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Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional 1ª edição 2017 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional 3 Palavras do professor A disciplina Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional tem como obje- tivo capacitar o aluno para compreender: • A valorização da atividade laboral na sociedade. • A evolução histórica da segurança do trabalho. • A importância da satisfação no trabalho. • A motivação e disfunções da atividade laboral. • A higiene do trabalho. • As normas técnicas de segurança do trabalho e saúde ocupacio- nal. • A importância da ergonomia na atividade laboral. Nossa intenção é fazer com que você conheça o conteúdo e se aproprie dos principais conceitos relacionados ao tema. Mas afinal: por que estu- dar sobre a Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional? Vivemos em uma sociedade que preza cada vez mais pela qualidade de vida e bem-estar, não só no seu ambiente familiar, mas também no meio profissional. Todas as pessoas têm suas necessidades básicas e desejos mais diversos, mas é por meio do trabalho que na maioria das vezes con- seguirão os recursos necessários para supri-los. Desta forma, é imprescindível que o trabalhador, em sua atividade labo- ral, encontre um ambiente favorável e seguro para desempenhar suas funções, não somente por questões legais, mas para se sentir motivado e alcançar a satisfação no que faz. Acreditamos que esta disciplina será enriquecedora e lhe fornecerá fer- ramentas para compreender melhor a importância da segurança e saúde laborais, bem como mostrar maneiras de aplicar estes conhecimentos em sua rotina de trabalho, visando alcançar uma melhor qualidade de vida. Então, vamos lá? Bons estudos! 1 4 Unidade de Estudo 1 Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho Para iniciar seus estudos Caro estudante, estamos no início da disciplina Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional. Você já parou para pensar como eram as condições de trabalho antigamente? Será que sempre houve uma preocupação com o trabalhador, sua saúde e suas condições de trabalho? Antes de explorar- mos os conceitos principais na atualidade, nesta primeira unidade convi- damos você a conhecer o contexto histórico do surgimento da segurança e saúde no trabalho e compreender de que forma a Revolução Industrial impactou neste tema. Seja bem-vindo(a) ao trabalho e bons estudos! Objetivos de Aprendizagem • Abordar a origem e o surgimento da segurança e saúde no traba- lho no âmbito mundial e no Brasil. • Analisar os impactos da Revolução Industrial na segurança e saúde no trabalho. 5 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho 1.1 O surgimento da Segurança e Saúde do Trabalho no âmbito mundial O trabalho faz parte da vida humana desde os primórdios da humanidade. Se formos considerar de forma abs- trata, Liedke (2002) afirma que este pode ser entendido estritamente como esforço físico ou mecânico, como energia despendida por seres humanos, animais, máquinas ou até mesmo objetos movidos por força da inércia. Ou seja, o trabalho é a energia colocada em movimento, que tem como resultado a transformação dos elemen- tos. Inércia: diz-se da matéria que oferece resistência à aceleração. Fonte: <https://www.dicio. com.br/inercia/>. Glossário Quando se fala em trabalho humano, os conceitos são diversificados e evoluem com o passar do tempo: se con- siderarmos, por exemplo, na pré-história, quando o homem saía para caçar, podemos perceber nesta ação o trabalho. Figura 1.1 - O trabalho nos primórdios da humanidade. Legenda: Representação do trabalho do homem no tempo das cavernas Fonte: <http://br.123rf.com/search.php?word=pr%C3%A9-hist%C3%B3ria&imgtype=0&t_word=prehistory&t_lang=br&o riSearch=ca%C3%A7ar&srch_lang=br&sti=lg9sxjvw4pdidadegp|&mediapopup=18809487>. 6 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho Com o passar do tempo e as novas relações trabalhistas estabelecidas com a Revolução Industrial, o conceito vai agregando também novas características. Mas como fica a preocupação com o trabalhador no decorrer da história? Você pode aprofundar seus conhecimentos em relação ao conceito de trabalho com autores como Karl Marx e Adam Smith. Na sociedade capitalista, como percebemos o trabalho, suas características e relações? No que diz respeito ao surgimento da segurança e saúde no trabalho, poucos são os registros existentes em relação à identificação e prevenção dos riscos no ambiente de trabalho ao longo da história da humanidade. Não havia preocupação por parte dos empregadores, uma vez que os trabalhos pesados e manuais eram, historica- mente, realizados por escravos ou pessoas de classes menos favorecidas da sociedade. Figura 1.2 - O trabalho escravo. Legenda: Representação da relação entre os escravos e seu senhor. Fonte: <http://previews.123rf.com/images/morphart/morphart1505/morphart150500503/39822829-Paris-of-Lake- Tanganyika-I-go-through-the-debris-of-my-caravan--Stock-Photo.jpg>. 7 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho De acordo com Chimirci; Oliveira (2016), o grego Hipócrates, em meados do século 4 a.C., registrou a gravi- dade toxicológica causada pelo chumbo em pessoas que trabalhavam em minas. Asseveram ainda que Plínio (O Velho), meio século depois, citou os perigos dos trabalhos com substâncias como enxofre, zinco, mercúrio e poei- ras resultantes do trabalho com a mineração. Outro fator histórico também encontrado é a improvisação que os escravos faziam utilizando panos amarrados ao rosto quando trabalhavam expostos à poeira, com o intuito de cobrir o nariz e a boca e, assim, diminuir sua inalação. Pesquise na internet ou livros para saber quem foi Plínio (O Velho). No entanto, é a partir de meados de 1700 que ocorre o principal marco em relação aos estudos sobre saúde dos trabalhadores: a publicação, na cidade de Modena (Itália), da obra “De Morbis Artificum Diatriba (As Doenças do Trabalho)”, escrita pelo médico italiano Bernardino Ramazzini (CHIMIRCI; OLIVEIRA, 2016; PACHECO JR, 2005). Este livro era um tratado sobre diversas doenças ocupacionais e as respectivas medidas que deveriam ser toma- das no sentido de diminuir os perigos à saúde dos trabalhadores. Esta obra foi considerada pioneira e serviu como base para o desenvolvimento da medicina ocupacional. Para acessar a tradução comentada em espanhol da obra “De Morbis Artificum Diatriba”, acesse: <http://www.insht.es/InshtWeb/Contenidos/Documentacion/FICHAS%20DE%20 PUBLICACIONES/EN%20CATALOGO/VIGILANCIA%20DE%20LA%20SALUD/Tratado%20 sobre%20las%20enfermedades%20de%20los%20trabajadores/tratado%20enfermeda- des.pdf>. Chimirci; Oliveira (2016) afirmam ainda que nesta época foi disseminada na sociedade europeia a crença que as doenças ocupacionais causavam perdas de produtividade e, por consequência, dinheiro advindo do trabalho. Perante o fato de o potencial máximo de produtividade do trabalhador só ser alcançado quando do seu estado normal de saúde e vigor, as empresas e os empregadores passaram a valorizar a manutenção da saúde e a pre- venção de doenças ocupacionais, com o intuito de manter os trabalhadores produtivos o quanto fosse possí- vel. Os autores demonstram isso por meio de um trecho do economista Adam Smith em seu livro “Riqueza das Nações”, publicado em 1776: Estando o trabalhador em seu estado normal de saúde, vigor e disposição, e no grau normal de sua habilidade e destreza, ele deverá aplicar sempre o mesmo contingente de seu desembaraço, de sua liberdade e de sua felicidade (SMITH, 1976, apud CHIMIRCI; OLIVEIRA, p. 19, 2016). 8 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho Desde esta época, os estudos relacionados ao tema evoluíram, principalmente após a Revolução Industrial, momento no qual surgiram as primeiras leis trabalhistas no intuito de proteger os trabalhadores de acidentes e possíveis doenças ocupacionais nas suas relações de trabalho. 1.1.1 A Revolução Industrial e os impactos na segurança e saúde no trabalho Antes da Revolução Industrial, os produtos eram feitos manualmente por artesãos. A escala de produção era pequena e os próprios artesãos controlavam todo o processo: desde a aquisição da matéria-prima, sua confec- ção até a comercialização do produto final. Figura 1.3 - O trabalho artesanal. Legenda: Representação da mão do artesão e suas ferramentas de trabalho. Fonte: <http://br.123rf.com/search.php?word=artes%C3%A3o&imgtype=0&t_word=craftsman&t_lang=br&oriSearch=art es%C3%A3o+s%C3%A9culo+xvi&srch_lang=br&sti=nn1jhw78dsk59u2pgr|&mediapopup=52916325>. A Revolução Industrial inicia-se na Inglaterra, no século XVIII, por volta de 1760. Neste período, há uma expansão do comércio ultramarino com o aumento das navegações que se iniciaram no século XV. Mercadorias circulavam por toda a Europa e essa circulação fez com que o comércio crescesse, havendo assim a necessidade do aumento da produção. Com muitas pessoas consumindo, os artesãos não davam conta de suprir a demanda, e a produção precisava aumentar. Em decorrência deste mercado ascendente, não foi possível manter o sistema artesanal de produção, ou seja, o aumento da procura por produtos que estavam sendo comercializados provocou uma alteração no modo de produzir na Europa, e o modo artesanal de produção deu lugar ao modo industrial. 9 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho Dois eventos principais marcam a Revolução Industrial: o surgimento das fábricas e a invenção das máquinas a vapor. Figura 1.4 - A fábrica. Legenda: Representação da fábrica na época da Revolução Industrial. Fonte: <http://previews.123rf.com/images/alvinge/alvinge1111/alvinge111100014/11274737-Old-depressing-factory- -building-in-sepia-tone-Symbol-for-economic--Stock-Photo.jpg>. Figura 1.5 - A máquina a vapor. Legenda: Representação da máquina a vapor na época da Revolução Industrial. Fonte: <http://previews.123rf.com/images/manfredxy/manfredxy1301/manfredxy130100039/17284632-Industrial- -Revolution-and-air-pollution-Stock-Photo.jpg>. Podemos perceber, então, que com a Revolução Industrial os trabalhadores perderam o controle sobre o pro- cesso produtivo: se antes, para sobreviver, o indivíduo se utilizava da própria terra, tinha contato direto com a matéria-prima, produzia do início ao fim o produto, na produção industrial ele passou a ser apenas parte de um processo e empregado de outra pessoa. Este fato mudou a relação de trabalho existente na Europa. 10 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho É certo que o surgimento das primeiras máquinas e a produção em massa possibilitaram diversos avanços tec- nológicos, aumento da produtividade, mais quantidades de produtos disponíveis no mercado e menos tempo de produção, no entanto houve também consequências negativas com todo esse processo, principalmente no que tange à vida do trabalhador: • No processo artesanal, o artesão tinha acesso direto à matéria-prima, produzia e comercializava seus bens, ganhando o equivalente àquilo que vendia. • Com a Revolução Industrial, o lucro passou a ser do empregador e o trabalhador começou a ter seu tra- balho explorado: o artesão se transformou no operário especializado na operação de máquinas e, agora empregado, ganhava um salário pelo trabalho entregue ao seu patrão, ou seja, ele produzia para receber um montante no final do mês. Com isso, o trabalho se tornou desumanizado e a ênfase passou a ser a eficiência, sem importar a que custo humano e social. Figura 1.6 - A exploração do homem. Legenda: Representação de como o homem é visto: uma extensão da máquina e explorado pela empresa capitalista. Fonte: <http://previews.123rf.com/images/sangoiri/sangoiri1505/sangoiri150500065/40620199-Labor-Exploitation- -Concept-sign-of-modern-slavery-in-the-industrial--Stock-Photo.jpg>. A desconsideração em relação aos fatores humanos era total, e os trabalhadores se tornaram dependentes do emprego oferecido pelas fábricas, em uma cultura que aceitava e encorajava a exploração (MAXIMIANO, 2006). Não havia qualquer controle sobre a segurança no desempenho das atividades ou a carga horária de trabalho e descanso. Essas condições precárias que esgotavam os trabalhadores muitas vezes os levavam ao alcoolismo, à prostituição e à criminalidade, além da mortalidade ser consideravelmente alta em alguns segmentos industriais (CHIMIRCI; OLIVEIRA, 2016). De acordo com Maximiano (2006), as condições de trabalho dessa época nas fábricas eram rudes e os trabalha- dores ficavam totalmente à disposição do industrial e capitalista. Chegavam a trabalhar 14 horas por dia, não podiam reclamar dos salários, dos horários de trabalho, do barulho e da sujeira nas fábricas. 11 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho Figura 1.7 - Silêncio. Legenda: Representação da voz do povo, que é calada pelo patrão. Fonte: <http://previews.123rf.com/images/studiostoks/studiostoks1510/studiostoks151000129/47522433-Silence- mystery-secret-business-concept-pop-art-retro-style--Stock-Photo.jpg>. Conforme afirmam Chimirci; Oliveira (2016), em decorrência do processo acelerado de produção em condições cada vez mais desumanas, as taxas de acidentes relacionadas ao trabalho aumentavam consideravelmente e doenças ocupacionais começavam a surgir. As tarefas eram executadas em condições laborais deploráveis não só por homens, mas também por mulheres, idosos e crianças. Essas condições, associadas às grandes concentrações de trabalhadores nas fábricas e cidades, facilitaram que os operários se unissem para reivindicar melhores condições e intensificarem o potencial de conflito com os empresários. No início dos anos 1800, surgiram os primeiros sindicados para proteger os salários dos trabalhadores. De acordo com Cattani (2002), o sindicado surge com a constituição da classe operária ao longo do processo de expansão do capitalismo industrial na Europa. Assevera ainda que o nascimento das primeiras associações de defesa dos trabalhadores ocorreu na sequência de manifestações espontâneas e violentas. Inicialmente, os sindicatos foram cerceados, sendo tolerados apenas na Inglaterra. Somente no final do século XIX, por volta de 1890, eles tiveram reconhecimento legal nos principais países industrializados. Cercear: cortar pela raiz, restringir; impor limites. Fonte: <https://www.dicio.com.br/cer- cear/>. Glossário 12 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho É importante salientar, ainda, que somente em 1802 a Inglaterra aprovou a primeira lei de proteção aos traba- lhadores, a chamada “Factory Act 1802” (“A Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes”), a qual estabelecia o limite de 12 horas de trabalho por dia, proibia o trabalho noturno, obrigava os empregadores a lavar as fábricas e tornava a ventilação obrigatória. Percebe-se, então, que a Revolução Industrial, marco inicial da moderna industrialização, traz com ela diversos problemas relacionados à saúde do trabalhador, e as doenças do trabalho aumentam em proporção elevada devido às condições deploráveis no ambiente laboral. Não havia preocupação com a saúde dos operários, que trabalhavam expostos a riscos e condições insalubres. Leia o artigo disponívelno link: <http://tools.folha.com.br/print?site=emcimadahora&url= http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2016/12/1840573-ossos-podem-revelar-como- -industrializacao-afetou-saude-humana.shtml> e reflita como a Revolução Industrial pode ter afetado, em termos da saúde humana e doenças ocupacionais, a vida das pessoas da época e nas nossas atuais. 1.2 O surgimento da Segurança e Saúde do Trabalho no Brasil Antes do fim da escravidão, não há no Brasil praticamente nenhum registro de doenças relacionadas ao trabalho, pois aqueles pesados e manuais eram exclusivamente feitos por escravos e, consequentemente, não havia preo- cupação por parte dos senhores. Segundo Chimirci; Oliveira (2016), um estudo liderado pelo doutor Oswaldo Cruz no início do século XX, entre 1907 e 1912, durante a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, demonstrou os primeiros casos de doenças infecciosas relacionadas ao trabalho. Os autores afirmam que é a partir de 1920 que diversos estudos vão demonstrar a relação direta entre a ocorrên- cia de doenças e acidentes no trabalho e as más condições laborais. Igualmente como ocorrera na Europa no século anterior, as pressões dos movimentos sociais e trabalhistas, bem como as denúncias dos trabalhadores, levaram à publicação de legislações voltadas à proteção do trabalhador. Em 1918, o Decreto n° 3.550 criou o Departamento Nacional do Trabalho, regulamentando a organização do trabalho. Conforme seu art. 2°, este órgão tem, dentre outras, a finalidade de preparar e dar execução regula- mentar às medidas referentes ao trabalho em geral. Em 1919, o Decreto Legislativo n° 3.724, conhecido como a primeira lei sobre acidentes de trabalho, instituiu a reparação em caso de doença contraída pelo exercício do trabalho. O decreto explanou fatores como: indeniza- ções em caso de morte ou invalidez; prestação de socorro médico, hospitalar e farmacêutico por parte do patrão em caso de acidente, dentre outros. 13 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho A Reforma Carlos Chagas em 1920 incorporou a higiene do trabalho ao âmbito da saúde pública por meio do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. O Decreto n° 16.027, de 1923, criou, com o Departamento Nacional de Saúde, no Ministério da Justiça e Negó- cios Interiores, o Conselho Nacional do Trabalho e a Inspetoria de Higiene Industrial e Profissional. Este órgão foi criado para ser consultivo dos poderes públicos em assuntos referentes à organização do trabalho e da pre- vidência social. Conforme seu art. 2°, o Conselho Nacional do Trabalho deveria se ocupar de fatores como: o dia normal de trabalho nas principais indústrias; os sistemas de remuneração do trabalho; os contratos coletivos do trabalho; os sistemas de conciliação e arbitragem; o trabalho de menores, de mulheres, aprendizagem e ensino técnico; os acidentes do trabalho, os seguros sociais, as caixas de aposentadorias e pensões de ferroviários; as instituições de crédito popular; as caixas de crédito agrícola. O Decreto n° 19.433, de 1930, criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, desenvolvendo dispositivos regulamentadores das condições de trabalho, da organização sindical e da previdência social. Em 1934, foi criada a Inspetoria de Higiene e Segurança do Trabalho. O Decreto n° 24.637, conhecido como a segunda lei sobre acidentes de trabalho, estabeleceu, sob novos moldes, as obrigações resultantes dos acidentes do trabalho. Conforme seu art. 1°, considera-se acidente do trabalho toda lesão corporal, perturbação funcional ou doença produzida pelo exercício do trabalho, ou em consequência dele, que determine a morte ou a sus- pensão ou limitação, permanente ou temporária, total ou parcial, da capacidade para o trabalho. Em 1938, este órgão se transforma em Serviço de Higiene do Trabalho, e em 1942 passa a se denominar Divisão de Higiene e Segurança do Trabalho. Por meio do Decreto-Lei n° 5.452, de 1943, ficou aprovada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Com um capítulo específico sobre Higiene e Segurança do Trabalho, a CLT traz em seus artigos elementos que dizem respeito, por exemplo, à iluminação adequada, ao conforto térmico, à ventilação, ao fornecimento de equipa- mentos individuais de proteção à incolumidade do trabalhador, tais como: óculos, luvas, máscaras, aventais, calçados, capuzes, agasalhos apropriados etc. Incolumidade: particularidade, característica ou condição de incólume (ileso ou inalterado); sem perigo; em que há segurança. Fonte: <https://www.dicio.com.br/incolumidade/>. Glossário Em 1944, o Decreto n° 7.036 institui a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). Sobre esse assunto, trataremos mais a fundo na Unidade 3. A Lei n° 5.161, de 1966, criou a Fundação Centro Nacional de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro). De acordo com seu art. 1°, tem como objetivo principal e genérico a realização de estudos e pesquisas pertinen- tes aos problemas de segurança, higiene e medicina do trabalho. Em 1978, a Portaria n° 3.214 aprova as Normas Regulamentadoras (NRs) do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. Inicialmente foram editadas 28 NRs, as quais sofreram alterações ao longo do tempo e outras foram inclusas. Sobre este assunto, estudaremos na Unidade 4. Finalmente, em 1988, é promulgada a Constituição Federal do Brasil e criadas as Normas Regulamentadoras Rurais (NRRs). 14 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho Para ampliar seus conhecimentos, consulte diretamente os decretos nos links: • Decreto nº 3.550, de 16 de outubro de 1918. Disponível em: <http://www2.camara. leg.br/legin/fed/decret/1910-1919/decreto-3550-16-outubro-1918-572535-pu- blicacaooriginal-95679-pl.html>. • Decreto nº 3.724, de 15 de janeiro de 1919. Disponível em: <http://www2.camara. leg.br/legin/fed/decret/1910-1919/decreto-3724-15-janeiro-1919-571001-pu- blicacaooriginal-94096-pl.html>. • Decreto nº 16.027, de 30 de abril de 1923. Disponível em: <http://www2.camara. leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-16027-30-abril-1923-566906-publi- cacaooriginal-90409-pe.html>. • Decreto nº 19.433, de 26 de novembro de 1930. Disponível em: <http://www2. camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19433-26-novembro-1930- -517354-publicacaooriginal-1-pe.html>. • Decreto nº 24.637, de 10 de julho de 1934. Disponível em: <http://www2.camara. leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-24637-10-julho-1934-505781-pu- blicacaooriginal-1-pe.html>. • Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Disponível em: <http://www2.camara. leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-5452-1-maio-1943-415500-pu- blicacaooriginal-1-pe.html>. • Lei nº 5.161, de 21 de outubro de 1966. Disponível em: <http://www2.camara.leg. br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-5161-21-outubro-1966-349084-publicacaoorigi- nal-1-pl.html>. Percebemos que, ao longo do tempo, diversas medidas legais foram sendo tomadas para que o trabalhador pudesse estar assegurado no seu local laboral. Apesar de as leis terem evoluído com o passar do tempo e se tornado mais rigorosas, diminuindo os riscos e as incidências de acidentes no trabalho, tais ocorrências nunca deixaram de existir, pois todas essas medidas não impedem que acasos ainda aconteçam, principalmente em função de aspectos culturais. Você assume um comportamento seguro em suas atividades profissionais a todo instante? 15 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho Outro aspecto relevante para tomarmos conhecimento é acerca de algumas organizações que são fundamentais para a Segurança no Trabalhoe Saúde Ocupacional, seja no âmbito nacional, seja no cenário mundial. 1.3 Fundacentro A Fundacentro é uma autarquia ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Foi criada oficialmente em 1966 em virtude da preocupação do governo e da sociedade com os altos índices de acidentes e doenças do tra- balho. A oficialização de sua criação se deu durante o Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes, realizado em São Paulo. Conforme exposto em seu site oficial, durante sua fase inicial foram realizados os primeiros estudos e pesquisas no país sobre: • Os efeitos de inseticidas organoclorados na saúde. • A bissinose, doença ocupacional respiratória que atinge trabalhadores do setor de fiação, expostos à poeira de algodão e juta. • As consequências das vibrações e dos ruídos em trabalhadores que operam marteletes. • O teor da sílica nos ambientes de trabalho na indústria cerâmica. • Os riscos da exposição ocupacional ao chumbo. • Estudos sobre as Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT, que na época eram chama- das de Lesões por Esforços Repetitivos - LER). De acordo com a Fundacentro (2017), a entidade dispõe de uma rede de laboratórios em segurança, higiene e saúde no trabalho e de uma das bibliotecas especializadas mais completas. Seus profissionais, formados em diversas áreas, possuem três atividades principais: • Desenvolvimento de pesquisas em segurança e saúde no trabalho. • Difusão de conhecimento, por meio de ações educativas (cursos, congressos, seminários, palestras, pro- dução de material didático e de publicações periódicas científicas e informativas). • Prestação de serviços à comunidade e assessoria técnica a órgãos públicos, empresariais e de trabalha- dores. É a partir do Centro Técnico Nacional (CTN) da Fundacentro que diversos avanços na área de segurança e saúde no trabalho têm sido produzidos e incorporados à legislação brasileira, auxiliando na redução dos índices de aci- dentes e de doenças ocupacionais nas mais diversas atividades profissionais (FUNDACENTRO, 2017). 16 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho Podemos perceber que esta entidade é essencial para o desenvolvimento de pesquisas e difusão do conheci- mento no que diz respeito à segurança e saúde no trabalho, as quais auxiliarão o trabalhador no seu ambiente laboral. Você pode aprofundar seus conhecimentos em relação à Fundacentro no link: <http://www. fundacentro.gov.br/>. 1.4 Organização Internacional do Trabalho (OIT) A OIT é a agência das Nações Unidas que tem por missão promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dig- nidade. De acordo com a OIT (2017), o trabalho decente é o ponto de convergência dos seus quatro objetivos estratégicos: • Liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva. • Eliminação de todas as formas de trabalho forçado. • Abolição efetiva do trabalho infantil. • Eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação, a promoção do emprego produtivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social. Pela OIT surgiram diversos tratados internacionais que visavam promover a melhoria das condições de segurança e saúde no trabalho. No Brasil, a OIT é representada desde a década de 1950. Além da promoção permanente das Normas Internacionais do Trabalho, do emprego, da melhoria das condições de trabalho e da ampliação da proteção social, a OIT apoia o esforço nacional de promoção do trabalho decente em áreas como o combate ao trabalho forçado, ao trabalho infantil e ao tráfico de pessoas para fins de explora- ção sexual e comercial, à promoção da igualdade de oportunidades e tratamento de gênero e raça no trabalho e à promoção de trabalho decente para os jovens, entre outras. Você pode aprofundar seus conhecimentos em relação à OIT no link: <http://www.ilo.org/>. 17 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho 1.5 Occupational Safety and Health Administration (OSHA) A OSHA é uma agência do Departamento de Trabalho dos EUA, semelhante à Fundacentro. Foi criada pelo Con- gresso em 1970 para assegurar condições de trabalho seguras e saudáveis para homens e mulheres, estabele- cendo e aplicando padrões e fornecendo treinamento, extensão, educação e assistência. Vá mais fundo em relação à OSHA no link: <https://www.osha.gov>. 1.6 National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) O NIOSH é uma agência federal dos EUA responsável pela realização de pesquisas e produção de recomendações para a prevenção de lesões e doenças relacionadas ao trabalho. Descubra mais sobre o NIOSHI no link: <http://www.niosh.com.my/>. Segundo Chirmici; Oliveira (2016), a importância deste instituto para o Brasil está nas questões de: • Produção de conhecimento e publicação dos padrões e metodologias para avaliação. • Amostragem e análise de agentes e substâncias químicas. • Parâmetros a serem seguidos nas avaliações ocupacionais. A Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais (ABHO) disponibilizou em seu site, em parceria com a Vale, a tradução do Manual de Estratégia de Amostragem, publicado pelo NIOSH. 18 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 1 – Contexto Histórico da Segurança e Saúde no Trabalho Você encontra a tradução do Manual de Estratégia de Amostragem no link: <http://www. abho.org.br/wp-content/uploads/2015/02/Manual_NIOSH_Estrategia_Amostragem.pdf> e o documento original em <https://www.cdc.gov/niosh/docs/77-173/pdfs/77-173.pdf>. 1.7 American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH) A ACGIH é uma associação americana de higienistas industriais e afins que produz conhecimentos e informações para a proteção da saúde dos trabalhadores. Os limites de tolerância a diversos riscos ocupacionais estabelecidos por essa associação são bem respeitados e recebem grande importância. No Brasil, por exemplo, a legislação determina que na ausência de limites estipu- lados pelas NRs vigentes, devem ser utilizados aqueles recomendados pela ACGIH. Você pode aprofundar seus conhecimentos em relação à ACGIH no link: <http://www.acgih. org/>. Para finalizar nossos estudos desta unidade, vamos refletir um pouco? Segurança e bem-estar no trabalho devem partir da educação continuada! A partir do texto disponível no link a seguir, reflita sobre a importância da cultura da prevenção, onde ela deve começar e quais seus limites: <http://www.fundacentro.gov.br/arquivos/projetos/Cultura_ da_Preven%C3%A7%C3%A3oJun2014.pdf>. 