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COMENIUS E A SUA PROPOSTA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

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Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 1 
COMENIUS E A SUA PROPOSTA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA 
DENTRO DE SEU CONTEXTO DE PRODUÇÃO 
 
OLIVEIRA, Anderson dos Santos de 
andersonsoliveira@yahoo.com.br 
COSTA, Célio Juvenal da 
celio_costa@terra.com.br 
Universidade Estadual de Maringá 
Fundamentos da educação 
 
 
Introdução 
 
Jan Amos Komensky, cujo cognomino latino é Comenius, destaca-se entre os 
clássicos da História da Educação. Hodiernamente, principalmente nas disciplinas de Didática 
e de Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação, a leitura de sua obra, mormente da 
Didática Magna, tem sido recorrente. Como todo o clássico, está em diálogo com o seu e não 
com o tempo atual. Embora apresente questões que permanecem no decorrer da história, as 
reflexões que propõe são a partir de e para o tempo em que viveu. 
Fato é que o retorno aos clássicos é sempre salutar e necessário. Ainda mais em uma 
sociedade dominada pelo pragmatismo e o imediatismo, que afetam todos os âmbitos da 
existência, inclusive a educação, levando os educadores a se afastarem dos fundamentos e a se 
voltarem única e exclusivamente para o funcional. Apesar de não ter fórmulas prontas para a 
solução dos problemas atuais, o clássico é sempre uma leitura muito acurada dos contingentes 
de seu tempo. 
 
Objetivos 
 
Nesse sentido, este artigo objetiva um estudo teórico metodológico da proposta 
didático-pedagógica de Comenius dentro de seu contexto de produção. Isto é, compreender o 
legado dele ao seu tempo e como ele foi capaz de apreender as necessidades e os desafios que 
 
 
 
Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 2 
as práticas social e educacional determinavam e de apontar soluções para aquele dado 
momento histórico. 
Dado o seu contexto histórico, séculos XVI e XVII, há duas tendências mui fortes em 
Comenius: tanto o misticismo religioso medieval quanto a racionalidade científica permeiam 
a sua obra. Com efeito, buscou-se verificar qual – de fato – foi a influência da religiosidade na 
sua inovadora proposta didático-pedagógica, analisando se ela está somente para o seu lado 
medievo ou se funciona, também, como uma mola propulsora que o impulsiona a propor o 
novo. 
 
Metodologia 
 
Quanto à metodologia ou as técnicas utilizadas para a realização deste artigo, optou-se 
por uma linha de pesquisa de caráter bibliográfico, como sustentáculo da análise do tema. 
Assim, por meio de um criterioso diálogo com teóricos que tratam da temática, foi feita uma 
análise de sua vida e seu contexto de produção, a partir de todos os elementos que o 
impulsionaram a apresentar sua proposta diático-pedagógica, a saber: sua formação 
acadêmica, o contexto a Europa Central, o contexto do Reino da Boêmia e a sua formação 
religiosa com a Unidade dos Irmãos Morávios. 
Na fase preliminar, fez-se a seleção dos textos de referência e da bibliografia de apoio 
ao trabalho, consultando diversas bibliografias que tratam da organização do trabalho e da 
formação no mundo do capital, bem como a resenha do material teórico que fundamentou a 
pesquisa. Na fase analítica, foram lidas e consultadas diversas bibliografias que tratam a 
respeito do tema. Diante disso, acredita-se que a escolha por fazer uma pesquisa bibliográfica 
sobre a proposta didático-pedagógica de Comenius dentro de seu contexto de produção 
contribuirá muito com os estudos do tema analisado. 
 
