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Violência doméstica e familiar contra a mulher perante a lei 1134006

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER 
PERANTE A LEI 11.340/06 
 
 
 
 
 
 
 
 
LUCIANA SPÖRRER VIEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Biguaçu (SC), outubro de 2008 
 
 
 
2
 
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER 
PERANTE A LEI 11.340/06 
 
 
 
 
 
 LUCIANA SPÖRRER VIEIRA 
 
 
 
Monografia apresentada como requisito parcial 
para a obtenção do título de Bacharel em 
Direito pela Universidade do Vale de Itajaí – 
UNIVALI. 
 
 
 
 
 
Orientador: Prof. Msc. Luiz Cesar Silva Ferreira 
 
 
 
 
 
 
Biguaçu (SC), outubro de 2008.
 
 
 
3
 
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
 
 
Declaro para todos os fins de Direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte 
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do 
Itajaí, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de 
toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. 
 
 
 
 
Biguaçu, outubro de 2008. 
 
 
 
 
 
Luciana Spörrer Vieira 
Graduanda
 
 
 
 
4
 
PÁGINA DE APROVAÇÃO 
 
A presente monografia de conclusão de Curso de Direito da Universidade do Vale do 
Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Luciana Spörrer Vieira, sob o título de 
A Violência doméstica e Familiar contra a mulher perante a Lei nº 11.340/06, foi 
submetida em 13 de novembro de 2008 à banca examinadora composta pelos 
seguintes professores: Luiz César Silva Ferreira (Orientador e Presidente); Helena 
N. P. Pítsica (Membro); Celso Wiggers (Membro), e aprovada com a nota ____, 
___________________________. 
 
 
Área de Concentração: Direito Penal 
 
 
 
Biguaçu/SC, 13 de novembro de 2008 
 
 
 
 
 
Luiz César Silva Ferreira 
Orientador e Presidente da Banca 
 
 
 
 
Helena Nastassya Paschoal Pitsíca 
Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica
 
 
 
 
5
 
AGRADECIMENTO 
 
 
 
Á meus pais, 
Hilton Vieira 
Walquíria Spörrer Vieira; 
 
Á minha irmã, 
Alexandra Catarina Spörrer Vieira; 
 
À minha filhinha, 
Luana Vieira Demaria 
 
À todos aqueles que foram meus professores; 
 
E ao meu orientador, Prof. Msc Luiz César 
Silva Ferreira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
Dedico esta monografia a todas as Marias da 
Penha. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7
 
SUMÁRIO 
 
 
 
INTRODUÇÃO............................................................................................................. 01 
 
1 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA FAMÍLIA E DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
E FAMILIAR SOFRIDA PELA MULHER.................................................................... 
 
06 
1.1 UNIDADE FAMÍLIAR: NOVO CONCEITO............................................................ 06 
1.2 UNIDADE DOMÉSTICA....................................................................................... 15 
1.3 AS FORMAS DE VIOLÊNCIA FAMILIAR E DOMÉSTICA CONTRA A MULHER 17 
 
2 O TRATAMENTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A 
MULHER PERANTE O ORDENAMENTO JURÍDICO PENAL BRASILEIRO .......... 
 
26 
2.1 A JUSTIÇA PENAL EM FACE DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHER ANTES DA 
CRIAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA........................................................................ 
 
26 
2.2. A JUSTIÇA PENAL EM FACE DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER APÓS A 
CRIAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA 
 
37 
2.3. DADOS ESTATÍSTICOS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO ÂMBITO 
DOMÉSTICO E FAMILIAR......................................................................................... 
 
49 
 
3 OS MECANISMOS CRIADOS PELA LEI 11.340/06 PARA COIBIR A 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER................................. 
 
60 
3.1. DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
E FAMILIAR................................................................................................................ 
 
60 
3.1.1. Das medidas integradas de prevenção............................................................. 60 
3.1.2. Da assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar........... 63 
3.1.3. Do atendimento pela autoridade policial............................................................ 65 
3.2. DO PROCEDIMENTO EM CASO DE VIOLÊNCIA FAMILIAR E DOMÉSTICA 
CONTRA A MULHER.................................................................................................. 
 
73 
3.2.1 Das medidas protetivas de urgência.................................................................. 79 
3.2.2 Da atuação do Ministério Público....................................................................... 90 
3.2.3 Da assistência judiciária..................................................................................... 92 
3.3 A EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR.......................................... 93 
 
 
 
8
 
CONCLUSÃO.............................................................................................................. 95 
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS.................................................................... 98 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9
 
RESUMO 
 
A presente monografia tem como objeto a verificação da Lei nº 11. 340, de 07 de 
agosto de 2006 (Lei Maria da Penha) em face da violência doméstica e familiar 
contra a mulher. Para que isso se esclarecesse, esta pesquisa serviu-se do método 
dedutivo de pesquisa utilizando a doutrina e a jurisprudência. O presente texto se 
encontra dividido em três capítulos. O primeiro capítulo expôs considerações a 
respeito da família, do ambiente doméstico e da violência doméstica e familiar contra 
a mulher, abordando assim a evolução do conceito de família, o significado de 
unidade doméstica e as formas de violência contra a mulher no âmbito doméstico e 
familiar. Este primeiro capítulo tem como objetivo descobrir qual o alcance da Lei nº 
11340/2006 aos casos de violência contra a mulher. O segundo capítulo explana 
sobre o tratamento da violência doméstica e familiar contra a mulher perante o 
ordenamento jurídico penal brasileiro antes da Lei Maria da Penha e as alterações 
trazidas pela Lei em estudo. Mostra também dados estatísticos da violência 
doméstica e familiar contra a mulher antes da aplicação da Lei nº11340/2006. O 
terceiro capítulo tratou dos mecanismos criados pela Lei Maria da Penha para coibir 
a violência contra a mulher no âmbito doméstico e familiar, analisando as medidas 
protetivas de urgência; as medidas integradas de prevenção; a assistência à mulher 
em situação de violência doméstica e familiar; o atendimento pela autoridade 
policial. Neste capítulo tratou-se também das medidas protetivas de urgência; da 
atuação do Ministério Público; da assistência judiciária à ofendida e da equipe de 
atendimento multidisciplinar. 
 
Palavras chave: violência doméstica e familiar, mulher, Lei 11.340/2006, prevenção, 
combate. 
 
 
 
 
1
0
ABSTRACT 
 
This monograph aims at checking the Law No. 11. 340, of 07 August 2006 (Maria da 
Penha Law) in the face of domestic and family violence against women. For this to 
clarify, this research used is the method of deductive search using the doctrine and 
jurisprudence. This text is divided into three chapters. The first chapter explained 
considerations regarding the family, the home environment and the domestic and 
family violence against women, thereby addressing the evolution of the concept of 
family, the significance of unity and the forms of domestic violence against women in 
domesticand family . This first chapter aims to find out what the scope of Law No. 
11340/2006 to cases of violence against women. The second chapter outlines on the 
treatment of domestic and family violence against women before the law before the 
criminal Brazilian Maria da Penha Law and the amendments brought by Law under 
study. It also shows statistical data of domestic and family violence against women 
before the implementation of Law No. 11340/2006. The third chapter dealt with the 
mechanisms created by Maria da Penha Law to curb violence against women within 
the household and family, examining the emergency protective measures, the 
integrated measures of prevention, assistance to women in situations of domestic 
violence and family; the attendance by the police. In this chapter this was also the 
emergency protective measures, the role of prosecutors, legal aid to the offense and 
the team of multidisciplinary care. 
 
Key word: Domestic and Familiar Violence, woman, law nº 11.340/06, prevention, 
combat
 1 
INTRODUÇÃO 
 
