Buscar

APS Síndrome de Down e Arte

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Área da saúde - Artigo
	
	
	
	
	
A CONTRIBUIÇÃO DA ARTE PARA O DESENVOLVIMENTO DE INDIVÍDUOS COM SÍNDROME DE DOWN
	Aline Ferreira Molon¹, Maria Telles¹, Mateus Bonamigo¹, Vitória Judite Tumelero¹. 
	
¹ Bacharelado em Psicologia pela Faculdade da Serra Gaúcha – FSG.
	Professor(a) Avaliador
Prof.ª Dra. Suelen Bordignon. 
	
	Resumo
O presente trabalho tem por objetivo pesquisar a influência da arte no desenvolvimento de indivíduos com síndrome de Down, com ênfase na dança e capoeira, podendo servir como meio alternativo de tratamento. Para tanto, foi utilizado o método de revisão bibliográfica no qual artigos científicos foram utilizados para um embasamento verídico do material a ser apresentado no presente estudo. Os resultados se mostraram bastante satisfatórios, no sentido de que restou comprovada a eficácia da dança e capoeira para as funções motoras e cognitivas, bem como se verificou melhora no quesito social do indivíduo, que passou a interagir com público em apresentações e a praticar danças em grupo ou dupla. 
	Palavras-chave: 
Síndrome de Down, Tratamento, Arte. 
	
	
1 INTRODUÇÃO
	Atualmente, muito se fala acerca da síndrome de Down, todavia, poucas pessoas sabem a sua origem ou como a síndrome se manifesta. Para tanto, com o viés de auxiliar em uma melhor interpretação, difusão do conhecimento e tratamento da doença, o presente trabalho busca primeiramente entender a realidade na qual os indivíduos vivem.
	A síndrome é ocasionada por diversos fatores. Nos dias atuais, segue-se a tese de que sua origem seja especialmente genética, principalmente através da trimossia 21, onde o cromossomo 21 recebe material genético extra, causando então um retardo mental e características físicas próprias e características. 
	Com o passar do tempo, tornou-se cada vez mais comum ver pessoas com síndrome de Down, estimando-se 150 mil casos diagnosticados por ano só no Brasil. Conhecer a doença e seu diagnóstico é de suma importância para que o indivíduo possa ter mais qualidade de vida e se sinta cada vez mais incluído e participante da sociedade.
	A síndrome é muito caracterizada pela dificuldade motora do indivíduo desde o nascimento, de forma que já está comprovado em diversos estudos que a atividade física precoce é capaz de dirimir os sintomas locomotores. Neste sentido, o presente trabalho propõe a arte em suas diversas ramificações como meio de tratamento alternativo da síndrome, combinado com aulas e tratamento medicamentoso, para melhora na atividade motora.
Objetivos
	O presente trabalho objetiva de que forma a arte pode contribuir para o desenvolvimento motor, cognitivo e emocional/social de indivíduos com síndrome de Down. Busca-se analisar a síndrome em si, como essa se manifesta e de que forma um tratamento alternativo poderia auxiliar.
Definição e Caracterização da Síndrome de Down
Descrita pela primeira vez em 1866, pelo médico inglês John Langdon Down, a síndrome de Down foi inicialmente observada em razão de sua diferenciada fisionomia, que incluía traços semelhantes aos da raça mongólica, com pálpebras inclinadas. Entretanto, foi apenas no ano de 1959, através das pesquisas de Jerome Lejeune e Patricia A. Jacobs, que se descobriu sua verdadeira origem como sendo uma condição predominantemente genética, mediante a existência de um cromossomo extra (SILVA & DESSEN, 2002; TEIXEIRA, 2006).
A síndrome de Down pode ser decorrente de três anormalidades cromossômicas distintas. A primeira e mais comum é a trissomia 21, também chamada de trissomia simples, identificada pela existência de um cromossomo extra no par 21, presente em aproximadamente 95% dos casos (SILVA & DESSEN, 2002; FURLAN, MOREIRA & RODRIGUES, 2008).
Pode ocorrer também em razão do mosaicismo, onde células trissômicas aparecem conjuntamente a células normais, acarretando um erro na divisão celular, provocando a existência de uma célula haploide com 24 cromossomos e outra com 22. Tal situação representa cerca de 2% dos casos. Por fim, pode ser decorrente de translocação, que ocorre quando um cromossomo cresce possuindo dois materiais genéticos, representando cerca de 1,5 a 5% dos casos (SILVA & DESSEN, 2002; FURLAN, MOREIRA & RODRIGUES, 2008).
