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B) AGROBIOLOGIA AUTOR FRANCISCO ADILSON DA S. HARA Introdução A vida começa na célula, e nela se perpetua. O nosso corpo é resultado do funcionamento sistemático das nossas próprias células, assim o mau funcionamento das células se refletirá no mau funcionamento do organismo. Por isso, a citologia tem papel fundamental na formação de um profissional de ciências agrárias, pois que este está envolvido na produção vegetal e animal. O caderno didático está dividido em seis unidades que trazem no seu bojo informações básicas que vão desde a evolução histórica da citologia até as ferramentas utilizadas no estudo da célula. Na primeira unidade é abordada a evolução da citologia no transcorrer da história moderna do homem. Alguns fatos históricos são apontados mostrando a contribuição do homem na construção do estudo da célula. Na segunda unidade é feita a comparação entre a célula procarionte e as células eucariontes, permitindo ao aluno diferenciá-las com base nas suas características. Na terceira unidade foi realizada a descrição dos componentes celulares enfocando a estrutura e funcionamento das mesmas, mostrando que as atividades celulares são desenvolvidas por compartimentos celulares específicos. Na quarta unidade enfatizou-se a composição química da célula informando ao aluno a função de cada molécula orgânica ou mineral para a célula como para o organismo como um todo. Na quinta unidade destacou-se a forma como as células se reproduzem (mitose e meiose) e, na sexta e última unidade foi feita uma breve abordagem da descrição e funcionamento do microscópio óptico. Desta forma, o presente caderno aborda conteúdos básicos da citologia, de modo a subsidiar diversas disciplinas das ciências agrárias. 69 Agrobiologia Introdução Palavras do professor autor A citologia é uma área do conhecimento das ciências biológicas que possui uma vasta literatura e assuntos, muitas vezes, complexos para alunos de graduação. Neste contexto, procurou-se neste material didático retratar de forma sucinta aspectos básicos e importantes da citologia como conteúdo da disciplina de Agrobiologia do curso à distância de Licenciatura em Ciências Agrárias. Foi dada ênfase às informações que servirão de apoio para as diversas formas de conhecimentos das Ciências Agrárias, como a Fisiologia das Plantas Cultivadas, Biotecnologia do Solo e de Plantas, Microbiologia e Fitopatologia. Este material foi produzido com base na preocupação de que toda disciplina básica de um curso voltada para as Agrárias tem que mostrar ao aluno como ele poderá utilizar os conhecimentos da referida disciplina nas disciplinas técnicas-profissionalizantes. Como o estudo à distância pressupõe o uso de diversas ferramentas para facilitar o processo de ensino-aprendizagem, consideramos o material impresso produzido como um facilitador e não como uma ferramenta que esgota as informações e as discussões. Sendo assim, algumas atividades foram elaboradas no intuito de incentivar o aluno a buscar o conhecimento em outras fontes, despertar a sua autonomia de aprendizagem e a prática da discussão em grupo como meio de socialização da informação. Esperamos oferecer ao aluno um ambiente de aprendizado que lhe permita adotar uma atitude crítica e inovadora e legitimar a sua participação na construção de um ambiente sustentável de acordo com as exigências da sociedade na qual está inserido. 70 Agrobiologia Palavras do professor autor Orientações para o estudo do caderno Este material aborda aspectos básicos voltados para o estudo da célula, sendo assim, por si só não esgota todas as informações sobre o objeto de estudo. Algumas atividades foram solicitadas aos alunos para que os mesmos possam aprofundar os seus conhecimentos e correlacionar a citologia com as Ciências Agrárias. O aprofundamento se dará com a busca de outras literaturas impressas ou na internet. Serão disponibilizados, ainda aos alunos, na página do curso (web) alguns materiais auxiliares de aprendizado. Discussões em grupos presenciais e nos fóruns estabelecidos na web servirão de momentos de reflexão, aprofundamento e esclarecimento de dúvidas dos conteúdos da disciplina. Ementa Histórico da biologia celular e molecular. Células eucarióticas e procarióticas e suas diferenças. A célula animal e vegetal: os componentes celulares e seus aspectos morfológicos e funcionais nos sistemas orgânicos. Biologia molecular. Microscopia. A diversidade biológica e a sua importância para a agricultura. Noção de diversidade biológica. Objetivos do ensino-aprendizagem · Conhecer a evolução histórica da biologia celular e molecular; · Diferenciar célula eucariótica de célula procariótica, e célula animal de célula vegetal; · Conhecer a estrutura geral e a funcionalidade das células procarióticas e eucarióticas; · Conhecer os diferentes mecanismos de divisão celular das plantas e dos animais; · Conhecer os componentes químicos celulares e quais as suas implicações sobre o funcionamento da célula e do organismo como um todo; · Identificar os diferentes componentes de um microscópio óptico e entender o seu funcionamento e quais as suas aplicações na Agrobiologia Orientações para estudo Ementa Objetivos 71 · Entender a importância da biodiversidade para o desenvolvimento da agricultura e como isto pode se refletir na qualidade de vida da sociedade humana; · Refletir sobre as contribuições do profissional das Ciências Agrárias para a manutenção da biodiversidade. 72 Agrobiologia Objetivos Unidade 1 Fatos históricos da biologia celular e molecular Síntese da Unidade Neste material será feita uma viagem no tempo abordando os principais fatos históricos que marcaram a evolução do conhecimento científico na área da biologia celular. Alguns fatos são pertinentes não só à citologia mais também à evolução da biologia molecular, à genética, engenharia genética e biotecnologia. Procura-se nesta unidade mostrar ao aluno que os conhecimentos gerados na área da biologia celular são frutos da busca incessante do homem pelas descobertas dos mais variados detalhes da célula, desde a sua estrutura até as formas mais complexas de funcionamento. Evolução histórica da biologia celular e molecular A biologia celular estuda o plano de organização ao qual todos os organismos estão submetidos - a célula e seus componentes moleculares. As células e as moléculas são responsáveis pela organização de todas as formas de vida existentes em nosso planeta, consolidando-se como componentes fundamentais de todos os organismos vivos do planeta. A estrutura e o funcionamento do ser vivo são condicionados pela célula, por isso, é considerada a unidade morfofisiológica dos seres vivos. Platão na antiguidade e Paracelso no Renascimento chegaram à conclusão de que “todos os animais e vegetais, por mais complicados que sejam, são constituídos por uns poucos elementos que se repetem em cada um deles”. Referiram-se às estruturas como as raízes, folhas e frutos elementos comuns nos vegetais e estruturas que se repetiam em animais. Muitos séculos depois, graças ao advento das lentes de aumento, pode-se conhecer a dimensão microscópica dos organismos, chegando à célula. A partir disso, percebeu-se que uma célula isolada pode constituir um organismo inteiro, como é o caso dos protozoários, ou pode aglomerar-se formando tecidos, órgãos e por fim um sistema inteiro, um organismo multicelular. aperfeiçoaram o microscópio, facilitando a descoberta das bactérias e de diversas formas de vidas unicelulares. Em 1830, Meyenfaz Agrobiologia Unidade 1 Fatos históricos da Biologia celular e molecular 73 a suposição de que cada célula vegetal é uma unidade isolada e independente, capaz de construir suas estruturas internas. Robert Brown, no ano seguinte, identifica o núcleo celular. Von Mohl, no ano de 1839, descreve com detalhes o fenômeno da mitose, e no mesmo ano, Theodor Schwan estabeleceu que todos os seres vivos eram formados de células. Rudolf Virchow em 1858, incrementa essa idéia afirmando que toda célula vem de outra célula pré-existente. As idéias de Theodor e Rudolf juntas constituíram o alicerce principal da teoria celular. Durante os anos de 1880 a 1898, foram observados os plastos, mitocôndrias e aparelho de Golgi. Mendel, em 1865, demonstrou com um cruzamento entre plantas de ervilhas, a transmissão dos caracteres genéticos de um indivíduo para a geração futura. Em 1868, Ernst Haeckel postulou que o núcleo seria responsável pela hereditariedade, com base na observação de que os espermatozóides são formados praticamente só por núcleo. Em 1871, Miescher isolou uma substância que foi chamada de “nucleína”, que mais tarde passou a ser conhecida como ácido desoxirribonucléico ou DNA. Em 1901 os botânicos Correns, Tschermanck e De Vries voltaram a reforçar as leis de Mendel. Em 1905, Stevens & Wilson descobriram a existência dos cromossomos sexuais, XY dos machos e XX das fêmeas. Morgan, em 1908, e seus colaboradores estabeleceram a teoria cromossômica da hereditariedade, reconhecendo os genes como locais (loci) específicos dentro dos cromossomos. Esta evidência foi gerada a partir de estudo com Drosopila melanogaste. Em 1920, Feulgen demonstrou que a molécula predominante nos cromossomos é o DNA. Watson & Crick, em 1952, idealizaram o modelo