Resultados 
 
Comenius nasceu em 22 de março de 1592, provavelmente na cidade de Nivnice, na 
Moravia, região do reino da Boêmia, atual Polônia e República Tcheca, e faleceu no dia 15 de 
 
 
 
Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 3 
novembro de 1670, em Amsterdã, na Holanda. Dada as tragédias e as perseguições que 
sofreu, durante seus 78 de existência, habitou em inúmeros lugares. 
Aos 12 anos, ficou órfão. Duas vezes viúvo, casou três vezes. Devido à guerra dos 
Trinta Anos, de 1628 até o final de sua vida, viveu praticamente exilado, percorrendo a 
Europa não-católica durante 42 anos. Nalguns lugares, suas ideias não foram bem aceitas. 
Sofreu privações em Lezno, durante a invasão sueca da Polônia, quando perdeu suas 
economias, casa, livros e grande parte de seus manuscritos (KULESZA, 1992). 
Iniciou seus estudos aos 16 anos, na escola secundária de Prerov. Aos 20 anos, 
ingressou na Academia de Herbron, no curso de filosofia, onde – por meio de seu mestre 
Alsted – tomou nota do pensamento progressista de Bacon e Ratke. Aos 22 anos, transferiu-se 
para o curso de teologia na Academia de Heildeberg. Terminada a sua formação, voltou para a 
Morávia, onde desempenhou a função de pastor e educador (LOPES, 2003). 
Devido à guerra dos Trinta Anos, teve de deixar sua pátria e passou por inúmeros 
lugares propagando seus ideais. Esteve, entre outras localidades, em Lezno, Londres, Suécia, 
Hungria, Transilvânia e Amisterdã. Apesar de todas as dificuldades que enfrentava, 
correspondia-se com todos os grandes eruditos de sua época. “Mais do que qualquer outro 
homem”, conforme Eby (1976, p.155), “chamou a atenção dos povos da Europa Setentrional 
para a educação, como supremo meio de progresso humano”. 
Considerado o pai da pedagogia moderna, organizador e propagador da escola 
nacional, é tido como o Bacon da pedagogia e o Galileu da educação (GOMES, 1976). Piaget 
(1957) asseverou que Comenius está entre os autores que não precisam ser corrigidos ou 
contraditados quando se pretende fazer a sua atualização. Segundo Eby (1976, p. 1540), 
“nenhum dos grandes educadores é tão merecidamente admirado e tão pouco criticado hoje, 
como este erudito, sábio e benevolente bispo de um povo exterminado”. 
De acordo com Zuluaga (1972, p. 262), Leibniz asseverou “quien quiera contarse entre 
los Buenos te honrará, Comenio, y honrará tus esperanzas y tus sueños”. Segundo Covello 
(1992, p. 85), “as mais arrojadas ideias pedagógicas que, a partir de então, ganhariam voga na 
pena de Rousseau, Pestalozzi, Froebel e outros gigantes da educação moderna, já se 
encontravam delineadas com clareza nas obras comenianas”. 
Conforme Kulesza (1992, p. 53), dada a sua importância, tem se acrescentado ao seu 
nome vários epítetos no decorrer da história, 
 
 
 
Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 4 
Copérnico da nova era (Boyle), Galileu da educação (Michelet), Bacon da 
pedagogia (Compayré), profeta de princípios e métodos modernos (Eby), 
primeiro e principal teórico da moderna escola pública e democrática 
(Abbagano e Visalberghi), patriota cosmopolita (Bovet), precursor da 
sociedade sem classes (Heydorn) e pai da pedagogia moderna (Gomes). 
 
Esses enaltecimentos, considerações e epítetos deixam claro o valor e a importância de 
Comenius. Não obstante, para que não se caia no erro de considerá-lo supra-temporal, é 
crucial entendê-lo dentro do seu tempo, do contexto de sua produção, verificando quais os 
diálogos que estabeleceu. 
Tão conturbado quanto sua vida foi o momento histórico em que Comenius viveu. Os 
séculos XVI e XVII representam momentos de grandes mudanças na história da humanidade, 
mormente na Europa Central. Esse período, entre a crise e o declínio do feudalismo e a 
incipiência e apoteose do capitalismo (GREEN, 1984), compreende ao Renascimento que, de 
acordo com Woortmann (1997, p. 11), 
 
Se inicia em algum momento do século XV, variável segundo o ângulo que 
se privilegia, até se dissolver na modernidade, em outro momento de difícil 
definição no século XVII, marca o início de uma profunda transformação na 
cosmologia ocidental. 
 