Os indivíduos possuem características fenotípicas marcantes e muito particulares, como, por exemplo, braquicefalia, fissuras palpebrais com inclinação superior (lembrando as feições orientais da raça mongólica), pregas epicânticas, base nasal achatada, hipoplasia da região mediana da face, pescoço curto, pina pequena e displástica, língua protusa e hipotônica, clinodactilia do 5º dedo das mãos e distância aumentada entre o 1º e o 2º dedos dos pés (SILVA & DESSEN, 2002).
Muito comum apresentarem doenças respiratórias, problemas relacionados à ortopedia, ligamentos frouxos (que acarretam problemas nos pés, joelhos e quadris), instabilidade nas articulações cervicais, articulação coxofemoral comprometida, problemas de cunho visual e auditivo, disfunção da glândula tireóide, doenças cardíacas, alto risco de leucemia, distúrbios mentais tais como a epilepsia, doenças relacionadas ao sistema nervoso central (alta incidência da doença de Alzheimer para indivíduos com 40 anos ou mais) e problemas relacionados à linguagem (tais como instabilidade na produção vocal, pobre organização gramatical e presença de fala funcional, quando adquirida). Importante salientar que, apesar dos problemas relacionados à fala, os indivíduos com a síndrome geralmente possuem boa interpretação e compreensão das regras utilizadas nos diálogos (SILVA & DESSEN, 2002; FURLAN, MOREIRA & RODRIGUES, 2008). 
A instabilidade nas articulações cervicais, principalmente na atlanto-axil, situada entre as duas primeiras vértebras cervicais, acarreta frouxidão e consequentemente pode levar à ocorrência de uma compressão medular. Existe a possibilidade de ocorrência de outras anormalidades esqueléticas como lordose, cifose, deslocamento do quadril e peito em forma de pomba (FURLAN, MOREIRA & RODRIGUES, 2008).
Pode ocorrer hipotonia muscular, também chamada de tônus muscular diminuído, acarretando uma musculatura flácida e fraca e problemas relacionados ao aparelho gastrointestinal, ou mesmo a chamada hiperflexibilidade, que acarreta instabilidade nas articulações do joelho e do tornozelo, bem como atraso no desenvolvimento motor e problemas de postura. Ainda, acarreta problemas com a sucção e deglutição, comprometendo igualmente na aquisição da linguagem (FURLAN, MOREIRA & RODRIGUES, 2008; ORNELAS & SOUZA, 2001). 
Além das identificações físicas, a síndrome de Down também se caracteriza pela presença de retardo mental de grau variado, dependendo do indivíduo. Geralmente, o grau de comprometimento se limita à realização de tarefas diárias, sendo o indivíduo capaz de realizar determinadas tarefas, como ler, escrever, efetuar cálculos simples e participar de tarefas como pinturas, desenhos e esportes em geral. Assim, a síndrome de Down é entendida como uma alteração genética e tem como característica principal o atraso global no desenvolvimento (SILVA & DESSEN, 2002; FURLAN, MOREIRA & RODRIGUES, 2008; BONOMO & ROSSETTI, 2010).
Desde a primeira infância, o indivíduo já apresenta atrasos com relação aos reflexos e demora maior tempo para aprender a engatinhar, andar ou sentar. Por esta razão, estimular desde cedo a prática de atividades físicas pode ser um diferencial para o desenvolvimento motor do indivíduo com a síndrome (FURLAN, MOREIRA & RODRIGUES, 2008).
A hipotonia muscular configura-se como uma das principais causas das alterações motoras, pois faz com que o indivíduo se retenha na exploração do ambiente e consequentemente no desenvolvimento das habilidades. As influências genéticas e ambientais são fundamentais para o desenvolvimento, uma vez que um ambiente saudável e favorável ao aprendizado viabiliza a estruturação de práticas motoras (BONOMO & ROSSETTI, 2010). 
Neste sentido, entende-se que o desenvolvimento motor se trata de um processo dinâmico, que
ocorre e evolui progressivamente com a vida do sujeito. Por exemplo, a prática de exploração do ambiente, além do grande auxílio no desenvolvimento da locomoção, também opera nos quesitos cognitivo e afetivo, sendo entendida como pilar para a construção da inteligência (BONOMO & ROSSETTI, 2010).
