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Resenha Alexy & Bobbio

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Universidade de Brasília- Faculdade de Direito 

Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito I 
Professor: Marcelo da Costa Pinto Neves 
Matrícula: 16/0070643 
Resenha sobre os textos: 
 1. Alexy, Robert. Conceito e validade do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2009, pp. 
101-112. 
 2. Bobbio, Noberto. Teoria da norma jurídica, Bauru: Edipro, 2001, pp.45-55 (cap. II. 
9-11). 
1. Introdução 
 Noberto Bobbio foi um notório jusfilósofo, historiador, professor, escritor e senador 
italiano cuja contribuição mais relevante foi ao campo da filosofia do Direito. Em seu livro 
Teoria da Norma Jurídica, especialmente no segundo capítulo, o autor trata de problemas 
concernentes à norma jurídica, mais especificamente relativos à lógica e filosofia. Para fins de 
desenvolvimento da presente resenha, focaremos apenas nos três primeiros itens do capítulo: 
os critérios de valoração da norma jurídica- deontológico, ontológico e fenomenológico-, sua 
independência e as possíveis confusões que podem haver entre eles. (Bobbio, 2001) 
 Robert Alexy é um ilustre jusfilósofo alemão e muito importante ao estudo da Teoria 
do Direito. Suas principais obras são Teoria da Argumentação Jurídica e Teoria dos 
Direitos Fundamentais. Em sua obra Conceito e validade do direito, especialmente em seu 
terceiro capítulo- entitulado A validade do direito -, nos tópicos 1 e 2, o autor discute sobre os 
elementos do conceito do direito- eficácia social, correção material e legalidade conforme o 
ordenamento- e seus respectivos conceitos de validade: sociológico, ético e jurídico. Além 
disso, trata das colisões de validade entre os referidos conceitos. (Alexy, 2009) 
2. Desenvolvimento 
 2.1. Bobbio 
 Bobbio inicia o segundo capítulo da obra Teoria da norma jurídica afirmando que as 
normas jurídicas apresentam diversos problemas e que, a fim de estabelecer-se uma teoria da 
acerca destes, com fundamentos sólidos, é necessário que compreendamos o fato que “toda 
norma jurídica pode ser submetida a três valorações distintas, e que estas valorações são 
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independentes umas das outras”. Os três problemas são, respectivamente: de justiça, ou 
deontológico; de validade, ou ontológico; e de eficácia- ou fenomenológico. (Bobbio, 2001, 
pp. 45-48). 
 O primeiro dos problemas apresentado, de justiça, diz respeito a norma estar ou não 
apta a satisfazer os fins de certo ordenamento jurídico. Segundo o autor, a norma justa é 
aquela que satisfaz a realidade, que deve ser- ideal; enquanto que a norma injusta é aquela que 
não deveria ser. Este primeiro problema corresponde à ciência ou estudo dos deveres, 
chamado, por vezes, de problema deontológico do direito. “Para julgar a justiça de uma 
norma, é preciso compará-la a um valor ideal.” (Bobbio, 2001, pp. 46-47) 
 O segundo dos problemas apresentado, de validade, é independente do anteriormente 
citado e diz respeito a existência da norma, ou seja, é o problema ontológico. Para concluir-se 
se uma norma é válida ou não, é necessário seguir três passos empíricos: o primeiro deles é 
constatar se esta foi emanada por um ente competente- que tinha legitimidade- para o mesmo; 
o segundo é observar se a norma não foi ab-rogada, isto é, se já foi válida, porém, 
posteriormente, tenha sido regulada ou anulada por uma norma hierarquicamente superior. O 
terceiro e último passo é observar se tal norma não é “incompatível com as outras normas do 
sistema”. (Bobbio, 2001, pp. 46-47) 
 O terceiro e último problema apresentado por Noberto nos tópicos lidos, é o de 
eficácia. Tal dilema, assim como os dois precedentes, também é independente. Este diz 
respeito ao seguimento das normas, pois, a despeito de sua validade, esta pode- ou não- ser 
seguida, e assim, ser eficaz ou ineficaz. O autor atenta ao fato de que as normas mais eficazes 
serem aquelas que “são seguidas universalmente de modo espontâneo” e as mais ineficazes, 
em contrapartida, são as “violadas sem que nem sequer seja aplicada a coação”. Dessa forma, 
o estudo do problema de eficácia das normas diz respeito à observância de aspectos histórico-
sociais e, por isso, recebe o nome de problema fenomenológico do direito. (Bobbio, 2001, pp. 
