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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. DIREITO CIVIL III TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 1- CONCEITO DE CONTRATO • “É o negócio jurídico bilateral, ou plurilateral, que sujeita as partes à observância de conduta idônea à satisfação dos interesses que a regulam.” Orlando Gomes • “Trata-se do ajuste de vontades por meio do qual são constituídos, modificados ou extintos os direitos que uma das pessoas tem, muitas das vezes em benefício de outro.” Roberto Lisboa • “O contrato é uma espécie de negócio jurídico que depende, para sua formação, da participação de pelo menos duas partes. É, portanto, negócio jurídico bilateral ou plurilateral. [...] Sempre, pois, que o negócio jurídico resultar de um mútuo consenso, de um encontro de duas vontades, estaremos diante de um contrato.” Carlos Roberto Gonçalves 2- ESTRUTURA 2.1- PARTES: • Bipolaridade da relação contratual, alteridade e composição de interesses. 2.2- OBJETOS: 2.2.1- IMEDIATO: • Operação/ verbo: dar, vender, alugar, etc. 2.2.2- MEDIATO: • Bens jurídicos materiais ou imateriais: automóvel, imóvel, dinheiro, crédito, etc. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 3- NATUREZA JURÍDICA 3.1- TEORIAS 3.1.1- TEORIAS OBJETIVAS • TEORIA NORMATIVA: Acordo de vontades que possui a função criadora do direito. • TEORIA PERCEPTIVA: As cláusulas contratuais têm na natureza preceito jurídico. 3.1.2- TEORIAS SUBJETIVAS • TEORIA VOLUNTARISTA: A vontade é o fundamento dos contratos. TEORIA DECLARATIVA: A vontade declarada por ambas as partes é o fundamento dos contratos. 4- CONDIÇÕES DE VALIDADE Contratos são negócios jurídicos, e por essa razão desdobram-se nos três planos da escada ponteana: Art. 104 do CC: I- agente capaz; II- objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III- forma prescrita ou não defesa em lei. Além disso, o objeto deve ser suscetível de apreciação econômica. VIDE: Art. 2035 do CC EXISTÊNCIA VALIDADE EFICÁCIA GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 5- PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CONTRATUAL 5.1- LIBERDADE DE CONTRATAR: • Autonomia da vontade as pessoa são livres para contratar. • Arts. 421 e 425 do CC • O princípio da autonomia da vontade se alicerça exatamente na ampla liberdade contratual, no poder dos contratantes de disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades, suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica. 5.2- SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA • Interesse público > interesse particular. • Art. 2035, parágrafo único do CC. • Art. 17 da LINDB. • O interesse da sociedade deve prevalecer quando colide com o interesse individual. • A ideia de ordem pública é constituída por aquele conjunto de interesses jurídicos e morais que incumbe à sociedade preservar. Por conseguinte, os princípios de ordem pública não podem ser alterados por convenção entre os particulares. 5.3- CONSENSUALISMO • Liberdade das formas. • Art. 107 do CC. • De acordo com o princípio do consensualismo, basta, para o aperfeiçoamento do contrato, o acordo de vontades. 5.4- FUNÇÃO SOCIAL E ECONÔMICA DO CONTRATO • Art. 421 do CC. • Art. 2035, parágrafo único. • Enunciados 22 e 23- Jornada de Direito Civil. • A função social do contrato serve precipuamente para limitar a autonomia da vontade quando tal autonomia esteja em confronto com o interesse social e este deva prevalecer. Tem por escopo promover a realização de uma justiça comutativa, aplainando as desigualdades substanciais entre os contraentes. • Princípio da Retroatividade Motivada. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 5.5- OBRIGATORIEDADE • Intangibilidade dos contratos força vinculante dos contratos. • O princípio da força obrigatória do contrato significa, em essência, a irreversibilidade da palavra empenhada. • Fundamentos: • A necessidade de segurança nos negócios; • A intangibilidade ou imutabilidade do contrato pacta sunt servanda. • Art. 389 do CC: consequências do inadimplemento. • A única limitação a esse princípio, dentro da concepção clássica, é a escusa por caso fortuito ou força maior, consignada no art. 393 e parágrafo único do Código Civil. 5.6- RELATIVIDADE DOS EFEITOS DO CONTRATO • Os efeitos do contrato só se produzem em relação às partes, àqueles que manifestaram a sua vontade, vinculando-os ao seu conteúdo, não afetando terceiros nem seu patrimônio. • Enunciado 21- Jornada de Direito Civil. 