 
 A presente monografia tem por objeto tratar da violência doméstica e familiar 
contra a mulher perante a Lei nº 11.340/2006 Esta lei foi “batizada” de Lei Maria da 
Penha, em homenagem a biofarmacêutica Maria da Penha Fernandes que sofreu 
tentativa de homicídio provocada pelo então marido. Seu agressor ficara impune e 
Maria da Penha não se conformou. Ela então procurou os organismos 
internacionais. Em 2001 a Organização dos Estados Americanos (OEA) 
responsabilizou o Estado brasileiro por negligência e omissão em relação a 
violência doméstica e recomendou que se tomassem medidas. A violência contra a 
mulher na esfera doméstica e familiar atinge índices alarmantes. Diante deste 
grande índice, tornou-se imprescindível a criação de uma lei específica para 
proteger a integridade física e psicológica da mulher no ambiente doméstico e 
familiar. Cria-se, então, a Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. 
 Esta monografia tem por objetivo reunir informações, retiradas de doutrinas 
basicamente, para transmitir ao leitor a importância da criação da Lei 11.340/2006 
no combate a violência doméstica e familiar contra a mulher. 
 A presente pesquisa utiliza o método dedutivo, que consiste em estabelecer 
uma formulação geral, e depois, buscar partes do fenômeno para sustentar a 
formulação geral. Através desta pesquisa o leitor se informa da opinião dos 
doutrinadores a respeito da violência doméstica e familiar contra a mulher e da Lei 
em exame para que possa tirar conclusões próprias sobre o assunto aqui abordado 
e para que possa servir também de incentivo à futuras pesquisas. 
 Sendo assim, a pesquisa aqui apresentada está dividida em três capítulos. O 
primeiro capítulo tem como título “CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA FAMÍLIA E 
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR SOFRIDA PELA MULHER”, que abrange 
o conceito atual de unidade familiar; o conceito de unidade doméstica e as formas 
de violência familiar e doméstica contra a mulher. 
 A Lei Maria da Penha protege a mulher agredida ambiente familiar. A família é 
a base da sociedade. De acordo com art. 226, caput da Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988 o Estado tem o dever de proteger a família 
independente de sua espécie, pelo importante papel que exerce na sociedade. 
Entretanto o conceito de família vem sofrendo alterações ao longo do tempo. 
 2 
Abandonou-se o modelo patriarcal e hierarquizado da família romana e firmou-se um 
modelo da atuação participativa, igualitária e solidária daqueles que compõe a 
entidade famíliar. Esta nova realidade surgiu por causa de uma série de motivos, 
entre eles: a liberação sexual, o impacto dos meios de comunicação, o 
desenvolvimento científico, a emancipação feminina, a longevidade, a diminuição 
das famílias com o aperfeiçoamento e difusão dos meios contraceptivos, as 
descobertas no campo da biogenética, etc. 
 A lei nº11.340/2006, no art. 5º, II, traz um conceito que se enquadra na nova 
concepção de família: “comunidade formada por indivíduos que são ou se 
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade 
expressa”. Portanto diante deste novo conceito de família não como restringir o 
alcance da Lei Maria da Penha. 
 A mulher agredida no âmbito doméstico também será protegida pela lei Maria 
da Penha. O inciso I do art. 5 deste diploma legal em estudo, traz o conceito de 
unidade doméstica, ou seja é todo espaço de convívio permanente de pessoas, com 
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas. 
 A Lei Maria da Penha, conforme art. 5, III, também ampara a mulher que, em 
qualquer relação íntima de afeto, tenha sido agredida por aquele com quem conviva 
ou tenha convivido, independente de coabitação. 
 O primeiro capítulo trata também das formas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher. A Lei nº11.340/2006 traz no art. 7º, incisos I a V as 
seguintes formas de violência doméstica e familiar: física; psicológica; sexual; 
patrimonial e moral. Mas a lei não é taxativa, pois no caput do art. 7º o legislador 
usa a expressão “entre outras” antes de elencar as formas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher. 
 De acordo com a lei em exame, violência física é qualquer conduta que 
ofenda a integridade ou a saúde corporal de alguém. A violência psicológica é a 
conduta que resulta em dano emocional e diminuição da auto-estima, que prejudique 
e perturbe o pleno desenvolvimento ou com intenção de degradar ou controlar as 
ações, comportamentos, crenças e decisões de alguém, através de ameaça, 
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, 
perturbação contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração, limitação do 
direito de locomoção ou outra maneira qualquer que prejudique à saúde psicológica 
e à autodeterminação. Violência sexual se configura quando ocorrer qualquer 
 3 
conduta que a constranja a ver, a manter ou a fazer parte de relação sexual que não 
tenha desejado, por meio de intimidação, ameaça, coação ou usando força; que a 
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a 
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à 
gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou 
manipulação; ou que viole seus direitos sexuais e reprodutivos. A violência 
patrimonial é a retenção, subtração, destruição parcial ou total dos objetos, 
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos 
econômicos da vítima incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. 
Entende-se por violência moral: calúnia, difamação ou injúria. Portanto a Lei nº 
11.340/2006 protege a mulher de toda forma de violência doméstica e familiar. 
 O segundo capítulo da presente pesquisa está assim intitulado: “O 
TRATAMENTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER 
PERANTE O ORDENAMENTO JURÍDICO PENAL BRASILEIRO” que trata da 
justiça penal em face da violência contra a mulher antes da criação da Lei Maria da 
Penha, em seguida mostra dados estatísticos da violência contra a mulher no âmbito 
doméstico e familiar e termina tratando da justiça penal em face da violência contra 
a mulher após a criação da Lei em estudo, ou seja as alterações trazidas pela lei em 
exame 
 Antes da Lei nº 11.340/2006 entrar em vigor a autoridade policial ao tomar 
conhecimento de um caso de violência doméstica e familiar contra a mulher, 
encaminhava imediatamente a vítima ao Juizado Especial Criminal junto com o autor 
do fato. Portanto aos casos de violência contra mulher no âmbito familiar e 
doméstico era aplicável a transação penal, a suspensão condicional do processo, a 
composição dos danos extintiva de punibilidade, Lavrava-se termo circunstanciado 
(TCOs), pelos quais o acusado era geralmente condenado a pagar uma cesta básica 
ou prestarserviços comunitários (em caso de prisão em flagrante era lavrado auto 
de prisão em flagrante e se fosse o caso, arbitrada fiança). 
 Em 2002 a Lei 10.455 criou uma medida cautelar na qual o juiz podia decretar 
o afastamento do agressor do lar conjugal no caso de violência doméstica. Em 2004 
a Lei 10.886 adicionou ao crime de lesão previsto no Código Penal um subtítulo que 
afirma que se a lesão corporal leve for decorrente de violência doméstica, a pena 
deverá ser aumentada de três para seis meses de detenção. 
 4 
 Entretanto apesar destas mudanças a violência doméstica e familiar 
continuava alcançando altos índices : segundo a OMS, quase metade das mulheres 
assassinadas foram mortas pelo marido ou namorado, atual ou ex. De acordo com 
dados colhidos no site da Fundação Perseu Abramo mostram que do universo 
investigado (61,5 milhões) a projeção da taxa de espancamento (11%) indica que 
pelo menos 6,8 milhões, dentre as brasileiras vivas, já foram espancadas pelo 
menos uma vez. No Brasil uma mulher é espancada a cada 15 segundos. Dentre as 
formas de violência a mesma pesquisa mostra que 20% das mulheres já sofreram 
agressão física leve; 18% foram ofendidas moralmente; 15% sofreram ameaça 
indireta de agressão ; 12% afirmaram ter sido ameaçadas de espancamento a si 
própria e a seus filhos; 12% declararam que já sofreram violência referente ao seu 
trabalho; 11% das mulheres já foram espancadas com cortes, marcas ou fraturas; 
11% dizem já ter sido vítima de estupro conjugal, de assédio sexual e críticas à sua 
atuação como mãe; 9% das mulheres declaram que foram trancadas em casa; 8% 
foram ameaçadas com arma de fogo e 6% sofreram abuso. 
 Diante desta realidade surge, então Lei n º 11340/2006 (Lei Maria da Penha) 
que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. 
Esta lei específica para as mulheres veda no art. 41 a aplicação da Lei 9.099/95 aos 
casos de agressão à mulher no âmbito familiar e doméstico. Com a Lei Maria da 
Penha, são hoje instaurados inquéritos policiais que demandam investigação, 
reunião de provas e coleta de depoimentos, sendo que o agressor poderá ser preso. 
A Lei também altera a pena para lesão corporal, que antes era de seis meses a um 
ano e agora é de três meses a três anos. As mulheres que sofrerem violência 
doméstica e familiar poderão recorrer às medidas protetivas que visam proteger a 
sua integridade física, psicológica e patrimonial. Ou seja, contra qualquer ação ou 
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual 
ou psicológico e dano moral e patrimonial, conforme diz o art. 5º do diploma legal em 
estudo. 
 O terceiro e último capítulo desta pesquisa tem como título: “OS MECANISMOS 
CRIADOS PELA LEI 11.340/06 PARA COIBIR A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E 
FAMILIAR CONTRA A MULHER” e se subdivide em duas partes. O primeiro 
subtítulo é: “Assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar”, 
abordando então as medidas integradas de prevenção, assistência à mulher em 
situação de violência doméstica e familiar, o atendimento pela autoridade policial. O 
 5 
segundo subtítulo está intitulado: “ Do procedimento em caso de violência doméstica 
e familiar contra a mulher”, e abrange as medidas protetivas de urgência, a atuação 
do Ministério Público, a assistência judiciária à ofendida. O terceiro subtítulo se 
refere a : “Equipe de atendimento Multidisciplinar”. 
 No art. 8º da Lei nº 11.340/2006 o legislador, visando coibir a violência 
doméstica e familiar contra a mulher, traz um leque de medidas de prevenção, tais 
como a integração operacional de órgão preventivos e repressores; a proibição aos 
meios de comunicação de criarem figuras e situações em que a mulher seja vista 
como objeto de violência; o aparelhamento e implementação das delegacias para 
atendimento qualificado à mulher vítima de violência doméstica e familiar; 
disseminação do conhecimento da Lei Maria da Penha para a sociedade em geral 
através dos meios e comunicação principalmente, criação de um aparato de 
segurança unificado e capacitação da máquina policial etc. Mas este rol é apenas 
exemplificativo pois poderão ser adotadas outras medidas. 
 De acordo com o diploma legal em estudo, constatada a prática de agressão 
contra mulher na esfera familiar e doméstica poderão ser aplicadas as medidas 
protetivas de urgência ao agressor e à vítima. Essas medidas poderão ser 
concedidas de imediato e serão aplicadas isolada ou cumulativamente. Poderão 
também ser substituídas por outras de maior eficácia. O juiz poderá conceder novas 
medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas. 
 De acordo com a legislação em estudo nos casos de violência doméstica e 
familiar contra a mulher o Ministério Público dispõe de legitimidade para agir como 
parte na condição de substituto processual (arts. 19, § 3º, e 37 ) e como fiscal da lei 
(art. 22, § 1º), podendo requerer outras providências (art. 19) ou a substituição por 
medidas diversas (art. 19, § 3º). 
 A toda mulher em situação de violência doméstica e familiar é garantido o 
acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, 
segundo a Lei Maria da Penha, no art. 28. 
 A equipe de atendimento multidisciplinar é composta de profissionais 
especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde que fornecem subsídios 
ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante laudos ou 
verbalmente em audiência, e desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, 
prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, 
com especial atenção as crianças e aos adolescentes. 
 6 
1. CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA FAMÍLIA E DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
E FAMILIAR SOFRIDA PELA MULHER BRASILEIRA 
 
1.1 UNIDADE FAMILIAR: NOVO CONCEITO 
 
 De acordo o princípio da proteção, reza o art. 226, § 8º da Constituição da 
Republica Federativa do Brasil de 1988: 
 
 “O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que 
a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações” 
 
 Diniz ensina que a família tem como base o princípio da dignidade da pessoa 
humana 
g) Princípio do respeito da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III), 
que constitui a base da comunidade familiar (biológica ou socioafetiva), 
garantindo, tendo por parâmetro a efetividade, o pleno desenvolvimento e a 
realização de todos os seus membros, principalmente da criança e do 
adolescente (CF, art. 227). (2007, pg.22). 
 
