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Texto 04.2 - GATT e OMC 2

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ACORDO GERAL SOBRE TARIFAS E COMÉRCIO – GATT
GATT - Rodadas de Negociação
O Gatt incorporou muitas das provisões da OIT, contidas na Carta de Havana (subscrita por 53 países, inclusive o Brasil), e foi adquirindo progressivamente atribuições de uma organização internacional. No entanto, não perdeu o seu caráter de acordo provisório nem obteve uma personalidade jurídica própria, como o FMI e o Banco Mundial.
O texto básico de 1947 foi ampliado ou modificado por novos códigos e acordos, interpretações, waivers, relatórios, panels e decisões do Conselho Geral do Gatt. Assim, um acordo que em suas origens versava basicamente sobre tarifas foi progressivamente incorporando disciplinas sobre medidas não-tarifárias, que foram tornando-se mais importantes à medida que as tarifas iam sendo reduzidas [Hoekman e Kostecki (1995, p. 15)].
O quadro abaixo mostra o resumo das Rodadas de Negociação na história do sistema multilateral de comércio:
	Rodada
	Período
	Países Participantes
	Temas cobertos
	Genebra
	1947
	23
	Tarifas
	Annecy
	1949
	13
	Tarifas
	Torquay
	1950 - 1951
	38
	Tarifas
	Genebra
	1955 - 1956
	26
	Tarifas
	Dillon
	1960 -1961
	26
	Tarifas
	Kennedy
	1964 - 1967
	62
	Tarifas e antidumping.
	Tóquio
	1973 - 1979
	102
	Tarifas, Medidas não tarifárias, Cláusula de Habilitação.
	Uruguai
	1986 - 1993
	123
	Tarifas, Agricultura, Serviços, Propriedade Intelectual, Medidas de Investimento, novo marco jurídico, OMC.
	Doha
	2001 - ?
	149
	Tarifas, Agricultura, Serviços, Facilitação de Comércio, Solução de Controvérsias, “Regras”.
Rodada Genebra (1947)
Vinte e três países – Carta de Havana – criação do GATT – princípio da Não Discriminação (Nação mais Favorecida e Tratamento Nacional) – Lista das Concessões (tarifas máximas) – Transparência (proteção tarifária) – Eliminação das Restrições Quantitativas – Regras Específicas para produtos agrícolas e têxteis 
Rodada Annecy (1949)
Treze países – poucos avanços – Guerra Fria – OTAN – Revolução Chinesa
Rodada Torquay (1950/51)
Trinta e oito países – apreciáveis reduções tarifárias – guerra da Coréia – descolonização da Ásia
Segunda Rodada Genebra (1955/56),
Vinte e seis países – não se lograram maiores benefícios rumo a liberalização – Conferência de Bandung (não alinhamento) – Pacto de Varsóvia – Tratado de Roma (1957)
Rodada Dillon (1960/61),
Vinte e seis países – resultados modestos – produtos agropecuários fora – Revolução Cubana – construção do muro de Berlim – crise dos mísseis em Cuba
Rodada Kennedy (1963/67),
Vinte e seis países – avanços em direção à liberalização – redução tarifária de 35% - exclusão dos produtos agrícolas – código antidumping – primeiro acordo multilateral – princípio da não reciprocidade para os países em desenvolvimento – criação da UNCTAD (1964) – início da ‘détente’ – movimento das países não alinhados (terceiro mundo)
Rodada Tóquio (1973/79)
Cento e dois países – resultados mais amplos do que nas rodadas anteriores –– inclusão de produtos agrícolas e matérias primas nos acordos – novos acordos antidumping – compras governamentais – ‘détente’ – TNP e SALT – 1º choque do petróleo – Guerra do Vietnã – 
A rodada fracassou, no entanto, em seu intento de normatizar o comércio de produtos agrícolas e de criar um acordo de salvaguardas. Além disso, muitos dos novos acordos negociados terminaram sendo subscritos por um número pequeno de países - em sua maior parte desenvolvidos -, perdendo o caráter multilateral. Em conseqüência, esses acordos passaram a ser conhecidos como “códigos”.
A partir da crise do petróleo os países desenvolvidos enfrentaram os problemas de desemprego e inflação acelerada e o resultado foi o crescimento das restrições comerciais por parte destes países. O interesse em negociar o maior número de itens e a proliferação do uso das barreiras não tarifárias fez com que estes aspectos fossem considerados extremamente importantes nas negociações. Os resultados obtidos foram os seguintes:
Redução de tarifa média para produtos industriais em 30%;
Elaboração de códigos que visavam regular os procedimentos relativos a barreiras não tarifárias: valoração aduaneira, licenciamento de importações, barreiras técnicas, compras governamentais, subsídios e antidumping;
Reforma da estrutura do GATT: para os países em desenvolvimento, foi oficialmente reconhecido o direito à isenção na cláusula da nação mais favorecida e reciprocidade em favor dos PED. A cláusula de habilitação permite que os países desenvolvidos concedam tratamento diferenciado e mais favorável aos PED, sem reciprocidade.
Foi também facilitado o uso de restrições não tarifárias em função de distorções no balanço de pagamentos (Artigo XVIII). O Brasil foi um dos países que defendeu esta posição e utilizou por bastante tempo esta prerrogativa, da qual abriu mão oficialmente em 1990, com o Governo Collor. Também foi aperfeiçoado o sistema de solução de controvérsias.
Obs.: a área da agricultura não foi substancialmente atingida por estas negociações.
O relativo fracasso da Rodada Tóquio em relação às questões não-tarifárias deveu-se a dois fatores: o sucesso das negociações quanto à redução das tarifas para níveis baixos e as recessões econômicas dos anos 70 e início dos 80 (desencadeadas, em parte, pelos dois choques do petróleo). A combinação desses dois eventos levou os governos dos países desenvolvidos a criar novas formas de proteção para os setores sujeitos a uma concorrência externa maior [OMC (1995, p. 10)].
