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CSADI3-G-146 PI As Violências

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FACULDADE NOVOS HORIZONTES
Curso de Direito
JURISPRUDÊNCIA COMENTADA
As Violências:
Violência doméstica
 Antônio Carlos Assis Silva
 Luciano Alves dos Santos
 Marinho Francisco da Costa
Marcos Vinícius Campos
Belo Horizonte
 2014
Antônio Carlos Assis Silva1
Luciano Alves dos Santos2
Marinho Francisco da Costa3
Marcos Vinícius Campos4
JURISPRUDÊNCIA COMENTADA
As Violências:
Violência doméstica
Projeto Interdisciplinar apresentado às disciplinas do 3°
semestre do curso de Direito da Faculdade Novos
Horizontes, como requisito parcial de aprovação nas
disciplinas.
Orientador: Prof.Ms. Dalvo Leal Rocha
1 Docente do Curso de Direito na Faculdade Novos Horizontes, BH, MG, Brasil.
2 Docente do Curso de Direito na Faculdade Novos Horizontes, BH, MG, Brasil.
3 Docente do Curso de Direito na Faculdade Novos Horizontes, BH, MG, Brasil.
4 Docente do Curso de Direito na Faculdade Novos Horizontes, BH, MG, Brasil.
Belo Horizonte
2014
SUMÁRIO
1
TRANSCRIÇÃO DA EMENTA3
1.1 Ementa...........................................................................................................3
1.2 Acórdão ........................................................................................................4
 
2 SÍNTESE DOS FATOS E DOS FUNDAMENTOS LEGAIS DO
ACÓRDÃO .......................................................................................................5
2.1 Breve Relato dos Fatos.............................................................................5
2.2 Fundamentos legais do Acórdão.............................................................6
3 EMBASAMENTO LEGAL E DOUTRINÁRIO DAS POSIÇÕES
ASSUMIDAS..................................................................................7
3.1 Embasamento legal......................................................................7
3.2 Embasamento doutrinário........................................................................8
3.3 Violência domestica contra criança e adolescente................................9
4 ANÁLISE CRÍTICA DA DECISÃO........................................................12
5 REFERÊNCIAS.......................................................................................16
3
1- TRANSCRIÇÃO DA EMENTA
1.1 Ementa
APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER.
LEI MARIA DA PENHA. CRIME DE AMEAÇA CONTRA FILHAS. SENTENÇA
ABSOLUTÓRIA. RECURSO DA ACUSAÇÃO. ALEGAÇÃO DE SUFICIÊNCIA
PROBATÓRIA. DECLARAÇÕES DE UMA DAS VÍTIMAS E DA GENITORA (EX-
ESPOSA DO RÉU). EXISTÊNCIA DE DIVERSAS ANOTAÇÕES PENAIS POR
CRIMES PRATICADOS NO ÂMBITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. PALAVRA DA
VÍTIMA. RELEVÂNCIA PROBATÓRIA. CARACTERIZAÇÃO DA TIPICIDADE DA
CONDUTA DO ACUSADO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
1. Em crimes praticados no âmbito doméstico e familiar, a palavra da vítima
assume especial relevância. Assim, diante da consonância das declarações
prestadas por uma das vítimas com o depoimento prestado por sua genitora
(ex-esposa do réu), no sentido de que o acusado dirigiu-se à residência das
vítimas e proferiu diversas ameaças contra elas, além de xingar e desferir
chutes no portão. Ademais, as declarações da vítima e de sua genitora
encontram-se harmônicas entre si e consonantes com as declarações
prestadas na fase inquisitorial.
2. O crime de ameaça é delito formal que se consuma no instante em que o
ofendido toma conhecimento da ameaça idônea e séria, capaz de atemorizar,
sendo irrelevante a real intimidação ou o intuito de concretizar o mal
prometido. Assim, não prosperam as alegações do acusado de que somente
iria “corrigir” as filhas, especialmente diante das ameaças proferidas contra as
vítimas, além de ter confessado em juízo que “disse para L. que iria lhe dar
uma surra se a filha não abrisse o portão”. Assim, comprovadas a autoria e a
materialidade dos crimes de ameaça perpetrados contra as filhas do acusado.
