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Sociolinguística - Abdelhak Razky e Marilucia Barros de Oliveira

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Prévia do material em texto

1
Licenciatura em Letras
 Língua Portuguesa
 modalidade a distância
Disciplina
Sociolinguística
Licenciatura em Letras
Língua Portuguesa
modalidade a distância2
MATERIAL DIDÁTICO
ELABORAÇÃO DO CONTEÚDO
Abdelhak Razky
Marilucia Barros de Oliveira
REVISÃO
Abdelhak Razky
Marilucia Barros de Oliveira
COORDENAÇÃO DE EDIÇÃO
Maria Cristina Ataide Lobato
CAPA, PROJETO GRÁFICO 
E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Ana Petruccelli
Káyra Matos Badarane
IMPRESSÃO
Grá� ca Universitária - UFPA
2a. edição 2014
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP) – 
Biblioteca do ILC/ UFPA, Belém – PA
Fairchild, � omas Massao.
 Ensino-Aprendizagem da Língua Portuguesa I/ � omas Massao Fairchild. 
– Belém: EditAedi, 2014. v.12.
 Textos didáticos do Curso de Licenciatura em Letras – Habilitação em 
Língua Portuguesa – Modalidade a Distância.
 ISBN: 
 1. Ensino-Aprendizagem. 2. Língua Portuguesa. 3. Linguística. I. � omas 
Massao Fairchild. II. Título.
 
3
Licenciatura em Letras
 Língua Portuguesa
 modalidade a distância
Belém-Pa
2014
volume 13
Disciplina
Sociolinguística
Abdelhak Razky
Marilucia Barros de Oliveira
Licenciatura em Letras
Língua Portuguesa
modalidade a distância4
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Aloizio Mercadante Oliva
SECRETÁRIO EXECUTIVO DO MEC
José Henrique Paim Fernandes
DIRETOR DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
João Carlos Teatini de Souza Clímaco
REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
Carlos Edilson de Almeida Maneschy
VICE-REITOR
Horácio Schneider 
PRÓ-REITORA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO (UFPA)
Marlene Rodrigues Medeiros Freitas
ASSESSOR ESPECIAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (AEDI)
José Miguel Martins Veloso
DIRETOR DO INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO (ILC)
Otacílio Amaral Filho
DIRETOR DA FACULDADE DE LETRAS (FALE)
Elizabeth Ferreira Vasconcelos de Andrade
COORDENADORA DO CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS
HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA – MODALIDADE A DISTÂNCIA
Maria de Fátima do Nascimento
5
Licenciatura em Letras
 Língua Portuguesa
 modalidade a distância
SUMÁRIO
Unidade 1 – Relação entre Língua e Sociedade ..... 13
Atividade 1 – Diversidade e diversidade linguística no Brasil ..... 15
Atividade 2 – Um breve histórico do tratamento dado 
à variação e à mudança linguística ..... 23
Unidade 2 – Teoria da Variação ..... 31
Atividade 3 – Teoria da Variação: de� nindo termos ..... 33
Atividade 4 – Aspectos teórico-metodológicos da Teoria da Variação ..... 45
Unidade 3 – A Pesquisa Variacionista no Português Brasileiro (PB) ..... 55
Atividade 5 – Exempli� cando a variação no Português Brasileiro ..... 57
Atividade 6 – Procedimentos da Pesquisa Variacionista ..... 67
Unidade 4 – Variação Linguística e Ensino de Língua Portuguesa ..... 75
Atividade 7 – Dialetologia e Sociolinguística como ferramentas 
para a Formação de Docentes ..... 77
Licenciatura em Letras
Língua Portuguesa
modalidade a distância6
7
Licenciatura em Letras
 Língua Portuguesa
 modalidade a distância
APRESENTAÇÃO
Caros alunos,
A disciplina Sociolinguística está voltada ao estudo da variação e mudança lin-
guísticas e se destina a formar professores para identi� car, descrever, reconhecer e re� e-
tir sobre fenômenos variacionistas. Mas além desse objetivo de natureza investigativa, 
a disciplina tem como meta, como deveria ser num curso de licenciatura, levar vocês, 
futuros professores de língua materna, a re� etirem sobre a postura que se deve adotar 
diante desses fenômenos – e que se deve incentivar os alunos a adotarem – valorizando 
as diferentes identidades, aqui entendidas como conjunto de diferenças e peculiaridades 
dos indivíduos e dos agrupamentos de indivíduos.
Iniciaremos essa disciplina com a leitura de um texto que aborda praticamente 
tudo o que iremos tratar durante o curso, mas de forma bem sucinta. Na verdade, o texto 
só tangencia pontos que serão explicitados, discutidos, nas sete Atividades que iremos 
estudar. Desejamos que esse texto fomente em cada um de vocês maior “amplitude do 
olhar”, no sentido de lhes possibilitar enxergar aspectos de língua e de linguagem vincu-
lados ao “uso”, à manifestação efetiva desses em contextos socioculturais diferenciados. 
É com esse “olhar” diferenciado, cada vez mais próximo dos usos efetivos de lin-
guagem, e, concomitantemente, mais distanciado de preconceitos, que pretendemos tratar 
a variação linguística, objeto dessa disciplina. 
Na primeira unidade, estudaremos a relação entre língua e sociedade, focalizando 
a diferença e a identidade. Na segunda, abordaremos a teoria da variação, apresentando 
conceitos e de� nições úteis à compreensão do suporte teórico-metodológico da Sociolin-
guística Variacionista. Iniciaremos as orientações para a realização de pesquisa de campo, 
a � m de que sejam identi� cados e descritos fenômenos variacionistas. Na terceira unidade, 
apresentaremos diferentes resultados oriundos de realização de pesquisa variacionista 
no Brasil. Na quarta unidade, concluindo nossos estudos, a discussão será em torno da 
Dialetologia e Sociolinguística na perspectiva do ensino-aprendizagem. Focalizaremos 
como essas duas disciplinas podem trazer contribuições para a formação do professor e 
para o conhecimento da realidade linguística com a qual ele se depara diariamente. 
Licenciatura em Letras
Língua Portuguesa
modalidade a distância8
Agora, para que você possa iniciar os estudos e discussões sobre esses temas, cabe 
se perguntar: como eu devo me portar diante de um aluno quando esse diz [kã´nu] em 
vez de [kã´no] ? Ou [ſ´na], em vez de [ſ´naw]? E o que fazer quando os alunos riem 
dessas pronúncias? Talvez, neste momento, você ainda não tenha segurança em relação à 
maneira mais adequada de se portar diante dessas situações, principalmente na condição 
de professor de língua portuguesa, já que as pessoas exigem que esse pro� ssional use e 
ensine o português dito correto, mas, com certeza, ao � nal da disciplina, você vai poder 
responder de forma habilitada essas questões. 
9
Licenciatura em Letras
 Língua Portuguesa
 modalidade a distância
objetivos
objetivo geral
Propiciar o conhecimento de teorias e modelos variacionistas no sentido de de-
senvolver competências relativas à análise de fenômenos variacionistas e a re� exão so-
bre a postura do professor diante de variação linguística no ensino-aprendizagem de 
língua materna.
objetivos específicos
• Conhecer teorias e modelos variacionistas;
• utilizar adequadamente os procedimentos investigativos relativos ao estudo da 
variação e da mudança linguística;
• conhecer diferentes modelos de análise da variação linguística; 
• distinguir variação de mudança linguística;
• organizar dados coletados de acordo com a orientação sociolinguística;
• reconhecer frequências e probabilidades de fenômenos variacionistas;
• identifi car e descrever fenômenos de variação linguística encontrados na vida 
cotidiana e refl etir sobre suas implicações no ensino de língua portuguesa;
• distinguir erro de variação linguística;
• refl etir sobre o preconceito linguístico.
procedimentos metodológicos
A disciplina Sociolinguística apresenta carga horária de 68 horas. Será desenvol-
vida na modalidade a distância, com encontros presenciais nos � ns de semana. O curso 
atenderá alunos de diferentes pólos. Os trabalhos serão orientados pelo professor-coor-
denador da disciplina e por tutores presenciais e a distância. 
A concepção pedagógica do curso pauta-se no conhecimento dos modelos de aná-
lise da variação linguística e na re� exão sobre seu impacto no ensino-aprendizagem de 
língua materna, dando-se especial relevo à postura de respeito às diferenças. Sendo as-
sim, privilegiaremos atividades que impliquem re� exão e interação dos alunos não só 
com os tutores, com o professor, mas com o próprio material didático que visa ao acesso 
à informação e à produção de conhecimentos. Durante a leitura deste texto-base você 
encontrará alguns itens sobre os quais deve se ater. São eles: dicas, saiba mais, para 
refletir, resumindo,exercitando, anote. Eles podem auxiliá-lo a avançar 
na compreensão do texto, propiciando melhor entendimento do conteúdo tratado. 
Licenciatura em Letras
Língua Portuguesa
modalidade a distância10
Durante o curso serão desenvolvidas as seguintes atividades:
• leitura do texto-base;
• leitura de textos teóricos e de descrição sociolinguística;
• estudo e análise de fenômenos variacionistas a partir de discussão de textos 
escritos e/ou de vídeos;
• apresentação de pontos de vista no fórum;
• postagem de atividades que correspondam às “tarefas”;
• resolução de exercícios;
• pesquisa de campo;
• apresentação de seminários.
programa
avaliação
A avaliação será realizada com base nos seguintes critérios:
• relevância da contribuição nas postagens do fórum, inclusive em relação aos 
questionamentos dos colegas;
• relevância da contribuição nos encontros presenciais, inclusive em relação aos 
questionamentos dos colegas;
Etapas CH Data
Unidade I - relação entre língua e sociedade 
Atividade 01: Diversidade e diversidade linguística no Brasil
Atividade 02: Um breve histórico do tratamento dado à variação 
e à mudança linguística.
15h
Unidade II- teoria da variação 
Atividade 03: Teoria e Variação: de� nindo termos
Atividade 04: Aspectos teórico-metodológicos da Teoria da Variação.
20h
Unidade III: a pesquisa variacionista no português 
brasileiro
Atividade 05: Exempli� cando a variação no Português Brasileiro.