Através do movimento, a criança interage com o mundo, regula suas atitudes, cria vínculos com pessoas e objetos, trabalha sensações e percepções. Dessa forma, uma vez que a criança com síndrome de Down possui um atraso no desenvolvimento motor, consequentemente possuirá também um atraso na estruturação sensório-motora (BONOMO & ROSSETTI, 2010).
Um estudo realizado na Universidade Estadual Paulista em 2002 comprovou a influência do estímulo visual na demora para aquisição motora, no sentido de que problemas relacionados à visão dinâmica do indivíduo com síndrome de Down poderiam estar associados à diferenças no armazenamento da informação sensorial e ação motora (POLASTRI & BARELA, 2002).
O estudo em questão utilizou por base o ciclo de percepção-ação, expondo indivíduos a uma sala móvel, ou seja, uma sala que possui movimentos das paredes e que provoca uma percepção ilusória de movimentação corporal e, posteriormente, uma oscilação corporal correspondente ao movimento da sala. Os resultados foram conclusivos no sentido de que realizar uma determinada ação motora interfere no armazenamento da informação sensorial de pessoas com síndrome de Down (POLASTRI & BARELA, 2002).
Assim, em razão das dificuldades das pessoas com síndrome em exploração dos ambientes, principalmente nos primeiros anos de vida, as mesmas acabam necessitando de um maior tempo para produção do mapeamento sensório-motor. A estimulação motora precoce auxilia para a formação de um desenvolvimento motor pleno, sendo de suma importância que a família, professores e demais pessoas que possuem contato direto com o indivíduo com síndrome possibilitem ao mesmo que tenha acesso à exploração de tarefas variadas no ambiente, encorajando sempre a independência. Por exemplo, é necessário estimular a criança para levantar e alcançar sozinha o seu brinquedo (POLASTRI & BARELA, 2002).
No mesmo sentido, ORNELAS & SOUZA (2001, p. 77) explicam: 
Quando se fala sobre Síndrome de Down, um dos aspectos encontrados, a hipotonia muscular e a frouxidão ligamentar, favorece problemas articulares, mas isto não impede que as pessoas realizem determinados tipos de movimentos; ao contrário, a realização de atividades motoras poderá fortalecer o tônus muscular. Outro aspecto importante é a instabilidade atlanto-axial, que é uma hipermobilidade das duas vértebras superiores na base do crânio. Dificuldades na coordenação geral e motricidade fina também são problemas enfrentados por crianças com Síndrome de Down.
Os autores corroboram a necessidade da estimulação precoce para melhora nas capacidades sociais, motoras e mentais da criança, dando subsídio para que a mesma tenha condições essenciais para atingir um desenvolvimento pleno. Referida técnica é chamada de estimulação essencial e se caracteriza pela interdisciplinaridade, ou seja, abrange o trabalho de profissionais de diversas áreas de forma conjunta para obtenção de um atendimento completo (ORNELAS & SOUZA, 2001 apud VASCONCELOS, 1999). 
Estima-se que uma criança com síndrome de Down demoraria o dobro da idade média para atingir grande parte das habilidades motoras de uma criança com desenvolvimento típico, todavia, salienta-se que com o atendimento adequado o indivíduo consiga se desenvolver a ponto de levar uma vida independente e conseguir realizar tarefas que antes pareciam impossíveis (BONOMO & ROSSETTI, 2010).
	O entendimento de que a pessoa com síndrome de Down não faz parte de uma raça distinta, mas sim que apresenta como qualquer outro ser humano características individuais de personalidade e de desenvolvimento neuropsicomotor, vem lentamente obtendo força. Essa concepção é extremamente importante para que surja uma mudança na elaboração de estratégias de ensino, programas de reabilitação, orientação profissional, dentre outros.
	BUCKLEY & BIRD (1994) trazem várias características importantes quanto ao desenvolvimento cognitivo e linguístico da criança com síndrome de Down em seus primeiros cinco anos de vida. Mencionam os autores que o atraso no desenvolvimento da linguagem acarreta um vocabulário mais reduzido, geralmente fazendo com que essas crianças não consigam se expressar na mesma medida em que compreendem o que lhes é falado, levando-as a serem subestimadas em termos de desenvolvimento cognitivo. Da mesma forma, as alterações linguísticas também poderão afetar o desenvolvimento de outras habilidades cognitivas, pois há maior dificuldade ao usar os recursos da linguagem para pensar, raciocinar e relembrar informações (BUCKLEY & BIRD, 1994).
