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2 Bases para o conhecimento das doenças cópia

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Ana Margarida Almeida Rios	Fisiopatologia	Medicina Dentária 2016/2017
Fisiopatologia geral, fisiopatologia de sistemas e órgãos, HOMEOSTASIA E SAÚDE
A fisiopatologia é o ramo da medicina interna que se ocupa do estudo da doença e dos mecanismos que levam ao seu surgimento (etiologia e patogenia). Tenta perceber o modo como o organismo se adapta e, por outro lado, se altera perante uma doença. O modo como surge e se desenvolve a doença, desde o nível molecular até alterações a nível tecidual, são também objetos de estudo da fisiopatologia. 
A fisiopatologia geral é o estudo das causas, mecanismos e características dos principais processos patológicos (inflamatório, neoplásico, congénito e adquirido).
O doente deve ser visto como um todo, de modo holístico. É claro que o conhecimento da doença, dos seus mecanismos, causas, sinais e sintomas é fundamental (semiologia), no entanto, é importante não descorar a parte humana da prestação de cuidados de saúde (é importante saber abordar o doente e adequar o tipo de linguagem ao nosso tipo de ouvinte). Deste modo, é importante conhecer:
- Os critérios de saúde, qualidade de vida e doença;
- Identificar as características da doença (causas, mecanismos, semiologia: sinais e sintomas)
- Adquirir conhecimentos e capacidade para adotar uma atitude adequada perante um doente (ato médico – com base na nossa formação pessoal e profissional)
O conceito de homeostasia refere-se a um estado de equilíbrio a partir do qual se manifesta o conceito de saúde. Diz respeito a um ambiente interno estável, a um equilíbrio entre pressões opostas conseguido a partir de um sistema fisiológico/biológico altamente eficaz. A doença surge de desequilíbrios neste sistema que alteram o estado de homeostasia do organismo. A homeostasia subentende um fornecimento adequado de nutrientes (hipernutrientes e hiponutrientes, nestas situações uma disponibilidade excessiva de nutrientes ou uma escassez na disponibilidade destes levam ao surgimento de diferentes tipos de doenças. As doenças do excesso são conhecidas como as doenças da nossa civilização), água, oxigénio (em situações de hipoxia em que a disponibilidade de oxigénio é muito reduzida ou em situações de anóxia, em que não há disponibilidade de oxigénio o equilíbrio do organismo é desfeito levando ao surgimento de certas doenças. O excesso de oxigénio apresenta-se também como um agente causador de doenças) e minerais – ambiente celular favorável. Os oligoelementos (elementos que se encontram presentes em pequeníssimas quantidades) são fundamentais para o funcionamento do núcleo e para uma correta concentração citoplasmática. 
Uma das primeiras descrições do termo saúde fornecidas pela OMS foi: “saúde é a ausência de doença”. Quando um termo é definido pela negativa, isto indica-nos não só o seu nível de complexidade como também de abrangência. A definição de saúde não é um termo estático, tendo sofrido diversas alterações ao longo dos tempos. A definição do termo saúde que, atualmente, é a mais aceite pela comunidade científica é: “A saúde não é apenas a ausência de doença, como também um bem-estar físico, mental e social. Ausência de microorganismos, de deformações anatómicas, de alterações genéticas.” Um indivíduo saudável tem as capacidades necessárias para realizar as suas atividades. É um conceito altamente subjetivo e complexo.
Doença e suas causas
Quanto às características da doença é fundamental termos conhecimento de determinados aspetos como:
Etiologia: a causa da doença; a causa pode ser múltipla (doenças multifatoriais); a doença pode não ter uma causa (doenças idiopáticas). Saber a causa da doença é um passo fundamental para um correto tratamento.
Patogenia: mecanismo da doença. Muitas vezes estes dois primeiros termos surgem associados (etiopatogenia).
História natural da doença/patocromia: evolução natural da doença ao longo do tempo – permite-nos saber se se trata de uma doença aguda ou de uma doença crónica.
Semiologia/Propedêutica: sinais e sintomas que acompanham o desenvolvimento da doença. Podem evoluir e tornar-se cada vez mais evidentes com o desenvolvimento natural da doença. Levam-nos a um diagnóstico.
Diagnóstico diferencial e definitivo: Identificação correta da doença. Colocam-se várias hipóteses até obtermos uma conclusão final. O diagnóstico faz-se recorrendo a vários elementos, sendo o principal a história clínica (historia da doença, historia do doente, historia familiar e exame objetivo – palpação, percussão e auscultação) e os meios auxiliares de diagnóstico (análises, RX, entre outros)
Tratamento: à luz dos conhecimentos atuais é proposto o tratamento mais adequado para a doença em causa. O tratamento pode ser um tratamento médico, um tratamento cirúrgico ou médico/cirúrgico.