Atividade 06: Procedimentos da Pesquisa Variacionista. 
20h
Unidade IV: variação linguística e ensino de língua 
portuguesa
Atividade 07: Dialetologia e Sociolinguística como ferramentas para 
a Formação de Docentes.
13h
11
Licenciatura em Letras
 Língua Portuguesa
 modalidade a distância
• resolução e entrega das atividades no prazo estipulado;
• qualidade da produção escrita quanto à pertinência em relação à adequação da 
linguagem e à refl exão sobre o conteúdo tratado;
• adequação dos registros dos dados coletados;
• apresentação de seminário.
É importante lembrar que a frequência do aluno será avaliada a partir da parti-
cipação no fórum e das informações fornecidas pelos tutores nos encontros presenciais. 
Não é demais chamar a atenção para a importância de seu envolvimento na disciplina, 
demonstrado por meio de perguntas, re� exões, discussões desenvolvidas tanto presen-
cialmente quanto via Plataforma Moodle. 
 
Licenciatura em Letras
Língua Portuguesa
modalidade a distância12
13
Unidade 1
Relação entre
Língua e Sociedade
RELAÇÃO 
ENTRE LÍNGUA
E SOCIEDADE
u n i d a d e 1
Licenciatura em Letras
Língua Portuguesa
modalidade a distância14
15
Unidade 1
Relação entre
Língua e Sociedade
a t i v i d a d e 1
DIVERSIDADE
E DIVERSIDADE
LINGUÍSTICA NO BRASIL
Licenciatura em Letras
Língua Portuguesa
modalidade a distância16
objetivos
 Ao � nal desta atividade, você deverá:
- compreender a relação entre língua e sociedade;
- identifi car fenômenos de variação linguística;
- discutir conceitos de diferença e identidade; 
- refl etir sobre a postura de cada um da turma diante de fenômenos de variação linguística;
- apontar possíveis fatores condicionadores da variação linguística.
A variação linguística não é um fenômeno recente nas línguas. Antes mesmo de 
se propor o estudo sistemático da variação, ela acontecia abundantemente em vários 
momentos da história, em diferentes línguas. Os estudos sobre o fenômeno con� rmam 
que a variação é inerente a todas as línguas. 
A relação entre língua e sociedade tem sido tema de vários estudos na atualidade, 
mas nem sempre foi assim. Quando se iniciaram os estudos sobre a língua ou sobre a 
linguagem, não se deu espaço adequado à in� uência de fatores sociais sobre essas “ações” 
humanas. Atribuía-se a outros condicionadores a variação ou a mudança linguística. Na 
verdade, a variação teve espaço nos estudos da linguagem bem depois do estudo sobre 
a mudança linguística. 
Entretanto, cabe dizer que o estudo sobre a mudança linguística praticado há sé-
culos não era o mesmo praticado pela sociolinguística variacionista, corrente que vamos 
estudar mais detalhadamente aqui. Essa corrente pressupõe que os condicionadores so-
ciais sejam levados em consideração quando do estudo da língua, pois para seus adeptos 
é clara a relação entre língua e sociedade. Por isso, no sentido de esclarecer os diferentes 
aspectos destacados no estudo da variação e da mudança linguísticas, vamos fazer um 
breve histórico sobre os diferentes estudos a respeito da variação linguística, a � m de 
que você perceba as diferenças entre as abordagens. Em seguida, trataremos do estudo 
sociolinguístico que prevê o estudo da língua em contexto social, já que concebe que as 
forças sociais condicionam, assim como os fatores estruturais, a variação nas línguas.
Mas antes de fazermos todo esse trajeto que corresponde à próxima Atividade, va-
mos desenvolver algumas práticas relativas à Atividade 01 que tratam do tema Diversidade 
e diversidade linguística. Essa Atividade apresenta um caráter diferente das demais. Isso 
porque é você quem vai desenvolvê-la. Quem sabe, escrevê-la. Essa Unidade vai iniciar 
17
Unidade 1
Relação entre
Língua e Sociedade
com sua perspectiva sobre o conceito de diferença e identidade, e diversidade linguística 
(cf. vídeos e fotos para discutir diferença e identidade). 
Ao � nal da disciplina, retomaremos essa discussão inicial no sentido de saber 
se você alteraria ou ampliaria, ou mesmo manteria, as impressões apresentadas nesse 
primeiro momento. 
Para falarmos da relação entre língua e sociedade, precisamos entender que além 
da língua, outros hábitos, modos, maneira de vestir, costumes estão ligados à interferência 
de fatores sociais. É importante que você saiba que os valores, assim como as diferenças 
que existem numa língua, não levam em consideração exatamente fatores linguísticos, 
mas sociais. É por isso que a língua ou variedade linguística de uma classe econômica 
favorecida na sociedade é considerada “boa” ou “correta”. Não é difícil entender como essa 
“valoração” se dá. Basta que observemos outros fenômenos como os relativos à moda, por 
exemplo. Em termos gerais, o “valor” atribuído à roupa, ao acessório, ao tipo de cabelo, 
ao feitio do calçado etc. – como “elegantes”, “atuais”, “bonitos” – também provêm de 
um grupo privilegiado economicamente. A língua é, como os demais fenômenos sociais, 
impregnada de “valor social”, fruto de “jogos de poder”. 
Aspectos relacionados à diversidade e diversidade linguística, bem como à diferença 
e à identidade serão discutidos durante o curso. Antes, no entanto, de continuar lendo 
este texto base, convidamos você a fazer a leitura do texto “Fale que te direi quem és”, 
disponível, também, na Plataforma Modlle. A partir dessa leitura, você poderá despertar 
para questões que vão enriquecer nosso estudo e discussão. Use o conhecimento de mundo 
de que dispõe para avaliar cuidadosamente o texto. Re� ita, faça comentários, indique que 
outros aspectos você considera relevantes no texto e que vale a pena discutir, identi� que 
intertextualidades; faça relações com outros textos e discursos. Vamos à leitura? 
Fale que te direi quem és!
Josué Machado publicou instigante artigo sobre a in� uência "nefasta" que os 
tropeços gramaticais do novo presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, são 
suscetíveis de ter nas salas de aula do país – "Lula e a língua do povo" [educação, 
São Paulo, 3.2003]
Os "escorregões" de Lula da Silva no exercício do português padrão – seus 
"menas", "percas", "acho de que"; a avidez com que "devora os 's' do plural" etc. – 
constituem um pretexto para o autor debater a variedade linguística com a qual a 
escola deveria operar. 
No Brasil, nos últimos tempos, a variação linguística na escola tem sido objeto 
de complexos debates linguístico-pedagógicos, ensejando profunda insegurança 
sobretudo entre os professores e futuros professores que atuam em escolas populares. 
Licenciatura em LetrasLíngua Portuguesa
modalidade a distância18
Há alguns anos, para a grande maioria dos professores de português, essa 
questão não existia, predominando a visão de que a principal função da escola era 
enquadrar os alunos à variedade culta da língua nacional. 
Com esse pressuposto inquestionável, professores bem intencionados con-
fundiam comumente a educação com a caça às formas sintáticas, lexicais e fonéticas 
desviantes, transformando as aulas de português em ensino da gramática normativa. 
A grande função do professor era corrigir o "português errado".
A ciência ajuda 
Novas investigações sobre os fenômenos psico e sócio-linguísticos, a psi-
cogênese da escrita e os processos de aprendizagem, etc. determinaram mudanças 
profundas na visão do que deve ser a prática de professores de português nos diversos 
níveis de escolaridade.
No citado artigo, Josué Machado alude negativamente ao que considera uma 
"sobrecarga de informações teóricas e nomenclaturas linguísticescas" que resultariam 
"num formidável caos teórico, capaz de confundir o professor comum". 
Para ele, dentre as teorias linguísticas, apenas a desenvolvida por Noam 
Chomsky contribuiria realmente a uma maior e� ciência escolar. Para essa última, 
todo "falante sabe instintivamente sua língua e só precisa ser ajudado a desenvolver-
-se nela por meio de prática e de exercícios agradáveis".
As grandes questões postas pelo artigo, a exclusividade dada pela escola à 
variedade culta do português e a discriminação das formas linguísticas populares, 
não envolvem apenas os processos de aprendizagem da sintaxe estudados por 
Chomsky. Também englobam múltiplos outros componentes de ordem linguística, 
sociológica, histórica, pedagógica, etc. 
Língua para uso
De um ponto de vista psicolinguístico, Josué Machado tem razão. Foi 
essencial o reconhecimento que todo ser social possui competência linguístico-
-comunicativa e gramática intuitiva, interior, mesmo sem jamais ter frequentado 
a escola. Por si só, esse reconhecimento põe � m à ideia que a escola deve "ensinar" 
a língua materna.
Mas, contrariamente à opinião do autor, a Linguística pode e deve contri-
buir muito mais à prática dos professores de português. Sobretudo, deve ensejar a 
compreensão de que a língua constitui um instrumento de comunicação destinado 
a cobrir uma grande diversidade de necessidades humanas – comunicação racional, 
afetiva, argumentativa, informativa, etc.
Essa compreensão permitirá que o professor de português não caia na 
tentação de transformar as aulas de expressão linguística em lições de ortogra� a, 
de gramática normativa ou, o que é pior, de nomenclatura linguística e enfatize, 
ao contrário, o desenvolvimento da competência textual dos alunos, para o maior 
número possível de necessidades comunicativas e discursivas. 
Os avanços alcançados nos estudos de Linguística Social podem igualmente 
contribuir – e já contribuem em larga medida – para a resolução da questão da 
19
Unidade 1
Relação entre
Língua e Sociedade
variação linguística na sala de aula. Apesar da tendência da escola e da sociedade de 
apresentarem a língua como organismo monolítico e natural, ela é uma construção 
social e histórica, com vínculos essenciais com a formação social de seus locutores.
 O essencial e o acessório
O fato que as divisões e con� itos de toda ordem – socioeconômicos, socio-
culturais, de gerações, de gênero, etc. – materializam-se e manifestam-se plenamente 
na língua, de forma explícita ou implícita, comprova o seu caráter social e histórico.