Além disso, pesa em desfavor do recorrido a existência de diversas
anotações penais por crimes relacionados à violência doméstica e familiar.
3. Recurso conhecido e provido para condenar R. V. S. nas sanções do artigo
147, caput, por duas vezes, c/c o artigo 70, ambos do Código Penal,
aplicando-lhe a pena de 01 (um) mês e 19 (dezenove) dias de detenção, a ser
cumprida em regime inicial aberto, substituída por uma pena restritiva de
direito, nos moldes e condições a serem fixados pelo Juízo das Execuções
Penais.
4
1.2 – Acórdão
Acordam os Senhores Desembargadores da 2ª Turma Criminal
do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ROBERVAL
CASEMIRO BELINATI - Relator, SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS - Vogal,
JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA - Vogal sob a Presidência do Senhor
Desembargador JOÃO TIMOTEO DE OLIVEIRA, em proferir a seguinte decisão:
DAR PROVIMENTO. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas
taquigráficas.
Brasília (DF), 28 de outubro de 2010
Certificado nº: 7B 29 08 E6 00 04 00 00 0C 9D
04/11/2010 - 16:40
Desembargador ROBERVAL CASEMIRO BELINATI
Relator
Órgão 2ª Turma Criminal
Processo N. Apelação Criminal 20080510109360APR
Apelante(s) M. P. D. F. E T.
Apelado(s) R. V. S.
Relator Desembargador ROBERVAL CASEMIRO BELINATI
Acórdão Nº 460.739
5
2 – SÍNTESE DOS FATOS E DOS FUNDAMENTOS LEGAIS DO
ACÓRDÃO
2.1 - Breve Relato dos Fatos
O presente acórdão tem por objeto a análise de APELAÇÃO CRIMINAL interposta
pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios contra a sentença que,
julgando improcedente a pretensão punitiva estatal, absolveu o Réu R.V. S, com
fulcro no art.386, inciso VII, do CPP.
Segundo denuncia informada através do Ministério Público, 
“[...] No dia 25/09/2008, por volta das 15hs, na Quadra 14,
Conjunto 06, Casa 20, SRL-III, Setor Residencial Leste, Planaltina-DF, R.
V. S., com vontade livre e consciente, ameaçou L. V. R., então
adolescente com 12 (doze) anos de idade (referida às fls. 09, a ser
completamente qualificada por sua mãe, E. R. S. e a ser notificada no
mesmo endereço desta) e L. V. R., então criança com 05 (cinco) anos de
idade (referida às fls. 09, a ser completamente qualificada por sua mãe,
E. R. S.), ambas suas filhas, por palavras de causar-lhes mal injusto e
grave, no caso, de agredi-las e de quebrar ‘tudo’, referindo-se à casa em
que aquelas moravam e os bens nela contidos, além de portão da porta
do prédio.
Na data, local e horário acima declinados R. V. S., que se
separara da mãe de suas filhas, E. R. S. (qualificada às fls. 09), chegou
em frente à casa em que moram a ex-esposa e as filhas em comum de
ambos e começou a gritar, dirigindo-se à L. V. R., então adolescente com
12 (doze) anos de idade (referida às fls. 09, a ser completamente
qualificada por sua mãe, E. R. S., e a ser notificada no mesmo endereço
desta) e L. V. R., então criança com 05 (cinco) anos de idade (referida à
fls. 09, a ser completamente qualificada por sua mãe, E. R. S.),
ordenando que abrissem o portão, do contrário ele iria agredir ambas e
‘quebrar tudo’ [...].”
6
Os autos do processo, em seu acórdão e relatório demonstram a materialidade e
tipicidade do crime de ameaça à integridade física, através de provas testemunhais
e materiais. Essas são as Comunicações de Ocorrência Policial (fls. 03/05 e 06/08);
pelo Termo de Representação (fl. 10); pelo Termo de Audiência em que foram
deferidas medidas protetivas (fl. 16); além daquelas, prova oral colhida nos autos do
citado processo.