 Gama leciona: 
 
Do princípio da dignidade da pessoa humana decorreram a 
despatrimonialização e a despersonalização das relações de família 
substituindo-se a ênfase no tratamento das relações patrimoniais entre 
cônjuges, companheiros e parentes pela valorização de aspectos 
existenciais procurando-se garantir acima de tudo, os direitos da 
personalidade de cada membro do grupamento familiar. A dignidade da 
pessoa humana alçada ao topo da pirâmide normativa do ordenamento 
jurídico brasileiro encontra na família o solo apropriado para seu 
emaizamento e desenvolvimento, o que justifica a ordem constitucional no 
sentido de que o Estado dê especial e efetiva proteção as famílias 
independente de sua espécie. Busca desenvolver o que é mais relevante 
entre os familiares, o projeto familiar fulcrado no afeto, solidariedade, 
confiança, respeito, colaboração, união, de modo a propiciar o pleno e 
melhor desenvolvimento da pessoa de cada integrante inclusive sob o 
prisma dos valores morais, éticos e sociais. (2007, pg. 157- 158). 
 
Portanto de acordo com o princípio da proteção deve-se resguardar a 
integridade dos membros da família. Entretanto é importante saber o que é a família 
nos moldes atuais, identificando assim os seus membros. Souza conclui sobre o 
conceito de família: 
 
 7 
Etimologicamente, a palavra família derivada palavra famel, que por sua 
vez fez surgir a palavra famulus, culminando na palavra famulia. Nesse 
sentido, significa um vínculo de pessoas subordinadas entre si. Alguns 
entendem que a palavra deriva de domuse significa casa ou uma 
construção comum. Unindo todos esses pensamentos, podemos concluir 
que família é uma reunião de pessoas vinculadas e que vivem muito 
próximas entre si. (2007, pg.22) 
 
 Portanto, conforme Souza, família é um conjunto de pessoas que vivem 
próximas e que possuem vínculos entre si, sendo que até certo tempo atrás, o 
casamento era o único vínculo aceito pela legislação brasileira, repudiando assim o 
concubinato, como era denominado na época. 
 
As relações de família. Além do parentesco, pode a pessoa estar 
relacionada a uma família pelo vínculo conjugal (marido e mulher) ou pela 
afinidade. A afinidade é a relação que liga uma pessoa aos parentes de seu 
cônjuge. Entre os afins na linha reta estão o sogro, o genro, o padrasto, o 
enteado etc., e na linha colateral, o cunhado. A afinidade na linha reta não 
se extingue com a dissolução do casamento que a originou (CC, art. 1.595, 
§ 2º). (MAX, 2007, pg. 295). 
 
 Diniz ensina sobre as três acepções do vocábulo família: 
 
Na seara jurídica encontrem-se três acepções fundamentais do vocábulo 
família: a) amplíssima; b) a lata e c) a restrita. a) No sentido amplíssimo o 
termo abrange todos os indivíduos que estiverem ligados pelo vínculo da 
consangüinidade ou da afinidade, chegando a incluir estranhos, como no 
caso do art. 1.412, § 2º, do Código Civil em que as necessidades da família 
do usuário compreendem também as das pessoas de seu serviço 
doméstico. [...] b) Na acepção “lata”, além dos cônjuges ou companheiros, 
e de seus filhos, abrange os parentes da linha reta ou colateral, bem como 
os fins (os parentes do outro cônjuge ou companheiro), como a concebem 
os art. 1.591 e s . do Código Civil, o Decreto-lei n . 3.200/41 e a Lei n . 
883/49. c) Na significação restrita é a família (CF, art. 226, § § 1º e 2º) o 
conjunto de pessoas unidas pelos laços do matrimônio e da filiação, ou seja, 
unicamente os cônjuges e a prole (CC, arts. 1.567 e 1.716) , e entidade 
familiar a comunidade formada pelos pais, que vivem em união estável, ou 
por qualquer dos pais e descendentes. (2007, pg. 9-10). (grifo meu). 
 
 O doutrinador, então, mostra um conceito de casamento : 
 
É o vínculo jurídico que se estabelece entre um homem e uma mulher, de 
caráter temporário e litúrgico quanto à sua constituição, e que gera como 
efeito, além de direitos e obrigações regulados em lei, concessão recíproca 
de direito da personalidade.(SOUZA, 2007, pg.23). 
 
 Diniz leciona sobre a evolução do conceito de família 
 
Lévy-Bruhl chega até a dizer que o traço dominante da evolução da família 
é a sua tendência em tornar o grupo familiar cada vez menos organizado e 
hierarquizado, fundando-se cada vez mais na afeição mútua, que 
 8 
estabelece plena comunhão de vida. [...] Deveras, a família está passando 
por profundas modificações, mas como organismo natural ela não se acaba 
e como organismo jurídico está sofrendo uma nova organização; logo não 
há desagregação ou crise. Nenhuma dessas mudanças legislativas abalará 
a estrutura essencial da família e do matrimônio, que é sua pedra angular. 
(2007, pg. 22- 24) 
 
Ou seja: ocorreram profundas modificações no conceito de família, pois ao 
lado do casamento passaram a coexistir outros núcleos familiares. Atualmente 
considera-se como vínculo familiar: o casamento; a união estável; a família 
monoparental e a família homoafetiva. Existem ainda união eventual de pessoas que 
não desejam estabelecer vínculo permanente e também há o namoro. 
 Diniz ensina o que é família 
 
Deve-se, portanto, vislumbrar na família uma possibilidade de convivência, 
marcada pelo afeto e pelo amor, fundada não apenas no casamento, mas 
também no companheirismo, na adoção e na monoparentalidade. É ela o 
núcleo ideal do pleno desenvolvimento da pessoa. É o instrumento para a 
realização integral do ser humano. (2007, pg. 13) 
 
 Dias esclarece: 
 
Assim, as famílias anaparentais (formadas entre irmãos), as homoafetivas e 
as famílias paralelas (quando o homem mantém duas famílias), igualmente 
estão albergadas no conceito constitucional de entidade familiar como 
merecedoras da especial tutela do Estado. (2007, pg. 43). 
 
 A união estável está amparada pelo art. 226, § 3º da Constituição da 
República Federativa de 1988: 
 “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o 
homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em 
casamento.” 
 Souza diz o que é união estável : 
 
A união estável é um vínculo jurídico informal estabelecido entre um homem 
e uma mulher, de caráter duradouro, público e contínuo, em que ambos 
desejam constituir uma entidade familiar, produzindo efeitos jurídicos não só 
para as partes, mas também para terceiros.(2007, pg.23-24). 
 
 Max ensina: 
 
 “União estável é a convivência pública, contínua e duradoura entre o homem 
e a mulher, com o objetivo de constituição de família. Considera-se a união estável 
como sendo uma entidade familiar (CC, art. 1.723).” (2007, pg.293-294). 
 9 
 
 A união estável apresenta como pressupostos: 
 
a) honor matrimonii – o casal apresenta-se à vista de todos como se fossem 
casados, de forma que terceiros os confundem com pessoas efetivamente 
casadas, na medida em que só a certidão de casamento é que consegue 
promover a distinção. b) affectio maritalis – o casal entende estar em união 
estável. Ambos acreditam que estão sob o estado de casado, sendo 
importante frisar que nenhum dos companheiros crê estar apenas 
namorando, até porque a linha divisória entre as duas situações jurídicas é 
bastante tênue.(SOUZA, 2007, pg.24) 
 
 O doutrinador diz quais os deveres que ambos os cônjuges tem na união 
estável 
 
 “Deveres na união estável: lealdade, respeito e assistência e guarda dos 
filhos (CC, art. 1.724).”(MAX, 2007, pg.293-294). 
 
 A família homoafetiva não está amparada pela Constituição da República 
Federativa do Brasil de1988, pois no seu artigo 226, § 3º menciona apenas a união 
estável entre um homem e uma mulher. Entretanto a doutrina e, aos poucos, a 
jurisprudência vêm dando contornos familiares à união do casal homossexual. 
 A doutrinadora Maria Berenice Dias afirma que a Lei Maria da Penha traz um 
conceito de família que corresponde ao formato atual dos vínculos afetivos: 
 
Para o efeito de assegurar sua aplicação, a Lei Maria da Penha tenta definir 
família (art. 5º, II): “comunidade formada por indivíduos que são ou se 
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou 
vontade expressa” (2007, pg.43). 
 
 Segundo o conceito da Lei em estudo família é uma comunidade formada por 
pessoas unidas por vínculo jurídico familiar, podendo ser conjugal, parentesco (em 
linha e por afinidade), ou por vontade expressa (adoção). 
 O conceito trazido pela lei Maria da Penha, fala em comunidade formada por 
indivíduos, não se refere especificamente a um homem e uma mulher, portanto o 
legislador aceita também como família, o relacionamento homoafetivo. Ensina a 
doutrinadora: 
 
O reconhecimento da união homoafetiva como família é expresso, pois a Lei 
Maria da Penha incide independentemente da orientação sexual (art. 2.º e 
5.º, parágrafo único). Assim, lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros, 
que tem identidade feminina, estão ao seu abrigo quando a violência ocorre 
 10 
entre pessoas que possuem relação afetiva no âmbito da violência 
doméstica e familiar. (DIAS, 2007, pg.44). 
 