É também preciso enfatizar que todos os elementos que compõem a estru-
tura das línguas, fazendo delas e� cientes instrumentos de comunicação social, não 
têm a mesma importância. Alguns de seus componentes, como os fonemas, têm 
papel secundário nos processos de signi� cação, essência da linguagem e das línguas 
naturais nas quais se manifesta. 
O mesmo pode ser dito das unidades de nível imediatamente superior, os 
morfemas, cuja função é indicar modi� cações de número, de gênero, de pessoa 
ou diferenciar palavras pertencentes a categorias gramaticais diversas – um verbo 
de um substantivo, por exemplo. É através de unidades maiores – os enunciados 
e as palavras que os compõem – que se dá a signi� cação dos intercâmbios verbais.
Portanto, compreende-se que as manifestações mais visíveis da variação 
linguística apareçam precisamente nos fonemas e morfemas, elementos da língua 
que interferem menos nos processos de construção do sentido, não interferindo, 
assim, no processo de intercompreensão. 
Onde se 
 xa o estigma
Não atrapalha a comunicação a confusão entre a lateral [l] e a vibrante [r] em 
palavras como garfo – galfo; solvente - sorvente; voltar – vortar; etc. Não difi culta 
o entendimento a substituição da fricativa [v] pela oclusiva [b] em vassoura – bas-
sora. O mesmo pode ser dito da troca do morfema de primeira pessoa do plural no 
presente e passado dos verbos de primeira conjugação: amos – emo, etc.
A repressão, discriminação e correção sistemáticas dessas variantes justi� -
cam-se apenas do ponto de vista – estético – da variante dominante, e não a partir 
de critérios linguístico-comunicativos. Portanto, não são práticas necessárias nem, 
o que é mais grave, inocentes e sem consequências. 
Em teoria, qualquer criança, locutora de uma variedade de português não 
padrão, é perfeitamente capaz de aprender as variantes fonológicas e morfológicas 
padrão, como aprenderia uma língua estrangeira, próxima de sua língua-mãe. 
O problema está no enaltecimento das variantes cultas pela escola, atribuin-
do-lhes uma natureza que não possuem: comunicar melhor do que as variantes não 
padrão; possuir valores estéticos, identitários e patrióticos, etc. superiores – como 
se a troca do [lh] de "� lho" por um [i] diminuísse a brasilidade do locutor. 
O consenso em relação à necessidade para a escola de eleger como língua 
de ensino apenas a variedade linguística praticada sobretudo pelas camadas econô-
mica, política e culturalmente dominantes, é também alimentado por julgamentos 
preconceituosos e depreciativos emitidos por indivíduos que gozam de prestígio 
social, muitas vezes desprovidos de más intenções. 
Licenciatura em Letras
Língua Portuguesa
modalidade a distância20
O papel da escola
Ao estigmatizar variantes linguísticas não prejudiciais à comunicação, 
valorizadas e utilizadas majoritariamente por comunidades populares, a escola 
enseja di� culdades de aprendizagem e contribui para a perda da auto-estima e a 
insegurança linguística dos alunos. 
A repressão linguística é igualmente caminho para a repressão social e cidadã. 
Ela contribui para a reprodução das desigualdades sociais. Um locutor que é levado a 
desprezar o falar seu e de sua comunidade, tende a desprezar-se e a sua comunidade.
A essência da linguagem verbal não está nos elementos fônicos e mór� cos, 
mas na possibilidade de construção do sentido, realizada sobretudo através da 
palavra, do enunciado, do texto, do discurso, elementos também embutidos das 
concepções de mundo dos locutores. 
Ao defender a legitimidade e superioridade da variedade linguística padrão 
e rejeitar a prática de um "multilinguismo nacional", muitos professores, em geral 
desconhecedores das consequências de suas práticas, contribuem para o estabele-
cimento da hegemonia das visões de mundo das elites, participando aos processos 
de uni� cação e uniformização ideológica, política e cultural da sociedade. 
A prática do xibolete
Não se trata de deixar simplesmente os alunos das classes populares utili-
zarem suas variedades linguísticas, sem introduzi-los ao uso da chamada norma 
culta. A função da escola é sobretudo ajudar a criança a compreender a realidade 
material, social e espiritual, com suas contradições e sua variedade, para que possa 
atingir sua emancipação individual e coletiva. 
Com sua diversidade e suas potencialidades, a língua faz parte da realidade 
social, construída pelos seres humanos para os seres humanos. Oensino da língua 
materna deve sobretudo ensejar que as crianças compreendam a estrutura, o fun-
cionamento, as funções da língua – instrumento de comunicação –, com todas as 
suas variedades, sociais, regionais e situacionais.
A escola deve ser espaço emancipatório. Portanto, não pode utilizar-se de 
práticas de dominação. Para não fortalecer interpretações apologéticas sobre a língua 
e perpetuar a discriminação social, deve mostrar que todo preconceito linguístico 
apoia-se num preconceito social. 
No Antigo Testamento, o livro dos Juízes relata um episódio da história de 
duas tribos de Israel, os guileaditas e os efraditas, que praticavam línguas muito 
próximas. Em ocasião de uma guerra, para impedir que seus então inimigos, os 
efraditas, atravessassem o rio Jordão, os guileaditas os obrigavam a pronunciarem 
a palavra "Xibolet" ('espiga'). 
Incapazes de expressar-se com perfeição no padrão superior da língua de 
Guilead, os efraditas diziam 'Sibolet', pois tinham uma fricativa sibilante [s] no lugar 
da fricativa chiada [ch]. Devido a essa variante fonética, "morreram quarenta e dois 
mil dos de Efraim" [Bíblia sagrada. Lisboa: Sociedade Bíblica de Portugal, 2001: p. 
262]. No Brasil de hoje, simples variantes fonéticas servem também para justi� car 
21
Unidade 1
Relação entre
Língua e Sociedade
a discriminação social, e portanto, a dominação política e econômica, pelas elites, 
da imensa maioria das classes trabalhadoras.
Por florence carboni
Ítalo-belga, é doutora em Liguística pela Université Catholique de Louvain, 
Bélgica, e professora do Curso de Letras da UPF, RS, Brasil. 
Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/023/23ccarboni.htm
PARA REFLETIR
• Você concorda com o ponto de vista defendido no texto “Fale que te direi 
quem és”? Por quê? 
• O que você entende por prática do xibolete?
• Qual a sua avaliação sobre os escorregões que o Presidente Lula apresentou 
em alguns discursos?
• Você acha que o modo de falar do Presidente o envergonha, afeta sua credibi-
lidade ou lhe subtrai respeito?
• Você ri quando uma pessoa usa uma variante linguística diferente da sua? Em 
caso positivo, por que o faz? Considera isso preconceito?
Essas questões não esgotam as possibilidades de re� exão sobre o texto. Pense em 
outras questões que poderiam ser exploradas e as apresente à turma para discussão. 
Fizemos a leitura e discussão do texto “Fale que te direi quem és”? Agora, passe-
mos ao vídeo sobre a diversidade linguística no Paraná. Depois da assistência, poste suas 
impressões e opiniões no fórum.
bibliografia
básica
tarallo, Fernando. Tempos Linguísticos: Itinerário histórico da língua portuguesa. 2 ed., São 
Paulo: Editora: Ática, 1994.
labov, William. On the use of the present to explain the pas. In: L. Heilmann (ed.). Proceedings 
of the 11th International Congress of Linguistic, Bologna: II Mulino, 1982.
labov, William . Sociolinguistique. Paris: Édition de Minuit.1976.
complementar
aguilera, Vanderci. Atlas Linguístico do Paraná. Universidade Federal do Paraná, 1994. 
camara jr., j. Matoso. Dicionário de Linguística e Gramática: referente à língua portuguesa. 
13 ed., Petrópolis: Vozes, 1996.
hora, Dermeval. (Org.) Diversidade Linguística no Brasil. João Pessoa: Ideia, 1997. p. 131-140.
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Língua Portuguesa
modalidade a distância22
resumo da atividade 1
Nesta Atividade, iniciamos o estudo da relação entre língua e sociedade. Apresentamos 
um conjunto de materiais que focalizam a diversidade e a diversidade linguística. Vimos 
que as pessoas não falam de forma uniforme e que as diferenças encontradas nos diferen-
tes falares do Brasil estão diretamente ligadas à relação que há entre língua e sociedade. 
Concluímos que as diferenças estão relacionadas à identidade e que a maneira como as 
pessoas falam identi� cam-nas como pertencentes a determinados grupos. Isso revela 
também que a diversidade linguística é uma forma de identi� car não apenas o indivíduo 
que fala, mas o grupo que esse indivíduo representa quando fala. 
23
Unidade 1
Relação entre
Língua e Sociedade
UM BREVE HISTÓRICO
DO TRATAMENTO DADO 
À VARIAÇÃO E À MUDANÇA
LINGUÍSTICA
a t i v i d a d e 2
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modalidade a distância24
objetivos
Ao � nal desta atividade, você deverá:
- compreender as diferentes abordagens dadas ao estudo da variação e da mudança 
linguísticas;
- apontar as diferenças entre as diferentes abordagens da variação e da mudança lin-
guísticas;
- apontar pontos fortes e fracos das diferentes abordagens dadas à variação e à mudança 
linguísticas.
Como dissemos anteriormente, a mudança linguística não se constitui objeto 
recente de investigação. Há muito, diversos estudiosos da língua se interessaram em es-
tudar esse fenômeno utilizando-se de olhares diferentes sobre a língua com a � nalidade 
de saber o que causava a mudança. Entretanto, a pergunta direta Por que mudam as 
línguas? – de resposta fácil, poder-se-ia pensar – é, na verdade, uma pergunta que exige, 
como diz Katz (1982), ao discutir o que é signi� cado, não uma resposta direta, simples, 
mas uma teoria a respeito da variação e da mudança linguísticas.
ANOTE
na Unidade ii, estudaremos detalhadamente os pressupostos 
teóricos metodológicos da Teoria da Variação.
