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-- SUSPENSÃO DE SEGURANÇA EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA: LIMITES CASSIO SCARPINELLA BUENO Advogado formado pela Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), instituição na qual obteve os títulos de Mestre (1996), Doutor (1998) e Livre-docente (2005) em Direito Processual Civil, todos com a nota máxima, e onde exerce as funções de Professor- Doutor de Direito Processual Civil nos cursos de Graduação, Especialização, Mestrado e Doutorado. Membro e Diretor de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro de Direito Processual. Membro do Instituto Iberoamericano de Direito Processual e da Associação Internacional de Direito Processual. Integrou a Comissão Revisora do Anteprojeto de novo Código de Processo Civil no Senado Federal e participou dos Encontros de Trabalho de Juristas sobre o mesmo Projeto no âmbito da Câmara dos Deputados. 1. Palavras iniciais O presente trabalho pretende abordar o "pedido de sus- pensão", mais comumente chamado de "suspensão de seguran- ça" quando empregado em matéria tributária, buscando iden- tificar seus limites. Mais que limites, contudo, a conclusão mais adequada a ser alcançada com relação àquela medida é de sua total 163 . t Brasileiro de Estudos Tributários IBET _ Institu o . . . nalidade e desnecessidade, ao menos do Pont inconstitucio 1·d de Máxime em casos col'n o de . . "d. a atua i a . ' .. ,..lo o vista JUrI ico, n d " ·t t "b t,, . aqui d. respeito ao irei o ri u ano e ern estudado, que izem . . ,, · d . que o . t t lado J·urisdicionalmente e, a1n a que in nat obJeto a ser u e Ura, pecuniário. A Si.ção que se segue toma como referência O rnanct expo . . ~ do de segurança. o instituto aqui exami~ado, contudo, tern serventia quando há medida liminar proferida em sede de "pro. cesso cautelar" contra a Fazenda Pública e também quando a hipótese for de tutela antecipada contra a Fazenda Pública. Isto por força do disposto no art. 411 e respectivos parágrafos da Lei n. 8.437/1992 e do art. lª da Lei n. 9.494/1997, respectivamente. As eventuais distinções de aplicação do instituto em cada caso são identificadas e analisadas ao longo do texto. A suspensão de segurança também é prevista no § líl do art. 12 da Lei n. 7.347/1985, que disciplina a "ação civil pública", o que atrai para o ponto, idênticas observações às que são feitas ao longo da exposição. Não se perca de vista, contudo, a vedação daquela ação coletiva para discutir questões tributárias, con- soante o flagrantemente inconstitucional parágrafo único do art. 1 .a da mesma Lei, fruto, tanto quanto a maior parte dos parágra- fos do precitado art. 4.a da Lei n. 8.437/1992, da Medida Provisó- ria n. 2.180-35/20011, que institui, a meu ver, o que já tive opor- tunidade de chamar de "contra-reforma do Código de Processo Civil2• 2 A" · d . suspensao e segurança": visão geral O art. 15 da Lei n. 12.016/2009, que é o diploma legislativo 1. Para esta discussão, v. 0 me O ,, . . ,, 59. Mais recentemente voltei· t u poder publico emJuizo, esp. p. 148-1 .AI ' ao ema em m e . . • rocessuu- civil, vol. 2, tomo III 203 eu urso sistematizado de direito P , p. -205. 2. Este é o mote, com efeito d onhº especialmente nas na p, . ' 0 meu O poder público em juízo, como exP agmas l-l4 daquele trabalho. 164 IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários que na atualidade disci 1 · d d . . . ' , P 1na o man a o de segurança 1nd1v1- dual e coletivo trata da " - d . suspensao e segurança", que ocupava, anteriormente e de forma bastante tímida, o art. 13 da Lei n . 1.533/1951 e, mais amplamente, o art. 4.0 da Lei n . 4.348/1964, com seus dois parágrafos acrescentados pela Medida Provisória n . 2.180-35/2001. Em função do avento da Lei n. 4.348/1964, aliás, a interpretação mais adequada era no sentido de que o precita- do art. 13 da Lei n . 