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Relação das minorias na GréciaAntiga

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“As minorias representativas na democracia clássica ateniense”
Caio Xavier Lopes.
A democracia, palavra originada do grego demokrátia, sendo demo= o povo e kratía= poder, ou seja, significa o poder na mão do povo, é um regime de governo em que todas as importantes decisões políticas estão nas mãos do povo, que elegem seus representantes por meio do voto. Uma das principais funções da democracia é a proteção dos direitos humanos fundamentais, como as liberdades de expressão, de religião, a proteção legal, e as oportunidades de participação na vida política, econômica, e cultural da sociedade. Os cidadãos têm os direitos expressos, e os deveres de participar no sistema político que vai proteger seus direitos e sua liberdade. Entretanto, o conceito de democracia que temos no mundo contemporâneo são bem distintos da democracia clássica. A democracia clássica se instaurou na Grécia Antiga – mais precisamente na cidade-estado de Atenas em 510 a.C., quando Clístenes liderou uma rebelião vitoriosa contra o último tirano que governou a cidade-estado. As reformas políticas adotadas por Clístenes visavam a resolver graves conflitos sociais decorrentes da estratificação social em Atenas.
É comum alguns cientistas realizarem inúmeros questionamentos e debates sobre esse regime, buscando entender melhor a origem, o conceito, as repercussões, as principais características etc. que ainda carecem de conclusões unânimes sobre fatos históricos. Verifica-se que a democracia ateniense enfrentou muitas crises, pois a participação popular não se embasou verdadeiramente no princípio da igualdade, pois somente algumas pessoas poderiam ser consideradas cidadãs, onde os direitos básicos não eram de fato para todos. Por outro lado, realmente é difícil destacar uma verdadeira democracia neste período, se for levado em conta que o regime começou em plena tirania aristocrata e desenvolveu-se em meio a guerras, ambições políticas e conflitos de classes sociais. 
Estimasse que apenas 10% da população de Atenas era considerada cidadã. Apenas filhos de pais e mães atenienses, acima de 18 (dezoito) anos eram considerados cidadãos. Estrangeiros (metecos) – mesmo que nascidos em Atenas. Mulheres e escravos não eram considerados cidadãos. Diante disso, podemos intuir que a democracia ateniense não era para todos os cidadãos sendo, portanto, limitada, excludente e elitista. 		
A “igualdade” ateniense reservava às mulheres um papel pouco democrático. A começar pela educação doméstica em que estavam inseridas, onde o patriarca da família decidia seu destino no momento em que escolhia seu marido, normalmente sem relações afetivas e mais pelo desejo de estar à família diante de um “bom negócio”. A jovem mulher era educada pelas mulheres mais velhas, mãe, avós e criadas, as quais lhe ensinavam a tecer e cozinhar; aprendia um pouco de música e também de leitura, que iriam ser fundamentais na vida que teriam de dedicação a futura família patriarcal.
 Quando Aristóteles escreve “Política” - a ciência da felicidade humana – tem como meta descobrir inicialmente a maneira de viver que leva à felicidade humana e, para tanto, dispõe da certeza de Hesíodo quando ele disse: “primeiro a casa, uma mulher e um boi no arado”, pois o boi é o escravo do pobre e a casa a comunidade das necessidades diárias onde a mulher realiza as tarefas, ou mesmo quando apóia suas idéias para governabilidade de uma cidade-estado nos dizeres de Homero: “(...) cada um dita a lei aos filhos e às esposas (...)”, e reafirma a posição da mulher ateniense quando observa que:
“(...) a moderação de uma mulher e a de um homem não são idênticas, nem sua coragem e sentimento de justiça, como pensava Sócrates; uma é a coragem de comando, a outra de obediência, e o mesmo acontecem com outras qualidades. “
Portanto, como podemos observar, o papel da mulher na sociedade ateniense era de puro adestramento; reservada aos afazeres domésticos e educada para ser dócil. Poucas diferenças em relação à mulher foram observadas nas camadas sociais que compunham a sociedade ateniense. Elas eram desprezadas pelos seus maridos, lhes restando apenas a função de procriar com o intuito de manter o patrimônio familiar, bem como a função de cuidar dos pais na velhice. Nas questões políticas, mesmo após a reforma, a mulher continuava sendo considerada inapta para tais assuntos. Mesmo com vida baseada na submissão ao marido não se tem relatos de insubordinação, a não ser o sentimento de resignação diante de tanto desprezo. “Mulheres não eram apenas consideradas desiguais. Acreditava-se que fossem demoníacas, possuídas por demônios, espíritos. Elas precisavam ser controladas, visivelmente restritas. ” (HUGHES, Bettany, Athens: The Truth about Democracy, 2007).	