De acordo com o exposto pelos desembargadores relator e vogal, em face do
concurso formal de crimes, previsto no artigo 70 do Código Penal, majorou-se uma
das penas. Emrelação ao regime inicial de cumprimento de sansão, estabeleceu-se
o regime inicial aberto, baseado no artigo 33, § 2º e § 3º, do Código Penal.
Preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos estatuídos no artigo 44 do Código
Penal, uma vez que a pena aplicada é inferior a 04 (quatro) anos, o crime não foi
cometido com violência à pessoa, o réu não é reincidente e as circunstâncias
judiciais foram analisadas de modo favorável. Dessa maneira o relator substitui a
pena privativa de liberdade por uma restritiva de direitos, nos moldes e condições a
serem fixados pelo Juízo das Execuções Penais. O réu respondeu o processo em
liberdade e, não obstante a existência de anotações penais em seu desfavor, não se
vislumbrou os requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal, razão pela qual
lhe concederam o direito de recorrer em liberdade. Diante do exposto, como dito, o
recurso foi reconhecido sendo condenado o Sr. R. V. S. nas sanções do artigo 147,
caput, por duas vezes, c/c o artigo 70, ambos do Código Penal, aplicando-lhe a pena
de 01 (um) mês e 19 (dezenove) dias de detenção, a ser cumprida em regime inicial
aberto, substituída por uma pena restritiva de direito, nos moldes e condições a
serem fixados pelo Juízo das Execuções Penais. E assim favorecendo a reforma
sentencial requerida pelo Ministério Público.
2.2 – Fundamentos legais do Acórdão
Fundamentado com bases da denúncia, o Ministério Público (MP) irresignado,
interpôs recurso de apelação da sentença requerendo reforma da decisão com
embasamento no art. 147, caput, do CP e assim postulando a condenação do réu
por duas vezes, uma vez que o apelante ameaçou ambas as filhas, e foram
comprovadas legalmente tais ameaças através do Boletim de ocorrências que
verbaliza as ameaças supracitadas anteriormente.
7
3 - EMBASAMENTO LEGAL E DOUTRINÁRIO DAS POSIÇÕES
ASSUMIDAS
3.1 Embasamento legal
O julgado demonstrado no acórdão referendado acima, provocado pelo Ministério
público, trata se de violência doméstica e familiar contra a mulher.O recurso
solicitando a reforma da decisão está embasada no Art. 147, caput, do código penal.
A tipicidade do crime demonstra que o apelado agiu de forma contrária a diversos
preceitos constitucionais, ferindo não somente o Inciso III, do Art. 1°, que visa a
defesa ao respeito à dignidade humana, como também os descritos nos Incisos I, II,
III, XXXV e XLI do Art. 5°.
A culpabilidade do réu encontra amparos legais na legislação através da
Constituição Federal, que estabelecem direitos e garantias fundamentais da pessoa
humana, sendo esclarecidos através deste texto legal que traduz as aspirações mais
inalienáveis do indivíduo, arrimo de todos os direitos, tutela de todas as liberdades,
(KUO, 2012), não deixando dúvidas de que não se carece de qualquer outra
legislação, para fundamentar a culpabilidade do réu referendado acima. 
Conta-se também com o auxílio da Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), onde estão previstas as formas de violação aos
direitos da criança e adolescente, e as medidas de proteção, mais precisamente,
dos artigos 99 a 102 daquele diploma legal. Onde, conforme elucidado pelo
Ministério Público, houve de forma clara a violação de direitos fundamentais
garantidos através da Constituição Brasileira.
Por conseguinte, vê-se o fundamento embasado pela acusação na Lei Maria da
Penha (Lei N° 11.340), onde é elucidado que toda ação que tenha consequência
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e ainda dano moral ou
patrimonial encontra amparo jurídico, com a finalidade de lhes garantir gozar dos
direitos fundamentais inerentes a pessoa humana. Tal fundamento otimizou a
decisão recursal dos ilustres desembargadores, que alicerçados no Art.155, caput,
do CPP deu a sentença favorável a acusação do Ministério Público.