Gasparin (1994, p. 32) argumenta que, comose tratava de uma fase de mudanças, 
naturalmente havia tanto elementos do velho (Idade Média) quanto do novo (Idade Moderna), 
“sendo difícil distinguir entre um e outro”. Nesse sentido, Santos (19--, p. 9) assevera que, 
diferentemente do que muitos consideram, não houve uma negação imediata e completa do 
passado, pois o Renascimento não implicou transformações instantâneas, mas “no princípio 
da subversão da Idade Média”. 
Nesse momento, estava em curso uma revolução geral que abrangia todos os aspectos 
da vida dos homens. Hill (2002, p. 4) afirma que a transformação desse momento “is then far 
more than merely a constitutional or political revolution, or a revolution in economic, religion 
or taste. It embraces the whole of the life”. Com efeito, Lora (apud GASPARIN, 1994, p. 32) 
aponta características dominantes dessa período como: 
 
 
 
 
Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 5 
A ruptura, a mudança, a transição do modo de produção feudal ao incipiente 
capitalismo, com todas as transformações que isto implica na mentalidade, 
nas crenças, nos valores, nas formas de vida das pessoas e das sociedades. 
Pode-se dizer, de forma esquemática, que se opera uma alteração na forma 
socioeconômica, política, religiosa e cultural. Isto é, em tudo!. Nada nem 
alguma coisa permaneceu em seu lugar. 
 
Em meio a tantas transformações, surgiram muitos homens que expressaram o espírito 
do momento em diversas áreas do saber. Por exemplo: Lutero, Calvino e Zwínglio, na 
Teologia; Maquiavel, Morus, Campanella, Telesio, Pamponazzi, Giordano Bruno, Bacon e 
Descartes, na filosofia; Camões, Cervantes e Shakespeare na literatura; Copérnico, Brahe, 
Kepler e Galileu, na ciência; Leonardo Da Vinci e Michelangelo, na Arte; Ratke e Comenius, 
na educação, etc. 
Dentre as muitas possibilidades de explicação do porquê de tantas mudanças e 
revoluções que se deram nesse dado momento histórico, uma delas é a marxista. De acordo 
com Chistopher Hill (1987, p. 47): 
 
A crise do século XVII foi, em última análise, uma crise de produção, sendo 
a força motriz que esteve por detrás de pelo menos algumas revoluções, a 
força da burgeoisie produtora, limitada na sua atividade econômica pelo 
sistema produtivo obsoleto, ruinoso, restritivo, mas defendido com unhas e 
dentes, da sociedade feudal. 
 
Nos séculos XVI e XVII, deu-se a mudança do modo de produção feudal para o 
capitalista, do artesanato para a manufatura inicial e, depois, plena. Assim, Marx (1981, p.15) 
argumenta que “a ordem econômica capitalista saiu das entranhas da ordem econômica 
feudal. A dissolução de uma produziu os elementos constitutivos da outra”. 
Além desse conhecimento do macro, o contexto da Europa Central, para uma boa 
compreensão do pensamento comeniano é necessário, ainda, um conhecimento do micro, ou 
seja, a realidade da Boêmia no século XVII. Desse modo, é crucial considerar que a Boêmia, 
influenciada pelo pensamento de John Huss, muito antes da Reforma Protestante, insurgiu-se 
contra a Igreja Cristã e organizou sua própria Igreja. Contudo, devido à guerra dos Trinta 
Anos que a assolou, no tempo de Comenius, a Boêmia ainda vivia sob uma estrutura 
econômica medieval: senhores feudais e servos (SANTOS, 19--). 
 
 
 
Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 6 
Isso posto, faze-se digno de nota ponderar que um dos fatores mui relevantes que o 
impulsionaram a desenvolver sua proposta didático-pedagógica foi a sua convicção religiosa. 
Nasceu no seio de uma família cristã, pertencente à Unidade dos Irmãos Morávios, seita 
seguidora do mártir John Huss que, segundo Covello (1992), era uma das mais rígidas em 
doutrina e conduta. A fé da Unidade era caracterizada pela simplicidade, afetuosidade, zelo 
evangélico, piedade profunda, auto-sacrifício e humildade. 
De acordo com Eby (1976), os irmãos morávios eram ligados, doutrinariamente, aos 
wycliffianos da Inglaterra e aos waldenses da Europa Central e tinham como característica 
mui relevante o interesse pela educação. Fizeram de Praga a primeira e mais agressiva 
universidade da Europa Setentrional, estabeleceram escolas secundárias e ensinavam 
catecismo em seus lares. “Comenius foi o produto e o principal representante deste espírito 
morávio pelo esclarecimento e soerguimento de seu povo” (EBY, 1976, p. 154). 
Comenius é um homem do século XVII, de um tempo em que a sociedade como um 
todo começa a pensar de forma diferente, a valorizar outros aspectos para explicar a existência 
que não só Deus e a Igreja. Há novos emparelhamentos religiosos, políticos, econômicos, etc., 
que caracterizam a sociedade como multifacetada e não mais unifacetada (religiosa). 
Contudo, há que se compreender que não há grandes e instantâneas rupturas na 
história, pois as mudanças são sempre muito lentas. Nesse momento, por exemplo, não 
obstante os novos emparelhamentos, a uma permanência muito forte do pensamento religioso. 
Permaneceu a visão religiosa do mundo, mas com a incorporação de questões, tidas como 
modernas, que valorizaram mais o aspecto humano. 
Com efeito, Comenius não é nem um escolástico e nem um moderno e, em última 
instância, não há como rotulá-lo. Tento em vista o contexto histórico de sua vida e produção, 
há duas tendências mui fortes nele. Tanto o misticismo religioso medieval quanto a 
racionalidade científica permeiam a sua obra. Conforme Kulesza (1992, p. 12): 
 
A dicotomia destes dois elementos explica, de alguma forma, as 
divergências entre os intérpretes que ora vêem nele um continuador do 
pensamento medieval, ora o enaltecem como alguém que avança para muito 
além de seu tempo. 
 
 
 
 
Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 7 
Assim, o pedagogo tcheco é considerado um homem de dois momentos, o medievo e o 
moderno. Suas experiências e estudos pela Europa Central legaram-lhe a concepção universal, 
ao passo que as condições econômicas da Boêmia e suas convicções religiosas moldaram a 
sua concepção medieval, ou seja, o entendimento de que o homem e tudo quando faz deve ser 
direcionado a Deus (GASPARIN, 1994). 
Os diálogos, estabelecidos por Comenius, foram basicamente em duas direções, a 
saber, com a escolástica e com os governantes. Critica veementemente a escolástica enquanto 
método de ensino, por ser deveras elitista e servir muito mais para a promoção do que para a 
formação humana. Assim, na Didática Magna, já na saudação aos leitores, assevera: 
 
Didáctica significa arte de ensinar. Acerca desta arte, desde há pouco tempo, 
alguns homens eminentes, tocados de piedade pelos alunos condenados a 
rebolar o rochedo de Sísifo, puseram-se a fazer investigações com resultados 
diferentes (COMENIUS, 1976, p. 45). 
 
Em oposição aos escolásticos, defende que o conhecimento tem de ser acessível a 
todos e apresenta o seu método: 
 
Nós ousamos prometer uma Didácta Magna, isto é, um método universal de 
ensinar tudo a todos. E de ensinar com tal certeza, que seja impossível não 
conseguir bons resultados. E de ensinar rapidamente, ou seja, sem nenhum 
enfado e sem aborrecimento para os alunos e para os professores, mas antes 
com sumo prazer para uns e para outros. E de ensinar solidamente, não 
superficialmente e apenas com palavras, mas encaminhando os alunos para 
uma verdadeira instrução para os bons costumes e para a piedade sincera 
(COMENIUS, 1976, p. 45-46). 
 
Comenius acreditava piamente que a educação seria capaz de resolver os problemas da 
humanidade e que ela deveria ser subsidiada pelo Estado. Portanto, aos governantes faz uma 
crítica por menosprezarem a educação e um apelo a que dêem mais valor a ela. 
 