Prognóstico: quando propomos o tratamento é necessário fornecermos ao doente o prognóstico da doença. Saber qual vai ser a evolução da doença tendo em conta o tratamento proposto.Tuberculose: o nome da doença deriva da analogia macroscópica com a aparência de tubérculo (batata)
Etiologia: bacilo de Koch
Patogenia: entrada deste agente no organismo que ocorre, principalmente, pela via aérea
Patocromia: o bacilo entra pelas vias aéreas superiores, entra na corrente sanguínea e atinge o pulmão
História clínica: aumento da temperatura corporal (como consequência do aumento do número de leucócitos). Os gânglios linfáticos que vão ser os responsáveis por coordenar toda esta atividade vão, consequentemente, aumentar de volume de volume – adenopatias regionais. A história clínica faz-se com base em vários elementos: a história natural da doença (perceber como é que a doença evolui e como se manifesta no organismo), a história do doente e a história familiar. Ainda na história clínica deve ser realizado um exame objetivo ao doente (ouvir os sintomas e ver os sinais). Deste exame objetivo constam 4 elementos: inspeção, palpação, precursão e auscultação).
Semiologia: a tuberculose pode ser assintomática ou pode ser acompanhada por alguns sinais e sintomas muito subtis: tosse (mecanismo de defesa; forma de expulsão do muco), febre (pode ser subfebril ou mais acentuada dando origem a cefaleias, mialgias, letargias entre outros sintomas). A destruição do parênquima alveolar leva ao rompimento dos vasos alveolares – expetoração hemoptoica, hemoptise (expulsão de sangue de origem respiratória pela boca), astenia (falta de forças), perda acentuada de peso.
Cefaleia – lesão vascular
Cefalgia – lesão traumática
Diagnóstico: Tuberculose
Teste da tuberculina: O teste da tuberculina também conhecido como PPD
(derivado proteico purificado) é um teste utilizado para determinar se a 
pessoa tem tuberculose (ou já teve no seu passado clínico). A tuberculose 
é uma infeção grave do sistema respiratório causada por uma bactéria que 
é transmitida pelo ar exalado de uma pessoa infetada.
Quando a pessoa se encontra infetada com tuberculose, o seu sistema imunitário torna-se extremamente sensível a determinados elementos constituintes da bactéria causadora da doença, como por exemplo, o derivado proteico purificado. O teste é realizado no antebraço da pessoa, onde é inserida uma agulha (que contem um soro com restos de bactérias “mortas”) sob a camada superior da pele. Irá surgir uma pequena vermelhidão ou edema que, em situações de não infeção, desaparece após algumas horas. Em casos positivos o edema permanece e apresenta um diâmetro significativo.
Etiologia da Doença
Agentes físicos
Agentes Mecânicos
- Traumatismos e agressões devido a acidentes de trabalho ou a acidentes de viação são os agentes mecânicos mais vulgares. Destes resultam as feridas, hematomas, cortes (superficiais ou profundos), lacerações, fraturas (que podem ser múltiplas), alterações neurológicas e lesões associadas a estas (que muitas vezes levam a situações de coma). 
- Lesões provocadas pelo próprio indivíduo (ex: pugilistas). Nestes casos a acumulação de vários traumatismos pode levar o indivíduo a um estado de coma profundo. 
- Quedasmuito frequentes em todas as faixas etárias, mas principalmente nos mais idosos fraturas do colo do fémur muito frequentes na mulher pós menopausa.
Alterações por calor e frio
As situações de hipotermia podem levar a situações de necrose celular/isquemias das extremidades (ex: queda do nariz do alpinista João Garcia – gangrena).
O choque térmico e o golpe de calor originam queimaduras solares intensas acompanhadas por um processo intenso de desidratação (por norma, afeta os rins, podendo levar à morte): mais frequentemente nos idosos devido a alterações do centro de regulação da temperatura ao nível do hipotálamo. 
O sol também tem os seus efeitos positivos na nossa saúde, nomeadamente, na prevenção do surgimento de depressões.
Radiações e eletricidade (campo magnético)
Forma de energia formada por partículas que se movem a diferentes velocidades, sendo que essa característica é o que permite distinguir as radiações (por exemplo, radiações eletromagnéticas do telemóvel). Estas radiações podem levar a alterações ao nível do DNA (mutações) que originam, na maior parte das vezes, cancros. 
Eletricidade – acidentes com secadores de cabelo (só secam uma vez!)
Agentes Químicos
Existe uma grande quantidade de agentes químicos podendo ser inalados ou ingeridos. Aqueles que levam ao surgimento de doença são chamados de agentes tóxicos – quando presentes em determinadas concentrações podem levar a intoxicações (manifestação clínica). A DL50 de uma substância diz respeito à quantidade de substância por Kg de peso corporal que é capaz de provocar a morte a 50% da população. Quanto menor for a concentração de substância maior é a sua toxicidade.