	As crianças com síndrome de Down apresentam uma capacidade de memória auditiva de curto prazo, fato que acaba dificultando o acompanhamento de instruções faladas, especialmente essas instruções envolvem múltiplas informações ou orientações consecutivas. Tal dificuldade pode, entretanto, ser minimizada se as instruções forem acompanhadas por gestos ou figuras que se refiram as instruções dadas (BUCKLEY & BIRD, 1994).
 Ademais, ao abordar os processos cognitivos relacionados aos estilos de aprendizagem e motivação para o aprendizado, surgem evidências de que as crianças com a síndrome passem a utilizar uma estratégia de fuga quando confrontadas com a aprendizagem de novas habilidades, além da resistência em tomar iniciativa diante de situações de aprendizagem (WISHART, 1996, 2001).
Além disso, existem situações de superdependência de outras pessoas ou uma má utilização das habilidades sociais (o que, por exemplo, lhes faz tomar atitudes para chamar a atenção das pessoas ao redor, como afastamento ou retraimento, distração do grupo para outros eventos, demonstrações exacerbadas de afetividade, birra, dentre outros) em situações que exijam das pessoas com síndrome de Down solicitações cognitivas mais complexas (WISHART, 1996, 2001).
	WISHART (1996, 2001) interpreta essas condutas, que surgem mesmo quando as situações de aprendizagem estão ao alcance das habilidades cognitivas já desenvolvidas pelas crianças, como condutas relacionadas a várias experiências negativas de aprendizagem ao longo de sua educação formal e informal.
	A carga de tensões resultantes dessa vivência é um dos fatores aptos a explicar a baixa motivação que elas apresentam para se envolverem de fora mais ativa nas situações de aprendizagem. Outra das razões apontadas seria o entendimento, estereotipado, de que as crianças com síndrome de Down, mesmo com as dificuldades cognitivas, apresentam características comportamentais compensatórios como a grande afetividade, docilidade e felicidade (WISHART, 2001).
	Há ainda hoje muita discussão sobre a natureza do processo de desenvolvimento da pessoa com síndrome de Down. Algumas argumentações vão ao sentido de entender que esse desenvolvimento é mais lento ou que acompanha o desenvolvimento neuropsicomotor, típico em algumas fases, diferenciando-se em outras, ou ainda que ocorra a mesma sucessão de fases, havendo diferenciação em especificidades do desenvolvimento (BISSOTO, 2005).
	Essa compreensão leva em consideração que as pessoas com a síndrome devem se desenvolver da mesma maneira, com limitações de aprendizagem e de desenvolvimento cognitivo, assim como de habilidades sociais e de peculiaridades comportamentais, até agora conhecidas.
	Entretanto, conforme cita BISSOTO (2005), há estudos que citam que o desenvolvimento do individuo que tem a síndrome e o desenvolvimento do individuo que não tem são resultantes de influências sociais, culturais e genéticas. Deve-se então observar que uma parte nova da bibliografia acredita que as pessoas com síndrome de Down apresentam características peculiares de desenvolvimento, mas isso não se constitui numa uniformidade a predizer comportamentos e potencialidades. 
	A ação educacional
ou terapêutica adotada em relação à pessoa que tem síndrome de Down precisa entender as necessidades educacionais próprias de sua aprendizagem, relacionadas também com as especificidades resultantes da própria síndrome, que devem ser investigadas, reconhecidas e trabalhadas através de técnicas apropriadas, sendo importante a adoção de uma diversidade de recursos de instrução e outras compreensões do tempo e espaço escolar e pedagógico, de maneira a propiciar que as informações sejam mais efetivamente compreendidas/interpretadas. Acredita-se que o desenvolvimento cognitivo da pessoa com Síndrome de Down será tão mais efetivo quanto menor forem os estereótipos a limitarem as concepções que se tem desse.
A síndrome de Down não pode ser impedida, haja vista se tratar de um acidente biológico, mas é possível preveni-la através de aconselhamento genético e exames como o volocorial, que pode ser realizado após a nona semana de gravidez e analisa as células constantes na placenta. Por fim, a melhor forma de diagnosticar a síndrome é mediante o estudo do cariótipo, ou seja, avaliando-se os sinais clínicos característicos e comuns dos indivíduos (ORNELAS & SOUZA, 2001). 