de dupla fita do DNA. Outros fatos foram extremamente importantes para a biologia celular e molecular, como a descoberta da primeira enzima de restrição, o desenvolvimento de um sintetizador automático de DNA e da técnica do PCR (Primer Chain Reaction), os projetos genomas do homem, plantas e bactérias patogênicas. Pesquise na literatura outros fatos históricos que contribuíram para o desenvolvimento da citologia 74 Agrobiologia Unidade 1 Fatos históricos Evolução histórica Unidade 2 Célula procariótica e eucariótica: organização geral e principais diferenças Síntese da Unidade Nesta etapa será descrita detalhadamente a estruturação da célula procarionte, e partir disso, pretende-se mostrar aos alunos da disciplina as principais diferenças entre este grupo de células e as células eucariontes. Sendo assim, o aluno entenderá porque as células eucariontes são mais complexas, organizadas e especializadas que as células eucariontes. Organização geral das células procariontes Existem dois tipos básicos de células: procariontes e eucariontes. O termo procarionte vem de duas palavras gregas: pro, primeiro e cario, núcleo, designando a célula procarionte como um ser com núcleo primitivo, sem envoltório (carioteca). Assim é designado um núcleo não verdadeiro, chamado de nucleóide, correspondendo apenas ao espaço ocupado pelo cromossomo na matriz citoplasmática. São exemplos de organismos procariontes, as bactérias, e as algas cianofíceas e azuis. O procarionte hoje mais bem conhecido é a bactéria Escherichia coli (FIG. 1), por sua simplicidade estrutural, por ser facilmente cultivável em solução aquosa de glicose e vários íons inorgânicos, e pela sua facilidade de multiplicação. O termo eucarionte é originado de duas palavras gregas, eu, verdadeiro, e cario, núcleo, designando como organismos com células que possuem um núcleo verdadeiro, isto, um núcleo revestido pela carioteca. Além dos polissomas, do cromossomo e plasmídios, o citoplasma das células procariontes é composto por água, diferentes tipos de RNA, proteínas, inclusive enzimas e outras moléculas menores. Agrobiologia Unidade 2 Célula procariótica e eucariótica 75 Figura 1. Célula procarionte, Eschereichia coli. Fonte: Sandra Hara (Cortesia). Comparação entre a organização celular dos procariontes e dos eucariontes. As células eucariontes têm um sistema de membrana que origina as organelas citoplasmáticas com funções específicas. Nas células procariontes o citoplasma está restrito apenas ao cromossomo, aos polirribossomos e plasmídios. Os cromossomos das células eucariontes são envolvidos por uma membrana chamada carioteca, originando o núcleo celular, enquanto que nas células procariontes o cromossomo é livre no citoplasma. Outras diferenças podem ser observadas no Quadro 1. Quadro 1. Comparação entre células eucariontes e procariontes. Fonte: De Robertis & De Robertis Jr (2001). Busque em diversas literaturas exemplos de organismos procariontes Representantes Bactérias, algas cianofíceas e micoplasmas. Células eucariontesCélulas procariontes Protozoários, algas, metáfitos e metazoários Envoltório nuclear Ausente Presente DNA Desnudo Combinado com proteínas Cromossomas Únicos Múltiplos Nucléolos Ausentes Presentes Divisão Amitose, Fusão binária Mitose ou meiose Ribossomas * 70S (50S + 30S) 80S (60S + 40S) Endomembranas Ausentes. Presentes Mitocôndrias Ausentes. Enzimas Presentes respiratórias Cloroplastos Ausente. fotossintéticas Presentes nos vegetaisEnzimas Parede celular Não celulósica Celulósica (células vegetais) Exocitose/endocitose Ausentes. Presentes Citoesqueleto Ausentes. Presentes Locomoção Fibrila única e flagelo Cílios ou flagelos 76 Agrobioologia Unidade 2 Célula procariótica e eucariótica Unidade 3 Organização estrutural e funcionamento das células animal e vegetal Síntese da Unidade A unidade III trata da organização celular, enfocando todas as estrturas das células animais e vegetais bem como as funções específicas de cada uma delas. Alguns tópicos não foram esgotados em seu conteúdo. Assim, será necessário que o aluno tenha a iniciativa de buscar na web, livros ou outro material didático, algumas informações que necessitam de um aprofundamento maior, mas que serão indicados no transcorrer do caderno conforme orientação do professor autor. Consta nesta unidade apenas a sub-unidade 3.1, que trata da listagem das organelas citoplasmáticas onde o aluno perceberá a importância de cada uma delas na célula. Buscou-se nessa unidade mostrar ao aluno que os processos metabólicos celulares são divididos nas diversas organelas graças ao direcionamento das moléculas absorvidas e às diferenças enzimáticas entre as membranas que as compõem. Neste contexto, podemos comparar a célula eucarionte a uma indústria ou uma fábrica organizada em setores com funções específicas. A divisão de função entre as organelas permite aumentar a eficiência e o tamanho da célula sem prejuízo de suas funções. Estruturas das células animal e vegetal Basicamente a célula animal eucariótica possui três componentes básicos: membrana, citoplasma e núcleo. As organelas estão presentes no citoplasma. A seguir será realizado o detalhamento da organização geral de uma célula eucarionte, enfatizando os componentes presentes nas células animal e vegetal. De acordo com sua especialização, uma célula pode apresentar certas organelas, mas não apresentará outras. Assim como uma organela poderá está presente num tecido e ausente em outro num mesmo organismo. A célula animal, não apresenta cloroplastos, mas as células vegetais sim. Os cloroplastos podem ser encontrados nas células das folhas, no entanto, são ausentes nas células da raiz.77 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células animal e vegetal Glicocálix Na superfície externa da membrana celular da célula animal, geralmente há a presença do Glicocalix, que é um material que reveste a célula, sendo conhecido como cobertura da membrana celular. É formado, basicamente, por carboidratos (na forma da oligossacarídeos) ligados a proteínas (glicoproteínas) ou lipídios (glicolipídeos). Pode ser comparado a uma malha de proteção da célula com 10 a 20 nm (1 nm = 0,000001 mm) de espessura. Encontra-se em contato direto com a membrana plasmática, tendo as cadeias laterais dos oligossacarídeos correspondentes aos glicolipídios e glicoproteínas que estão expostos na superfície externa da membrana plasmática. É originado a partir dos produtos de secreção das células, sofrendo renovação constante. Funções a) Protege a célula contra agressões físicas e químicas advindas do meio externo; b) Propicia o reconhecimento molecular, isto é, a capacidade que a célula tem de reconhecer células semelhantes a ela através de um ou mais sinais no glicocálix. A histocompatibilidade é um exemplo de reconhecimento celular, onde a célula é capaz de reconhecer célula ou tecidos de um mesmo organismo e rejeitar células de outros, isto acontece no caso de enxertos de peles ou transplante de órgãos; c) Propicia um microambiente adequado ao redor de cada célula, retendo nutrientes e enzimas importantes para a célula; d) Funciona como um filtro em alguns capilares sanguíneos no tecido conjuntivo; e) Propicia a adesão das células umas as outras ou à matriz celular, através da fibronectina, glicoproteína oriunda da secreção celular; f) É responsável pela inibição por contato, isto é, a tendência que as células normais têm de limitar o seu próprio movimento, crescimento e divisão quando cultivadas. 78 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células Membrana plasmática A membrana plasmática é um envoltório contínuo, ou uma película muito fina com 75Å (1 Å = 0,0000001 mm) de espessura, de contorno irregular, que representa a condensação periférica do citoplasma, isolando-o do meio externo. Sendo assim, a membrana fica em contato por uma de suas faces com meio extracelular e pela outra com o meio citoplasmático. Seu tamanho é tão pequeno que se a célula fosse aumentada ao tamanho de uma laranja, a membrana seria mais fina do que uma folha de papel de seda. Existem algumas teorias para explicar a estrutura da membrana, porém a mais aceita é a do modelo do mosaico fluido. Todas as membranas das células apresentam a mesma organização básica, sendo constituídas por duas camadas de lipídios fluidas e contínuas, onde estão inseridas proteínas, constituindo um mosaico fluido (FIG. 2). Esse modelo se aplica também às membranas de todas as organelas celulares, por isso, a estrutura recebe o nome de unidade de membrana ou membrana unitária. A camada dupla de lipídios se organiza na membrana, com as cadeias apolares (hidrofóbicas) voltadas para o interior da membrana, enquanto que as cabeças polares (hidrofílicas) ficam voltadas para o meio extracelular ou para o citoplasma, que são meios aquosos. Figura 2. Ilustração esquemática do modelo do mosaico fluido da membrana plasmática. a) Duplacamada de lipídios, b) Proteínas transmembranas e c)Proteínas periféricas. Fonte: Sandra Hara (Cortesia). 