O aumento do desemprego e o fechamento de muitas fábricas fizeram com que os governos dos países europeus e dos Estados Unidos celebrassem com outros países acordos de restrição voluntária de suas exportações e aumentassem os subsídios aos produtos agropecuários, comprometendo a credibilidade e a efetividade do Gatt [OMC (1995, p. 10)].
Além da onda protecionista, outros movimentos reforçaram a percepção de que as regras multilaterais de comércio vigentes eram insuficientes para dar conta da nova realidade do comércio internacional: por um lado, a economia se globalizava, os fluxos de capitais cresciam e o comércio de serviços tornava-se crescentemente mais importante para muitos países; e, por outro, as regras multilaterais continuavam na prática, e mesmo assim com exceções, restritas ao comércio de bens manufaturados. Não havia um acordo sobre salvaguardas, e as regras para a imposição de direitos para compensar a existência de dumping ou subsídios eram bastante precárias, sendo utilizadas de forma discricionária e protecionista.
Tudo isso, aliado ao temor de que se repetissem as guerras comerciais dos anos 30, levou à realização da mais ampla e ambiciosa rodada de negociações de todo o pós-guerra - a Rodada Uruguai.
Rodada Uruguai (1986/93).
Cento e vinte e três países – criação da OMC - reforço das regras de proteção não tarifária – tratamento de produtos agrícolas, têxteis, serviços e propriedade industrial – fim do comunismo e do mundo bipolar –
As negociações da Rodada Uruguai levaram quatro anos para ser preparadas e mais de sete para ser concluídas (três a mais do que o originalmente previsto), após inúmeras ameaças de fracasso. Tais negociações talvez possam ser consideradas as mais amplas sobre questões econômicas já realizadas até hoje, cobrindo uma extensa gama de assuntos, alguns deles extremamente sensíveis. Dela participaram países de diversos tamanhos, estágios de desenvolvimento e estruturas econômicas [Croome (1995, p. 1)]. A questão foi levantada inicialmente em junho de 1981, e as negociações a respeito começaram em novembro de 1982 na Reunião Ministerial do Gatt que teve lugar em Genebra, mas não foram adiante devido às divergências entre os países desenvolvidos quanto ao setor agrícola.
As conversações continuaram e novas divergências vieram à tona, agora entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, que não concordavam quanto aos assuntos a serem negociados. Os primeiros queriam introduzir novos temas, como comércio de serviços, direitosde propriedade intelectual e medidas de investimento relacionadas com o comércio. Os segundos, reunidos no chamado Grupo dos 77 (com destaque para Brasil, Índia, Argentina e Iugoslávia), defendiam que a prioridade deveria ser conferida à reestruturação do Gatt, cuja credibilidade fora bastante abalada com o fracasso da Rodada Tóquio e o neoprotecionismo das economias desenvolvidas, e pretendiam, desse modo, fazer com que a rodada tratasse de resolver questões pendentes, como o comércio de produtos agrícolas, as restrições voluntárias às exportações e o acordo de salvaguardas.
O consenso necessário para o início da Rodada Uruguai somente foi obtido na Reunião Ministerial do Gatt realizada em setembro de 1986 em Punta del Leste, quando, como solução de compromisso, decidiu-se pela discussão tanto dos antigos quanto dos novos temas. Assim, a Rodada Uruguai saiu com o mandato de realizar a mais ampla e complexa negociação comercial multilateral sob os auspícios do Gatt, sendo que os trabalhos deveriam estar terminados em quatro anos - o que não ocorreu. No entanto, após idas e vindas, eles foram finalmente concluídos em 15 de dezembro de 1993 em Genebra, o que somente foi possível porque os países desenvolvidos resolveram deixar em aberto as questões mais controversas, como o comércio de produtos audiovisuais e a abertura do setor financeiro, assumindo o compromisso de continuar as discussões a respeito.
Sinteticamente, foram os seguintes os principais resultados da Rodada Uruguai:
Corte médio de 37% das tarifas de importação internacionais. Em relação aos produtos industrializados, os países desenvolvidos assumiram o compromisso de reduzir suas tarifas em 49% - ou seja, de uma média de 6,3% para 3,8% - e de aumentar o valor das importações isentas de tarifa de importação - de 20% para 44%. Após o período de transição de cinco anos para os diversos países (prazo estabelecido para que pratiquem as tarifas que registraram junto à OMC), apenas 5% dos produtos por eles importados terão tarifas superiores a 15% [OMC (1995, p. 6)].
Reincorporação dos produtos agropecuários ao sistema multilateral de comércio. Originariamente, o comércio de produtos agrícolas estava coberto pelas regras do Gatt, mas com o tempo a Comunidade Européia (sobretudo) e os Estados Unidos foram conseguindo uma série de isenções quanto à utilização de medidas não-tarifárias e de subsídios à sua produção e exportação [Lampreia (1994, p. 8) e OMC (1995, p. 20)]. Nenhuma das tentativas anteriores de trazer o setor agrícola de volta às disciplinas do Gatt logrou êxito. A liberalização propiciada pela Rodada Uruguai ficou aquém daquela esperada pelos países em desenvolvimento, mas não se pode negar que ocorreram alguns avanços importantes nesta área. Um deles foi a “tarificação” de todas as restrições não-tarifárias, que atingiam mais de 30% da produção agrícola. As tarifas resultantes serão reduzidas em 36% para os países desenvolvidos e em 24% para aqueles em desenvolvimento, respectivamente, em um período de seis e 10 anos, contados a partir de janeiro de 1995. Além disso, o Acordo sobre Agricultura estabeleceu normas e novos compromissos em matéria de acesso a mercados, ajuda interna e subsídios às exportações. Novas negociações sobre o setor agrícola deverão começar antes do término do quinto ano de aplicação do Acordo, ou seja, 1999.
