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O AMICUS CURIAE COMO INSTRUMENTO PARA A BUSCA DE UM PROCESSO COOPERATIVO E DEMOCRÁTICO

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O AMICUS CURIAE COMO INSTRUMENTO PARA A BUSCA DE UM PROCESSO COOPERATIVO E DEMOCRÁTICO
Felipe Caldeira
RESUMO
A partir da análise das características assumidas pelo amicus curiae no direito estrangeiro e da sua evolução no Direito Brasileiro, o presente artigo se propõe a analisar o tratamento dado pelo direito processual civil brasileiro a esse emblemático instrumento, fazendo, primeiramente, uma breve abordagem histórica do instituto no direito estrangeiro, com a análise do seu desenvolvimento até estar referido expressamente no Código de Processo Civil de 2015. 
SUMÁRIO
Introdução
Aspectos gerais da figura do amicus curiae 
Requisitos de admissibilidade
O “amigo da corte” como instrumento para a democratização do processo
Conclusão
Referências bibliográficas
INTRODUÇÃO
O conceito do que é o amicus curiae tem sofrido uma transformação importante correspondente a uma mudança na abordagem dada ao direito, especialmente no ensino do direito processual civil com a vigência do Código de Processo Civil, instituído pela Lei 13.105/15. O instituto teve o seu maior desenvolvimento no direito norte-americano, cujo sistema é o da common law, e no Brasil sua atuação vem ganhando cada vez mais destaque, pois, com o advento do atual CPC, tornou-se um terceiro interveniente atípico, 
Por essas razões, verificar-se-á, no segundo capítulo, que o Código de Processo Civil/2015 teve o claro propósito de encorajar a participação do amicus curiae em casos que justifiquem uma ampliação do debate judicial, bastando para isso a verificação de certos requisitos legais. 
Após, delimitados os requisitos trazidos pelo CPC/2015 para o intervenção do amicus curiae, será contextualizada a importância da sua atuação para a busca contínua de um processo cooperativo e democrático, marcado pela ampliação do debate prévio entre as partes, especialmente quando a matéria é de relevância para a sociedade ou determinado grupo social. 
Para tanto, premissas serão estabelecidas acerca da origem, do desenvolvimento e da conceituação do amicus curiae, pretendendo chegar à conclusão de que esse instituto, nos dias de hoje, é um instrumento hábil a permitir a ampliação do debate prévio entre as partes, especialmente quando a matéria é de relevância para a sociedade ou determinado grupo social. Isto, pois, conforme será explicado no decorrer do primeiro capítulo, o amicus curiae, na origem, não possuía as características que tem hoje. 
E é sob a ótica da origem e desenvolvimento histórico do instituto que haverá uma contribuição inicial para a do art. 138 do CPC.
A evolução histórica da figura do amicus, mesmo que de forma breve, permite contextualizar de que forma ele foi concebido em alguns países, pois, diferentemente da concepção dada pelo CPC/2015, na sua origem o amicus foi marcado por ser um terceiro sem interesse direto na resolução do litígio e objetivava unicamente fornecer informações aos Juízes para minimizar erros no julgamento da causa. 
	
ASPECTOS GERAIS DO AMICUS CURIAE
Ao analisar o desenvolvimento do instituto em alguns países estrangeiros, é possível notar que há aspectos diferenciados no papel assumido pelo amicus curiae em cada país. Inclusive, ressalta-se que na própria doutrina estrangeira há divergência quanto à origem do instituto. Há teses que defendem a origem remota do amicus no direito romano, ao passo que existem outras que sustentam a origem do instituto na Inglaterra. Afinal, conforme afirmado por Isabel da Cunha Bisch: “esse instrumento processual ganhou sentidos e funções diversas na Inglaterra, nos Estados Unidos, no Direito Comunitário Europeu e, mais recentemente, também no Brasil”. [1: SILVESTRI, Elisabetta; CRISCUOLI, Giovani. apud BUENO, Cassio Scarpinella. Amicus Curiae no processo civil brasileiro: Um terceiro enigmático, 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 111-112. ][2: BISCH, Isabel da Cunha. O amicus curiae, as tradições jurídicas e o controle de constitucionalidade: um estudo comparado à luz das experiências americana, europeia e brasileira. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 17-18. ]
As fontes que defendem a origem do instituto no direito romano trazem que a sua função era a de um colaborador neutro em casos que a resolução girava em torno de questões não estritamente jurídicas, e a atuação do amicus objetivava minimizar o erro dos magistrados nos julgamentos. A obrigação desse colaborador, portanto, seria prestar lealdade aos juízes. [3: BUENO, Cassio Scarpinella. Amicus Curiae no processo civil brasileiro: Um terceiro enigmático, 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 112.]