5.7- REVISÃO DOS CONTRATOS • Teoria da Cláusula Implícita: o cumprimento do contrato pressupõe inalterabilidade das citações de fato. • Teoria da Imprevisão: consiste, portanto, na possibilidade de desfazimento ou revisão forçada do contrato quando, por eventos imprevisíveis e extraordinários, a prestação de uma das partes tornar-se exageradamente onerosa — o que, na prática, é viabilizado pela aplicação da cláusula rebus sic stantibus (voltar as coisas como eram antes). • Arts. 478, 479, 480 do CC • Art. 317 do CC: a regra se aplica para ambas as partes. • Em resumo, as modificações supervenientes que atingem o contrato podem ensejar pedido judicial de revisão do negócio jurídico, se ainda possível manter o vínculo com modificações nas prestações (arts. 317 e 479 do CC), ou de resolução, nos termos dos arts. 317 e 478. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 5.8- BOA-FÉ E DA PROBIDADE • Art. 422 do CC. • O princípio da boa-fé exige que as partes se comportem de forma correta não só durante as tratativas, como também durante a formação e o cumprimento do contrato. • A boa-fé objetiva impõe ao contratante um padrão de conduta, de agir com retidão, ou seja, com probidade, honestidade e lealdade, nos moldes do homem comum, atendidas as peculiaridades dos usos e costumes do lugar. • A probidade é um dos aspectos objetivos do princípio da boa-fé, podendo ser entendida como a honestidade de proceder ou a maneira criteriosa de cumprir todos os deveres, que são atribuídos ou cometidos à pessoa. Funções da boa-fé: • Função Interpretava: as relações jurídicas decorrentes do contrato devem ser interpretadas à luz da boa-fé. Tal mandamento se direciona tanto às partes envolvidas no contrato, quanto o magistrado. A função interpretativa está contida no art. 113 do CC. • Função criadora de deveres jurídicos: a boa-fé objetiva é fonte dos deveres de condutas (deveres anexos, deveres secundários e deveres laterais). • Função de controle: a boa-fé objetiva, combinada com a disciplina jurídica do abuso do direito – art. 187 do CC – é utilizada para considerar ilícito, os atos atentatórios à boa-fé objetiva, e, por isso, proibir a sua execução. Busca vedar ou punir o exercício de direito subjetivo quando se caracteriza abuso da posição jurídica. • Enunciado 362 - IV Jornadade Direito Civil. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 6- CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 6.1- QUANTO À FORMA: 6.1.1- CONTRATOS PARITÁRIOS: Regulados pelo Direito Civil, são aqueles em que as partes discutem livremente as condições, porque se encontram em situação de igualdade. 6.1.2- CONTRATOS DE ADESÃO: Regulados pelo CDC, são contratos cuja polarização se dá entre consumidor e fornecedor. Arts. 2º e 3º do CDC. Contrato de adesão é aquele em que as cláusulas são previamente estipuladas por um dos contraentes, de modo que o outro não tem o poder de debater as condições, nem introduzir modificações no esquema proposto; ou aceita tudo em bloco ou recusa tudo por inteiro (‘é pegar, ou largar’). Ex.: contrato de seguro, de consórcio, de transporte... 6.2- QUANTO AO MOMENTO DE APERFEIÇOAMENTO DO CONTRATO 6.2.1- CONTRATOS CONSENSUAIS: • Aperfeiçoados pela declaração de vontade, não depende da entrega imediata da coisa. • Ex.: art. 482 – compra e venda de bem imóvel. 6.2.2- CONTRATOS REAIS: • Precisam da efetiva entrega da coisa no momento da celebração do contrato. • Ex.: art. 579 – contrato comodato. • A efetiva entrega do objeto não é fase executória, porém, requisito da própria constituição do ato. 6.3- QUANTO À MANEIRA DE APERFEIÇOAMENTO DO CONTRATO 6.3.1- CONTRATOS SOLENES: • Art. 108 do CC. • São os contratos que devem obedecer à forma prescrita em lei para se aperfeiçoar. Quando a forma é exigida como condição de validade do negócio, este é solene e a formalidade constitui a substância do ato – art. 109 – (escritura pública na alienação de imóveis, pacto antenupcial, testamento público etc.). • Não observada a forma, o contrato é nulo (CC, art. 166, IV). GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 6.3.2- CONTRATOS NÃO-SOLENES: • São os de forma livre, basta o consentimento para a sua formação. • Art. 107 do CC. • Têm as partes permissão para estipular que determinado contrato só poderá ser celebrado por instrumento público. Neste caso, este será da “substância do ato” (CC, art. 109). E o contrato que em princípio era não-solene, passa a ser solene. 6.4- QUANTO À TIPICIDADE 6.4.1- CONTRATOS TÍPICOS: • São os regulados pela lei, os que têm seu perfil nela traçado. • Ex.: contrato de locação. 