Incorporação dos produtos têxteis ao sistema multilateral de comércio. O comércio de produtos têxteis estava sujeito a regras especiais estabelecidas pelos países desenvolvidos desde a década de 60. Em 1974, entrou em vigor o Acordo Mutifibras, através do qual esses países passaram a fixar, negociada ou unilateralmente, cotas para a importação de têxteis e confecções provenientes de países em desenvolvimento. O Acordo Multifibras deve ser eliminado em 10 anos contados a partir de janeiro de 1995, obedecendo a um cronograma previamente estabelecido.
Aumento percentual das linhas de produtos consolidadas (registradas na OMC) de 78% para 99% do total das linhas alfandegárias no caso dos países desenvolvidos, de 21% para 73% com relação àqueles em desenvolvimento e de 73% para 98% para as economias em transição. A ampliação da lista de tarifas consolidadas por parte dos países em desenvolvimento refletiu, em boa medida, os processos unilaterais de liberalização comercial por eles promovidos a partir do final dos anos 80, assim como a percepção de que teriam mais a ganhar (ou menos a perder) participando mais ativamente do sistema multilateral de comércio. Muitos desses países consolidaram suas tarifas em níveis superiores àqueles que efetivamente praticam ou que pretendem praticar em um futuro próximo. O Brasil, por exemplo, consolidou sua tarifa em 35% para produtos industrializados e em 55% para os agropecuários a partir do ano 2000, enquanto definiu com os seus parceiros do Mercosul uma Tarifa Externa Comum (TEC) máxima de 20%.
Inclusão do setor serviços no sistema multilateral de comércio. Foram negociados um código de conduta para o setor - Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (Gats) - e compromissos em termos de acesso a mercados, os quais fazem parte das listas nacionais vinculantes e devem ser ampliados em negociações em curso ou futuras. Pode-se dizer que os entendimentos (ou desentendimentos) sobre o setor apenas começaram, e entre as negociações mais difíceis estão aquelas referentes a assuntos financeiros.
Garantia de proteção aos direitos de propriedade intelectual relacionados com o comércio - Acordo sobre os Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados com o Comércio (Trips).
Aperfeiçoamento dos instrumentos de defesa comercial, com a negociação de um acordo sobre salvaguardas e o aperfeiçoamento dos códigos sobre subsídios e medidas antidumping.
Criação de um novo sistema de solução de disputas comerciais.
Os resultados da Rodada Uruguai foram subscritos em 15 de abril de 1994, em Marrakesh, por mais de uma centena de países e podem ser divididos em duas partes: o código de conduta (arcabouço jurídico), que está contido no documento “Os resultados da Rodada Uruguai” de negociações multilaterais; e as concessões em termos de acesso a mercados nas chamadas listas nacionais, onde estão consolidados os níveis tarifários máximos de cada país. Uma vez consolidada, ou seja, registrada multilateralmente, uma tarifa não pode ser aumentada ou neutralizada por outras medidas não-tarifárias sem uma negociação de compensações com os principais exportadores do produto. Isto significa que um país não pode aplicar níveis tarifários superiores àqueles que consolidou ou adotar medidas que tenham um efeito equivalente a um aumento de tarifa sem oferecer uma compensação aos seus parceiros comerciais prejudicados.
OMC
A OMC sucedeu ao GATT na regulação do comércio mundial, tendo sido o principal resultado da Rodada Uruguai. Ainda que ela não seja imune às pressões advindas dos principais atores internacionais, sua existência é de vital importância para países como o Brasil que dependem de um sistema de normas para defender seus interesses. Os países em desenvolvimento são hoje a grande maioria dos Membros desta Organização e só cabe a eles fazer valer os seus interesses, já que as decisões na OMC são tomadas por consenso. 
Para a vigilância do cumprimento das normas contidas nos vários acordos que regem o sistema multilateral de comércio, a OMC conta com um poderoso instrumento que é o Entendimento para Solução de Controvérsias. O Brasil mesmo já obteve várias vitórias no Órgão de Solução de Controvérsias da OMC, como no caso do painel da gasolina, contra os Estados Unidos, e os mais recentes painéis do açúcar contra a Comunidade Européia e do algodão contra os Estados
Princípios da OMC
Para estabelecer um comércio internacional livre e transparente, o GATT 1994 traz alguns princípios básicos que restringem as políticas de comércio exterior dos países. São eles: 
Não Discriminação
É o princípio básico da OMC. Está contido no Art. I e no Art. III do GATT 1994 no que diz respeito abens e no Art. II e Art. XVII do Acordo de Serviços. Estes Artigos estabelecem os princípios da nação mais favorecida (Art. I) e o princípio do tratamento nacional (Art.III). Pelo princípio da nação mais favorecida, um país é obrigado é estender aos demais Membros qualquer vantagem ou privilégio concedido a um dos Membros; já o princípio do tratamento nacional impede o tratamento diferenciado de produtos nacionais e importados, quando o objetivo for discriminar o produto importado desfavorecendo a competição com o produto nacional.
Previsibilidade (Transparência)
Os operadores do comércio exterior precisam de previsibilidade de normas e do acesso aos mercados tanto na exportação quanto na importação para poderem desenvolver suas atividades. Para garantir essa previsibilidade, o pilar básico é a consolidação dos compromissos tarifários para bens e das listas de ofertas em serviços, além das disciplinas em outras áreas da OMC, como TRIPS, TRIMS, Barreiras Técnicas e SPS que visam impedir o uso abusivo dos países para restringir o comércio.