 
 Em outras palavras: a Lei n º 11.340/2006 no seu art. 2º, afirma que toda a 
mulher independente de orientação sexual goza dos direitos fundamentais da 
pessoa humana, portanto esta lei assegura a proteção de lésbicas, travestis, 
transexuais e os transgêneros do sexo femininoque mantêm relação íntima de afeto 
na família ou de convívio. Ou seja, a Lei em estudo protege situações de violência 
contra o gênero feminino. 
 
 Uma corrente mais moderna de doutrinadores afirmam o transexual está 
amparado pelo diploma legal em exame. No entanto este não pode ser confundido 
com o homossexual, bissexual, intersexual ou travesti que não são protegidos pela 
Lei Maria da Penha. O doutrinador ensina o que vem a ser o transexual: 
 
O transexual é aquele que sofre uma dicotomia físico psíquica, possuindo 
um sexo físico, distinto de sua conformação sexual psicológica. Nesse 
quadro, a cirurgia de mudança de sexo pode se apresentar como um modo 
necessário para a conformação do seu estado físico e psíquico.(CUNHA, 
2007, pg.21). 
 
 
É importante salientar que o amparo da Lei Maria da Penha ao transexual 
gera opiniões contrárias: 
 
 
Em eventual resposta à indagação inicial podem ser observadas duas 
posições: uma primeira, conservadora, entendendo que o transexual, 
geneticamente não é mulher (apenas passa a ter órgão genital de 
conformidade feminina), e que, portanto, descarta, para a hipótese, a 
proteção especial; já para uma corrente mais moderna, desde que a pessoa 
portadora de transexualismo transmute suas características sexuais (por 
cirurgia de modo irreversível), deve ser encarada de acordo com a nova 
realidade morfológica, eis que a jurisprudência admite, inclusive, retificação 
de registro civil. Hoje, inclusive, há doutrinadores admitindo transexual 
vítima, em abstrato, do crime de estupro (mesmo a lei falando somente de 
mulher). (CUNHA, 2007, pg.21). 
 
 Portanto, os conservadores acreditam que a Lei não deva amparar o 
transexual pois este, mesmo mudando suas características sexuais em 
conformidade feminina, continua sendo homem geneticamente, não havendo sentido 
receber portanto a proteção de uma lei específica para as mulheres. Entretanto, 
conforme aqueles que tem uma opinião mais moderna: se o transexual pode ser 
registrado como mulher e é aceito como vítima de estupro apesar deste tipo de 
 11 
crime só mencionar a mulher como vítima, não há porque não ser também 
amparado pela Lei 11. 340/2006 (Lei Maria da Penha). Ensina o doutrinador : 
 
Diante do amplo espectro da lei até relações protegidas pelo biodireito 
passam a estar tuteladas, de maneira que, se o transexual fizer cirurgia 
modificativa de sexo e passar a ser considerado mulher no registro civil, terá 
efetiva proteção.(SOUZA, 2007, pg. 70-71). 
 
 Mesmo entendimento tem outro doutrinador: 
 
Rogério Greco explica:”Se existe alguma dúvida sobre a possibilidade de o 
legislador transformar um homem em uma mulher, isso não acontece 
quando estamos diante de uma decisão transitada em julgado. Se o Poder 
Judicial, depois de cumprido o devido processo legal, determinar a 
modificação da condição sexual de alguém, tal fato deverá repercutir em 
todos os âmbitos de sua vida, inclusive o penal.”(CUNHA, 2007, pg. 21) 
 
 A Lei Maria da Penha também é aplicada às uniões homossexuais entre as 
mulheres: 
A lei em estudo, portanto, de forma inédita em nosso arcabouço normativo, 
prevê que as medidas nela previstas, de caráter penal e civil aplicam-se, 
também, as uniões homossexuais entre mulheres, permitindo inclusive, em 
nosso entendimento, que se determine, por exemplo, o afastamento do lar 
da agressora, [...]. (art. 22,II).(CUNHA, 2007, pg.33) 
 
 
 Ou seja, não importa que a vítima tenha sido agredida por outra mulher, o que 
importa para a lei é que a vítima seja do sexo feminino e que tenha vínculo afetivo 
com agressor ou agressora. 
 
Ainda que a Lei tenha por finalidade proteger a mulher, acabou por cunhar 
um novo conceito de família, independente do sexo dos parceiros. Assim, 
se família é a união entre duas mulheres, igualmente é família a união entre 
dois homens. Ainda que não se encontrem ao abrigo da Lei Maria da 
Penha, para todos os fins impõe-se este reconhecimento.(DIAS, 2007, pg. 
37-38). 
 
 Concluindo: A Lei Maria da Penha protege a mulher, não interessando sua 
opção sexual e protege todos aqueles que tem identidade feminina, como travestis e 
transexuais. Entretanto, mesmo que esta Lei não ampare a relação íntima de afeto 
entre dois homens, para todos os outros fins, impõe-se o seu reconhecimento como 
família: 
As uniões homoafetivas já galgaram o status de unidade familiar. A 
legislação apenas acompanha essa evolução, para permitir que, na 
ausência de sustentação própria, o Estado intervenha para garantir a 
integridade física e psíquica dos membros de qualquer forma de família. 
(DIAS, 2007, pg.38). 
 12 
 
 
 As relações paralelas também são consideradas como entidade familiar. 
Ocorre quando um homem mantém relacionamento afetivo com mais de uma 
mulher, ou seja as relações adulterinas também são consideradas família e também 
são amparadas pela lei Maria da Penha: 
 
Outra realidade social que agora vem recebendo reconhecimento jurídico 
são as uniões paralelas, ou seja, as relações concomitantes, que de um 
modo geral são mantidas por homens. Cada um dos vínculos constitui uma 
unidade familiar. Assim, agredindo o varão qualquer das companheiras, o 
fato de a união ser rotulada de adulterina, não exclui do âmbito da proteção 
da Lei. (DIAS, 2007, pg.44). 
 
 
 O conceito de família monoparental é encontrado na Constituição Federal no 
seu artigo 226, § 4º, que disciplina “Entende-se, também, como entidade familiar a 
comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”. 
 Ou seja, a Constituição ampara a família formada pelo vínculo entre 
ascendente e descendente, que pode ser constituída por pai com seus filhos ou mãe 
com seus filhos. Tanto faz se o pai ou a mãe sejam casados ou não. A proteção do 
art. 226, § 4º, abrange filhos concebidos ou não no casamento e também os 
adotados. Busca-se com isso que os filhos tenham igual proteção do Código Civil, 
consagrando-se o princípio da isonomia. 
 
Tal status familiar visa dar efetividade a isonomia dos filhos estabelecida 
pelo art. 227, § 6.º, da Constituição Federal, posto que, havidos ou não na 
relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e 
qualificações. [...] A nova noção do conceito de família, inclui a família 
monoparental, por isso também recebe proteção da Lei que visa coibir a 
violência doméstica e familiar (Lei Maria da Penha), com todas as medidas 
preventivas e repressivas, incluindo tutelas de urgência, previstas nesta lei. 
(SOUZA, pg.25 -26). 
 
 O namoro também pode ser considerado atualmente como um núcleo 
familiar: 
 
 “Pode-se conceituar o namoro como um período informal de convivência entre 
um homem e uma mulher, com objetivo de se conhecerem e de, no futuro, 
constituírem família.” (SOUZA, 2007, pg.27). 
 
 13 
 Não há previsão legal a respeito neste instituto, pois não produz efeitos 
jurídicos: 
Não há que se confundir o namoro com o noivado, posto que em ambas as 
situações existe a convivência entre homem e a mulher para a futura 
constituição de família pelo casamento e pela união estável. No entanto, o 
noivado gera responsabilidade civil extracontratual, enquanto o namoro, 
como já dito, não deve produzir efeitos jurídicos. (SOUZA, 2007, pg. 28).
 
 Portanto o namoro se difere de noivado porque o noivado produz 
responsabilidade civil extracontratual, enquanto o namoro não gera efeitos jurídicos. 
 
O noivado é uma promessa de casamento, também chamado de esponsal, 
prometendo as partes, casamento em prazo certo. Este instituto não gera 
conflito com a união estável, porque normalmente se inicia com uma 
solenidade e com troca dos anéis esponsalícios. (SOUZA, 2007, pg.28). 
 
 O namoro, o noivado e até mesmo as relações eventuais, como o que os 
jovens denominam “ficar” são protegidos pela Lei Maria da Penha, pois conforme o 
art. 5.º, III, da Lei 11.340/2006, o amparo a mulher que sofre violência abrange 
qualquer relação intima de afeto,na qual o agressor conviva ou tenha convivido com 
a vítima, independente de morarem junto ou não. Diz o doutrinador: 
 
Tanto o namoro quanto o noivado tem plena tutela da Lei 11.340/2006, 
posto que muito embora sejam situações em fase embrionária à 
constituição de família, de acordo com o artigo 5.º, III, da LVM, a proteção 
da mulher decorrente de violência engloba : “qualquer relação íntima de 
afeto , na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, 
independente de coabitação”.(SOUZA, 2007, pg. 28). 
 
 Portanto, o conceito de família experimenta atualmente, profunda modificação 
Afirma o doutrinador Cunha: 
 
Como salientam Iglesias Fernanda de Azevedo Rabelo e Rodrigo Viana 
Saraiva, 'aceitar novos modelos familiares não significa dizer que a família 
será destruída. Conceber apenas a família nuclear composta pelo casal 
heterossexual e filhos como o único modelo de família aceitável, é 
incompatível com a natureza afetiva da família. A noção de família como 
núcleo de afetividade e base da sociedade deve ser encarada, como de fato 
é, como um fator cultural. E, dessa maneira, a legislação deve acompanhar 
a evolução da sociedade e, conseqüentemente, dos arranjos familiares'. 
(2007, pg.35). 
 