Venho a vós, que em nome de Deuspresidis às coisas humanas, ó 
dominadores dos povos e governantes; a vós principalmente se dirigem as 
nossas palavras [...] Peço-vos, por Cristo, suplico-vos, pela salvação dos 
nossos filhos, escutai-me! A coisa é séria, muito séria, pois diz respeito à 
glória de Deus e à salvação dos povos. Estou convencido de vossa devoção, 
ó pais da Pátria, e, se viesse alguém prometer-vos conselhos sobre [...] não 
somente ouviriam esse conselho, mas até lhes ficariam gratos por se ter 
 
 
 
Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 8 
mostrado tão devotamente solícito do vosso bem-estar e do dos vossos 
concidadãos. Ora, no nosso caso, trata-se de algo muito mais importante, 
pois mostra-se o caminho verdadeiro, certo e seguro de conseguir, com 
abundância, homens tais que, para negócios deste gênero e outros 
semelhantes, servirão a Pátria sem fim, uns após outros. [...] se achamos que 
são sábias as palavras quando afirmam que nada deve poupar para educar em 
um só jovem, que haverá então de dizer-se, quando se escancara a porta para 
uma cultura tão universal e tão certa de absolutamente todos os espíritos? 
(COMENIUS, 1976, p. 474-476). 
 
Comenius, fruto de seu contexto de produção, mantém a Bíblia como a principal fonte 
de suas obras, mas serve-se também tanto da filosofia antiga quanto da renascentista e 
humanista, bem como de alguns pedagogos. Utiliza, ainda, inúmeras analogias da natureza e 
dos meios de produção (relógio, os moinhos movidos pela força da água, a pólvora, a 
imprensa) para desenvolver seu pensamento. 
Araújo (1996, p. 41) assevera que o pensamento comeniano está claramente embasado 
nos seguintes elementos: “Bíblia (Novo e Velho Testamentos), filosofia antiga (Sócrates, 
Aristóteles, Platão, Sêneca, Quintiliano) e nova filosofia renascentista e humanista do século 
XVII (Bacon, Campanella, Cusanus, Vives, Bodin, Andreae, Alsted, Ratke, Lutero, Erasmo)”. 
Com efeito, foi a partir de elementos religiosos (Bíblia e autoridades religiosos, de 
elementos do contexto de sua pátria (artesanato), dos elementos renascentistas e humanistas 
(filosofia e ciência) e dos elementos dos meios de produção das regiões por onde passou que 
Comenius empreendeu sua proposta didático-pedagógica. 
Influenciado por esses elementos – o contexto da Europa Central, a realidade da 
Boêmia no século XVII e a religiosidade – e em diálogo – mormente com a escolástica e com 
os governantes –, Comenius apresentou uma proposta didático-pedagógica, cujas ideias 
centrais e recorrentes, dentre outras, são: a ética; a democratização do ensino; a igualdade de 
sexos; a estrutura escolar; a valorização do ensino infantil; a educação universal; as 
orientações didáticas; o ensinar tudo a todos e os princípios sobre a educação superior. 
Comenius, na verdade, cuidou de elaborar e propor um projeto para a correlação, o 
desenvolvimento e a acessibilidade da ciência, ao qual denominou de pansofia (pansofia - 
do grego: pan, tudo; sofia, sabedoria: Sabedoria Universal). Este plano incluía três 
aspectos, a saber: a) publicação de uma enciclopédia de saber universal; b) estabelecimento de 
um colégio com laboratórios e todas as demais condições necessárias, e c) proposição de um 
 
 
 
Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 9 
novo método de instrução, por meio do qual o indivíduo pudesse aproveitar os benefícios do 
conhecimento em todos os campos do saber (EBY, 1976). 
A pansofia deveria abarcar toda a classe de conhecimentos, reduzidos aos seus 
princípios fundamentais. Seria a cura de todos os males e o meio para se alcançar o progresso 
moral, intelectual e espiritual dos homens e da sociedade. (ZULUAGA, 1972). Para ele, desde 
que houvesse bons livros de texto, bons professores e bons métodos, todos – sem exceção – 
atingiriam o objetivo da educação: saber, virtude e piedade (EBY, 1976). 
Suas concepções fundamentais se encontram nas duas principais obras de sua teoria 
didático-pedagógica. A “Didática Magna”, escrita em tcheco e, posteriormente, em latim. De 
acordo com Gomes (1976), é um tratado sistemático de pedagogia, didática e sociologia 
escolar. Composta de trinta e três capítulos, divididos em quatro partes essenciais. A primeira 
apresenta os fundamentos teológicos e filosóficos da educação. A segunda trata dos princípios 
da didática geral, como iniciar a formação na primeira idade, toda a juventude, de ambos os 
sexos, deve ser enviada à escola, a educação deve ser universal, etc. 
A terceira é consagrada à didática especial e trata das normas gerais do método para 
ensinar as ciências, as artes, as línguas, a moral e para incutir a piedade. A quarta apresenta 
um plano dos estudos que compreende a escola do regaço materno (0-6 anos), a escola da 
língua nacional (6-12 nos), a escola do latim (12-18 anos) e a academia (18-24 anos). Por fim, 
aconselha as viagens, preconiza a criação de uma escola universal e faz um apelo aos 
responsáveis pela educação que o ajudem a realizar o seu projeto (GOMES, 1976). 
A “Pampaedia” é parte da “Deliberação Universal acerca da Reforma das Coisas 
Humanas”. A deliberação é composta de sete partes: Panersia (despertar universal), Panaugia 
(iluminação universal), pansofia (sabedoria universal), pampaedia (educação universal) 
panglottia (língua universal), panorthosia (reforma universal) e pannutesia (exortação 
universal). Segundo Gomes (1971, p; 17) a deliberação “é sem dúvida a obra mais importante 
para a compreensão de Comenius – como teólogo, filósofo e reformador social”. 
Considerada, conforme Gasparin (1994), a maior obra pedagógico-educacional de 
Comenius para o aprofundamento de seu pensamento, é composta de dezesseis capítulos. No 
primeiro, apresenta o que significa todos, todas as coisas, totalmente. Do segundo ao quarto, 
mostra que é possível educar todos os homens em todas as coisas, instruindo-os 
universalmente. Para tanto, há necessidade de escolas universais, a panscolia, livros 
 
 
 
Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 10 
universais, a pambíblia, e professores universais, pandidascália, quinto, sexto e sétimo, 
respectivamente. 
Do oitavo ao décimo quinto, amplia o entendimento da panscolia, apresentando os oito 
tipos de escola em que todos devem ser formados, desde o nascimento até a morte. Por fim, 
no décimo sexto, conclui com uma invocação à sabedoria eterna e apresenta os resultados que 
se galgarão com a aplicação de seu método (GASPARIN, 1994). 
Nas palavras do próprio autor, a “Pampaédia” compreende “[...] a educação universal 
de todo o género humano”, ou seja, “[...] que todos sejam educados em todas as coisas e 
totalmente” (COMENIUS, 1971, p. 37). Já a “Didática Magna” pode ser definida como o 
 
Processo seguro e excelente de instituir, em todas as comunidades de 
qualquer Reino cristão, cidades e aldeias, escolas tais que toda a juventude 
de um e de outro sexo, sem exceptuar ninguém em parte alguma, possa ser 
formada nos estudos, educada nos bons costumes, impregnada de piedade, e, 
desta maneira, possa ser, nos anos da puberdade, instruída em tudo o que diz 
respeito à vida presente e à futura, com economia de tempo e de fadiga, com 
agrado e com solidez (COMENIUS, 1976, p. 43). 
 
Conclusões 
 
Comenius é um homem do seu tempo, que viveu, soube ler e apresentar os idos do 
século XVI e o início do século XVII com muita propriedade em suas obras. Todos os 
elementos desse seu contexto de produção foram fundamentais para o desenvolvimento e o 
amadurecimento de sua proposta educacional. 
Com a Unidade dos Irmãos Boêmios, adquiriu desde cedo um zelo extremo tanto pela 
educação quanto pela religião de linha protestante. Sua formaçãoacadêmica e as viagens que 
teve de fazer por conta da guerra dos Trinta Anos legaram-lhe um capital cultural 
extremamente vasto. Isso fez com que aos poucos, sua formação religiosa recebida da 
Unidade fosse se ampliando, consoante a incorporação de conceitos tanto das demais linhas 
protestantes quanto da cultura dos países em que esteve. 
Com efeito, à medida que ele vai se aprofundando em seu momento histórico, 
tomando nota dos anseios e das necessidades dos homens de seu tempo, sua convicção 
religiosa vai se ampliando e consequentemente sua proposta didático-pedagógica vai sendo 
 