A arte como meio alternativo de tratamento para síndrome de Down
1.3.1 Influência da Dança
A aplicação da arte para indivíduos com síndrome de Down se mostrou demasiado importante para o desenvolvimento desses, demonstrando resultados efetivos no sentido de melhora nos desenvolvimentos motor, social e emocional. Todos os seres humanos, independentemente de suas limitações, possuem capacidades a serem exploradas nos campos cognitivo, psíquico e emocional. Neste sentido, a arte é capaz de promover bem-estar, diminuindo o estresse e auxiliando na organização mental dos indivíduos, além de melhorar a comunicação com o meio e abrir um leque acerca das potencialidades ainda não exploras, trazendo mais independência para a pessoa com a síndrome (CORDEIRO, 2012). 
	Desde os tempos primitivos, a dança é considerada um meio de expressão e comunicação, podendo ser trabalhada de forma individual, grupal ou em pares, incentivando o contato entre as pessoas. É considerada uma linguagem social, pois permite a transmissão de sentimentos e emoções, trabalhando o esquema corporal como um todo (LIMA, 2010; FURLAN, MOREIRA & RODRIGUES, 2008).
	Como qualquer outra atividade física, a dança tem poder de estimular o crescimento, auxiliando no tratamento da hipertrofia muscular, flexibilidade e capacidade cardiorrespiratória, bem como liberação de endorfina, conhecida como o hormônio da felicidade, dando alegria e motivação para o indivíduo, que, por sua vez, se sente melhor para consigo mesmo e com os demais. Ainda, auxilia na manutenção do equilíbrio corporal, que, para funcionar corretamente, necessita do sistema vestibular, sistema óptico e sistema proprioceptivo, melhorando também o bem-estar emocional (LIMA, 2010; FLORES & BANKOFF, 2010). 
	A deficiência no equilíbrio corporal é muito comum em pessoas com a síndrome, caracterizando atraso em ajustes de postura e adaptações precárias quanto à realização de tarefas. Para tanto, fazem uso de atos motores adaptativos, como mão de apoio ou alargamento da base de sustentação. Para desenvolver a expressão corporal através da dança, o indivíduo deve primeiramente adquirir consciência corporal e estimular o sistema musculoesquelético através da prática (FLORES & BANKOFF, 2010). 
	Os indivíduos com síndrome possuem dificuldade em nomear o próprio corpo, com suas demais partes e articulações, apesar de possuírem consciência cenestésica, ou seja, conseguem perceber seus corpos, mesmo com as diversidades. Através da experiência de troca com outras pessoas e da estimulação, o indivíduo trabalha a sua consciência corporal (FURLAN, MOREIRA & RODRIGUES, 2008).
	A dança favorece o desenvolvimento da imagem corporal, trabalhando a autoimagem e autoestima através do conhecimento do próprio corpo. Para indivíduos com síndrome de Down, a música, os sons e movimentos corporais podem facilitar o desenvolvimento motor ou trabalhar reabilitação dos mesmos (FURLAN, MOREIRA & RODRIGUES, 2008 apud CASTRO, 2005). 
	A prática está intimamente ligada à exploração de ambientes, uma vez que se trata de um exercício ativo e interativo, onde os indivíduos podem se divertir e ao mesmo se estimular, melhorando a consciência corporal. No que tange aos indivíduos com síndrome de Down, que possuem como característica uma limitação motora, o incentivo do esquema corporal precoce e progressivo auxilia na emancipação dos movimentos (FURLAN, MOREIRA & RODRIGUES, 2008).
	Os efeitos da dança podem diminuir o retardo mental e limitações no que concerne a desenvolvimento motor, hipotonia, alterações na coluna cervical, obesidade, entre outros. Trata-se de uma atividade completa, que abrange não apenas a atividade física em si, mas também a linguagem como um todo, trabalhando o indivíduo em seu desenvolvimento global (LIMA, 2010). De acordo com FURLAN, MOREIRA & RODRIGUES (2008, p. 7):
Vemos que a dança utiliza diferentes faculdades do ser humano, pois desenvolve as relações sociais através do trabalho em grupo, permite um grande desenvolvimento da expressão corporal, da criatividade, da desinibição e do auto-conhecimento, e ainda possibilita a experimentação dos mais variados movimentos corporais. 
	Atividades artísticas, além de incentivarem a cultura e auxiliarem no processo de amadurecimento individual, também atuam muito bem na prática inclusiva, haja vista que a pessoa pode ser autêntica, o que lhe traz sentimento de liberdade (LIMA, 2010).