6.4.2- CONTRATOS ATÍPICOS: • São os que resultam de um acordo de vontades, não tendo, porém, as suas características e requisitos definidos e regulados na lei. P ara que sejam válidos basta o consenso, que as partes sejam livres e capazes e o seu objeto lícito, possível, determinado ou determinável e suscetível de apreciação econômica. • Art. 425 do CC. 6.5- QUANTO À PRESENÇA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 6.5.1- CONTRATOS DE DIREITO PÚBLICO: • A administração pública figura em um dos polos. São regidos pelas normas de direito público e, subsidiariamente, por normas de direito privado, no que não lhe for incompatível. • Ex.: licitações • OBS: financiamentos feitos pela CAIXA são de direito privado. 6.5.2- CONTRATOS DE DIREITO PRIVADO: • Firmado entre particulares e regidos pelas normas de direito privado. Podem ser de direito comum, mercante ou de consumo. 6.6- QUANTO À RECIPROCIDADE 6.6.1- CONTRATOS UNILATERAIS: • São os contratos que criam obrigações unicamente para uma das partes. • Ex.: o mútuo, o comodato, o depósito, a doação pura, o mandato, a fiança. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 6.6.2- CONTRATOS BILATERAIS: • São os contratos que geram obrigações para ambos os contratantes. • São também chamados de sinalagmáticos, pois as obrigações são recíprocas. • Para caracterizar a bilateralidade, não é necessário que essas prestações sejam equivalentes, segundo um critério objetivo: “basta que cada parte veja na prestação da outra uma compensação suficiente à sua própria prestação”. 6.6.3- CONTRATOS PLURILATERAIS: • São os contratos que contêm mais de duas partes • Há direitos e deveres recíprocos entre as partes. • Ex.: contratos de sociedade, contratos de consórcio. 6.6.4- CONTRATOS BILATERAIS IMPERFEITOS: • São contratos unilaterais, que por circunstância acidental, ocorrida no curso da execução, gera alguma obrigação para o contratante que não se comprometera. • Ex.: o depósito e o comodato surgir para o depositante e o comodante, no decorrer da execução, a obrigação de indenizar certas despesas realizadas pelo comodatário e pelo depositário. 6.7- QUANTO ÀS VANTAGENS PATRIMONIAIS DAS PARTES 6.7.1- CONTRATOS GRATUITOS OU BENÉFICOS: • Há vantagem ou benefício a uma das partes. Há uma prestação sem que haja uma contraprestação a ela correlata e proporcional. • Ex.: comodato, doação pura. 6.7.2- CONTRATOS ONEROSOS: • Há vantagens e sacrifícios patrimoniais para ambas as partes. • Nos contratos onerosos ambos os contraentes obtêm proveito, ao qual, porém, corresponde um sacrifício. Eles impõem ônus e, ao mesmo tempo, acarretam vantagens a ambas as partes, ou seja, sacrifícios e benefícios recíprocos. • Ex.: troca, compra e venda. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 6.8- QUANTO À DETERMINAÇÃO DO OBJETO CONTRATUAL 6.8.1- CONTRATOS COMUTATIVOS: • As partes sabem com exatidão suas prestações e contraprestações. O objeto é determinado. 6.8.2- CONTRATOS ALEATÓRIOS: • Há a presença do risco, que pode recair na própria existência da coisa (contrato de esperança), quanto na quantidade da coisa (contrato de coisa esperada). O objeto é determinável. • Caracteriza-se, ao contrário do comutativo, pela incerteza, para as duas partes, sobre as vantagens e sacrifícios que dele podem advir. É que a perda ou lucro dependem de um fato futuro e imprevisível. • Ex.: contrato de seguro, compra antecipada de safra. 6.9- QUANTO ÀS RELAÇÕES INTERCONTRATUAIS 6.9.1- CONTRATOS PRINCIPAIS: • São os que têm existência própria, autônoma e não dependem, pois, de qualquer outro. • Ex.: compra e venda, locação. 6.9.2- CONTRATOS ACESSÓRIOS: • São aqueles que guardam uma relação de dependência com outro contrato, existindo em função dele (Princípio da Gravitação Jurídica). • Ex.: contrato de fiança, promessa de compra e venda. 6.9.3- CONTRATOS COLIGADOS: • Contratos principais por natureza, mas que, por vontade das partes estão unidos por um nexo funcional. • Ex.: compra e venda de 2 terrenos para um único fim. 6.10- QUANTO AO MOMENTO DE SEU CUMPRIMENTO 6.10.1- CONTRATOS DE EXECUÇÃO IMEDIATA: • São os que se consumam num só ato, sendo cumpridos imediatamente após a celebração. Cumprida, a obrigação, exaurem-se. A solução se efetua de uma vez só e por prestação única, tendo por efeito a extinção cabal da obrigação. • Ex.: compra e venda à vista. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 6.10.2- CONTRATOS DE EXECUÇÃO DIFERIDA: • São contratos a termo, que deverão ser adimplidos em sua totalidade na data do vencimento ajustado. 6.10.3- CONTRATOS DE EXECUÇÃO CONTINUADA: • Aqueles cuja execução se dará deforma periódica. • Ex.: locação, compra e venda a prazo. 6.11- QUANTO AO AGENTE 6.11.1- CONTRATOS PERSONALÍSSIMOS: • Apenas podem ser celebrado pela pessoa constante no contrato. • São os contratos celebrados em atenção às qualidades pessoais de um dos contraentes. Por essa razão, o obrigado não pode fazer-se substituir por outrem. • Geralmente dão origem a uma obrigação de fazer, cujo objeto é um serviço infungível, que não pode ser executado por outra pessoa. 