19 Considerações finais Chegamos ao fim da primeira unidade! Vamos ver o que vimos até aqui? • O trabalho faz parte da vida humana desde os primórdios da humanidade. • Poucos são os registros existentes em relação à identificação e prevenção dos riscos no ambiente de trabalho ao longo da histó- ria da humanidade. • Apesar de o grego Hipócrates ter registrado em meados do século 4 a.C. a gravidade toxicológica causada pelo chumbo em pessoas que trabalhavam em minas, e de Plínio, meio século depois, ter citado os perigos dos trabalhos com determinadas substâncias, é somente a partir de meados de 1700 que ocorre o principal marco em relação aos estudos sobre saúde dos trabalhadores: a publi- cação da obra “De Morbis Artificum Diatriba”, escrita pelo médico italiano Bernardino Ramazzini • Com a Revolução Industrial, a desconsideração em relação aos fatores humanos era total e os trabalhadores se tornaram depen- dentes do emprego oferecido pelas fábricas, em uma cultura que aceitava e encorajava a exploração, pouco se preocupandocom a saúde do trabalhador. • No Brasil, é a partir de 1920 que diversos estudos vão demonstrar a relação direta entre a ocorrência de doenças e acidentes no tra- balho e as más condições laborais. • Entidades importantes para a Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional: Fundacentro, OIT, OSHA, NIOSH, ACGIH. Referências bibliográficas 20 CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. Introdução à Segurança e Saúde no Tra- balho. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. DICIO. Dicionário Online. Cercear. Disponível em: <https://www.dicio. com.br/cercear/>. Acesso em: 20 fev. 2017. ______. Incolumidade. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/inco- lumidade/>. Acesso em: 20 fev. 2017. ______. Inércia. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/inercia/>. Acesso em: 20 fev. 2017. LIEDKE, E. R. Trabalho. In: CATANNI, A. D. (org.). Dicionário Crítico sobre Trabalho e Tecnologia. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 341-346. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração: da Revolução Urbana à Revolução Digital. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. PACHECO JR, W. Qualidade na Segurança e Higiene do Trabalho: Série SHT 9000, Normas para a Gestão e Garantia da Segurança e Higiene do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2005. 2 22 Unidade de Estudo 2 A Motivação e a Satisfação no Trabalho Para iniciar seus estudos Estudamos, na unidade anterior, o contexto histórico da Segurança e Saúde no Trabalho e vimos que o trabalhador era explorado e pratica- mente não havia preocupação com sua saúde e as condições saudáveis do ambiente laboral. Dentro deste contexto, como poderia o trabalhador se sentir motivado e se satisfazer no trabalho? De que forma o trabalho se relaciona com a saúde mental, o estresse, a qualidade de vida e a pro- moção da saúde? As respostas para esses questionamentos discutiremos nesta segunda unidade. Boa leitura! Objetivos de Aprendizagem • Compreender a motivação: definições, modelos de classificação e teorias. • Apresentar conceitos de satisfação no trabalho. • Relacionar saúde mental e trabalho. • Relacionar trabalho e estresse. • Abordar sobre qualidade de vida e promoção da saúde. 23 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 2 – A Motivação e a Satisfação no Trabalho 2.1 A motivação no trabalho Você já pensou sobre o que faz uma pessoa querer ler um livro de 500 páginas do qual outra pessoa nem passa perto? O que faz alguém perder uma noite inteira de sono assistindo a um seriado enquanto outras pessoas não abrem mão de uma noite bem dormida? O que leva alguém a escolher uma profissão em detrimento de outra? Para os psicólogos Gondim e Silva (2004), grande parte das razões da diversidade das condutas individuais decorre de um processo denominado de motivação. A motivação é um processo psicológico básico mas, por ser um fenômeno não diretamente observado e auxiliar na explicação e na compreensão das diferentes ações e escolhas individuais, torna-se complexo. Motivação, em sua origem etimológica, é derivada do latim “motivos”, que significa “mover”, mas assumiu o sig- nificado de “tudo aquilo que pode fazer mover, tudo aquilo que causa ou determina alguma coisa e, ainda, o fim ou a razão de uma ação” (GONDIM; SILVA, 2004, p.145). Etimologia: ciência que investiga a origem, étimo, das palavras procurando determinar as causas e circunstâncias de seu processo evolutivo; procedência de um termo, tanto em sua forma mais antiga quanto nos aspectos relacionados à sua evolução. Disponível em: <https:// www.dicio.com.br/etimologia/>. Glossário A ação humana é multicausal, dependerá do contexto no qual o indivíduo está inserido e envolve aspectos bioló- gicos, psicológicos, históricos, sociológicos, culturais. Consequentemente, podemos dizer que a motivação tam- bém é causada e influenciada por todos esses fatores. Figura 2.1: A motivação humana. Legenda: Representação de algo que motiva as pessoas para irem atrás do que querem. Fonte: Disponível em: <http://previews.123rf.com/images/lightwise/lightwise1508/lightwise150800023/43851108- -Employee-incentive-business-concept-as-a-group-of-businessmen--Stock-Photo.jpg>. 24 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 2 – A Motivação e a Satisfação no Trabalho Você já parou para analisar sobre o que te incentiva a fazer ou deixar de fazer algo? O que motiva seu trabalho e estudos? Ganhos financeiros, qualidade de vida, ambiente agradável, fazer o que gosta? Todos nós conhecemos ou ouvimos falar de casos de pessoas que trocaram de emprego para ganhar metade do que recebiam porque suas vidas eram muito estressantes, ou então de quem deixou sua cidade, família, casa e foram morar em outro lugar em troca de uma promoção ou aumento de salário. Todas essas escolhas são influenciadas por nossas motivações as quais, como vimos, são multicausais. A motivação, segundo Salanova et. al (1996), pode ser definida como uma ação dirigida a objetivos, sendo autor- regulada, biológica ou cognitivamente, persistente no tempo e ativada por um conjunto de necessidades, emo- ções, valores, metas e expectativas. Os principais aspectos envolvidos no conceito de motivação e que influenciam na construção de teorias sobre esse processo psicológico são: ênfase, foco, pergunta e resposta. O seguinte quadro demonstra esses elementos: Figura 2.2: Principais fatores implicados na motivação. ÊNFASE Ativação Direção Intensidade Persistência FOCO PERGUNTA RESPOSTA Estado inicial da pessoa Objeto ou alvo da ação Variação da força da ação Manutenção da ativação Como é ativada? Há escolha do alvo? Onde está a força? O que mantém a ação? Intrínseco ou extrínseco Consciente ou inconsciente Necessidade, desejo, afeto Pessoa ou ambiente Fonte: Adaptado de Gondim; Silva,, (2004). A ênfase está relacionada ao que se elege como importante para abordar a motivação: ativação (se refere ao estado inicial de estimulação em que se encontra a pessoa), direção (objeto ou alvo da ação, o que suscita a indagação do nível de consciência da pessoa na escolha desse alvo), intensidade (está atrelada à força da ação, que depende de um estado anterior de carência ou de um estado posterior a ser alcançado) e persistência (ati- vação, direção e intensidade da ação, as quais são mantidas por fatores pessoais ou ambientais). O foco é o alvo ou objeto de atenção. A pergunta é a indagação que se faz ao objeto, e a resposta é o nível de explicação ou compreensão que se pretende obter. Vamos tentar entender de forma prática estes conceitos por meio do exemplo representado nos quadros a seguir: O que motivaria uma pessoa a ficar no trabalho além do horário estipulado no contrato formal? 25 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 2 – A Motivação e a Satisfação no Trabalho Figura 2.3: Ativação da conduta. Expectativa de obter avaliação positiva do chefe Fator extrínseco Vontade de concluir a tarefa (característica pessoal) Fator intrínseco Ficar no trabalho além do horário Fonte: Adaptado de Gondim; Silva, (2004). Figura 2.4: Direção da conduta. Continua trabalhando além do horário por um impulso incontrolado, sem que tenha clareza do alvo de sua ação. Automatismo na repetição da conduta (Não-consciência do alvo / não-intenção) Quer continuar trabalhando até tarde, pois almeja a promoção. Promoção (Escolha consciente do alvo) Ficar no trabalho além do horário Fonte: Gondim; Silva, 2004 (adaptado). Figura 2.5: Intensidade da conduta. Carência pessoal Atividade do alvo Promoção Nunca obteve e quer vivenciar Quer ser promovida Ficar no trabalho além do horário Fonte: Adaptado de Gondim; Silva, (2004).. Essas quatros ênfases apresentadas no Quadro 2.1 estão na base da construção das teoriasda motivação, as quais, de acordo com Gondim; Silva (2004), há na literatura três modelos principais de classificação: • Unidimensional proposta por Campbell et al. (1970): diferencia as teorias de conteúdo das teorias de pro- cesso, ou seja, a primeira explica a motivação a partir das necessidades, afirmando que a conduta é orien- tada para a sua satisfação; a segunda entende a motivação como um processo de tomada de decisão. • Bidimensional proposta por Thierry (1994): além da dimensão conteúdo versus processo, também inclui a dimensão reforçamento versus cognição. Estas dizem respeito aos fatores externos que podem reforçar a motivação (reforçamento) e aos fatores internos, os quais dirigem atenção para o que acontece no sis- tema cognitivo da pessoa (cognição). • Unidimensional de Kanfer (1992): organiza as teorias em um contínuo entre proximidade e distancia- mento da ação. Ou seja, a motivação é fundamentalmente uma teoria da ação. Esses modelos de classificação permitem uma visualização geral de como as teorias da motivação podem ser organizadas. No entanto, vale destacar, conforme salienta Gondim; Silva (2004), que esses modelos incluem diversas teorias que não são consensualmente avaliadas na literatura como de motivação. Para não entrarmos na discussão classificatória das teorias de motivação inclusas em cada um dos modelos, vamos debatermos as que são consideradas mais importantes na literatura. 26 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 2 – A Motivação e a Satisfação no Trabalho Nas décadas de 1940, 1950 e 1960, ocorreu o desenvolvimento da maioria das teorias motivacionais discuti- das na literatura: teoria das necessidades de Maslow, teoria das necessidades (afiliação, poder e realização) de McClelland, teoria ERC (existência, relacionamento e crescimento) de Alderfer e teoria bifatorial de Herzberg, Mausner e Snyderman. No geral, as teorias que se embasam no conceito de necessidade partem do pressuposto que há uma energia ou força que excita ou gera uma tensão interna no organismo, ou seja, é experimentada como um impulso ou desejo para agir de modo que se reduza a força desse mesmo impulso, tensão ou desejo. Estas teorias estariam dispostas a desvendar os aspectos individuais biológicos e psicológicos que os causam, ou seja, da falta ou carên- cia de algo a ser suprido (GONDIM; SILVA, 2004). A teoria da hierarquia das necessidades de Maslow pressupõe que as necessidades humanas têm origem bio- lógica e estão dispostas hierarquicamente, sendo que para atingir as necessidades superiores as inferiores têm que, em partes, serem satisfeitas. Para Maslow (1970), o ser humano nasce com cinco sistemas de necessidades, os quais estão dispostos em hie- rarquias e representados em uma pirâmide, conforme mostramos na seguinte figura: Figura 2.6: Pirâmide da hierarquia das necessidades, de Maslow (1970). Necessidades inferiores Necessidades superiores Autorre- alização Sociais Fisiológicas Status - Estima Segurança Legenda: Demonstração dos 5 níveis da teoria das necessidades de Maslow. Fonte: Elaborada pela autora. As duas primeiras necessidades, que compõem a base da pirâmide, são consideradas inferiores: as fisiológicas dizem respeito ao sono, à fome, à sede e ao sexo. Para o autor, uma vez que essas são atendidas, as próximas são as de segurança – que vão desde a necessidade de se sentir seguro dentro de uma casa até ter segurança com um emprego estável, um plano de saúde ou um seguro de vida. As três últimas são consideradas necessidades superiores: as sociais são as relativas ao amor, ao afeto, à afeição e aos sentimentos (como aqueles de pertencer a um grupo). Após estas, encontramos aquelas de estima, nas quais encontramos o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e o reconhecimento dos outros face à nossa capacidade de adequação às funções que desempenhamos. Por fim, depois de atendidas todas essas necessidades, as pessoas buscam a autorrealização, na qual o indivíduo procura se tornar aquilo que ele pode ser (GONDIM; SILVA, 2004). 27 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 2 – A Motivação e a Satisfação no Trabalho Na mesma lógica de Maslow, no final da década de 1960 Alderfe redefine as cinco necessidades hierarquizadas e as agrupa em três: Existência (E), que inclui as fisiológicas e de segurança; Relacionamento (R), que reúne as sociais e de estima; Crescimento (C), que equivale à de autorrealização. Diferentemente de Maslow, o autor acreditava que a motivação da conduta humana não obedeceria a um sentido progressivo apenas, mas também regressivo/descendente. Outro aspecto apontado por ele é que duas necessidades poderiam, conjuntamente, influenciar a orientação da ação da pessoa, o que vai de encontro com o que Maslow acreditava (GONDIM; SILVA, 2004). McClelland, por sua vez, apesar de tratá-las também como de origem biológica, não as considera em uma pers- pectiva de hierarquia. Para ele, há três tipos de necessidade que se inter-relacionam e se apresentam em níveis variados de intensidade nas pessoas de acordo com seus perfis psicológicos e processos de socialização aos quais estiveram submetidas: poder, afiliação e realização. Figura 2.7: Teoria das necessidades, de McClelland. Processo de socialização Necessidade de a�liação Necessidade de poder Necessidade de realização Necessidades biológicas Per�l Psicológico Fonte: Gondim; Silva, 2004. De acordo com essa teoria, quando a necessidade mais forte é a de realização, a pessoa evidencia motivação elevada para autorrealização e busca de autonomia. Quando prepondera a de afiliação, o indivíduo centra sua atenção na manutenção de seus relacionamentos interpessoais, ou seja, estar mais próximo do outro e ser aceito por ele é o que orienta sua ação. Porém, quando o que sobressai é a necessidade de poder, a pessoa se sente motivada pelo desejo de influenciar, reorientar e mudar as atitudes e as condutas alheias (GONDIM; SILVA, 2004). Outro autor que se destaca na literatura é McGregor (1992) com as teorias X e Y. Segundo ele, por trás de qualquer decisão ou ato gerencial encontram-se pressuposições acerca da natureza e do comportamento humano. A teoria X possui três princípios básicos: • O homem tem aversão ao trabalho. • O homem precisa ser controlado e punido para que se esforce e cumpra os objetivos organizacionais. • O homem evita a responsabilidade, pois está interessado apenas na sua segurança pessoal e financeira. Para McGregor, a prática gerencial apoiada na teoria X ignorava os estudos de motivação desenvolvidos por Maslow, que ressaltavam o quanto ela seria decorrente da emergência de necessidades humanas hierarquicamente dispostas. Para os administradores que pensavam diferente em função da difusão da teoria das relações humanas, McGre- gor desenvolve a teoria Y, cujos princípios eram: • O trabalho pode ser uma fonte de satisfação ou punição, dependendo do contexto. • O homem está disposto a se autodirigir, a aprender, a aceitar responsabilidades e também a colocar em prática o seu potencial criativo. 28 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 2 – A Motivação e a Satisfação no Trabalho Para aumentar sua compreensão acerca da teoria X e teoria Y de McGregor por meio de uma pes- quisa prática, acesse o link: <http://www.tede.ufsc.br/teses/PCAD0767-D.pdf> e confira a Disser- tação “Cultura Organizacional e Mobilização de Competências: as Relações entre os Pressupostos da Natureza da Natureza Humana e o Poder Agir dos Profissionais”, de Aniele Fischer Brand. Por fim, a teoria dos dois fatores de Herzberg et. a (1959)l procura explicar melhor o comportamento dos indiví- duos, em situação de trabalho: há dois conjuntos de fatores que variam em contínuos independentes e orientam o comportamentoe a motivação humana: • Fatores higiênicos: são fatores externos que variam da condição de insatisfação à não insatisfação. São as condições ambientais enquanto o indivíduo trabalha, por exemplo, condições físicas de trabalho, salá- rio, benefícios sociais e políticas de supervisão. • Fatores motivacionais: referente a fatores internos, que oscilam da condição de satisfação à não satis- fação. Estão relacionados com a execução de tarefas, por exemplo, com sentimentos de realização, cres- cimento e reconhecimento profissionais. O quadro a seguir resume esses fatores: Quadro 2.1: Fatores higiênicos, de Herzberg et. al. FATORES HIGIÊNICOS DETERMINANTES Supervisão Relações Interpessoais A disposição ou boa vontade de ensinar ou delegar responsabilidades aos subordinados. Políticas empresariais Normas e procedimentos que encerram os valores e crenças da companhia. Condições ambientais Ambientes físicos e psicológicos que envolvem as pessoas e os grupos de trabalho. Transações pessoais e de trabalhos com os pares, os subordinados e os superiores. Vida pessoal Status Forma pela qual a nossa posição está sendo vista pelos demais. Remuneração O valor da contrapartida da prestação de serviço. Aspectos do trabalho que in�uenciam a vida pessoal. Fonte: Elaborado pela autora. 29 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 2 – A Motivação e a Satisfação no Trabalho Quadro 2.2: Fatores motivacionais de Herzberg et. al. FATORES MOTIVADORES DETERMINANTES Realização Responsabilidade O término com sucesso de um trabalho ou tarefa; os resultados do próprio trabalho. Reconhecimento pela realização O recebimento de um reconhecimento público ou não, por um trabalho bem feito ou um resultado conseguido. O trabalho em si Tarefas consideradas agradáveis e que provocam satisfação. Proveniente da realização do próprio trabalho ou do trabalho de outros. Desenvolvimento pessoal Possibilidade de aumento de status, per�l cognitivo ou mesmo de posição social. Possibilidade de crescimento Uma alavancagem dentro da estrutura organiza- cional, em termos de cargo ou responsabilidade. Fonte: Elaborado pela autora. Demais teorias sobre motivação podem ser encontradas no livro: ZANELLI, J. C. et. al (org.). Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004. Podemos perceber que são diversas as teorias acerca da motivação humana e que destacam diferentes elemen- tos, mas como podemos relacionar toda teoria aprendida até aqui com o nosso trabalho? O alcance dos objetivos organizacionais se encontra atrelado ao desempenho eficiente e eficaz nos níveis indivi- duais, grupais e organizacionais. As empresas e a sociedade esperam que os serviços prestados sejam entregues com qualidade e este fato exige uma alta performance do funcionário. Para que este consiga alcançá-la, neces- sita apresentar níveis desejáveis de disposição para a realização das diversas tarefas as quais é submetido. Diante disto, vamos refletir? É possível o empregador cobrar desempenho e metas aos funcionários e mesmo assim eles trabalharem satisfeitos e motivados? De que forma pode haver esse equilíbrio entre as exi- gências da empresa e as expectativas e satisfações dos funcionários? 30 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 2 – A Motivação e a Satisfação no Trabalho Vamos agora trabalhar justamente a satisfação no trabalho! Figura 2.8: Nível de satisfação na empresa. Legenda: Representação da relação entre o que a empresa exige e a satisfação do funcionário. Fonte: Disponível em: <http://previews.123rf.com/images/stefanamer/stefanamer1504/ stefanamer150400399/39186950-Rating-on-customer-service-illustration--Stock-Photo.jpg>. Você é satisfeito no seu trabalho? O que lhe promove essa satisfação? Segundo Martinez; Paraguay (2003), a satisfação no trabalho é um fenômeno complexo e de difícil definição, pois vem sendo conceituado de diferentes formas dependendo da base teórica utilizada. Ainda de acordo com as autoras: “a satisfação no trabalho como sinônimo de motivação, como atitude ou como estado emocional positivo havendo, ainda, os que consideram satisfação e insatisfação como fenômenos distintos, opostos” (MARTINEZ; PARAGUAY, 2003). A satisfação no trabalho vai variar de indivíduo para indivíduo e alguns fatores causais podem ser: o próprio trabalho, ou seja, aquele que seja significativo e interessante, que traga sucesso e realização, que permita a uti- lização de suas capacidades e habilidades, com possibilidade de crescimento, que haja harmonia e integração interpessoal, ausência de fadiga e monotonia, que proporcione autonomia na tomada de decisão, ausência de conflitos, dentre outros; pagamentos, no que diz respeito à equidade, quantidade suficiente para suprir suas des- pesas, benefícios oferecidos; promoção, no qual inclui a oportunidade, justiça e clareza no processo; reconhe- cimento, no que se refere a elogios ou créditos pelas realizações; condições e ambiente de trabalho, que englo- bam recursos disponíveis e condições físicas (equipamentos, suporte, ruído, ventilação, umidade, temperatura, arranjo físico, jornada de trabalho e ausência de riscos etc.). É possível, também, que esses fatores estejam ligados aos colegas de trabalho e subordinados, que envolvem relações de confiança, colaboração, amizade, compartilhamento de valores; à supervisão e ao gerenciamento, nos quais os funcionários esperam que seus superiores sejam atenciosos, justos, competentes, que reconheçam seu trabalho; por fim, aspectos relacionados à empresa em si: como ela demonstra respeito pelos empregados e por seus valores? Como são as políticas adotadas por ela? (MARTINEZ; PARAGUAY, 2003). Você consegue perceber esses fatores provocando satisfação ou não no seu dia a dia profissional? Qual seu nível de satisfação na empresa? 31 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 2 – A Motivação e a Satisfação no Trabalho Figura 2.9: Nível de satisfação na empresa. Legenda: Representação do quanto o trabalhador está satisfeito com a empresa. Fonte: Disponível em: <http://previews.123rf.com/images/unkreatives/unkreatives1308/unkreatives130800029/21593613- -detailed-illustration-of-a-customer-satisfaction-meter-with-smilies-Stock-Photo.jpg>. A satisfação no trabalho irá influenciar o trabalhador e pode se manifestar sobre sua saúde, qualidade de vida e comportamento, com consequências para os indivíduos e para a empresa. Como já vimos na unidade anterior, ao longo do tempo o trabalhador passou por situações de exploração e des- caso no ambiente de trabalho, o que trazia diversas consequências para seu bem-estar físico e psicológico. O sofrimento psicológico fazia parte da vida dos trabalhadores, que muitas vezes adoeciam por conta disso. Figura 2.10: O trabalhador estressado. Legenda: Representação de um trabalhador que atingiu seu nível máximo de estresse na empresa. Fonte: Disponível em: <http://previews.123rf.com/images/amasterpics123/amasterpics1231301/ amasterpics123130100014/17437640-Depressed-3d-man-sitting-over-white-background-Stock-Photo.jpg>. Há três grandes abordagens teóricas que discutem este assunto: estresse, psicodinâmica no trabalho e epide- miologia do trabalho (CODO, et. al, 2004). Mas afinal: o que é Saúde Mental e Trabalho? Codo et. al (2004) destacam que, para Freud, a saúde mental é a capacidade de amar e de trabalhar. Os autores trazem outra definição a respeito: ela é a capacidade de construir, produzir e reproduzir a si próprio e à espécie. 32 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 2 – A Motivação e a Satisfação no Trabalho Afinal, como podemos associar essas características ao trabalho, pois ele é sinal de identidade do homem? Para Codo et. al (2004), um ensinamentoque a psicologia nos traz é que falamos em saúde mental quando somos capazes de amar e trabalhar; falamos de doença mental quando uma ou outra, ou ambas, estiver prejudicada, pois sabe-se que a capacidade de amar interfere imediatamente na capacidade de trabalhar e vice-versa. Ou seja, para os autores, amar e trabalhar compõem um todo orgânico, sinônimo da própria vida humana. Os estudos sobre saúde mental e trabalho no Brasil começam a acontecer em meados da década de 1980. Lima (apud CODO et. al, 2004) elabora uma síntese com as principais publicações até 2002, apresentada no quadro a seguir: Quadro 2.3: Principais publicações em Saúde Mental e Trabalho (de 1986 a 2002). Ano Publicações que tiveram maior repercussão em Saúde Mental e Trabalho a partir de 1986, segundo Maria Elizabeth Antunes Lima. 1986 Edith Seligmann escreve um capítulo sobre Saúde Mental e Trabalho para a coletânea “Crise, Trabalho e Saúde Mental no Brasil”. 1990 Edith Seligmann escreve outro capítulo sobre o tema para a coletânea “Cidadania e Loucura – Políticas de Saúde Mental no Brasil”. 1993 Wanderley Codo, José Jackson Sampaio e Alberto Hitomi publicam “Indivíduo, Trabalho e Sofrimento”. 1994 Edith Seligmann escreve “Desgaste Mental do Trabalho Dominado”. Jaqueline Tittoni escreve “Subjetividade e Trabalho”. Maria Inês Rosa escreve “Trabalho, Subjetividade e Poder”. 1995 Wanderley Codo e José Jackson Sampaio organizam a coletânea “Sofrimento Psíquico nas Organizações”. 1996 Lys Esther Rocha compõe a tese “Estresse Ocupacional em Profissionais de Processamento de Dados: Condições de Trabalho e Repercussões na Vida e Saúde dos Analistas de Sistemas”. Seiji Uchida compõe a tese “Temporalidade e Subjetividade no Trabalho Informatizado”. Leda Leal Ferreira e Aparecida Marli Guti escrevem “Os Trabalhos dos Petroleiros – Perigoso, Complexo, Contínuo e Coletivo”. Maria Elizabeth Antunes Lima escreve “Os Equívocos da Excelência – as Novas Formas de Sedução nas Empresas”. 1997 Alice Itani escreve “Subterrâneos do Trabalho – Imaginário Tecnológico no Trabalho”. João Ferreira da Silva Filho e Silvia Jardim organizam a coletânea “A Dança do Trabalho – Organização do Trabalho e Sofrimento Psíquico”. 1999 Wanderley Codo organiza a coletânea “Educação, Carinho e Trabalho”. Débora Glina e Lys Esther Rocha organizam a coletânea “Saúde Mental e Trabalho: Desafios e Soluções”. É lançado o primeiro número da revista da Federação Nacional dos Psicólogos, voltada exclusivamente para o campo da saúde mental e trabalho. 2002 Maria da Graça Jacques e Wanderley Codo organizam a coletânea “Saúde Mental e Trabalho – Leituras”. Iris Barbosa Goulart organiza a coletânea “Psicologia Organizacional e do Trabalho: Teoria, Pesquisa e Temas Correlatos”. Luiz Henrique Borges, Maria das Graças Moulin e Maristela Dalbelo Araújo organizam a coletânea “Organização do Trabalho e Saúde – Múltiplas Relações”. Fonte: Lima, 2003 (apud CODO et. al, 2004). 33 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 2 – A Motivação e a Satisfação no Trabalho Então, conforme citamos anteriormente, no Brasil também começaram a se configurar as abordagens mais fre- quentes em Saúde Mental e Trabalho: estresse, psicopatologia/psicodinâmica do trabalho e epidemiologia do trabalho. Você já deve ter ouvido falar o termo estresse e provavelmente já o utilizou no seu dia a dia: “hoje estou estres- sado”; “fulano amanheceu estressado”; “tal coisa me deixa estressado”, mas você saberia defini-lo? Será que a conceituação popular, do senso comum, se aproxima da científica? Cientificamente, o estresse é um processo que envolve variáveis individuais, organizacionais e extraorganizacio- nais como estressores. Esses fatores podem ser físicos, sobrecarga, tensões interpessoais, ruídos etc., os quais afetam o comportamento individual. Os efeitos do estresse envolvem tensão, fadiga e respostas psicológicas, como ansiedade e aflição (CHIAVENATO, 2009). Figura 2.11: Estresse Fonte: Disponível em: <http://www.123rf.com/photo_46794699_emotional-stress.html?term=stress&vti=m169x63w9vjd u4kzpc>. Para que haja qualidade de vida e promoção da saúde nas organizações, é necessário que o estresse seja com- batido e eliminado no ambiente de trabalho. No entanto, isso requer apoio constante da alta administração, do nível gerencial, dos supervisores e das próprias pessoas envolvidas. 34 Considerações finais Terminamos a segunda unidade e já é possível compreender um pouco mais sobre elementos que envolvem a segurança e saúde no trabalho. Nesta unidade, estudamos os principais fatores que implicam a moti- vação e satisfação no trabalho, a relação entre saúde mental e estresse e que, para o trabalhador ter qualidade de vida e haver a promoção da saúde no ambiente laboral, o estresse precisa ser combatido e eliminado. Aprendemos que há na literatura três modelos principais de classificação das teorias da motivação: unidimensional; bidimensional; unidimensional de Kanfer. Vimos, também, que entre as décadas de 1940 e 1960 ocorreu o desen- volvimento da maioria das teorias motivacionais discutidas na literatura: a das necessidades (de Maslow), a das necessidades (afiliação, poder e realização, de McClelland), a ERC (existência, relacionamento e cresci- mento, de Alderfer), a bifatorial (de Herzberg, Mausner e Snyderman) e a X e Y (de McGregor). Até a próxima! Referências bibliográficas 35 CHIAVENATO, I. Administração de Recursos Humanos: Fundamentos Básicos. 7. ed. São Paulo: Manole, 2009. CODO, W.; SORATTO, L.; MENEZES, I. V. Saúde Mental e Trabalho. In: ZANELLI, J. C.; BORGES-ANDRADE, J. E.; BASTOS, A. V. B. (org.). Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 276- 299. DICIO - Dicionário Online de Português. “Etimologia”. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/etimologia/>. Acesso em: 09 fev. 2017. GONDIM, M. S. G.; SILVA, N. Motivação no trabalho. In: ZANELLI, J. C.; BOR- GES-ANDRADE, J. E.; BASTOS, A. V. B. (org.). Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 145-176. HERZBERG, F.; MAUSNER, B.; SNYDERMAN, B. B.. The motivation to work. 2. ed. New York : John Wiley, 1959. MARTINEZ, M. C.; PARAGUAY, A. I. B. B. Satisfação e saúde no trabalho: aspectos conceituais e metodológicos. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, 2003, v. 6, p. 59-78. MASLOW, A. H. Motivation and Personality. 2. ed. New York: Harper e Row, 1970. MCGREGOR, D. O Lado Humano da Empresa. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. 3 37 Unidade de Estudo 3 Higiene e Segurança do Trabalho Para iniciar seus estudos Na unidade anterior, estudamos a motivação, a satisfação no trabalho, a saúde mental no trabalho, o estresse, a qualidade de vida e a promoção de saúde. Você conseguiu estabelecer as relações existentes entre esses assuntos? Nesta unidade, vamos entrar especificamente nos conceitos gerais da Higiene e Segurança do Trabalho, seus objetivos, as condições ambien- tais no trabalho e conheceremos mais a respeito da Comissão Interna de Prevenção de Acidente (CIPA). Vamos lá! Objetivos de Aprendizagem • Apreciar os conceitos gerais de higiene e segurança do trabalho, bem como seus objetivos. • Analisar as condições ambientais de trabalho. • Apresentar a Comissão Interna de Prevenção de Acidente (CIPA) e suas funções. 38 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho 3.1 Conceitos gerais sobre higiene e segurança do trabalho e seus objetivos A segurança e saúde dos funcionários é fundamental para a preservação da força de trabalho adequada. A higiene e segurança do trabalho procuram garantir as condições físicas e materiais do trabalho para manter elevada a saúde dos funcionários.Figura 3.1 – A saúde laboral. Legenda: Representação da saúde no âmbito laboral. Fonte: 123RF. Conforme definição da OMS, a saúde não consiste somente na ausência de doença ou de enfermidade, mas é um estado completo de bem-estar físico, mental e social. Higiene e segurança do trabalho são atividades interligadas que repercutem diretamente sobre a continuidade da produção, produtividade, qualidade e moral dos funcionários. A seguir, aprofundaremos um pouco mais esses conceitos. 39 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho 3.2 Higiene do trabalho A higiene no trabalho diz respeito ao conjunto de normas e procedimentos que visa à proteção da integridade física e mental do funcionário, preservando-o dos riscos de saúde inerentes às tarefas do cargo e ao ambiente físico onde são executadas. Ela se relaciona com o diagnóstico e a prevenção de doenças ocupacionais a partir do estudo e controle do ser humano e de seu ambiente de trabalho (CHIAVENATO, 2009). Seu plano pode envolver aspectos como: • Um plano organizado: abrange a prestação de serviços médicos, enfermeiros e auxiliares em tempo inte- gral ou parcial, dependendo do tamanho da organização. • Serviços médicos adequados: exames médicos de admissão; cuidados quanto a danos ou injúrias pro- vocadas por moléstias profissionais; ambulatório para consultas médicas e primeiros socorros; exames médicos periódicos de revisão e check-up; eliminação e controle de áreas insalubres; registros médicos adequados para fins estatísticos; supervisão quanto à higiene e saúde; relações éticas e de cooperação com as famílias dos funcionários doentes. • Prevenção de riscos à saúde, devido a: riscos químicos (como intoxicações, dermatoses industriais); ris- cos físicos (como ruídos, temperaturas extremas, radiações); riscos biológicos (como agentes biológicos, micro-organismos patogênicos). • Serviços adicionais como parte do investimento organizacional sobre a saúde do funcionário e da comu- nidade: programas informativos para melhorar os hábitos de vida e esclarecer sobre assuntos de higiene e saúde; programa formal de convênios ou colaboração com entidades locais para prestação de serviços recreativos, ofertas de leitura, filmes etc.; verificações interdepartamentais sobre sinais de desajustamen- tos que implicam mudanças de tipo de trabalho, departamento ou horário; previsões de cobertura finan- ceira para casos esporádicos de prolongado afastamento do trabalho por doença ou acidente, por meio de planos de seguro de vida em grupo ou seguro médico; extensão de benefícios médicos a funcionários aposentados, incluindo planos de pensão ou de aposentadoria. Segundo Chiavenato (2009), a higiene do trabalho tem caráter eminentemente preventivo, pois objetiva a saúde e o conforto do trabalhador, evitando que ele adoeça e se ausente provisória ou definitivamente do trabalho. Entre os objetivos principais da higiene do trabalho, estão: • Eliminação das causas das doenças profissionais. • Redução dos efeitos prejudiciais provocados pelo trabalho em pessoas doentes ou portadoras de defici- ência física. • Prevenção do agravamento de doenças e lesões. • Manutenção da saúde dos funcionários e aumento da produtividade por meio de controle do ambiente de trabalho. Esses objetivos poderão ser alcançados por meio da educação dos funcionários, chefes e gerentes indicando os perigos existentes e ensinando como remediá-los ou evitá-los com: constante estado de alerta contra os riscos existentes no local de trabalho; estudos e observações dos novos processos ou materiais a serem utilizados no sentido de evitar riscos adicionais (BAPTISTA, s.d., n.p.). 40 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho A higiene do trabalho envolve o estudo e controle das condições de trabalho, cujas variáveis da situação influen- ciam o comportamento humano. De acordo com Chiavenato (2009), o trabalho das pessoas é profundamente influenciado por três grupos de condições: 1. Condições ambientais de trabalho: é o ambiente físico que envolve o funcionário enquanto ele desem- penha um cargo, oferecendo a ele condições favoráveis ou desfavoráveis ao seu desempenho. Os três itens mais importantes das condições ambientais de trabalho são: » Iluminação: refere-se à quantidade de luminosidade que incide no local de trabalho do funcionário. Não se trata da iluminação no geral, mas da quantidade de luz no ponto focal de trabalho. Assim, os padrões são estabelecidos de acordo com o tipo de tarefa visual que o funcionário deve executar: quanto maior a sua concentração visual em detalhes e minúcias, mais necessária a luminosidade no ponto focal de trabalho. A má iluminação causa fadiga à vista, prejudica o sistema nervoso, concorre para a má qualidade no trabalho e é responsável por razoável parcela dos acidentes. » Ruídos: é considerado um som ou barulho indesejável. O som tem duas características principais: a frequência e a intensidade. A influência do ruído sobre a saúde do funcionário e, principalmente, sobre sua audição é poderosa. A exposição prolongada a níveis elevados de ruídos produz, de certa forma, alguma perda de audição proporcional ao tempo de exposição. Ou seja, quanto maior o tempo de exposição ao ruído, mais alto o grau de perda de audição. De acordo com Chiavenato (2009), o nível máximo de intensidade de ruído permitido em um ambiente fabril é de 85 decibéis. Acima disso o ambiente é considerado insalubre. Um fator importante para a prevenção de problemas é a utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como o protetor auricular, por exemplo. » Condições atmosféricas: condições ambientais como temperatura e umidade também são extre- mamente relevantes. Existem cargos cujo local de trabalho se caracteriza por elevadas temperaturas, como a proximidade com fornos de siderurgia e cerâmica, ou então aqueles que impõem tempera- turas baixíssimas (frigoríficos, por exemplo), no qual exigem roupas adequadas para proteção do frio ou calor. Nesses casos extremos, a insalubridade constitui a característica principal desses ambientes de trabalho. Da mesma forma, existem condições ambientais de elevada ou mínima presença de umi- dade, o que também pode ocasionar danos para a saúde do funcionário. 2. Condições de tempo: como duração da jornada de trabalho, horas extras, períodos de descanso etc. 3. Condições sociais: como organização informal, status, família, etc. A higiene do trabalho não lida apenas com as condições físicas e ambientais do trabalho humano, não se limita às consequências geradas pela fadiga física, e sim atua também com condições que provocam fadiga psicoló- gica, ou seja, o estresse. O estresse, como vimos na unidade anterior, é uma decorrência de pressões e tensões que se acumulam e pesam sobre o indivíduo, provocando sérias consequências sobre a saúde mental no trabalho. Como resultado dessas pressões ou situações, as pessoas desenvolvem vários sintomas como preocupação, irritabilidade, agressividade, fadiga, ansiedade, angústia etc. Para atuar diretamente sobre os estressores, existem meios de prevenção, tais como: adequação do desenho do trabalho às características do ocupante; ajustes na organização do trabalho para torná-lo mais interessante e agradável; adoção de horário flexível de trabalho; programas de saúde mental e bem-estar; assistência e ajuda às pessoas em termos de aconselhamento e programas de reabilitação. O estresse pode e deve ser combatido e eliminado na organização, mas isso requer apoio constante da alta dire- ção, de todo o nível gerencial, dos supervisores e das próprias pessoas envolvidas. 41 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho Para aprofundar seus conhecimentos,leia no link seguinte a tese de doutorado de Castro (2010) intitulada “Burnout: Projeto de Ser e Paradoxo Organizacional”, a qual aborda o con- ceito de burnout - caracterizado pela exaustão emocional, despersonalização e perda da rea- lização pessoal, ligados a estressores crônicos do trabalho. Disponível em: <http://www.tede. ufsc.br/teses/PPSI0415-T.pdf>. 3.3 Segurança do trabalho A segurança do trabalho envolve um conjunto de medidas técnicas, educacionais, médicas e psicológicas, empre- gadas para prevenir acidentes, eliminando as condições inseguras do ambiente ou instruindo e convencendo as pessoas da implantação e do uso de práticas preventivas. Sua utilização é indispensável para o desenvolvimento satisfatório do trabalho, da saúde e da incolumidade das pessoas (CHIAVENATO, 2009). De acordo com o autor, é cada vez maior o número de organizações que criam seus próprios serviços de segu- rança no sentido de estabelecer normas e procedimentos adequados, pondo em prática os recursos possíveis para conseguir a prevenção de acidentes e controlar os resultados obtidos. Na segurança do trabalho, cada chefe é responsável pelos assuntos de segurança de sua área, embora possa existir na organização um órgão de segurança para assessorar todas as chefias em relação a este assunto. A segurança do trabalho atua em três áreas principais de atividades: 1. Prevenção de acidentes. 2. Prevenção de roubos (vigilância). 3. Prevenção de incêndios. A seguir, veremos mais detalhadamente as atribuições de cada uma delas. Ao final da disciplina, será apresentada a você uma situação problema. Com base nela, você e seus colegas deverão participar de um fórum desafio com a intenção de avaliar seu entendimento do conteúdo apresentado. 42 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho 3.3.1 Prevenção de acidentes Assim como outros termos na literatura, diversos são os conceitos que podemos encontrar sobre acidente: a OMS o define como um fato não premeditado do qual resulta dano considerável (OMS, 2017); já o National Safety Council o conceitua como uma ocorrência em uma série de fatos da qual, em geral e sem intenção, produz lesão corporal, morte ou dano material. E no mundo do trabalho: podemos considerar o mesmo conceito? Segundo Marras (2002), acidente de trabalho é um acontecimento involuntário, resultante tanto de um ato inse- guro quanto de uma situação particular que possa causar danos ao trabalhador e à organização. No Brasil, o conceito de acidente de trabalho é definido pela Lei nº 8.213/1991, art. 19, que dispõe sobre os pla- nos de benefícios da Previdência Social: Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empre- gador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL, 1991, n.p.). Os acidentes podem ser classificados pela sua gravidade como (MARRAS, 2002; CHIAVENATO, 2009): • Sem afastamento: é aquele no qual, após o acidente, o funcionário continua trabalhando sem prejuízo de suas funções laborais. Podemos citar como exemplo o colaborador que fez um pequeno corte em um dedo e precisa somente de uma assepsia e uma proteção para poder voltar a trabalhar. Figura 3.2 – Corte no dedo. Legenda: Representação de um acidente sem afastamento. Fonte: 123RF. • Com afastamento: neste caso, devido à natureza do ferimento, o funcionário precisa parar de trabalhar por algum tempo para se submeter ao tratamento de recuperação. Este tipo de acidente pode resultar em: a. Incapacidade temporária: é a perda total da capacidade para o trabalho durante o dia do aci- dente ou que pode se prolongar por um período menor que um ano. Quando retornar, o funcio- nário assume sua função sem redução da sua capacidade. Caso ele volte ao trabalho e haja um agravamento da lesão em função do que havia ocorrido, o acidente receberá nova designação e 43 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho será considerado acidente com afastamento, contando o prazo do afastamento a partir da cons- tatação do agravamento. Figura 3.3 – Incapacidade temporária. Legenda: Representação de um acidente com afastamento por meio de uma incapacidade temporária. Fonte: 123RF. b. Incapacidade permanente parcial: é a redução permanente e parcial da capacidade de trabalhar ocorrida no mesmo dia ou que se prolonga por período menor que um ano. Geralmente, ela é motivada por: perda parcial ou total de qualquer membro; redução parcial ou total da função de qualquer membro; perda da visão ou redução funcional de um olho; perda da audição ou redução funcional de um ouvido; lesões orgânicas, perturbações funcionais ou psíquicas que resultem na redução de menos de três quartos da capacidade de trabalho, segundo a opinião de um médico competente. Figura 3.4 – Amputação da perna. Legenda: Representação de um acidente com afastamento por meio de uma incapacidade permanente parcial. Fonte: 123RF. 44 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho c. Incapacidade total permanente: é a perda total e em caráter definitivo da capacidade de traba- lhar. Ocorre, por exemplo, em situações da perda da visão de ambos os olhos ou perda da visão de um olho com redução em mais da metade da visão do outro; perda anatômica ou impotência funcional de mais de um membro de suas partes essenciais (pé ou mão); perda da visão de um olho simultânea à perda anatômica ou impotência funcional de uma das mãos ou um dos pés; perda da audição de ambos os ouvidos ou redução de mais da metade da função auditiva; quais- quer outras lesões orgânicas, perturbações funcionais ou psíquicas permanentes que ocasionem a perda de três quartos ou mais da capacidade da pessoa para o trabalho, de acordo com a opi- nião médica competente. Figura 3.5 – Deficiência visual. Legenda: Representação de um acidente com afastamento por meio de uma incapacidade total permanente. Fonte: 123RF. d. Morte: é o falecimento do trabalhador como resultado direto do acidente. Figura 3.6 – Operário morto. Legenda: Representação de um operário que morreu em um acidente de trabalho. Fonte: 123RF. 45 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho Os acidentes no trabalho trazem consequências sérias, tanto para os funcionários como para as empresas. Por isso, é fundamental ocorrer a prevenção e a preservação da saúde das pessoas no seu local de trabalho. Quando há um acidente de trabalho, onde está a falha? Na fiscalização, prevenção, cons- cientização dos trabalhadores ou dos empregadores? O que está sendo feito de errado e o que podemos fazer no nosso dia a dia laboral para evitar acidentes? De acordo com Marras (2002), as consequências de um acidente de trabalho atingem não somente o trabalha- dor, mas também a empresa, a sociedade e o país: • Para o trabalhador ocorre, por exemplo, o sofrimento físico e psicológico, a incapacidade para o trabalho e o desamparo à família. • Para a empresa, pode gerar dificuldades burocráticas com as entidades oficiais, desgaste da sua imagem perante o mercado, gastos com primeiros socorros e transporte do acidentado até o local de atendi- mento. Além disso, há perda de tempo produtivo de outros empregados ao socorrerem o acidentado, danos ou perdas de material, ferramentas, equipamentos ou máquinas. • Para a sociedade e o país, acontece a perda temporária ou permanente de um elemento da população economicamente ativa, aumento do custo de vida, maior valor de impostos e taxas de seguro e maisgas- tos com a saúde. Segundo Chiavenato (2009), a VI Conferência Internacional de Estatísticos do Trabalho (no ano de 1947, em Toronto, Canadá) estabeleceu o coeficiente de frequência (CF) e o coeficiente de gravidade (CG) como medidas para controle e avaliação dos acidentes. Para que seja possível fazer comparações internacionais, estes coeficien- tes são utilizados em quase todos os países. O CF significa o número de acidentes com afastamento ocorrido em cada milhão de trabalhadores por horas trabalhadas durante o período considerado. 46 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho A fórmula para o seu cálculo é: Para este cálculo ser feito, é preciso que levamos em consideração as seguintes informações: • Número médio de funcionários da organização: relação entre o total de horas trabalhadas por todos os funcionários em determinado intervalo de tempo (dia, mês ou ano) e a duração normal do trabalho no mesmo intervalo (com base em oito horas por dia ou 25 dias ou 200 horas por mês, ou 300 dias, ou 2.400 horas por ano). • Trabalhadores/horas trabalhadas: número que exprime a soma de todas as horas efetivamente traba- lhadas por todos os funcionários da organização. É o tempo em que eles estão sujeitos a acidentes no trabalho. No número de trabalhadores/horas trabalhadas, devem ser incluídas as horas extras e excluídas as horas remuneradas não trabalhadas (faltas abonadas, licenças, férias, descanso remunerado etc.). O número de trabalhadores/horas trabalhadas refere-se à totalidade dos funcionários da organização ou do departamento, caso haja a intenção de medir o CF de cada unidade da organização. Já o CG é o número de dias perdidos e computados em cada milhão de trabalhadores/horas trabalhadas durante o período de tempo considerado. Este índice relaciona a quantidade de afastamentos, a fim de permitir compa- rações com outros tipos e tamanhos de empresas. A fórmula para o cálculo do CG é: As informações necessárias para este cálculo são: • Dias perdidos: total de dias que o acidentado fica incapacitado temporariamente para o trabalho em consequência do acidente. São considerados corridos, contados do dia seguinte ao do acidente até o dia da alta médica. Devem ser considerados domingos, feriados ou qualquer outro dia que não haja trabalho na empresa. Caso um acidente sem afastamento passe a ser considerado com afastamento, a contagem dos dias perdidos dever ser iniciada no dia da comunicação do agravamento da lesão. • Dias perdidos transportados: são os dias perdidos durante o mês, por acidentado do mês anterior (ou dos meses anteriores). • Dias debitados: também conhecidos como dias computados por redução da capacidade ou por morte, são os números de dias que convencionalmente se atribuem aos casos de acidentes que resultem em morte, incapacidade permanente (total ou parcial), representando a perda total ou a redução da capaci- dade para o trabalho. 47 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho No quadro a seguir, é possível percebermos um modelo de estatística de acidentes por departamento: Quadro 3.1 – Modelo de estatística de acidentes por departamento. Fonte: Chiavenato (2009, p. 158). 3.3.2 Prevenção de roubos (vigilância) Cada empresa terá seu próprio sistema de vigilância (plano de prevenção de roubos) de acordo com suas necessi- dades, com características próprias, o qual deve contemplar aspectos como: controle e saída de pessoal; controle de entrada e saída de veículos; ronda pelos terrenos e pelo interior da empresa; registro de máquinas, equipa- mentos e ferramentas; controles contábeis. 3.3.3 Prevenção de incêndio A prevenção e o combate a incêndios são essenciais em qualquer empresa. É necessário que haja um conjunto ade- quado de extintores, dimensionamento do reservatório de água, sistema de detecção e alarme, além de treinamento do pessoal. O incêndio é provocado pelo fogo, uma reação química na qual, para ocorrer, necessita de: • Combustível (sólido, líquido ou gasoso). • Comburente (geralmente o oxigênio da atmosfera). • Catalisador (a temperatura). 48 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho Esses três elementos formam o triângulo do fogo: Figura 3.7 – Triângulo do fogo. Legenda: Representa o triângulo do fogo com seus 3 elementos. Fonte: 123RF. Para a extinção do incêndio, é importante notar que cada categoria requer um método apropriado. Os incêndios são classificados conforme os materiais neles envolvidos e a situação em que eles se encontram. O quadro a seguir demonstra as 4 categorias de classificação dos incêndios: Quadro 3.2 – Classificação dos incêndios em quatro categorias. CATEGORIA DE INCÊNDIO TIPOS DE COMBUSTÍVEIS PRINCIPAIS AGENTES EXTINTORES CUIDADOS PRINCIPAIS Classe A Papel, madeira, tecidos, trapos embebidos em óleo, lixos, borracha, etc. - Espuma - Soda ácida - Água Eliminação do calor, saturando-se com água. Classe B Líquidos inflamáveis, óleos e produtos de petróleo (tintas, gasolina, etc.). - Gás carbônico - Pó químico seco - Espuma Neutralização do comburente com substância não inflamável. Classe C Equipamentos elétricos ligados. - Gás carbônico - Pó químico seco Neutralização do comburente com substância não inflamável. Classe D Gases inflamáveis sob pressão. - Gás carbônico - Pó químico seco Neutralização do comburente com substância não inflamável. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2009, p. 168). 49 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho Para que o fogo seja extinto, é necessária a eliminação de pelo menos um dos três elementos que compõem o “triângulo do fogo”. Ela pode ser feita das seguintes maneiras (CHIAVENATO, 2009): • Remoção ou isolamento: consiste na retirada do material que está em combustão ou outros que podem propagar ou alimentar o fogo. Significa a neutralização do combustível. • Abafamento: equivale a eliminar ou reduzir o oxigênio do ar na zona da chama para interromper a com- bustão do material envolvido, por exemplo: quando se tenta abafar o fogo com um cobertor. Significa a neutralização do comburente. • Resfriamento: é a redução da temperatura do material incendiado até cessar a combustão. O elemento mais utilizado para este fim é a água. Significa a neutralização da temperatura. • Extinção química: é a utilização de certos componentes químicos, os quais, lançados sobre o fogo, inter- rompem a reação em cadeia. 3.4 Causas do acidente de trabalho Os acidentes podem ser ocasionados por ações humanas e por fatores do meio: os fatores pessoais causados pelo homem ocasionam atos inseguros; já aqueles materiais, que são gerados pelo meio, são as condições inse- guras, conforme figura a seguir: Figura 3.8 – Causas do acidente de trabalho. HOMEM Fatores pessoais Fatores materiais Atos inseguros Condições inseguras A C ID EN TE MEIO Lesão física ou distúrbio funcional no homem ou dano material ao meio Fonte: Zocchio (1992) Existem pessoas propensas a sofrerem acidentes no trabalho? 50 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho 3.4.1 Atos inseguros e condições inseguras O ato inseguro, de acordo com Zocchio (1992), é a maneira como as pessoas se expõem ao perigo de se aciden- tar. Eles podem ser conscientes (as pessoas sabem que estão se expondo ao perigo), inconsciente (elas desco- nhecem o perigo a que se expõem) e circunstancial (podem conhecer ou desconhecer o perigo, mas algo mais forte as levam à prática da ação insegura). Figura 3.9 – Ato inseguro. Legenda: Representação de um atoinseguro realizado na atividade laboral. Fonte: 123RF. Podemos citar como exemplos de atos inseguros: ficar junto ou sob cargas suspensas; colocar parte do corpo em local perigoso; usar máquinas sem habilitação ou autorização; imprimir excesso de velocidade ou sobrecarga aos equipamentos utilizados; lubrificar, ajustar e limpar máquinas em movimento; improvisar ou usar de maneira incorreta ferramentas manuais; não usar proteções individuais; usar roupas inadequadas ou acessórios des- necessários; manipular de maneira insegura produtos químicos; transportar ou empilhar algo inseguramente; fumar ou usar chamas em lugares indevidos; tentar ganhar tempo encurtando caminho ou improvisando equi- pamentos; fazer brincadeiras e exibicionismo; desconhecer os riscos; ter preparo insuficiente para o trabalho, dentre outros. Já as condições inseguras nos locais de trabalho são falhas, defeitos, irregularidades técnicas e carência de dis- positivos de segurança, que põem em risco a integridade física, a saúde das pessoas e a própria segurança das instalações e dos equipamentos, ou seja, são as condições que comprometem a segurança do trabalhador no local de trabalho (ZOCCHIO, 1992). 51 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 3 – Higiene e Segurança do Trabalho Condições inseguras não devem ser confundidas com riscos inerentes ao trabalho: a corrente elé- trica, por exemplo, é um risco inerente aos trabalhos que envolvem eletricidade, porém não pode ser considerada uma condição insegura por si só. Instalações malfeitas ou improvisadas, fios expos- tos etc. são condições inseguras. A energia elétrica, em si, não. Conforme afirma Zocchio (1992), os riscos inerentes ao trabalho existem e raramente podem ser eliminados, já as condições de perigo ou inseguras podem deixar de existir com a aplicação de medidas corretas do controle do risco. 3.5 A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) Outro aspecto relevante a ser considerado é a imposição legal que consta na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) da existência na empresa da CIPA – uma comissão composta por representantes do empregador e dos empregados e tem como missão a prevenção da saúde e integridade física dos funcionários e de todas as pes- soas que interagem com a organização. Falaremos mais a respeito da CIPA na próxima unidade, na Norma Regulamentadora (NR) 5. 52 Considerações finais Nesta unidade, discutimos sobre a higiene e segurança do trabalho. Vimos que a empresa deve dar condições de trabalho que garantam a saúde e o bem-estar do trabalhador. Para tanto, deve minimizar as condições de insalubridade e periculosidade. A segurança do trabalho focaliza a prevenção de acidentes, roubos e incêndios: • Prevenção de acidentes: procura identificar as causas dos aci- dentes, a fim de removê-las e evitar que continuem provocando novas ocorrências, tendo como órgão de segurança complemen- tar a CIPA. • Avaliação dos acidentes: feita pelo coeficiente de frequência e coeficiente de gravidade, os quais permitem a comparação com a situação de outras empresas. • Prevenção de roubos: inclui esquemas de vigilância e de controles internos na empresa. • Prevenção de incêndios: parte do conceito de “triângulos do fogo”, os quais classificam os tipos de incêndios e os métodos mais efi- cazes de prevenção e combate a cada um deles. A higiene do trabalho focaliza tanto as pessoas quanto as condições ambientais de trabalho, como a iluminação, o ruído e as condições atmosféricas (temperatura, umidade, ventilação etc.). Você está preparado para seguir adiante? Na próxima unidade, trabalha- remos com as Normas Regulamentadoras. Bons estudos! Referências bibliográficas 53 BAPTISTA, H. Higiene e Segurança do Trabalho. Rio de Janeiro: Senai, s.d. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurí- dicos. Lei nº 8.213/1991. Dispõe sobre os planos de Previdência Social e dá outras providências. Brasília, 1991. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L8213cons.htm>. CHIAVENATO, I. Administração de Recursos Humanos: Fundamentos Básicos 7. ed. São Paulo: Manole, 2009. MARRAS, J. P. Administração de Recursos Humanos: do Operacional ao Estratégico. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. ZOCCHIO, A. Prática da Prevenção de Acidentes: ABC da Segurança no Trabalho. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1992. 