Esse empreendimento teve como precursor, na década de 60, William Labov (cf. 
calvet, 2002). Entretanto, muitos outros autores que escreveram antes de Labov (1966) 
levantaram questões pertinentes que ajudam a re� etir sobre esse fenômeno linguístico 
e a relação entre língua e sociedade. Antes, vamos ver como outros abordaram o estudo 
da variação e da mudança linguísticas.
método histórico-comparativo
Conforme foi dito anteriormente, foram diversas as perspectivas adotadas para o 
estudo da mudança linguística. Os primeiros investimentos nesse estudo tinham como 
objetivo saber como uma dada língua se desdobrava em outras línguas, os fenômenos 
comuns às línguas no sentido de se conhecer os motivos que faziam com que as línguas 
variassem. Assim, a evolução e a mudança das línguas, nos termos dos estudos históricos, 
foram durante muito tempo objeto de estudo dos historiadores das línguas. Nesse período, 
25
Unidade 1
Relação entre
Língua e Sociedade
priorizou-se o estudo diacrônico – ou a descrição de uma língua ao longo de sua história, 
especi� cando-se as mudanças que sofreu – cujos seguidores se voltavam sobre dados de 
línguas antigas. Esses historiadores comparavam dados, a � m de reconstruir a língua-mãe.
a posição neogramática
No século xviii, a teoria de Darwin veio trazer status cientí� co ao estudo da 
mudança linguística. Para os adeptos dessa perspectiva, “as línguas não evoluíam pela 
aplicação aleatória das regras; mudavam em virtude da ‘lei da selva’; no fi nal de cada 
mudança triunfava a con� guração linguística que fosse mais apta e natural” (marqui-
lhas, 1996, p. 566). Trata-se das regularidades fonéticas. Assim, surgem, na Alemanha, 
as leis fonéticas paralelas às ciências naturais. Os neogramáticos acreditavam que essas 
leis não apresentavam exceção. Ora, não se podia admiti-las sob pena de que a língua se 
constituísse um objeto que não poderia ser estudado cienti� camente. 
Na perspectiva dos neogramáticos, as mudanças deveriam ser explicadas levando-se 
em consideração o aspecto � siológico e o psicológico. Para eles, a mudança sonora era 
mecânica e não admitia exceções. Porém, a analogia poderia se constituir a causa da mu-
dança; a tendência a associações realizadas pelas pessoas seria responsável pelas exceções. 
A analogia, grosso modo, seria um processo no qual as formas modi� cadas ou criadas 
tinham como base padrões preexistentes no sistema. Assim, constituía-se um processo 
gramatical, mas não fonológico, pois o princípio da regularidade fonológica não admitia 
exceções. Por outro lado, a mudança poderia ser re� exo de desvios constantes, quando 
da articulação de um som. Muito timidamente, esses estudiosos tambémlançaram mão 
do contato entre línguas para explicar algumas exceções. Os neogramáticos levaram às 
últimas consequências a defesa à analogia, utilizando-a abusivamente para explicar as 
exceções, o que lhes rendeu muitas críticas. 
abordagem estruturalista
Segundo os estruturalistas, a mudança é necessária. Para eles, a mudança na ma-
téria fônica não altera a oposição das unidades distintivas, o que não se constitui de todo 
verdade, pois é sabido que algumas formas sofrem transformações e usos que alteram, 
inclusive, seu signi� cado. O desequilíbrio é visto como causa da mudança e essa como 
busca do equilíbrio. Essa oscilação no sistema, por sua vez, não deveria ser atribuída a 
condicionamentos de ordem social. 
Estruturalistas como Bloom� eld (1933), Hjelmeslev (1971) e Chomsky (1965), por 
exemplo, diferenciavam-se em relação às descrições que propunham para a estrutura 
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modalidade a distância26
linguística, mas eram unânimes no que se referia a conceber seu objeto de estudo como 
uma estrutura abstrata. Para os estruturalistas, a interpretação linguística tinha de se 
pautar sobre relações internas, fatores estruturais internos. Isso exclui o estudo do 
comportamento social, em outras palavras, o estudo da fala.
Hjelmeslev (1971, p. 30-31) assinalava que a preocupação da linguística estrutural 
devia ser pautada nas relações internas da língua:
La linguistique structurale étudie le langage pour en dégager la partie essentielle, qui 
est, selon l’ hypothèse, une entité autonome de dependences internes (...) La linguistique 
structurale n’approche pas du langage du dehors, mas du dedans. Elle y reste, tout en 
tenant compte de ses rapports extérieurs.
ANOTE
Isso não signi� ca dizer que a linguística estrutural não teve 
seu lugar dentro da linguística variacionista, pois Labov (1976) 
recorre à linguística estruturalista de Praga e, posteriormente, 
à Gramática Gerativa, quando de suas descrições linguísticas.
geografia linguística e difusão lexical
A visão da Geogra� a Linguística opunha-se ao pressuposto neogramático de que as 
leis fonéticas não apresentam exceções, assim como ao seu caráter gradual. Enquanto os 
neogramáticos defendiam o pressuposto de que a mudança fonológica era foneticamente 
gradual e lexicalmente abrupta, os defensores da difusão lexical, baseados na ideia de que 
cada palavra tem sua história, acreditavam que a mudança era lexicalmente gradual e 
foneticamente abrupta. Para eles, o fato de as palavras terem histórias diferentes justi� cava 
as irregularidades. Assim, um caso de irregularidade poderia ser explicado pela ocorrência 
de duas mudanças fonológicas regulares e não pela ação da analogia. 
Os estudos de Dialetologia, o� cialmente divulgados na França, a partir de Julles 
Guilliéron (1918), tiveram por objetivo identi� car as formas lexicais sobreviventes em 
cada dialeto. Nessas formas encontraram-se motivos para se acreditar que não só as 
regularidades fonéticas eram responsáveis pela coexistência de algumas formas num 
mesmo dialeto, mas que essa coexistência poderia estar ligada a fatores de ordem social. 
Surge, anos depois, por volta da década de 60, a Sociolinguística, tendo como 
um dos precursores William Labov, para quem a mudança num determinado sistema 
linguístico resulta sempre de um período de variação no qual coexistiam formas que 
“lutavam entre si”. 
Como vimos, as diferentes abordagens da variação e da mudança linguísticas 
não admitiam a interferência de fatores externos, sociais, sobre esses fenômenos. Ou se 
27
Unidade 1
Relação entre
Língua e Sociedade
admitiam, faziam-no muito timidamente. Não era considerada a relação entre língua e 
sociedade. Entretanto, com o advento dos estudos variacionistas, a abordagem do fenô-
meno mudou, inclusive a natureza dos dados sobre os quais se pautava a análise, como 
veremos mais adiante. 
Agora que estudamos diferentes abordagens dadas ao estudo da variação e das 
mudanças linguísticas, passemos ao estudo mais detalhado da abordagem que considera, 
impreterivelmente, a relação entre o linguístico e o social. Iniciaremos, focalizando a 
complexidade que envolve esse estudo. 
mudança linguística e sua complexidade
A mudança linguística, diga-se, foi desde muito tempo concebida como uma 
transgressão à forma considerada padrão. Marquilhas (1996) faz referência a um mito 
brahmana no qual se dizia que o povo usura era privado de linguagem correta, pois apre-
sentava língua bárbara que não se devia imitar. Usavam as he lavo e he lavar, variantes 
das formas sânscritas consideradas padrão he rayo, he rayah, respectivamente.
A mesma autora (op. cit.) atribui a Sócrates um enunciado em que a evolução dos 
sons é considerada como afastamento condenável da língua padrão. Esse olhar estigma-
tizante sobre a língua pode ser encontrado mesmo em um dos nossos grandes � lólogos, 
a saber, Melo (1981), que avalia a variação linguística como própria dos incultos que 
descaracterizam a língua pura. Como se apenas esses fossem os responsáveis pela variação 
e pela mudança na língua. 
ANOTE
estudos realizados no Brasil com falantes de língua culta revelam que esses 
usuários apresentam em sua fala muitas variações linguísticas. Não há quem 
use variações na língua. Mesmo o falante mais conhecedor da norma culta usa 
variantes ditas não cultas em seu falar.
Muitos dos estudos realizados a partir das mudanças que ocorreram no latim 
ajudam a compreender melhor as regularidades fonológicas. Entretanto, há que se fazer 
referência a outros fatores que contribuem para que a mudança linguística aconteça, 
pois mesmo as mudanças mais regulares deixam espaço para as exceções. Nem sempre 
a con� guração que parece mais simples e natural é adotada pelos falantes de uma língua. 
De outra parte, parafraseando Labov (1976), não há nada que comprove que as formas 
estigmatizadas, as quais se opõem ao padrão culto, sejam mais fáceis de ser pronunciadas 
do que as formas consideradas de prestígio. Isso enfraquece a hipótese segundo a qual a 
variação e a mudança linguísticas estariam diretamente relacionadas ao menor esforço.
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modalidade a distância28
A constante oscilação nos sistemas linguísticos e a mudança que neles se veri� ca 
levam a inferir que a língua não é homogênea. As mudanças fonológicas e fonéticas não 
são de todo regulares, o que convoca a interferência de outros fatores que justi� quem 
tais mudanças. Em alguns casos, há mudanças que se proliferam em uma determinada 
forma lexical, podendo-se estender a outras formas muito frequentes e, posteriormen-
te, mesmo àquelas menos frequentes, afetando, depois de algum tempo, praticamente 
todas as formas lexicais nas quais se encontre contexto. Esse princípio foi formulado 
por Guilliéron (1918). Para ele, cada palavra tem uma história. Tudo isso aponta para a 
complexidade da mudança linguística.
SAIBA MAIS
para mais detalhes a respeito de estudos sobre língua culta, consulte 
Projeto nurc, http://www.� ch.usp.br/dlcv/nurc/index.html.
sociolinguística variacionista 
Segundo Labov (1976), as irregularidades linguísticas devem ser estudadas levando-
-se em conta as oscilações da estrutura social, dada a relação direta que há entre língua 
e sociedade. Esse tipo de procedimento já pode ser encontrado no trabalho desse autor, 
publicado em 1966. Trata-se de um estudo em que utilizou os dados de fala de lojas de 
departamento nova-iorquinas para descrever a estrati� cação social do (r), mostrando, 
por meio de dados retirados de situações concretas, a relação entre a estrutura linguís-
tica e a estrutura social. Outro estudo que teve grande signi� cado para o fortalecimento 
da Sociolinguística foi Sociolinguistics Patterns, cuja primeira publicação aconteceu em 
1972. A partir daí, foram inúmeros os trabalhos que levaram em consideração a estrutura 
interna e a externa no estudo da língua. 