Concorrência Leal
A OMC tenta garantir não só um comércio mais aberto mas também um comércio justo, coibindo práticas comerciais desleais como o dumping e os subsídios, que distorcem as condições de comércio entre os países. O GATT já tratava destes princípios nos Art. VI e XVI, porém estes mecanismos só puderam ser realmente implementados após os Acordos de Antidumping e Acordo de Subsídios terem definido as práticas de dumping e de subsídios e previsto as medidas cabíveis para combater o dano advindo destas práticas.
Proibição de Restrições Quantitativas
O Art. XI do GATT 1994 impede o uso de restrições quantitativas (proibições e quotas) como meio de proteção. O único meio de proteção admitido é a tarifa, por ser o mais transparente. As quotas tarifárias são uma situação especial e podem ser utilizadas desde que estejam previstas nas listas de compromissos dos países.
Tratamento Especial e Diferenciado para Países em Desenvolvimento
Este princípio está contido no Art. XXVIII bis e na Parte IV do GATT 1994. Pelo Art. XXVIII bis do GATT 1994, os países desenvolvidos abrem mão da reciprocidade nas negociações tarifárias (reciprocidade menos que total). Já a Parte IV do GATT 1994 lista uma série de medidas mais favoráveis aos países em desenvolvimento que os países desenvolvidos deveriam implementar. Além disso, os Acordos da OMC em geral listam medidas de tratamento mais favorável para países em desenvolvimento.
Adesão de Novos Países
A adesão à OMC de novos Membros depende de negociação prévia com os Membros atuais para a abertura dos mercados de bens e serviços e também de adequação da legislação interna do país solicitante aos diversos acordos existentes no âmbito da OMC.
Para acompanhar o processo de acessão, é formado um Grupo de Trabalho específico por país solicitante. Atualmente, encontram-se em processo de acessão os seguintes países:
	Afeganistão
	Etiópia
	São Tomé e Príncipe
	Algéria
	Iêmen
	Sérvia
	Andorra
	Irã
	Seicheles
	Azerbaijão
	Iraque
	Sudão
	Bahamas
	Laos
	Tajiquistão
	Bielorússia
	Líbano
	Tonga
	Bósnia Herzegóvina
	Líbia
	Ucrânia
	Butão
	Montenegro
	Uzbequistão
	Cabo Verde
	Rússia
	Vanuatu
	Cazaquistão
	Samoa
	
O Órgão de Solução de Controvérsias – OSC
Na Rodada Uruguai, ocorrida de 1986 a 1994 (OMC, 2009), foi elaborado um Entendimento sobre a Resolução de Litígios que criou um Órgão de Solução de Controvérsias – OSC com o objetivo de resolução das disputas relativas à aplicação e interpretação dos acordos da OMC. Tal medida proporcionou ao sistema internacional de resolução de conflitos uma maior segurança, “pela natureza fortemente jurisdicional e vinculativa com que o dotou, e uma maior celeridade, pela redução dos prazos das diversas etapas do processo” (LAFER, 1998, p.30).
A controvérsia surge quando um país acredita que outro está violando um acordo ou um compromisso comercial firmado no âmbito da OMC. Os autores dos acordos são os próprios países-membros da OMC e a responsabilidade de resolução dos litígios recai sobre os próprios países, através do OSC. O procedimento da OMC para a resolução de disputas comerciais no âmbito do OSC é vital para a aplicação das regras e, portanto, para assegurar fluxos comerciais sem problemas (OMC, 2009).
As divergências comerciais insolúveis por meio de negociação direta entre os países envolvidos e que ultrapassem o âmbito da integração econômica regional – muitas vezes dotado de sistemas próprios de solução de controvérsias – atingem seu ponto final no OSC, que atua por meio de painéis, uma espécie de “tribunal” onde se discutem os atos que um país praticou contra outro e os juízes dos painéis decidem o que é aceitável de acordo com as regras de concorrência comercial.
Neste sentido, o OSC garante a segurança jurídica na solução dos litígios, pois estabelece um mecanismo eficaz no sentido de promover um maior entendimento entre os Estados soberanos (CRETELLA NETO, 2003).
O objetivo principal do sistema de controvérsias é garantir “... uma solução positiva e pacífica para as controvérsias...” (MELLO, 2004, p. 329) e preferencialmente dar soluções que sejam aceitáveis entre os membros envolvidos e que esteja em conformidade com os acordos abrangidos.
São, portanto, funções do OSC: autorizar a criação de painéis; adotar o relatório do painel ou aquele elaborado pelo órgão de apelação; acompanhar a implementação das recomendações sugeridas pelo relatório do painel, determinando se há obediência às normas da OMC; e, por último, autorizar a imposição de sanções aos países que não se adequarem ao relatório (FELIX, 2002).
A credibilidade no sistema de solução de controvérsias da OMC resulta, principalmente, da sua efetividade, ou seja, o sistema permite a aplicação de sanções econômico-comerciais aos países-membros que infringirem as regras fixadas nos acordos da organização. A efetividade é um fator que distingue o sistema de solução de controvérsias da OMC dos demais tribunais internacionais, como apresenta Barral (2002, p. 28):
De fato a sanção econômico-comercial, materializada na forma de retaliações e suspensão de benefícios, faz que a demanda pelo Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) seja muito maior que o recurso a outros ‘tribunais internacionais’, demanda inclusive mais volumosa que a da própria Corte Internacional de Justiça; e o índice de cumprimento das decisões do OSC seja bastante significativo. Ambos são indícios da importância e da efetividade do mecanismo criado pela OMC.