1.533/1951 já havia sido revogado3• Sempre que tive oportunidade de me manifestar sobre o assunto, fiz questão de destacar o entendimento quanto à in- constitucionalidade da medida. Dentre outras razões pela cir- cunstância de ela atritar com o princípio da isonomia - da "paridade de armas" - ao prever à pessoa jurídica de direito público (e ao Ministério Público) mecanismo processual não disponibilizado ao impetrante e que tem aptidão para interferir diretamente no que é mais caro ao mandado de segurança, a produção imediata dos efeitos das decisões jurisdicionais pro- feridas em prol do impetrante, assegurando a sua fruição in natura. Até porque, se é verdade que quando o instituto foi concebido pelo legislador brasileiro, o sistema processual civil era pouco claro quanto às possibilidades de a fase recursai de- senvolver-se sob o manto do "dever-poder geral de cautela", a observação não condiz à realidade normativa hoje vigente4. 3. Cf. Napoleão Nunes Maia Filho, Estudos processuais sobre o mandado de segurança, p. 133, e o meu Mandado de segurança, p. 163-164. 4. o instituto foi previsto originariamente no art. 13 da Lei n.' 191/36 e no _art. 328 do Código de Processo Civil de 1939 com as 12 segu1ntes redaçoes, t . te· "Art 13 Nos casos do art. 8 12 , § 9 , e art. 10, poderá o respec 1vamen . .n • · presidente da Corte Suprema, quando se tratar de dec~s~o da Justi~a Federal, d C t d Apelação, quando se tratar de dec1sao da Justiça local, a ou o a ore e 'd' d d ' · , bl' · t d presentante da pessoa juri 1ca e 1reito pu 1co requer1men o o re , , , . · t d ·tar lesa· 0 grave à ordem, à saude ou a segurança publica, m eressa a, para ev1 . . . t - d to 1·mpugnado até o julgamento do feito, em primeira man er a execuçao o a d . ,. • " "Art 328 A requerimento do representante da pessoa ou segun a mstanc1a . .n · · . _ · 'd' d d' ·t 'bli'co 1·nteressada e para evitar lesao grave à ordem, à Jun 1ca e irei o pu . 'b l , d , , bli'ca poderá o presidente do Supremo Tr1 una sau e ou a segurança pu , 165 IBET _ Instituto Brasileiro de Estudos Tributários Q d O "pedido de suspensão" é dirigido ao S uan o .b Uper' Tribunal de Justiça e/ou ao Supremo Tri _unal Federal-no lor d hamado de "pedido de suspensao da não-susp ~lle po e ser e . ,.. . d ensao'' _ , ela crítica soma-se a circunstancia e a Constituiç- ' aqu ,.. . d 1 . ao Fe. deral não ter previsto competencia aque es Tribunais t · • Para julgá-lo originariamente, o que con raria a interpretação dad Por eles próprios à taxatividade de sua competência fixact ª . 1 e t ·t . - 5 a, única e exclusivamente, pe a ons i uiçao . Não obstante estar convencido do acerto desta conclusã t d . ,, 1 o, é importante, ao menos para o momen o, eixa- a de lado para sem O que não haveria elementos para refletir sobre O tema proposto. De acordo com a regra em exame, é possível suspender a eficácia de medida liminar ou de sentença em mandado de Federal ou do Tribunal de Apelação, conforme a competência, autorizar a execução do ato impugnado." 5. Para essa demonstração, v. o meu O poder público em juízo, p. 58-63. Em oportunidade anterior, busquei compatibilizar o instituto com a ordem cons- titucional vigente, entendendo-o como uma forma de prevalecimento do in- teresse público sobre o interesse particular. Mesmo assim, contudo, a hipóte- se só se justificaria diante do que consagra o art. 52 , XXN, da Constituição Federal: a desapropriação de direitos pressupõe prévio pagamento de j~ ta indenização. A solução, de qualquer sorte, apresenta-se como verdadeira antítese à noção mais comezinha de mandado de segurança, predestinado ª buscar a proteção de um direito, lesionado ou ameaçado, in natura. Para tanto, consultar o meu Liminar em mandado de segurança: um tema com _v~- riações, p . 213-228, com a bibliografia lá indicada. O art. 18.2 da "Ley 0rgani· ca del Poder Judicial" espanhola prevê, similarmente, o seguinte: "Sólo P?r causa de utilidad pública o interés social declarada por el Gobierno, p~dran · 1 d ' ' bl ca en expropnarse os erechos reconocidos frente a la Administración Pu 1 1 una sentencia firme, antes de su eiecución En este caso el Juez o Tribuna .: • J • ' orv1 .. ~ui~m corresponda la ejecución será el único competente para senalar p é de n~c1de?tal la co~res?ondiente indemnización". O dispositivo, contudo, cola· d~scutivel constitucionalidade, como dá notícia Manuel Ortells Rarn?s, •ón c1onando as lições de M B lt - . (La e3ectLci · e ran de Fehpe e M. Bassols Coma para de condenas no dinerari l l . •z 51 e 99), . _ as en a ey de enjuiciamiento cwi , P· Lei Il• uma expos1çao que busca compatibilizar o instituto J. á na regência dah Co· 12.016/2009 com " d 1 ' . • 0 oc a, , . ,' 0 mo e O constitucional" , v. Caio Cesar Vieira .