6.11.2- CONTRATOS IMPESSOAIS: • São contratos cuja prestação pode ser cumprida indiferentemente por qualquer pessoa. 6.12- CONTRATOS DE ADESÃO • Art. 54 do CDC: é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. • Art. 47 do CDC: as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. SUJEITOS: • Predisponente ou Estipulante. • Aderente Cláusulas abusivas: serão nulas • Arts. 423 e 424 do CC GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 7- ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO 7.1- CONCEITO • Nessas modalidades, uma pessoa convenciona com outra que concederá uma vantagem ou benefício em favor de terceiro, que não é parte no contrato. Dá-se a estipulação em favor de terceiro, pois, quando, no contrato celebrado entre duas pessoas, denominadas estipulante e promitente, convenciona-se que a vantagem resultante do ajuste reverterá em benefício de terceira pessoa, alheia à formação do vínculo contratual. Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato: • Os efeitos do contrato só se produzem em relação às partes que manifestaram sua vontade. • As estipulações em favor de terceiros são exceções expressamente consignadas na lei (arts. 436 a 438 do CC). • Ex.: contratos de seguro. 7.2- SUJEITOS 7.2.1- ESTIPULANTE: • Aquele que cede seu benefício contratual a terceiro. 7.2.2- PROMITENTE: • O outro contraente (contratado), devedor da obrigação em favor de terceiro. 7.2.3- BENEFICIÁRIO: • Terceiro que não participa do pacto contratual, mas se beneficia. 7.3- OUTRAS CONSIDERAÇÕES: A capacidade só é exigida dos dois primeiros, pois qualquer pessoa pode ser contemplada com a estipulação, seja ou não capaz. Porém, o art. 793 do Código Civil estabelece uma restrição, nos contratos de seguro, proibindo a instituição de beneficiário inibido de receber a doação do segurado, como a concubina do homem casado. Na formação do contrato o beneficiário se torna credor do promitente. No instante de sua formação, o vínculo obrigacional decorrente da manifestação da vontade estabelece-se entre o estipulante e o promitente, não sendo necessário o consentimento do beneficiário. Tem este, no entanto, a faculdade de recusar a GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. estipulação em seu favor. Portanto, embora a validade do contrato não dependa da vontade do beneficiário, sem dúvida a sua eficácia fica nessa dependência. A estipulação em favor de terceiro proporciona uma atribuição patrimonial gratuita ao favorecido, ou seja, uma vantagem suscetível de apreciação pecuniária, a ser recebida sem contraprestação. A eventual onerosidade dessa atribuição patrimonial invalida a estipulação. 8- PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO - ARTS. 339 e 340 CC 8.1- CONCEITO • Trata-se do denominado contrato por outrem ou promessa de fato de terceiro. O único vinculado é o que promete, assumindo obrigação de fazer que, não sendo executada, resolve-se em perdas e danos. Isto porque ninguém pode vincular terceiro a uma obrigação. • Não de confunde com o mandato, por faltar-lhe a representação. • Também não se confunde com a fiança, pois esta é contrato acessório. 8.2- SUJETOS 8.2.1- CREDOR: • Aquele que se beneficia com a obrigação. 8.2.2- PROMITENTE: • É o que promete a obrigação de terceiro em favor do credor. 8.2.3- TERCEIRO: • É o prometido pelo promitente para o cumprimento da obrigação 9- VÍCIOS REDIBITÓRIOS 9.1- CONCEITO • São defeitos ocultos que tornam a coisa imprópria para uso a que se destina ou que, se fossem conhecidos, impediriam a realização do contrato. Autoriza o comprador a rejeitar a coisa recebida e redibir o contrato ou a pedir o abatimento do preço pago (ação estimatória). GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 9.2- REQUISITOS CARACTERIZADORES DOS VÍCIOS REDIBITÓRIOS 1- Que a coisa tenha sido recebida em virtude de contrato comutativo, ou de doação onerosa, ou remuneratória. 2- Que os defeitos sejam ocultos: • Se o agente já os conhecia e não os julgou capazes de impedir a aquisição presumir-se-á que assim renunciou à garantia legal da redibição. 3- Que os defeitos existam no momento da celebração do contrato e que perdurem até o momento da reclamação. 4- Que os defeitos sejam desconhecidos do adquirente. 5- Que os defeitos sejam graves. 