 Já o conceito de concubinato está previsto no artigo 1.727 do Código Civil que 
afirma: “As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, 
constituem concubinato”. 
 14 
 A intenção do legislador foi a de limitar a união estável vigente. Portanto se 
houver casamento ou união estável vigente ou havendo impedimento para o 
casamento, qualquer relação estável entre um homem e uma mulher . 
 
A situação histórica mais comum é aquela que o homem, na vigência do 
casamento, mantinha outro vínculo, de forma que morava com a esposa, 
mas possuía à distância outra mulher, que se denominava “teúda e 
manteúda”. Também é concubinato a chamada união estável desleal, que é 
aquela em que uma pessoa, já possuindo uma união estável, inicia outra 
concomitante à primeira.(SOUZA, 2007, pg. 46). 
 
 Dias leciona: 
 
Não há de se reconhecer que o conceito de família trazido pela Lei Maria da 
Penha enlaça todas as estruturas de convívio marcada por uma relação 
íntima de afeto, o que guarda consonância com a expressão que vem sendo 
utilizada modernamente: Direito da Famílias. (2007, pg. 44). 
 
 Portanto a Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha) inova o conceito de família 
tornando-o mais abrangente. No conceito da Lei, se a relação tiver vínculo de 
afetividade, então será reconhecida como uma entidade familiar. Por isso 
atualmente, a expressão Direito de Família vem sendo colocada no plural, ou seja, 
pela expressão: Direito das Famílias. 
 
Cabe trazer a manifestação de Eliana Ferreira: “A família modernamente 
concebida tem origem plural e se revela como o núcleo de afeto no qual o 
cidadão se realiza e vive em busca da própria felicidade. Abandonou-se o 
modelo patriarcal e hierarquizado da família romana, ao longo dos anos e 
firmou-se no direito das sociedades ocidentais um modelo de atuação 
participativa, igualitária e solidária dos membros da família”.(DIAS, 
2007,pg.45) . 
 
 
 O doutrinador comenta: 
 
A longevidade, a emancipação feminina, a perda de força do cristianismo, a 
liberação sexual, o impacto dos meios de comunicação de massa, o 
desenvolvimento científico com as experiências genéticas e descobertas no 
campo da biogenética, a diminuição das famílias com o aperfeiçoamento e 
difusão dos meios contraceptivos, tudo isso atingiu fortemente a 
configuração familiar. Ademais a urbanização e a industrialização mudando 
a base produtiva da sociedade também afetaria o direito de família, já que o 
poder empresarial ao contrário da propriedade fundiária não é ligado com 
organização família. (TEPEDINO, 2001, pg. 353). 
 
 Por isso a Lei Maria da Penha ampara todas as mulheres que tenham vínculo 
íntimo de afeto com o agressor 
 15 
 
Dessa maneira ocorre uma verdadeira equiparação entre todos os institutos 
de família e civis, albergando plena proteção à mulher no âmbito da unidade 
doméstica, da família ou nas relações íntimas de afeto, extrapolando em 
muito o disposto no artigo 226, § 8.º, da Constituição Federal. (SOUZA, 
2007, pg. 28). 
 
 
 Tededino leciona: 
 
A entidade familiar deve ser protegido pelo papel que faticamente exerce 
na sociedade, ou seja, por sua capacidade de proporcionar um lugar 
privilegiado para a boa vivência e dignificação de seus membros 
independentemente de solenidades e formalismos.(2007, pg.168) 
 
 O Estado tem o dever de proteger os membros da família, pois esta é a base 
da sociedade. 
 
1.2. UNIDADE DOMÉSTICA 
 
 Reza o art. 5º , I da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), o conceito de 
unidade doméstica: 
 
 “[...] I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de 
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as 
esporadicamente agregadas; [...]”. 
 
 A violência doméstica é aquela praticada no espaço caseiro entre pessoas 
com ou sem vínculo familiar, incluindo as agregadas esporadicamente, integrantes 
dessa aliança, como no caso de empregada agredida pelo patrão. Explica o 
doutrinador: 
Com efeito, segundo Fabrício da Mota Alves, assessor parlamentar do 
Senado, com a experiência, portanto, de quem acompanhou a discussão 
legislativa travada no Parlamento, “essa definição abrange, inclusive, os 
empregados domésticos, ou seja, os 'esporadicamente agregados' – 
assunto, aliás, muito debatido no Congresso Nacional. O termo 
'esporadicamente' aqui dá uma noção de relacionamento provisório, típica 
da relação de emprego doméstico.” (CUNHA, 2007, pg.30). 
 
 O legislador se preocupou com as pessoas que não fazem parte da família, 
mas que participaram de alguma maneira do espaço físico considerado unidade 
doméstica . 
 A doutrinadora destaca a opinião de Nucci: 
 16 
 
Como alerta Guilherme Nucci, a mulher agredida no âmbito da unidade 
doméstica deve fazer parte dessa relação doméstica. Não seria lógico que 
qualquer mulher, bastando estar na casa de alguém, onde há relação 
doméstica entre terceiros, se agredida fosse, gerasse a aplicação da 
agravante trazida pela Lei Maria da Penha.(DIAS, 2007, pg.43). 
 
 
Então, segundo o doutrinador, caso uma mulher tenha sido agredida na casa 
de alguém só terá proteção da Lei Maria da Penha se ela estiver trabalhando neste 
local, não bastando apenas sua presença no lar 
Aqui estão incluídos todos os empregados domésticos, porteiros, 
recepcionistas, motoristas e diaristas (as esporadicamente agregadas, 
consoante o artigo 5º, inciso I). Ou seja, qualquer pessoa que comungue, 
ainda que por uma única vez, do espaço de convívio permanente (lar), tem 
a proteção legal. Por exemplo, uma pessoa contratada para ser babá (baby-
sitter) por uma única noite ou uma enfermeira que venha substituir outra, 
uma única vez, no cuidado de um idoso. Se ambas forem agredidas, terão 
integral proteção da LVM. (SOUZA, 2007, pg. 71). 
 
 
 Ou seja, são protegidos pela Lei Maria da Penha, qualquer pessoa, mesmo 
por uma única vez, trabalhe no lar de alguém, estando amparada até mesmo a 
diarista (esporadicamente agregada). 
 Entretanto, Dias esclarece 
 
Damásio de Jesus faz algumas distinções: a denominada “diarista”, que 
trabalha apenas um, dois ou três dias por semana, não está protegida pela 
Lei em razão de sua pouca permanência no local de trabalho. Porém a que 
trabalha durante a semana diariamente, mas não mora no emprego, a 
aplicação da Lei está condicionada à sua participação no ambiente familiar, 
ou seja, deve ser observado se ela é considerada por todos e por ela 
própria membro da família. (2007, pg. 42). 
 
 Portanto conforme o doutrinador, a diarista não pode ser amparada pela Lei 
nº 11.340/2006, pelo pouco tempo que fica no lar onde trabalha. E mesmo aquela 
que trabalha todo dia na casa de alguém tem que estar morando naquele localou 
então, ser considerada como membro da família por ela mesma e pelos moradores 
do lar para que, assim, esta seja amparada pela Lei Maria da Penha. 
 
 “Por fim, a que trabalha e mora na residência da família, desfrutando de uma 
convivência maior com todos, deve ser considerada um de seus membros, 
merecendo ser receptadora da especial tutela legal”.(DIAS, 2007, pg.42). 
 
 
 17 
1.3. AS FORMAS DE VIOLÊNCIA FAMILIAR E DOMÉSTICA CONTRA A MULHER 
 
 O doutrinador Mirabete diz quando se configura a violência contra a mulher no 
âmbito doméstico e familiar : 
 
Nos termos da Lei nº 11.340, de 7-8-2006, configura violência doméstica e 
familiar contra a mulher, qualquer forma de violência, por ação ou omissão, 
baseada no gênero e praticada no âmbito familiar, do convívio doméstico ou 
de relação íntima de afeto, atual ou pretérita, ainda que ausente a 
coabitação, que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico 
e dano moral ou patrimonial (art.5º e 7º). (2007, pg.90). 
 
 Explicando o elemento formal caracterizador da Lei em estudo: a expressão 
“qualquer ação ou omissão” quer dizer que a Lei não se preocupa com a causa, 
bastando o efeito morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral 
para que incida formalmente a Lei Maria da Penha para a defesa da mulher. O 
objeto jurídico tutelado é a integridade física, moral e econômica da mulher, 
abrangendo desde a tutela mais gravosa que é a morte, passando pela lesão 
corporal e até a menos gravosa, com qualquer espécie de sofrimento. 
 Porém o legislador criou um binômio para a incidência do objeto tutela, pois 
além do elemento formal, a Lei é caracterizada pelo elemento espacial, portanto, 
para configurar a violência doméstica e familiar contra a mulher, o crime tem que ter 
ocorrido num determinado ambiente (familiar, doméstico ou de intimidade na qual o 
agressor conviva ou tenha convivido, com a ofendida, independente de coabitação). 
 
De acordo com a Lei 11.340/2006 (art. 5º) , entende-se por violência 
doméstica e familiar toda a espécie de agressão (ação ou omissão) dirigida 
contra a mulher (vítima certa) num determinado ambiente (doméstico, 
familiar ou de intimidade) baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, 
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. 
(CUNHA, 2007, pg. 23). 
 