79 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células animal e vegetal As moléculas de proteínas presentes na membrana são chamadas de proteínas integrais ou proteínas extrínsecas. Setenta por cento das proteínas da membrana são integrais, incluindo a maioria das enzimas da membrana, proteínas transportadoras, receptoras para hormônios, drogas e lectinas. Algumas delas transpassam totalmente a bicamada de lipídios, fazendo saliência em ambas as superfícies da membrana, sendo denominadas proteínas transmembrana (FIG.2). Outras proteínas integrais podem apresentar a molécula muito longa e dobrada, atravessando a membrana várias vezes, recebendo o nome de proteínas transmembrana de passagem múltipla. As proteínas extrínsecas não interagem com a região hidrofóbica da bicamada lipídica. Elas se ligam à membrana por interação com as proteínas integrais ou com a região polar dos lipídios. As proteínas periféricas (FIG. 2) estão concentradas na superfície voltada para o citoplasma da célula e se ligam a filamentos do citoesqueleto, enquanto que na parte externa se encontram as extremidades de proteínas integrais que darão origem ao glicocálix ao se ligarem aos glicídios dos glicolipídios e a outras moléculas. Funções a) Controla a troca de substância entre a célula e o meio externo, selecionando a entrada e a saída de moléculas (substâncias e íons). Este fenômeno é conhecido como permeabilidade seletiva. A membrana permite a entrada de substâncias que são vitais para o seu funcionamento enquanto excreta água e refugo do seu metabolismo. Esse deslocamento de substâncias para fora ou para dentro da célula pode ocorrer de forma passiva ou ativa. No caso do deslocamento passivo, o soluto (molécula dissolvida em meio aquoso) penetra na célula quando a sua concentração é menor no citoplasma do que no meio extracelular, e sai da célula no caso contrário. Neste processo não existe gasto de energia, a difusão é realizada a favor de um gradiente de concentração ou elétrico. No deslocamento ativo há gasto de energia, pois uma substância pode passar de um meio menos concentrado para um mais concentrado. Neste sentido, o soluto é transportado contra um gradiente de concentração. Outra forma de transporte de moléculas para dentro ou para fora da célula é a difusão facilitada, na qual a substância passa de 80 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células um meio mais concentrado para um meio menos concentrado só que de forma mais rápida que na difusão passiva. Numerosas substâncias atravessam a membrana plasmática através da difusão facilitada, inclusive glicose e aminoácido. Existem casos em que a célula é capaz de translocar ao mesmo tempo para o seu interior, grande quantidade de macromoléculas, bactérias e outros microrganismos. Este transporte recebe nomes especiais, de acordo com a natureza da substância englobada. No geral, quando o transporte em bloco é realizado de fora para dentro da célula é designado de endocitose, e o sentido inverso do transporte é a exocitose. A endocitose é dividida em fagocitose ou pinocitose (FIG. 3). Na fagocitose a célula desenvolve pseudópodos (FIG. 3), que englobam partículas sólidas. No caso de organismos unicelulares como os protozoários, a fagocitose é fundamental para o processo de alimentação, e em animais é realizada por células de defesa que englobam e destroem células estranhas. Após a captura das macromoléculas ou microorganismos, a membrana sofre invaginações formando uma vesícula ou vacúolo com o material fagocitado, esta vesícula recebe o nome de fagossomo ( FIG. 3). Este ao ser liberado no citoplasma vai se fundir aos lisossomos, que são as organelas responsáveis pela digestão celular. Na pinocitose (FIG. 4), ocorre englobamento de partículas líquidas ou soluções. O funcionamento é o mesmo da fagocitose, no entanto, o vacúolo formado é o pinossomo, que ao penetrar cada vez no citoplasma torna-se menor sugerindo transferência de líquido para o citoplasma. No caso da Exocitose, as células acumulam o produto da excreção em grânulos citoplasmáticos revestidos de membrana, que se fundem com membrana citoplasmáticae se abrem para o exterior da célula, eliminado assim, as macromoléculas secretadas. Figura 3. Englobamento de fragmentos sólidos. a) Pseudópodos, b) Invaginações, c) Fagossomo, d) Lisossomos, e) Exocitose. Fonte: Sandra Hara (Cortesia). Pesquise na Web quais fatores podem causar destruição da membrana plasmática. 81 b Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células animal e vegetal b) A membrana permite a diferenciação entre o fluido intracelular e o fluido extracelular. No caso dos organismos unicelulares, como as algas que vivem em rios ou lagos e no mar, o fluido extracelular é água doce ou água salgada. No entanto, para organismos multicelulares são os fluidos internos, como sangue, a linfa, e o líquido intersticial, que se encontram em contato com a superfície externa da membrana celular; c) Contatos intercelulares: algumas glicoproteínas existentes na membrana recebem a denominação de Cell Adhesion Molecules (CAMs), que são receptoras responsáveis por reconhecer outras células e a elas aderir. d) As células que revestem a superfície interna do intestino possuem suas membranas ricas microvilos ou microvilsidade (FIG. 5), que são expansões do citoplasma recoberto pela membrana que aumentam a superfície de absorção da célula e facilitam o transporte dos nutrientes das cavidades ou luz intestinal para dentro da célula. Figura 5. Formação de invaginações para aumento da superfície de absorção. Fonte: Sandra Hara (Cortesia). 82 Faça uma pesquisa sobre em que órgão humano, as células possuem grande quantidade de microvilosidades. Explique o porquê?. Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células Figura 4. Englobamento de partículas líquidas. Fonte: Sandra Hara (Cortesia). Parede celular A parede celular é uma estrutura rígida exoesquelética que envolve e protege o conteúdo da maioria das células vegetais e de algumas bactérias, e está ausente nas células dos animais. É composta por um retículo de microfibrilas incluído em uma raiz gelatinosa de moléculas unidas entre si. As microfibrilas são formadas principalmente por celulose, que por sua vez é formada por cadeias retilíneas de polissacarídeos como a glicose, pectina, hemicelulose e lignina. Grande parte das células vegetais possuem pontes citoplasmáticas chamadas de “plasmodesmos”, que permitem comunicação entre as células adjacentes. Os plasmodesmos atravessam a espessura da parede e da membrana celular e permitem a livre circulação de líquido, que é essencial para manter a tonicidade da célula vegetal. Além disso, é possível que os plasmodesmos facilitem o intercambio de solutos e macromoléculas. A síntese e organização específicas da parede celular são responsáveis principalmente pelas diferenças encontradas entre as células vegetais. A parede celular é formada durante e após a divisão celular. A placa celular formada a partir de vesículas do Complexo de Golgi que se alinham no plano equatorial da célula, constitui a camada intercelular ou lamela média da parede da célula mais madura. Após a divisão celular, cada célula filha deposita outras camadas que constituem a parede celular primária, que é composta por pectina, hemicelulose e uma rede frouxa de microfibrilas de celulose. Já a parede celular secundária é formada quando a célula aumenta de volume até alcançar seu tamanho definitivo. Esta parede secundária contém principalmente celulose e hemicelulose. É constituída de material que se agrega à superfície interna da parede primária, formando um espessamento homogêneo como nos vasos do floema ou formando espessamentos localizados como nos vasos do xilema. Função a) Uma das funções da parede celular é manter o equilíbrio da pressão osmótica do líquido intracelular e a tendência da água penetrar na célula. Assim, se uma célula vegetal é colocada em uma solução com 83 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células animal e vegetal pressão osmótica semelhante a do líquido intracelular, o citoplasma fica aderido à parede celular. Quando a solução do meio é mais concentrada que o meio intracelular, esta perde água e o citoplasma se retrai. No entanto, se o meio é menos concentrado que o líquido intracelular, a célula incha e eventualmente estoura. b) Confere à célula vegetal resistência contra agressões físicas do meio externo. Citoplasma Constitui-se na parte interna do citoplasma na qual as organelas citoplasmáticas se encontram mergulhadas. O citoplasma é dividido em duas partes, o hialoplasma e o morfoplasma. O hialoplasma é considerado o citoplasma fundamental ou matriz citoplasmática, é transparente, homogêneo e sem estrutura; nele estão mergulhados os componentes celulares; O morfoplasma engloba todos os elementos figurados do citoplasma, ou seja, as organelas celulares. Lisossomos O nome lisossomo tem origem na palavra grega lise, que significa quebra, destruição. São bolsas cilíndricas (FIG. 6) recobertas por membranas que contêm uma variedade de enzimas capazes de digerir diversas substâncias orgânicas. Os lisossomos estão presentes em praticamente todas as células eucariontes, principalmente nos macrófagos, e são originados a partir do complexo de Golgi. O retículo endoplasmático rugoso produz enzimas que migram para os dictiossomos, são identificadas e enviadas para uma região especial do complexo de Golgi, onde são empacotadas e liberadas na forma de pequenas bolsas. Figura 6. Esquema de uma célula eucarionte com lisossomo em forma arredonda e em negrito. Fonte: Sandra Hara (Cortesia). 