55 4Unidade de Estudo 4 Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional Para iniciar seus estudos Na Unidade 3, estudamos os conceitos gerais sobre higiene e segurança do trabalho, seus objetivos, as condições ambientais no trabalho e come- çamos a falar sobre a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). Seu conhecimento agora já é vasto sobre o assunto. Nesta unidade, vamos aprofundar nossos estudos nas Normas Regulamentadoras (NRs), que são as principais legislações referentes à segurança e saúde no trabalho apli- cáveis dentro de uma empresa. Boa leitura! Objetivos de Aprendizagem • Ter uma visão geral das normas e dos regulamentos. • Conhecer as NRs. 56 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional 4.1 Visão geral das normas e dos regulamentos As NRs discorrem sobre a segurança e saúde do trabalho. São obrigatórias para empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos poderes Legislativo e Judi- ciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho ocasionará ao empregador a aplicação das penalidades previstas na legislação, como multas, embargo e interdição. As NRs são as normas mais conhecidas e utilizadas pela área de segurança e saúde no trabalho. Elas surgiram inicialmente com a Lei n° 6.514, de 1977, que definiu os textos dos artigos 154 a 201 da CLT relacionados à segu- rança e saúde no trabalho. Conforme o artigo n° 200 da CLT, é responsabilidade do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estabelecer as disposições complementares às normas relativas à segurança e medicina do trabalho. Sendo assim, o MTE, por meio da Portaria n° 3.214, de 1978, aprovou as NRs. De acordo com Chimirci; Oliveira (2016), essas normas foram criadas para que houvesse um modelo-padrão nas leis referentes à segurança e saúde no trabalho, e elas só podem ser desenvolvidas e atualizadas após o MTE expedir uma portaria informando a necessidade de criação, alteração, atualização e exclusão delas – por meio da Comissão Tripartite Paritária Permanente (CTPP). A CTPP é formada por representantes do governo: representantes do MTE e da Funda- centro; empregadores: atuados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Confede- ração Nacional do Transporte (CNT), Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Confederação Nacional de Saúde (CNS); e por parte dos empregados: indicados pela Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Segundo Chimirci; Oliveira (2016), o processo de desenvolvimento de uma NR é demorado e complexo, podendo demorar anos para serem definidas e publicadas, tendo em vista que envolvem diversos interesses. Asseveram, ainda, que o processo de criação de uma NR abrange as seguintes etapas: • Definição de prioridades (CTPP). • Formulação de texto técnico básico – grupo de trabalho (GT) ou grupo de estudos tripartite (GET).• Consulta pública – publicação no Diário Oficial da União (DOU) pela Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT). • Discussão tripartite – Grupo Tripartite de Trabalho (GTT). 57 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional • Análise final – feita pela CTPP e revisada pela SIT. • Publicação pela SIT. • Acompanhamento – Comissão Nacional Temática Tripartite (CNTT). Em 1978, com a Portaria n° 3.214, foram aprovadas 28 NRs. Atualmente existem 36, sendo que a NR 27, que trata do registro profissional do técnico em segurança do trabalho, foi revogada pela Portaria n° 262, de 29/05/2008. Apresentamos de forma resumida as NRs no quadro a seguir, destacando-se seus principais itens: Quadro 4.1: Normas Regulamentadoras. Norma Regulamentadora nº 01 Disposições Gerais Norma Regulamentadora nº 02 Inspeção Prévia Norma Regulamentadora nº 03 Embargo ou Interdição Norma Regulamentadora nº 04 Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMET) Norma Regulamentadora nº 05 Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) Norma Regulamentadora nº 06 Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) Norma Regulamentadora nº 07 Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) Norma Regulamentadora nº 08 Edificações Norma Regulamentadora nº 09 Programas de Prevenção de Riscos Ambientais Norma Regulamentadora nº 10 Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade Norma Regulamentadora nº 11 Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais Norma Regulamentadora nº 12 Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos Norma Regulamentadora nº 13 Caldeiras, Vasos de Pressão e Tubulações. Norma Regulamentadora nº 14 Fornos Norma Regulamentadora nº 15 Atividades e Operações Insalubres Norma Regulamentadora nº 16 Atividades e Operações Perigosas Norma Regulamentadora nº 17 Ergonomia Norma Regulamentadora nº 18 Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção Norma Regulamentadora nº 19 Explosivos Norma Regulamentadora Nº 20 Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis 58 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional Norma Regulamentadora Nº 21 Trabalho a Céu Aberto Norma Regulamentadora nº 22 Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração Norma Regulamentadora nº 23 Proteção contra Incêndios Norma Regulamentadora nº 24 Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho Norma Regulamentadora nº 25 Resíduos Industriais Norma Regulamentadora nº 26 Sinalização de Segurança Norma Regulamentadora nº 27 Revogada pela Portaria GM nº 262, de 29/05/2008 - Registro Profis- sional do Técnico de Segurança do Trabalho no MTB Norma Regulamentadora nº 28 Fiscalização e Penalidades Norma Regulamentadora nº 29 Segurança e Saúde no Trabalho Portuário Norma Regulamentadora nº 30 Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário Norma Regulamentadora nº 31 Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura Norma Regulamentadora nº 32 Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde Norma Regulamentadora nº 33 Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados Norma Regulamentadora nº 34 Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e Reparação Naval Norma Regulamentadora nº 35 Trabalho em Altura Norma Regulamentadora nº 36 Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processa- mento de Carnes e Derivados Fonte: Elaborado pela autora. Todas as NRs aqui apresentadas estão disponíveis para consulta no site do MET: <http:// trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamenta- doras>. 59 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional NR 1 - Disposições Gerais Determina a aplicação de todas as normas de segurança e medicina do trabalho, estabelecendo os direitos e deveres dos empregados, empregadores e do governo, referentes aos assuntos específicos de segurança e saúde no trabalho. O item 1.2 salienta que a observância das NRs não desobriga as empresas do cumprimento de outras disposições que, com relação à matéria, sejam incluídas em códigos de obras ou regulamentos sanitários dos estados ou municípios e outras oriundas de convenções e acordos coletivos de trabalho. Outros aspectos importantes a serem destacados dizem respeito às obrigações do empregador e do empregado: • Cabe ao empregador: cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho; elaborar ordens de serviço sobre segurança e saúde no trabalho, dando ciência aos empregados por comunicados, cartazes ou meios eletrônicos; informar aos trabalhadores os riscos profissionais que possam se originar nos locais de trabalho, os meios para prevenir e limitar tais riscos e as medidas adotadas pela empresa e os resultados dos exames médicos e de exames complementares de diagnóstico aos quais os próprios trabalhadores forem submetidos; permitir que representantes dos tra- balhadores acompanhem a fiscalização dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e medi- cina do trabalho; determinar procedimentos que devem ser adotados em caso de acidente ou doença relacionada ao trabalho. • Competências do empregado: cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e saúde do trabalho, inclusive as ordens de serviço expedidas pelo empregador; usar o EPI fornecido pelo emprega- dor; submeter-se aos exames médicos previstos nas NRs; colaborar com a empresa na aplicação das NRs. NR 2 - Inspeção Prévia Versa que todo estabelecimento novo, antes de iniciar suas atividades, deverá solicitar aprovação de suas insta- lações ao órgão regional do MTE. Após realizar a inspeção prévia, tal órgão emitirá o Certificado de Aprovação de Instalações (CAI). Este documente serve para comprovar que a empresa poderá iniciar suas atividades sem risco iminente de aci- dentes ou doenças relacionadas ao trabalho. A empresa deve comunicar ao MTE quando ocorrerem alterações nas instalações ou nos equipamentos aprovados anteriormente. NR 3 - Embargo ou Interdição Embargo e interdição são medidas de urgência, adotadas a partir da constatação de situação de trabalho, que caracterize risco grave e iminente ao trabalhador, ou seja, toda condição ou situação que possa causar acidente ou doença relacionada ao trabalho com lesão grave à integridade física do trabalhador. O embargo implica a paralisação total ou parcial da obra. Podemos exemplificá-lo com a construção civil: caso seja necessário, a montagem de estrutura ou as instalações da obra podem parar se o trabalhador estiver exposto a alguma situação de risco de acidente. Já a interdição acarreta a suspensão total ou parcial do estabelecimento, setor de serviço, máquina ou equipa- mento. 60 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional A norma versa ainda que, durante a vigência da interdição ou do embargo, podem ser desenvolvidas atividades necessárias à correção da situação de grave e iminente risco, desde que adotadas medidas de proteção adequa- das aos trabalhadores envolvidos. Por fim, a norma estabelece que, durante a interrupção decorrente da imposição de interdição ou embargo, os empregados devem receber os salários como se estivessem em efetivo exercício. Figura 4.1: O embargo. Legenda: Representação de um embargo na obra. Fonte: 123RF. NR 4 - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMET) O primeiro item desta norma nos diz que as empresas privadas e públicas,os órgãos públicos da administração direta e indireta e dos poderes Legislativo e Judiciário que possuem empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) devem manter, obrigatoriamente, o SESMET – com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. O dimensionamento do SESMET se vincula à gradação do risco da atividade principal e ao número total de empregados do estabelecimento. O dimensionamento correto dos profissionais de segurança e saúde no trabalho deve ser realizado de acordo com os quadros I e II, que constam nos anexos da NR 4, e podem ser acessados no link: <http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR4.pdf>. 61 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional De acordo com a NR 4, compete aos profissionais integrantes do SESMET: a. Aplicar os conhecimentos de engenharia de segurança e de medicina do trabalho ao ambiente de traba- lho e a todos os seus componentes, inclusive máquinas e equipamentos, de modo a reduzir até eliminar os riscos ali existentes à saúde do trabalhador. b. Determinar, quando esgotados todos os meios conhecidos para a eliminação do risco, e este persistir, mesmo reduzido, a utilização pelo trabalhador do EPI, de acordo com o que determina a NR 6, desde que a concentração, a intensidade ou característica do agente assim o exija. c. Colaborar, quando solicitado, nos projetos e na implantação de novas instalações físicas e tecnológicas da empresa. d. Responsabilizar-se tecnicamente pela orientação quanto ao cumprimento do disposto nas NR aplicáveis às atividades executadas pela empresa e/ou pelos seus estabelecimentos. e. Manter permanente relacionamento com a CIPA, valendo-se ao máximo de suas observações, além de apoiá-la, treiná-la e atendê-la, conforme dispõe a NR 5. f. Promover a realização de atividades de conscientização, educação e orientação dos trabalhadores para a prevenção de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, tanto por meio de campanhas quanto de programas de duração permanente. g. Esclarecer e conscientizar os empregadores sobre acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, esti- mulando-os em favor da prevenção. h. Analisar e registrar em documentos específicos todos os acidentes ocorridos na empresa ou no estabele- cimento, com ou sem vítima, e todos os casos de doença ocupacional, descrevendo a história, as carac- terísticas, os fatores ambientais, as características do agente e as condições dos indivíduos portadores de doença ocupacional ou acidentados. i. Registrar mensalmente os dados atualizados de acidentes do trabalho, doenças ocupacionais e agentes de insalubridade, preenchendo, no mínimo, os quesitos descritos nos modelos de mapas constantes na NR 4, sendo que o empregador deverá manter a documentação à disposição da inspeção do trabalho. j. Manter os registros de que tratam as alíneas “h” e “i” na sede dos SESMET ou facilmente alcançáveis a partir dela, sendo de livre escolha da empresa o método de arquivamento e recuperação. k. As atividades dos profissionais integrantes dos SESMET são essencialmente prevencionistas, embora não seja vedado o atendimento de emergência, quando se tornar necessário. Entretanto, a elaboração de planos de controle de efeitos de catástrofes, de disponibilidade de meios que visem ao combate a incên- dios e ao salvamento e de imediata atenção à vítima deste ou de qualquer outro tipo de acidente estão incluídos em suas atividades. NR 5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) Conforme vimos anteriormente, a CIPA tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador – no entanto, nem todas as empresas precisam constitui-la: basta verificar o número de funcionários e a Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE) para identificar sua obrigatoriedade ou não. 62 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional A CIPA, segundo a NR 5, tem por atribuição: a. Identificar os riscos do processo de trabalho e elaborar o mapa de riscos. b. Elaborar plano de trabalho que possibilite a ação preventiva na solução de problemas de segurança e saúde no trabalho. c. Participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de prevenção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de ação nos locais de trabalho. d. Realizar, periodicamente, verificações nos ambientes e condições de trabalho visando à identificação de situações que venham a trazer riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores. e. Realizar, a cada reunião, avaliação do cumprimento das metas fixadas em seu plano de trabalho e discutir as situações de risco que foram identificadas. f. Divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde no trabalho. g. Participar, com o SESMT, onde houver, das discussões promovidas pelo empregador para avaliar os impac- tos de alterações no ambiente e processo de trabalho relacionados à segurança e saúde dos trabalhado- res. h. Requerer ao SESMT, quando houver, ou ao empregador, a paralisação de máquina ou setor em que seja considerado risco grave e iminente à segurança e saúde dos trabalhadores. i. Colaborar no desenvolvimento e na implementação do PCMSO e PPRA e de outros programas relaciona- dos à segurança e saúde no trabalho. j. Divulgar e promover o cumprimento das NRs, bem como cláusulas de acordos e convenções coletivas de trabalho relativas à segurança e saúde no trabalho. k. Participar, em conjunto com o SESMT, onde houver, ou com o empregador, da análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e propor medidas de solução dos problemas identificados. l. Requisitar ao empregador e analisar as informações sobre questões que tenham interferido na segurança e saúde dos trabalhadores. m. Solicitar à empresa as cópias das Comunicações de Acidente de Trabalho (CAT) emitidas. n. Promover, anualmente, em conjunto com o SESMT, onde houver, a Semana Interna de Prevenção de Aci- dentes do Trabalho (SIPAT). o. Participar, anualmente, em conjunto com a empresa, de campanhas de prevenção da AIDS. NR 6 - Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) Essa norma é responsável por estabelecer as obrigações dos empregados e do empregador quanto à aquisição, treinamento, utilização e conservação dos EPIs. A NR 6 define EPI como todo dispositivo ou produto de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos que podem ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. O EPI, de fabricação nacional ou importado, só poderá ser posto à venda ou utilizado com a indicação do Certifi- cado de Aprovação (CA), expedido pelo órgão nacional competente. 63 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional A empresa é obrigada a: • Fornecer aos empregados gratuitamente aquele EPI que seja adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e de funcionamento. • Exigir seu uso por parte dos trabalhadores. • Orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, a guarda e a conservação. • Responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica. • Comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada. Quanto ao funcionário, cabe: • Usar o EPI, mas apenas para a finalidade a qual se destina. • Responsabilizar-se pela guarda e conservação. • Comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso. • Cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado. Já as responsabilidades do órgão regional do MET são: • Fiscalizar e orientar quanto ao uso adequadoe a qualidade do EPI. • Recolher amostras do equipamento. • Aplicar, na sua esfera de competência, as penalidades cabíveis pelo descumprimento desta NR. NR 7 - Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) Estabelece as necessidades da realização do PCMSO, determinando sua implantação em todas as empresas, de qualquer ramo de atividade e com qualquer número de empregados. Determina que os PCMSO deverão ter caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho, além da constatação da existência de casos de doenças profissionais ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores. Desta forma, é possível realizar controles de saúde dos empregados e monitorar os riscos ocupacionais aos quais ficam expostos. Eles exigem também a realização obrigatória dos exames médicos de admissão, periódicos, retorno ao trabalho, mudança de função e demissão. O programa deverá obedecer a um planejamento em que estejam previstas as ações de saúde a serem executa- das durante o ano, devendo essas serem objetos de relatório anual. 64 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional NR 8 - Edificações Estabelece requisitos técnicos mínimos que devem ser observados nas edificações, para garantir segurança e conforto aos que nelas trabalhem: ter a altura do piso ao teto, pé-direito, estar de acordo com as posturas muni- cipais, serem atendidas as condições de conforto, segurança e salubridade estabelecidas na Portaria nº 3.214/78. A norma define ainda parâmetros, por exemplo, em relação a pisos, paredes, rampas, escadas, coberturas e áreas externas. NR 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) Estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, por meio da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a prote- ção do meio ambiente e dos recursos naturais. • Riscos ambientais: todos os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. • Agentes físicos: todas as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores (ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, infrassom e ultrassom). • Agentes químicos: todas as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo por meio da pele ou por ingestão. • Agentes biológicos: bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros. O empregador deve estabelecer, implementar e assegurar o cumprimento do PPRA como atividade permanente da empresa. Já os trabalhadores devem colaborar e participar da sua implantação e execução, seguir as orienta- ções recebidas nos treinamentos oferecidos dentro do PPRA e informar ao seu superior hierárquico direto ocor- rências que, a seu julgamento, possam implicar riscos à saúde dos trabalhadores. NR 10 - Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade Estabelece os requisitos e as condições mínimas objetivando a implementação de medidas de controle e siste- mas preventivos, de forma a garantir a segurança e saúde dos trabalhadores que, direta ou indiretamente, inte- rajam em instalações elétricas e serviços com eletricidade. Ela define os critérios de segurança e saúde no trabalho nas fases de geração, transmissão, distribuição e con- sumo, incluindo as etapas de projeto, construção, montagem, operação, manutenção das instalações elétricas e quaisquer trabalhos realizados nas suas proximidades. Devem ser observadas as normas técnicas oficiais estabelecidas pelos órgãos competentes e, na ausência ou omissão destas, as normas internacionais cabíveis. 65 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional NR 11 - Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais Define as regulamentações de segurança do trabalho a serem seguidas nos locais em que haja, em algum momento do processo de trabalho, transporte, movimentação e manuseio de materiais, tanto de modo mecâ- nico quanto manual. Versa sobre normas de segurança para operação de elevadores, guindastes, transportadores industriais e máqui- nas transportadoras. NR 12 - Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos A NR 12 e seus anexos definem referências técnicas, princípios fundamentais e medidas de proteção para garan- tir a saúde e a integridade física dos trabalhadores, estabelecendo requisitos mínimos para a prevenção de aci- dentes e doenças do trabalho nas fases de projeto, de utilização de máquinas e equipamentos de todos os tipos, sua fabricação, importação, comercialização, exposição e cessão a qualquer título em todas as atividades eco- nômicas. NR 13 - Caldeiras, Vasos de Pressão e Tubulações Trata da segurança e saúde no trabalho em atividades realizadas em caldeiras e recipientes sob pressão. Ela estabelece requisitos mínimos para gestão da integridade estrutural de caldeiras a vapor, vasos de pressão e suas tubulações de interligação nos aspectos relacionados à instalação, inspeção, operação e manutenção. A falha na válvula de segurança ou a falta dela nas tubulações pressurizadas é a maior incidência de acidentes com esses equipamentos. NR 14 - Fornos Trata de assuntos relacionados à segurança e saúde no trabalho em atividades com fornos industriais. De acordo com as normas, os fornos, para qualquer utilização, devem ser construídos solidamente, revestidos com material refratário, de forma que o calor radiante não ultrapasse os limites de tolerância estabelecidos pela NR 15. Os fornos devem ser instalados em locais adequados, oferecendo o máximo de segurança e conforto aos tra- balhadores, evitando acúmulo de gases nocivos e altas temperaturas em áreas vizinhas. Aqueles que utilizam combustíveis gasosos ou líquidos devem ter sistemas de proteção para não ocorrer explosão por falha da chama de aquecimento ou no acionamento do queimador e para evitar retrocesso da chama. A norma estabelece também que as suas escadas e plataformas devem ser feitas de modo a garantir aos traba- lhadores a execução segura de suas tarefas. Por fim, versa que eles devem ter chaminé suficientemente dimensionada para a livre saída dos gases queimados, de acordo com normas técnicas oficiais sobre poluição do ar. 66 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional NR 15 - Atividades e Operações Insalubres Podem existir diversas atividades em uma empresa das quais colocam o trabalhador a condições que prejudi- quem sua saúde em função da exposição diária de determinado agente agressor. As atividades e operações insa- lubres são aquelas que afetam a saúde do trabalhador ou causam danos a ela, provocando doenças e outros problemas ao longo do tempo. Podemos citar como exemplos: • Trabalhos sob ar comprimido (efetuados em ambientes onde o trabalhador é obrigado a suportar pres- sões maiores que a atmosférica e é exigida uma cuidadosa descompressão). • Trabalhos submersos (mergulhadores, por exemplo). • Atividades e operações que envolvem agentes químicos (arsênico, carvão, chumbo, cromo, fósforo, mer-cúrio). • Atividades que trabalham com agentes biológicos, ou seja, em contato permanente com pacientes iso- lados por doenças infectocontagiosas. • Trabalho com esgotos, coleta e industrialização de lixo urbano. • Trabalho com exumação de corpos em cemitérios. • Trabalhos em gabinetes de autópsias, de anatomia e histoanatomopatologia, dentre outros. Toda atividade insalubre tem um grau de intensidade que varia de mínimo, médio e máximo, e o exercício do tra- balho sob essas condições assegura ao trabalhador um valor adicional incidente sobre o salário mínimo da região de acordo com este nível de insalubridade: • Adicional de 10%: para insalubridade de nível baixo. • Adicional de 20%: para insalubridade de nível médio. • Adicional de 40%: para insalubridade de nível máximo. As atividades insalubres são comprovadas por meio de laudo de inspeção do local de trabalho por uma entidade competente. NR 16 - Atividades e Operações Perigosas As atividades e operações perigosas são aquelas que oferecem perigo ao trabalhador e ao ambiente de trabalho, por exemplo: as que têm envolvimento com explosivos, inflamáveis, radiação ionizante ou substância radioativas; estão expostas a roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial, como energia elétrica, atividades perigosas em motocicletas etc. O exercício de trabalho em condições de periculosidade assegura ao trabalhador a percepção de adicional de 30% incidente sobre o salário e é de responsabilidade da empresa a caracterização ou a descaracterização da periculosidade, mediante laudo técnico elaborado por um médico do trabalho ou um engenheiro de segurança do trabalho. 67 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional NR 17 - Ergonomia Estabelece parâmetros que permitem a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais; mobiliário; equipamentos; condições ambientais do posto de trabalho; organização do trabalho. Cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, sendo que ela deve abordar, no mínimo, as con- dições de trabalho estabelecidas na NR. NR 18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção Estabelece diretrizes de administração, planejamento e organização, as quais objetivam a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na indústria da construção. Dependendo da complexidade do projeto a ser executado e se as normas de segurança não forem seguidas corretamente, o acidente pode ser inclusive fatal. A construção, por exemplo, de enormes estádios de futebol, viadutos ou condomínio de prédios exigem total atenção para o cumprimento das normas estabelecidas. Conforme Chimirci; Oliveira (2016), somente na construção dos estádios para a Copa do Mundo de Futebol no Brasil em 2014, nove operários perderam a vida durante o trabalho que estavam executando. Asseveram ainda que, entre 2010 e 2012, aproximadamente 1.400 profissionais morreram em atividades relacionadas à cons- trução civil. Além disso, o número de acidentes no trabalho que em 2006 era de 29.054 registros, passaram em 2012 para 62.874, ou seja, o rigor com as normas de segurança deve ser extremo para garantir o mínimo de saúde e segurança aos profissionais envolvidos. NR 19 - Explosivos Estabelece os critérios e as diretrizes mínimas para fabricação, manuseio, armazenamento, transporte e comer- cialização de explosivos, visando à prevenção de riscos de acidentes relacionados com esse tipo de produto. Esta norma define também que o PPRA das empresas que fabricam ou utilizam explosivos deve contemplar, além do disposto na NR 9, a avaliação dos riscos de incêndio e explosão e a implementação das respectivas medidas de controle. Com esses produtos, as medidas de segurança têm que ser preventivas, pois quando ocorre um incêndio, por exemplo, o risco de explosão imediata é iminente. NR 20 - Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis Esta norma estabelece requisitos mínimos para a gestão da segurança e saúde no trabalho contra os fatores de risco de acidentes provenientes das atividades de extração, produção, armazenamento, transferência, manuseio e manipulação de inflamáveis e líquidos combustíveis em todas as suas etapas: projeto, construção, montagem, operação, manutenção, inspeção e desativação da instalação. 68 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional NR 21 - Trabalho a Céu Aberto Estabelece diretrizes para as condições de saúde, segurança e conforto aos profissionais que realizam suas ativi- dades a céu aberto. De acordo com a norma, é obrigatória a existência de abrigos, ainda que rústicos, capazes de proteger os traba- lhadores contra intempéries. Versa ainda sobre as condições sanitárias mínimas compatíveis com o gênero de atividade. NR 22 - Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração As atividades de mineração são de extrema complexidade e com riscos altamente elevados de acidentes devido ao processo produtivo que essa atividade necessita. É possível perceber esta complexidade por meio do acidente que ocorreu com 33 mineiros no Chile em 2010, no qual os trabalhadores foram soterrados a praticamente 700 metros de profundidade, tendo o primeiro contato com as equipes de resgate apenas 17 dias após o acidente – sendo resgatados somente após 69 dias do ocorrido. O objetivo desta norma é disciplinar os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornarem compatíveis o planejamento e o desenvolvimento da atividade mineira com a busca perma- nente da segurança e saúde dos trabalhadores. NR 23 - Proteção contra Incêndios De acordo com esta norma, todos os empregadores devem adotar medidas de prevenção de incêndios, em con- formidade com a legislação estadual e as normas técnicas aplicáveis. O empregador deve providenciar para que todos os trabalhadores tenham informações sobre: a utilização dos equipamentos de combate ao incêndio; os procedimentos para evacuação dos locais de trabalho com segurança; os dispositivos de alarme existentes. É preciso que se tenham, nos locais de trabalho, saídas em número suficiente e dispostas de modo que aqueles que se encontrem nesses locais possam abandoná-los com rapidez e segurança, em caso de emergência. A norma estabelece que as aberturas, saídas e vias de passagem devem ser claramente assinaladas por meio de placas ou sinais luminosos, indicando a direção da saída e que nenhuma saída de emergência deverá ser fechada à chave ou presa durante a jornada de trabalho, podendo ser equipadas com dispositivos de travamento que permitam fácil abertura do interior do estabelecimento. 