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Resumo: A estrutura das revolucoes cientificas (cap 5 e 6)


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A ANOMALIA E A EMERGÊNCIA DAS DESCOBERTAS CIENTÍFICAS 
(Capítulo 5)
	A descoberta se inicia com a consciência da anomalia, ou seja, com o reconhecimento de que, de alguma maneira, a natureza violou as expectativas paradigmáticas que governam a ciência normal. Após isto, segue-se uma exploração mais ou menos ampla da área onde ocorreu a anomalia, sendo que, esse trabalho se encerra, somente, quando a teoria do paradigma for ajustada e o anômalo tenha convertido no esperado. 
	Além disso, a descoberta de um novo tipo de fenômeno é considerada como um acontecimento complexo, o qual envolve o reconhecimento tanto da existência de algo, como de sua natureza, assim, qualquer tentativa de datar uma descoberta, como por exemplo, a tentativa de datar a descoberta do oxigênio, será arbitrária. 
	A descoberta por acidente ocorre mais frequentemente do que os padrões impessoais dos relatórios científicos nos permitem perceber, um exemplo disto são os raios X, sendo que sua descoberta ocorreu por meio de uma experiencia feita por Roentgen, na qual ele percebeu que uma tela de cianeto de platina e bário brilhavam quando não devia fazê-lo. Logo, ele percebeu a ocorrência da anomalia, isto é, de um fenômeno para o qual o paradigma não prepara o investigador. Entretanto, isto não foi a descoberta em si, foi somente o seu início. 
	Os procedimentos e aplicações do paradigma são tão necessários à ciência quanto as leis e teorias paradigmáticas. Assim, percebe-se que, uma descoberta como a dos raios X exige uma mudança no paradigma e, consequentemente, uma mudança nos procedimentos e expectativas, para pelo menos uma fração da comunidade cientifica, o que ocasionara a visão de um novo e estranho mundo para os cientistas. 
	Entretanto, “(...) nem todas as teorias são paradigmáticas. Tanto nos períodos pré-paradigmáticos, como durantes as crises que conduzem a mudanças em grande escala do paradigma, os cientistas costumam desenvolver muitas teorias especulativas e desarticuladas, capazes de indicar o caminho para novas descobertas. Muitas vezes, entretanto, essa descoberta não é exatamente a antecipada pela hipótese especulativas e experimental. Somente depois de articularmos estreitamente a experiencia e a teoria experimental pode surgir a descoberta e a teoria converter-se em paradigma”. Como exemplo disso, pode-se citar a descoberta da garrada de Leyden, uma vez que não existia somente um paradigma para a pesquisa elétrica, mas sim diversas teorias e todas derivadas de fenômenos acessíveis. 
	A garrafa de Leyden surgiu quando os eletricistas perceberam que a garrafa exigia uma espécie de capa condutora (interna e externa) e que o fluido não ficaria armazenado no recipiente. Além disso, as experiências que ocasionaram no surgimento desse aparelho, também foram necessárias para a revisão da teoria do fluido, proporcionando assim o primeiro paradigma completo para os fenômenos ligados à eletricidade.
	Algumas características comuns para o surgimento de novos tipos de fenômenos são:
A consciência previa da anomalia;
A emergência gradual e simultânea de m reconhecimento tanto no plano conceitual como no plano da observação;
E a consequente mudança das categorias e procedimentos pragmáticos – algumas vezes acompanhadas por resistência. 
Já o processo de descoberta pode ser exemplificado da seguinte forma:
A novidade emerge com dificuldade contra um plano de fundo fornecido pelas expectativas, sendo que a dificuldade se manifesta por meio de uma resistência;
Inicialmente é experimentado somente o que é habitual e previsto, mesmo em circunstâncias nas quais será observado mais tarde uma anomalia;
Uma maior familiaridade dá origem à consciência de uma anomalia ou permite relacionar o fato a algo que anteriormente não ocorreu conforme o previsto;
Após isso completa-se a descoberta. 
“No desenvolvimento de qualquer ciência, admite-se habitualmente que o primeiro paradigma explica com bastante sucesso a maior parte das observações e experiências facilmente acessíveis aos praticantes daquela ciência. Em consequência, um desenvolvimento posterior comumente requer a construção de um equipamento elaborado, o desenvolvimento de um vocabulário e técnicas esotéricas, além de um refinamento de conceitos que se assemelham cada vez menos com os protótipos habituais do senso comum. Por um lado, essa profissionalização leva a uma imensa restrição da visão do cientista e a uma resistência considerável à mudança de paradigma. A ciência torna-se sempre mais rígida. Por outro lado, dentro das áreas para as quais ao paradigma chama a atenção do grupo, a ciência normal conduz a uma informação detalhadas e a uma precisão da interação entre a observação e a teoria que não poderia ser atingida de outra maneira”. 