 
 O sujeito passivo é a mulher. A Lei Maria da Penha não ampara as pessoas 
jurídicas (associação de mulheres) e entes despersonalizados (condomínios), pois a 
violência tem que ter ocorrido no âmbito doméstico, familiar ou de intimidade: 
 
Pessoas jurídicas (associações de mulheres) e entes despersonalizados 
(condomínio) não estão compreendidos entre os sujeitos passivos da LVM, 
não por causa da qualidade pessoal em si, mas por força do âmbito de 
incidência da norma, relembrando que há necessidade de se respeitar o 
critério espacial tipificado, ou seja, a violência deve ocorrer no âmbito de 
relação havida numa unidade doméstica, familiar ou íntima de 
afeto.(SOUZA, 2007, pg. 75). 
 18 
 
 
 O sujeito ativo tanto pode ser homem como mulher, pois a Lei em estudo 
menciona a palavra “agressor”, que está colocada como gênero, abrangendo o sexo 
feminino e masculino. 
 
A legislação em questão, no art. 7.º, enumera as formas de manifestação de 
violência de forma genérica, levando o operador a interpretá-lo de maneira 
aberta, enunciativa, isso porque estão apontadas em numerus apertus, em 
razão da expressão “entre outras” no dispositivo, sempre presumindo em 
favor da mulher, criando, pois regra enunciativa e orientadora das principais 
condutas, [...]. ( SOUZA, 2007, pg. 71). 
 
 Conforme o art. 7º da Lei Maria da Penha, a violência física, psicológica, 
sexual, patrimonial e moral, entre outras são formas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher. A Lei em estudo combate todas as formas de violência 
contra a mulher no âmbito familiar, doméstico ou de intimidade, pois usa a 
expressão “entre outras” no dispositivo. 
 O art. 7, inciso I da Lei11.340/2006 conceitua a violência física : 
 
 “I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua 
integridade ou saúde corporal”. 
 
Violência física é o uso da força, mediante socos, tapas, pontapés, 
empurrões, arremesso de objetos, queimaduras, etc, visando desse modo, 
ofender a integridade ou a saúde corporal da vítima, deixando ou não 
marcas aparentes, naquilo que se denomina, tradicionalmente, vis 
corporalis. (CUNHA, 2007, pg.37). 
 
 Portanto, qualquer agressão que ofenda o corpo e a saúde da mulher com 
uso de força física, mesmo que não deixe marcas é considerado violência física. 
 
 “Não só a lesão dolosa, também a lesão culposa constitui violência física, pois 
nenhuma distinção é feita pela lei sobre a intenção do agressor.”(DIAS, 2007, pg. 
47). 
 Esclarece o doutrinador: 
 
 “A preocupação básica do dispositivo é deixar estabelecida a espécie de 
violência que, uma vez referendada na norma penal, terá imediata aplicação”. 
(SOUZA, 2007, pg. 72). 
 19 
 
 O inciso II, do art.7º da Lei Maria da Penha, conceitua a violência psicológica: 
 
[...] II- a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe 
cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e 
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas 
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, 
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância 
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, 
exploração e limitação do direito de ir vir ou qualquer outro meio que lhe 
cause prejuízo à saúde psicológica e autodeterminação;[...]. 
 
 A Lei Maria da Penha, portanto, protege a auto-estima e a saúde psicológica 
da mulher. A violência psicológica é uma agressão emocional, cuja gravidade é igual 
ou até maior que a violência física. Configura-se a violência psicológica quando o 
agressor ameaça, rejeita, humilha ou discrimina a vítima. O agente sente prazer em 
ver a vítima sofrendo, configurando, assim, a vis compulsiva. 
 
Trata-se de previsão que não estava contida na legislação pátria, mas a 
violência psicológica foi incorporada ao conceito de violência contra a 
mulher na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a 
Violência Doméstica, conhecida como Convenção de Belém do Pará.(DIAS, 
2007, pg. 47). 
 
 A mulher agredida psicologicamente fica com a auto-estima abalada e sua 
saúde psicológica prejudicada, pois se sente amedrontada, inferiorizada e diminuída. 
 
A doutrina critica a expressão violência psicológica, que poderia ser 
aplicada a qualquer crime contra a mulher, pois todo crime gera dano 
emocional à vítima, e aplicar um tratamento diferenciado apenas pelo fato 
de a vítima ser mulher seria discriminação injustificada de gêneros.(DIAS, 
2007, pg. 48). 
 
 
Alguns doutrinadores acreditam ser desnecessário a existência do inciso III, 
do art. 7º da Lei Maria da Penha, pois qualquer crime contra a mulher gera por si só 
a violência psicológica. Consideram também que a proteção específica contra a 
violência psicológica pela vítima ser do sexo feminino é uma forma de discriminação 
aos homens, ferindo assim o princípio da igualdade. Porém, a doutrinadora Maria 
Bernadete Dias discorda desta opinião: 
 
Ora, quem assim pensa olvida-se que a violência contra a mulher tem 
raízes culturais e históricas, merecendo ser tratada de forma diferenciada, 
até porque não ver esta realidade é que infringe o princípio da igualdade. A 
violência psicológica encontra forte alicerce nas relações desiguais de poder 
 20 
entre os sexos. É a mais freqüente e talvez seja a menos denunciada. A 
vítima muitas vezes nem se dá conta que agressões verbais, silêncios 
prolongados, tensões, manipulações de atos e desejos, são violência e 
devem ser denunciados. (DIAS, 2007, pg. 48). 
 
 A doutrinadora afirma então queas mulheres devem ser tratadas de forma 
diferenciada diante da realidade que estas vem sofrendo e que os homens não 
estão, pois conforme mostram as estatísticas, a agressão contra a mulher se 
transformou numa situação de calamidade pública. Portanto se grande parte das 
mulheres, e não dos homens, estão vivendo esta realidade, nada mais justo do que 
dar a mulher esta proteção específica, tratando assim, os iguais como iguais e 
desiguais de forma desigual, pois este é o significado do princípio da igualdade. 
Afirma outro doutrinador: 
 
 “As estatísticas mostram, contudo, que algo precisava ser feito, a fim de 
estacar a condição de verdadeira calamidade pública que assume, em nosso País, a 
violência contra a mulher”. (CUNHA, 2007, pg. 7) 
 
Reconhecida pelo juiz sua ocorrência, cabível a concessão de medida 
protetiva de urgência. Praticado algum delito mediante violência psicológica, 
a Para a configuração do dano psicológico não é necessária a elaboração 
de laudo técnico ou realização de perícia .majoração da pena se impõe (CP, 
art. 61,II,f). (DIAS, 2007, pg. 48). 
 
 Não é necessário a elaboração de laudo técnico ou realização de perícia, 
para configurar a violência psicológica, basta que o juiz reconheça que houve o dano 
psicológico. Se algum crime for cometido com o uso de violência psicológica, se 
impõe a majoração da pena, observando-se o art. 61, II, f, do CP. 
 
O alcance dessa forma de manifestação da violência é amplo, tanto que o 
seu exercício pode configurar vários crimes, como, por exemplo: 
constrangimento ilegal (CP, art.146); ameaça (CP, art. 147); seqüestro e 
cárcere privado (CP, art. 148); redução à condição análoga à de escravo 
(CP, art. 149); violação de domicílio (CP, art. 150); violação de 
correspondência (CP, art. 151); roubo (CP, art. 157); extorsão (CP, art. 
158); extorsão mediante seqüestro (CP, art. 159); crimes contra a liberdade 
sexual mediante violência moral (CP, art. 213; CP, art. 214); e por força de 
constrangimento (CP, art. 216-A).(SOUZA, 2007, pg. 72). 
 
 “A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência 
Doméstica – chamada Convenção de Belém do Pará – reconheceu a violência 
sexual como violência contra mulher.” (DIAS, 2007, pg.48) 
 O inciso III, do art.7º da Lei nº 11.340/2006 diz o conceito de violência sexual: 
 21 
 
[...] III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a 
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não 
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a 
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, 
que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao 
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, 
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de 
seus direitos sexuais e reprodutivos; [...]. 
 
 Dias afirma: 
Os delitos equivocadamente chamados de “contra os costumes” constituem, 
às claras, violência sexual. Quem obriga uma mulher a manter relação 
sexual não desejada pratica o crime sexual de estupro. Também os outros 
crimes contra a liberdade sexual configuram violência sexual quando 
praticados contra a mulher: atentado violento ao pudor; posse sexual 
mediante fraude, atentado ao pudor mediante fraude; assédio sexual e 
corrupção de menores. Todos esses delitos, se cometidos no âmbito das 
relações domésticas, familiares ou de afeto constituem violência doméstica, 
e o agente submete-se à Lei Maria da Penha. (2007, pg.50-51). 
 
 
Ou seja: os crimes chamados contra os costumes constituem a violência 
sexual. Portanto, deve-se aplicar a Lei Maria da Penha quando for cometido no 
âmbito das relações domésticas, familiares ou de íntimo afeto os delitos de estupro 
(art. 213, CP) e posse sexual mediante fraude (215, CP).Também aplica-se esta lei 
específica, se praticados contra a mulher, os crimes de atentado violento ao pudor 
(art. 214, CP); assédio sexual (art. 216-A, CP), corrupção de menores (art. 218, CP) 
e atentado violento ao pudor mediante fraude (art. 216, CP) no âmbito doméstico, 
familiar ou de intimidade . 
 
 “Essa forma de manifestação de violência normalmente ocorre nos delitos 
sexuais (que envolvem constrangimento), tráfico de mulheres e exploração sexual 
de crianças e adolescentes.”(SOUZA, 2007, pg. 72). 
 
 A autora Dias ensina também: 
 
 “Mesmo o delito de assédio sexual, que está ligado às relações de trabalho, 
pode constituir violência doméstica quando, além do vínculo afetivo familiar, a vítima 
trabalha para o agressor.” (2007, pg.50). 
 
 22 
 Portanto: apesar do crime de assédio sexual ser ligado às relações de 
trabalho, poderá se configurar em violência doméstica, quando a vítima que trabalha 
com o agressor tiver com ele vínculo familiar. 
 
 O autor Cunha diz o motivo que leva a vítima de violência sexual a ocultar a 
agressão que sofreu no ambiente doméstico e familiar: 
 
 “Agressões como essas provocam nas vítimas, não raras vezes, culpa, 
vergonha e medo, o que as faz decidir, quase sempre, por ocultar o evento”. 
(CUNHA, 2007, pg.38). 
 Dias leciona: 
 
A segunda parte do inciso III do art. 7º da Lei Maria da Penha enfoca a 
sexualidade sob o aspecto do exercício dos direitos sexuais e reprodutivos. 
Trata-se de violência que traz diversas conseqüências à saúde da mulher. A 
própria Lei assegura à vítima acesso aos serviços de contracepção de 
emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e 
da Síndrome da Imunodependência Adquirida (AIDS) e outros 
procedimentos médicos necessários e cabíveis (art. 9, § 3º). (2007, pg. 51). 
 
 A violência sexual fere os direitos reprodutivos e o direito à liberdade sexual. 
Traz, também, diversos riscos a saúde da mulher, pois ela estará correndo risco de 
adquirir Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), inclusive a AIDS. Por isso a 
Lei Maria da Penha no art. 9º, § 3º garante à mulher que sofreu violência sexual, 
métodos de contracepção de emergência (pílula do dia seguinte), para evitar a 
gravidez indesejada vinda de uma relação sexual não desejada, ou seja, decorrente 
de estupro; tratamento para as DST e para a AIDS, além de outros procedimentos 
médicos cabíveis. O acesso à contracepção pelo Sistema Único de Saúde é 
assegurado pela Lei de Planejamento Familiar (Lei 9.263/1996). 
 
[...] houve uma certa resistência da doutrina e da jurisprudência em admitir a 
possibilidade da ocorrência de violência sexual nos vínculos familiares. A 
tendência sempre foi identificar o exercício da sexualidade como um dos 
deveres do casamento, a legitimar a insistência do homem, como se 
estivesse ele a exercer um direito.(DIAS, 2007, pg. 49) 
 
 Em caso de gravidez decorrente de estupro, será permitido que seja feito o 
aborto, conforme art. 128, inciso II do CP. Entretanto, quando se trata de violência 
doméstica e familiar, o suposto agressor é o companheiro ou casado com a vítima e 
 23 
por isso, tem direito ao exercício da sexualidade, tornando-se difícil saber quando 
sua insistência para exercer este direito se configurara numa violência sexual. Neste 
caso seria difícil comprovar a ocorrência de estupro: 
 
A vítima precisa ter acesso não só ao medicamento que se popularizou 
como “pílula do dia seguinte” , como ao aborto que é permitido, quando a 
gravidez resulta de estupro. Porém, todos sabem da dificuldade de 
comprovar que se trata de violência sexual quando existe um vínculo de 
convivência entre o abusador e a vítima.(DIAS, 2007,pg.51). 
 
 
 A violência patrimonial quase sempre é usada como meio para agredir, física 
ou psicologicamente, a vítima. No art. 7º, inciso IV, da Lei Maria da Penha, traz o 
conceito de violência patrimonial: 
 
[...] IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que 
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, 
instrumentos de trabalho, documentospessoais, bens, valores e direitos ou 
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas 
necessidades; [...]. 
 
 
 Esta forma de violência abrange os crimes contra a assistência familiar e de 
modo geral, contra o patrimônio. Conforme o CP, Título II, são crimes contra o 
patrimônio: furto; roubo; extorsão; usurpação; dano; apropriação indébita, 
estelionato, receptação; entre outros. 
 
A Lei Maria da Penha reconhece como violência patrimonial o ato de 
“subtrair” objetos da mulher, o que nada mais é do que furtar. Assim, se 
subtrair para si coisa alheia móvel configura o delito de furto, quando a 
vítima é mulher com quem o agente mantém relação de ordem afetiva, não 
se pode mais reconhecer a possibilidade de isenção de pena. O mesmo se 
diga com relação à apropriação indébita e ao delito de dano. É violência 
patrimonial “apropriar” e “destruir”, os mesmos verbos utilizados pela lei 
penal para configurar tais crimes. Perpetrados contra a mulher, dentro de 
um contexto de ordem familiar, o crime não desaparece e nem fica sujeito à 
representação.(DIAS, 2007, pg.52-53). 
 
 Nos delitos patrimoniais não violentos, quando o autor tiver vínculo doméstico, 
familiar ou de intimidade com a vítima (mulher), será aplicada, então, a Lei 
nº11.340/2006 (Lei Maria da Penha), sendo que não caberá a aplicação dos arts. 
181 e 182 do Código Penal, que tratam das imunidades absolutas e relativas. São 
imunidades: 
 24 
CP, art. 181: É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos 
neste título, em prejuízo: I – do cônjuge, na constância da sociedade 
conjugal; II – de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou 
ilegítimo, seja civil ou natural. [...] CP, art. 182: Somente se procede 
mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em 
prejuízo: I – do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II – de irmão, 
legítimo ou ilegítimo; III – de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. 
 
 
 O doutrinador questiona a utilidade do inciso IV, art. 7º da Lei Maria da Penha, 
que ampara a mulher no caso de violência patrimonial: 
 
Nos seus comentários ao artigo, Guilherme de Souza Nucci questiona a 
utilidade do dispositivo, ao menos na seara penal: “Lembremos que há as 
imunidades (absoluta ou relativa), fixadas pelos arts. 181 e 182 do Código 
Penal, nos casos de delitos patrimoniais não violentos no âmbito familiar.” 
(CUNHA, 2007, pg. 38). 
 
 A parte final do art. 7º da Lei Maria da Penha, afirma que também se 
considera violência patrimonial, a subtração de direitos ou recursos econômicos, 
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. Ensina a doutrinadora: 
 
Identificada como violência patrimonial a subtração de valores, direitos e 
recursos econômicos destinados a satisfazer as necessidades da mulher, 
neste conceito se encaixa o não pagamento dos alimentos. Deixar o 
alimentante de atender a obrigação alimentar, quando dispõe de condições 
econômicas, além de violência patrimonial, tipifica o delito de abandono 
material (DIAS, 2007, pg. 53). 
 
 
 Não é necessário que seja fixado judicialmente o encargo alimentar. A lei e 
CP serão aplicados até mesmo quando for sonegado os meios de assegurar a 
subsistência da esposa ou da companheira durante a vida em comum. 
 
O inciso V , art. 7º da Lei Maria da Penha, diz o conceito de violência moral: 
 
“[...] V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure 
calúnia, difamação ou injúria.” 
 
Ensina o doutrinador : 
 
A violência verbal, entendida como qualquer conduta que consista em 
calúnia (imputar à vítima a prática de determinado fato criminosa 
sabidamente falso), difamação (imputar à vítima a prática de determinado 
fato desonroso) ou injúria (atribuir à vítima qualidades negativas) 
normalmente se dá concomitante à violência psicológica. (CUNHA, 2007, 
pg. 38) 
 
 25 
 
O Código Penal mostra a diferença entre os crime de calúnia, injúria e 
difamação: 
 
CP, art. 138, caput: Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido 
como crime [...] CP, art. 139, caput: Difamar alguém, imputando-lhe fato 
ofensivo à sua reputação [...] CP, art. 140, caput: Injuriar alguém, 
ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro. 
 
 
A violência moral tem do Código Penal nos delitos contra a honra: calúnia, 
difamação e injúria. De acordo com o Código Penal são delitos que protegem a 
honra mas, quando cometidos em decorrência de vínculo de natureza familiar ou 
afetiva, configuram violência moral. 
 
Na calúnia, o fato atribuído pelo ofensor à vítima é definido como crime; na 
injúria não há atribuição de fato determinado. A calúnia e a difamação 
atingem a honra objetiva; a injúria atinge a honra subjetiva. A calúnia e a 
difamação consumam-se quando terceiros tomam conhecimento da 
imputação; a injúria consuma-se quando o próprio ofendido toma 
conhecimento da imputação.(DIAS, 2007, pg. 54) 
 
 
 Visto o conceito de família, de unidade doméstica e as formas de violência 
doméstica e familiar contra a mulher, a seguir será abordado o tratamento da 
violência doméstica e familiar contra a mulher perante a justiça penal brasileira antes 
e depois da criação da Lei n º 11.340/2006 e serão mostrados dados estatísticos da 
violência contra a mulher no âmbito doméstico e familiar contra a mulher 
 
 
 26 
2. O TRATAMENTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A 
MULHER PERANTE O ORDENAMENTO JURÍDICO PENAL BRASILEIRO 
 
 
2.1. A JUSTIÇA PENAL EM FACE DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHER ANTES DA 
CRIAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA . 
 
 O doutrinador Jesus leciona: 
 
As Nações Unidas têm-se preocupado com a violência contra a mulher. [...] 
No Décimo Quinto Período de Sessões da Comissão de Prevenção ao 
Crime e Justiça Penal, realizado em Viena, de 24 a 28 de abril do corrente 
ano (2006), e promovido pela Organização das Nações Unidas contra Crime 
e Drogas (UNODC), discutiu-se, no painel respostas à Violência contra 
Mulheres: Normas do Sistema da Justiça Criminal, uma série de questões, 
todas referentes à extensão da proteção à mulher e às crianças além dos 
limites domésticos, alcançando suas condições na prisão e no trabalho e 
chegando ao tráfico internacional. Foi lembrado que a UNODC, em 
cooperação com o Centro de Estudos sobre a Violência, da Universidade de 
São Paulo, está elaborando um handbook contendo convenções, 
informações, recomendações, projetos e documentos sobre o tema. (2006, 
pg. 35) 
 
 Na tentativa de barrar a violência contra a mulher brasileira, foram criadas as 
Delegacias da Mulher, sendo que a primeira a ser implantada foi no ano de 1985 em 
São Paulo. O atendimento especializado feito pela Delegacia da Mulher estimulou 
muitas vítimas a denunciar agressão. 
 