	Um estudo foi realizado na Universidade Estadual de Campinas - Unicamp através da aplicação do aparelho Baropodômetro Eletrônico, analisando-se primeiramente o equilíbrio estático e dinâmico e, por fim, a influência da dança expressiva nos indivíduos com síndrome. Para realização do estudo, os alunos frequentavam aulas de dança de 60 minutos cada, duas vezes por semana. Nessas aulas, os alunos desenvolviam expressividade, trabalhando a atenção isolada das partes do corpo através de alongamentos e exercícios de equilíbrio, por exemplo, e o espaço, mediante a percepção do corpo através do toque, caminhar em direções opostas e com obstáculos, entre outros (FLORES & BANKOFF, 2010). 
	No citado estudo, os alunos trabalharam com diferentes ritmos e fluxos de movimentos, acompanhavam a música com mímica, treinavam diferentes possibilidades de caminhadas (rápidas ou lentas), exploravam os movimentos corporais se inspirando em imagens (acompanhando as águas do rio ou as ondas do mar, por exemplo), e, por fim, trabalharam o pensamento criativo com a prática da expressão e improvisação corporais. Os resultados se mostraram bastante positivos, verificando-se melhora nos movimentos e na sua percepção espacial e corporal. Os indivíduos ao final se mostraram mais dispostos, flexíveis e concentrados para a realização de estímulos de movimentos (FLORES & BANKOFF, 2010). 
Ainda, uma vez que o estudo buscou trabalhar as potencialidades de cada aluno em particular, os mesmos despertaram sensações e desenvolveram sensibilidade, melhoraram sua maturidade emocional, possibilitando o desenvolvimento cognitivo, expressivo e psicomotor. Nas palavras de FLORES & BANKOFF (2010, p. 42):
Os resultados comprovaram que a dança tem uma grande influência física e intelectual nos portadores da Síndrome de Down, capaz de melhorar a coordenação, lateralidade, a conscientização corporal, espacial e desenvolver a expressividade, criando uma linguagem individual de movimentar-se e comunicar-se.
No mesmo sentido, outro estudo realizado na Universidade do Vale do Paraíba se propôs a analisar a marcha de um adolescente com síndrome em comparação a um sedentário. Nos resultados foi possível observar diferenças em variáveis espaço-temporais, onde os dançarinos possuíam maior controle de marcha (CANHOTO ET AL., 2008). 
	O desenvolvimento de habilidades artísticas pode ser uma das maiores fontes de satisfação pessoal para os
alunos, contribuindo para elevar a sua autoestima. Isso ocorre quando tomam consciência de que desenvolveram certas habilidades, quando descobrem que aprenderam a fazer coisas que não podiam fazer anteriormente (MACCARI, 2011).
	A arte fornece componentes que facilitam a educação e o aprendizado dos indivíduos com de síndrome de Down tornando possível a alfabetização dos mesmos que aprendem de forma mais lenta por meio de repetições, o desempenho das pessoas com a síndrome aumenta com as ilustrações, preferencialmente com figuras grandes, coloridas e chamativas, usar o lúdico com o objetivo de conhecimento. O reconhecimento das cores e a concentração na arte que envolve pinturas demonstra sua capacidade de formar um quadro coerente do mundo em que vivem (MACCARI. 2011).
	
1.3.2 Influência da Capoeira
	Segundo FILHO (2010), a capoeira é um excelente instrumento de auxílio para o desenvolvimento motor, pelo fato das pessoas com síndrome de Down possuírem pouca vivência de atividades com essas características. Todos os alunos foram analisados antes mesmo da aplicação da pesquisa, e assim, foram verificadas suas diversificações motoras, sensoriais e neurológicas, de interação social e afetivo-emocional. A partir desta análise, foi possível verificar também quais as principais comorbidades encontradas em indivíduos com a síndrome, conforme segue demonstrado na Tabela 1, de forma que possuir esse conhecimento pode ser um diferencial para o tratamento.
Tabela 1 – Análise das comorbidades mais comuns encontradas em indivíduos com síndrome de Down.
Fonte: Filho (2010)
 Conforme argumenta o autor acerca dos marcos do desenvolvimento, é detectado um atraso em relação às crianças que não possuem a síndrome. Este atraso pode ser oriundo de diversos aspectos, mas um dos principais é a falta de um ambiente onde a criança tenha estímulos precoces e frequentes. Aqui se observa a importância da capoeira, assim como o futebol e a natação, para que o indivíduo, desde muito cedo, já tenha habilidades necessárias para a prática de esportes físicos e recreacionais.