Art. 155, caput, do CPP: O juiz formará sua convicção pela livre
apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo
8
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas. 
3.2 Embasamento doutrinário
O acórdão em análise se refere à violência doméstica e familiar contra mulher. Ao
réu foi imputado o crime de ameaça contra as filhas. 
A violência é caracterizada quando uma pessoa é levada a fazer algo contrariando
sua liberdade. Renato Ribeiro Velloso (2010) atribui a violência como sendo "uma
espécie de coação, ou forma de constrangimento, posto em prática para vencer a
capacidade de resistência do outrem, ou a levar a executá-lo, mesmo contra a sua
vontade".
Nesse mesmo sentido a doutrina também traz a seguinte definição para a violência:
"(...) uso da força física, psicológica ou intelectual para obrigar outra pessoa a fazer
algo que não está com vontade; é constranger, é tolher a liberdade, é incomodar, é
impedir a outra pessoa de manifestar sua vontade, sob pena de viver gravemente
ameaçada ou até mesmo ser espancada, lesionada ou morta. É um meio de coagir,
de submeter outrem ao seu domínio, é uma forma de violação dos direitos
essenciais do ser humano." (CAVALCANTI, 2010, p. 11).
Após tal definição, importante se faz definir a violência doméstica e familiar a partir
do texto da Lei nº 11.340/06. 
Dispõe o art. 5º da Lei nº 11.340/06: 
“Art. 5º - Para os efeitos desta Lei configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”.
O crime evidenciado no acórdão é o de ameaça. No Código Penal Brasileiro,
Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940, o crime está assim tipificado:
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave.
Guilherme de Souza Nucci assim define: “(...) ameaçar significa procurar intimidar
alguém, anunciando-lhe um mal futuro, ainda que próximo”. Por si só, o verbo já nos
fornece uma clara noção do que vem a ser o crime, embora haja o complemento,
que se torna particularmente importante, visto não ser qualquer tipo de ameaça
relevante para o direito penal, mas apenas a que lida com um “mal injusto e grave”
(código penal comentado 10. Ed. Rev.; atual e ampl. São Paulo, Editora Revistas
dos Tribunais, 2010, p. 698). 
9
Esse mesmo autor ainda complementa: “... por outro lado, é indispensável que o
ofendido efetivamente se sinta ameaçado, acreditando que algo de mal lhe pode
acontecer...” (Guilherme de Souza Nucci, Código Penal Comentado, Rt, 7ª edição,
pg. 633).
3.3 Violência domestica contra criança e adolescente
O fundamento desta tese é o resguardo da criança e adolescente contra a violência
Domestica (âmbito intrafamiliar).
A violência tem pairado sobre a história da infância e da adolescência em todo o
cenário mundial. E, muito embora, nesse processo, constatam-se iniciativas sociais
e legais que buscam proteger esses segmentos, procurando garantir-lhes direitos
como cidadãos – tais como, no cenário internacional, a Declaração dos Direitos da
Criança (1989) e, no cenário nacional, o Estatuto da Criança e do Adolescente
(1990) – esta problemática ainda configura-se, atualmente, como um fenômeno que
se dissemina no meio social, apresentando-se de variadas formas e atingindo um
número expressivo de crianças e adolescentes, sem distinção de sexo, raça/etnia,
condição socioeconômica ou religiosa.
“a violência familiar contra crianças e adolescentes não está
ligada primeira e principalmente à condição socioeconômica,pois crianças e adolescentes de classes média ou alta
também são alvos da violência de seus familiares, ainda que
isso não seja tão visível socialmente.”
Sonego, Cristiane; Munhoz, Divanir E. N. Violência familiar
contra crianças e adolescentes
A violência praticada no meio familiar é denominada, por Guerra (2001, p.07), como
violência doméstica, representando; 
[...] todo ato ou omissão praticados por pais, parentes ou
responsáveis
contra crianças e/ou adolescentes que – sendo capaz de
causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima – implica,
de
um lado, numa transgressão de poder/dever de proteção do
adulto
e, de outro, numa coisificação da infância, isto é, numa
negação
do direito que crianças e adolescentes têm de ser tratados
como
10
sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
A visão de Guerra Azevedo demonstra a força do adulto sobre a criança e
adolescente, o poder dos pais sobre os filhos que da margem a prática de todo tipo
de violência no âmbito familiar.