[l, mentarios a nova lei do mandado de segurança, p. 204-206. 166 • IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários segurança para evitar "grave lesão à ordem, à saúde, à seguran- ça e à economia públicas". Trata-se de medida anômala com finalidade bastante específica: paralisar, suspender, neutralizar ou imunizar os efeitos de decisão favorável ao impetrante pro- ferida, liminarmente ou a final, em mandado de segurança6• Os critérios empregados para a suspensão dos efeitos da decisão proferida em desfavor do Poder Público, é lê-los uma vez mais, não dizem respeito ao erro cometido pelo seu prolator. Nem error in procedendo e nem error in judicando. Trata-se, diferentemente, de viabilizar ao Presidente do Tribunal compe- tente para julgamento do recurso ( que não necessariamente será interposto; v. n. 6, infra) a suspensão da eficácia de decisão em desfavor do Poder Público analisando-a não do ponto de vistajurídico, insista-se, de seu desacerto, mas de sua afronta à ordem pública, quanto a ela causar ou, quando menos, ter ap- tidão de causar lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. A análise do ato que se pretende suspender, destarte, dá-se mais na perspectiva da inconveniência de sua manutenção do que, propriamente, do seu acerto ou desacerto. É este, aliás, o viés político que muitos autores enxergam na medida até como forma de justificar a sua previsão no ordenamento jurídico 7. Não é errado entender esse instituto como uma espécie de "pedido de efeito suspensivo avulso", que se justificou à 6. Para uma profunda discussão sobre a natureza jurídica do "pedido de suspensão", é imperiosa a leitura do trabalho de Marcelo Abelha Rodrigues, Suspensão de segurança: sustação da eficácia de decisão judicial proferida contra o Poder Público, p. 95-104. Para o prestigiado processualista capixaba, 0 instituto deve ser entendido como um incidente processual, não como ação e nem como recurso. 7 .. Particularmente - e sempre juízo do que escrevi - entendo que a justifi- cativa posta no texto não pode ser acatada, até porque, em última análise, ela afronta o princípio da separação dos Poderes (art. 2° da Constituição Federal). Trata-se, contudo - e é isto que o texto quer evidenciar - de entendimento corrente na doutrina e na jurisprudência. A resenha feita por Alexandre Frei- t~s Câmara (manual do mandado de segurança, p . 279-297) a respeito é sufi- cientemente ilustrativa do acerto da última afirmação. 167 t·t to Brasileiro de Estudos Tributários IBET-Ins 1 u . - 0 por causa da inadmissão, pela jurisp é~oca dle sdua ctr~aça do cabimento do agravo de instrurnen~dên. eia e pe a ou rina, . . d d o con. d . - oncessiva da hminar em se e e mandado de tra a ec1sao e . .b. . segu At , rque mesmo que aceita a recorri ihdade dess d · rança. e po , . a e. . - ele recurso era inapto para evitar eventuais dano c1sao, aqu s ou transtornos para o réu do mand~do de seg~rança. Justamente porque O agravo de instrument_o nao suspen?i~ generalizadamen. te os efeitos da decisão recornda, ao contrario do que hoje é ex. pressamente admitido pelo art. 558, caput, do Código de Processo Civil, desde a Lei n. 9.139/1995. Também o recurso de agravo de petição, cabível das sentenças proferidas em sede de mandado de segurança, era, de acordo com a maior parte da doutrina da épo- ca, despido de efeito suspensivo8• Justificava-se, assim, que o le- gislador criasse mecanismo como o instituto em exame, para in- viabilizar que os efeitos da decisão que acabara de reconhecer o direito do impetrante fossem experimentados desde logo. 3. Legitimidade Tem legitimidade para formular o "pedido de suspensão" a "pessoa jurídica de direito público