Um dos pressupostos básicos da Sociolinguística é que toda variaçãoe mudança 
linguísticas são motivadas por fatores de natureza linguística e social. Não se pode, assim, 
atribuir uma dada variação só à in� uência de um ou de outro fator. Deve-se considerar 
a atuação concomitante de fatores internos e externos sobre a língua.
DICA
há alguns fenômenos cuja variação, inicialmente, parece estar diretamente 
ligada à estrutura interna, fato que poderá levar a que se pense que essa 
estrutura seria su� ciente para explicar a variação. Mas, como se verá adiante, 
há uma correlação de forças internas e externas que motivam e estruturam 
os diferentes processos de variação. Segundo Labov (1972), as forças internas 
e externas alternam sua pressão sobre os diferentes fenômenos de variação 
e de mudança linguísticas. 
29
Unidade 1
Relação entre
Língua e Sociedade
Para Labov (1976), é apenas aparente a desorganização que resulta da variação 
linguística, pois as variações e mudanças na língua são sistemáticas, previsíveis e regulares. 
Para o autor (op. cit.), o tipo de convivência entre as diferentes variantes pode indicar em 
que sentido caminha a mudança, a partir da avaliação da probabilidade correspondente 
a diferentes grupos sociais. A renda � nanceira, o gênero, a idade são alguns dos indica-
dores da direção da mudança linguística, do seu caráter estável ou de progressão. Labov 
(1976) apresenta duas possibilidades por meio das quais se pode medir o estágio de uma 
mudança. O autor propõe o estudo em tempo aparente e em tempo real.
SAIBA MAIS
para mais informações sobre pesquisa em tempo real e em tempo 
aparente, consulte texto disponível em http://www.vertentes.u� a.br/
a-teoria-da-variacao-linguistica
A Sociolinguística guarda, sem dúvida, relação com a Gramática Histórica e com a 
Dialetologia, pois está interessada na mudança linguística. Cabe, entretanto, ressaltar que, 
como diz Wetzels (2002), ela não se interessa pelo produto da mudança, mas pelo próprio 
processo de variação, que pode resultar em mudança linguística. É possível, a partir dessa 
perspectiva, apontar as tendências, ou seja, a direção que segue a mudança linguística. 
Essa problemática amplamente discutida pelos sociolinguistas pode ser, ainda que 
timidamente, encontrada no trabalho de Sapir (1921). Esse autor explica que a mudança 
linguística pode caminhar em diferentes direções, mas obedece a uma deriva linguística, 
ou seja, a variação e a mudança em uma determinada língua não se dão aleatoriamente, 
mas seguem determinadas tendências. Essas, do ponto de vista sociolinguístico, são 
motivadas linguística e socialmente.
Sapir (1921) não chega a tratar diretamente de fatores de ordem social, mas tan-
gencia outro ponto importante que é a diversidade motivada pelo espaço geográ� co. Não 
se pode esquecer que o espaço é também um fator de ordem social, sendo, por sua vez, 
um condicionador social. A unidade e diversidade dentro de um determinado espaço 
geográ� co estão ligadas a relações sociais.
Outro autor merece ser citado quando se trata de considerar a língua como fato 
social: Meillet (1921). Nas palavras de Calvet (2002), diferentemente de Sausssure (1921), 
que também a� rmava ser a língua um fato social, Meillet (op. cit.) considerava que se devia 
levar em consideração, quando do estudo linguístico, a parte externa dos fatos da língua. 
Entretanto, sua argumentação, ao defender esse ponto de vista em termos práticos, não 
foi muito convincente. Apesar de reconhecer que o estudo da linguagem deveria levar em 
consideração o contexto social, ateve seus estudos principalmente à investigação de línguas 
mortas para � ns de comparação. Isso o fez distanciar do pressuposto sociolinguístico que 
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modalidade a distância30
prevê o estudo da língua a partir de dados colhidos de situações concretas. Porém, sua 
discussão a respeito de se considerar o contexto social na abordagem linguística foi de 
suma importância para discussões posteriores da sociolinguística. 
Vamos parar por aqui, pois o detalhamento sobre a Teoria da Variação e sobre a 
Sociolinguística será realizado na Unidade ii. Antes, porém, precisamos entender o que 
é uma teoria. É por esse tema que iniciaremos a Atividade 03.
bibliografia 
básica
tarallo, Fernando. Tempos Linguísticos: Itinerário histórico da língua portuguesa. 2 ed., São 
Paulo: Editora: Ática, 1994.
labov, William. Sociolinguistique. Paris: Édition de Minuit.1976.
marquilhas, Rita. Mudança Linguística. In: Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. 
farias, Isabel Hub et al. (Org.). Lisboa: Editora Caminho, 1996, p. 563-588. Série Linguística.
complementar
aragão, Maria do Socorro & menezes, Cleusa P. Bezerra. Atlas Linguístico da Paraíba: cartas 
léxicas e fonéticas. Brasília: ufpb/cnpq - Coordenação Editorial, 1985.
labov, William . Principles of Linguistc Change. Oxford: Blackwell Publishers, 1994.
labov, William. � e social strati� cation of English in New York city. Washington: Center of 
Applied Linguistics, 1966.
resumo da atividade 2
Nesta Atividade, apresentamos um breve histórico do tratamento dado à variação e à mu-
dança linguísticas. Estudamos a abordagem dada aos fenômenos pelo Método Histórico-
-Comparativo, pelos Neogramáticos, pelo Estruturalismo, pela Geogra� a Linguística, pela 
Difusão Lexical e pela Sociolinguística Variacionista. Estudamos também a mudança lin-
guística e sua complexidade, mostrando que o estudo desse fenômeno não é recente, mas 
antigo e muito complexo. Concluímos que a variação e a mudança não são concebidas de 
maneira uniforme. A depender da abordagem, elas são entendidas de forma diferente. No 
entanto, há de comum entre as diferentes abordagens apresentadas o fato de que o objeto 
da linguística sempre foi a estrutura interna da língua, excetuando-se a sociolinguística.
31
Unidade 2
Teoria da Variação
TEORIA
DA VARIAÇÃO
u n i d a d e 2
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modalidade a distância32
33
Unidade 2
Teoria da Variação
TEORIA E VARIAÇÃO:
DEFININDO CONCEITOS
a t i v i d a d e 3
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modalidade a distância34
objetivos
Ao � nal desta unidade, você vai poder:
- entender o conceito de teoria e da teoria linguística;
- compreender o conceito de variação em geral e de variação na/da língua;
- identifi car os mecanismos que regem a variação linguística;
- compreender os métodos científi cos de uma descrição sociolinguística;
- compreender como a Teoria da Variação reavaliou alguns princípios da teoria 
estruturalista e gerativista.
teoria e variação: generalidades 
Antes de abordarmos a questão da teoria da variação, temos que estudar esses dois 
termos: “teoria” e “variação”.
O que é teoria 
A palavra “teoria” signi� ca um número de coisas diferentes, dependendo do contex-
to. Em matemática e ciências, por exemplo, uma teoria é um conceito usado para explicar 
um fato. Para estudantes das artes, “a teoria” refere-se ao aspecto não-prático do seu tra-
balho, enquanto os leigos a tratam como ideias não comprovadas, frutos de especulação.
As diferentes interpretações desta palavra podem levar a con� itos, mas o seu ob-
jetivo é geralmente claro dentro de seu contexto. 
O termo “teoria” data de 1592 e foi usado para se referir a ideia de um conceito ou 
esquema. Na década de 1630, os cientistas usaram o termo para descrever uma explicação 
ou um pensamento baseado em observação e comprovação. O termo “teorizar” também 
emergiu nessa época.
Nas artes, muitos se referem a um trabalho não-prático como um trabalho teórico. 
Por exemplo, um músico que toca a tuba (instrumento musical) consideraria o estudo 
da história da música, a matemática da música, e outros, como teoria. A crítica da arte 
é também um campo da teoria pelo fato de os críticos discutirem a obra de arte, em vez 
de produzi-la ativamente. Em decorrência das discussões na crítica da arte, compõe-se 
a teoria da arte.
Para leigos, uma teoria é simplesmente uma ideia. Algumas pessoas usam “teoria”no sentido de “hipótese”, ou seja, uma ideia a ser testada. Em outros momentos, uma ideia 
pode ser descartada por constituir “somente uma teoria”, tomando-se “teoria” como algo 
que não pode ser comprovado, como uma “ideia vaga”, não um fato � rme ou uma opinião.
35
Unidade 2
Teoria da Variação
ANOTE
Num sentido geral, então, o termo “teoria” é uma explicação bem 
substanciada de algum aspecto do mundo natural; um sistema organizado 
do conhecimento que se aplica em várias circunstâncias para explicar 
fenômenos especí� cos. É importante destacar que toda teoria pode 
incorporar fatos, hipóteses e leis.
Princípios, axiomas e leis 
O desenvolvimento de uma teoria baseia-se em proposições ou princípios. Existem 
dois tipos de princípios aqui: princípios teóricos, necessários ao desenvolvimento de um 
raciocínio dedutivo, e princípios de ação, essenciais à implementação de uma prática. Um 
princípio é uma primeira proposição sobre o que é ou o que fazer. É a regra inicial para 
uma descrição, uma explicação de uma lei ou norma. 
Se, por exemplo, tomarmos como base a linguística, podemos dizer que um dos 
seus princípios fundamentais pode ser formulado assim: toda língua humana tem uma 
gramática (fonética, sintaxe e semântica), única, diferente de qualquer outra lingua. Ou 
ao contrário: todas as línguas humanas são regidas pelas mesmas regras básicas. 