47-48) 
 Agora, tratando de forma mais específica a questão da independência dos problemas 
concernentes às normas, o autor frisa alguns pontos e dá exemplos: uma norma pode ser justa, 
entretanto não ser válida. Esta pode ser válida e, contudo, não ser justa. A norma, ainda, pode 
ser válida sem ser eficaz; ou então, há a possibilidade de ser eficaz e, todavia, não ser válida. 
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Além disso, a norma pode ser justa e, ainda assim, não ser eficaz. E, finalmente, ela pode ser 
eficaz, conquanto, não ser justa. (Bobbio, 2001, pp. 48-50) 
 Em conclusão, o autor ressalta os aspectos que delimitam e tornam tão claros cada um 
dos problemas apresentados. Cada uma das três questões, corresponde, em sua ordem de 
explanação na presente resenha, à Filosofia do Direito como Teoria da Justiça, Filosofia do 
Direito como Teoria Geral do Direito e, do último “nasce aquele aspecto da filosofia do 
direito que conflui para a sociologia jurídica”- ou seja, são as três funções da filosofia do 
direito. Ainda na mesma linha de raciocínio, o autor comenta sobre três visões de diferentes 
teóricos do direito contemporâneo, que acabam por ressaltar a ideia harmônica de tripartição 
da experiência jurídica. Nesse ponto, Bobbio finaliza o texto, mostrando que estes autores de 
diferentes partes do mundo são precisos quanto à essa mesma abordagem teórica que ele 
defende. (Bobbio, 2001, pp. 51-55) 
 2.2. Alexy 
 Alexy inicia o terceiro capítulo explanando que são três os elementos do conceito de 
direito- eficácia social, correção material e legalidade conforme o ordenamento. O autor frisa 
que, a cada um desses elementos, respectivamente, se atribui um conceito de validade, sendo 
estes o conceito sociológico, ético e jurídico. O primeiro dos conceitos de validade a ser 
abordado é o sociológico. (Alexy, 2009, pp. 101-105) 
 O primeiro conceito de validade apresentado, o sociológico- que é puro-, diz respeito à 
validade social. Uma norma pode ser considerada socialmente válida se ela é cumprida e se, a 
partir de seu não cumprimento, o comportamento é punido. Entretanto, tal termo de 
observância e punição é ambíguo, dado que “uma norma pode ser observada em medidas 
diferentes, e sua não observância pode ser punida em diversas medidas”. A eficácia social não 
pode ser apenas medida em números absolutos relativos à cumprimentos e punições, mas 
deve ser observada da forma como a sociologia jurídica faz. (Alexy, 2009, pp. 101-103) 
 Em seguida, o conceito de validade brevemente apresentado é o ético, que diz respeito 
à validade moral- também é puro, o que significa que não necessita de elementos dos outros 
conceitos. “Uma norma é moralmente válida quando é moralmente justificada”. Tal definição 
está subordinada às concepções naturalista e racionalista do direito. Baseado em tais teorias, a 
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norma se baseia estritamente à sua correção material, a qual “ deve ser demonstrada por meio 
de uma justificação moral”. (Alexy, 2009, p. 103) 
 Derradeiramente, finalizando o primeiro ponto, o autor explana sobre o conceito 
jurídico de validade. Este, diferentemente dos dois anteriores, não é puro. Ou seja, depende 
dos outros aspectos. Se um sistema normativo não tem, sequer, mínima validade social, este, 
por sua vez, não é considerado válido. O referido conceito de validade cria, por sua vez, dois 
problemas: o interno, que se refere a “definição de validade jurídica já pressupor a validade 
jurídica, parecendo ser, nessa medida, circular”; e o externo- que equivale à relação entre 
conceito jurídico de validade com osconceitos de validade social e moral. (Alexy, 2009, pp. 