69 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional NR 24 - Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho Versa que os banheiros, vestiários, dormitórios e refeitórios devem ser ambientes limpos e adequados para aten- der às necessidades dos trabalhadores de acordo com o número de funcionários, por exemplo: • As áreas destinadas aos sanitários deverão atender às dimensões mínimas essenciais. • As instalações sanitárias deverão ser separadas por sexo. • Os locais onde se encontrarem instalações sanitárias deverão ser submetidos a processo permanente de higienização, mantidos limpos e desprovidos de quaisquer odores durante toda ajornada de trabalho. • O refeitório deverá ser instalado em local apropriado, não se comunicando diretamente com os locais de trabalho, instalações sanitárias e locais insalubres ou perigosos, dentre outros. É importante salientar que é obrigação das empresas respeitar as condições mínimas de higiene e conforto determinadas na legislação para que o trabalhador se sinta confortável. NR 25 - Resíduos Industriais Toda indústria irá gerar algum tipo de resíduo durante o seu processo produtivo, sejam eles: os entulhos produzi- dos com a construção civil; os materiais plásticos, ferrosos e madeiras descartados pelas metalúrgicas; os produ- tos contaminantes gerados pelas indústrias químicas etc. Cabe à empresa, que se preocupa com a segurança dos seus trabalhadores e do meio ambiente, tratar seus resíduos de maneira correta separando-os e descartando-os em locais apropriados e autorizados. A empresa deve buscar a redução da geração de resíduos por meio da adoção das melhores práticas tecnológi- cas e organizacionais disponíveis. De acordo com a NR 25, os resíduos industriais devem ter destino adequado, sendo proibido o lançamento ou a liberação no ambiente de trabalho de quaisquer contaminantes que possam comprometer a segurança e saúde dos trabalhadores e da população em geral. NR 26 - Sinalização de Segurança Trata dos critérios de sinalização para a segurança do trabalho. De acordo com a norma, devem ser adotadas cores para segurança em estabelecimentos ou locais de trabalho, a fim de indicar e advertir acerca dos riscos existentes. Nos locais de trabalho, elas servem para identificar os equipamentos de segurança, delimitar áreas, identificar tubulações empregadas para a condução de líquidos e gases e advertir contra riscos, devendo atender ao dis- posto nas normas técnicas oficiais. 70 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional Para saber mais a respeito, você pode consultar as: ABNT NBR 5.311; ABNT NBR 6.503; ABNT NBR 7.485; ABNT NBR 7.500; ABNT NBR 9.072; ABNT NBR 13.193; ABNT NBR 13.434. NR 27 - Revogada pela Portaria GM nº 262, de 29/05/2008, Registro Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho no MTB NR 28 - Fiscalização e Penalidades Estabelece os critérios a serem adotados pela fiscalização do trabalho quando for necessária a aplicação de pena- lidades, bem como os critérios que devem ser utilizados durante a inspeção do fiscal do trabalho e a interdição de locais de trabalho ou estabelecimentos. Em seus anexos, ela também traz os valores mínimo e máximo para a aplicação das penalidades em função do não cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho. NR 29 - Segurança e Saúde no Trabalho Portuário Tem como objetivo regular a proteção obrigatória contra acidentes e doenças profissionais, facilitar os primei- ros socorros a acidentados e alcançar as melhores condições possíveis de segurança e saúde aos trabalhadores portuários. NR 30 - Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário Tem como objetivo a proteção e a regulamentação das condições de segurança e saúde dos trabalhadores aqua- viários. Esta norma se aplica tanto aos trabalhadores das embarcações comerciais, de bandeira nacional, como às de bandeiras estrangeiras, no limite do disposto na Convenção da OIT nº 147 - Normas Mínimas para Marinha Mercante, utilizadas no transporte de mercadorias ou de passageiros, inclusive naquelas embarcações usadas na prestação de serviços. 71 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional NR 31 - Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura Tem como objetivo estabelecer os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento das atividades da agricultura, pecuária, silvicul- tura, exploração florestal e aquicultura com segurança, saúde e meio ambiente do trabalho. De acordo com a norma, compete à Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), por meio do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho (DSST): • Definir, coordenar, orientar e implementar a política nacional em segurança e saúde no trabalho rural para identificar os principais problemas de segurança e saúde do setor, estabelecendo as prioridades de ação, desenvolvendo os métodos efetivos de controle dos riscos e de melhoria das condições de trabalho. • Avaliar periodicamente os resultados da ação. • Prescrever medidas de prevenção dos riscos no setor observando avanços tecnológicos, conhecimentos em matéria de segurança e saúde e preceitos definidos na norma. • Avaliar permanentemente os impactos das atividades rurais no meio ambiente de trabalho. • Elaborar recomendações técnicas para empregadores, empregados e trabalhadores autônomos. • Definir máquinas e equipamentos cujos riscos de operação justifiquem estudos e procedimentos para alteração de suas características de fabricação ou de concepção. • Criar um banco de dados com base nas informações disponíveis sobre acidentes, doenças e meio ambiente de trabalho, dentre outros. • A NR 31 traz, ainda, tanto as obrigações do empregador rural quanto os deveres e direitos do trabalhador. NR 32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde Tem por finalidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral. A norma versa sobre a probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos: médicos, enfermeiros, bem como as pessoas responsáveis pela limpeza e higiene da área podem estar suscetíveis, por exemplo, a instru- mentos perfurocortantes contaminados com hepatite ou HIV. Os cuidados são, então, essenciais para preservar a saúde do trabalhador. 72 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional NR 33 - Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados Tem como objetivo estabelecer os requisitos mínimos para identificação de espaços confinados e reconheci- mento, avaliação, monitoramento e controle dos riscos existentes, de forma a garantir permanentemente a segurança e saúde dos trabalhadores que interagem direta ou indiretamente nestes espaços. Espaço confinado é qualquer área ou ambiente não projetado para ocupação humana contínua, que possua meios limitados de entrada e saída, cuja ventilação existente é insuficiente para remover contaminantes ou onde possa existir a deficiência ou o enriquecimento de oxigênio. A norma versa sobre responsabilidades, tanto do empregador como do empregado, medidas administrativas, medidas preventivas e capacitação dos profissionais envolvidos. NR 34 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e Reparação Naval Estabelece os requisitos mínimos e as medidas de proteção à segurança, à saúde e ao meio ambiente de trabalho nas atividades da indústria de construção e reparação naval – todas aquelas desenvolvidas no âmbito das insta- lações empregadas para este fim ou nas próprias embarcações e estruturas, tais como navios, barcos, lanchas, plataformas fixas ou flutuantes, dentre outras. A norma versa ainda sobre as responsabilidades do empregador e do empregado sobre a importância da capaci- tação e treinamento, dentre outras. NR 35 - Trabalho em Altura Considera trabalho em altura toda atividade executada acima de dois metros do nível inferior, na qual há risco de queda, complementando-se com as normas técnicas oficiais estabelecidas pelos órgãos competentes e, na ausência ou omissão dessas, com as normas internacionaisaplicáveis. Todas as atividades dessa categoria devem seguir as diretrizes estabelecidas pela NR 35. Cabe ao empregador, por exemplo: • Garantir que qualquer trabalho em altura só se iniciará depois de adotadas as medidas de proteção defi- nidas na norma. • Assegurar a suspensão dos trabalhos se verificar alguma situação ou condição de risco não prevista, cuja eliminação ou neutralização imediata não seja possível. • Dar a certeza de que todo trabalho será realizado sob supervisão, cuja forma será definida pela análise de riscos de acordo com as peculiaridades da atividade, dentre outros. 73 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 4 – Normas Técnicas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional Cabe ao trabalhador, por sua vez: • Interromper suas atividades exercendo o direito de recusa sempre que constatar evidências de riscos gra- ves e iminentes para sua segurança e saúde ou a de outras pessoas. • Quando isso ocorrer, deverá comunicar imediatamente o fato a seu superior hierárquico, que é quem diligenciará as medidas cabíveis, zelar pela sua segurança e saúde e a de outras pessoas que possam ser afetadas por suas ações ou omissões no trabalho. • Cumprir as disposições legais e regulamentares sobre trabalho em altura, inclusive os procedimentos expedidos pelo empregador etc. NR 36 - Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados Segundo Chimirci; Oliveira (2016), o segmento de alimentos é um dos que mais causam doenças do trabalho, principalmente as empresas de abate e processamento de carnes, pois há um grande esforço e repetitividade do trabalho executado pelos empregados. Sua finalidade é estabelecer os requisitos mínimos para a avaliação, o controle e o monitoramento dos riscos existentes nas atividades desenvolvidas na indústria de abate, processamento de carnes e derivados destinados ao consumo humano, de forma a garantir permanentemente a segurança, a saúde e a qualidade de vida no tra- balho. A norma trata de aspectos como: manuseio de produtos; levantamento e transporte de produtos e cargas; EPIs; vestimentas de trabalho; gerenciamento de riscos; mobiliário; postos de trabalho; recepção e descarga de ani- mais; máquinas; equipamentos; ferramentas, dentre outros. Agora que você conheceu cada uma das NRs, reflita sobre o porquê de muitos acidentes de trabalho ainda acontecerem nos dias atuais, mesmo tendo toda a legislação resguardando a segurança e saúde do trabalhador. 74 Considerações finais Chegamos ao fim da Unidade 4 e agora você já conhece todas as NRs, que são as principais legislações referentes à segurança e saúde no trabalho aplicáveis dentro de uma empresa. Você aprendeu sobre o processo e desenvolvimento de uma NR, o quão complexo isso é e conheceu, de forma geral, as principais características de cada uma das 36 NRs vigentes atualmente. Referências bibliográficas 75 CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. Introdução à Segurança e Saúde no Tra- balho. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 77 5Unidade de Estudo 5 Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico Para iniciar seus estudos Na unidade anterior, exploramos as características das Normas Regula- mentaras (NRs) e observamos o quanto elas são importantes para manter a segurança do trabalhador no ambiente laboral e resguardar as empre- sas de qualquer problema que um acidente possa acarretar. Nesta uni- dade, aprenderemos sobre os diversos ambientes que as organizações estão inseridas, bem como a relação desses com a Segurança, Medicina e Higiene do Trabalho (SMHT), explorando-a como uma política organi- zacional. Objetivos de Aprendizagem • Conhecer a organização e seus vários ambientes. • Abordar as relações dos ambientes organizacionais e a SMHT. • Compreender o papel da SMHT como política organizacional. 78 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico 5.1 A organização e seus vários ambientes É importante que os profissionais da SMHT sejam pró-ativos, no sentido de antecipar possíveis variáveis que venham a acarretar acidentes ou doenças ocupacionais nas empresas. Se analisarmos as organizações de forma mais sistêmica, veremos que diversos são os fatores que influenciam o ambiente organizacional. Mas quais vari- áveis fazem parte do contexto organizacional? Independentemente de ser grande ou pequena, tradicional ou que esteja iniciando suas atividades, há diversos desafios organizacionais que precisam ser superados no dia a dia. De acordo com Silva (2008), há cinco condições principais que qualquer empresa precisa enfrentar atualmente: • A administração das organizações em um ambiente global: a globalização fez com que as fronteiras de tempo e espaço fossem diminuídas nos dias atuais. Eventos que ocorrem em âmbito internacional são capazes de afetar a economia local, por exemplo. A velocidade das informações é cada vez maior, e as empresas precisam estar preparadas para atenderem a essas novas demandas. • Projeto e estruturação das atividades organizacionais: muitas organizações estão mudando a forma como são organizadas, algumas adotam o downsizing diminuindo os níveis hierárquicos, o número de pessoal e, no entanto, exigindo cada vez mais eficiência e eficácia nos processos organizacionais. • Melhoria da qualidade, da competitividade e o empowerment (empoderamento): o que podemos per- ceber é que, com o aumento da competitividade e das exigências dos clientes, entregar um produto ou serviço com qualidade nos dias atuais não é mais um diferencial competitivo - e sim uma obrigação da empresa, caso ela queira se manter no mercado global. Porém conseguir esta qualidade nos processos continuamente é complexo e envolve mudanças tanto de postura dos profissionais quanto dos processos desempenhados pelas empresas. O empowerment dos empregados, por exemplo, vem sendo utilizado por algumas organizações como forma de tentativa de alcançar esta qualidade total, ou seja, um maior envolvimento dos funcionários, principalmente nas decisões de sua competência. Esta postura, porém, é um desafio para as empresas com pensamentos mais tradicionais, pois envolve relações de poder, hie- rarquia, autoridade. • Aumentos da complexidade e da velocidade e reação às mudanças: as relações no mundo dos negócios estão cada vez mais complexas e a velocidade de informação e desenvolvimento tecnológico, por exem- plo, é cada vez maior. Se um determinado fato acontece neste instante do outro lado do mundo, em fra- ções de segundos este acontecimento já chegou até nós e certamente irá nos afetar em alguma esfera da nossa vida (direta ou indiretamente) e, consequentemente, isso também atingirá as organizações. • Administração ética e moral das organizações: os padrões éticos devem fazer parte das políticas formais de qualquer empresa. Toda e qualquer organização tem seus objetivos a serem alcançados, no entanto esses preceitos éticos e morais devem perpassar os caminhos que ela segue. Você já conseguiu estabelecer uma relação desses fatores com a segurança e saúde do tra- balhador? De que forma a globalização, o aumento da complexidade das relações, a busca constante por qualidade, o downsizing, o empowerment, o aumento da velocidade e a reação a mudanças podem afetar o trabalhador? 79 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico Cada organização está inserida em um ambiente e deve ser considerada como parte de um sistema aberto, no qual influencia e é influenciada pelo seu meio. Sob esta perspectiva de sistema aberto, para alcançar seus obje- tivos organizacionais, elas tomam entradas doambiente e, por meio de uma série de atividades e processos, transformam essas entradas em saídas. É possível perceber essa relação na figura a seguir: Figura 5.1 – Organizações como sistemas abertos. Produtos ENTRADAS SAÍDAS FEEDBACK Serviços - Matérias-primas - Informações - Recursos �nanceiras Processo de transformação (subsistemas inter-relacionados) AMBIENTE Fonte: Silva (2008, p. 44). Silva (2008) salienta que há quatro características que enfatizam a natureza adaptativa e dinâmica de todos os sistemas abertos: • Interação com o ambiente: sempre haverá trocas necessárias com os demais sistemas, pois nenhum sis- tema é autossuficiente. • Sinergia: o resultado de um sistema aberto é sempre maior do que a soma das partes envolvidas. • Equilíbrio econômico: o processo de manutenção do balanceamento interno é necessário para a sobre- vivência, por meio da obtenção dos recursos do meio. • Equifinalidade: alcance dos mesmos resultados por diferentes meios, ou seja, os recursos podem ser uti- lizados de diversas maneiras para a obtenção de diversos resultados satisfatórios. O ambiente organizacional é cada vez mais dinâmico e exige pessoas preparadas para atuar neste contexto. Mui- tas forças diferentes dentro e fora da organização influenciam o desempenho organizacional. Vamos descobrir quais são esses elementos? 80 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico Essas forças são originadas no ambiente geral, no ambiente das tarefas e no ambiente interno. A Figura 5.2 a seguir demonstra os elementos que fazem parte desses ambientes: Figura 5.2 – Os elementos do ambiente organizacional. Elementos tecnológicos Elementos interna- cionais Elementos socio-culturais Elementos políticos/ legais Elementos econômicos Competidores Clientes Fornecedores Parceiros estratégicos Reguladores A organização Proprietários, empregados administradores e ambiente físico Ambiente externo}Ambiente geralAmbiente das tarefas Ambiente interno Fonte: Silva (2008, p. 48). Vamos explorar cada um desses ambientes e ver como eles se relacionam com a SMHT? 81 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico 5.1.1 O ambiente geral Também conhecido como macroambiente, é constituído de forças indiretas do ambiente externo e que, apesar de a empresa não ter controle sobre elas, influenciam seu dia a dia. Conforme vimos na Figura 5.2 acima, os ele- mentos do ambiente geral são (SILVA, 2008; PACHECO JR; PEREIRA FILHO; PEREIRA, 2000): • Fatores tecnológicos: cada vez mais frequentes e em constante evolução, eles podem influenciar o uso do conhecimento e das técnicas da organização na produção de produtos e serviços. Para que as orga- nizações se mantenham competitivas, precisam acompanhá-los. Podemos perceber que a tecnologia é um dos principais pilares das mudanças ambientais e, consequentemente, das próprias organizações. No entanto, as empresas precisam ficar atentas não somente para esses avanços tecnológicos, mas também de que forma eles irão afetar a vida dos trabalhadores. Essas mudanças podem requerer adequações para melhoria do desempenho e prevenção a doenças ocupacionais: por exemplo, como fica a saúde de um profissional que há 20 anos fazia registros na empresa de forma manual em formulários e com as mudanças tecnológicas teve que abandonar os formulários de papel e passar a usar um computador? Ele tem o descanso necessário para que não crie uma lesão por esforço repetitivo ao usar este instrumento? Ou para que não tenha um problema de visão por forçar demais a vista? O local que este computador está alocado está de acordo com os parâmetros da ergonomia para que o funcionário não desenvolva nenhum tipo de doença ocupacional? Todas essas questões exigem que a área de SMHT fique atenta para o que possa ocorrer com os trabalhadores em função dessas novas tecnologias adotadas na empresa. Figura 5.3 – Avanços tecnológicos e o trabalhador. Fonte: 123RF. 82 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico • Fatores econômicos: dizem respeito às mudanças de estado refletidas na situação econômica, como taxas de inflação, de desemprego, de juros, crescimento do produto interno etc. Mudanças econômicas podem ser tanto benéficas como prejudiciais para as empresas, isto é, quando a economia está em cres- cimento, as empresas aproveitam a demanda crescente e os recursos ficam mais facilmente disponíveis; no entanto, quando a economia se retrai, a demanda despenca, o desemprego cresce, os lucros dimi- nuem. É essencial neste contexto que as empresas estejam constantemente monitorando os indicadores da economia para que possa minimizar as fraquezas e aproveitar oportunidades. Mas de que forma esses aspectos podem influenciar a saúde e segurança dos trabalhadores? Se os níveis inflacionários estão ele- vados e o indivíduo perde poder de compra, por exemplo, ele pode querer arrumar uma renda extra (fora da empresa) ou até mesmo fazer horas extras (na própria empresa) para aumentar seu salário, o que poderá gerar cansaço, fadiga, estresse, falta de atenção no trabalho e, com isso, ocasionar, inclusive, além de doenças ocupacionais, algum tipo de acidente de trabalho. Ou ainda, a empresa, por contenção de custos, resolve ‘enxugar’ seu quadro de funcionários e aumentar a carga de trabalho para aqueles que permaneceram, mas sem ganharem nada por isso. Este fato também poderá gerar consequências para a saúde e segurança do trabalhador. Desta forma, podemos perceber que os aspectos econômicos podem influenciar diretamente a SMHT. Figura 5.4 – Índices econômicos. Fonte: 123RF. 83 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico • Fatores políticos: podem agir de forma restrita ou como oportunidades. Existem algumas políticas que emergem para a sociedade e são objeto de preocupação dos governos e instituições não governamentais. Entre elas, podemos citar as questões ecológicas, desde o âmbito micro ao macro, tratando da estrutura das relações entre o homem e o ambiente no qual ele está inserido. Consequentemente, esses elementos passam a ser de preocupação das organizações e envolverá, também, novas diretrizes à SMHT. Podemos citar como exemplos os seguintes aspectos: » Agenda Global 21: em 1992, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou no Rio de Janeiro a Con- ferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), mais conhecida como Rio 92. 179 países participaram e assinaram a Agenda 21 Global, um programa de ação baseado em um documento de 40 capítulos, que constitui uma tentativa de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento sustentável. Você pode ter acesso ao Documento Agenda 21 da CNUMAD no link: <http://www.mma. gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21-global>. » ISO 14000: é constituído por uma série de normas que estabelecem diretrizes para garantir que deter- minada empresa pratique a gestão ambiental. Seu principal objetivo é garantir o equilíbrio e a proteção ambiental, prevenindo a poluição e os potenciais problemas que esta poderia trazer para a sociedade e economia. Para obter o Certificado ISO 14000, a empresa deve se comprometer com as leis previstas na legislação ambiental do seu país e treinar seus funcionários para seguirem todas essas normas, o que contribuirá para a SMHT da empresa. » BS-8800: o British Standard Institution, com base no padrão das normas ISO 14000, elaborouum guia para a gestão de sistemas de saúde ocupacional e segurança industrial das organizações. Publicada originalmente na Inglaterra em 1996, sofreu alterações ao longo do tempo para acompanhar as novas exigências do mercado. 84 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico • Fatores legais: apesar de fazer parte do macroambiente, as leis influenciam diretamente as políticas organizacionais. A legislação sobre segurança e saúde ocupacional é o requisito mínimo a ser cumprido pelas empresas. Para atuar de forma estratégica e manter a saúde e segurança dos seus funcionários, as leis, normas e diretrizes precisam ser seguidas à risca. Podemos citar como exemplo a obrigatoriedade da utilização dos EPIs, conforme vimos na unidade anterior. Figura 5.5 – Exemplo de EPI. Fonte: 123RF. • Fatores socioculturais: dizem respeito a mudanças no sistema cultural e social que afetam as ações de uma organização e a demanda por seus produtos e serviços. Esses elementos envolvem crenças, valores, princípios éticos e morais, ou seja, dizem respeito a valores e regras implícitas que as sociedades creem ter validade para o desenvolvimento e comportamento dos seus indivíduos. Neste contexto, as empresas devem se atentar para sua responsabilidade social, de tal forma que seus interesses políticos, econômicos e técnicos não se sobreponham aos elementos éticos e morais. Da mesma forma, essa consciência tem que prevalecer nas decisões tomadas dentro da organização. Questões como estas precisam ser levan- tadas: “Minha empresa segue as disposições das NRs conforme é devido?”; “Existe uma conscientização e cultura de prevenção a doenças ocupacionais e acidentes de trabalho na minha empresa?”; “Quem já não ouviu falar de empresas nas quais seus funcionários são ‘sugados’ ao extremo sem haver preocupa- ção com sua saúde?”; “Quantos acidentes de trabalho não ocorrem por negligência, imperícia ou impru- dência?”; “Quais são os valores éticos e morais que guiam os comportamentos na minha empresa?”; “Eles pressupõem uma cultura de prevenção a acidentes de trabalho e doenças ocupacionais?”. Para um melhor entendimento a respeito, consulte a tese de Doutorado “Ações e pressu- postos de cultura de segurança em uma indústria metalúrgica”, que pode ser encontrada no link: <http://tede.ufsc.br/teses/PPSI0612-T.pdf>. Neste trabalho, a autora se propõe a identificar quais são as ações e os pressupostos que sustentam a cultura de segurança em uma fábrica de metalurgia. 85 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico • Fatores internacionais: são forças indiretas que se aplicam quando a organização se apoia em um for- necedor estrangeiro ou concorre com competidores internacionais. Essas ligações podem trazer elemen- tos que também se relacionam à SMHT. 5.1.2 O ambiente das tarefas Também considerado como algo externo às organizações, é aquele mais imediato, no qual uma organização específica atua. Ou seja, se no ambiente geral seus elementos afetam as organizações como um todo, aqui eles só afetam as empresas ligadas diretamente a ela. Os elementos do ambiente das tarefas são: • Clientes: são pessoas que compram os produtos ou serviços de uma organização, sendo um dos prin- cipais pilares que a sustentam, pois deles dependem as suas vendas. É importante conhecer o perfil dos seus clientes, suas tendências, exigências, localização, renda etc. Dependendo da demanda deste mer- cado, mudanças no processo produtivo também poderão ocorrer, o que faz com que a área de SMHT fique atenta para as consequências que essas mudanças poderão trazer para a vida laboral dos funcioná- rios. Muitas vezes são necessárias mudanças tecnológicas ou de processos, em que o trabalhador acaba sendo atingido diretamente. Figura 5.6 – Atração de clientes. Fonte: 123RF. • Concorrência: são as organizações com as quais as empresas competem por clientes, consumidores e recursos. Assim como é fundamental conhecer seus clientes, conhecer seus concorrentes também é essencial. A dinâmica competitiva no mercado, muitas vezes, pode levar a empresa a agir de encontro com as normas vigentes. Vemos, por exemplo, caminhoneiros que, para cumprir suas rotas de entrega, acabam por tomar remédios proibidos para se manterem acordados. Da mesma forma, motoristas de ônibus se 86 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico sobrecarregam em épocas que a demanda por passagens é maior do que o normal, porque a empresa acaba não contratando mão de obra extra. Neste contexto, vale ficar atento para saber se a empregadora está fazendo tudo dentro das normas estabelecidas ou se está infringindo algo para se sobrepor a concor- rência acima de qualquer preço, mesmo que isso afete a saúde e segurança do seu funcionário. Figura 5.7 – Concorrência no mercado. Fonte: 123RF. • Fornecedores: são as organizações que proveem recursos financeiros, energia, insumos, equipamentos etc. para que a empresa desenvolva seu processo produtivo. Como esses recursos são as entradas do seu pro- cesso produtivo, os quais vão culminar na saída em forma de seus produtos ou serviços, é essencial que a empresa tenha informações fidedignas acerca dos seus fornecedores, no que tange à capacidade e quali- dade, para serem evitadas as não conformidades à SMHT. Se, por exemplo, a empresa compra uma matéria- -prima de um fornecedor que não tenha qualidade, isso poderá ter consequências não somente no seu pro- duto final, mas em fatores que venham afetar o desempenho, a produtividade e a saúde dos trabalhadores. Vamos supor que você tenha uma empresa de limpeza de vidros prediais. Para cumprir o que está na NR 6 (EPI), você fornece aos seus funcionários todos os materiais de segurança necessários. No entanto, em função da crise, para baratear os custos, você os comprou de um fornecedor pouco confiável e eles não possuem a qualidade esperada. Ao estar pendu- rado em um prédio de 20 andares executando o seu serviço, a corda que sustentava o seu funcionário se rompeu e ele despencou de uma altura de mais de 60 metros, vindo a óbito. Esta morte poderia ter sido evitada? Certamente que sim, se os EPIs tivessem sido adquiri- dos de um fornecedor gabaritado, que apresentasse a qualidade necessária para garantir o mínimo de segurança. 