Na relação autoritária, os adultos percebem o poder como 
forma de impor; surge, assim, o autoritarismo como “[...] uma 
forma de aprisionar a vontade e o desejo da criança, de 
submetê-la, portanto, ao poder do adulto, a fim de coagi-la a 
satisfazer os interesses, as expectativas ou paixões deste”. 
(AZEVEDO; GUERRA, 2000a, p.35).
Crianças não se dicotomizam apenas em vítimas e culpados, mas são
representantes de um modo violento de viver. A opressão imposta à criança ou
adolescente reproduz um pouco a opressão que este adulto enfrenta em sua vida
diária, pela violência maior que a sociedade lhe impõe.
A violência doméstica, além de determinantes estruturais, é de natureza
interpessoal, faz parte de um contexto de relacionamento adulto/criança, ocorre com
mais ou menos intensidade em todos os níveis socioeconômicos e culturais.
Acontece em todos os lugares independente de culturas, raças, credos ou situação
econômica. 
A crise que a família enfrenta hoje é reflexo de
inúmeros 
processos como “as migrações internas e os
deslocamentos 
populacionais provocados pelas guerras, a violência
urbana, a 
pobreza, as políticas de ajuste econômico, o
desemprego, o 
esgarçamento da solidariedade entre seus membros,
dentre 
outros” (Barsted, 1998, p- 4). 
O dever de proteção por parte da família, da sociedade e do Estado já foi
reconhecido anteriormente, a nível internacional, em 1966, pela aprovação do Pacto
de Direitos Civis e Políticos, pelas Nações Unidas, pois os Estados-Membros
reconhecem que: “Toda criança terá direito, sem discriminação alguma por motivo de
raça, sexo, cor, idioma, religião, origem nacional ou social, posição econômica ou de
nascimento, às medidas de proteção que a sua condição de menor requer por parte
de sua família, da sociedade e do Estado” (Artigo 24). 
Minayo (1994, p - 79) exemplifica a violência psicológica como abandono (não só
por doação, mas também pela ausência de demonstração de proteção), o estímulo a
11
competitividade (pressão para desenvolvimento pessoal melhor, excesso de
atividades), rejeição (depreciação, não aceitação de valores e negação de suas
necessidade), isolamento (afastamento de experiências sociais habituais à sua
idade), aterrorização (instauram um clima de medo-agressão verbal) e não estímulo
ao crescimento emocional e intelectual descuidando do desempenho escolar e de
desejo de novas atividades. 
Apesar da violência contra a criança e o adolescente ser um fenômeno que existe
desde a antiguidade, sendo que no Brasil as raízes remontam ao passado colonial ,
somente a partir da década de 60, com os movimentos populares houve uma
“redescoberta” da violência doméstica, no entanto as denúncias sobre a situação de
violência à criança se ampliaram a partir da década de 80, quando, a nível
internacional, acentuou-se a preocupação com a infância que culmina com a
convenção sobre os Direitos da Criança. 
4 - ANÁLISE CRÍTICA DA DECISÃO
“Ao Poder Judiciário corresponde a função jurisdicional, através da qual se obtêm a
composição da lide mediante a aplicação da lei. A jurisdição é emanação da
soberania do Estado (J. E. Carreira Alvim, 2006 )”. 
No acórdão, fica clara a observância daquela egrégia 2º Turma Criminal do Tribunal
do Distrito Federal e dos territórios no que concerne a fundamentar-se no Art. 147 e
Art. 70 ambos do Código Penal Lei nº 2.848 de 1940.
12
O artigo 147 do Código Penal é bem claro quando diz que ameaçar alguém por
palavra caracteriza crime, com detenção de 1 a 6 meses, ou multa.
Crime de ameaça;
Segundo a doutrina ameaça é palavra ou gesto intimador, promessa de castigo ou
mal físico, pronúncia ou indício de coisa desagradável ou temível, de desgraça, de
doença ( Buarque de Holanda Ferreira ).