A imposição de sanções é a última alternativa, devendo ser usada quando determinado país não se adequar ao relatório, como no caso da elevação de tarifas em compensação aos prejuízos sofridos. É claro que os países deveriam mudar suas políticas comerciais voluntariamente. Outrossim, isso nem sempre ocorre, e, para tanto, existe a possibilidade da imposição de sanções. Na prática, os países acabaram por adquirir a chance de efetivar as decisões dos painéis.
Nesta perspectiva, torna-se evidente a importância do OSC para a “luta por melhores práticas” no comércio internacional (JACKSON, 2004). No Brasil, os órgãos mais influentes sobre os litígios apresentados à OMC são a Câmara de Comércio Exterior - Camex e a Coordenação Geral de Contenciosos – CGC.
De acordo com Cabral (2008), o Brasil já esteve envolvido em 37 disputas comerciais na OMC. Destas, 23 foram queixas feitas contra outros países (Figura 1) e 14 se constituíram a partir de reclamações de outras nações contra o Brasil. Além dos 18 casos em que já houve decisão, o país também esteve envolvido em 17 consultas de terceira parte, que são verificações feitas por países sobre a validade das práticas comerciais de outros, sem a criação de painéis de conciliação. A participação em litígios como terceira parte requer esforços e recursos mínimos, sendo normalmente decidida pela CGC, sem formalidades e sem consulta à Camex.
O sistema de solução de controvérsias contempla várias etapas sucessivas,assim resumidas (para maior detalhamento, consultar o "Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos sobre Solução de Controvérsias (DSU):
Consultas;
Se as Consultas: a) não são realizadas dentro do prazo (30 dias, ou conforme decidido de comum acordo); ou b) não levam a solução mutuamente aceitável, a parte demandante pode solicitar o Estabelecimento de painel;
O painel será estabelecido o mais tardar na reunião do OSC seguinte à reunião em que a solicitação constou pela primeira vez da agenda do Órgão;
O painel será composto, normalmente, por 3 peritos, após consultas às partes em disputa. As partes em litígio, de comum acordo, podem solicitar que o painel seja integrado por 5 peritos. As deliberações dos painéis serão confidenciais;
O painel terá 6, ou, no máximo, 9 meses, em condições habituais, para apresentar seu relatório, a contar da data de seu estabelecimento e da determinação de seus termos de referência;
A parte demandante poderá solicitar a suspensão dos trabalhos do painel, a qual não poderá exceder 12 meses, sob pena de caducar a autoridade para seu estabelecimento;
Etapa Intermediária de Exame: após a apresentação de réplicas e argumentação oral das partes, o painel deve submeter as seções descritivas do projeto de relatório, para comentários das partes. Ultrapassada essa fase, o painel deve elaborar um relatório provisório, ao qual as partes podem oferecer comentários. O relatório provisório, já com as conclusões do painel, será considerado o relatório final, pronto para a circulação entre todos os membros, se não houver comentários;
Adoção do relatório do painel: salvo em casos de apelação, o relatório deverá ser adotado pelo OSC dentro de 60 dias, a contar da data de circulação do documento entre os membros. Os relatórios não serão examinados para efeito de aceitação pelo OSC até 20 dias após a data de distribuição aos Membros;
Apelação: o Órgão de Apelação (OA): composto por 7 integrantes (nomeados para mandato de 4 anos, renovável), 3 dos quais atuarão em cada caso, terá, como regra geral, 60 dias contados a partir da data da notificação formal da decisão de apelar para distribuir seu relatório. O procedimento não deverá exceder 90 dias. Apenas as partes em controvérsia, excluindo-se terceiros interessados, poderão recorrer do relatório do painel;
Adoção do relatório do Órgão de Apelação: dentro do prazo de 30 dias a contar da distribuição do documento aos membros, a menos que o OSC decida por consenso não adotar o relatório;
Implementação das Recomendações do OSC: em reunião do OSC, dentro de 30 dias após a data de adoção do relatório do Painel ou do Órgão de Apelação, o membro interessado deverá informar ao OSC suas intenções com relação à implementação das decisões e recomendações daquele Órgão. Não sendo possível a implementação imediata, o membro interessado deverá dispor de prazo razoável;
Compensações: se a parte afetada não implementar as decisões e recomendações do OSC dentro do prazo razoável estabelecido, deverá, se solicitada, negociar com a(s) outra(s) parte(s) compensações mutuamente satisfatórias;
Suspensão da Aplicação de Concessões ("retaliação"): Se dentro dos 20 dias seguintes à data da expiração do prazo razoável determinado não se houver acordado uma compensação satisfatória, quaisquer das partes que hajam recorrido ao procedimento de solução de controvérsias poderá solicitar autorização do OSC para suspender a aplicação de concessões ou de outras obrigações decorrentes dos acordos abrangidos à parte interessada.
Os princípios definidores da suspensão da aplicação de concessões e a determinação de seu valor são objeto de arbitragem;
Após a determinação, pelo comitê de arbitragem, de que maneira e em que valor incidirá a suspensão da aplicação de concessões, a parte interessada deve solicitar autorização ao OSC para poder aplicar aquela suspensão.
ALGUMAS DISPUTAS AGRÍCOLAS DO BRASIL COMO DEMANDANTE NA OMC
DISPUTA DS250 – IMPOSTO DE EQUALIZAÇÃO DO ESTADO DA FLÓRIDA SOBRE O SUCO DE LARANJA (INÍCIO EM 20/03/2002)
Atores: os atores envolvidos nessa disputa foram o Brasil como demandante, Estados Unidos como demandado e Chile, União Européia, México e Paraguai como terceira parte.