87 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico • Reguladores: são elementos do ambiente externo que têm o poder de controlar, legislar ou influenciar as políticas e práticas das organizações. Existem dois reguladores principais: » Agências reguladoras: são os órgãos governamentais criados para amparar o público de certas prá- ticas de negócios ou para proteger as organizações das outras. Cabem a elas regular e/ou fiscalizar a atividade de determinado setor da economia de um país, por exemplo: ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), dentre outras. » Grupos de interesse: união dos próprios membros, na tentativa de influenciar organizações, com o sentido de proteger o seu negócio. O ambiente das tarefas deve ser constantemente analisado pelas empresas, pois ele tem um papel fundamental nas tomadas de decisão e condução do planejamento estratégico das organizações. Os dirigentes devem estar atentos para que as novas demandas e mudanças que ocorrem no seu ambiente externo e se refletem em suas políticas organizacionais não provoquem mudanças queafetem a saúde e segu- rança dos funcionários. 5.1.3 O ambiente interno Diferentemente dos elementos do ambiente externo, as organizações conseguem controlar seu ambiente interno. Seus elementos são: • Proprietários: são pessoas com direitos legais de propriedade daquele negócio. Podem ser tanto um único indivíduo que desenvolve um pequeno negócio quanto um grande grupo que detenha um negó- cio em proporções maiores. Cabem aos proprietários e seus administradores zelarem pelo o que ocorre dentro da organização, garantindo por meio de suas políticas e ações a saúde e segurança de todos que nela trabalhem. • Empregados: as pessoas são essenciais dentro da organização. Por meio delas é que a empresa consegue alcançar seus objetivos e, com isso, se tornarem um importante ativo e um grande diferencial competitivo. Cabem aos empregados não só exigirem condições ideais de trabalho, como também cumprir com suas obrigações no intuito de seguirem as normas de segurança que são estabelecidas de acordo com as ati- vidades que exercem. Do que adianta a empresa fornecer adequadamente os EPIs, por exemplo, e deter- minados funcionários não utilizarem ou o fazerem de maneira incorreta? Compete à empresa propiciar um ambiente seguro e saudável, no entanto os empregados também são corresponsáveis no processo. • Ambiente físico: são as instalações das organizações e o trabalho que as pessoas executam, podendo ter as mais diversas configurações, com várias possibilidades de layout e, nesse caso, é essencial seguir as NRs para que a saúde e segurança do trabalhador estejam garantidas. Sabemos que muitos dos problemas, dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais que ocorrem nas organizações são decorrentes de estruturas organizacionais inadequadas às especificidades funcionais, tendo impacto negativo nos pro- cessos. Sendo assim, torna-se imprescindível ter locais bem ventilados e arejados, iluminados adequada- mente, com ruídos controlados dentro dos limites aceitáveis, ou seja, o ambiente físico tem que ter todas as condições ambientais de trabalho adequadas - conforme já vimos anteriormente nas Unidades 3 e 4. 88 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico • Estratégias organizacionais: elas vão delinear as ações internas e externas voltadas ao alcance dos obje- tivos organizacionais, seguindo a missão, os princípios e os propósitos da empresa e dão a direção que precisa ser tomada. São as principais norteadoras nos processos desenvolvidos diariamente nas empre- sas, inclusive aqueles que dizem respeito à SMHT. Itens como fluxo produtivo, controle da produção, con- dições de tecnologia e ambientais, forças competitivas do mercado, dentre outras devem necessaria- mente seguir estratégias que culminem para a saúde e segurança do trabalhador. 5.2 A SMHT como política organizacional Antes de darmos continuidade ao assunto, vamos fazer alguns questionamentos? Sua organização sabe quem ela é como instituição? Sua empresa possibilita você agir como ela diz ser? Ela tem claramente definidos sua missão, visão, valores, objetivos e metas a serem alcançados e estratégias para atingi- -los? As normas que estão prescritas nos documentos oficiais são realmente as que ocorrem no dia a dia orga- nizacional? Ela se preocupa, tem estratégias e coloca em prática as ações para garantir a saúde e segurança do trabalhador? Com base nas informações dos ambientes organizacionais (geral, das tarefas e interno), devemos planejar o uso eficiente e eficaz dos recursos disponíveis sob uma perspectiva estratégica. Neste sentido, a área de SMHT deve ser parceira estratégica da organização, contribuindo com políticas para a superação de cinco desafios inerentes das organizações (PACHECO JR; PEREIRA FILHO; PEREIRA, 2000): 1. Gerar planos estratégicos. 2. Criar um placar equilibrado. 3. Ajustar os planos do setor aos planos empresariais. 4. Precaver-se contra consertos rápidos. 5. Criar na organização um foco de capacitação. Vamos ver como a área de SMHT pode contribuir de forma estratégica considerando esses cinco elementos? 5.2.1 Gerar planos estratégicos Os programas de PCMSO e PPRA previstos nas NRs, conforme vimos na Unidade 4, são ferramentas que, por meio do estabelecimento de parâmetros mínimos e diretrizes gerais, visam à promoção e preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores. Tendo em vista que são programas obrigatórios segundo as NRs, há a possibilidade de se fazer planos estraté- gicos que os incluam e, em uma perspectiva mais ampla e sistêmica, alinhá-los a outras políticas como: capa- citação e conscientização dos funcionários; inclusão de outras exigências legais e outros programas específicos (riscos ergonômicos, controle higiênico-sanitário, gerenciamento de riscos, controle de perdas) etc. 89 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico 5.2.2 Criar um placar equilibrado Há diversos stakeholders no ambiente organizacional com diferentes expectativas a serem alcançadas e que, muitas vezes, tornam-se conflitantes. Seja o cliente, o empresário, os trabalhadores, cada um tem as suas; no entanto, é importante que haja um equilíbrio para que todas elas sejam atendidas. A empresa não pode, por exemplo, estipular metas de produtividade exorbitantes que se sobrepõem à segurança e saúde ocupacional, pois, além disso provocar doenças e acidentes, irá desestimular os funcionários. Sendo assim, os planos estratégicos devem ser elaborados de forma que haja um equilíbrio entre esses diversos atores envolvidos no processo, satisfazendo a expectativa de todos os envolvidos. 5.2.3 Ajustar os planos do setor aos planos empresariais É ideal haver uma articulação entre os programas previstos nas NRs e outros programas da organização para que, com isso, as práticas da SMHT possam se integrar à estratégia organizacional. 5.2.4 Precaver-se contra consertos rápidos Soluções milagrosas e promessas de resoluções de problemas instantâneas desviando-se da forma correta de solucionar as situações, além de serem atitudes errôneas, podem trazer sérias consequências para a empresa ou para o funcionário. Por exemplo: uma empresa, para não parar um processo produtivo, improvisa o conserto de um equipamento em vez de realizar a manutenção adequada que levaria dias para ser feita. Além de ser antiético, este fato pode acarretar um acidente de trabalho. 5.2.5 Criar na organização um foco de capacitação Para mais eficiência e eficácia de programas de segurança do trabalho e saúde ocupacional, é necessário não só que esses programas sejam integrados com os demais e à estratégia organizacional, como também que haja uma capacitação por parte dos funcionários. Do que adianta o desenvolvimento de um excelente programa se as pessoas não sabem como aplicá-lo no seu dia a dia laboral? É possível percebermos que o foco estratégico da SMHT deve estar sempre integrado aos conceitos organizacio- nais, promovendo o equilíbrio no alcance das expectativas de todos os envolvidos no processo. Portanto, conforme demonstram Pacheco Jr; Pereira Filho; Pereira (2000), a estratégia diz respeito à linha de ação necessária à obtenção de determinado objetivo. Para agir de forma estratégica, a SMHT deve ser tratada como uma política organizacional que contribui para a agregação de valor, aliada a outras políticas da organização. 90 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 5 – Análise Ambiental da Segurança e Higiene do Trabalho e o Contexto Estratégico Por fim, cabe salientar que é essencial à SMHT obedecer aos requisitos legais. Em decorrência disto, as ações muitas vezes acabam se restringindo em um nível mais operacional. No entanto,igualmente importante é que as ações não fiquem restritas somente ao nível operacional: é preciso gerar oportunidades para a SMHT agir de forma integrativa com os recursos organizacionais, atuando também em uma perspectiva tática e estratégica, conforme figura a seguir: Figura 5.8 – Níveis hierárquicos e seus fundamentos teóricos inerentes. Programas Planos Questões conceituais Políticas Nível Estratégico Nível Operacional Nível Tático Procedimentos Instruções de trabalho Fonte: Adaptada de Pacheco Jr; Pereira Filho; Pereira (2000). Baseando-nos na Figura 5.8, vamos refletir: como esse esquema pode ser aplicado de forma prática na organização que você trabalha, levando em consideração a SMHT? 91 Considerações finais Nesta unidade, abordamos os conceitos centrais dos ambientes orga- nizacionais e vimos de que forma esses elementos se relacionam com a Segurança, Medicina e Higiene do Trabalho (SMHT). Aprendemos, ainda, como a área de SMHT pode propor políticas organizacionais no sentido de promover a segurança e saúde ocupacional na empresa. Após a leitura, você pôde aprender que: • As organizações são sistemas abertos que efetuam trocas com seu meio. • Há quatro características que enfatizam a natureza adaptativa e dinâmica de todos os sistemas abertos: interação com o ambiente, sinergia, equilíbrio econômico e equifinalidade. • As empresas são formadas pelos ambientes: geral, das tarefas e interno. • São fatores do ambiente geral: tecnológicos, econômicos, políti- cos, legais, socioculturais e internacionais. • Constituem o ambiente das tarefas: clientes, concorrência, forne- cedores e reguladores. • Fazem parte do ambiente interno: proprietários, empregados, ambiente físico e estratégias organizacionais. • Por fim, vimos a importância da SMHT ser considerada estratégica dentro da organização, trabalhando de forma sistêmica com os demais programas desenvolvidos na empresa. Referências bibliográficas 92 PACHECO JR, W.; PEREIRA FILHO, H. do V.; PEREIRA, V. L. D. do V. Gestão da Segurança e Higiene do Trabalho: Contexto Estratégico, Análise Ambiental e Controle e Avaliação das Estratégias. São Paulo: Atlas, 2000. SILVA, R. O. da S. Teorias da Administração. São Paulo: Pearson, 2008. 6 94 Unidade de Estudo 6 Acidentes no Trabalho Para iniciar seus estudos Na unidade anterior, estudamos sobre os diversos ambientes em que as organizações estão inseridas e vimos como a Segurança, Medicina e Higiene do Trabalho (SMHT) pode se relacionar com eles e trabalhar estra- tegicamente como uma política organizacional. Nesta unidade, aprofundaremos o conceito de acidentes no trabalho já abordado na Unidade 3, quando discutido acerca da prevenção de aci- dentes, uma das principais áreas de atividade da segurança do trabalho. Você já parou para pensar por que ocorrem os acidentes de trabalho? Sua empresa fornece os equipamentos de proteção? Você utiliza? Seu colega de trabalho usa? Você é conivente com um colega que não faz uso do equipamento ou utiliza de forma errada ou não? Como é possível prevenir os acidentes de trabalho? Ao longo da disciplina, vamos aprender que muitos acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais poderiam ser evitadas se as normas fossem seguidas corretamente, tanto por parte do trabalhador como do empregador. Objetivos de Aprendizagem • Apresentar os conceitos gerais sobre acidentes de trabalho. • Discutir sobre eliminação, neutralização e atenuação do risco de acidente. • Conhecer os Equipamentos de Proteção Coletiva e Individual (EPC e EPI, respectivamente). 95 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho 6.1 Conceitos gerais sobre acidentes de trabalho No século XIX, geralmente o trabalhador carregava a culpa pelo acidente que ele mesmo sofrera. Os acidentes de trabalho eram considerados fatos inesperados e traumáticos. Conforme vimos na Unidade 3, o conceito de acidente do trabalho no Brasil é definido pela Lei nº 8.213/1991, art. 19. No entanto, de acordo com Chimirci; Oliveira (2016), ele também pode ser definido como: 1. Acidente que possui ligação com o trabalho e contribui para a morte do trabalhador, para a perda ou redução de sua capacidade para o trabalho ou tenha causado lesão que exija algum cuidado médico para sua recuperação. 2. Acidente sofrido pelo trabalhador no ambiente de trabalho em decorrência de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; ofensa física intencional motivado por disputa relacionada ao trabalho; imprudência, negligência ou imperícia; desabamento, inundação, incêndio ou outros eventos de força maior; doença derivada de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade. 3. Acidente sofrido fora do local e horário de trabalho, durante a realização de ordem ou execução de ser- viços sob autorização da empresa; prestação de qualquer serviço para a empresa, com intuito de lhe pro- porcionar proveito ou evitar prejuízo; viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo, quando finan- ciada pela organização; trajeto da residência para o local de trabalho ou vice-versa, independentemente do tipo de locomoção. Por fim, os autores chegam à conclusão que o acidente de trabalho é todo acontecimento que cause morte ou a perda da capacidade de trabalho do profissional, ainda que de forma temporária, sempre que este estiver de alguma forma a serviço da empresa. Figura 6.1: Acidente de trabalho. Fonte: 123RF. Além do funcionário que sentirá a dor diretamente, passará pelo tratamento médico e poderá ficar afastado do trabalho, o empregador, a sociedade e a própria família também acabam sendo afetados pelo acidente de trabalho. O empregador terá um funcionário a menos no quadro enquanto o trabalhador se recupera (quando há pos- sibilidade de recuperação) e terá, consequentemente, sua produtividade reduzida; terá que contratar alguém, 96 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho mesmo que temporário, para assumir aquele posto de trabalho vago até que o funcionário se recupere; além disso, poderá ter que arcar com possíveis indenizações. Representada pelos órgãos do Estado, a sociedade também sofre consequências, como o pagamento de auxílios relativos aos acidentes de trabalho, por exemplo. Já os familiares poderão sofrer com a perda do ente querido ou o funcionário pode se tornar dependente de um familiar mais próximo devido às suas condições após o acidente de trabalho ou ainda ter que se disponibilizar a acompanhar o acidentado ao tratamento médico ao qual estará submetido. Mas os riscos de acidentes podem ser eliminados, atenuados ou mesmo neutralizados? É o que veremos a seguir. 6.2 Eliminação, neutralização e atenuação do risco de acidente Todos os fatores que podem colocar em perigo o trabalhador ou afetar sua integridade física são considerados riscos de acidentes. Na maioria dos casos, os acidentes são decorrentes das condições ambientais ou pessoais, como ausência de um equipamento de proteção, falta de treinamento ou conhecimento do trabalhador, excesso de confiança ou mesmo desatenção. Para que sejam prevenidos, é necessário eliminar o risco existente no local ou, se isso não for possível, tentar atenuá-lo ou neutralizá-lo. Se um trabalhador é exposto ao risco sem nenhuma proteção, a probabilidade que ocorra um acidente é gigante, mesmo sendo uma pessoa com experiência e treinada na tarefa. Se um eletricista, por exemplo, vai mexer em fios de alta tensão sem os equipamentos básicos, ou um bombeiro entra em um pré- dio em chamas sem macacão, botas, luvas e máscara, por mais que sejam profissionais experientes, o risco de ocorrer um acidente é grande. Se o risco existente é neutralizado, a possibilidadede ocorrer um acidente é reduzida em função do perigo exis- tente diminuir proporcionalmente à sua exposição. E, quando o risco é atenuado, além de diminuir a probabili- dade de ocorrer um acidente, a gravidade da ocorrência também é reduzida (CHIMIRCI; OLIVEIRA, 2016). Para que o trabalhador esteja sempre seguro e livre de qualquer acidente, eliminar o risco existente é sempre o ideal. Analisando a figura a seguir, qual a probabilidade de que um acidente de trabalho grave ocorra? Figura 6.2: Risco de acidente de trabalho. Fonte: 123RF. 97 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho Vamos agora parar um pouco a leitura para refletir. Pense em sua atividade laboral: você exerce alguma função que possa conter riscos de acidentes? Pense nas condições ambien- tais que sua empresa oferece: são adequadas à realidade da atividade? O que pode ser feito para você eliminar, atenuar ou neutralizar os riscos nas atividades que você desenvolve? Trabalhar com a prevenção é uma grande estratégia para que os acidentes de trabalho não ocorram. Vamos, a seguir, conhecer algumas alternativas que poderão auxiliar na prevenção de acidentes no trabalho. 6.3 Prevenção de acidentes do trabalho A prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho deve ser pensada a todo momento e em cada atividade realizada na empresa: desde as mais simples tarefas às mais complexas, o gestor deve estar atento para possíveis acidentes que possam ocorrer. Uma simples limpeza de piso pode deixar o chão escorregadio que, sem a devida identificação, pode causar um grave acidente com sérias lesões. De acordo com Coleta (1989), a prevenção de acidentes do trabalho deve se constituir em um amplo programa que envolva os mais diversos setores da organização, das entidades dos trabalhadores e dos órgãos do governo. Com um conjunto de diversas atividades desenvolvidas por estas entidades, é possível garantir melhores con- dições de trabalho, níveis adequados de preparação desse trabalhador e clima de trabalho favorável para que a segurança do trabalho venha a ser realmente uma prioridade dentro dos princípios gerais da organização. O autor sugere algumas medidas que poderão ser tomadas no intuito de auxiliar a conscientização dos envolvidos e a efetiva prevenção ao acidente de trabalho, conforme o Quadro 6.1 a seguir: 98 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho Quadro 6.1: Sugestões de atividades em geral para a prevenção de acidentes de trabalho. 1. Eliminação de riscos graves existentes no ambiente de trabalho. 2. Implantação pela organização de ampla política de benefícios aos trabalhadores. 3. Implantação de um completo, confiável e minucioso sistema de seleção de pessoal. 4. Desenvolvimento de extenso programa de treinamento e formação de mão de obra. 5. Projeção e execução de processo de treinamento introdutório. 6. Execução de processo de treinamento em situações de funcionamento anormal do sistema. 7. Execução de programa de treinamento e formação de pessoal participante da CIPA. 8. Mudança nos processos atribucionais sobre a origem dos acidentes de trabalho. 9. Ajustamento da imagem operatória. 10. Implantação de sistema completo de atendimento ao pessoal acidentado. 11. Ajustamento do conceito de acidente de trabalho do pessoal com os conceitos técnicos. 12. Introdução na empresa de sistema de informação sobre os acidentes de trabalho. 13. Implantação de concursos de frases e cartazes de segurança. 14. Utilização de cartazes de segurança. 15. Implantar sistema de registro e análise de ocorrência de acidentes de trabalho. 16. Inspeções dos locais de trabalho. 17. Exames médicos, psicológicos e odontológicos periódicos. 18. Política de uso de equipamentos de proteção individual. Fonte: Elaborado pela autora (2017). Vamos ver como cada uma dessas medidas podem contribuir? 99 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho 6.3.1 Eliminação de riscos graves existentes no ambiente de trabalho Conforme afirma Coleta (1989), por meio de procedimentos sustentados em diversas técnicas de análise do traba- lho, principalmente as que são feitas a partir da observação, deve-se identificar, descrever e propor soluções alter- nativas a todas as situações de trabalho em que forem detectados níveis de risco de qualquer dimensão, tais como: 1. Ambiente: iluminação, temperatura, ventilação, calçamento, buracos, tipos de piso, escada. Exem- plo: uma sala cirúrgica na qual o piso é escorregadio. Figura 6.3: Prevenção com pisos escorregadios. Fonte: 123RF. 2. Máquinas, equipamentos e materiais: correias, material agressivo, ferramentas mal construídas ou mal mantidas. Exemplo: máquina obsoleta e sem manutenção. Figura 6.4: Manutenção de máquinas e equipamentos. Fonte: 123RF. 100 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho 3. Procedimentos de trabalho: coatividade, ritmo de trabalho excessivo, turnos de trabalho, siste- mas de produção. Exemplo: motorista de ônibus interestadual, que, no período de alta temporada, já está traba- lhando 18 horas seguidas sem descanso. Figura 6.5: Sono ao volante. Fonte: 123RF. Essas condições do ambiente físico são essenciais para a manutenção da saúde do trabalhador e, se não obser- vadas atentamente, podem causar graves acidentes de trabalho. 6.3.2 Implantação pela organização de ampla política de benefícios aos trabalhadores Para Coleta (1989), algumas atividades contribuem para a elevação do nível de satisfação dos trabalhadores em relação ao trabalho e, com isso, auxiliam no controle da presença das chamadas variáveis depressoras da vigilância, que comprometem o processo de segurança no trabalho e fazem crescer o número e gravidade dos acidentes. Tais atividades podem ser: 1. Alimentação; 2. Transporte; 3. Estabilidade dos pagamentos dos salários; 4. Convênios com farmácia; 5. Assistência médica e odontológica; 6. Uniformes; 7. Tratamento igualitário nos diversos níveis hierárquicos da empresa; 8. Clube de recreação aos funcionários. 101 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho 6.3.3 Implantação de um completo, confiável e minucioso sistema de seleção de pessoal Este aspecto visa à contratação de pessoas adequadas para ocupar os postos vagos na organização. Desse modo, os riscos de acidentes podem ser minimizados. 6.3.4 Desenvolvimento de extenso programa de treinamento e formação de mão de obra Tem o intuito de desenvolver as pessoas em cada um dos postos de trabalho, no sentido de dotá-las de perfeito domínio sobre a execução correta das diferentes tarefas a serem executadas. Este procedimento poderá promo- ver o incremento da produtividade e da satisfação do pessoal, o crescimento profissional do trabalhador, dentre outros. Além disso, poderá diminuir a probabilidade de o funcionário cometer erros na execução da tarefa, os quais podem acarretar um acidente de trabalho porque a pessoa não está devidamente alocada em uma atividade que tenha competência técnica para exercer. 6.3.5 Projeção e execução de processo de treinamento introdutório Diz respeito ao treinamento de introdução dos novos funcionários no ambiente de trabalho. Este aspecto fará com que os novatos conheçam todas as características do sistema empresarial, o funcionamento do setor que serão alocados, o trabalho de outros setores correlatos da empresa, de seus direitos e seus deveres, da filosofia geral da organização, dos principais aspectos relacionados à cultura organizacional, da localização e do uso dos processos e das alternativas de segurança em caso de incêndio ou outro tipo de tragédia. Essas medidas farão com que os novosfuncionários se adaptem mais facilmente ao seus ambientes laborais e às suas rotinas de trabalho, evitando que alguns acidentes aconteçam, principalmente nos primeiros dias, em função do desconhecimento de recomendações e cuidados fundamentais que devem ter na empresa. Figura 6.6: Treinamento na empresa para novos funcionários. Fonte: 123RF. 102 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho 6.3.6 Execução de processo de treinamento em situações de funcionamento anormal do sistema Esta medida tem o intuito de viabilizar programas de treinamento para que os trabalhadores saibam agir em situações que fogem à sua rotina de trabalho. Quando ocorre algo que não faz parte do seu dia a dia, quais os comportamentos desejáveis e indesejáveis? Você sabe agir sob pressão? Você sabe atuar em situações inesperadas que fogem ao seu controle? Estar preparado nesses casos pode fazer com que o funcionário não cometa algo indesejável, evitando que ele conduza uma situação de risco ainda maior e com consequências graves para ele e seus colegas de trabalho. O repasse de experiência dos mais velhos aos novatos na organização auxilia também neste processo. 6.3.7 Execução de programa de treinamento e formação de pessoal participante da CIPA Visa preparar os integrantes da CIPA para as tarefas relativas a esta comissão, principalmente no que se refere ao conceito de acidente, dispositivos legais relacionados à segurança, medicina e acidentes do trabalho, mecanis- mos de prevenção dos acidentes, registro e análise de ocorrências de acidentes e campanhas de prevenção de acidentes. 6.3.8 Mudança nos processos atribucionais sobre a origem dos acidentes de trabalho Desenvolvimento de um programa integrado de cursos, debates, palestras, divulgação por jornais internos, car- tazes, folhetos, e-mails e outros, buscando preparar todo o pessoal da organização para uma análise profunda das possíveis reais causas dos acidentes de trabalho, visando eliminar os estereótipos na atribuição de causali- dade e na explicação da origem dos acidentes de trabalho. 6.3.9 Ajustamento da imagem operatória Promoção de programas de treinamento de divulgação de informações e orientações, no intuito de conduzir os trabalhadores a ajustarem sua imagem operatória, tornando a representação que fazem do seu trabalho, dos equipamentos, das ferramentas e dos procedimentos mais próxima da realidade dos fatos. Segundo Coleta (1989), o cuidado com a identificação e posterior tentativa de mudança de imagens operatórias muito distanciadas dos fatos reais podem contribuir significativamente para melhorar o desempenho do pessoal no trabalho, ajustar a tomada de risco e avaliação do perigo não permitindo, assim, que o funcionário encontre soluções aos problemas completamente distanciadas daquelas que seriam recomendadas – tanto pelo aspecto técnico quanto pelo bom senso e pela experiência. 103 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho 6.3.10 Implantação de sistema completo de atendimento ao pessoal acidentado Esta medida envolve socorros médicos, psicológicos, sociais, imediatos à ocorrência, providências administra- tivas e técnicas que o caso requer, como registro, análise do acidente, controle histórico de ocorrências, acom- panhamento do trabalhador enquanto se recupera das lesões sofridas com o acidente e as providências de seu retorno ao trabalho. Um fator importante a ser levado em consideração é o cuidado ao reintegrar o funcionário ao seu local de tra- balho após ter sofrido um acidente, pois podem ocorrer comportamentos inadaptados em relação à situação, ao medo de novas ocorrências, às brincadeiras de colegas, às reações dos superiores e às vezes à própria capacidade reduzida pela lesão. 6.3.11 Ajustamento do conceito de acidente de trabalho do pessoal com os conceitos técnicos Se todas as pessoas não têm as mesmas informações sobre a definição de um determinado evento, não é pos- sível que qualquer comunicação produza efeitos semelhantes entre os funcionários, o que pode comprometer a eficácia de um programa de prevenção e combate aos acidentes. Portanto, deve haver um sistema de instrução do pessoal sobre o conceito de acidente de trabalho, para que eles sejam capazes de identificar as ocorrências, e não formar opiniões que possam comprometer as ações preventi- vas. 6.3.12 Introdução na empresa de sistema de informação sobre os acidentes de trabalho Trabalhadores mais bem informados acerca da segurança e acidente de trabalho tendem a participar mais de programas prevencionistas e ter mais cuidado em suas atividades laborais. Introduzir na empresa um sistema de fornecimento de informação, seja por meio de boletins, folhetos, murais, jornais internos, e-mail e outros sobre todos os aspectos relacionados à segurança e aos acidentes de trabalho, estatísticas de acidentes, legislação, causas dos acidentes, lesões mais frequentes, setores com mais índices de ocorrências, custos desses eventos, providências a serem tomadas, papel de cada um dentro deste processo etc. irá auxiliar na criação de uma cultura consciente e preventiva acerca dos riscos, podendo, com isso, impactar diretamente na diminuição da quantidade de acidentes ocorridos na empresa. 104 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho Figura 6.7: Disseminação da informação. Fonte: 123RF. 6.3.13 Implantação de concursos de frases e cartazes de segurança Programas no intuito de incentivar os funcionários a se envolverem com o assunto, conscientizando-se, assim, da importância do tema. 6.3.14 Utilização de cartazes de segurança Distribuir cartazes pela empresa no sentido de trazer conhecimento do tema, chamar a atenção dos funcionários para o problema a fim de informá-los e formar atitudes favoráveis à causa prevencionista. Nesse caso, é importante atentar para a qualidade das informações que estão sendo passadas, no sentido de representar as recomendações adequadas de acordo com as normas técnicas. 