Atenas, por sua riqueza e preponderância cultural, atraiu muitos metecos. Designação dada ao estrangeiro, geralmente oriundo do mundo grego, que residia na polis ateniense. Eles tinham o direito de exercer profissões como professores, artesoes, artistas, comerciantes. De fato, grande parcela da economia ateniense era realizada pelos metecos. “Eram responsáveis por boa parte do desenvolvimento e da prosperidade de Atenas. “ (FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2002. p. 25). ‘	 
Apesar de constituírem uma grande parcela da população, eles não tinham nenhum direito político e nem podiam se casar com os cidadãos de Atenas. Tinham também que pagar uma taxa (imposto de residência) para viverem em Atenas, como também tinham que pagar para poderem trabalhar. Podiam cumprir o serviço militar tal como os cidadãos e eram considerados homens livres. 
 Os estrangeiros não possuíam direitos a participar das relações políticas, mas tinham autorização para exercer diversas profissões e foram os grandes movimentadores das atividades econômicas, artesanais e comerciais que os cidadãos atenienses tendiam a menosprezar. “Vários estrangeiros se destacavam como artistas e intelectuais. Eram responsáveis por boa parte do desenvolvimento e da prosperidade de Atenas” (FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2002. p. 28). Apesar de não possuírem os mesmos direitos que os atenienses, os metecos eram assimilados pela população, gozando vários direitos – que eram negados as mulheres, por exemplo. Desde que não implicassem na participação política.
Os escravos constituíam praticamente metade da população da Ática. Eram na sua maioria, de origem estrangeira - prisioneiros de guerra ou adquiridos nos mercados da Ásia menor. A lei não lhes reconhecia personalidade civil, nem família e muito menos, o direito de possuir bens. Os escravos eram considerados como uma vulgar mercadoria e até equiparados a animais A mão-de-obra escrava era a base da economia da Grécia Antiga. 
Os trabalhos manuais, principalmente os pesados, eram rejeitados pelos cidadãos gregos. O grande filósofo grego Platão demonstrou esta visão: “É próprio de um homem bem-nascido desprezar o trabalho”. Logo, os cidadãos gregos valorizavam apenas as atividades intelectuais, artísticas e políticas. Os trabalhos nos campos, nas minas de minérios, nas olarias e na construção civil, por exemplo, eram executados por escravos.  A mão-de-obra escrava também era muito utilizada no meio doméstico. Eles faziam os serviços de limpeza, preparavam a alimentação e até cuidavam dos filhos de seu proprietário. Estes escravos que atuavam dentro do lar possuíam uma condição de vida muito melhor que os outros. 
Alguns escravos eram utilizados para formar as forças policiais da cidade de Atenas. Outros eram usualmente empregados em atividades artesanais e, por conta de suas habilidades técnicas, tinham uma posição social de destaque. Em certos casos, um escravo poderia ter uma fonte de renda própria e um dia poderia vir a comprar a sua própria liberdade. Em geral, os escravos que trabalhavam nos campos e nas minas tinham condições de vida piores se comparadas às dos escravos urbanos e domésticos. 
 Entretanto, perante tantas controvérsias, a democracia clássica instaurada emAtenas foi um grande marco para a história e serviu de inspiração para a democracia moderna dos séculos XVII, XVIII e XIX. Sendo a base para a democracia como regime político nos dias atuais. Mesmo sabendo que apenas uma parcela pequena da cidade era considerada cidadã, foi um marco importante para a época e até para reflexão nos dias atuais. “Para os padrões da época Atenas estava muito à frente de seu tempo, não existe participação popular significativa em proporção com a época ateniense”, diz Conrado Luciano Baptista, especialista em direito público e mestre em teoria do direito. Podemos assimilar a democracia direta ateniense como uma fase beta – uma versão de testes. Pois seu conceito primordial serviu de base para novas formas de democracia ao longo do período histórico, até chegar ao nosso conceito de democracia que temos no período contemporâneo.