Elisabetta Silvestri, ao tratar do tema, mostra-se contrário à tese de que a origem do amicus curiae tenha sido no direito romano, isso, pois, sustenta que a figura do amicus, no direito romano, tinha como característica básica: a) a sua intervenção dependia de convocação do magistrado (atuação provocada); e b) o auxílio era prestado consoante seu próprio e livre convencimento (imparcial). [4: CRISCUOLI, Giovani. apud BUENO, Cassio Scarpinella. op. cit. p. 111. ]
Dessa forma, devido à característica do instituto no direito romano, marcada pela intervenção provocada e pela neutralidade de sua atuação, é possível identificar porque CRISCUOLI defende a origem do instituto no direito inglês: desde as suas remotas origens no direito inglês, o amicus curiae podia comparecer espontaneamente perante o juízo, fornecendo elementos úteis para a vitória de um dos sujeitos integrantes dos polos da relação processual. [5: Idem. p.113. ]
Na Inglaterra medieval, o amicus curiae era entendido como um terceiro desinteressado que, mediante requerimento próprio ou do próprio órgão jurisdicional, fornecia informações sobre questões de direito, ou apontava questões de fato que poderiam acarretar erros manifestos no julgamento da causa.[6: LOWMAN, Michael K. apud ALVES, Tatiana Machado. Primeiras questões sobre o amicus curiae no novo Código de Processo Civil. Revista de Processo. v. 256. ano 41. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 96]
Todavia, essa concepção do amicus como uma figura desprovida de interesse próprio, cuja finalidade única era a de auxiliar o juízo, foi se modificando com o tempo. 
A virada no direito inglês se deu no caso Coxe vs. Phillips, em que foi autorizado, pela primeira vez, a intervenção de um terceiro no processo como amicus curiae para proteger os seus próprios interesses, conforme elucida BUENO: 
Narra-se, a respeito desse caso, que o casamento de Mrs. Phillips e Mr. Muilman foi declarado nulo ao se descobrir que ela já era casada. Mesmo depois de Mr. Muilman já se ter casado novamente, Mrs. Phillips invocou seu casamento com ele para alegar a incapacidade de se obrigar quando cobrada pelo não pagamento de uma nota promissória. Como as razões de defesa invocadas por ela podiam comprometer o então atual casamento de Mr. Muilman, a corte permitiu, mesmo que ele não fosse parte ou interessado no processo, que um amicus curiae representasse seus interesses naquela ação. A tese do amicus foi acolhida, a ação de cobrança foi extinta e as partes, Mr. Coxe e Mrs. Phillips, condenadas como litigantes de má-fé.[7: BUENO, Cassio Scarpinella. op. cit. p. 114-115.]
	
	SILVESTRI traz que o amicus curiae ganhou espaço na Inglaterra devido a essa visão bipolar do processo (ideia de um confronto entre dois adversários e um julgador relativamente passivo), pois o amicus não deixava de estar à margem da discussão entre as partes. E, além disso, se manteve no Direito Inglês por auxiliar os Juízes a aprimorar seu convencimento, aperfeiçoando ou corrigindo o conjunto probatório elaborado.[8: SILVESTRI, Elisabetta. apud BISCH, Isabel da Cunha. op. cit. p. 29. ]
	
Antes do advento do Código de Processo Civil de 2015, instituído pela Lei nº 13.105/2015, não havia no direito brasileiro qualquer referência legislativa expressa ao amicus curiae. 