6.3.15 Implantar sistema de registro e análise de ocorrência de acidentes de trabalho Implementação de um completo sistema de registro e análise de ocorrências de acidentes de trabalho, envol- vendo a criação de formulários próprios, treinamento do pessoal para o registro e análise de forma correta, manutenção de arquivos de informações e recuperação periódica e sistematizada dessas informações, emissões de relatórios técnicos a respeito dos acontecimentos. Desta forma, será possível fazer um controle dos acidentes de trabalho, estatísticas de ocorrências, identificação de possíveis causas etc. Todo esse registro e análise profunda de cada caso para tentar encontrar, identificar e definir as variáveis relacio- nadas a cada ocorrência visam à indicação de soluções que buscam evitar que tais fatos venham ocorrer nova- mente. 105 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho 6.3.16 Inspeções dos locais de trabalho Implantar um sistema periódico de inspeção aos locais de trabalho, com o intuito de detectar fontes de insalubri- dade e periculosidade, cumprimento de normas de segurança, estado geral do ambiente de trabalho, tanto do ponto de vista físico como social. Esta medida demonstrará a preocupação da administração com este tema, bem como trará um vasto conheci- mento para os gestores acerca de como está o ambiente laboral em termos de saúde e segurança do trabalho. 6.3.17 Exames médicos, psicológicos e odontológicos periódicos O comprometimento da saúde do trabalhador pode conduzir a situações de acidentes de trabalho, portanto exa- mes médicos, odontológicos e psicológicos periódicos auxiliam na identificação de distúrbios que podem gerar acidentes de trabalho. Conformevimos na Unidade 4, a NR nº 7 estabelece a realização obrigatória de alguns exames médicos. 6.3.18 Política de uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) A utilização dos EPIs, como estudamos na Unidade 4, é fundamental para garantir a segurança e saúde do tra- balhador, no entanto é importante se ter conhecimento de cada atividade desenvolvida dentro da empresa para que a utilização dos equipamentos atenda às reais necessidades de cada tarefa. O que você pensa a respeito de cada uma dessas medidas? Reflita como você pode levar essas informações para o seu ambiente de trabalho. 106 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho 6.4 Os Equipamentos de Proteção Coletiva e Individual Esses equipamentos, como já vimos anteriormente, são fundamentais para preservar a saúde e segurança do trabalhador. O Equipamento de Proteção Coletiva (EPC) é todo dispositivo ou sistema coletivo destinado à pre- servação da integridade física e da saúde dos trabalhadores. São aqueles utilizados no ambiente de trabalho para proteção dos trabalhadores expostos a riscos existentes no processo de trabalho. Eles podem ser, por exemplo, sistemas de bloqueio de energia, paralisação automática de máquinas, sinalização de segurança, sistema de ventilação, isolamento acústico de fontes de ruído de uma máquina, proteção de par- tes móveis de máquinas e equipamentos, corrimão de escadas, dentre outros. Os EPCs reduzem o número de acidentes, melhoram a comodidade e condições de trabalho e auxiliam na melhor eficiência e eficácia das atividades. Figura 6.8: Equipamentos de Proteção Coletiva (EPCs). Fonte: 123RF. Já o EPI, conforme estudamos na Unidade 4, NR nº 6, é qualquer dispositivo ou produto de uso especificamente individual, utilizado pelo trabalhador para a proteção contra os riscos que podem ameaçar a sua segurança e a sua saúde. Vale ressaltar que, muitas vezes, há a necessidade de utilização simultânea dos dois tipos de proteção. 107 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 6 – Acidentes no Trabalho Figura 6.9: Atividade executada com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Fonte: 123RF. Por fim, é possível afirmarmos que passamos grande parte do nosso dia no local de trabalho. Sem perceber e atentar para a prevenção, acabamos ficando expostos aos riscos de acidentes e às doenças ocupacionais. Em empresas maiores, onde é obrigatória a presença da CIPA e de profissionais relacionados à saúde e segu- rança do trabalho, geralmente observamos mais a preocupação com a prevenção e os riscos. Já em um escritório pequeno, as atitudes preventivas geralmente são mais escassas e muitas vezes pessoas que não são da área de saúde e segurança do trabalho encontram dificuldades em fazer a prevenção de forma correta e eficaz no ambiente laboral. Podemos perceber que, por exemplo, na ergonomia, assunto da nossa próxima unidade, a postura correta do corpo em relação à cadeira, à mesa de trabalho e ao computador nem sempre é observada. Sem se dar conta, muitos trabalhadores se sentam em cadeiras desajustadas, com alturas desreguladas do assento e do encosto, altura e luminosidade da tela do computador não estão como deveriam, a coluna não fica ereta, os braços e as pernas ficam apoiados inadequadamente. Todas essas simples atitudes preventivas podem evitar danos à saúde do trabalhador e desconforto durante seu expediente de trabalho, mas que nem sempre são percebidas ou recebem o devido valor. Para saber mais sobre a prevenção de acidentes, consulte a Associação Brasileira para Pre- venção de Acidentes (ABPA) no link; <http://www.abpa.org.br/>. Lá você encontra as últimas novidades da área, bem como cursos, palestras, artigos e consegue se manter atualizado com o tema. 108 Considerações finais Chegamos ao fim da sexta unidade de estudo da disciplina de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional. Nela, pudemos aprender um pouco mais sobre acidentes no trabalho e refletir sobre qual o nosso papel den- tro da organização na qual trabalhamos, especialmente quando o assunto é segurança e saúde no trabalho. Vimos outros conceitos sobre acidentes de trabalho, além dos apresen- tados na Unidade 3. Resumindo os conceitos apresentados, temos que o acidente de trabalho é todo acontecimento que possa causar a morte ou a perda da capacidade de trabalho do profissional, ainda que de forma tem- porária, sempre que este estiver de alguma forma a serviço da empresa. Aprendemos que não é somente o acidentado que sofre quando ocorre um acidente de trabalho, mas também o empregador, a sociedade e até mesmo a família podem sofrer essas consequências. Discutimos sobre eliminação, neutralização e atenuação do risco de aci- dente e constatamos que a prevenção é fundamental! Exploramos, ainda, sugestões de atividades para que a prevenção de aci- dentes de trabalho seja efetiva nas organizações. Por fim, conhecemos um pouco mais sobre os EPIs e os EPCs. Lembre-se de fazer as anotações dos pontos principais para facilitar a participação no fórum desafio. Referências bibliográficas 109 CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. Introdução à Segurança e Saúde no Tra- balho. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. COLETA, J. A. D. Acidentes de Trabalho: Fator Humano, Contribuições da Psicologia do Trabalho e Atividades de Prevenção. São Paulo: Atlas, 1989. 7 111 Unidade de Estudo 7 Ergonomia Para iniciar seus estudos Na unidade anterior, estudamos sobre os acidentes de trabalho e como podemos fazer para preveni-los. Nesta unidade, vamos abordar o conceito de ergonomia e explorar os fatores humanos que influenciam a atividade laboral e podem afetar a saúde e segurança do trabalhador. Vamos começar? Objetivos de Aprendizagem • Conhecer a definição e os objetivos da ergonomia. • Abordar os fatores humanos no trabalho. 112 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia 7.1 Definição e contexto histórico da ergonomia Você já ouviu falar sobre ergonomia? Sabe do que se trata e como ela é empregada dentro do ambiente laboral? Qual a relação dela com a saúde e segurança no trabalho? Estes são aspectos que vamos abordar nessa unidade. A ergonomia surge em 12 de julho de 1949, em uma reunião de pesquisadores e cientistas, na Inglaterra, que tinham interesse em discutir e formalizar a existência de um novo ramo de aplicação da ciência interdisciplinar. Em 16 de fevereiro de 1950, na segunda reunião realizada, foi aprovado o termo ergonomia, formada pela pala- vra grega ergon (trabalho) e nomos (regras, leis naturais). Apesar de o verbete só ganhar força e status de disciplina formalizada a partir da década de 1950, com a funda- ção Ergonomic Research Society, ele já tinha sido utilizado em 1857 por Wojciech Jastrzebowski no artigo “Ensaios de Ergonomia ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”. Mas afinal: o que é ergonomia? É o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Mesmo que sua difusão cien- tífica tenha se dado apenas a partir da década de 1950, na prática, é possível aferir que desde a pré-história ela já era praticada, quando, por exemplo, o homem escolhia uma pedra de formato que melhor se adaptasse aos movimentos da sua mão para utilizar como arma. A importância de adaptar as tarefas às necessidades humanas também esteve presente na era da produção arte- sanal e acentuou-se com a Revolução Industrial. As primeiras fábricas construídas naquela época eram sujas, escuras, barulhentas, perigosas, com jornadas de trabalho que chegavam a 16 ou 18 horas por dia. É Taylor, no final do século XIX, quem começa estudos sistemáticos sobre o trabalho, gerando o movimento da administração científica conhecido como Taylorismo. Para saber mais sobre o Taylorismo, consulteMAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Adminis- tração: da Revolução Urbana à Revolução Industrial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. De acordo com Iida (2005), por volta de 1900 começam a surgir na Europa pesquisas na área de fisiologia do tra- balho. A primeira e segunda guerras mundiais também contribuíram com elementos para o desenvolvimento de pesquisas com fadiga e fatores humanos. No que diz respeito à conceituação em si, existem diversas definições na literatura para o termo. Se pegarmos as principais associações nacionais e internacionais, encontramos as seguintes definições: • Ergonomics Society: “Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipa- mento, ambiente e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia nas soluções dos problemas que surgem desse relacionamento”. • International Ergonomics Association: “Ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina científica que estuda a interação entre os seres humanos e outros elementos do sistema, e a profissão que aplica teo- rias, princípios, dados e métodos a projetos que visam otimizar o bem-estar humano e o desempenho global de sistemas”. 113 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia • Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO): “Entende-se por ergonomia o estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos que visem melhorar, de forma integrada e não dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das atividades humanas”. Figura 7.1 - Posturas incorreta e correta no ambiente de trabalho. Fonte: 123RF. São os ergonomistas que realizam o planejamento, o projeto e a avaliação de tarefas, os postos de trabalho, os produtos ambientes e sistemas, adaptando-os às necessidades, habilidades e limitações das pessoas. Há três áreas principais de estudo da ergonomia (IIDA, 2005): • Ergonomia física: trata das características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecâ- nica relacionadas com a atividade física. Estuda a postura no trabalho, o manuseio de materiais, os movi- mentos repetitivos, o projeto de postos de trabalho, segurança e saúde do trabalhador. Figura 7.2 - Manuseio de materiais. Fonte: 123RF. 114 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia • Ergonomia cognitiva: trabalha os processos mentais, como a percepção, a memória, o raciocínio e a res- posta motora com a interação entre as pessoas e os outros elementos do sistema. Os fatores trabalhados são a carga mental, a tomada de decisões, a interação homem-computador, o estresse e o treinamento. Figura 7.3 - Interação homem-computador. Fonte: 123RF. • Ergonomia organizacional: trabalha com os sistemas sociotécnicos, abrangendo as estruturas orga- nizacionais, políticas e processos. É preocupação desta linha as comunicações, o projeto de trabalho, a programação do trabalho em grupo, a cultura organizacional, a gestão da qualidade etc. Figura 7.4 - Comunicações organizacionais. Fonte: 123RF. A ergonomia, então, estuda as interações que ocorrem com o homem, a máquina e o ambiente durante a reali- zação do trabalho, tanto no que diz respeito às condições prévias quanto suas consequências. Não há no Brasil cursos superiores específicos de formação em ergonomia, mas é possível encontrar diversos cursos de pós-graduação na área. 115 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia Mesmo que não haja um setor específico na empresa voltado à ergonomia, vários profissionais podem auxiliar em seus estudos, fornecendo conhecimentos úteis que poderão auxiliar na resolução de problemas ergonômicos. Como exemplos, podemos citar: • Médicos do trabalho: identificam locais onde acidentes ou doenças ocupacionais são mais propícios e realizam acompanhamentos de saúde dos colaboradores; • Engenheiros de projeto: auxiliam nos aspectos técnicos em relação a máquinas e ao ambiente de traba- lho; • Engenheiros de produção: auxiliam na organização do trabalho, promovendo um fluxo racional de mate- riais e postos de trabalho sem sobrecarga; • Engenheiros de segurança e manutenção: identificam áreas e máquinas potencialmente perigosas que precisam de modificações; • Desenhistas industriais: auxiliam na adaptação de projetos de postos de trabalho, sistemas de comuni- cação, máquinas e equipamentos; • Analistas do trabalho: auxiliam no estudo de métodos, tempo e postos de trabalho; • Psicólogos: analisam processos cognitivos, relacionamentos humanos, seleção e treinamento de pessoal; • Enfermeiros e fisioterapeutas: auxiliam na recuperação de trabalhadores com dores ou lesões e traba- lham também com a prevenção; • Programadores de produção: contribuem para a criação de um fluxo de trabalho ideal, evitando atrasos, estresses e sobrecargas; • Administradores: contribuem com diversos conhecimentos relacionados a planejamento, organização, coordenação, comando e controle. É importante que haja uma interdisciplinaridade para que todas as necessidades sejam atendidas da melhor forma possível pelo responsável competente. Outro aspecto essencial é o apoio da alta administração, como já vimos anteriormente. A intervenção da ergonomia pode se dar das seguintes formas: • Ergonomia de concepção: se dá antes da estruturação de um trabalho. A contribuição é feita durante o projeto do produto, da máquina, do ambiente ou do sistema. Ou seja, a metodologia de análise ergonô- mica tem um papel preventivo. • Ergonomia de correção: é aplicada em situações reais já existentes, ou seja, uma vez já existindo a situ- ação e esta não estando em adequação do trabalho ao homem, procura-se solucionar ou pelo menos minimizar os problemas encontrados. Procura resolver, por exemplo, problemas de segurança, fadiga excessiva, doenças do trabalhador, quantidade e qualidade de produção. • Ergonomia de conscientização: procura capacitar os próprios trabalhadores para a identificação e cor- reção dos problemas do dia a dia ou para os emergenciais, ou seja, caracteriza-se pela atuação proativa dos próprios trabalhadores como agentes de mudança e melhoria da qualidade de vida no trabalho. • Ergonomia de participação: envolve o próprio usuário do sistema na solução dos problemas ergonômi- cos. Pressupõe-se que o trabalhador possui um conhecimento prático que pode não ser percebido pelo projetista e que venha contribuir para melhor encontrar uma solução para o problema detectado. 116 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia A figura a seguir demonstra esses estágios: Figura 7.5 - Ocasiões da contribuição ergonômica. Concepção Correção Conscientização Participação Retroalimentações Fonte: Adaptada de Iida (2005). E no seu local de trabalho, como funciona a ergonomia? Existe algum projeto ergonômico estruturado? De que forma você pode contribuir com esses conhecimentos no seu dia a dia laboral? Percebemos, no decorrer do texto, que a ergonomia deve ser aplicada desde as etapas iniciais do projeto de uma máquina, um sistema, um ambiente ou um local de trabalho como forma preventiva e também visando medidas corretivas que sejam necessárias para preservar a saúde e segurança do trabalhador. O estudo ergonômico exige também que se tenha conhecimento de características de trabalho de homem e mulher, pessoas idosas e porta- dores de necessidades especiais, para garantir a adequação a essas realidades. 7.2 Fatores humanos no trabalho As características do organismo humano podem influenciar no desempenho do trabalho? Há profissões que exi- gem características diferentes para homens e mulheres? Ou mesmo que limite idade, peso, altura, deficiências físicas ou cognitivas? Como se comporta o organismo humano ao se adaptar a uma novarealidade de trabalho? A monotonia, fadiga e motivação vão interessar na análise de um estudo ergonômico? Vamos perceber durante a disciplina que todos esses fatores se relacionam com saúde e segurança do trabalha- dor. 117 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia Em trabalho desenvolvido por Brand (2014) na Polícia Militar de Santa Catarina intitulado: “O Processo de Formação Identitária e a Incorporação, Inculcação e Encarnação do Habitus Militar: um Estudo Etnográfico na PMSC”, é possível perceber como determinadas caracte- rísticas dos fatores humanos se relacionam com adaptação a uma nova realidade de traba- lho. Confira a tese no link: <http://tede.ufsc.br/teses/PPSI0623-T.pdf>. Vamos ver agora como essas características relacionam-se no contexto do trabalho. As funções fisiológicas apresentam oscilação 24 horas por dia. O chamado ritmo circadiano (derivado do latim circa dies – cerca de um dia), comandado pela presença da luz solar, pode nos mostrar algumas características fisiológicas do ser humano. O rim, por exemplo, produz mais urina durante o dia, e sua composição noturna é diferente da diurna. A temperatura interna do corpo também sofre variações de 1,1 a 1,2 ºC durante o dia, podendo variar em seu estado normal de 36,2 a 37,4 ºC. Apesar das particularidades que podem ocorrer de indi- víduo para indivíduo, por volta de 8 horas da manhã ela começa subir e mantém-se mais elevada até cerca das 22 horas, quando volta a cair. Atinge a mínima entre 2 e 4 horas da madrugada. Figura 7.6 - Variação de temperatura. Fonte: 123RF. No entanto, conforme afirma Iida (2005), o ritmo circadiano se mantém praticamente inalterado em trabalhado- res que trabalham à noite e dormem durante o dia, sofrendo pequenas alterações que podem levar cerca de duas horas para ocorrer. Mas o que tudo isso tem a ver com o ambiente de trabalho? Segundo o autor, existem pesquisas que comprovam a influência do ritmo circadiano no nível de alerta e desem- penho do trabalho: há grandes variações individuais entre os que se classificam como matutinos e vespertinos. 118 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia Os matutinos são as pessoas que acordam de manhã com mais facilidade, tem mais disposição neste período do dia e costumam dormir cedo. Já os vespertinos são mais ativos à tarde e no início da noite. A temperatura corporal sobe mais lentamente, sendo que a máxima encontra seu auge por volta das 18 horas. Essas pessoas são mais adaptáveis ao trabalho noturno e menos dispostas na parte da manhã. Figura 7.7 - Indivíduo considerado vespertino trabalhando de manhã. Fonte: 123RF. Figura 7.8 - Indivíduos considerados matutinos trabalhando de manhã. Fonte: 123RF. Você conhece bem seu organismo? Ele funciona melhor na parte da manhã, tarde ou noite? Como é seu ritmo de trabalho comparado ao período do dia em que se encontra? 119 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia Conhecendo esses aspectos, é possível desenvolver políticas dentro da empresa que façam com que o funcioná- rio desempenhe melhor suas atividades mais importantes em determinados horários. A literatura nos traz que os casos extremos de indivíduos tipicamente matutinos ou vespertinos são minoria. No geral, a população distribui-se em níveis intermediários com diversas possibilidades de tendências entre os dois extremos. Em um estudo realizado em uma usina sueca de gás que funciona 24 horas por dia, foram registrados diariamente durante 19 anos os erros cometidos pelos controladores. Em 175 mil visualizações realizadas, foram detectados 75 mil erros, os quais, em sua maioria, ocorriam em dois horários principais: entre 12 e 14 horas e entre 2 e 4 horas da manhã. O estudo apresenta duas observações fundamentais: 1. O horário entre 12 e 14 horas se explica pela digestão, logo após o almoço. 2. O horário entre 2 e 4 horas da manhã é explicado por meio do ciclo circadiano, ou seja, período no qual o organismo apresenta os menores índices fisiológicos e está menos apto para o trabalho. Vamos parar para pensar e refletir sobre determinadas profissões? Como você acha que fica o organismo de um trabalhador que inverte a ordem natural do corpo e trabalha à noite e dorme durante o dia? Como pode ser o desempenho de profissionais, como médicos ou enfermeiros, que lidam com vida de pacientes e muitas vezes têm que trabalhar em horá- rios que não são o período que estão mais aptos ao trabalho? E se pensarmos em pilotos e comissários de bordo, que fazem voos internacionais semanalmente e cada semana estão em um fuso horário diferente? Como fica a saúde desses profissionais? Qual o papel da empresa neste contexto? Esses fatores devem ser levados em consideração, na sua opinião? A alimentação e o ritmo biológico são outros fatores a serem levados em consideração. Com a ingestão de refei- ções “pesadas”, por exemplo, haverá uma sobrecarga dos órgãos digestivos e consequentemente um amorte- cimento na vigília, apresentando índices fisiológicos mais baixos. Este fato pode deixar o indivíduo menos apto ao trabalho nesse período de digestão, o que poderia ocasionar erros ou acidentes de trabalho em tarefas que demandam mais atenção e reflexo. No seu dia a dia no trabalho, se você almoça e já volta logo a trabalhar sem considerar o período de descanso, você rende menos do que normalmente renderia? Ou não há diferença do rendi- mento? E se você come uma comida mais “pesada”, há influência em seu rendimento laboral? 120 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia Figura 7.9 - Almoço pesado no horário de trabalho. Fonte: 123RF. De acordo com Iida (2005), uma pesquisa realizada com 500 caminhoneiros que não tinham horários de traba- lho determinados demonstrou que o momento do dia que eles sentiam mais sono ao volante estava entre 12 e 14 horas e entre 24 e 4 horas: o primeiro em decorrência principalmente de almoçarem, geralmente, refeições reforçadas e pegarem estrada logo em seguida. O segundo, devido ao ciclo circadiano, conforme já abordado. Você já ouviu falar sobre o “relógio biológico”? Pois é, ele existe! Para controlar suas funções vitais, o organismo humano possui dois deles, que são ajustados pela luz solar e duram o ciclo de 24 horas: um deles controla os períodos de sono e da vigília, e o outro as funções fisiológicas, como a temperatura corporal e os batimentos cardíacos. Em condições normais, há uma sincronia entre esses dois relógios. No entanto, pode haver uma perturbação no sincronismo deles. Se o indivíduo trabalha à noite, por exemplo, um dos relógios vai dizer: ‘está na hora de dormir’ e então baixa o ritmo dos níveis fisiológicos. Porém, o outro irá falar: ‘está na hora de trabalhar, e não de dormir’. Desta forma, haverá um conflito entre eles, e o organismo tentará compensar. A adaptação, apesar de não ocorrer de forma completa, tendo em vista que não é o ciclo natural do organismo, pode levar cerca de duas semanas. Neste caso, novamente nos perguntamos: como fica o organismo e rendimento de um profissional que não tem um horário fixo estabelecido e às vezes trabalha de dia, às vezes à noite, em outras conta com o fuso horário? 121 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia Figura 7.10 - Relógio biológico. Fonte: 123RF. O sono é fundamental para recuperar as capacidades físicas e mentais do indivíduo. A fadiga mental, assim como a física, pode gerar irritação, diminuição do ritmo de trabalho, desatenção, baixa na qualidade do serviço pres- tado, falta de concentração e, principalmente, causar acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais. Para se prevenir desses efeitos, os programas de SMHT são fundamentais, conforme abordamos na Unidade 5. Mas afinal,o que é fadiga? Você sente fadiga constantemente? Ela está relacionada ao seu ambiente de traba- lho? Se a resposta for sim, alguma coisa está errada e precisa de atenção. A fadiga é causada por um conjunto complexo de fatores com efeitos acumulativos. A realização de um trabalho continuado, sem a observância das normas relativas à segurança e saúde desse trabalhador, pode gerar redução da capacidade do organismo e, consequentemente, diminuição da qualidade do trabalho. Fatores fisiológicos (intensidade e duração do trabalho físico e mental, por exemplo), psicológicos (como monotonia, falta de moti- vação), ambientais (tais como iluminação, ruídos e temperaturas) e sociais (relacionamento social com a chefia e colegas de trabalho, entre outros) podem ocasionar a fadiga e trazer sérias consequências. Imagine, por exemplo, um médico cirurgião altamente fatigado, durante uma cirurgia, ou um motorista de ônibus no meio de sua via- gem e sem local previsto para parada nas próximas horas. O que pode ocasionar a fadiga? O trabalhador fatigado terá o seu padrão de desempenho diminuído, mesmo achando que está dando o seu melhor. A tendência é haver menos precisão na tarefa executada, o que pode ocasionar erros e acidentes. A força, a velocidade e a precisão nos movimentos tendem a diminuir, por exemplo. Com o tempo, ele poderá sentir úlce- ras, doenças mentais e cardíacas. 122 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia Figura 7.11 - Trabalhador com sinais de fadiga. Fonte: 123RF. Para evitar que a fadiga ocorra ou aumente sua intensidade, pausas no trabalho durante a rotina diária são essenciais, principalmente em trabalhos que exigem atividade física pesada, esforço mental exagerado, ambien- tes desfavoráveis com altas temperaturas ou excesso de ruídos. É possível o funcionário entregar um trabalho de qualidade sem ter as mínimas condições de segurança e saúde? Você já ouviu falar de empresas que exigem que seu funcionário use fraldas para evitar idas ao banheiro e com isso não parar a produção? Você acha isso correto? Você acredita que desta forma realmente a produtividade será maior? Podemos destacar também outro fator que vale ser observado: a monotonia. A monotonia é a reação do orga- nismo a um ambiente uniforme, pouco excitante e pobre de estímulos. Algumas de suas consequências podem ser: sonolência, sensação de fadiga, morosidade, diminuição da vigilância e aumento do tempo de reação. Atividades prolongadas e repetitivas, com pouca dificuldade tendem a gerar monotonia, assim como tráfico roti- neiro, professor ou palestrante com tom de voz e intensidade constante, dentre outros. É possível observarmos, ainda, aspectos relacionados a características femininas no trabalho, ao processo de envelhecimento e características de pessoas portadoras de deficiência. 123 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia Você acredita que haja diferença em atividades de trabalho desenvolvidas por homens e por mulheres? Há atividades laborais tipicamente femininas ou tipicamente masculinas? Você teria algum problema, por exemplo, em pegar algum voo pilotado somente por mulheres? Em relação à idade, há alguma restrição em tarefas a serem desempenhadas? E quanto aos portadores de necessidades especiais? Por muito tempo as mulheres ficaram restritas a serviços do lar, dedicando-se aos serviços domésticos, aos filhos, ao marido. No entanto, com o tempo, elas foram ganhando espaço e conquistando seu lugar no mercado de trabalho. Sabemos que a capacidade intelectual não a diferencia em nada do homem, mas será que não existem diferenças físicas e metabólicas naturais que necessitem de atenção especial, quando determinadas atividades são desenvolvidas por mulheres? Figura 7.12 - Mulher caminhoneira. Fonte: 123RF. Já o processo de envelhecimento provoca algumas degradações no organismo. Apesar de toda tecnologia que há hoje em dia, o cansaço aumenta, a capacidade cognitiva diminui, a visão e a audição também ficam debilitadas. A idade média da população mundial tende a aumentar, mas que consequências isso pode acarretar ao mundo do trabalho? Se compararmos, por exemplo, a profissão de bombeiro: será que alguém com 60 anos tem a mesma condição física e mental de atender uma ocorrência do que um jovem de 20 anos? Talvez a sua experiência se sobressaia em algum aspecto, mas certamente o vigor e o preparo físico do jovem de 20 anos serão maiores. Vale ressaltar que, embora possa encontrar algumas limitações, os idosos não são incapazes para o trabalho, porém se deve observar que há atividades mais adequadas às suas capacidades físicas e outras nas quais sua experiência e maturidade podem ser mais aproveitadas. 