 As principais dificuldades motoras das pessoas com síndrome de Down são as atividades como: postura em pé, andar, arremessar, alcançar, agarrar e manipular. Foi encontrada uma extrema dificuldade quando os indivíduos tinham que tirar os dois membros inferiores do solo (FILHO, 2010).
 A utilização da capoeira foi aderida, pois, acreditava-se que de forma prazerosa ela estimulasse a motricidade global, a motricidade fina e o equilíbrio. Isto porque em cada roda ou jogo acontecem situações diferentes que são de extrema importância para o desenvolvimento de formas variadas de habilidades motoras (FILHO, 2010).
 Acerca da motricidade global, explica o autor: relacionada às várias formas de movimentar o corpo, parado ou em deslocamento, estes movimento dinâmicos corporais movimentam um importante papel na melhora dos comandos nervosos e no afinamento das sensações e percepções (FILHO, 2010).
 Já sobre motricidade fina, assinala: realizar diversos movimentos coordenados com pequenos grupos musculares, como descrever, desenhar, pintar, tocar instrumentos, entre outros (FILHO, 2010).
 Por fim, ensina sobre o equilíbrio: habilidade em manter a postura do corpo inalterada, estando ela em uma ou mais bases de apoio. O equilíbrio pode ser estático ou dinâmico, o estático é a habilidade de manter o corpo de certa maneira estacionária, e o dinâmico se trata da habilidade de um indivíduo manter-se na mesma posição, quando de movimento de um ponto a outro (FILHO, 2010).
 Outras habilidades também podem ser desenvolvidas pela capoeira, como esquema corporal, raciocínio lógico, espaço, ritmo, lateralidade, controle muscular, socialização, percepção auditiva, tempo, força e velocidade (FILHO, 2010).
 FILHO (2010) destaca que são necessários outros estudos para determinar uma melhor duração, intensidade e frequência de treinamento, porém, com algumas maneiras de incentivos houve uma melhora em relação ao seu caminhar em linha reta, agarrar e manipular objetos e ficar na ponta dos pés, assim, conclui-se que a capoeira apresenta ferramentas necessárias para aprimorar as habilidades dos indivíduos, reforçando a utilização da mesma como um instrumento pedagógico para a população com necessidades especiais. 
3 METODOLOGIA 
	No presente artigo em forma de pesquisa, foi desenvolvida uma revisão bibliográfica com a finalidade de aprofundar os conhecimentos em relação a influência e a ajuda das artes e atividades físicas aos indivíduos com Síndrome de Down. Foram utilizadas ferramentas online, Google Acadêmico e Portal Capes, em navegadores como SciELO e PePSIC para um melhor levantamento de dados e embasamento do presente estudo.
	Conforme as leituras dos artigos relacionados aos temas, foram debatidas com todos os integrantes do grupo as principais ideias dos autores mais renomados da área, as mesmas se encontram em tópicos, organizando assim as informações coletadas de forma concisa.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
	Por todo decorrer do presente artigo, percebemos a impactante importância das artes na vida dos indivíduos com Síndrome de Down, demonstrando que apesar de suas limitações, ela pode potencializar suas capacidades cognitivas, motoras e psíquicas. A dança, da mesma forma, alavanca o desenvolvimento destas habilidades ainda não exploradas.
	Mesmo sendo aplicada por um curto espaço de tempo, a capoeira demonstrou ser um excelente instrumento pedagógico, não só resultando melhoras no aspecto social dos analisados, mas também em seu desenvolvimento motor. Agrega, assim, em seu bem-estar e capacitação das respostas motoras, tornando-o mais pró-ativo pelas habilidades desenvolvidas como o equilíbrio, tomada de decisões, entre muitas outras de extrema importância.
	A dança, por sua vez, traz seus próprios benefícios e auxílios aos indivíduos com a síndrome, pois trabalha o corpo e a mente e acaba proporcionando para a pessoa com Síndrome de Down um aprender criativo, uma melhora na coordenação motora, desenvolvimento expressivo, entre outros. 
	Ela atua de forma benéfica, minimizando os efeitos da patologia, contribuindo para a melhora da motricidade e a inclusão dos mesmos. Vale ressaltar que devem ser levadas em considerações as limitações das pessoas acometidas pela síndrome, pois a dança vem com o intuito primário de melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao decorrer de nossas pesquisas, percebemos a importância da utilização das artes como ferramenta pedagógica aos indivíduos com necessidades especiais. Ela irá facilitar sua socialização e suas habilidades motoras investigadas no presente estudo, para assim, uma melhor adequação as suas atividades diárias.