Ao considerar o primeiro desses princípios, o linguista descreve e analisa as parti-
cularidades de uma língua ou línguas, estabelecendo, quando possível, comparações. Foi 
assim na linguística histórica ou na linguística puramente descritiva. Adotando o segundo 
princípio, o linguista procura descobrir operações universais em cada língua para mostrar 
como elas se manifestam. Nesse caso, estaríamos diante de uma linguística explicativa. 
O princípio não deixa de ser um tipo de hipótese a ser validada. Em algumas áre-
as, como a matemática, prefere-se o termo axioma (veremos adiante alguns axiomas da 
sociolinguística).
SAIBA MAIS
para mais detalhes sobre o tema, consulte 
http://www.biblioconcept.com/textes/principe.htm.
variação 
Antes de falarmos da Teoria da Variação em linguística, ou variação linguística, 
precisamos entender o conceito de variação e, em particular, as causas comuns e especiais 
da variação. 
A variação tem sua origem em causas comuns e especiais. Imagine quanto tempo 
você leva para chegar ao trabalho, pela manhã, de carro. Digamos que você leva 30 minutos 
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modalidade a distância36
em média. Às vezes, esse tempo pode ser mais longo ou mais curto. Mas enquanto você 
está dentro de certa variabilidade desse tempo, você não � ca preocupado, pois ela está 
praticamente dentro do esperado. Por exemplo, esse tempo pode variar entre 25 e 35 
minutos para mais ou para menos. Essa variação é chamada de variação de causa comum. 
É a variação que está sempre presente no processo. Esse tipo da variação é consistente 
e previsível. Você não sabe quanto tempo leva até o trabalho, mas você sabe que estará 
entre 25 e 35 minutos enquanto o processo permanece o mesmo.
Agora, suponha que o pneu do seu carro furasse no caminho, quanto tempo levaria 
até seu trabalho? De� nitivamente, mais do que os 25 ou 35 minutos usados na sua variação 
“normal”. Poderia gastar, talvez, uma hora a mais. A variação dessa natureza é chamada 
de variação de causa especial, ou seja, algo aconteceu; não era previsto; não fazia parte do 
processo normal. As causas especiais não são previsíveis e são esporádicas na natureza. 
Mas você pode estar se perguntando: por que é importante saber o tipo de variação 
presente no processo? Pelo simples fato de que a ação que você toma para melhorar o 
processo depende do tipo de variação que você tem1. Essa discussão vai nos ser útil, mais 
a diante, quando nos reportarmos aos fatos da língua, tipos de variações linguísticas que 
foram descritas e analisadas e as usarmos para � ns educacionais. 
Vamos agora nos debruçar sobre a questão da variação e sua relação com a língua 
e a sociedade. A investigação dessa relação resultou numa disciplina chamada de socio-
liguística (termo que apareceu primeiro em 1939 segundo Hodson(2004)2 que retomou 
os princípios subjacentes à teoria linguística e desenvolveu uma teoria da variação – ou 
teoria da mudança – linguística.
SAIBA MAIS
para mais detalhes sobre a discussão de teoria, consulte 
http://www.wisegeek.com/topics/theory.htm
exercício 1
Em dupla ou individualmente, responda as seguintes questões, tomando por base as 
disciplinas que já cursou ou fazendo uma pesquisa bibliográ� ca.
1) Quais são as teorias linguísticas que você conhece?
1 http://www.spcforexcel.com/variation 
2 T. C. Hodson and the Origins of British Socio-linguistics by John E. Joseph Sociolinguistics Symposium 15, 
Newcastle-upon-Tyne, April 2004
37
Unidade 2
Teoria da Variação
2) Faça uma pesquisa rápida na internet ou na sua biblioteca e cite alguns exemplos de 
teorias linguísticas.
3) Quais critérios conferem o título de teoria à linguística?
4) É possível teorizar sobre algo que varia? Por quê?
variação na língua: a relação entre língua e sociedade
Nessa secção, abordaremos a questão da variabilidade na língua. Veremos que para 
uma teoria da língua obter tal título, precisa levar em consideração a estrutura externa 
complexa do falante (fatores sociais, por exemplo) e a estrutura complexa do produto 
verbal e não verbal desse falante. Sendo assim, se queremos ter uma teoria da variação é 
preciso, antes de tudo, situar o falante nos seus vários ambientes de interação; acompanhá-
-lo por meio de vários mecanismos de observação (técnicas de observação, de pesquisa de 
campo etc.); situá-lo em relação ao espaço geográfi co, sociológico, psicológico, político etc; 
analisar seu produto linguístico nesse contínuo externo para poder descrever cienti� ca-
mente a sua fala, a fala do seu grupo e/ou grupos (comunidade/s) dentro de um formato 
em que o conceito de variação é visto como uma riqueza que ultrapassa os conceitos de 
norma para atingir o conceito de variabilidade.
Vamos acompanhar esse percurso para alcançarmos o conceito da variação 
linguística?
A variação na língua que só foi estudada cienti� camente no � nal do século 19 e 
mais intensamente nos meados do século 20 já era objeto de estudo da biologia (natureza 
dos seres vivos), da antropologia (cultura do homem e suas variações). Os biólogos, por 
exemplo, já estudaram e estudam na natureza as variações dos insetos, dos animais, das 
plantas etc. Também estudaram a variação do homem (homem mulher, jovem/adulto etc.). 
Os sociolinguistas estendem essa variação para o estudo da fala humana e seus efeitos 
sobre os processos de interação. Os antropólogos, além de estudar a variação na cultura do 
homem, estudaram as variações em relação às diferentes maneiras de se vestir, de andar, 
de cantar, de falar, de se relacionar com o tempo e o espaço.
Os sociolinguistas e os � lósofos da língua especializaram-se no estudo da língua 
em contexto. Essa perspectiva de integração do contexto nos estudos da língua mostrou 
o quanto é complexo o fenômenos que a língua engloba. Veja por exemplo, a de� nição 
de língua segundo Davidson (1992)3:
3 Davidos, D. � e Second Person. Midwest Studies In Philosophy Volume 17, Issue 1, pages 255–267, 
September 1992
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modalidade a distância38
“Todos falamos tão livremente de língua, ou línguas que tendemos a esquecer que es-
sas coisas não existem no mundo real; o que existe são apenas pessoas e seus diversos 
produtos acústicos e escritos. Esse ponto de vista, óbvio em si mesmo, é, no entanto, 
fácil de esquecer.”
Essa citação já nos alerta para o conceito “língua” cujo de� nição é considerada 
tão óbvia, mas que se torna um conceito mais complexo quando é estudado levando em 
consideração fatores como o espaço temporal, espacial, social, geográ� co, psicológico, 
econômico e político. 
PARA REFLETIRoutro termo bastante discutido na literatura que tem como tema 
o estudo da língua é o conceito de “língua materna” uma vez que 
as situações de bilinguismo tornam difícil de� nir o grau de natividade 
numa criança que fala duas línguas ao mesmo tempo.
Por que esses e outros conceitos foram questionados no início e, sobretudo, nos 
meados do século 20?
Antes do século 20 havia uma visão do mundo considerada totalitária ou prescriti-
va. Ela foi seguida por uma visão binária (preto vs branco, padrão vs não padrão, direita 
vs esquerda) que, posteriormente, evoluiu para uma visão multidimensional (global, 
contínuo, cidadão do mundo, variação e diversidade).
 Destacam-se entre os resultados dessa última visão, a multidimensional, os concei-
tos de desenvolvimento sustentável e biodiversidade, ecolinguística e direitos linguísticos, 
etc. Atualmente, na Sociolinguística, podemos falar, por exemplo, de ecologia da língua 
que vai além do conceito da variação linguística.
variação e mudança nas línguas
Não há consenso entre os especialistas sobre o número de línguas faladas no mun-
do. Esse número oscila entre 4.000 a 7.000 línguas. Mas você pode se perguntar: por que 
não há consenso?
Voltemos, de novo, à de� nição de língua que, como dissemos, não é um cons-
truto simples de de� nir e que, fundamentalmente, baseia-se sobre critérios externos ao 
sistema linguístico. O fato é que qualquer comunidade pode decidir sobre sua língua e 
denominá-la. Assim, os linguistas, apesar de tentarem aplicar critérios de comparação 
entre os sistemas que compõem essas línguas, não conseguem impor suas análises sobre os 
falantes dessas línguas. Isso monstra os fatores sociais, políticos e econômicos que têm mais 
39
Unidade 2
Teoria da Variação
impacto sobre as tomadas de decisões a respeito das línguas do que fatores meramente 
mecânicos de descrição pura dos sistemas dessas línguas. Assim, podemos dizer que a 
variação está por toda parte ao redor de uma língua ou grupos de línguas.
ANOTE
é possível de um ponto de vista puramente descritivo, por exemplo, 
instituir dialetos falados por várias comunidades linguísticas como integrantes 
de uma mesma língua. Mas os falantes desses “dialetos” não necessariamente 
aceitarão generalizações dessa natureza pois podem a� rmar que falam 
diferente de uma outra comunidades e por consequência decidir que tem 
uma língua diferente de uma outra comunidade não muito distante. 
Esse tipo de decisão se deve a fatores externos à língua como o fator étnico, 
religioso, geográ� co, social e político etc.
Hoje, estima-se que as línguas mais faladas do mundo não 
ultrapassam o número de 20. Dentre essas línguas estão, por exemplo, 
o inglês, o chinês, o árabe, o francês, o português. Elas só conseguem 
impor-se por motivos, principalmente, políticos, econômicos e sociais 
(por exemplo, o desenvolvimento cientí� co e econômico, o número 
de faltantes nativos, o grau de presença na imprensa etc.)
variação nas famílias de línguas
Vimos que existe uma variação no número de línguas faladas 
no mundo e o peso de algumas delas no cenário internacional. Podemos também falar 
de variação que existe dentro do que passou a ser chamado na literatura linguística de 
família de línguas.
Podemos, ao consultar livros sobre a história das línguas, observar o quanto o 
latim ainda é presente em todas as línguas ditas românicas e como ele é presente em 
línguas germânicas também (inglês, alemão etc.). Existe uma variação entre as línguas 
latinas como o português, o francês, o italiano, o espanhol etc. Essa variação diz respeito, 
primeiro, ao léxico, organização gramatical e fonologia. Podemos observar essa variação 
também na família de línguas germânicas (alemão, inglês...), ou na família de línguas 
semíticas (árabe, hebraico).