84 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células Funções a) Realiza a digestão intracelular. Após a fagocitose ou a pinocitose, os fagossomos (FIG. 3) ou pinossomos (FIG. 4) que contêm partículas/macromoléculas capturadas do meio externo, fundem-se com os lisossomos, originando os vacúolos digestivos; em seu interior as substâncias presentes nos fogossomos ou pinossomos são digeridas pelas enzimas lisossômicas. Com a digestão intracelular as partículas capturadas pelas células são quebradas em pequenas moléculas que atravessam a membrana do vacúolo digestivo, passando pelo citosol; b) Outra função do lisossomo é a autofagia, cujo nome vem das palavras gregas auto, próprio e phagin, comer. Este fenômeno é caracterizado pela ingestão dos componentes da própria célula pelo lisossomo. Em algumas situações, é considerada uma atividade alimentar. Quando um organismo é privado de alimento e as reservas de seu corpo se esgotam, os lisossomos, que se aproximam, cercam e envolvem a estrutura a ser eliminada, formando uma bolsa que contém diversas enzimas, originando assim, o vacúolo autofágico. Isto se constitui numa estratégia de sobrevivência da célula, aproveitando alguns dos componentes de organelas desgastadas. Este fenômeno pode ser chamado de reciclagem celular; c) Os lisossomos têm ainda a função de realizar a citólise ou autólise, que é o processo pelo qual a célula toda é digerida. Como exemplo característico, a digestão da cauda do girino, na sua transformação para a fase adulta; d) As enzimas digestivas intracelulares do lisossomo também ajudam na eliminação de bactérias e corpos estranhos. Peroxissomas e glioxissomas em células vegetais Nas folhas dos vegetais existem organelas que realizam a fotorrespiração, e é conhecida como peroxissomas, que são bolsas membranosas que contém algumas enzimas semelhante ao lisossomo. Neste processo, o ácido glicólico (produto da fotossíntese) liberadopelos cloroplastos, é oxidado pela oxidase do ácido glicólico, enzima presente nos peroxissomas. Esta oxidação realizada pelo oxigênio produz o peróxido de hidrogênio, que em seguida é decomposto no peroxissoma 85 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células animal e vegetal pela catalase. Este processo é denominado fotorrespiração porque a luz induz a síntese do ácido glicólico nos cloroplastos. O processo completo envolve a participação tanto dos cloroplastos como dos peroxissomas. Os peroxissomos também atuam no processo de desintoxicação das células, onde absorvem substâncias tóxicas, modificando-as para não causarem danos ao organismo. Os glioxiossomas participam principalmente do metabolismo de triglicerídeos, e são encontrados somente em células vegetais. Essa organela possui no seu interior uma matiz protéica circundada por uma membrana limitante. As enzimas do glioxissoma são utilizadas na transformação das reservas de gordura das sementes da planta em hidratos de carbono através do ciclo do glioxilato, que é uma modificação do ciclo de Krebs. Existem evidências experimentais de que as membranas dessas organelas também são sintetizadas no retículo endoplasmático, embora as enzimas sejam sintetizadas no citosol pelos ribossomas livres. Função Os tipos de enzimas presentes nos peroxissomos sugerem que, além da digestão, eles participem da desintoxicação da célula. O peróxido de hidrogênio (H O ), que se forma normalmente durante o 2 2 metabolismo celular é tóxico e deve ser rapidamente eliminado. O glioxissoma participa da digestão de gorduras nas células vegetais. Retículo endoplasmático O citoplasma das células eucariontes contém inúmeras bolsas e tubos cujas paredes têm uma organização semelhante à da membrana plasmática. Essas estruturas formam uma complexa rede de canais interligados, conhecida como retículo endoplasmático (RE) (FIG. 7), que pode ser de dois tipos: rugoso (granular) e liso (agranular). O rugoso é formado por sacos achatados, cujas membranas têm aspecto verrugoso devido à presença de ribossomos aderidos à sua superfície externa (FIG. 7). O liso é formado por estruturas membranosas tubulares, sem ribossomos aderidos, portanto de superfície lisa. Os dois tipos estão interligados e a transição entre eles é gradual. Observando o RE, partindo do rugoso em 86 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células direção ao liso, é possível notar que as bolsas tornam-se menores e a quantidade de ribossomos aderidos diminui progressivamente, até deixar de existir. Biogênese do retículo endoplasmático A origem do retículo endoplasmático não está ainda plenamente esclarecida. Durante o processo de diferenciação celular, observou-se que o RE poderia desenvolver-se por evaginação do envoltório nuclear. Sabe-se por exemplo, que na telófase o envoltório é reconstituído por vesículas do retículo endoplasmático. As diversas evidências experimentais sugerem que a síntese dos componentes da membrana segue uma continuidade estrutural e funcional (também existindo uma continuidade temporal) o que significa que cada célula recebe da célula que lhe deu origem, todo um conjunto de membranas. Os conceitos atuais a respeito da biogênese das membranas admitem, em linhas gerais, um mecanismo de várias etapas, no qual participam a síntese de uma membrana básica que contém peptídeos e proteínas intrínsecas, e de outros componentes tais como enzimas, açúcares específicos ou outros lipídios. Pode-se considerar as modificações químicas e estruturais da membrana, como um processo de diferenciação da membrana. A distribuição de diversas enzimas biossintetizadoras da membrana nos leva à conclusão de que as membranas intracelulares são em sua maior parte sintetizadas no retículo endoplasmático rugoso e logo são transformadas através de uma série de modificações progressivas, nas membranas de porção lisa e do aparelho de Golgi. E n t r e t a n t o , n ã o é p o s s í v e l compreender o processo de biogênese da membrana sem levar em consideração a sua fluidez, a qual permite a circulação, seleção e segregação de seus componentes. Figura 7. Retículo endoplasmático rugoso ou ergastoplasma. Fonte: Sandra Hara (Cortesia). 87 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células animal e vegetal Funções a) O RE (liso e rugoso) atua como uma rede de distribuição de substâncias no interior da célula; b) Armazena substâncias e controla a pressão osmótica do c) Aumenta a superfície interna da célula, o que amplia o campo de atividade das enzimas, facilitando a ocorrência de reações químicas necessárias ao metabolismo celular; d) Facilita o intercâmbio de substâncias entre a célula e o meio externo; e) O RE liso é responsável pela produção do colesterol, fosfolipídios e hormônios esteróides, já o rugoso é responsável pela produção de proteínas graças à presença dos ribossomos; f) O RE liso também participa dos processos de desintoxicação das células, principalmente no tecido hepático; g) O RE liso ajuda a catalisar as reações químicas na célula; Complexo de Golgi O complexo de Golgi (FIG. 8), também chamado de aparelho de Golgi, recebeu esta denominação em homenagem ao seu descobridor, Camilo Golgi. A princípio a organela foi vista sem muitos detalhes mostrando-se apenas como um material reticulado. Mais de 50 anos depois, o microscópio eletrônico permitiu a obtenção de uma imagem definida desta organela e sua estrutura pode ser estudada com detalhe. Esta organela está presente em praticamente todas as células eucariontes, consistindo em bolsas membranosas achatadas, chamadas dictiossomos, que são empilhadas umas sobre as outras como pratos (FIG. 8). Em células animais os dictiossomos geralmente encontram-se reunidos próximo ao núcleo, já nas células vegetais, geralmente os dictiossomos se encontram espalhados pelo citoplasma. O complexo de Golgi é uma parte diferenciada do sistema de endomembranas, localizado espacial e temporamente entre o RE, por um lado, e as vesículas secretoras e a membrana plasmática, por outro. Nesta posição intermediária, participa no transporte e processamento de muitas substâncias que são produzidas no RE e são liberadas eventualmente para fora da célula. 