interessada". A locução, que repe~e a do art. 4n, caput, da Lei n. 4.348/1964, continua a merecer interpretação ampla: todo aquele que pode ser alvo de mandado de seguran f - • - 'bl'· ça em unçao do exercício defunçao pu 1 catem legitimidade p l ·t a . . ara P e1 ear a suspensão nos termos e par os fins do d1spos1tivo em exame. É esta a ra - l - · d' t zao pe ª qual até entidades da administraçao in ire a e conce . ,, . ·d d Para a ~ l ~s1onarios de serviço público têm legitirn1 a e 1ormu açao do p d 'd •d de seus atos sere e 1 0 como necessária contrapartl ªd. m contrastá · · . . . . é 10 do mandad d veis Jurisd1c1onalmente por 1nterrn o e segurança 9. 8. A respeito do assunto v . o de Processo Civil, t . 5, p. 197 ' · Pontes de Miranda, Comentários ao Códig 9. Para esta demonstra ~ ~a doutrina · Çao, v. o meu M d 253-254· mais recente v. H an ado de segurança, P· d do de ' ·· umb t T n a er O heodoro J r. Lei do ma 168 ' IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários O caput do art. 15 da Lei n. 12.016/2009, inovando, ao me- nos expressamente, em relação à disciplina anterior relativa ao mandado de segurança, admite que também o Ministério Pú- blico apresente o "pedido de suspensão". A atuação do Minis- tério Público, na espécie, dá-se a título de custos legis; não como parte, e afina-se, por isso mesmo, com as suas funções institu- • • 10 c1ona1s . 4. O agravo interno da decisão que defere o pedido de sus- pensão O art. 15, caput, da Lei n. 12.016/2009 admite expressamen- te o cabimento de agravo da decisão que concede a suspensão. Trata-se de agravo interno, expressamente previsto na lei e, por isso, não regimental, a ser processado de acordo com as regras estabelecidas genericamente pelo art. 557 do Código de Processo Civil. A nova regra colocou fim a importante questão relativa ao prazo do agravo. Ele deverá ser interposto em cinco dias e não mais em dez dias, como, expressamente, impunha o caput do art. 4ll da Lei n . 4.348/1964, que, sendo regra específica, devia ,, • 11 prevalecer sobre a s normas genencas . A circunstância de a lei tirar efeito suspensivo ao recurso merece ser interpretada à luz do sistema p rocessual civil. Na medida em que se façam presentes os elementos autorizadores do "dever-poder geral de cautela" no âmbito recursai (art. 558, caput, do Código de Processo Civil), não há como, sob pena de segurança, p . 306-307, e Alexandre Freitas Câmara, Manual do mandado de segurança, p. 306-308. 10. Para essa demonstração, sustentando a legitimidade do Ministé rio P úblico para o pedido mesmo diante do silêncio do art. 4°, caput, da Lei n. 4.348/1964, v. o meu Mandado de segurança , p. 254-256. 11. Para essa demonstração, v. o meu Man dado de segurança, p . 258-259. 169 IBET _ Instituto Brasileiro de Estudos Tributários . .d. m inconstitucionalidade, negar que o efeito suspen . 1nc1 ir e / . d s1v0 . dido Entendimento contrario, e resto, presta seJa conce · . / . -se a a desmesurada e generalizada pratica do rnand recuperar . . . _ ado de segurança contra ato Jud1c1al que nao deve ser prestigiad 1 . ·1 t 112 a em um sistema processua c1v1 como o a ua . Vale destacar, a respeito do dispositivo, que o caput do art. 15 da Lei n. 12.016/2009, ao repetir a redação do caput do art. 4Q da Lei n. 4.348/1964 não se deu conta do cancelamento das Sú- mulas 506 do Supremo Tribunal Federal e 217 do Superior Tribunal de Justiça, que estabeleciam, como já fazia a lei então vigente, que o agravo interno só era cabível da decisão do Pre- sidente que concedia o pedido de suspensão; não do que o ne- gava. A opção legislativa, espelhada em ambas as Súmulas, era mais que justificável à luz do "modelo constitucional do man- dado de segurança", razão pela qual os seus cancelamentos, com o devido respeito, não tinham a minha concordância, embora, isto é inegável, afinassem-se com as modificações mais recentes do Código de Processo Civil e, de forma ampla, com a da legis- lação extravagante sobre o assunto13• O fato é que a lei vigente prevê o cabimento do agravo somente no caso de deferimento do pedido; não de seu indeferi- mento. Deve