Razões da disputa: Em março de 2002, o Brasil reclamou na OMC que o imposto de equalização cobrado pela Flórida sobre o suco concentrado de laranja constituía violação de dispositivos do GATT 1994, no que diz respeito à cláusula do tratamento nacional (Artigo III), que determina que os países devem dar aos produtos importados o mesmo tratamento concedido aos nacionais. É com base nesta cláusula que os países se defendem de atitudes discriminatórias no comércio internacional.
A taxa de equalização dos produtos importados é cobrada para compensar os produtores locais da Flórida, eliminando a vantagem do suco importado. Essa taxa é um fator decisivo para diminuir a competitividade do suco brasileiro no mercado norte-americano, já que o Brasil é o principal exportador do produto para os EUA, US$ 80 milhões anuais só para o estado da Flórida.
A Flórida cobra US$40 a mais por tonelada de suco, além da já cobrada tarifa de US$ 418, paga quando a laranja entra nos EUA. Isso significa que o suco americano paga menos US$ 458 por tonelada que o brasileiro.
O destino da arrecadação proveniente dessa taxa era o investimento na propaganda do suco de laranja dos produtores locais, concorrentes do brasileiro. A barreira ao suco de laranja vinha sendo aplicada desde 1970, sendo a mais antiga lei protecionista enfrentada pelos exportadores brasileiros.
Contra-argumentação: Não houve
Decisão final: Após rodadas de consultas entre os dois governos e consultas entre a indústria da Flórida e o Estado da Flórida, em abril de 2004 o legislativo alterou o estatuto da Flórida no que se refere ao imposto sobre equalização e o governador assinou a alteração da lei.
Houve, portanto, entendimento entre as partes e o governo brasileiro considerou que foi alcançada solução mutuamente satisfatória para a disputa. Em maio de 2004, Brasil e EUA dirigiram notificação conjunta ao Órgão de Solução de Controvérsias da OMC comunicando o entendimento e o painel foi encerrado. O resultado final foi ganho de causa para o Brasil.
DISPUTA DS266 – SUBSÍDIOS À EXPORTAÇÃO DE AÇÚCAR (INÍCIO EM 27/09/2002)
Atores: Os atores envolvidos nessa disputa foram o Brasil como demandante, União Européia como demandada e Austrália, Barbados, Belize, Canadá, China, Colômbia, Cuba, Fiji, Guiana, Índia, Jamaica, Quênia, Madagascar, Malawi, Ilhas Maurício, Nova Zelândia, Paraguai, São Cristóvão e Nevis, Suazilândia, Tanzânia, Tailândia, Trinidad e Tobago, Estados Unidos e Costa do Marfim como terceira parte.
Razões da disputa: Em setembro de 2002 foi solicitada pelo Brasil, acompanhado por Austrália e Tailândia, a abertura de um painel na OMC questionando dois elementos do regime do açúcar europeu: a exportação de excedentes de produção — o açúcar da quota “C” (açúcar proibido de ser vendido no mercado comunitário) —, comercializado na União Européia (UE) e exportado com subsídios diretos e a reexportação subsidiada do açúcar originário das ex-colônias européias na África, Caribe e Pacífico – ACP e da Índia, acima dos limites acordados pela União Européia no âmbito do Acordo sobre Agricultura da OMC.
O regime de açúcar das CE prejudica os países em desenvolvimento de quatro maneiras: restringe o acesso ao seu mercado por meio de cotas e tarifas altas ao açúcar refinado; ao promover artificialmente as exportações européias, tira terceiros mercados dos países mais competitivos; impede que os países da própria ACP agreguem valor ao seu açúcar, que jamais entra refinado na Europa; e derruba os preços internacionais do produto.
O Brasil é atualmente o produtor de açúcar mais competitivo do mundo, com custos que giram em torno de US$ 150 milhões. É o maior produtor mundial, com cerca de 23% da produção, sendo responsável por aproximadamente 37% do açúcar comercializado no mercado internacional (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAAGRICULTURA, 2004).
A produção do bloco europeu não consegue competir com o açúcar brasileiro, pois os custos de produção de açúcar de beterraba são consideravelmente superiores aos da produção do açúcar de cana (SILVEIRA E BURNQUIST, 2004). Além disso, é importante considerar que o preço pago ao produtor doméstico na EU vem sendo mantido em nível bastante superior ao do mercado mundial. (BURNQUIST E BACCHI, 2002).
Contra-argumentação (no Órgão de Apelação da OMC): A União Européia recorreu ao Órgão de Apelação da OMC em janeiro de 2005. Brasil, Austrália e Tailândia, em resposta ao recurso europeu, também levaram ao Órgão de Apelação questões secundárias da decisão do painel.
O Órgão de Apelação reuniu-se com as partes da disputa e em abril de 2005 emitiu seu relatório dando ganho de causa aos co-demandantes Brasil, Austrália e Tailândia.
Decisão final: A OMC anunciou reconhecer que a União Européia concede subsídios à exportação do açúcar acima dos limites estipulados, confirmando a decisão do OSC, e requer a adequação de sua política para o açúcar às obrigações firmadas perante a OMC.
A OMC considerou correta a argumentação de que o bloco europeu concede subsídios acima do que foi firmado em compromissos comerciais anteriores e deu ganho de causa também para a questão do açúcar da cota C. Nesse caso, a ênfase é para o reconhecimento de que exportações estão indiretamente distorcendo esse mercado.
O prazo para a União Européia implementar as recomendações – aprovação da reforma do regime europeu de açúcar e monitoramento das exportações européias aos níveis recomendados pelo OSC – foi decidido por meio de arbitragem, cujo relatório, divulgado em outubro de 2005, concedeu prazo de 12 meses e 3 dias à União Européia para a implementação dessas recomendações.