88 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células Funções a) Atua como centro de armazenamento, transformação, empacotamento e remessa de substâncias na célula; b) Participa na secreção do ácido pancreátil, na produção de polissacarídeos (muco, glicoproteína-RER), na produção de lipídios, na secreção de enzimas digestivas, formação da lamela média em células vegetais, formação do lisossomo e na formação do cromossomo do espermatozóide; c) Desempenha papel fundamental na eliminação de substâncias úteis ao organismo, processo denominado secreção celular. Citoesqueleto A célula, além de ser formada por componentes líquidos, também tem em sua formação um componente sólido conhecido como citoesqueleto. O Citoesqueleto é uma complexa rede de microtúbulos, microfilamentos, filamentos de miosina e intermediários. Microtúbulos Os microtúbulos são encontrados com freqüência no citoplasma. São retilíneos, com 25 nm de diâmetro externo e vários micrômetros de comprimento, e são formados por proteínas, principalmente a tubolina. Esta proteína além de formar os microtúbulos, entra na composição de cílios e flagelos. Estão em constante reorganização, em uma extremidade eles sofrem diminuição e em outra estãoem constante polimerização. Esta polimerização depende da 2+ concentração de Ca e das proteínas associadas ao microtúbulos. Figura 8. Complexo de Golgi formado pelos dictiossomos. Fonte: Sandra Hara (Cortesia). Dictiossomos 89 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células animal e vegetal Microfilamentos Nos últimos anos, a função ativa e contrátil do citoesqueleto tem sido atribuída a alguns dos microfilamentos que são observados ao microscópio eletrônico como estruturas delgadas cujo diâmetro está entre 6 e 8 nm. Diferentes estudos têm sugerido que estes filamentos representem sistemas contráteis. Este conceito tem sido confirmado pela demonstração de que as proteínas contráteis do músculo (actina e miosina) se encontram amplamente distribuídas na maioria das células. Abaixo da membrana plasmática há feixes de filamentos constituídos por actina, os quais estão em continuidade com um retículo de filamentos semelhantes que atravessam o citosol. Os canais ou espaços criados nesse retículo na célula viva, permitem a difusão de líquidos e metabólitos por todo o citosol. Os filamentos se encontram em contato com vesículas do retículo endoplasmático, com microtúbulos e com polissomas, os quais parecem estar todos contidos e sustentados por essa trama de microfilamentos. O fato desta trama poder ser armada e desarmada facilitaria também pequenos movimentos das organelas contidas no citoesqueleto. Filamentos intermediários Além dos microtúbulos e dos microfilamentos, no citoesqueleto de muitas células existe um grupo de filamentos de 10 nm, chamados de intermediários porque apresentam espessura que está entre a dos microtúbulos e a dos microfilamentos. Esses filamentos intermediários são muito heterogêneos, quando se consideram suas propriedades bioquímicas, porém, quanto à morfologia e localização, é possível agrupá-los em apenas quatro tipos principais: filamentos de queratina, neurofilamentos, filamentos da glia, e um tipo mais heterogêneo composto por várias proteínas. Apesar de sua heterogeneidade, os filamentos intermediários tendem a apresentar uma organização estrutural similar com uma periodicidade de 21 nm. Os filamentos intermediários são insolúveis em solução fisiológica, porém, se dissolvem em pH baixo e alto, podendo voltar a se reconstituir. Existe um mecanismo proteolítico dependente 90 Faça uma pesquisa sobre os diversos formatos de células. Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células 2+ de Ca que provavelmente intervém no desarranjo desses filamentos. Inserem-se no envoltório nuclear e formam uma espécie de cesta ao redor do núcleo, irradiando-se pelo citoplasma. Consideraremos agora os diferentes tipos de Filamentos Intermediáriso: a) Filamentos de queratina – denominamos também de tonofilamentos, filamentos de pré-queratina ou de citoqueratina, constituem a classe de filamentos intermediários. Esses filamentos são ancorados à superfície da célula onde tendem a convergir sobre os desmossomas. As citoqueratinas são compostas por numerosos polipeptídeos que se expressam durante a diferenciação epitelial seguindo diferentes vias. b) Neurofilamentos – junto com os microtúbulos, são os principais elementos estruturais dos axônios, dos dentritos e do pericário dos neurônios. Contêm três polipeptídeos e são muito sensíveis a 2+ proteólise na presença de Ca . Os neurofilamentos formam um emaranhado tridimensional que faz do axoplasma um gel altamente estruturado. c) Filamentos gliais – encontram-se dispersos no citoplasma astrócitos e são compostos por uma proteína que apresenta propriedades muito ácidas. É interessante observar que só os astrócitos, e não os oligodendrócitos do cérebro, contêm esses tipos de filamentos intermediários. d) Filamentos heterogêneos – inclui-se aqui um grupo de filamentos intermediários de morfologia e localizacão similares, porém, que contém diferentes proteínas como a desmina, a vimentina e a s inemina. Os f i lamentos de desmina são encontrados predominantemente nos músculos liso, esquelético e cardíaco. Os filamentos de vimentina são encontrados em células de diferentes origens. Nos eritrócitos das aves tem-se uma excelente visão dos filamentos intermediários que contêm vimentina e a sinemina. Existe uma rede tridimensional de filamentos intermediários que entrelaça o núcleo com a membrana plasmática. Os anticorpos dos filamentos intermediários são úteis para a 91 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células animal e vegetal identificação da origem das células metastáticas de um tumor, quando os métodos histológicos de rotina são conclusivos. Também se utilizam esses anticorpos para marcar as proteínas dos filamentos intermediários durante a diferenciação celular, já que aparecem em períodos definidos do desenvolvimento. Em conclusão, os filamentos intermediários constituem um componente definido do citoesqueleto, que tem profundas diferenças em relação aos microtúbulos e aos filamentos de actina. Suas propriedades bioquímicas, sua localização e morfologia sugerem que todos eles, apesar de terem composição diferente, participem nas funções mecânicas que determinam a forma celular e a posição dos diversos compartimentos dentro da célula. Funções a) Determinam a forma características de muitas células e a rigidez das estruturas mais amplas (microtúbulos e filamentos intermediários). Algumas protuberâncias e prolongamentos celulares devem-se à distribuição do microtúbulos na célula; b) Durante a diferenciação celular interferem na forma das células (Filamentos intermediários); c) São responsáveis pelo movimento de cílios e flagelos (microtúbulos); d) Participam do deslocamento dos cromossomos na mitose (microfilamentos). Centríolos São pequenos cilindros formados por microtúbulos situados próximo ao núcleo. Cada célula (exceto nos vegetais superiores onde estão ausentes) possui um centríolo, formado por dois cilindros perpendiculares entre si. Cada cilindro é formado por nove túbulos paralelos e cada túbulo é formado por três microtúbulos paralelos entre si (FIG.9). Assim como as mitocôndrias e os cloroplastos, os centríolos também possuem DNA, o que justifica a sua capacidade de se duplicar durante a mitose. Funções a) Desempenham papel importante no processo de divisão celular formando os pólos; 92 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células b) A partir dos centríolos é que se irradiam os microtúbulos do áster; c) são responsáveis pela formação de cílios e flagelos; d) Os microtúbulos formam canais pelos quais as macromoléculas são transportadas dentro do citoplasma. Ribossomos A produção de proteína nas células é realizada pela organela denominada ribossomo. Esta organela é composta basicamente de RNA e proteína e tem a forma esferóide formada por duas subunidades, sendo uma maior e outra menor (FIG.10). São encontrados em todos os tipos de células, tanto no citoplasma como no interior das mitocôndrias e dos cloroplastos de células eucarióticas. Durante a síntese de proteína, vários ribossomos se ligam através do RNA mensageiro (RNAm), formando um polirribossoma ou polissoma (FIG.10). O RNAm contém a sequência de nucleotídeos que será traduzida numa determinada proteína. Os polissomas podem se apresentar aderidos ao retículo endoplasmático (FIG.10) ou livres no citoplasma. Os polissomas livres irão produzir as proteínas que fazem parte do citosol, as unidades protéicas dos microtúbulose microfilamentos, e proteínas estruturais de componentes celulares que não produzem suas próprias proteínas, como o núcleo e os peroxissomos, e de organelas que sintetizam apenas algumas de suas proteínas, como a mitocôndria e os cloroplastos. O número de polissomas livres é muito pequeno, quase não são visíveis através do microscópio eletrônico, pois são camuflados por outras organelas. Em algumas situações em que a produção de proteínas para o citosol é tão intensa, os polissomas passam a ser dominantes nas células. 93 Faça as seguintes listagens: a) organelas que estão presentes na células animais, b) organelas que estão presentes nas células vegetais Com base na atividade acima descreva a diferença entre as células animais e vegetais. Figura 9. Centríolos formados por microtúbulos. Fonte: Sandra Hara (Cortesia). Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células animal e vegetal Isto acontece quando as células são especializadas na síntese de uma determinada proteína, como os eritroblastos que são células que sintetizam muita hemoglobina, ou em células que se reproduzem em ritmo acelerado como as embrionárias e as de tumores de crescimento rápido. Função: Síntese de proteínas Plastos São organelas específicas das células vegetais, cuja característica principal é a presença de membrana dupla e de genoma próprio, como as mitocôndrias, e da clorofila, molécula capaz de absorver energia solar para a transformação em energia química. Por isso, essa organela desempenha um papel fundamental na obtenção e armazenamento de energia na célula. A fase escura ocorre no estroma dos cloroplastos, e é nesta etapa que acontecem as reações de fixação do carbono. O ATP e o NADPH produzidos na fase luminosa servem como fonte de energia e como força redutora, respectivamente, para converter o CO em carboidratos e 2 muitas outras moléculas orgânicas. Os plastos são compostos por estroma amorfo localizado no seu interior, rico em enzimas solúveis, e por um sistema de vesículas achatadas chamadas de tilacóides (FIG. 11). Sobre os tilacóides são encontradas vesículas menores chamadas de grana que contém as clorofilas associadas a vários outros pigmentos que aumentam o efeito da luz, porque absorvem a energia de certos comprimentos de onda, 94 Buscar em outras literaturas a descrição mais detalhada da síntese de proteínas no interior das células Discutir em forma de debate o exercício anterior mRNA Polipeptídeos Ribossomos membrana do Re rugoso e liso Figura 10. Esquema de um conjunto de ribossomos ligados ao retículo endoplasmático realizando síntese protéica. Fonte: Sandra Hara (Cortesia). Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células transferindo essa energia para a clorofila. A parte interna, onde se encontram mergulhadas as estruturas é chamada de estroma. O número de plastos pode variar de um, como nas algas verdes, até dezenas como nos vegetais superiores. Os plastos podem ser divididos em lecucoplastos e cromoplastos. Os leucoplastos são desprovidos de pigmentos, por isso, são esbranquiçados, no entanto possuem a capacidade de armazenar reservas nutritivas. São exemplos de leucoplastos, os amiloplastos (armazenam amidos), licopeno, pigmento de cor vermelha, e os cloroplastos, ricos em clorofila, pigmento verde responsável pela realização da fotossíntese. Como a fotossíntese é o fenômeno responsável pelo acúmulo de energia no planeta para que possa ser utilizada para manutenção da biosfera, considera-se os cloroplastos os mais importante entre os plastos. Origem dos cloroplastos A Teoria da origem dos cloroplastos é muito semelhante à origem das mitocôndrias, pois originada a partir da simbiose entre microrganismos. As evidências indicam que organismos procariontes fotossintéticos especificamente algas azuis, foram englobadas por células primitivas eucariontes aeróbicas por endossimbiose, há cerca de 1,2 bilhões de anos. A partir disso originaram-se as algas vermelhas, depois as algas pardas e verdes e por fim os vegetais superiores. Durante o processo evolutivo, as bactérias precursoras dos cloroplastos transferiram parte de seu material genético para o DNA da célula 95 Figura 11. Cloroplastos com seus componentes em detalhes. Fonte: Sandra Hara (cortesia) Grana Lamela Estroma Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células animal e vegetal hospedeira, assim passaram a depender do genoma da célula hospedeira para a produção de muitas de suas proteínas. Existem algumas diferenças entre a origem da mitocôndria e a origem dos cloroplastos como o tamanho das organelas, o cloroplasto é maior que a mitocôndria, e a fonte de energia usada pelo cloroplasto é a luz enquanto que a mitocôndria usa energia química. Função: Principalmente a realização da fotossíntese em células vegetais, no caso dos cloroplastos e acúmulo de compostos energéticos nos leucoplastos. Fotossíntese A equação abaixo demonstra a fotossíntese de forma simplificada. Esse Fenômeno ocorre nas membranas lipoprotéicas clorofiladas dos cloroplastos, exatamente nas granas. 6CO + 12H O C H O + 6H O +6O 2 2 Clorofila + luz 6 12 6 2 2 Na fotossíntese a planta absorve o CO e a luz a partir da 2 atmosfera, e a água a partir do solo. Em seguida nos cloroplastos é formada a glicose, carboidrato que armazena energia nas ligações químicas dos átomos de carbono. Além da glicose, é formado ainda a água e o oxigênio que é liberado para a atmosfera. A fase luminosa ocorre na presença de luz. A energia proveniente da luz solar energiza um elétron da clorofila (que obtém esse elétron da água e gera O ), capacitando-o a se mover por uma 2 cadeia transportadora de elétrons, onde vão liberando energia e produzindo ATP. Este caminho é chamado de transporte cíclico e utiliza o fotossistema I. produzidos na fase luminosa servem como fonte de energia e como força redutora, respectivamente, para converter o CO em 2 carboidratos e muitas outras moléculas orgânicas. A fase escura ocorre no estroma dos cloroplastos, e é nesta etapa que acontecem as reações de fixação do carbono. O ATP e o NADPH produzidos na fase luminosa servem como fonte de energia e como força Desenvolver atividade para apresentação enfocando: -As fases da fotossíntese. - Quais práticas agrícolas podem interferir na fotossíntese dos cultivos. Observe o crescimento de uma mesma espécie de planta em ambiente sombreado e sob sol. Anote as observações 96 Faça uma pesquisa sobre como a fotossíntese ajuda na diminuição do efeito estufa Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células redutora, respectivamente, para converter o CO em carboidratos e 2 muitas outras moléculas orgânicas. Mitocôndrias No tópico anterior vimos que as células vegetais são responsáveis em absorver energia luminosa e transformá-la em energia química. Esta energia química será disponível para os organismos através da oxidação da glicose, fenômeno conhecido como respiração celular. A organela citoplasmática responsável em quebrar a glicose, e liberar a energia para os processos vitais da célula é a mitocôndria. Cabe salientar que a glicose não é o único combustível das células, pois, na sua falta a célula lança mão dos lipídios e até mesmo das proteínas. A mitocôndria é uma organela delimitada por duas membranas lipoprotéicas, uma externa, lisa eoutra interna que forma as cristas mitocondriais (FIG.12). O interior da mitocôndria é preenchido por um material coloidal conhecido como matriz mitocondrial. No interior das mitocôndrias há a presença de RNA, DNA e ribossomos, os quais lhe conferem capacidade de se autoduplicar. Elas crescem, se alongam e se estrangulam formando duas organelas. Nas células filhas, oriundas da divisão celular, há a renovação numérica das mitocôndrias. Origem das mitocôndrias A primeira suposição quanto ao surgimento das mitocôndrias data desde o início da vida na Terra, onde provavelmente as células eucariontes anaeróbias estabeleceram relação simbiótica com bactérias 97 Figura 12. Mitocôndrias e suas estruturas. Fonte: Sandra Hara (cortesia). Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células animal e vegetal Membrana externa Espaço intermembranoso DNA mitocondrial Crista mitocondrial Ribossomas mitocondriais Matriz mitocondrial Membrana interna aeróbias, dando origem às mitocôndrias. Esse fato pode ter ocorrido em função das presenças de DNA, dos vários tipos de RNA e da capacidade de auto-reprodução das mitocôndrias. É possível que ao longo do processo evolutivo, as mitocôndrias tenham perdido, aos poucos, parte do seu genoma que foi transferido para a célula hospedeira, tornando-as dependentes de proteínas codificadas pelo genoma do núcleo celular. A segunda hipótese é a de que as bactérias endossimbiontes tenham penetrado em células eucariontes primordiais por meio da fagocitose, tendo escapado dos mecanismos intracelulares de destruição de células estranhas e estabelecido a endossimbiose. A membrana externa da mitocôndria formou-se a partir da membrana plasmática da célula eucarionte hospedeira, e a membrana interna, passou a ser a membrana da bactéria. Respiração celular O fenômeno da respiração que ocorre nas mitocôndrias pode ser simbolicamente representado pelo esquema abaixo: C H O + 6O 6CO + 6H O + 674 kcal 6 12 6 2 2 2 As atividades celulares dependem da energia que é suprida a partir da quebra de moléculas orgânicas durante a respiração celular. A energia liberada nesse processo é armazenada sob forma de moléculas de adenosina-trifosfato (ATP). A respiração celular é dividida em três fases: a 1 . Fase - Quebra de carboidratos e lipídeos: a glicose e os ácidos graxos são as principais substâncias quebradas para a respiração celular. A quebra da glicose é conhecida como glicólise, e ocorre no interior do citoplasma. Nesta etapa, são formadas duas moléculas de ácido pirúvico, liberando energia a partir de quatro moléculas de ATP. Ocorre ainda, a produção de duas moléculas de NADH e consumo do 2 oxigênio. a 2 . Fase: O ácido pirúvico formado na glicólise passa para o interior da mitocôndria, e é convertido em acetil-coenzima A com a participação de um conjunto de enzimas produzidas na matriz 98 Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células mitocondrial chamado de piruvato desidrogenase. A partir daí, a acetil- coenzima A é metabolizada pelo ciclo do ácido cítrico, sendo esta etapa conhecida como ciclo de Krebs. Nesta etapa, uma parte da energia é liberada, sendo uma pequena fração utilizada para converter três NAD + em três NADH. No ciclo de Krebs há a liberação de duas moléculas de CO 2 e produção de três moléculas de NADH e uma molécula de FADH . 