tipo meio-fio simples tambe´m podera´ ser usado. Os materiais mais indicados para a construc¸a˜o do dispositivo sa˜o: • concreto de cimento; • concreto betuminoso; 96 • solo betume; • solo cimento; • solo. Figura 10.1: Sarjetas de aterro. Para efetuar os ca´lculos hidra´ulicos que ira˜o definir a capacidade de escoamento de cada dispositivo e o estabelecimento do espac¸amento das sa´ıdas d’a´gua e´ empregada a fo´rmula de Manning associada a` fo´rmula da continuidade, gerando a expressa˜o: Qadm = A ·R2/3 · l1/2 n onde: n = 0,015 (dispositivos em concreto); A = a´rea molhada em m2; R = Raio hidra´ulico (a´rea/per´ımetro molhado); I = declividade do dispositivo em m/m, mı´nimo considerado = 0,003 m/m. Para ca´lculo da descarga afluente e´ adotado o Me´todo Racional, cuja expressa˜o e´: Q = C · I ·A 360 onde sa˜o considerados os seguintes paraˆmetros: C = Coeficiente de escoamento= 0,90. I = Intensidade da chuva de projeto (mm/h), para um tempo de recorreˆncia de 10 anos. A = A´rea de contribuic¸a˜o calculada considerando a semi-plataforma acabada + largura do dispositivo, multiplicada pelo comprimento cr´ıtico determinado para cada situac¸a˜o de greide, em ha. 10.3 Dimensionamento das Sarjetas de Corte e Bernas de Aterro A sarjeta de corte tem como objetivo captar as a´guas que se precipitam sobre a plataforma e taludes de corte e conduzi-las, longitudinalmente a` rodovia, ate´ o ponto de transic¸a˜o entre o corte e o aterro, de forma a permitir a sa´ıda lateral parao terreno natural ou para a valeta de aterro, ou enta˜o, para a caixa coletora de um bueiro de greide. As sarjetas devem localizar-se em todos os cortes, sendo constru´ıdas a` margem dos acostamentos, ter- minando em pontos de sa´ıda convenientes (pontos de passagem de corte para aterro ou caixas coletoras). As sarjetas de corte podem ter diversos tipos de sec¸a˜o, dependendo da capacidade de vaza˜o necessa´ria. 97 • Sarjeta triangular: e´ um tipo bem aceito, pois, ale´m de apresentar uma razoa´vel capacidade de vaza˜o, conta a seu favor com o importante fato da reduc¸a˜o dos riscos de acidentes. Figura 10.2: Sarjetas de corte triangular. • Sarjeta trapezoidal: Quando a sarjeta triangular de ma´ximas dimenso˜es permitidas for insuficiente para atender a` descarga de projeto, deve-se adotar a sarjeta de sec¸a˜o trapezoidal. Figura 10.3: Sarjetas de corte trapezoidal. • Sarjeta retangular: Quando a sec¸a˜o triangular na˜o atender a` vaza˜o para a descarga de projeto, ou em caso de cortes em rocha pela facilidade de execuc¸a˜o, pode-se optar pela sarjeta retangular. Neste caso tem-se a vantagem de poder variar sua profundidade ao longo do percurso, proporcionando uma declividade mais acentuada que o greide da rodovia, aumentando assim sua capacidade hidra´ulica. Sarjetas de corte sem revestimento devem ser evitadas. Os principais tipos de revestimentos sa˜o: • concreto; • alvenaria de tijolo; • alvenaria de pedra argamassada; • pedra arrumada revestida; • pedra arrumada; • revestimento vegetal. 98 Figura 10.4: Sarjetas de corte retangular. Observac¸a˜o: O revestimento vegetal, apesar do excelente desempenho como func¸a˜o este´tica, tem o inconveniente do alto custo de conservac¸a˜o. Para efetuar os ca´lculos hidra´ulicos que definira˜o a altura da laˆmina d’a´gua a sec¸a˜o da valeta e a velocidade do escoamento, emprega-se a fo´rmula de Manning associada a` fo´rmula da continuidade, gerando a expressa˜o: Qadm = A ·R2/3 · l1/2 n n = 0,015 - dispositivos de sec¸a˜o regular com revestimento em concreto; n = 0,020 - dispositivos de sec¸a˜o regular com revestimento vegetal; A = a´rea molhada em m2; R = Raio Hidra´ulico (a´rea/per´ımetro molhado); I = declividade do dispositivo em m/m, de acordo com a declividade estimada do terreno natural. Para um dimensionamento mais preciso e´ aconselha´vel que apo´s a execuc¸a˜o do corte ou aterro, seja levantado o perfil do terreno natural no eixo por onde passara´ a valeta, para que seja determinada a declividade do terreno. Para ca´lculo da descarga afluente e´ adotado o Me´todo Racional, cuja expressa˜o e´: Q = C · I ·A 360 onde sa˜o considerados os seguintes paraˆmetros: C = Coeficiente de escoamento = varia´vel conforme as caracter´ısticas da bacia. I = Intensidade da chuva de projeto (mm/h), para um tempo de recorreˆncia de 10 anos. A = A´rea de contribuic¸a˜o, em km2, determinada a partir da restituic¸a˜o na escala 1:5.000 ou de fotos ae´reas na escala 1:15.000. 