AS CRISES E A EMERGÊNCIA DAS TEORIAS CIENTÍFICAS
(Capítulo 6)
As mudanças, as quais as novas descobertas ocasionaram, ou foram construtivas ou foram destrutivas. Após a assimilação da descoberta foi possível que os cientistas dessem conta de um número maior de fenômenos ou de explicar mais precisamente alguns dos fenômenos previamente conhecidos. Esse avanço somente foi possível devido ao descarte de alguns procedimentos ou crenças e a sua simultânea substituição por outros. 
Os tipos de descobertas observados no capítulo 5 não foram responsáveis – pelo menos não isoladamente – pelas alterações de paradigma que se verificaram em revoluções como a copernicana, newtoniana, a química e a einsteiniana. Tampouco foram responsáveis pelas mais limitadas, produzida pela teoria ondulatória da luz, teoria da dinâmica de calor ou teoria eletromagnética de Maxwell. 
A emergência de novas teorias é geralmente precedida por um período de insegurança profissional pronunciada, pois exige a destruição em larga escala de paradigmas e grandes alterações nos problemas e técnicas da ciência normal. Essa insegurança é gerada pelo fracasso constante dos quebra-cabeças da ciência normal em produzir os resultados esperados, sendo que esse fracasso é o preludio para uma busca de novas regras. 
No início do século XVI, um grande número de astrônomos europeus reconhecia que o paradigma astronômico de Ptolomeu estava fracassado nas aplicações a seus próprios problemas tradicionais, o que acarretou a um pré-requisito para a rejeição do paradigma ptolomaico por parte de Copérnico e para sua busca de um substituto. 
A teoria de Lavoisier sobre a combustão do oxigênio teve vários problemas como: a crescente indeterminação e a utilidade decrescente da teoria flogística; e a explicação para o aumento de peso de muitos corpos após serem queimados os aquecidos, uma vez que a maioria dos corpos naturais, como a madeira, perdem peso ao serem aquecidos, tal como haveria de predizer mais tarde a teoria do flogisto. 
Entretanto, durante o século XVIII, os químicos descobriram um número cada vez maior de casos nos quais o aumento de peso acompanhava o aquecimento, fato este que tornou as respostas anteriores sobre o aumento de peso – de perder peso ao invés de ganhar – cada vez mais difíceis de serem sustentadas. 
A teoria de Maxwell relacionada com o comportamento eletromagnético dos corpos em movimento não fez referência à resistência do éter e tornou muito difícil a introdução de tal noção na sua teoria. Como resultado disto, uma serie de observações anteriores destinada a detectar o descolamento através do éter tornou-se anômala. 
 Os anos posteriores foram marcados pelas tentativas de detectar o movimento relacionado com o éter e introduzi-lo na teoria de Maxwell. Entretanto as tentativas não foram bem-sucedidas, o que acabou por gerar não só uma serie de pontos de partida promissores, mas também novos quebra-cabeças. Logo, o resultado final foi a proliferação de teorias, a qual é comitente com as crises. Foi nesse contexto que, em 1905, emergiu a teoria especial da relatividade de Einstein. 
“Esses três exemplos são (quase) inteiramente típicos. Em cada um desses casos uma nova teoria surgiu somente após um fracasso caracterizado na atividadenormal de resolução de problemas. Além disso, com exceção de Copérnico, em cujo caso fatores alheios à ciência desempenharam papel particularmente importante, o fracasso e a proliferação de teorias que os tornam manifestos ocorreram uma ou duas décadas antes do enunciado da nova teoria. Note-se também que, embora isso não possa ser igualmente típico, os problemas com os quais está relacionado o fracasso eram todos de um tipo há muito identificado. A prática anterior da ciência normal proporcionara toda sorte de razões para considera-los resolvidos ou quase resolvidos, o que ajuda a explicar por que o sentido de fracasso, quando aparece, pode ser tão intenso. O fracasso com um novo tipo de problema é muitas vezes decepcionante, mas nunca surpreendente. Em geral, nem os problemas nem os quebra-cabeças cedem ao primeiro ataque. Finalmente esses exemplos partilham outra característica que pode reforçar a importância do papel da crise: a solução para cada um deles foi antecipada, pelo menos parcialmente, em um período no qual a ciência correspondente não estava em crise. ” 
O significado das crises consiste exatamente no fato de que elas indicam que é chegada a ocasião para renovar os instrumentos.