2 a 3 . Fase: Ocorre o transporte de elétrons na cadeia respiratória, que é composto por complexos enzimáticos, e há a liberação de energia e produção de 36 mols de ATP por mol de glicose consumida. Este processo é chamado fosforilação oxidativa, e ocorre na membrana interna da mitocôndria. Núcleo: O núcleo é responsável pela coordenação de todas as atividades celulares. No DNA do núcleo está localizada a maioria dos genes, depositários da informação genética que são responsáveis pela atividade celular. Tais informações são transmitidas ao citoplasma através do RNA-mensageiro, que é sintetizado por uma série de enzimas tendo como molde o DNA (cromatina), onde irá regular através dos ribossomos toda a síntese de proteínas específicas (estruturais e enzimáticas), responsáveis pela arquitetura e fisiologia celulares. A maioria das células é uninucleada (apenas um núcleo), mas existem células binucleadas (dois núcleos), como as hepáticas e cartilaginosas, e plurinucleadas (mais de dois núcleos), como as musculares estriadas. Envoltório nuclear ou carioteca (FIG. 13): a membrana nuclear constitui um envoltório que engloba o suco nuclear, e onde estão imersos a cromatina e o nucléolo. Esta membrana é uma diferenciação local do retículo endoplasmático e se caracteriza pela alta quantidade de poros, através dos quais são realizadas trocas entre o núcleo e o citoplasma. Observada ao microscópio eletrônico, a membrana apresenta-se com duas lâminas: a interna, que envolve o nucleoplasma e a externa que vive em contato com o hialoplasma e possui ribossomos. Entre as duas membranas situa-se uma cavidade chamada espaço perinuclear. Quimicamente, a carioteca é formada por proteínas e fosfolipídeos. Tem a função de revestir o material genético da célula. 99 Ao final da descrição das organelas citoplasmática faça uma síntese e disponibilize no ambiente Ao final das unidades I, II e III faça a sua auto-avaliação sobre o seu desempenho na disciplina Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células Cariolinfa: é a parte interna do núcleo (FIG. 13). É formada por um líquido claro, homogêneo, composto por proteínas globulares e água. Na cariolinfa se encontram suspensos os demais componentes do núcleo Nucléolos: é um corpo globoso (FIG.13) formado por acúmulos de RNA ribossomal (RNAr), algumas proteínas simples e certas enzimas. Também é conhecido como plasmossomos. Os nucléolos surgem durante a interfase e durante a mitose desaparecem. Cromatina (FIG.13): substância intranuclear formada basicamente de proteínas simples (histonas) e DNA, que está intimamente relacionada à atividade genética do núcleo, principalmente em relação à síntese de proteína. Quando se espiraliza durante a intérfase passa a ser chamada de heterocromatina, e a parte que não se espiraliza é chamada de eucromatina. Cromonema (FIG.13): são filamentos de cromatinas que formam uma rede, e ao se agruparem formam um novelo. O cromonema forma longos filamentos que ao se espiralarem formam os cromossomos. 100 Carioteca Cariolinfa Nucléolo Cromonema Poros Figura 13. Núcleo verdadeiro de uma célula eucarionte. Fonte: Sandra Hara (Cortesia). Agrobiologia Unidade 3 Organização e funcionamento das células Unidade 4 Biologia molecular: classificação e função Síntese da Unidade Nesta unidade serão descritas as principais moléculas químicas das células animais e vegetais. Será enfocada a função de cada uma delas dentro da célula, e como isto se reflete no organismo como um todo. Na célula são encontradas as substâncias inorgânicas (água e minerais) e orgânicas (ácidos nucléicos, carboidratos, lipídeos e proteínas). A água corresponde a 75 - 85%, os sais inorgânicos a 2 - 3% do total do organismo e o restante são compostos orgânicos. A estrutura da célula resulta da combinação de moléculas organizadas, principalmente macromoléculas chamadas de polímeros. Estes são formados por unidades menores chamadas de monômeros. Quando o polímero é formado por monômeros semelhantes, é chamado de homopolímero,e quando é formado por monômeros diferentes é chamado de heteropolímero. São exemplos de homo e heteropolímero, a glicose e os ácidos nucléicos, respectivamente. Composição química da célula A água A água, além de ser a substância mais abundante no planeta, é vital para os organismos vivos. Tales de Mileto, filósofo grego, considerava que a água era o principal motivo da existência da vida, tanto, que desafiou vários outros cientistas a provarem o contrário. Nos tecidos musculares e nervosos sua proporção é de 70% a 80%, enquanto que no tecido ósseo é de aproximadamente 25%. Nas águas-vivas sua proporção pode chegar a 98%, nos moluscos é um pouco maior do que 80%, na espécie humana varia entre 60 e 70%. A proporção varia também com a idade do indivíduo. Nos embriões, a quantidade de água é maior do que nos adultos. A sua concentração no citoplasma depende da atividade celular. Fora da célula os nutrientes estão dissolvidos em água, que facilita a passagem através da membrana celular e, dentro da célula, é o meio onde ocorre a maioria das reações químicas. Além de preencher os espaços, influi na configuração e nas propriedades biológicas das macromoléculas. A distribuição desigual de cargas propicia a formação de quatro 101 Agrobiologia Unidade 4 Biologia molecular pontes de hidrogênio entre moléculas de água vizinhas, e por isso necessita de uma grande quantidade de calor para a separação das o moléculas (100 C), tornando a água um excelente tampão de temperatura. Devido à bipolaridade a água é um excelente solvente, dissolvendo muitas substâncias cristalinas e compostos iônicos que são atraídos fortemente pelas cargas dos pólos. É o solvente do sangue, da linfa, dos líquidos intersticiais nos tecidos e das secreções como a lágrima, o leite e o suor. Possui afinidade por alguns grupamentos químicos. Os grupamentos polares possuem alta afinidade pela água, e as substâncias que possuem em sua estrutura molecular, altos teores desses componentes são considerados substâncias hidrofílicas. São exemplos de substâncias hidrofílicas, a maioria dos carboidratos, os ácidos nucléicos e muitas proteínas. Moléculas com poucos ou sem grupamentos polares são chamadas hidrofóbicas, por exemplo, os lipídios. Além da função de solvente universal e do poder tampão, a água pode atuar como meio de transporte de substâncias entre o interior da célula e o meio extracelular, na hidrólise de proteínas, lipídios e carboidratos. Proteínas São macromoléculas formadas por vários aminoácidos (L- aminoácidos), unidos por ligações peptídicas formando uma cadeia. Formam praticamente todas as estruturas celulares, por isso são os compostos mais abundantes na célula, depois da água. Além da função estrutural, as proteínas podem funcionar como fonte de energia para a célula. Apresentam sempre elevado peso molecular, já que são formadas pela polimerização de centenas de aminoácidos, constituindo moléculas enormes de estrutura complexa. A hidrólise completa de uma molécula protéica determina a liberação de um grande número de aminoácidos. Embora na natureza existam mais de 150 aminoácidos, somente 20 são utilizados para compor proteínas, e todos possuem um grupamento NH (amino) (Os aminoácidos prolina e a hidroxiprolina 2 102 Agrobiologia Unidade 4 Biologia molecular possuem o NH (imino) ao invés do NH ) e um grupo COOH (carboxila) 2 ligados ao carbono alfa da molécula. O restante da cadeia de carbonos é que diferencia um aminoácido de outro. As ligações peptídicas se dão entre o grupo COOH de um aminoácido e o radical NH de outro, com a 2 saída de uma molécula de água. Os vinte aminoácidos essenciais não podem ser sintetizados pelas células, por isso têm que ser absorvidos através da alimentação, os quais citamos: glicina, alanina, valina, leucina, isoleucina, serina, treonina, tirosina, fenilalamina, triptofano, ácido aspártico, ácido glutâmico, lisina, arginina, histidina, asparagina, glutamina, cisteína, metionina e prolina. As proteínas podem ser simples, quando contêm na sua estrutura apenas aminoácidos, ou conjugadas (proteínas complexas) contendo na sua estrutura também uma parte não protéica, denominado de grupo prostético. Como exemplo de proteínas conjugados podemos citar as nucleoproteínas (que contém ácidos nucléicos), as glicoproteínas(contém polissacarídeos) e as lipoproteínas (contém lipídeos) e outros. Existem proteínas filamentosas que são insolúveis em água, conhecidas como proteínas fibrosas, por exemplo o colágeno e a fibrina. As proteínas podem perder as suas funções, quando desnaturadas ou se tornarem inativas quando submetidas a determinados valores de temperatura e pH. Porém, as proteínas quando inativadas podem voltar ao normal se o meio se tornar propício. Quando desnaturadas elas perdem a sua forma e função características e não mais retornam à condição inicial. As proteínas podem perder as suas funções, quando desnaturadas ou se tornarem inativas quando submetidas a determinados valores de temperatura e pH. Porém, as proteínas quando inativadas podem voltar ao normal se o meio se tornar propício. Quando desnaturadas elas perdem a sua forma e função características e não mais retornam à condição inicial. As enzimas são proteínas específicas, biocatalizadores orgânicos capazes de acelerar reações químicas, sem participar delas, tanto no sentido da síntese como da degradação de moléculas. Graças às enzimas as células sintetizam moléculas em milésimos de segundos. Sem as enzimas dificilmente ocorreria o desencadeamento de reações 103 Agrobiologia Unidade 4 Biologia molecular químicas importantíssimas para a vida. São sempre produzidas pelas células, mas podem evidenciar sua atividade intra ou