O resultado definitivo foi o ganho de causa ao Brasil no painel e no Órgão de Apelação, bem
DISPUTA DS267 – SUBSÍDIOS AO ALGODÃO AMERICANO (INÍCIO EM 27/09/2002)
Atores: Os atores envolvidos nessa disputa foram o Brasil como demandante, Estados Unidos como demandado e Argentina, Austrália, Benin, Canadá, Chade, China, Taipei Chinês; União Européia, Índia, Nova Zelândia, Paquistão, Paraguai, Venezuela, Japão e Tailândia como terceira parte.
Razões da disputa: A demanda, iniciada em setembro de 2002 com pedido de consulta por parte do Brasil, envolveu o questionamento de subsídios concedidos pelos Estados Unidos à produção e à exportação de algodão. O Brasil questionou programas de apoio interno à cotonicultura norte-americana, por entender que tais subsídios causavam graves prejuízos ao país.
Foram questionados tanto os subsídios proibidos como os acionáveis, nos termos do Acordo sobre Agricultura e do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias da OMC. Os subsídios proibidos referem-se a três programas de garantias de crédito à exportação3 – GSM 102, GSM 103 e SCGP – que, de acordo com o Brasil, configuravam subsídios à exportação e estavam incompatíveis com os compromissos dos Estados Unidos no Acordo sobre Agricultura da OMC. Os subsídios acionáveis referem-se a três programas de apoio interno norte-americanos — Marketing Loan4, Counter-Cyclical Payments5 e Step 26 — que violavam o Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias da OMC.
O total de subsídios questionados foi da ordem de US$12,5 bilhões, com os quais os produtores norte-americanos receberam benefícios de até 120% sobre o valor do preço de mercado. Com estes subsídios, os Estados Unidos foram capazes de manter sua posição como segundo maior produtor e maior exportador mundial de algodão, seguidos pelo Brasil.
Contra-argumentação (no Órgão de Apelação da OMC): A decisão do painel foi levada pelos Estados Unidos ao Órgão de Apelação, que em março de 2005 deu ganho de causa para o Brasil.
Em setembro de 2006, o Brasil solicitou a formação de um painel de revisão na OMC (Artigo 21.5 do Dispute Settlement Understanding) para examinar a adequação do processo de implementação das determinação da OMC pelo governo norte-americano. O Brasil argumentou que os EUA não deram pleno cumprimento às decisões do OSC no contencioso, na medida em que os programas de apoio doméstico remanescentes (Marketing Loan e Counter-Cyclical Payments) continuaram a causar prejuízos graves ao Brasil e que o programa GSM 102 de garantias de crédito à exportação, a despeito das modificações nele introduzidas, continuou a configurar subsídio proibido à exportação. O relatório do painel de revisão foi circulado em dezembro de 2007, dando novamente ganho de causa ao Brasil.
Os Estados Unidos entraram, em fevereiro de 2008, com procedimento de apelação contra a decisão do painel de revisão. O Órgão de Apelação, em relatório final circulado em junho de 2008, deu novamente ganho de causa ao Brasil, confirmando as decisões do painel de revisão.
O Brasil acionou em agosto de 2008, procedimento arbitral (artigo 22.6 do Dispute Settlement Understanding) para definir o valor da contramedida (retaliação) que será adotada em relação aos Estados Unidos. O Brasil solicitou o direito de retaliação de US$ 2,5 bilhões – que, se aprovados, serão aplicados na forma de tarifas adicionais para a importação de produtos americanos, a fim de que os Estados Unidos efetivamente cumpram as determinações da OMC para o caso do algodão.
Decisão final: Todos os painéis e apelações deram razão sucessivamente aos brasileiros. As decisões condenaram amplamente os subsídios norte-americanos ao algodão, tanto com relação aos subsídios proibidos, como aos subsídios acionáveis. Em agosto de 2009, o resultado definitivo emitido por arbitragem foi ganho de causa ao Brasil nos painéis e no Órgão de Apelação.
No que diz respeito aos subsídios proibidos, o painel e o Órgão de Apelação consideraram que os três programas de garantias de crédito à exportação configuravam subsídios à exportação, aplicados de forma incompatível com os compromissos dos Estados Unidos no Acordo sobre Agricultura da OMC. Julgou-se que tais subsídios eram violatórios tanto do Acordo sobre Agricultura como do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias.
Com respeito aos subsídios acionáveis, o painel e o Órgão de Apelação consideraram que os três programas de apoio interno norte-americanos causavam prejuízo grave ao Brasil, tendo gerado supressão significativa dos preços do algodão no mercado internacional, em violação ao artigo 6.3 (c) do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias da OMC.
A disputa do caso dos subsídios ao algodão americano durou sete anos. Até 2009 ocorreram cinco grandes decisões sobre este tema e em todas o Brasil obteve ganho de causa.
Nos três casos de disputas na OMC apresentados, a instalação de painéis junto ao OSC demonstra que o Brasil está buscando a oportunidade de competir, em pé de igualdade, no mercado internacional dos produtos agrícolas.
Foi possível constatar a efetividade do OSC da OMC. Não se pode negar que o sistema obtém sucesso considerável na busca de soluções comerciais pacíficas, devendo os países membros buscarem o seu aperfeiçoamento e continuarem a garantir a ordem do comércio mundial.
Todas as disputas agrícolas nas quais o Brasil esteve envolvido como demandante foram contra os Estados Unidos e a União Européia, os principais países desenvolvidos do mundo e os que mais sofrem reclamações na OMC. Das 400 disputas existentes na OMC desde a sua criação, Estados Unidos e União Européia estão envolvidos em 349, sendo 174 como demandantes e 175 como demandados (OMC, 2009).
As motivações que levaram o Brasil às disputas agrícolas discutidas neste artigo referem-se a subsídios agrícolas e sobretaxas de produtos agrícolas importados, demonstrando a postura dos países ricos na tentativa de diminuir a competitividade dos produtos agrícolas brasileiros.