Maria Helena Diniz considera que na linguagem comum designa a perspectiva de
um mal, que vem aludir ou restringir a livre manifestação da vontade de alguém,
atemorizando-o, enunciado por palavra, gesto ou sinal […] promessa de fazer mal
injusto e grave a outrem, incluindo sério receio.
Violência contra a criança;
Na relação autoritária, os adultos percebem o poder como forma de impor; surge,
assim, o autoritarismo como “[...] uma forma de aprisionar a vontade e o desejo da
criança, de submetê-la, portanto, ao poder do adulto, a fim de coagi-la a satisfazer
os interesses, as expectativas ou paixões deste”. 
(AZEVEDO; GUERRA, 2000a, p.35).
Violência contra a mulher; 
Dispõe o art. 5º da Lei nº 11.340/06: 
“Art. 5º - Para os efeitos desta Lei configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”.
Violência doméstica;
É a violência, explícita ou velada, literalmente praticada dentro de casa ou no âmbito
familiar, entre indivíduos unidos por parentesco civil (marido e mulher, sogra,
padrasto) ou parentesco natural (pai, mãe, filhos, irmãos, primos e demais parentes).
Incluem diversas práticas, como a violência e o abuso sexual contra as crianças,
13
maus tratos contra idosos, e violência contra a mulher e contra o homem geralmente
nos processos de separação litigioso além da violência sexual contra o parceiro. 
Violência psicológica; quando envolve agressão verbal, ameaças, gestos e posturas
agressivas, juridicamente produzindo danos morais; e violência socioeconômica,
quando envolve o controle da vida social da vítima ou de seus recursos econômicos.
Do Crime;
As alegações do acusado de que se dirigiu à residência onde moram as suas duas
filhas e sua ex-esposa apenas para corrigir suas filhas, contrariam o acervo
probatório onde está evidente o dolo de ameaçar suas filhas. O próprio acusado
declara que iria dar uma surra em sua filha se ela não abrisse o portão. Além disso,
pesa em desfavor do recorrido a existência de diversas anotações penais por crimes
relacionados à violência doméstica e familiar. Não restam dúvidas sobre a autoria e
materialidade dos fatos típicos. 
A indagação recai sobre a atitude do acusado em querer ingressar na residência que
ele não reside e diante da negação de suas filhas em não abrir o portão do imóvel,
ele efetuou pancadas no portão, disse que quebraria tudo e ameaçou bater nas
filhas. Esses elementos confirmados pela ofendida (filha) e pela sua mãe auxiliam na
formação de convicção principalmente porque se referem a crimes tipicamente
relacionados à violência doméstica e familiar contra a mulher.
A palavra davítima tem destacada relevância, pois os crimes dessa natureza
ocorrem no lar, sem a presença de testemunhas como diz a jurisprudência: 
 “[...] Em crimes que envolvem violência doméstica, a palavra da vítima merece
especial valor, sobretudo quando em sintonia com as provas produzidas. [...]” (APR
20070310426004, Acórdão n. 376905, Relatora SANDRA DE SANTIS, 1ª Turma
Criminal, julgado em 10/09/2009, DJ 30/09/2009, p. 116).
“[...] Nos delitos ocorridos no contexto da violência doméstica e familiar contra a
mulher, confere-se especial relevo à palavra da vítima, mesmo porque os fatos
delituosos, in casu, ocorreram sem a presença de testemunhas, não sendo raro, em
casos que tais, constatarem a ocorrência de ameaças”.
 [“...]” (APR 20070910072037, Acórdão n. 366159, Relator ARNOLDO CAMANHO
DE ASSIS, 2ª Turma Criminal, julgado em 09/07/2009, DJ 02/09/2009, p.174).
Com o auxílio da Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), onde estão previstas as formas de violação aos direitos da
14
criança e adolescente, e as medidas de proteção, mais precisamente, dos artigos 99
a 102. Onde, conforme elucidado pelo Ministério Público, houve de forma clara a
violação de direitos fundamentais garantidos através da Constituição Brasileira.