9.3- EFEITOS • Se o bem, objeto do negócio jurídico contém defeitos ocultos, o adquirente pode enjeitá-lo ou pedir o abatimento no preço (art. 441 e 442 do CC). • Se o alienante não conhecia o vício, ou o defeito, isto é, se agiu de boa-fé, “tão somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato. Mas se agiu de má-fé, além de restituir o que recebeu, responderá também por perdas e danos (art. 443 CC). • Ainda que o adquirente não possa restituir a coisa portadora de defeito, por ter ocorrido seu perecimento, a responsabilidade do alienante subsiste, se o fato decorrer de vício oculto, já existente da tradição (art. 444 CC). 9.4- AÇÕES CABÍVEIS • As ações destinadas a combater os vícios redibitórios são também chamadas de ações edilícias (redibitória ou estimatória). Qual a diferença entre vício redibitório para erro ou dolo? • Erro ou dolo são vícios de consentimento diretamente ligados à coisa ou a uma característica da essencial da coisa. Não existe a princípio defeito. Ex.: a compra de uma bijuteria pensando ser joia. • Já o vício redibitório é um defeito não aparente da coisa, mas não existe a princípio, dúvida em relação à coisa propriamente dito. Ex.: comprou uma bijuteria, sabendo ser bijuteria, mas o feixe não funcionava. Uma doação pura de um automóvel, tido como perfeito pelo donatário, mas possui diversos defeitos ocultos, pode ser enjeitada quando os vícios forem descobertos? • Não. Somente doações onerosas ou remuneratórias podem ser enjeitadas art. 441, parágrafo único, CC. Defeitos de fácil constatação ensejam redibição? • Não. Para que enseje redibição o defeito tem que ser oculto. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 9.5- PRAZOS PARA PROPOSITURA DAS AÇÃO (art. 445 CC) 9.5.1- SEM POSSE PRÉVIA: 1.1- Bem Móvel: 30 dias a partir da tradição. 1.2- Bem Imóvel: 1 ano a partir da tradição. 9.5.2- SE O ADQUIRENTE JÁ TINHA POSSE PRÉVIA DO BEM ANTES DA TRADIÇÃO: 2.1- Bem Móvel: 6 meses a partir da tradição. 2.2- Bem Imóvel: 6 meses a partir da tradição. 9.5.3- SE O VÍCIO, POR SUA NATUREZA, SÓ PUDER SER CONHECIDO MAIS TARDE: 9.5.3.1-1º Entendimento: Enunciado 174 da Jornada de Direito Civil (Gustavo Tependino, Marcos Jorge Catalan, Leonardo Bessa): o Bem Móvel: 30 dias, que começa a contar a partir da ciência do vício, dentro de um prazo de 180 dias. o Bem Imóvel: 1 ano, que começa a contar a partir da ciência do vício, dentro de um prazo de 1 ano. o OBS: não se aplica redução relativa à posse prévia. 9.5.3.2- 2° Entendimento: Caio Mário da Silva Pereira o Bem Móvel: 30 dias, que começa a contar a partir da ciência do vício, dentro de um prazo de 180 dias. o Bem Imóvel: 1 ano, que começa a contar da ciência do vício, dentro de um prazo de 1 ano. o OBS: se aplica a redução relativa à posse prévia. 9.5.3.3- 3º Entendimento: Flávio Tartuce, Maria Helena Diniz (majoritária) o Bem Móvel: 180 dias, que começa a contar a partir da ciência do vício. o Bem Imóvel: 1 ano, que começa a contar a partir da ciência do vício. o OBS: não se aplica a redução relativa à posse prévia. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 9.5.4- SE O VÍCIO FOR ENCONTRADO EM ANIMAIS: Art. 445, § 2º. 4.1- De acordo com o estabelecido em lei especial; 4.2- Na falta de lei especial, pelos usos locais; 4.3- Na ausência de lei especial e uso local, utilizam-se as normas do art. 445. 9.5.5- SE OUVER CLÁUSULA DE GARANTIA: Art. 446 CC. Não existe necessidade de propositura de ação, uma vez que existe garantia. No entanto, o adquirente deve denunciar o defeito em 30 dias do respectivo descobrimento sob pena de perder i direito à garantia. 9.5.6- OBSERVAÇÕES GERAIS: Todos os prazos são decadenciais; Se o alienante sabia do defeito, o adquirente também terá direito à indenização por perdas e danos- art. 443 CC. Art. 206, § 3º, V: o prazo para ajuizar a ação por perdas e danos é prescricional (3 anos). Vício Redibitórios no CDC: o Qual o prazo para redibição de bens imóveis de acordo com o CDC? Pode ser aplicado o prazo de 1 ano do CC na relação de consumo? • Prazo: 180 dias- art. 18, §§ 1° e 2º CDC; • 1º entendimento: Não. Lei especial prevalece sobre lei geral, na relação de consumo aplica-se o CDC. • 2º entendimento: Sim. Aplica-se o princípio da norma jurídica mais benéfica ao hipossuficiente. 10- DA EVICÇÃO 10.1- CONCEITO Evicção é a perda da coisa em virtude de sentença judicial, que a atribui a outrem por causa jurídica preexistente ao contrato. Todo alienante é obrigado não só a entregar ao adquirente a coisa alienada como também a garantir-lhe o uso e gozo. Dá-se a evicção quando o adquirente vem a perder, total ou parcialmente, a coisa por sentença fundada em motivo jurídico anterior. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. Será o alienante, pois, obrigado a resguardar o adquirente dos riscos pela perda da coisa para terceiro, por força de decisão judicial em que fique reconhecido que aquele não era o legítimo titular do direito que convencionou transmitir. 