Variação dentro de uma língua
Na própria evolução de uma língua podemos ter variações:
• o inglês de Shakespeare em relação ao inglês moderno;
• o árabe clássico em relação ao árabe moderno;
COMUNIDADE LINGUÍSTICA
Uma comunidade linguística 
é vista não como um conjunto 
de indivíduos que falam uma 
mesma lingua, mas sim como 
um grupo de indivíduos que 
compartilham um conjunto 
de atitudes em relação ao uso 
e às funções que essa língua 
preenche na comunidade.
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modalidade a distância40
• o inglês britânico, australiano, nigeriano, sul-africano;
• o inglês como língua estrangeira (o inglês falado por um francês, brasileiro, 
japonês, etc.);
• o português do século 16 e o português moderno;
• o português do Portugal, Cabo verde, São Tome e Príncipe, Angola.
Variação dentro de um território nacional
• Canadá: duas línguas (inglês e francês) co-existem ofi cialmente gerando variações 
dentro de cada uma dessas línguas;
• Suécia: 3 línguas ofi ciais (italiano, o alemão e o francês); 
• Bélgica: 3 línguas ofi ciais (o neerlandês, o francês e o alemão); 
• Espanha: o castelhano, o catalã, o galego e o basco.
Esses e outros exemplos não mencionados aqui demonstram o quanto é variável a 
situação das línguas dentro do mesmo território político. As perguntas que seguem são 
validas para pesquisas sobre essa variabilidade: Quais são as consequências de contato 
entre essas línguas do ponto de vista de uso de mais de uma língua 
por mais de um falante? Quais são as in� uências mútuas que cada 
sistema linguístico importa e/ou exporta? Quais in� uências políticas 
uma língua pode exercer sobre outras línguas por razões econômicas, 
políticas e/ou sociais? 
Essas e outras perguntas estão dentro da chamada variação macro-sociolinguística 
que remete à disciplina sociologia da língua que, por sua vez, compartilha com a socio-
linguística objetivos semelhantes quando se trata de estudar a variação linguística, as 
variações sociais e suas consequências sobre a língua e a sociedade.
Variação no Brasil 
O português brasileiro convive com outras línguas que fazem parte da paisagem 
linguística do Brasil (línguas indígenas e línguas de imigrantes e suas diversidades). Estima-
-se que no Brasil existem 180 línguas além do português e das línguas de outros países 
(veri� que, por exemplo, na internet, quais são as populações que compõem o Brasil e 
quais são as línguas que eles falam). Os linguistas, no Brasil, vêm mapeando a diversidade 
linguística do país e mostrando o quanto o território brasileiro é rico em sonoridades de 
famílias de línguas próximas ou distantes. Os especialistas da variação linguística vêm 
demonstrando essa diversidade e suas possíveis repercussões sobre o sistema de ensino de 
língua materna e de línguas estrangeiras. Se considerarmos o português falado no Brasil, 
podemos rapidamente distinguir os chamados dialetos regionais (nordestino, mineiro, 
baiano, sulista etc.) que compõem o mosaico dos falares brasileiros. Foram primeiramente 
os dialetólogos e, depois, os sociolinguístas que trouxeram a maior parte da contribuição 
sobre a diversidade do português falado no Brasil. 
VARIÁVEL
Conjunto de fatores 
linguísticos e não linguísticos 
41
Unidade 2
Teoria da Variação
SAIBA MAIS
consulte na página do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) quantos atlas 
linguísticos já foram publicados no Brasil e selecione alguns livros 
ou artigos sobre o assunto para leitura, acessando http://twiki.u� a.br/
twiki/bin/view/Alib/WebHome
exercício 2
1) Qual é a atual situação das línguas indígenas faladas no Brasil?
2) Você saberia apontar as variações fonéticas que caracterizam algumas áreas brasileiras? 
Cite exemplos.
3) Quais são as famílias de línguas indígenas faladas no Brasil? Ver o site: http://pib.socio-
ambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/troncos-e-familias 
4) Cita alguns exemplos do léxico que caracteriza algumas cidades brasileiras.
variedade e variação
Utilizamos o termo língua e dialeto tão naturalmente no nosso quotidiano que 
achamos que esses conceitos são bem delimitados. De fato, não temos mecanismos cien-
tí� cos para de� nir o que é uma língua e o que é um dialeto porqueesses conceitos não 
estão dentro do sistema linguístico, mas fora dele. Eles só podem ser abordados do ponto 
de vista de fatores políticos, sociais e geográ� cos. Uma língua adquire o status de língua 
apenas se ela tem uma política que a sustenta e a defende, senão ela perde esse status, 
sobretudo num território onde duas variedades próximas coexistem e onde apenas uma 
deve permanecer para o controle de todas as instituições e os sistemas desse território. 
Por essa razão, quando falamos de variação no sentido da presença de mais de um falar 
num dado território geográ� co, utilizamos o termo variedade. Assim, podemos falar de 
uma tipologia da variedade linguística:
• variedade de origem individual (idioleto: caraterísticas individuais na fala das 
pessoas);
• variedade de origem social (socioleto: o falar dos jovens, de uma categoria social);
• variedade de origem geográfi ca (dialeto: o falar de determinada região dentro do 
mesmo território nacional; ex.: O dialeto baiano, mineiro etc.);
• variedade de origem religiosa/étnica (etnoleto: o falar de um dado grupo religioso 
ou étnico);
• variedade “padrão” que possui uma dimensão simbólica, intelectual, ofi cial e que 
é politicamente chamada de “língua”.
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Percebemos, então, que dentro de cada variedade existe variação. A variação está 
presente no tempo (história da língua), no espaço � sico (geogra� a), no espaço social 
(classe social), no espaço psicológico (as atitudes sobre as variedades) e no espaço político 
(decisões políticas sobre uma dada variedade).
Depois de tudo isso, você pode ainda se perguntar: por que existe variação? Ora, 
diferentemente do que alguns podem pensam, a língua não é lógica, ela é apenas regular. 
Se fosse lógica, ela seria arti� cial  (linguagem do computador, por exemplo). Se fosse 
lógica, não inventaríamos as línguas lógicas.
Por que a língua varia? Ela é viva (mas não é um organismo vivo, ela é produto 
dos falantes). Por ser viva, precisa crescer, entrar em con� ito, vencer e ser vencida. Pode 
morrer e, às vezes, depois de morta, ressuscitar, a exemplo do hebraico moderno.
Outros questionamentos podem surgir em meio a toda essa discussão: quem é 
responsável pela mudança? Os indivíduos de uma comunidade, no tempo e no espaço 
físico e social. 
Dito isso, passemos ao estudo da tipologia da variação. Temos vários tipos de varia-
ção linguística. Dentre eles as variações extralinguísticas e as variações intralinguísticas. 
São exemplos de variação extralinguística: 
• variação histórica (diacrônica, há evolução do português até hoje, por exemplo);
• variação geográfi ca (diatópica – regional, o português mineiro e baiano);
• variação sociocultural (diastrática, variação de acordo com a classe social);
• variação de idade (diageracional, variação dos jovem e adultos);
• variação de sexo (diagenérica, diferenças entre homens e mulheres);
• variação de situação (variação de uso, ligada ao fato de se estar numa sala de aula 
ou num mercado popular);
• variação de estilo (diafásica: variação relacionada ao uso formal e informal, por 
exemplo, o oral e o escrito);
• variação de indivíduo (ou grupo) (variação de indivíduo para indivíduo);
• variação de escolarização (escolarizados, não escolarizados ou pouco escolari-
zados);
• variação de profi ssão ou jargão (jargão do médico, do advogado etc.);
• variação de bairro residencial (bairro nobre e bairro de periferia, ou entre um 
bairro de periferia e um outro bairro de periferia).
Alguns agrupamentos, no entanto, são possíveis aqui. Por exemplo, a variação de 
situação inclui a variação de pro� ssão.
43
Unidade 2
Teoria da Variação
São exemplos de variação intralinguística:
• variação fonética: a diferença na pronúncia de ditongos (caixa, caxa) no portu-
guês brasileiro;
• variação morfossintática: a presença ou ausência da marca do plural (duas caixa, 
duas caixas),
• variação lexical (aipim, macaxeira). 
exercício 3
1) A variação de idade é importante para o futuro professor de língua. Observe, em grupo, 
o léxico dos jovens do seu bairro ou de sua escola e faça uma lista do vocabulário que 
mais caracteriza esse grupo.
2) Entreviste um professor ou uma professora sobre o tipo de variação que ela observa na 
sua sala de aula e veri� que até que ponto o professor tem consciência da diversidade que 
caracteriza seu ambiente de trabalho. Socialize seus resultados no encontro presencial 
com o tutor e os colegas.
bibliografia
básica
calvet, Louis-Jean. Sociolinguística: uma introdução crítica. Tradução de Marcos Marcionilo. 
São Paulo: Parábola, 2002.
labov, William. Sociolinguistique. Paris: Édition de Minuit.1976.
labov, William. Principles of Linguistc Change. Oxford: Blackwell Publishers, 1994.
complementar
labov, William. � e social strati� cation of English in New York city. Washington: Center of 
Applied Linguistics, 1966.
bourdieux, p. Ce que parler veut dire. Paris: Fayard, 1975. 
heye, Jürgen. Sociolingüística. In: Manual de Linguística. São Paulo: Editora global, 1986, pp.203-238.
resumo da atividade 3
Nesta Atividade, apresentamos, primeiramente, o conceito de teoria e de� nimos alguns ter-
mos atrelados à teoria e à variação. Vimos alguns princípios e leis necessários à existência de 
uma teoria. Tratamos da relação entre língua e sociedade e dos diferentes tipos de variação 
que podemos encontrar nas línguas. Mostramos, também, que pode haver variação e mu-
dança nas línguas e que essa variação pode se dar entre famílias de línguas, como aconteceu 
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modalidade a distância44
no latim. Concluímos que pode ocorrer variação dentro de uma determinada língua e que 
pode haver, ainda, variação dentro de um dado território nacional quando há coexistência 
de várias línguas num mesmo território. Por � m, abordamos a variação que ocorre no Brasil, 
focalizando a diferença entre variação, diversidade e a variação extralinguística. 