Segundo o artigo 6º da lei 11.340, a chamada lei Maria da Penha reconhece a
violência doméstica e familiar contra a mulher como violação dos direitos humanos.
O artigo 147 do Código Penal criminaliza o ato de ameaça. A doutrina considera
ameaça como aterrorizante, podendo comprometer o futuro da vítima de forma a
ferir a dignidade humana, que tem posição destacada na Constituição.
Nos tratados internacionais a dignidade tem maior atenção. Sendo os tratados
internacionais universais por cuidar de direitos naturais dos homens. 
Ao comparar a incapacidade das vítimas menores de idade, protegidas por estatutos
e leis especificas, o ato do Réu fere a dignidade no espaço e tempo, onde as
consequências causadas pelo crime , tanto pode ferir a dignidade no exato momento
ou deixar como ferida interna que se manifestara no futuro através de traumas,
fobias...
A jurisdição é o meio que o estado possui para proteger a dignidade do ser humano. 
Por opção, o ser humano escolhe viver em grupo criando assim o Estado com
intenção de organizar a convivência entre os seres humanos que são dotados de
capacidade, e para os que não têm são imponderados (Tutelados) por terceiros
dotados de capacidade,
O réu é dotado de plena capacidade e consciência, não se encontrava sob
alterações por qualquer substância seja licitas ou ilícitas que poderia descaracterizar
o crime cometido, o réu é reincidente neste tipo de crime, totalmente lúcido e
confesso do ato. 
A culpabilidade do réu encontra amparos legais na legislação através da
Constituição Federal, que estabelecem direitos e garantias fundamentais da pessoa
humana, sendo esclarecidos através deste texto legal que traduz as aspirações mais
inalienáveis do indivíduo, arrimo de todos os direitos, tutela de todas as liberdades,
(KUO, 2012).
15
Ao fim da análise do conteúdo do acórdão em questão, as alegações do réu que
agiu na condição de pai, com intenção de apenas corrigir suas filhas não encontram
amparo legal. Portanto, foram comprovadas a autoria e a materialidade sendo
imposta a reforma da sentença absolutório condenando R.V. S. no crime do artigo
147, do Código Penal.
5 – REFERÊNCIAS
1 - Azevedo, Maria Amélia, Bibliografia seletiva anotada sobre prevenção da
violência doméstica contra crianças e adolescentes (2000-2007) / LACRI -- São
Paulo, 2008.
2 - Caminha, Renato M. "A violência e seus danos à criança e ao
adolescente."Violência doméstica (1999): 43-60. de Violência Doméstica, Não
Vítimas. "Estratégias de Coping de Crianças Vítimas e "Psicologia: reflexão e
crítica 15.2 (2002): 345-362. 
16
3 - DOSSI, A.P.; SALIBA O.; GARBIN, C.A. S.; GARBIN, A. J.I. Perfi l
epidemiológico da violência física intrafamiliar: agressões denunciadas em um
município do Estado de São Paulo, Brasil, entre 2001 e 2005. Cad. Saúde Pública,
Rio de Janeiro, 24(8):1939-1952, ago, 2008
4 - Manual de Capacitação Interdisciplinar - Violência intrafamiliar e doméstica
medidas preventivas e repressivas
5 - Piovesan, Flávia, Temas de direitos humanos / Flávia Piovesan.– 5. ed. – São
Paulo: Saraiva, 2012.
6 - Pires, Joelza Mesquita A. "Violência na infância: aspectos clínicos."Violência
doméstica (1999): 61-70. 
7 - Preconceito e discriminação: as bases da violência contra a mulher.SILVA,
Sergio Gomes da Psicol. cienc. prof. [online]. 2010, vol.30, n.3, pp. 556-571. ISSN
1414-9893. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932010000300009
8 - Roque, Eliana Mendes de Souza Teixeira e Maria das Graças Carvalho Ferriani.
"DESVENDANDO A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA CRIANÇAS E
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES SOB A A
ÓTICA DOS OPERADORES DO DIREITO NA COMARCA DE JARDINÓPOLIS-
SP." Rev Latino-am enfermagem 10.3 (2002): 334-44. 
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