No Brasil, o único ato normativo que o denominava era o Regimento Interno da Turma Nacionalde Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais (Resolução nº 390, de 17 de setembro de 2004, CNJ), no seu art. 23, § 1º, o qual previa que no julgamento de recursos perante a Turma Recursal era permitido a eventuais interessados, entidades de classe, associações, organizações não governamentais, etc. apresentar memoriais e fazer sustentação oral a critério do presidente, recaindo sobre este a decisão sobre o tempo de sustentação que seria permitido.[9: BUENO, Cassio Scarpinella. op. cit. p. 144. ]
Feitas as considerações acerca da origem do instituto, 
O amicus curiae é o terceiro que, espontaneamente, a pedida da parte ou por provocação do órgão jurisdicional, intervém no processo para fornecer subsídios que possam aprimorar a qualidade da decisão.[10: DIDIER Jr., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 17. ed. Salvador: Jus Podivm, 2015, p. 522. ]
Se por um lado o legislador acertou ao incluir o amicus curiae nas disposições do CPC/2015, por outro critica-se a redação dada ao art. 138, §3º, pois: 
Se um dos objetivos do amicus curiae é oferecer razões para fomentar o debate a fim de que as decisões judiciais possam servir de precedentes, nada justifica a limitação do direito ao recurso ao incidente de resolução de demandas repetitivas. Na verdade, o legislador parte de uma pressuposição: de que a decisão do incidente de resolução de demandas repetitivas pode gerar um precedente. É, sem dúvida, correto imaginar que o debate gerado no incidente e a sua decisão podem gerar um caldo de razões que deve ser levado em consideração pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça, em sendo o caso, para a decisão da questão – a partir da qual se pode obter um precedente. No entanto, a formação de precedentes no direito brasileiro não está de modo nenhum vinculada a uma forma específica: é incorreto supor que precedentes só podem advir e só interessam em termos de causas repetitivas. Essa é a razão pela qual o amicus curiae poderá interpor recurso sempre que do exame da questão pelo órgão ad quem possa advir um precedente. Esse é o significado normativo do art. 138, § 3º.[11: Marinoni, Arenhart, Mitidiero. Op. cit. p. 106.]
REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DO AMICUS CURIAE
No decorrer deste segundo capítulo, serão estudados os requisitos de admissibilidade agora previstos no Código de Processo Civil de 2015, que traz a previsão geral expressa do instituto, no seu art. 138, abarcando três requisitos objetivos alternativos e um requisito subjetivo, quais sejam: a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda e a repercussão social da controvérsia; bem como a representatividade adequada do amicus curiae. 
PRESSUPOSTOS OBJETIVOS
A intervenção como amicus curiae caberá quando houver relevância da matéria, especificidade do tema objeto da demanda ou repercussão social da controvérsia. Quanto às condições objetivas para admissão do amicus curiae, Eduardo Talamini traz, inicialmente, duas balizas: 
[...] por um lado a especialidade da matéria, o seu grau de complexidade; por outro, a importância da causa, que deve ir além do interesse das partes, i.e., sua transcendência, repercussão transindividual ou institucional. São requisitos alternativos (“ou”), não necessariamente cumulativos: tanto a sofisticação da causa quanto sua importância ultra partes (i.e., que vá além das partes) pode autorizar, por si só, a intervenção. De todo modo, os dois aspectos, em casos em que não se põem isoladamente de modo tão intenso, podem ser somados, considerados conjuntamente, a fim de viabilizar a admissão do amicus.[12: TALAMINI, Eduardo. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. (coord). Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015. p. 441. ]
 
	A relevância da matéria e a repercussão social da controvérsia se dividem, a medida em que o primeiro é analisado sob o aspecto qualitativo e o segundo quanto ao aspecto quantitativo. A abordagem desses dois requisitos se dá, geralmente, de forma conjunta, pois fundam-se no interesse extraprocessual da demanda, ou seja, a possibilidade de haver efeitos para além dos limites do processo. Inclusive, ás vezes ambos se confundem, pois em razão da possibilidade de haver repercussão da controvérsia discutida em uma demanda, consequentemente será também relevante o tema objeto do processo. [13: ALVES, Tatiana Machado. Primeiras questões sobre o amicus curiae no novo Código de Processo Civil. Revista de Processo. vol. 256. ano 41. São Paulo: RT, 2016. p. 107. ]
	O que deve ficar claro é que, em alguns casos, a solução da causa tem/terá repercussão social que irá além do interesse das partes integrantes dos polos da relação processual, pois estará direta ou indiretamente aplicada a muitas outras pessoas, cuja denominação é a chamada dimensão ultra partes. Contudo, em algumas outras situações, a dimensão ultra partes, justificadora da intervenção, estará presente em questões que, embora não haja tendência de repercutir em uma quantidade grande de outros litígios, versará sobre temas fundamentais para o ordenamento jurídico. [14: TALAMINI, Eduardo. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. (coord). op. cit. p. 441. ][15: Idem, ibidem. ]
	Já o terceiro requisito objetivo, a especificidade do tema objeto da demanda, está relacionado com a complexidade da matéria da demanda. Essa especificidade tanto pode ser fática quanto técnica (jurídica ou extrajurídica). Outrossim, na análise deste requisito, deve-se ter cuidado, pois não pode ser considerado genérico, nem autônamo, sob pena de se confundir a função do amicus curiae com a do perito, por exemplo.[16: Idem, ibidem. ][17: DEL PRÁ, Carlos Gustavo Rodrigues. ]
Sendo assim, analisados os pressupostos objetivos de intervenção, será abordado o requisito subjetivo para admissão do amicus curiae, qual seja: a representatividade adequada.