prevalecer o texto da lei ou a fundamentação que levo~ 0 Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de JuSb~a ª cancelarem as súmulas noticiadas? Considerandoq~e o cab1m:nto do agravo só no caso previsto pelo legislador rn~1s recente e a alternativa que mais se afina com o berço constitucio· nahl ~~ mt andado de segurança, é vedado ao intérprete generalfiiz~ a ipo ese. O indefe · ,, ·gni 1c"'' nmento do pedido de suspensao SI para todos os fins p . u qtJe ' que O residente do Tribunal reconhece 12. Para essa discussão v 71 e, r11ai5 amplamente, tratando d · 0 meu Mandado de segurança, P· 66d-. '. ai cof11° sucedâneo recursal m eº mandado de segurança contra ato ju ~ci_l v. 5, P· ' eu urso sist · l ciV1 ' 4 79-489. ematizado de direito processua 13. Para o assunto v o m M ' · eu and d d 3 a o e segurança, p . 260-26 · 170 IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários a decisão que favorece o impetrante não tem aptidão para cau- sar impactos negativos na ordem pública, e, por isso, deve ela surtir seus regulares efeitos desde logo. Ademais, a previsão do cabimento do recurso de agravo interno pelo § 32 do art. 42 da Lei n. 8.437 /1992 é indiferente para a espécie. Aquele dispositivo, como já destacado, disciplina o cabimento do "pedido de suspensão" em cautelares contra o Poder Público e, por força do art. 12 da Lei n. 9.494/1997, também para os casos de antecipação de tutela contra o Poder Público. A previsão diferenciada da Lei n . 12.016/2009, justifica-se, vale a ênfase, por se tratar de mandado de segurança. Trata-se de norma específica e mais recente que, também por isto, deve prevalecer sobre aquela outra14• 5. O pedido de suspensão da não-suspensão A interpretação proposta pelo item anterior mostra-se como a mais correta até mesmo em função do § 1.u do art. 15 da Lei n. 12.016/2009. A regra, repetindo o que já constava do§ 1.u do art. 4.u da Lei n. 4.348/1964, introduzido pela Medida Provi- sória n. 2.180-35/ 2001, prevê que, "indeferido o pedido de sus- pensão ou provido o agravo a que se refere o caput deste artigo, caberá novo pedido de suspensão ao presidente do tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou extraordinário". É dizer: desde que o pedido de suspensão, tal qual formu- lado pela "pessoa jurídica de direito público interessada" ou pelo Ministério Público, for indeferido pelo Presidente do Tri- bunal ou, ainda, quando a decisão que deferira o pedido for reformada por força do agravo interno previsto no caput do 14. Contra, sustentando o prevalecimento do disposto no art. 411, § 3°, da Lei n . 8.437 /1992, v. Humberto Theodoro J r., Lei do mandado de segurança comentada, p . 315 e , forte, nas razões que levaram o STF ao cancelamento da Súmula 506, Alexandre Freitas Câmara, Manual do mandado de segurança, p. 302-306. 171 IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários d . sitivo (apresentado pelo impetrante), é possível a fo 1spo _ d' . .d rniu lação de um novo pedido de ~uspensao 1r~g1 o ao President~ do Superior Tribunal de Justiça ou ao Presidente do Suprerno Tribunal Federal. É importante notar que a regra em exame não prevê 0 cabimento do agravo do indeferimento do pedido. Muito pelo contrário: a solução dada pela hipótese é a de admitir um novo pedido a ser apresentado perante um dos Tribunais Superiores. Destarte, abstraída a inconstitucionalidade da regra não só por atritar com o princípio da isonomia e por prever compe- tência ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal, ao arrepio de autorização constitucional (v. n. 2, supra), o certo é que a postura reservada pela lei diante do indeferimen- to do pedido ou da modificação da primeva decisão monocráti- ca do Presidente do Tribunal, mercê do acolhimento do recurso apresentado pelo impetrante, é a de apresentar novo pedido perante aqueles Tribunais e não a de apresentar o recurso de agravo interno perante o colegiado competente para tanto, de acordo com o Regimento Interno de cada Tribunal. Entre as várias questões não enfrentadas pela Lei n. 12.016/2009 a respeito do assunto está a de discernir