10.2- SUJEITOS o alienante, que responde pelos riscos da evicção; o evicto, que é o adquirente vencido na demanda movida por terceiro; e o evictor, que é o terceiro reivindicante e vencedor da ação. 10.3- REQUISITOS Onerosidade da aquisição; Perda total ou parcial da propriedade, posse ou uso da coisa alienada; Ignorância, pelo adquirente, da litigiosidade da coisa (Art. 457); Anterioridade do direito do evictor — o alienante só responde pela perda decorrente de causa já existente ao tempo da alienação. Se lhe é posterior, nenhuma responsabilidade lhe cabe. Sentença judicial reconhecendo a evicção; apreensão policial de coisa furtada ou roubada em momento anterior à aquisição ou pela privação da coisa por ato inequívoco de qualquer autoridade. 10.4- DENUNCIAÇÃO DA LIDE AO ALIENANTE Art. 456 do CC e art. 70, I do CPC. Carlos Roberto Gonçalves considera a denunciação da lide requisito para a ocorrência da evicção, porém o tema não é pacífico. “somente após a ação do terceiro contra o adquirente é que este poderá agir contra aquele. Dispõe o art. 456 do Código Civil que, ‘para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo’. Faz-se a notificação por meio da denunciação da lide (CPC, art. 70, I) para que o alienante venha coadjuvar o réu-denunciante na defesa do direito (CC, art. 456, parágrafo único).” Existe ainda o entendimento jurisprudencial entendendo que a denunciação não é obrigatória, sendo somente necessária para a restituição ao evicto pelo alienante seja feita no mesmo processo. Assim, se o evicto não fizer a denunciação, poderá ser indenizado através de ação própria. 10.5- CONSEQUÊNCIAS Restituição integral do preço. Indenização dos frutos que tiver que restituir. Despesas do contrato. Custas processuais e honorários advocatícios. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. Indenização dos prejuízos que resultem diretamente da evicção. OBS: Se houver deterioração da coisa aplicam-se os arts. 451 e 452 do CC. 10.6- RENÚNCIA DA GARANTIA DA EVICÇÃO A garantia da evicção pode ser renunciada. Contudo, a eficácia da cláusula que exclui a evicção varia conforme o adquirente tenha ou não real conhecimento do risco da evicção (art. 449). Se o adquirente tinha conhecimento dos riscos da evicção e concordou com a cláusula exonerando a responsabilidade (cláusula de irresponsabilidade pela evicção ou cláusula non praestendo evictione) deve suportar os riscos (art. 457). 11- DO CONTRATO PRELIMINAR (arts. 462- 466) 11.1- CONCEITO É um contrato provisório, preparatório, no qual prometem complementar o ajuste, celebrando o definitivo. Tem por objeto a celebração de um contrato definitivo. Os contraentes ao celebrar um contrato preliminar não visam modificar efetivamente sua situação, mas, apenas criar a obrigação de um futuro contrato definitivo. Os requisitos objetivos e subjetivos para a formação de um contrato preliminar são os mesmos dos contratos de forma geral (art. 104 CC). 11.2- PARTICULARIDADES 1- As formalidades exigidas para o contrato definitivo não precisam ser seguidas (art. 462). 2- Cláusula de arrependimento é possível, com ou sem previsão de multa (art. 463). 3- Registro no Cartório ( art. 463, parágrafo único; Enunciado 30 da I Jornada de Direito Civil). 12- DA EXTINÇÃO DO CONTRATO 12.1- MODO NORMAL DE EXTINÇÃO A extinção dá-se, em regra, pela execução, seja ela instantânea, diferida ou continuada. O cumprimento da prestação libera o devedor e satisfaz o credor. Este é o meio normal de extinção do contrato. Comprova-se o pagamento pela quitação fornecida pelo credor, observados os requisitos exigidos no art. 320 do Código Civil. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 12.2- EXTINÇÃO DO CONTRATO SEM CUMPRIMENTO 12.3- CAUSAS ANTERIORES OU CONTEMPORÂNEAS À FORMAÇÃO DO CONTRATO 12.3.1- NULIDADE ABSOLUTA: Decorre de ausência de elemento essencial do ato, com transgressão a preceito de ordem pública, impedindo que o contrato produza efeitosdesde a sua formação (ex tunc) – arts. 166 e 167 CC. Não precisa de confirmação e não convalesce com o tempo. Pode ser requerido em juízo a qualquer tempo, por qualquer interessado, podendo ser declarada de ofício pelo juiz ou por promoção do Ministério Público (CC, art. 168). Se a hipótese for de nulidade parcial, só quanto a ela poderá ser exercido o direito (art. 184). Quando cabível a conversão (art. 170), a procedência do pedido extintivo de nulidade será apenas parcial, devendo o juiz declarar qual o negócio jurídico que subsiste (princípio do aproveitamento do contrato). 