PRESSUPOSTO SUBJETIVO
Exige-se do amicus curiae o requisito subjetivo da representatividade adequada. Isto, pois, deverá demonstrar a razão de sua intervenção e de que forma seu interesse institucional, distinto de interesse jurídico, relaciona-se com o processo. [18: BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Processo Civil – NCPC – 2015, p ????]
O interesse jurídico que legitima a intervenção de terceiros regulada pelo Código de Processo Civil é diferente daquele que legitima a intervenção do amicus curiae. No primeiro caso tem-se um interesse jurídico decorrente de uma relação jurídica fundamentada em direito material. No segundo caso, o interesse está em auxiliar a tarefa judicial de interpretar e aplicar as leis. Essa diferença pode até fornecer o critério para a admissão do amicus curiae, pois sua participação não pode servir para permitir o que a lei impede. 	Comment by Usuário do Microsoft Office: adequar ao texto – artigo bruno rabelo moreno 
Assim, Cassio Scarpinella Bueno esclarece a diferenciação dos conceitos de interesse institucional e interesse jurídico: 
O “interesse institucional” não pode ser confundido (em verdade, reduzido) ao interesse jurídico que anima as demais intervenções de terceiro no que é expresso o caput do art. 119 ao tratar da assistência. Fossem realidades coincidentes e, certamente, não haveria necessidade de o CPC de 2015 – e antes dele, algumas leis esparsas, a jurisprudência e a doutrina – disciplinar expressamente o amicus curiae. O “interesse institucional”, por isso mesmo, deve ser compreendido de forma ampla, a qualificar quem pretende ostentar o status de amicus curiae em perspectiva metaindividual, apta a realizar interesses que não lhe são próprios nem exclusivos como pessoa ou como entidade. São, por definição, interesses que pertencem a grupo (determinado ou indeterminado) de pessoas e que, por isso mesmo, precisam ser considerados no proferimento de específicas decisões; o amicus curiae, é esta a verdade, representa-os em juízo como adequado portador deles que é.Seja porque se trata de decisões que signifiquem tomadas de decisão valorativas, seja porque são decisões que têm aptidão de criar “preceden- tes”, tendentes a vincular – é o que o CPC de 2015 inequivocamente quer – outras tantas decisões a serem proferidas posteriormente e a partir dela. [19: Idem, ibidem.]
O requisito subjetivo da representatividade adequada não impõe ao amicus curiae ser o porta-voz de um grupo ou determinado segmento social. Torna-se necessário o conhecimento e a idoneidade para colaborar para o esclarecimento das questões em debate. [20: CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro; CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo (coord.). Comentários ao novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, p??]
A título de exemplo, na Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pelo MP/RS pretendendo a declaração de inconstitucionalidade da Lei Municial 3.700/15, de Gravataí (proíbe o transporte de passageiros por carros particulares cadastrados em aplicativos), o Des. Rel. Alberto Delgado Neto, do TJ/RS proferiu decisão admitindo a UBER como amicus curiae, mesmo que : 
O Uber vem sustentando possuir representatividade para intervir nesta ação na qualidade de amicus curiae (amigo da corte), pois o seu aplicativo de tecnologia tem sido o principal fator desencadeador de uma verdadeira revolução na maneira como as pessoas interagem, trabalham e se locomovem. 
A figura do amicus curiae se presta a permitir a ampliação do debate prévio decisório, especialmente quando a matéria é de relevância para a sociedade ou determinado grupo social. 
[...]
Assim, a doutrina e a jurisprudência mencionam a necessidade da presença do binômio relevância/representatividade, tendo em vista os efeitos da decisão a ser proferida no setor diretamente afetado, bem como se a entidade possui interesse que justifique a participação. 