Reforçamos que seria necessária uma amplitude ao tema das artes, no qual não fora encontrado muitos estudos, realizando assim um embasamento mais aprofundado e conciso sobre suas formas pedagógicas e seus resultados perante aos indivíduos com Síndrome de Down.
6 REFERÊNCIAS
BISSOTO, Maria Luísa. Desenvolvimento cognitivo e o processo de aprendizagem do portador de síndrome de Down: revendo concepções e perspectivas educacionais. Ciências e Cognição, Rio de Janeiro, v. 4, p.80-88, 31 mar. 2005. Disponível em: <http://www.cienciasecognicao.org/pdf/m11526.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2017.
BONOMO, Lívia Maria Marques; ROSSETTI, Claudia Broetto. Aspectos percepto-motores e cognitivos do desenvolvimento de crianças com síndrome de Down. Revista Brasileira Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, v. 20, n. 3, 2010.
BUCKEY, Sue; BIRD, Gllian. Meeting the educational needs of children with Down syndrome. Portsmouth: Sarah Duffen Centre/University of Portsmouth, 1994.
CANHOTO, Diana et al. Análise da Marcha de um Adolescente Síndrome de Down Dançarino Comparado a um Sedentário. Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2008/anais/arquivosINIC/INIC0572_01_O.pdf>. Acesso em: 02 nov. 2017.
CORDEIRO, Polyana de Sousa. O Papel da Arte no Processo de Ensino-Aprendizagem de Crianças Com Necessidades Educacionais Especiais. 2011. 29 f. TCC (Graduação) - Curso de Artes Visuais, Universidade de Brasília, Feijó, 2011.
FILHO, A. D. R., Schuller, J. A. P., A Capoeira como instrumento pedagógico no aprimoramento da coordenação motora de pessoas com síndrome de Down. Pensar a Prática, Goiânia, v. 13, n. 2, 1-21, maio/ago. 2010.
FLORES, Mariana Imbrunito; BANKOFF, Antônia dalla Pria. Influência da dança expressiva sobre o equilíbrio corporal em portadores com síndrome de Down. Revista da Faculdade de Educação Física na Unicamp, Campinas, v. 8, n. 3, p.35-46, set/dez. 2010.
FURLAN, S., Moreira, V. A. V., & Rodrigues, G. M. (2008). Esquema corporal em indivíduos com síndrome de Down: uma análise através da dança. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 7(3), 235-243. 
LIMA, Ana Paula Rodrigues. Dança para Síndrome de Down: uma análise dos benefícios da dança para os portadores de Síndrome de Down. 2010. 56 f. Monografia (Especialização) - Curso de Educação e Promoção da Saúde, Universidade de Brasília, Brasília, 2010.
MACCARI, Aline Conti. Síndrome de Down: Envolvimento com o Ensino da Arte e Suas Diferentes Linguagens. 2011. 45 f. TCC (Graduação) - Curso de Artes Visuais, Universidade do Extremo Sul Catarinense - Unesc, Criciúma, 2011.
ORNELAS, Marcia Abrantes; SOUZA, Celso. A contribuição do profissional de educação física na estimulação essencial em crianças com síndrome de Down. Revista da Educação Física/uem, Maringá, v. 12, n. 1, p.77-88, maio 2001. Semestral.
POLASTRI, Paula Fávaro; BARELA, José Angelo. Percepção-ação no desenvolvimento motor de crianças portadoras de Síndrome de Down. Revista da Sobama, Marília, v. 7, n. 1, p.1-8, dez. 2002.
SILVA, N. L. P., & Dessen, M. A. (2002). Síndrome de Down: Etiologia, caracterização e impacto na família. Interação em Psicologia, 6(2), 167-176. 
TEIXEIRA, Kenia Fregulia. A arte e a inclusão escolar do aluno com síndrome de Down. Revista de Iniciação Científica, Criciúma, v. 4, n. 1, p.123-132, 2006.
WISHART, J. Avoidant learning styles and cognitive development in young children with Down syndrome. Em: B. Stratford; P, 1996.
WISHART, J. Motivation and learning styles in young children with Down syndrome. Down syndr. Res. Pract., 7, 51-55, 2001.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando