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Prefácio Decidi escrever este livro sem nenhuma pretensão de criar um manual de como se lidar com a esquizofrenia. Não tenho a fórmula para isso. Aliás, nem os mais renomados psiquiatras as têm, apesar do grande avanço da medicina nos últimos anos. A frase mais lúcida sobre a esquizofrenia que eu já li é a do autor do livro “Cadê a minha sorte?”, e que diz o seguinte: “não existe a esquizofrenia, e sim as esquizofrenias”. Ou seja, cada caso é um caso. O que aconteceu comigo talvez não possa servir de referência para outros casos desse transtorno, que ainda é um mistério para a ciência. Também não considero o livro uma autobiografia, pois não sou uma celebridade, um herói ou um exemplo de vida a ser seguido. Tampouco gostaria que este livro despertasse o sentimento de pena nas pessoas que o lessem. Resolvi escrever este livro a pedidos de amigos que tenho, tanto na vida real como no mundo virtual. Quando me perguntavam sobre a minha ocupação, eu não mentia e contava o que havia acontecido em minha vida para que eu me afastasse do trabalho aos trinta e três anos de idade. Não tinha receio nenhum em falar que era portador de esquizofrenia. Algumas pessoas não acreditavam no meu relato, outras chegavam a rir e algumas me sugeriram escrever um livro. Também achei interessante escrever este livro, pois ele pode servir de alerta para os pais em geral, de crianças que tenham algum comportamento estranho. Geralmente, os pais atribuem alguns comportamentos estranhos à imaginação fértil das crianças. E atitudes como o isolamento e a rebeldia são sempre consideradas coisas de “aborrecentes”. Acho também que esse livro contém uma mensagem legal de solidariedade, que ainda existem pessoas bondosas neste mundo. Sem a ajuda dessas pessoas, certamente eu seria mais um morador de rua com esquizofrenia não tratada. Hoje, com um pouco mais de consciência sobre a doença, me sinto mais preparado para escrever sobre a minha relação com o transtorno e tudo o que passei em virtude de minhas crises. É a história de um cara que, sei lá por que razão, nasceu com predisposição à esquizofrenia e que, juntamente com uma vida complicada, resultou em uma estranha história: alegre, trágica, ou, melhor dizendo, tragicômica. E por que não também uma história cheia de aventuras, pois, quando essa patologia apareceu em minha vida, ela se tornou um enredo de idas e vindas por um mundo desconhecido chamado esquizofrenia.
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