Na espécie, a representatividade está demonstrada nos autos, na medida em que o UBER do Brasil Tecnologia Ltda. representa no caso não só a empresa interessada na solução, mas um segmento social interessado na utilização do aplicativo, com a finalidade conferir escala de transporte individual privado de passageiros, revelando interesse difuso evidente. [21: RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 70072816671. Desembargador Relator Alberto Delgado Neto. Porto Alegre, 06/06/2017. ]
Na mesma decisão, o Relator fundamenta que mesmo havendo interesse na causa, isso, por si só, não impede a participação de interessado no processo: 
“[...] a jurisdição constitucional tem natureza diversa da jurisdição de resolução de conflitos, guardando o caráter de controle do sistema jurídico, de molde que a contribuição de segmentos ou grupos, ainda que interessados, amplia o horizonte de conhecimento da base de incidência normativa em debate”[22: Idem, ibidem. ]
	
Sob a mesma ótica, Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero: 
O que o move é o interesse institucional: o interesse no adequado debate em juízo de determinada questão nele debatida. Esse, aliás, o parâmetro adequado para aferição da legitimidade da participação do amicus curiae no processo: é inclusive a partir desse critério que o requisito da representatividade adequada do amicus curiae deve ser dimensionado. [23: Marinoni, Arenhart e Mitidiero. Novo Curso de proceso civil v. 2, 3. ed. ]
Paulo Cézar Pinheiro Carneiro, por sua vez, alerta que não se pode confundir, apesar de haver igualdade na grafia, a representatividade adequada da ação civil pública com a relacionada à participação do amicus curiae. O autor defende que deve haver a formação de um novo conceito do “nosso amicus curiae”, agora disciplinado no Código de Processo Civil/2015, de modo a não definí-lo com base na doutrina estrangeira ou com premissas que a doutrina brasileira estabeleceu no passado, quando o instituto ainda não estava regulado no direito brasileiro. [24: CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro; CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo (coord.). Comentários ao novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, p?? ]
Desta maneira, o CPC/15, ao disciplinar o amicus curiae, não exigiu que este fosse um terceiro imparcial. Se assim o fosse, sua intervenção poderia ser questionada e impugnada pela parte prejudicada. [25: Idem, ibidem. ]
Salienta Fredie Didier Jr.: “o amicus curiae precisa ter algum vínculo com a questão litigiosa, de modo a que possa contribuir para a sua solução”. 
Verifica-se, portanto, que a análise da finalidade e do objetivo do amicus curiae se torna fundamental, a medida que o amicus curiae, diferentemente das outras formas de intervenção de terceiro, fornece subsídios para auxiliar o magistrado na análise de determinada matéria/questão. Logo, mesmo que a manifestação do amicus curiae favoreça alguma parte, isso decorrerá da consequência da sua manifestação, e não da sua finalidade e objetivo de intervenção. 
O AMICUS CURIAE E A BUSCA DE UM PROCESSO COOPERATIVO E DEMOCRÁTICO 
“Na dúvida, deve-se perquirir: isso atende ou agride o que é apregoado pela cooperação? Assim, e só assim, talvez fique no retrovisor da história, o momento em que vivemos, ou seja, o de mera ‘tentativa’ do processo idealizado pelo Estado Constitucional. “ [26: LANES, Julio Cesar Goulart. Fato e Direito no Processo Civil Cooperativo. São Paulo: RT, 2014. p. 127.]
Não se cogita abordar o tema da cooperação e da democratização do processo, mesmo não exaurindo a maioria das questões acerca do tema, sem mencionar que o processo civil se estrutura a partir dos direitos fundamentais que compõe o direito ao processo justo. A construção/reconstrução do sistema processual civil parte da Constituição, ou seja, interpreta-se o processo civil de acordo com a Constituição Federal.[27: Marinoni, Arenhart, Mitidiero. Novo Código de Processo Civil Comentado, p. 143. ]
E, a partir da observância, em especial, do direito ao processo justo, que se espera a atuação do Estado e dos particulares em algumas situações. 