Para atender esta realidade é que foram criadas as Delegacias da Mulher. A 
primeira foi implantada em São Paulo, no ano de 1985. Desempenharam 
importante papel, pois o atendimento especializado, feito quase sempre por 
mulheres, estimulava as vítimas a denunciar os maus tratos sofridos, muitas 
vezes, ao longo de anos. (DIAS, 2007, pg.22). 
 
 Mas em 1995 surge a Lei 9.099, esvaziando as Delegacias de Mulheres. Com 
a criação desse diploma legal, todas as contravenções e crimes, cuja a pena 
máxima não exceda a um ano (ou dois segundo a Lei 10.259/2001) são da 
competência dos Juizados Especiais Criminais, inclusive nos casos de violência 
contra a mulher. Dias leciona: 
 
Porém, a lei dos Juizados Especiais esvaziou as Delegacias da Mulher, que 
se viram limitadas a lavrar termos circunstanciados e encaminhá-los a juízo. 
Na audiência preliminar, a conciliação mais do que proposta, era imposta, 
ensejando simples composição de danos. Não obtido acordo, a vítima tinha 
o direito de representar, mas precisava se manifestar na presença do 
 27 
agressor. Mesmo após a representação, e sem a participação da ofendida, 
o Ministério Público podia transacionar a aplicação de multa ou pena 
restritivade direitos. Aceita a proposta, o crime desaparecia: não ensejava 
reincidência, não constava da certidão de antecedentes e não tinha efeitos 
civis.(2007, pg. 23). 
 
 Comenta, a doutrinadora Araújo: 
 
Como se vem de descrever, os crimes de menor potencial ofensivo que 
mais atingem as vítimas mulheres são a ameaça (artigo 147 do CPB) cuja 
ação penal é pública condicionada à representação. Em seguida, a maior 
incidência recai sobre o crime de lesões corporais leves (artigo 129, caput, 
do CPB) para o qual a Lei nº 9.099/95 previu, em seu artigo 88, que 
passariam a ser processados por via de ação pública condicionada à 
representação. (2003, pg.153-154) 
 
 Ou seja: com relação ao crime do § 9º do art. 129, do Código Penal, que 
estipulava pena de detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano. Antes da Lei Maria da 
Penha, caso uma mulher sofresse ameaça (art. 147 do CP) ou lesão corporal leve 
(art. 129, caput, do CP), era aplicada a Lei 9.099/95. 
 
Assim, como acontece com a lesão corporal leve (art. 129, caput), a 
violência doméstica prevista no 9º é crime de menor potencial ofensivo. Na 
fase policial, prescinde-se do flagrante delito se o autor do fato 
comprometer-se a comparecer ao Juizado Especial Criminal. De modo que, 
no caso de violência doméstica, cuidando-se de lesões corporais simples, 
leves, excluídas as graves, gravíssimas e seguidas de morte, a 
competência, como nas hipóteses comuns do art. 129, caput, do CP, é 
também dos Juizados Especiais Criminais (art. 61 da Lei nº 10.259/2001). 
Não houve, pois, mudança de relevo.(JESUS, 2006, pg..35). 
 
 Portanto, em relação ao crime do § 9º, do art.129 do CP, que estipulava antes 
da Lei 11.340/06, pena de detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, o procedimento 
adotado será o previsto na Lei 9099/95, sendo que este diploma legal também 
determina que dependerá de representação a ação dos crimes de lesões corporais 
leves e lesões culposa. Então, antes da Lei Maria da Penha, dependia de 
representação da vítima no caso violência doméstica, uma vez que se tratava de 
forma qualificada de lesão corporal leve, cuja pena máxima não alcançava 2 (dois) 
anos . No caso do § 10, a ação é pública incondicionada: independe da vontade da 
vítima para propor a ação penal . 
 
A previsão do caput do artigo 69 da Lei nº 9.099/95 determina o 
encaminhamento das partes e do registro do fato, formalizado através do 
TCO, imediatamente ao Juizado Especial Criminal, para que ali seja 
realizada a audiência preliminar. Entretanto, constata-se a quase 
impossibilidade de se dar efetividade a esta previsão legal. Na prática, a 
 28 
própria Delegacia marca data próxima (artigo 70), na qual será realizada a 
audiência. (ARAÚJO, 2003, pg. 156). 
 
 Desta forma, antes da Lei Maria da Penha entrar em vigor, a mulher vítima de 
violência doméstica, ao levar ao conhecimento da autoridade policial o crime contra 
si praticado, era encaminhada ao Juizado especial Criminal, juntamente com o autor 
do fato. Para tanto a autoridade policial lavrava termo circunstanciado, 
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários, conforme art. 
69 da Lei 9.099/95. Entretanto, a Lei de Juizados Especiais prevê ao autor do fato 
uma série benefícios legais, não havendo a efetiva aplicação da justiça. 
 Antes de surgimento da Lei 11.340/06, Araújo já alertava sobre a ineficácia da 
justiça penal brasileira no que se refere aos crimes de menor potencial ofensivo, no 
âmbito da violência contra a mulher. O primeiro questionamento de Araújo se refere 
ao fato da Lei 9099/95 exigir a representação da vítima para a intervenção policial e 
judicial, impedindo assim que estas instâncias atuassem com efetividade no controle 
da violência contra a mulher: 
 
A Lei nº 9.099/95, ao oportunizar à vítima o controle da atuação policial e 
judicial na solução dos conflitos de menor potencial ofensivo, através da 
exigência da representação para a intervenção destas instâncias de 
controle social, no que se refere à violência contra a mulher, impediu que 
estas instâncias atuem efetivamente no controle desse tipo de violência. De 
fato, ao se submeter a tamanhas ingerências de cunho socioeconômico, a 
vítima acaba por ser vencida em seu interesse de ver processado e punido 
seu agressor, muitas vezes perpetuando uma situação de violência.(2003, 
pg. 155). 
 
 Ou seja: nos fatos de violência contra mulher, a polícia ficava impedida de 
agir se não houvesse representação da vítima, sendo que esta, por várias razões, se 
submete à situação de violência. 
 
Ademais, a polícia, ao intervir num flagrante de crime de menor potencial 
ofensivo, arrisca-se a incorrer em abuso de autoridade ou invasão de 
domicílio, local onde a violência contra a mulher encontra maior incidência, 
caso a vítima, após ser socorrida e encaminhada à Delegacia, ali não 
oferecer a representação. (ARAÚJO, 2003, pg. 156) 
 
 O doutrinador diz: 
 
Com a agravação da pena mínima, de 3 para 6 meses, não ficou afastada a 
aplicação da transação penal (art. 76 da Lei nº 9.099/1995); nem do sursis 
processual (art. 89 da mesma Lei), sendo cabíveis as penas restritivas de 
direitos (art. 44 do CP). Quanto à ação penal, tratando-se de lesão corporal 
 29 
leve (§ 9º), o processo público depende de representação da ofendida (art. 
88 da Lei dos Juizados Especiais Criminais). Somente na hipótese de lesão 
corporal grave, gravíssima ou seguida de morte (§ § 1º, 2º e 3º) praticada 
em qualquer das circunstâncias definidoras da violência doméstica (§ 9º), a 
ação penal é pública incondicionada. 
 
 No caso de flagrante, se a polícia fosse intervir socorrendo a vítima e 
encaminhando à Delegacia, corria o risco de ser incriminada por abuso de 
autoridade ou invasão de domicílio (onde a violência contra a mulher ocorre com 
mais freqüência), se a vítima não oferecer representação. 
 
Desta forma, na prática, a previsão legal tem efeito contraditório: ao tempo 
em que, privilegiando o interesse da vítima, lhe oferece o controle sobre a 
atuação das instâncias formais de controle social, deixa-a a descoberto, 
quando aquelas ingerências alheias ao fato criminoso sejam importantes o 
ponto de impedir a representação. A vítima não vê, assim solucionado o 
conflito subjacente à situação de violência que vive, apesar da solução 
judicial que, em tese, a lei lhe garante. (ARAÚJO, 2003, pg.156). 
 
 Portanto se houvesse algo alheio a vontade da vítima que a impedia de 
oferecer representação, o agressor ficava impune pois a justiça penal não poderia 
atuar. 
 Ainda sobre a ineficácia da Lei 9.099/95, Streck, publicou um artigo na 
Revista Brasileira de Direito de Família, n .16: 
 
Com o juizado especial criminal, o Estado sai cada vez mais das relações 
sociais. No fundo, institucionalizou a 'surra doméstica' com a transformação 
dos delitos de lesões corporais de ação pública incondicionada para ação 
pública condicionada. Mais do que isso, a nova Lei dos Juizados permite, 
agora, o 'duelo nos limites das lesões', eis que não interfere na contenda 
entre pessoas, desde que os ferimentos não ultrapassem as lesões leves 
(que, como se sabe, pelas exigências do art. 129 e seus parágrafos, podem 
não ser tão leves assim). O Estado assiste de camarote e diz: batam-se que 
eu não tenho nada com isso! É o neoliberalismo no Direito, agravando a 
própria crise da denominada 'teoria do bem jurídico', própria do modelo 
liberal-individualista de Direito. (CUNHA, 2003, pg.127-128) 
 Na mesma linha de raciocínio, em 21-06-2005, Piovesan publica um artigo 
deixando clara a inadequação dos juizados para tratar da violência contra a mulher. 
 
“O grau de ineficácia da referida lei revela o paradoxo do Estado: romper 
com a clássica dicotomia público-privado, de forma a dar visibilidade a 
violações que ocorrem no domínio privado, para, então, devolvê-las a este 
mesmo domínio, sob o manto da banalização, em que o agressor é 
condenado a pagar à vítima uma

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