Produtos utilizados na indústria e na agricultura
Na agricultura estão envolvidos pesticidas (organofosfatos) e herbicidas (metanol). Hoje, felizmente, os pesticidas são vendidos apenas a pessoas certificadas. Na indústria estão envolvidos metais pesados como o chumbo (presente, por exemplo, numa garrafa de cristal – não guardar bebidas neste tipo de garrafas, uma vez que, a desagregação do chumbo tem um efeito exponencial. Saturnismo é uma doença grave provocada pelo chumbo. Afeta vários órgãos podendo levar a alterações degenerativas, congénitas, mentais e, em alguns casos, pode levar à morte) e o mercúrio (presente nas amálgamas).
Um dos exemplos mais emblemáticos do problema do chumbo remete para a civilização romana. Nesta época os romanos criaram um sistema de canalização em que as estruturas eram construídas à base de materiais de chumbo. Com o tempo o chumbo acumulava-se nas águas (efeito cumulativo exponencial). A água funcionava como meio de transporte deste metal pesado para o nosso organismo.
Contaminantes atmosféricos
São as partículas de menores dimensões que contribuem mais para o cancro do pulmão.
Chumbo, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogénio, materiais em suspensão (por exemplo, os hidrocarbonetos), monóxido de carbono. Este último é perigoso porque não tem cheiro ao contrário do gás propano ou butano ao qual era adicionado um cheiro de fácil identificação. É libertado pela combustão do carvão provocando lesões neurológicas graves, sendo a maior parte delas irreversíveis. A intoxicação vai variar com o tempo, com a quantidade de gás a que se foi exposto, bem como depende do próprio indivíduo. O tratamento deste tipo de intoxicações passa pela permanência de períodos de tempo no interior de câmaras hiperbáricas.
Agentes que causam dependência
Medicamentos
São utilizados para fins terapêuticos, podendo provocar doença por alterações da dose recomendada para a toma (uso e abuso dos medicamentos). Exemplos:
- Clorofenicol: Antibiótico utilizado em patologias infeciosas e inflamatórias específicas (febre tifoide). Quando tomado em doses elevadas e durante um longo período de tempo provoca: destruição/depressão total da medula óssea, principalmente, na linha plaquetária – necrose dos precursores das plaquetas. Baixa completa de plaquetas (a níveis de 20.000 a 30.000) acompanhada por uma leucopénia.
- Saridom: Medicamento que já não existe no mercado. Utilizado antigamente para as dores menstruais e de cabeça. Quando tomado em doses elevadas e durante um longo período de tempo é tóxico para a medula óssea (principalmente para a linha plaquetária). Uma das principais consequências é a hemorragia. 
- Aspirina: quando tomada em doses elevadas e durante um longo período de tempo provoca alterações plaquetárias (anti agregante plaquetário). Primeiro medicamento a ser registado pela Bayer. Pode levar ao surgimento de úlceras gástricas e hemorragias. Síndrome de Reye (doença grave de rápida de progressão e muitas vezes fatal; provoca lesões em cadeia que afetam, principalmente, o fígado e o cérebro).
- Paracetamol: usado de forma indiscriminada torna-se altamente hepatotóxico
- Penicilina: a reação mais grave é o choque anafilático. A maior parte das pessoas que dizem ser alérgicas à penicilina não são efetivamente alérgicas.
- Antidepressivos: causam dependência
- Sulfamidas: muito utilizadas antes do aparecimento dos antibióticos
Aditivos alimentares
Estes sim têm efeitos cumulativos. Adoçantes (ou se coloca açúcar ou não se coloca nada), antioxidantes, edulcorantes entre outros. Os seus efeitos podem ir desde reações alérgicas a alterações neurológicas e neoplasias. 
Agentes vivos
Podem entrar no nosso organismo por múltiplas vias de entrada, nomeadamente: pela pele (é o nosso maior órgão; quando deixa de estar íntegro devido à presença de lesões como feridas, representa a principal via de entrada/contaminação), vias respiratórias, via digestiva, via endovenosa (através da administração terapêutica),via sexual e via transplacentária (ex: sífilis congénita)
Bactérias
Vírus (ex: vírus da gripe (H1N1)
Fungos
Parasitas
Agentes ambientais
Alergénio: molécula do meio ambiente que em certos indivíduos interage com o sistema imunitário. Normalmente não provoca doença, é inócuo. Porém, em certos indivíduos interage contra o sistema imune, dando-se uma reação alérgica. Ex. epitélio de cão, gato, baratas, pó das penas de aves (doença dos polombófilos), entre outros
Ácaros
Pólens
Epitélios de animais domésticos e secreções

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