45
Unidade 2
Teoria da Variação
ASPECTOS
TEÓRICO-METODOLÓGICOS
DA TEORIA DA VARIAÇÃO
a t i v i d a d e 4
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modalidade a distância46
objetivos
Ao � nal dessa unidade, você deverá:
• estabelecer diferença entre a abordagem das diferentes teorias sobre o objeto da lin-
guística;
• compreender a diferença entre variação e mudança;
• apontar a diferença entre variável e variantes (linguísticas e sociais);
• compreender como a teoria da variação reavaliou alguns princípios da teoria estrutu-
ralista e gerativista;
• entender os procedimentos práticos de um trabalho de campo;
• distinguir estudo em tempo real de estudo em tempo aparente;
O estudo da variação possibilita a investigação da estrutura 
e da mudança linguística e permite fazer uma ponte entre as duas. 
A Sociolinguística Variacionista demonstrou que existe uma cor-
relação entre a estrutura da língua e a estrutura social. A socio-
linguística busca o que não varia dentro da variação, o invariante 
dentro da variação. A sociolinguística investiga:
• o uso quotidiano da língua nas comunidades urbanas;
• os pidgins e os crioulos;
• a geografi a dialetal (estudo dos dialetos urbanos ou geogra-
fi camente distribuídos);
• as comunidades minoritárias (línguas indígenas, línguas em perigo),
• a política linguística;
• as situações de contato de línguas;
• a variação linguística, a mudança social e políticas de ensino.
ANOTE
Pidgin é o nome dado a qualquer língua que é criada, normalmente 
de forma espontânea, de uma mistura de outras línguas, e serve 
de meio de comunicação entre os falantes de idiomas diferentes. 
Os pidgins têm, normalmente, gramáticas rudimentares e um vocabulário 
restrito, servindo como línguas de contacto auxiliares. São improvisadas 
e não são aprendidas de forma nativa. O crioulo é uma designação 
comum a várias línguas mistas surgidas a partir do contato entre línguas 
europeias e línguas nativas da África, Ásia ou Américas.
MUDANÇA
De acordocom a teoria da 
variação, toda mudança é 
acompanhada necessariamente 
de variação: a mudança implica 
a variação. Há mudança quando 
uma dada variante vence a batalha 
entre variantes, assumindo 
o lugar de outra variante.
47
Unidade 2
Teoria da Variação
modelos de descrição na teoria da variação 
A sociolinguística, como toda ciência, procura validar seu campo de investigação 
por meio de modelos de descrição cientí� cos, como apresentamos a seguir.
Descrições indutivas
A sociolinguística integrou a abordagem indutiva e dedutiva. A Sociolinguística, 
quando de sua investigação indutiva sobre a heterogeneidade na língua, segue essas etapas:
a) Observação: observação objetiva da fala cotidiana, coleta de dados (corpus) 
e realização de classi� cação para identi� car os princípios gerais que regem a 
relação dentro da língua e fora dela. 
b) Hipóteses: elaboração de hipóteses a serem testadas a partir dos dados coletados.
c) Experimentação: condução de experimentos ou exercícios que permitam testar 
as hipóteses levantadas. 
d) Formulação de regras: uma vez que o resultado do experimento é consistente 
com as hipóteses, o sociolinguista formula regras ou leis; essas regras são cha-
madas de regras variáveis, pois tratam de dar conta de uma realidade que não 
pode ser vista em termos do errado/certo, mas em termos do que é aceitável 
pela comunidade e pelo contexto de comunicação.
Nessa abordagem indutiva, o sociolinguista vai do especí� co para o geral (em 
linguística geral, partia-se do componente fonético para o sintático, passando-se pelo 
fonológico e morfológico).
Descrições dedutivas
A descrição dedutiva é uma descrição oposta à indutiva. Parte do geral para o 
especi� co (gerativistas como Chomsky utilizaram essa descrição, pois partiam de com-
ponentes intuitivos presentes na gramática interna, no cérebro de cada falante). Para a 
sociolinguística, esse componente é válido também quando se trata, por exemplo, de 
pedir o ponto de vista de um falante sobre sua maneira de falar e sobre a maneira de 
falar dos outros. A teoria da variação integrou essa descrição para poder quanti� car as 
atitudes linguísticas da comunidade linguística a respeito do seu modo de ver a língua. O 
respeito à diversidade passa por uma atitude descritiva dos pontos de vista, concepções, 
preconceitos, aspirações, dentre outros, dos próprios falantes autores dos seus discursos 
e membros ativos dentro de seus respectivos grupos sociais. Essa descrição é acoplada 
na sociolinguística a outra descrição que veremos a seguir.
Descrições probabilísticas
Além de seguir as dimensões de descrição indutiva e dedutiva, a sociolinguística 
incorporou os métodos de trabalho da estatística para validar o seu modelo de descrição 
e análise. Aqui, estamos no centro dos métodos de investigação da atualidade, pois tudo 
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modalidade a distância48
o que fazemos hoje é mensurado por agências que usam cálculo de frequências, cálculo 
de pesos dos fenômenos estudados. Podemos ver que, ao nosso redor, tudo é número; 
todas as projeções e decisões econômicas e políticas são baseadas em cálculos estatísticos 
(exemplo: eleições, políticas de ensino etc.). Todas as ciências sociais já utilizavam proce-
dimentos estatísticos que, inicialmente, eram do domínio das ciências naturais e de outras 
ciências exatas. A maior contribuição da teoria da variação para os estudos das ciências 
da linguagem foi demonstrar que o fato linguístico não é um fato puro, homogêneo, mas 
um fato heterogêneo, contrariando o Estruturalismo. 
O Estruturalismo europeu e o americano não aceitavam a variação como compo-
nente natural da descrição linguística, pois seu formato de descrição (do Estruturalismo) 
era baseado em um corpus fabricado e não num corpus autêntico da fala autêntica não 
apenas de um informante isolado ou ideal (Chomsky), mas de um grupo de indivíduos 
que formam uma comunidade. Para descrever a variação, fenômeno natural de uma 
comunidade linguística, a sociolinguística foi a primeira a desenvolver o conceito de 
regra variável. A regra variável, nesse sentido, é um dado fenômeno linguístico que 
apresenta duas ou três formas diferentes para o mesmo fenômeno sem mudar o sentido 
(exemplo: a regra de concordância nominal diz respeito ao uso da marca de plural ou 
ausência dessa marca na fala dos brasileiros. Um outro exemplo é a variação no uso do 
pronome tu e você). 
Na teoria da variação, apresentamos a presença/ausência da marca do plural, res-
pectivamente, –s ou ø (as casas e as casaø), dentro de uma regra que demonstra quais são 
os fatores linguísticos e não linguísticos que in� uenciam a realização de 
uma ou outra variante. Para se chegar a elaborar um modelo de análise 
dessa regra variável, é preciso incorporar um modelo estatístico que mos-
tre não apenas as frequências de presença ou ausência desse fenômeno 
em função de fatores como natureza da sílaba, natureza da palavra que 
precede o substantivo etc. (fatores internos ou linguísticos), in� uência 
da escolaridade, idade, sexo etc. (fatores externos ou sociais) que in� uenciam essa regra 
variável, mas que aponte probabilidades. 
Podemos ver, assim, que o uso do método estatístico dá ao modelo da teoria de 
variação um caráter robusto, pois indica o peso de cada fator interno ou externo sobre a 
realização da regra variável. No Brasil, um dos programas que mais se destacaram para 
efetuar essa análise é o pacote de programas varbrul (Variable Rule Analysis), o pro-
grama de análise de regra variável.
Descrição funcionalista
Além dessas abordagens, a teoria da variação integrou ao seu processo descritivo-
-analítico o componente funcional. Por exemplo, a tarefa de uma gramática funcional é, 
VARIANTE
Diferentes maneiras 
de se dizer a mesma coisa.
49
Unidade 2
Teoria da Variação
como enfatiza Beaugrande (1993, cap. iii. apud. Neves, 2004, p. 03), “fazer correlações 
ricas entre forma e signi� cado dentro do contexto global do discurso”. Como enfatiza 
Neves (2004), “uma teoria da organização gramatical das línguas naturais procura se 
integrar a uma teoria global da interação social” (Neves, 2004, p. 15). Nesse sentido, uma 
teoria da variação integra o componente funcional, pois ele se ocupa da estrutura interna 
da língua, mas, também, da análise da situação comunicativa. 
Descrições genéticas
A sociolinguística incorporou ainda descrições sobre as análises históricas e as 
aproximações entre famílias de línguas ou in� uências de línguas majoritárias sobre outras 
minoritárias, para estudar as diversas situações de contato de línguas. Por exemplo, muitos 
trabalhos mostram resultados curiosos sobre o per� l linguístico das chamadas línguas 
pidgin e crioulo. A sociolinguística tem estudado essas situações de contato em vários 
lugares do mundo e tem contribuído para a teoria da variação e mudança linguística. Os 
estudos sobre a história das línguas têm também lugar importante na descrição socio-
linguística. O estudo da variação não rompeu com a tradição da dialetologia (o estudo 
comparativo dos dialetos) e geolinguística (o método da dialetologia para a elaboração 
de mapas linguísticos denominados de atlas linguísticos).
exercício 1
1) Procure um artigo sobre a variação linguística no português brasileiro que tome por 
base uma análise estatística que utiliza o pacote Varbrul. Tente entender as tabelas e 
procure tirar as dúvidas no fórum e no encontro com o tutor.
2) Procure saber o que é um peso relativo e como interpretá-lo. Poste sua resposta ou 
dúvida no fórum. A resposta pode estar atrelada à questão 1.
a teoria da variação e os axiomas da linguística descritiva 
Agora que já estudamos aspectos relacionados à sociolinguística, vamos elencar 
alguns princípios da linguística moderna e como a sociolinguística se posicionou em 
relação a eles.
Língua/fala (langue-parole) e competência/desempenho
Saussure, apesar de suas novas ideias, estava procurando um sistema homogêneo 
que existia

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