12.3.2- NULIDADE RELATIVA: Advém da imperfeição da vontade: ou porque emanada de um relativamente incapaz não assistido, ou porque contém algum dos vícios do consentimento, como erro, dolo, coação etc. Como pode ser sanada (art. 172) e até mesmo não arguida no prazo prescricional (art. 178 e 179), não extinguirá o contrato enquanto não se mover ação que a decrete, sendo ex nunc os efeitos da sentença. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. Não pode ser arguida por ambas as partes da relação contratual, nem declarada ex officio pelo juiz. Legitimado a pleitear a anulação está somente o contraente em cujo interesse foi estabelecida a regra (CC, art. 177) 12.3.3- CLÁUSULA RESOLUTIVA: Na execução do contrato, cada contraente tem a faculdade de pedir a resolução se o outro não cumpre as obrigações avençadas. Essa faculdade pode resultar: o a) de convenção (cláusula resolutiva expressa ou pacto comissório expresso); ou o b) de presunção legal (cláusula resolutiva tácita ou implícita). Em todo contrato bilateral ou sinalagmático presume-se a existência de uma cláusula resolutiva tácita, autorizando o lesado pelo inadimplemento a pleitear a resolução do contrato, com perdas e danos (art.475). Art. 474: em ambos os casos, expressa ou tácita, a resolução deve ser judicial, ou seja, precisa ser pronunciada pelo juiz. A sentença que reconhecer a cláusula expressa e o direito à resolução terá efeito meramente declaratório, ex tunc; portanto, sendo a cláusula tácita, a sentença tem efeito desconstitutivo, dependendo de interpelação judicial, ou seja, a cláusula só produz efeitos após a interpelação. 12.3.4- DIREITO DE ARREPENDIMENTO: Quando expressamente previsto no contrato, o arrependimento autoriza qualquer uma das partes a rescindir o ajuste, mediante declaração unilateral da vontade, sujeitando-se à perda do sinal ou à sua devolução em dobro sem, no entanto, pagar indenização suplementar. Configuram-se, in casu, as arras penitenciais (art. 420 do CC e Súm. 412 do STF). O direito de arrependimento deve ser exercido no prazo convencionado ou antes da execução do contrato se nada foi estipulado a esse respeito. O Código de Defesa do Consumidor concede a este o direito de desistir do contrato, no prazo de sete dias, sempre que a contratação se der fora do estabelecimento comercial, especialmente quando por telefone ou em domicílio, com direito de devolução do que pagou, sem obrigação de indenizar perdas e danos (art. 49). 12.4- CAUSAS SUPERVENIENTES À FORMAÇÃO DO CONTRATO 12.4.1- RESOLUÇÃO: Na lição de Orlando Gomes, é “um remédio concedido à parte para romper o vínculo contratual mediante ação judicial”. O inadimplemento por ser voluntário (culposo) ou não (involuntário). GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. A extinção do contrato mediante resolução tem como causa a inexecução ou incumprimento por um dos contratantes. 12.4.1.1- Resolução por inexecução voluntária: Produz efeitos ex tunc, extinguindo o que foi executado e obrigando a restituições recíprocas (salvo em contratos de trato sucessivo, como locação, cujos efeitos produzidos pela resolução serão ex nunc), sujeitando, ainda, o inadimplente ao pagamento das perdas e danos e da cláusula penal. Não é admitida em casos de incumprimentos irrelevantes. 12.4.1.1.1- Exceção de contrato não cumprido (art. 476): Aplicável em contratos bilaterais, que envolvem prestações recíprocas, atreladas umas às outras. Se uma das prestações não é cumprida, deixa de existir causa para o cumprimento da outra. Para que possa ser alegada depende que as prestações das partes sejam simultâneas ou sucessivas. 12.4.1.1.2- Exceção do contrato parcialmente cumprido: Apesar de não previsto em lei, é aplicável utilizando a mesma lógica da execução anterior, quando um dos contraentes cumpriu apenas em parte, ou de forma defeituosa, a sua obrigação, quando se comprometera a cumpri-la integral e corretamente. 12.4.1.1.3- Exceção de inseguridade (art. 477): Aplicável nas obrigações a prazo (execução diferida). Enunciado 438 da V Jornada de Direito Civil: o “A execução de inseguridade, prevista no art. 477 CC também pode ser oposta à parte cuja conduta põe manifestamente em risco a execução do programa contratual”. 12.4.1.2- Resolução por inexecução involuntária: Decorre de fato não imputável às partes, como sucede nas hipóteses de ação de terceiro ou de acontecimentos inevitáveis, alheios à vontade dos contraentes, denominados caso fortuito ou força maior, que impossibilitam o cumprimento da obrigação. A impossibilidade deve ser total, pois se a inexecução for parcial e de pequena proporção, o credor pode ter interesse em que, mesmo assim, o contrato seja cumprido; há de ser, ainda, definitiva. Produz efeitos ex tunc, extinguindo o que foi e obrigando a restituições recíprocas. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. O inadimplente não fica, no caso de inexecução involuntária, responsável pelo pagamento de perdas e danos, salvo se expressamente obrigou-se a ressarcir os “prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior” ou estiver “em mora” (CC, arts. 393 e 399). 12.4.1.3- Resolução por onerosidade excessiva: Decretada por sentença utilizando o princípio da revisão dos contratos (também conhecido como princípio da onerosidade excessiva) que presume a existência implícita de uma cláusula contratual, pela qual a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe a inalterabilidade de fato dos contratantes. 12.4.1.3.1- Requisitos: o vigência de um contrato comutativo de execução diferida ou de trato sucessivo; o ocorrência de fato extraordinário e imprevisível; o considerável alteração da situação de fato existente no momento da execução, em confronto com a que existia por ocasião da celebração; e o nexo causal entre o evento superveniente e a consequente excessiva onerosidade. Contratante que estiver em mora quando da ocorrência dos fatos não pode invocar, em sua defesa, a onerosidade excessiva, pois, estando naquela situação respondendo pelos riscos supervenientes, ainda que decorrida por caso fortuito ou força maior (art. 399). A parte beneficiada pelo evento imprevisível pode evitar a resolução propondo alternativas (art. 479). A mesma revisão contratual prevista no art. 478 pode ser realizada sem os requisitos apontados anteriormente, se no contrato, as obrigações couberem a apenas uma das partes (art. 480). Ex.: pagamento de multa em contrato de locação (art. 572). 12.4.2- RESILIÇÃO: Resilir, do latim resilire, significa, etimologicamente, “voltar atrás”. Tem como causa a manifestação de vontade,que pode ser bilateral ou unilateral. Resilição bilateral — a resilição bilateral denomina-se distrato, que é o acordo de vontades que tem por fim extinguir um contrato anteriormente celebrado. Resilição unilateral — a unilateral, por sua vez, pode ocorrer somente em determinados contratos, pois a regra é a impossibilidade de um contraente romper o vínculo contratual por sua exclusiva vontade. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 12.4.2.1- Distrato: Segundo a lição de Caio Mário, distrato ou resilição bilateral “é a declaração de vontade das partes contratantes, no sentido oposto ao que havia gerado o vínculo. Qualquer contrato pode cessar pelo distrato: é necessário, todavia, que os efeitos não estejam exauridos, uma vez que o cumprimento é a via normal da extinção. Contrato extinto não precisa ser dissolvido. Os efeitos do distrato são, efetivamente, ex nunc, para o futuro, não se desfazendo os anteriormente produzidos. O distrato deve obedecer à mesma forma do contrato a ser desfeito quando este tiver forma especial, mas não quando esta for livre. 12.4.2.2- Denúncia: Ocorre somente nas obrigações duradouras, contra a sua renovação ou continuação, independentemente do não cumprimento da outra parte, nos casos permitidos na lei (p. ex., denúncia prevista nos arts. 6º, 46, § 2º, e 57 da Lei n. 8.245, de 18.10.1991 sobre locação de imóveis urbanos) ou no contrato. A resilição unilateral independe de pronunciamento judicial e produz efeitos ex nunc, não retroagindo. N contrato de mandato a resilição unilateral denomina-se revogação ou renúncia, conforme iniciativa seja do mandante ou do mandatário. Para valer, precisa-se ser notificada à outra parte, produzindo efeitos a partir do momento em que chega a seu conhecimento. A princípio, não precisa ser justificada, mas em certos contratos exige-se que obedeça à justa causa. Nessas hipóteses, a inexistência de justa causa não impede a resilição do contrato, mas a parte que o resiliu injustamente fica obrigada a pagar à outra perdas e danos. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos Roberto Gonçalves. – 11. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014. 12.4.3- MORTE DE UM DOS CONTRATANTES: A morte de um dos contratantes só acarreta a dissolução dos contratos personalíssimos, que não poderão ser executados pela morte daquele em consideração do qual foi ajustado. Subsistem as prestações cumpridas, pois o seu efeito opera-se ex nunc. 12.4.4- RESCISÃO: Existe o hábito no meio negocial de utilizar a expressão “rescisão” englobando as figuras da resolução e da resilição. Contudo, a rescisão ocorre nas hipóteses de dissolução de determinados contratos, como aqueles em que ocorre lesão (art. 157) ou que foram celebrados em estado de perigo (art. 156).
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