Marinoni, Arenhart e Mitidiero destacam que o direito ao processo justo conta com um perfil mínimo: 
Em primeiro lugar, do ponto de vista da divisão do trabalho processual, o processo justo é pautado pela colaboração do juiz para com as partes (art. 6º, CPC). O juiz é paritário no diálogo e assimétrico apenas no momento da imposição de suas decisões. Em segundo lugar, constitui processo capaz de prestar tutela jurisdicional adequada e efetiva (art. 5º, XXXV, CF, e 3º, CPC), em que as partes participam em pé de igualdade e com partidade de armas (art. 5º, I, CF e 7º, CPC), em contraditório (art. 5º, LV, CF, e 7º, 9º e 10º, CPC), com ampla defesa (art. 5º, LV, CF) com direito à prova (art. 5º, LVI, a contrario sensu, CF, e 369, CPC), perante o juiz natural (arts. 5º, XXVII e LIIII, CF), em que todos os seus pronunciamentos são previsíveis, confiáveis e motivados (arts. 93, IX, CF, e 11 e 489, §1º, CPC), em procedimento público (arts. 5º, LX, e 93, IX, CF, e 11 e 189, CPC), com duração razoável (arts. 5º, LXXVIII, CF, e 4º, CPC) e, em sendo o caso, com direito à assistência judiciária jurídica integral (art. 5º, LXXIV, CF, e 98 a 102, CPC) e com formação de coisa julgada (art. 5º, XXXVI, CF, e 502, CPC).[28: Marinoni, Arenhart e Mitidiero, Novo CPC Comentado, p. 144. ]
O direito a um processo justo nada mais é do que o resultado da harmonização desses interesses que confluem no processo.Além disso, é justamente nessa situação em que o CPC/2015, de forma adequada, acertou ao tornar atípica a possibilidade de intervenção de terceiros como amicus curiae, pois, como afirmado por Marinoni, Arenhart e Mitidiero: “Trata-se de uma evidente concretização da vertente democrática que alicerça nosso Estado Constitucional (art. 1º, caput, da CF).”[29: Marinoni, Arenhart e Mitidiero. Novo Curso de Processo Civil. p. 44. ][30: Idem, p. 105. ]
Paulo Cezar Pinheiro Carneiro corrobora com o ponto trazido neste capítulo: 
O princípio da cooperação não se limitaaos participantes tradicionais do processo: autor e réu. Deve o juiz, sempre que necessário, especialmente nos processos cujo resultado possa alcançar um grande número de pessoas, permitir a intervenção de pessoas, órgãos ou de entidades com interesse, ainda que indireto, na controvérsia. Assim, promover a realização de audiências públicas (art. 927, §2º; art. 983, §1º; art. 1.038, II; v.g.), e até mesmo permitir o ingresso de outros personagens que possam colaborar para a realização da justiça, caso do amicus curiae (arts. 138 e 1.038, §2º), são corolários lógicos de uma das formas de cooperação do juiz com o deslinde da causa. Quanto maior for a participação e, portanto, os elementos de informação, maior será a legitimidade democrática da decisão. 
	Tatiana Machado Alves também concorda que, embora o amicus curiae já viesse sendo utilizado no direito brasileiro como instrumento de ampliação do debate democrático, e consequentemente de melhoria de qualidade da prestação jurisdicional, a sua referência expressa no CPC/15 foi medida salutar para reforçar ainda mais essa característica do instituto. [31: Alves, Tatiana Machado. Op. cit. p. 115. ]
Assim, conforme a autora traz: 
[...] em atendimento ao postulado democrático e ao contraditório participativo, não só as partes adquirem o direito de influir eficazmente na formação do convencimento do magistrado, como terceiros que possam contribuir para as discussões passam a poder requerer a sua intervenção no processo para apresentar informações aptas a auxiliar o juiz.[32: Idem, ibidem. ]
No entanto, a autora adverte que a utilização do amicus curiae deve se dar de forma racional e dentro dos limites fixados, especialmente quanto aos requisitos para para a sua intervenção. Então, torna-se importante que, na decisão que decide o pedido de ingresso do amicus curiae, os juízes analisem e fundamentem efetivamente os requisitos do art. 138, CPC, de modo a evitar que intervenções inúteis, inaptas a colaborar para a resolução da demanda, sejam admitidas e prejudiquem o andamento do feito. [33: Idem, ibidem. ]
	
	
	
CONCLUSÃO
A verdade é que, dada a crescente relevância da jurisdição constitucional, e a frequência cada vez maior de decisões judiciais capazes de afetar toda coletividade, a admissibilidade do amicus curiae se torna um meio decisivo para o alargamento do debate, para a participação processual dos vários segmentos e setores da sociedade e, consequentemente, para garantir a legitimidade democrática e cooperativa da atividade jurisdicional. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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