extracelularmente. As enzimas possuem atividade específica na relação enzima- substrato. As substâncias sobre as quais as enzimas atuam, são considerados como substratos. Para um substrato ou para um grupo de substrato existe uma enzima específica, sendo assim, não possuem qualquer efeito sobre outros. As reações enzimáticas são reversíveis, isto é, podem ocorrer nos dois sentidos da reação. São exemplos de enzimas: a ribonuclease, que degradam os ácidos ribonucléicos, a pepsina e a tripsina que degradam as proteínas, as fosfatases que degradam moléculas de fósforo. Podemos enumerar como funções das proteínas: formação da estrutura dos organismos (proteínas filamentosas e microtúbulos), informacional (nos hormônios e proteínas), movimento celular (devido a atividade motora produzida pela actina-miosina), enzimática e energética. Carboidratos São conhecidos vulgarmente como açúcares, e são formados por várias moléculas de monossacarídios, por isso são denominados de polissacarídios, os quais podem ser lineares ou ramificados. São denominados ainda de glicídios, glúcides ou hidratos de carbono. São compostos formados por cadeias de carbono, hidrogênio e oxigênio, e que representam as principais fontes de energia para a célula. Essa fonte de energia pode ser obtida pelas plantas através da fotossíntese e pelas bactérias através da quimiossíntese. Além de serem fonte energética, os carboidratos são constituintes estruturais das paredes celulares e das substâncias intercelulares. A classificação dos carboidratos se dá através do número de monômeros que os constituem. Do ponto de vista biológico, os carboidratos podem ser classificados em: monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos. - Monossacarídeos ou oses: são carboidratos simples que não sofrem hidrólise. Suas moléculas possuem de 3 a7 átomos de carbono e são divididos em trioses, tetroses, pentoses, hexoses e heptoses. Entre as hexoses (C H O ) podemos encontrar a glicose, frutose, manose e a 6 12 6 104 Faça uma pesquisa sobre a concentração de proteínas e vitaminas nas frutas e hortaliças e debata com seus colegas Agrobiologia Unidade 4 Biologia molecular galactose, entre as pentoses podemos encontrar a ribose (C H O ) e a 5 10 5 desoxirribose que são encontrados nos ácidos nucléicos. - Dissacarídeos: são carboidratos formados por dois monômeros de hexoses com perda de uma molécula de água. Os principais são a maltose, a sacarose e a lactose. A maltose é formada por duas moléculas de glicose, é um produto da hidrólise do amido. A sacarose, formada por glicose e frutose, é o açúcar da cana e da beterraba. A lactose, formada pela glicose mais galactose, é o açúcar do leite. A fórmula geral é C H O 12 12 11. - Polissacarídeos: são carboidratos constituídos de grande número de monômeros de hexoses com a correspondente perda de moléculas de água. Os principais são o amido, o glicogênio e a celulose. O amido é produto de reserva dos vegetais, e pode ser encontrado na mandioca, batatas, trigo, arroz, milho etc. O glicogênio é o produto de reserva dos animais. Nos animais acumula-se no fígado e nos músculos. A celulose forma a parede das células vegetais, onde serve de proteção e sustentação. Os carboidratos quando ligados às proteínas possuem a função estrutural, isolados como é caso do glicogênio e do amido, desempenham a função como fonte energética. O glicogênio é o carboidrato de reserva das células animais e são encontrados em forma de grânulos, e o amido é o carboidrato de reserva das células vegetais, sendo que este pode ser encontrado de duas formas, como amilose com cadeia linear, e como amilopectina com cadeia ramificada. Além da função energética, os carboidratos possuem a função estrutural. Alguns polímeros são presos na superfície celular, desempenhando a função de sustentação. Quando combinados com proteínas formam o glicálix das células animais, da parede das células bacterianas e das células vegetais. Lipídios São compostos conhecidos vulgarmente como óleos e gorduras, formados por carbono extraído de células e tecidos por solventes orgânicos não-polares como éter, clorofórmio e benzeno. Eles resultam da combinação de ácidos graxos com alcoóis. São os mais 105 Agrobiologia Unidade 4 Biologia molecular abundantes depois da água e da proteína, e são considerados a segunda fonte de energia nas células. Embora os lipídios forneçam o dobro de energia por unidade de grama do que os carboidratos, as células preferem metabolizar os carboidratos, pois são mais facilmente oxidados. Na célula eles têm também um papel estrutural. Participam da formação da estrutura da membrana plasmática e de diversas outras. Nos animais homotermos, a camada de lipídios sob a pele tem a função de isolante térmico, evitando a perda excessiva de calor. Os lipídios atuam como solventes de algumas vitaminas (A, D, E, K) e outras substâncias ditas lipossolúveis, de grande importância para os organismos. De acordo com as funções principais, os lipídios são divididos em duas categorias: lipídios de reserva nutritiva e lipídios estruturais. Os de reserva nutritiva são compostos de gorduras neutras. São ésteres de ácidos graxos como o glicerol ou glicerina. Os depósitos intracelulares de lipídios são formados quase que exclusivamente por gorduras neutras. Estes depósitos são os triglicerídios que são metabolizados para fornecer energia para a célula, e quando em excesso no organismo humano são responsáveis pelas doenças cardiovasculares. Os lipídios estruturais fazem parte de todas as membranas celulares. São mais complexos que os de reserva nutritiva, pois possuem moléculas longas, dotadas de extremidades polares hidrofílica e apolares hidrofóbica. São exemplos de lipídios estruturais, os fosfolipídios, glicolipídios e o colesterol. Classificação dos Lipídios Os lipídios são divididos em simples e complexos, conforme o parágrafo abaixo. Ambos os grupos possuem na sua estrutura o carbono, hidrogênio e oxigênio, sendo que nos complexos podemos ainda encontrar o nitrogênio, o fósforo ou o enxofre. Lipídios simples: a) Glicerídeos: são aqueles em que o álcool da molécula é o glicerol ou a glicerina. Estão incluídos os óleos e as gorduras. b) Cerídeos: são aqueles em que o álcool da molécula é superior ao glicerol. Ex: ceras animais e vegetais. c) Esterídeos ou esteróides: formado por álcool policíclico, isto 106 Agrobiologia Unidade 4 Biologia molecular é, de cadeia fechada como o colesterol. São exemplos de esterídeos, os hormônios sexuais e do córtex das supra-renais, o calciferol (Vitamina D ) 2 e o 7-deidrocolesterol ativado (Vitamina D ). 3 Lipídios complexos: a) Fosfolipídeos: possui um radical fosforado integrando uma cadeia nitrogenada. Como exemplo a lecitina (integra a membrana plasmática), cefalina e esfingomielina (encontradas no encéfalo e na medula espinhal). Os sais minerais Os sais minerais participam ativamente da regulação osmótica da célula, estimulando, em função de suas concentrações, a entrada e a saída de água na célula. A concentração dos sais na célula determina o grau de densidade do material intracelular em relação ao meio extracelular. Em função dessa diferença ou igualdade de concentração é que a célula vai se mostrar hipotônica, isotônica ou hipertônica em relação ao exterior. Os sais minerais podem aparecer nas células na forma cristalina ou na forma ionizada. Quando ionizados, os sais minerais funcionam como catalisadores de reações químicas na célula. Importância dos sais minerais - O ferro é importante para a formação da hemoglobina, cuja deficiência causa um dos tipos de anemia nos animais. O iodo ativa a glândula tireóide, cujos hormônios possuem iodo na sua fórmula. A falta de sais de iodo na alimentação ocasiona o bócio. - O Cálcio participa da coagulação sanguínea e na contração muscular. - O magnésio participa da formação da molécula de clorofila, essencial para a realização da fotossíntese. - Os fosfatos e carbonatos de cálcio participam na sua forma cristalina da composição dos ossos e dos dentes dos animais. Como íons isolados, atuam no equilíbrio do pH intracelular. - Os íons de sódio e potássio participam na transmissão dos impulsos nervosos através dos neurônios, provocando descargas elétricas. Faça uma listagem de alimentos ricos em carboidratos, proteínas e lipídios 107 Agrobiologia Unidade 4 Biologia molecular - Os íons fósforo fazem parte da molécula do ATP (composto que armazena energia) e integra as moléculas de ácidos nucléicos (DNA e RNA). Os ácidos nucléicos São compostos extremamente importantes para as células, pois são responsáveis pela produção de todas as enzimas que controlam a atividade celular. Nos ácidos nucléicos há a “programação” da produção das enzimas. Sendo assim, sem ácido nucléico não haveria enzima, e sem essas não ocorreriam as reações que controlam a vida celular. Eles constituem a base química da hereditariedade. Os ácidos nucléicos são moléculas alongadas formadas pela combinação de diversas unidades menores chamadas de nucleotídeos. Estão sempre associados a proteínas, que constituem um radical prostético. Essas proteínas são chamadas de nucleoproteínas. Existem dois tipos básicos de ácidos nucléicos: O ácido ribonucléico (RNA) e o ácido desoxirribonucléico (DNA), os quais são encontrados em todos os seres