124 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 7 – Ergonomia Figura 7.13 - Idoso trabalhando. Fonte: 123RF. Em relação aos portadores de necessidades especiais, observamos que há discriminação em muitas áreas, no entanto isso vem evoluindo com o passar dos anos. A Lei n º 8.213, de 24 de julho de 1991, por exemplo, esta- belece que é obrigatório para empresas acima de 100 funcionários a contratação de pelo menos 2% de pessoas com necessidades especiais – as quais, assim como os idosos, têm especificidades físicas e/ou cognitivas que exigem certa atenção e melhor enquadramento na definição laboral. Figura 7.14 - Profissional portador de necessidades especiais. Fonte: 123RF. Percebemos, então, que os postos de trabalho devem ser adaptados à necessidade de cada realidade. Há idosos desempenhando tal atividade? Há pessoas portadoras de necessidades especiais? Toda essa atenção fará total diferença na manutenção da saúde e segurança dos trabalhadores. 125 Considerações finais Chegamos ao fim da nossa sétima unidade, na qual aprendemos o con- ceito de ergonomia e abordamos assuntos relacionados aos fatores humanos no trabalho. Vimos que a ergonomia é a disciplina que estuda a interação entre o homem e outros elementos do sistema, ou seja, é o estudo do relaciona- mento entre o homem e seu trabalho, equipamentos e ambiente. Aprendemos que há três áreas principais de estudo da ergonomia: física, cognitiva e organizacional. Vimos que quando não há um setor/profissio- nal específico na empresa para tratar da ergonomia, diversos profissionais podem auxiliar em seus estudos e em suas aplicações, como engenhei- ros, médicos do trabalho, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, dentre outros. Outro aspecto importante explanado foi a intervenção da ergonomia dada por meio de quatro formas: concepção, correção, conscientização e participação. Em relação aos fatores humanos, aprendemos que características do organismo humano podem influenciar no desempenho do trabalho. Lembre-se: a leitura é fundamental para aquisição e fixação do conheci- mento! Bons estudos e até a Unidade 8! Referências bibliográficas 126 IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. 2. ed. São Paulo: Edgar Blücher, 2005. 8 128 Unidade de Estudo 8 Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho Para iniciar seus estudos Na Unidade 7, abordamos o conceito de ergonomia e discutimos sobre fatores humanos que influenciam a atividade laboral e podem afetar a saúde e a segurança do trabalhador. Nesta unidade, vamos trabalhar a gestão em segurança e saúde no traba- lho respondendo às seguintes perguntas: qual é a responsabilidade jurí- dica, civil e criminal de empresários, prepostos e gestores? Quais são os documentos legais e obrigatórios a todas as empresas quando se trata de segurança e saúde no trabalho? O que é o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA)? E o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO)? Objetivos de Aprendizagem • Apresentar a responsabilidade jurídica, civil e criminal de empre-sários, prepostos e gestores. • Apreciar os documentos legais e obrigatórios a todas as empresas. • Conhecer o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). • Conhecer o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). 129 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho 8.1 Responsabilidade jurídica, civil e criminal de empresários, prepostos e gestores Cabe a toda e qualquer empresa preservar a saúde e integridade física e mental de seus trabalhadores e, para isso, há uma vasta legislação que lhes garantem seus direitos. A legislação trabalhista e as normas dos Códigos Civil e Penal auxiliam neste processo. Você, seja empregado ou empregador, sabe de todos os seus direitos e deveres em uma relação trabalhista? Reconhece como a legislação garante esses direitos e deveres? Figura 8.1 - A Lei. Fonte: 123RF. O art. 189 do Código Civil nos diz que “violado o direito, nasce para o titular a pretensão”, ou seja, a responsa- bilidade civil surge quando o gestor viola o direito do trabalhador, dando direito a este de requerer indenização. Portanto, caso o trabalhador seja lesado em sua saúde ou integridade física em função de causas relacionadas ao trabalho, terá direito de ser indenizado de acordo com o dano sofrido. Cabe ao juiz do trabalho apreciar e men- surar os parâmetros dessa indenização. Já o art. 927 do Código Civil estabelece que “aquele que, por ato ilícito [...], causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. O ato ilícito é descrito nos artigos 186 e 187: o art. 186 diz que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”; enquanto o art. 187 afirma que “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. Desta forma, caso o trabalhador adoeça ou seja vítima de um acidente de trabalho, ele pode requerer do empregador alguma indenização para reparar os males sofridos. Segundo o art. 944 do Código Civil, “a indenização mede-se pela extensão do dano”, ou seja, os custos com a indenização são proporcionais aos danos sofridos pelo trabalhador e, conforme afirmam Chirmici; Oliveira (2016), elas são extremamente dispendiosas para as empresas, podendo comprometer inclusive a atividade empresarial de menor porte. 130 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho Segundo os autores, o pagamento para vítima em dinheiro tem como objetivo amenizar o sofrimento de quem sofreu o dano e serve como medida repressiva para a empresa, para que o empregador não venha a cometer o mesmo erro, evitando com isso que fatos semelhantes sejam recorrentes no futuro. Asseveram, ainda, que o trabalhador poderia não sofrer acidentes ou contrair doenças ocupacionais se todas as medidas de segurança, controle e fiscalização das atividades por parte do empregador fossem feitas. O fatídico acidente que ocorreu com o avião da Chapecoense, ocasionando a morte de diver- sas pessoas, sejam elas jogadores, repórteres, piloto, comissários ou outros que se encontra- vam no voo, pode ser considerado um acidente de trabalho? O que você pensa sobre a inde- nização neste caso? Como mensurar o sofrimento e o dano causado aos que perderam a vida e aos que sofreram lesões permanentes, mas sobreviveram? Como mensurar o transtorno, tanto físico quanto psicológico, pelo qual passaram os sobreviventes? Ou as famílias dos que morreram? Em todo o acontecimento, houve imperícia ou negligência ou imprudên- cia? Qual a responsabilidade da companhia aérea? Qual a responsabilidade da Chapecoense enquanto empresa? E dos órgãos competentes que autorizaram a execução deste voo? Imperícia: que não possui perícia; sem competência nem habilidade; ausência de experiência; ausên- cia de experiência e de prática que são necessárias para o desenvolvimento de determinadas ativida- des, sendo que a falta destas responsabiliza o agente por possíveis prejuízos e/ou por ações ilegais. Fonte: DICIO. DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/impe- ricia/>. Negligência: falta de cuidado, de aplicação, de exatidão, de interesse, de atenção; em que há des- cuido, displicência, desatenção. Fonte: DICIO. DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/negligencia/>. Imprudência: sem prudência; ausência de cautela; ação que se opõe ao que é prudente; ação irres- ponsável; falta de observação àquilo que poderia evitar um mal. Fonte: DICIO. DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/imprudencia/>. Glossário 131 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho Figura 8.2 - Queda do avião: acidente de trabalho? Fonte: 123RF. O parágrafo único do art. 944 do Código Civil diz que “se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização”. Além desses, é possível observar outros dispositivos legais que tratam a respeito do assunto. A Lei nº 8.213/1991 da Previdência Social, em seu art. 19, que trata sobre acidente de trabalho, nos diz em seus parágrafos o seguinte: § 1º A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador. § 2º Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho. § 3º É dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre os riscos da operação a exe- cutar e do produto a manipular. Já seu art. 120 informa que em casos de negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene do trabalho indicados para a proteção individual e coletiva, será proposta pela Previdência Social ação regressiva contra os responsáveis. Ainda nesta lei, no art. 121, é dito que o pagamento das prestações por acidente do trabalho efetuado pela Pre- vidência Social não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de outrem. 132 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho Além dos responsáveis legais pela empresa, seus administradores e prepostos também podem ser responsabi- lizados civilmente dependendo do fato ocorrido. Segundo o art. 1016 do Código Civil, “administradores respon- dem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções”. Preposto: sujeito designado pelo responsável para administrar uma empresa; indivíduo que representa alguém em seu lugar. Fonte: DICIO. DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Dispo- nível em: <https://www.dicio.com.br/preposto/>. Glossário Encontramos na NR 1, conforme visto na Unidade 4, que, dentre outros deveres, cabe ao empregador cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina no trabalho, informar aos trabalhadores os riscos profissionais que podem haver nos locais de trabalho e os meios de prevenir e limitar tais riscos. Versa, ainda, que o não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho ocasionará ao empregador a aplicação das penalidades previstas na legislação pertinente. A Constituição Federal, em seu art. 7°, apresenta também alguns direitos dos trabalhadores, sejam eles urbanos ou rurais, dentre os quais destacam-se os itens XXII e XXVIII: o item XXII versa que o trabalhador tem direito à “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”, e o item XXVIII aduz que o trabalhador tem direito ao “seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador,sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa”. Ou seja, caso o empregador, ou seus prepostos, não zele pela saúde e segurança do trabalhador, ele está suscetível às penalidades previstas em lei. Diante destes artigos, é possível afirmarmos que há responsabilidade civil por parte da empresa e gestores acerca da preservação da segurança e saúde do trabalhador. Figura 8.3 - Pagamento pecuniário de indenização. Fonte: 123RF. 133 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho No entanto, além da responsabilidade civil, pode ocorrer também a responsabilidade criminal. Esta surge a partir do cometimento de um fato considerado como crime por lei. Segundo Chirmici; Oliveira (2016), nas relações trabalhistas, geralmente, os crimes mais comuns imputados aos gestores são: homicídio culposo, lesão corporal culposa e perigo para a vida ou saúde de outrem. No homicídio culposo, o agente pratica a conduta, mas não tem a vontade de cometê-la, ou seja, não tem a intenção de gerar determinado desdobramento. A culpa por esse resultado não desejado por parte do gestor ou empresário pode ocorrer por negligência, impru- dência ou imperícia: • No caso de culpa por negligência, o crime ocorre por falta de cuidado, desatenção, desídia ou falta de zelo do agente. Por exemplo: o motorista do carro que não confere ou não revisa regularmente os freios do veículo e se envolve em um acidente por conta de falha no sistema de freios terá agido com negligência. • Já a culpa por imprudência se dá pela conduta ativa do agente que assume determinado comportamento sem cautela, de maneira precipitada, extrapolando os limites de segurança. Se, por exemplo, o motorista conduz o veículo acima da velocidade permitida na via e causa um acidente, ele está sendo imprudente. • A culpa por imperícia, por sua vez, resulta da falta de habilidade específica para praticar o ato. Relaciona- -se com a capacitação do agente. Se, por exemplo, um médico clínico geral resolve realizar uma cirurgia de transplante de coração, sem ter a especialidade técnica para isso, e o paciente vem a óbito, então o profissional responderá criminalmente por isso. Em relação à responsabilidade criminal pela não observância da segurança e saúde no trabalho na empresa, há previsões legais no Código Penal. O homicídio culposo, no § 3° do art. 121 do Código Penal, que trata sobre matar alguém, prevê pena de detenção de um a três anos. Porém seu § 4° aduz que a pena é aumentada em 1/3 (um terço) se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Desta forma, nas relações trabalhistas nas quais o trabalhador sofre um acidente fatal, o empresário, preposto ou gestor, pode responder por homicídio culposo, com aumento de pena, no pressuposto que se houvesse agido com zelo, adotando todas as precauções técnicas, administrativas e operacionais, o acidente fatal poderia ter sido evitado. Vale ressaltar que é fundamental que se evidencie, clara e objetivamente, a culpa do agente. De acordo com Chirmici; Oliveira (2016), no caso de homicídio culposo por negligência, imprudência ou imperí- cia, o inquérito policial será obrigatoriamente instaurado, com posterior processo criminal, pois o Estado tem o interesse de reprimir o evento homicídio, o que já não ocorre no crime de lesão corporal, no qual o autor só será processado se assim a vítima quiser. 134 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho A lesão corporal, prevista no art. 129 do Código Penal, prevê que é crime ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem, e a pena de detenção vai de três meses a um ano. Caso seja culposa, conforme o § 6°, a pena de detenção vai de dois meses a um ano. No entanto, o § 7° diz que a pena pode ser aumentada em 1/3 (um terço) caso o crime resulte da inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício (§ 4° do art. 121). Teoricamente, todo acidente de trabalho poderia resultar em um processo criminal, tendo em vista ocorrer uma lesão, seja ela mais leve ou grave. No entanto, na prática não é o que ocorre. Por que será que o número de casos de processos criminais decorrentes de acidentes de trabalho não é maior? O que se observa na prática é que, se o acidente não resultar em morte, no qual o Estado obrigatoriamente ins- taura inquérito policial, o processo por lesão corporal só ocorre se a vítima prestar queixa. Independentemente da vontade do Estado, a vítima (no caso, o trabalhador) tem que desejar processar criminalmente aquele que, com culpa, concorreu para que o acidente ocorresse. Na maioria dos casos, o trabalhador acaba processando somente na área civil para obtenção de indenização pecuniária por parte da empresa. Quando a lesão é de menor gravidade, geralmente nem se vislumbra tal processo, uma vez que o trabalhador não deseja se indispor com o empregador. Figura 8.4 - Detenção do empresário, preposto ou gestor. Fonte: 123RF. 135 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho Consta ainda no Código Penal, em seu art. 132, que “é crime expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente, com pena de detenção de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave”. Por meio deste artigo, é possível percebermos que o simples fato de haver perigo direto e iminente à vida ou à saúde do trabalhador já se configura crime, não sendo necessário que haja qualquer lesão. Se observarmos as situações nas quais o trabalhador é exposto a algum risco sem a devida observância por parte do empregador, preposto ou gestor, o número de processos criminais desta natureza poderia ser mais volumoso. No entanto, conforme demonstram Chimirci; Oliveira (2016), este dispositivo legal acaba sendo pouco utilizado em função, muitas vezes, do desconhecimento da lei por parte do trabalhador ou por não querer se hostilizar com seu patrão. Cabem aos empregadores, prepostos e gestores terem a consciência de que o simples fato de expor o trabalha- dor a qualquer situação de perigo iminente constitui crime, sendo passível de pena. 8.2 Documentos legais e obrigatórios a todas as empresas Há determinados documentos em relação à área de segurança e saúde no trabalho que são importantes, os quais podem ser fiscalizados pelos agentes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e devem estar sempre disponíveis e atualizados. São eles: • Ordem de serviço: prevista na NR 1, deve ser elaborada pelo empregador e apresentada aos empregados antes de iniciarem suas atividades na empresa. A NR 1 estabelece que o empregador deve elaborá-la a respeito da segurança e saúde no trabalho, dando ciência aos empregados por comunicados e informá- -los sobre os riscos profissionais que podem se originar nos locais de trabalho e os meios para limitá-los, bem como as medidas adotadas pela empresa. Ou seja, é importante que a ordem de serviço contenha todas as informações necessárias sobre os riscos que o trabalhador poderá se expor na execução de suas atividades, esclarecendo e determinando quais as condutas e equipamentos de proteção deverão ser obrigatoriamente utilizados por ele. Chimirci; Oliveira (2016) recomendam que o protocolo de ciência do funcionário seja arquivado, bem como seu prontuário no departamento de Recursos Humanos. • Ficha de entrega de EPI: é o documento assinado pelo empregado que comprova o recebimento dos EPIs necessários à realização de suas atividades como forma de protegê-lo dos riscos existentes e que não podem ser eliminados. Além disso, indica quais equipamentos devem ser trocadose os prazos para essa ação. • Lista de presença em treinamentos de segurança: resguarda o empregador de ter cumprido sua obri- gação de dar aos trabalhadores os conhecimentos necessários para entender os riscos aos quais serão expostos no ambiente de trabalho e como preveni-los. Como forma de comprovação, Chimirci; Oliveira (2016) sugerem que a lista assinada e arquivada com os demais documentos na pasta do funcionário contenha a qualificação, a carga horária do treinamento, a descrição do conteúdo apresentado durante o curso, o nome e a qualificação dos instrutores. 136 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho • Mapa de riscos: previsto na NR 5, é o resultado do levantamento dos riscos inerentes ou decorrentes das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores. A segurança e saúde no trabalho divide os riscos em cores diferentes para a confecção do mapa. Cada cor representa o risco existente em cada setor da empresa, e este mapeamento é elaborado pela CIPA e pelo SESMT. O registro desse levantamento de risco deve ser feito e geralmente é documentado de forma escrita, por meio de planilha ou de maneira gráfica. O Qua- dro 8.1 a seguir demonstra a classificação de cores para a sua confecção. Quadro 8.1: Classificação de cores para a confecção do mapa de risco. GRUPO 1 VERDE RISCOS FÍSICOS GRUPO 2 VERMELHO RISCOS QUÍMICOS GRUPO 3 MARROM RISCOS BIOLÓGICOS GRUPO 4 AMARELO RISCOS ERGONÔMICOS GRUPO 5 AZUL RISCOS DE ACIDENTES Ruído Poeiras Vírus Esforço físico Arranjo físico inadequado Vibrações Fumos Bactérias Levantamento de peso Máquinas e equipamentos sem proteção Radiações ionizantes Neblinas Protozoários Transporte manual de materiais Ferramentas inadequadas Radiações não ionizantes Névoas Fungos Controle rígido de produtividade Iluminação inadequada Frio Vapores Parasitas Trabalhos em turnos Eletricidade Calor Gases Bacilos Jornada de trabalho prolongada Incêndio e/ou explosão Pressões anormais Ingestão de produtos durante pipetagem - Monotonia e repetitividade Armazenamento inadequado Umidade - - Situações causadoras de estresse físico e/ou psíquico Animais peçonhentos Fonte: Adaptado de Chirmici; Oliveira (2016). 137 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho As Figuras 8.5 e 8.6 a seguir demonstram, respectivamente, um exemplo da representação em forma de planilha e a representação de forma gráfica do mapa de riscos. Figura 8.5 - Exemplo de mapa de riscos representado por planilha. Fonte: Adaptada de Chirmici; Oliveira (2016). 138 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho Figura 8.6 - Exemplo de mapa de riscos representado por gráfico. Fonte: Elaborado pela autora (2017). Cabe salientar que a diferença no tamanho das formas serve para expressar a intensidade do risco, que pode ser leve, médio e elevado, do menor para o maior, respectivamente. A empresa que você trabalha tem um mapa de riscos? Você consegue estabelecer uma rela- ção com o que há na sua empresa e com o que foi aprendido até aqui? Caso sua empresa não possua um mapa de riscos já estabelecido, que tal elaborar um você mesmo? Para finalizarmos, vamos falar do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e do Programa de Con- trole Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO). 139 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho 8.2.1 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) É o documento que formaliza todas as ações desenvolvidas pela empresa no que diz respeito aos riscos ambien- tais presentes no trabalho, ou seja, os riscos ocupacionais (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016). Conforme vimos na Unidade 4, a NR 9 estabelece que todos os empregadores devem obrigatoriamente elaborá- -lo e implementá-lo como forma de preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, por meio da ante- cipação, reconhecimento, avaliação e controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho. A NR estabelece que pelo menos uma vez por ano ou sempre que for necessário deverá ser feita uma análise global do PPRA, para avaliar seu desenvolvimento, realizar ajustes e estabelecer novas metas e prioridades. Apre- senta, ainda, que ele deverá estar descrito em um documento base contendo: planejamento anual com estabe- lecimento de metas, prioridades e cronograma; estratégia e metodologia de ação; forma do registro, manuten- ção e divulgação dos dados; periodicidade e forma de avaliação do seu desenvolvimento. Sua elaboração, implementação, acompanhamento e avaliação poderão ser desenvolvidos pelo SESMT ou pela equipe competente designada pelo empregador que esteja apta a desenvolver o que a NR exige. Quando existe a CIPA na empresa, o documento base e as suas alterações e complementações são apresentados e discutidos nesta comissão, sendo anexada uma cópia ao livro de atas. O item 9.3.1 da NR 9 estabelece que ele deverá incluir as seguintes etapas: a) Antecipação e reconhecimentos dos riscos; b) Estabelecimento de prioridades e metas de avaliação e controle; c) Avaliação dos riscos e da exposição dos trabalhadores; d) Implantação de medidas de controle e avaliação de sua eficácia; e) Monitoramento da exposição aos riscos; f) Registro e divulgação dos dados. O Programa trabalha de forma preventiva e, visando identificar os riscos potenciais e introduzir medidas de pro- teção para sua redução, eliminação ou antecipação, previstas no item 9.3.1, envolve a análise de projetos de novas instalações, métodos ou processos de trabalho ou modificação dos já existentes. Quando aplicáveis, a norma estabelece que o reconhecimento de riscos ambientais deverá conter: a) a sua identificação; b) a determinação e localização das possíveis fontes geradoras; c) a identificação das possíveis trajetórias e dos meios de propagação dos agentes no ambiente de trabalho; d) a identificação das funções e determinação do número de trabalhadores expostos; e) a caracterização das atividades e do tipo da exposição; f) a obtenção de dados existentes na empresa, indicativos de possível comprometimento da saúde decorrente do trabalho; g) os possíveis danos à saúde relacionados aos riscos identificados, disponíveis na literatura técnica; h) a descrição das medidas de controle já existentes. 140 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho Sempre que necessário, segundo a norma, deverá ser feita uma avaliação quantitativa no intuito de comprovar o controle da exposição ou a inexistência de riscos identificados na etapa de reconhecimento, dimensionar a exposição dos trabalhadores e dar subsídios para elaboração das medidas de controle. Estabelece, ainda, que devem ser adotadas medidas de controle para a eliminação, a minimização ou o controle dos riscos ambientais quando for identificado risco potencial ou evidente à saúde. Essas medidas devem ser adotadas também quando for identificado, por meio do controle médico da saúde, o nexo causal entre danos observados na saúde dos trabalhadores e a situação de trabalho a que eles ficam expostos. Cabe ao empregador comunicar, de forma clara e objetiva, aos trabalhadores os riscos ambientais aos quais podem estar expostos nos locais de trabalho, bem como os meios disponíveis para preveni-los ou eliminá-los. Quando houver riscos ambientais nos locais de trabalho que coloquem os trabalhadores em situações de grave e iminente risco (fato este passível de ser punível civil e criminalmente conforme vimos anteriormente),o empre- gador deverá garantir que os trabalhadores possam interromper imediatamente suas atividades, comunicando um responsável ou superior hierárquico para que sejam tomadas as devidas providências. Figura 8.7 - “Pare”. Fonte: 123RF. Para aprofundar seus conhecimentos sobre o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, acesse a NR 9 disponível no link: <http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR9. pdf>. 141 Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional | Unidade de Estudo 8 – Gestão em Segurança e Saúde no Trabalho 8.2.2 Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO) Com o intuito da promoção e preservação da saúde dos trabalhadores, a NR 7, conforme estudamos na Unidade 4, torna obrigatórias por parte dos empregadores a elaboração e a implementação do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). Este Programa tem caráter preventivo, de rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho e da constatação da existência de casos de doenças profissionais ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores. O empregador deve elaborar, implementar e zelar pela eficácia do PCMSO, sendo que os custos com os procedi- mentos realizados pelos trabalhadores ficam a cargo da empresa, que deve indicar um médico do trabalho. Conforme vimos anteriormente, o PCMSO deve incluir a realização obrigatória dos exames médicos de admissão, de retorno ao trabalho, de mudança de função, periódicos e demissional. Segundo a NR 7, esses exames com- preendem avaliação clínica, abrangendo análise ocupacional, exame físico e mental e exames complementares, realizados de acordo com as necessidades específicas constantes na NR e em seus anexos. Para verificar os termos específicos da NR 7 e seus anexos, acesse: < http://trabalho.gov.br/ images/Documentos/SST/NR/NR7.pdf>. Por meio da avaliação cuidadosa do médico do trabalho, é possível, por exemplo, nos exames periódicos, iden- tificar de forma personalizada as consequências da exposição do trabalhador aos riscos ambientais existentes e, com isso, traçar estratégias que auxiliem na saúde e segurança do trabalhador. 142 Considerações finais Nesta unidade, identificamos a importância da gestão em segurança e saúde no trabalho. Apresentamos a responsabilidade jurídica, civil e cri- minal de empresários, prepostos e gestores, no que se refere à preserva- ção da saúde e integridade física e mental dos seus trabalhadores. Aprendemos que a não observância das normas de segurança estabeleci- das na legislação pode imputar penas pecuniárias e de detenção para os empresários, prepostos e gestores, conforme culpabilidade devidamente identificada e provada. Vimos que nas relações trabalhistas os crimes mais comuns são homicídio culposo (quando não há a intenção de matar), lesão corporal culposa e perigo para vida ou saúde de outrem, e que a culpa por esse resultado não desejado por parte do gestor ou empresário pode ocorrer por negligência, imprudência ou imperícia. Vimos também que, no caso de homicídio culposo, o inquérito policial é obrigatoriamente instaurado pelo Estado, porém, quando ocorre a lesão corporal, cabe à vítima iniciar o processo criminal. Explanamos, ainda, acerca de documentos importantes quando se fala em segurança e saúde no trabalho, tais como: ordem de serviço, ficha de entrega de EPI, lista de presença em treinamentos e mapa de riscos. Por fim, tratamos do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), explanando suas principais características. Referências bibliográficas 143 BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del- 2848compilado.htm>. Acesso em: 10 jan. 2017. ______. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10 jan. 2017. ______. Código Civil. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponí- vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 10 jan. 2017. CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. Introdução à Segurança e Saúde no Tra- balho. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. DICIO. DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Imperícia. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/impericia/>. ______. Imprudência. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/impru- dencia/>. ______. Negligência. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/negli- gencia/>. ______. Preposto. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/preposto/>. MINISTÉRIO DO TRABALHO. Normas Regulamentadoras. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/ normas-regulamentadoras>. Acesso em: 10 jan. 2017.