103-104) 
 O tópico 2 do terceiro capítulo trata das colisões de validade. Mais especificamente da 
colisão entre validade jurídica e social e, posteriormente, validade jurídica e moral. 
 Ao explanar sobre a primeira delas, a colisão entre validade jurídica e social, o autor 
atenta para alguns pontos, sendo primordial a compreensão de que não necessariamente aquilo 
que é válido para os sistemas normativos é válido também para as normas individuais. Alexy 
frisa que, não é porque uma norma perde sua validade social que a constituição e o sistema 
normativo ao qual tal norma pertence serão invalidados- isso só acontece se a ineficácia se dá 
em termos globais. Já as normas individuais “não necessitam de uma eficácia social global 
para terem validade jurídica”, e o sua condição de validade será "o fato de ela apresentar um 
mínimo de eficácia social ou de possibilidade de eficácia”. (Alexy, 2009, pp. 105-108) 
 Concluindo, o autor fala da colisão entre validade jurídica e moral. Ele foca no ponto 
de que “um sistema normativo perde sua validade jurídica quando é extremamente injusto em 
termos globais”. Além disso, frisa que um sistema jurídico só deixa de existir a partir do 
momento que, devido à injustiça, todas as normas começam a ser questionadas, de forma que 
a quantidade mínima de normas que possibilitam a existência do sistema jurídico deixa de 
existir. O autor defende que o sistema jurídico irá entrar em colapso quando não é socialmente 
eficaz em termos globais. Já as normas individuais perdem o caráter e a validade jurídica 
“quando são extremamente injustas”. (Alexy, 2009, pp. 108-112) 
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 3. Conclusão 
 Analogamente ao que Alexy propõe como conceito adequado de direito, estão as 
proposições de Bobbio às funções do direito: a justiça, em Bobbio, paralelamente à correção 
material em Alexy; a validade, em Bobbio, equiparando-se à legalidade conforme o 
ordenamento e, finalmente, à eficácia, em Bobbio, comparando-se à eficácia social. Sendo o 
diferencial, então, entre os dois autores, o fato de que ao passo que Alexy considera os três 
aspectos necessários para uma definição adequada do direito dependentes, Bobbio, em sua 
obra, defende que os aspectos do direito por ele apresentados são independentes. 
 Indo para além dos textos indicados para a confecção da presente resenha, e buscando 
aparato em Teoria Geral do Estado e em O Conceito de Direito, podemos perceber que 
Bobbio está para Hart, assim como Kelsen está para Alexy. Tal comparação pode ser feita 
devido ao fato de que, assim como Kelsen, Alexy defende a necessidade de uma mínima 
eficácia do sistema para sua validação. O que é percebido de forma distinta para Bobbio, da 
mesma maneira que Hart, que acreditam na independência das questões e defendem, assim, 
que a ineficácia de uma norma não a torna menos válida. 
 Assim sendo, após a leitura dos textos, é possível dar continuidade a construção de um 
entendimento próprio acerca da Teoria do Direito; o que, sem dúvidas, será imprescindível, 
em nível pessoal, para a futura compreensão acerca dos ordenamentos jurídicos presentes no 
mundo atualmente. 
4. Referências 
1. Alexy, Robert. Conceito e validade do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2009, pp. 
101-112 (cap. 3, itens I e II). 
2. Bobbio, Noberto. Teoria da norma jurídica, Bauru: Edipro, 2001, pp.45-55 (cap. II. 
9-11). 
3. HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 
2001.
4. KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. 4a ed. São Paulo: Martins Fontes, 
2005, pp. 181-207 (Cap. XI.A-C). 
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