Portanto. Há de se destacar que a democracia era uma forma de governo do “Povo”, ou das massas. As decisões coletivas dependiam, portanto, da participação direta de um largo número de indivíduos – mesmo que excluindo certos segmentos da sociedade, como mulheres e estrangeiros. Em segundo lugar, a democracia era vista como uma forma corrompida de governo e não como um regime positivo como ocorreu no pós-Guerra Fria (BOBBIO, 2000, pp. 300-400). 
Parte dessa visão justifica-se pelo risco de a assembleia tomar decisões consideradas como improprias, como o caso da morte de Sócrates que foi decidida coletivamente. A tomada de decisões por todos, qualificados ou não, era vista como um método arriscado em relação a resultados inadequados. Por fim, cabe salientar o papel da igualdade política. No caso da Antiguidade Clássica, democracia implicava necessariamente certo grau de igualdade política, mesmo que apenas entre o conjunto restrito de pessoas que podiam ser consideradas “cidadãs” (HELD, 2007 [2006], pp. 1-100). 
Nesse contexto, igualdade política não se refere a uma igualdade de resultados, mas de chances em fazer parte das decisões públicas em termos de probabilidade, como mostra a escolha pelo método de sorteio. Quando o ocupante do cargo público é escolhido por sorteio, pode-se dizer que há probabilidades iguais para cada pessoa que quer ocupar tal posto ser escolhida. A igualdade na democracia ateniense não se expressava na distribuição efetiva do poder, mas nas chances iguais para cada pessoa que quer ocupar tal posto ser escolhida. A igualdade na democracia ateniense não se expressava na distribuição efetiva de poder, mas nas chances de exerce-lo (MANIN, 1997, 8-79).
Referências Bibliográficas:
MANIN, Bernard, The Principles of Representative Government, 1997.
SULEIMAN, Ezra e K RABB, Theodore, The Making and Unmaking of Democracy: Lessons from History and World Politics, 2003.
ARISTOTELES, A política, edição 2001.
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2002.
HELD, David, Modelos de democracia, 1987.
BOBBIO, Noberto, Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos, 2000.
ROCHA, Roberto da Silva, A decadência da democracia da Ágora em Atenas, 2014.
ANCIENT HISTORY IN DEPTH: The Democratic Experiment. London, 17 fev. 2011. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/history/ancient/greeks/greekdemocracy_01.shtml>. Acesso em 23 maio 2018. 
O Direito Ateniense Clássico e seu Legado Cultural: educação política e as (proto) profissões jurídicas, IBRAJUS, Brasil, artigo= 101, 2009. Disponível em: <http://www.ibrajus.org.br/revista/artigo.asp?idArtigo=101> Acesso em 22 de maio 2018.
Christopher W. Blackwell, “Athenian Democracy: a brief overvier”, in Adriaan Lanni, ed.. “Athenian Law in its Democracy Context” (Center for Hellenic Studies On-Line Discussion Series). Republished in C.W. Blackwell, ed. Dēmos: Classical Athenian Democracy (A. Mahoney and R. Scaife, edd; The Stoa: a consortium for electronic publication in the humanities [www.stoa.org.org]) edition of februaru 28, 2003. Disponivel em: <http://www.stoa.org/projects/demos/article_democracy_overview?page=all>. Acesso em 24/05/2018.
Athenian democracy: the good, the bad, and the ugly, Story courtesy of Loyola magazine, Chicago, (Spring 2011). Disponivel em: <http://blogs.luc.edu/ilweekly/2011/05/31/athenian-democracy-the-good-the-bad-and-the-ugly-2/>. Acesso em 23/05/2018.
The ancient world – Athens: The Truth about Democracy, HUGHES, Bettany. United Kingdom, 2007, 1:35:13, Disponivel em: <https://www.youtube.com/watch?v=qPnUK176AR0>

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