É importante destacar que esses países não possuem aptidão agrícola natural e por esse motivo, precisam fornecer subsídios e aplicar sobretaxas para dominar o mercado dos produtos agrícolas.
Essa é uma das principais questões, ainda pendente, na Rodada Doha.A atuação comercial desigual dos países desenvolvidos – através do fornecimento de dinheiro para a produção agrícola nacional e da utilização de estratégias protecionistas que ferem as regras do comércio internacional – não permite e coloca distante o desenvolvimento igualitário entre todas as nações.
CONTENCIOSO BRASIL-CANADÁ (EMBRAER/BOMBARDIER)
Em junho de 1996 o Canadá apresentou a primeira reclamação formal contra o Brasil no mecanismo de solução de controvérsias na OMC. O Canadá queixava-se de apoio governamental brasileiro a exportações de jatos da Embraer, por meio do Proex – Programa de Financiamento às Exportações.
O Canadá alegava que o programa seria subsídio proibido segundo o Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias da OMC. Segundo o Brasil, por outro lado, não tratava-se de subsídio proibido, mas uma operação que nivelava condições de concorrência. O Canadá, por seu lado, defendia que a operação de nivelamento resultava numa taxa de juros final para o comprador inferior à taxa de mercado.
Numa primeira fase para a resolução do conflito, o Canadá assumiu posição bastante ofensiva, tentando interromper a ascensão da Embraer e manter o monopólio da canadense Bombardier no mercado de “jatos regionais”, que a Embraer passara a desafiar, com seu modelo ERJ 145.
O Brasil respondeu à ofensiva com uma atitude conciliadora, evitando a lide na OMC e buscando uma solução política. Sem maiores sucessos na ação diplomática, é a vez de o Brasil assumir a ofensiva. Passa a tentar soluções que não colocassem em risco o papel relevante que a empresa brasileira havia assumido no cenário internacional.
Esgotam-se as tentativas de conciliação entre os países, e ambos recorrem à OMC. Na OMC, o Proex, que auxiliava a Embraer, é considerado subsídio proibido. Porém, dois programas canadenses também o são. O Canadá recebe autorização para retaliar o Brasil, mas, caso o fizesse, perderia direitos a compensações assumidos no âmbito do acordo. Isto porque se o Canadá acusava o Brasil de conceder subsídios ilegais, fazia o mesmo em relação a Bombardier.
Assim, o [Brasil] conseguiu autorização para adotar algumas medidas compensatórias em relação ao [Canadá], previstas no Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias, da ordem de cerca de U$300 milhões, já que o Canadá negou-se a retirar os subsídios praticados em relação à Bombardier. Isto porque o Brasil conseguiu provar que, através de algumas instituições, sobretudo de fomento, o Canadá destinava recursos à Bombardier.
O Painel considerou os subsídios como proibidos conforme o Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias, ordenando que os subsídios fossem retirados pelo governo canadense, decisão não acatada pelo mesmo.
Rodada de Doha
A Rodada de Doha, que se estende há quase 10 anos, iniciou-se no Qatar, em novembro de 2001, durante a IV Conferência Ministerial da OMC.
Inicialmente prevista para serem concluídas em 3 anos, as negociações, supervisionadas pelo Comitê de Negociações Comerciais subordinado ao Conselho Geral da OMC, propôs uma agenda negociadora ambiciosa que superaria a cobertura de temas da Rodada Uruguai, a mais complexa negociação da história do GATT.
A Rodada Doha, também conhecida como Rodada do Desenvolvimento tem como motivação inicial a abertura de mercados agrícolas e industriais com regras que favoreçam a ampliação dos fluxos de comércio dos países em desenvolvimento. A Rodada Doha surge devido ao desbalanceamento entre os interesses dos países em desenvolvimento e os países desenvolvidos durante a Rodada Uruguai, onde novas disciplinas sobre Propriedade Intelectual e Serviços foram propostas pelos países desenvolvidos.
As discussões são norteadas pelo princípio de compromisso único – “single undertaking” – tendo em vista um tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento e países menos desenvolvidos (Parte IV do GATT 1994, Decisão de 28.11.1979, sobre Tratamento Mais Favorável e Diferenciado, Reciprocidade e Plena Participação de Países em Desenvolvimento).
Assim, a Rodada de Doha tem como principais objetivos: 
redução dos picos tarifários, altas tarifas, escalada tarifária e barreiras não-tarifárias em bens não-agrícolas – Non-Agricultural Market Access – NAMA;
discutir temas relacionados à agricultura – subsídios, apoio interno, redução de tarifas e crédito à exportação;
negociar a liberalização progressiva em serviços, conforme estabelecido nas discussões do Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços – GATS;
ampliar o Acordo TRIMs – Trade Related Investment Measures, cujo alcance está relacionado aos investimentos em bens, abrangendo temas como escopo e definição, transparência, não-discriminação, disposições sobre exceções e salvaguardas do balanço de pagamentos, mecanismos de consultas e solução de controvérsias entre os membros;
discutir a interação entre comércio e política de concorrência – princípios gerais de concorrência, de transparência, não-discriminação, formação de cartéis, modalidades de cooperação voluntária e instituições de concorrência para os países em desenvolvimento;
negociar maior transparência em compras governamentais;
melhorar o arcabouço institucional ao comércio eletrônico;
aprimorar os dispositivos do Acordo de Solução de Controvérsias, considerando os interesses e necessidades especiais dos países em desenvolvimento;
conduzir negociações que aprimorem as disciplinas dos Acordos sobre antidumping, subsídios e medidas compensatórias, preservando seus conceitos básicos.

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