10.4 Dimensionamento das Valetas de Protec¸a˜o Quando uma rodovia for projetada em pista dupla, isto e´, onde as pistas sa˜o separadas por um canteiro central coˆncavo, torna-se necessa´rio drena´-lo superficialmente atrave´s de um dispositivo chamado de valeta do canteiro central. 99 Suas principais caracter´ısticas sa˜o: • devem captar as a´guas provenientes das pistas e do pro´prio canteiro central e conduzi-las longitudi- nalmente ate´ serem captadas por caixas coletoras de bueiros de greide; • as sec¸o˜es transversais das valetas do canteiro central sa˜o em geral de forma triangular cujas faces teˆm as declividades coincidentes com os taludes do canteiro; • podem ser usadas sec¸o˜es de forma circular, tipo meia cana, e formas trapezoidal ou retangular, quando ocorrer a insuficieˆncia hidra´ulica das sec¸o˜es de forma triangular ou meia cana; • como revestimento da valeta do canteiro central, deve-se levar em conta a velocidade limite de erosa˜o do material empregado. Observac¸a˜o: Valetas do canteiro central sem revestimento devem ser evitadas, a na˜o ser em casos de canteiros muito largos e planos. Figura 10.5: Valetas de protec¸a˜o e de corte. O dimensionamento hidra´ulico da valeta do canteiro central segue a mesma metodologia apresentada na sec¸a˜o 10.3, para sarjeta de corte baseada na fo´rmula de Manning associada a` equac¸a˜o de continuidade. 10.5 Dimensionamento das Sarjetas de Banquetas As descidas d’a´gua tem como objetivo conduzir as a´guas captadas por outros dispositivos de drenagem, de corte ou de aterro: • Tratando-se de cortes, as descidas d’a´gua teˆm como objetivo principal conduzir as a´guas das valetas quando atingem seu comprimento cr´ıtico, ou de pequenos talvegues, desaguando numa caixa coletora ou na sarjeta de corte. • No aterro, as descidas d’a´gua conduzem as a´guas provenientes das sarjetas de aterro quando e´ atingido seu comprimento cr´ıtico, e, nos pontos baixos, atrave´s das sa´ıdas d’a´gua, desaguando no terreno natural. 100 • As descidas d’a´gua tambe´m atendem, no caso de cortes e aterros, a`s valetas de banquetas quando e´ atingido seu comprimento cr´ıtico e em pontos baixos. Figura 10.6: Descida de a´gua reta. Figura 10.7: Descida de a´gua escalonada. Quando a banqueta for insuficiente para a conduc¸a˜o da a´gua, sera˜o estudadas duas alternativas: execuc¸a˜o de sarjeta trapezoidal em concreto ou com revestimento vegetal, ou o desa´gue em descida d’a´gua em degraus. O desa´gue em descida d’a´gua, somente devera´ ser empregado nos casos em que o emprego da sarjeta seja invia´vel. Considerando que as inclinac¸o˜es dos taludes de corte e aterro sa˜o pro´ximas a 1,0: 1,25 ou 1,0: 2,0 e 1,0: 1,5, adota-se no ca´lculo da a´rea de contribuic¸a˜o a projec¸a˜o do talude de aterro, para uma altura ma´xima de aterro de 8,0 m, a qual corresponde ao espac¸amento entre banquetas o valor ma´ximo para a a´rea de contribuic¸a˜o sera´: A = (largura da banqueta + projec¸a˜o horizontal do talude) x comprimento cr´ıtico; A = ((4,0 + 8,0 (altura entre banquetas) x 1,50)) x L; A = (1,60 x L)/10.000, em hectares. 101 Conforme definido na sec¸a˜o tipo de terraplenagem, as banquetas do corte ou aterros constitu´ıdos de solos arenosos devera˜o receber a protec¸a˜o de uma camada de solo coesivo com revestimento vegetal, conforme a sec¸a˜o tipo a seguir apresentada. No caso de necessidade de execuc¸a˜o de sarjeta trapezoidal, a mesma devera´ ser implantada no meio da banqueta e devera´ ter a sec¸a˜o a seguir apresentada, independente do tipo de revestimento adotado. Figura 10.8: Sarjeta de banqueta. O dimensionamento hidra´ulico da valeta do canteiro central segue a mesma metodologia apresentada na sec¸a˜o 10.3, para sarjeta de corte baseada na fo´rmula de Manning associada a` equac¸a˜o de continuidade. 10.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VT 4 Baseado no estudo acima, elabore um tabalho de pesquisa sobre um dos temas relacionados abaixo: 1. Sistema de Drenagem em Rodovias. 2. Sistema de Drenagem em Ferrovias. 3. Sistema de Drenagem Urbana (Ruas e Avenidas). 4. Sistema de Drenagem Urbana (Condomı´nio Residencial). 5. Sistema de Drenagem em A´rea Rural Agr´ıcola. 6. Sistema de Drenagem em Aeroportos. 7. Sistema de Drenagem em Esta´dios de Futebol. 8. Sistema de Drenagem em Tu´neis. 9. Sistema de Drenagem em Viadutos. 10. Sistema de Drenagem em Barragens. 102