 
 
Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 11 
modificada, indo do micro ao macro. Tais considerações evidenciam-se no estudo de suas 
obras. 
Em Didática tcheca, sua preocupação estava totalmente centrada no seu povo, a 
juventude do reino da Boêmia. Ao traduzir a obra para o latim, transformando-a em Didática 
Magna, já amplia para todos os reinos cristãos protestantes da Europa. E, na Pampaedia, 
propõe um método para a educação de todos os povos, a fim de que todos, 
indiscriminadamente, sejam educados totalmente. Com efeito, 
 
Nenhum homem deve ser excluído, e muito menos impedido, do estudo da 
sabedoria e da cultura do espírito. [...] Nenhum se exclua a si mesmo e se 
exima da instrução. [...] Pergunta-se: mesmo os cegos, os surdos e os 
deficientes (isto é, aqueles que, por causa de uma insuficiência de órgãos, 
não podem ser plenamente instruídos) devem participar também na 
instrução? Respondo: Ninguém deve ser excluído da educação humana, a 
não ser quem não é homem (COMENIUS, 1971, p. 58, 59). 
 
Em Comenius (1976, p. 97), tudo provém e está encaminhado para Deus, considerado 
tanto o princípio de onde tudo deriva quanto o fim último do homem. Uma vez é criado à 
imagem e semelhança de Deus, é seu modelo perfeito e só nEle encontra a razão de sua 
existência, segue-se que os autênticos requisitos do homem são: 
 
1. que tenha conhecimento de todas as coisas; 2. que seja capaz de dominar 
as coisas e a si mesmo; 3. que se dirija a si e todas as coisas para Deus, fonte 
de tudo. Essas três coisas, se as quisermos exprimir por três palavras 
vulgarmente conhecidas, serão: 
I. Instrução; 
II. Virtude, ou seja, honestidade de costumes, 
III. Religião, ou seja piedade. 
 
Para o pedagogo tcheco, tendo em vista que o fim último do homem não está nesta 
terra, torna-se evidente que esta vida não é senão uma preparação para a vida eterna 
(GASPARIN, 1998). Contudo, a conquista da eternidade requer do homem a participação 
ativa em três graus de preparação para a eternidade. Em suas palavras: “os graus de 
preparação para a eternidade são três: conhecer-se a si mesmo (e consigo todas as coisas), 
governar-se e dirigir-se para Deus” (COMENIUS, 1976, p. 95). 
 
 
 
Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 12 
Com efeito, a educação, para ele, funciona como um instrumento de libertação e 
salvação de todos os homens. Assim, ele acredita que por meio da educação o homem pode se 
conduzir nos três graus de preparação para a eternidade. 
Ou seja, embora o teocêntrico ainda permaneça deveras forte, sem destoar de sua 
época, suas convicções religiosas também já estão inovadas. Com efeito, a salvação já não se 
dá mais por meio da reflexão e da contemplação, mas sim por meio da ação. É necessário 
agir, educar e ser educado, para que se adquira conhecimento, viva ordenadamente e alcance a 
salvação. 
Ao vislumbrar a realidade dos povos, Comenius passa a ansiar pelo estabelecimento 
de uma sociedade cristã. Assim, a educação para ele não é simplesmente para a salvação, mas 
para a instalação de uma sociedade cristã universal, na qual todos vivam em paz e harmonia. 
Ou seja, ela torna-se também num instrumento de humanização. 
Pode-se considerar que a religiosidade funciona tanto como o início quanto como o 
fim de sua inovadora proposta didático-pedagógica. Ou seja, foram suas convicções religiosas 
que o impulsionaram a propor o novo e, ainda, só propôs o novo a fim de alcançar seus 
objetivos religiosos: a salvação de todos. 
Assim, a educação e, por conseguinte, todo o seu ideário pedagógico, não tem um fim 
em si mesma. É, antes, um meio para se chegar a um fim, a humanização do ser, o 
estabelecimento de uma sociedade cristã e a cristianização do mundo. É, pois, o caminho para 
que o homem dirija a si mesmo e a todas as coisas em direção a Deus. 
 
 
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Sociedade Educacional João Amós Comenius, 1992. 
 
 
 
 
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