os casos ern que O novo pedido de suspensão deverá ser formulado perante 0 Superior Tribunal de Justiça ou perante O Supremo Tribunal Federal. A resposta está na mesma lógica que divide, com razoável nitidez, ª competência daqueles Tribunais para julgamento dos recursos especial e extraordinário apresentados de acórdão com dupla fundamentação, infraconstitucional e constitucional._ A depender dafundamentação do p d'd d , . a decisão cuJos fi . e 1 o e a propri 00 e e1tos se pretende ver suspensos, a competência será de u~ - de outro daqueles Tribunais. A soluçãoJ·ustifica-se tambéJll dia)~ te d d' - .f.rll . 0 que ispoe O art. 25, caput, da Lei n. 8.038/1990 (v. n. 9, in;' - 15. Para essa demonstra ã 212-273 e o meu O poder públ" ~ ~• v. 0 meu Mandado de segurança, P· ico em Juizo, p. 53-56. 172 IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários O§ 2.fl do art. 15 da Lei n . 12.016/2009 prevê o cabimento do "novo pedido de suspensão" "quando negado provimento a agravo de instrumento interposto contra a liminar a que se re- fere este artigo". Uma vez mais, a demonstrar o patente rompimento da paridade de armas no plano do direito processual civil, em de- trimento do impetrante que tem razão, está a lei infraconstitu- cional a criar mecanismo de reexame da decisão do Tribunal ou, quando menos, de sustação de seus efeitos imediatos, pe- rante os Tribunais Superiores, que não é concebido para o impetrante. Concedida a medida liminar em mandado de segu- rança impetrado em primeira instância e negado provimento ao agravo de instrumento interposto contra ela, o acórdão res- pectivo fica sujeito a ter seus efeitos suspensos mercê do novo pedido de suspensão previsto no § 1 íl do art. 15 da Lei n . 12.016/2009. Houve época em que tal previsão confirmava o que uma cuidadosa leitura sistemática já evidenciava: o entendimento de que cabia agravo de instrumento em sede de mandado de segu- rança 16. Por força das inovações trazidas pela Lei n . 12.016/2009, contudo, é suficiente, para embasar aquela mesma conclusão, o disposto no art. 7.!l, § líl. Destarte, a verdadeira ratio da regra ora veiculada pelo§ 2.fl do art. 15 do mesmo diploma legal tem condições de mostrar sua verdadeira face: a de criar, em prol da "pessoa jurídica de direito público interessada" e, até mesmo, do Ministério Público, um verdadeiro atalho para os Tribunais Superiores cujos Presidentes, como quer o § 1 íl do dispositivo, têm competência para sustar os efeitos da decisão contrária aos interesses dos réus do mandado de segurança 17• 16. Nesse sentido, v. o meu Mandado de segurança, p . 275-276. 17. Esta é a form a que sempre me pareceu correta para tratar do instituto, desde sua introdu ção no ordenamento jurídico nacional por obra da Medida Provisória n. 2.180-35/2001. A respeito, v. o meu O poder público em juízo, p . 87-94, e o meu Mandado de segurança, p . 267-272. 173 IBET _ Instituto Brasileiro de Estudos Tributários Vale destacar, contudo, que hipótese oposta, que tern t e - e · · Udo b Stante comum no 1oro, nao 101 prevista pelo legi· 1 para ser a . . , . s adot nem pelo atual e nem pelo da Med_1da ~ro_v1so:91a ~-2.180-35/2001'. a medida liminar é negada e~ primeira ~nsta~c1a, e o agravo d~ instrumento interposto pelo 1mpetrante e provido para concedê. -la. Em tal caso, cabe o "novo pedido de suspensão" nos moldes do art. 15, § 111, da Lei n. 12.016/2009? A resposta, forçosamente tem de ser negativa à falta de previsão legal. De resto, o pedid~ de suspensão disciplinado pelo art. 25 da Lei n. 8.038/1990 não tem aplicação na espécie por não se tratar de mandado de se- gurança impetrado originariamente no plano dos Tribunais mas, bem diferentemente, de recurso julgado pelos Tribunais. 6. Concomitância do pedido de suspensão e do agravo de instrumento O§ 3.Q do art. 15 da Lei n. 12.016/2009, repetindo o que já dispunha o§ 5il do art. 4.Q da Lei n. 8.437 /1992, aplicável ao man· dado de segurança por força do § 211 do art. 411 da Lei n. 4.348/1964, dispõe que "a interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações movidas contra o poder público e seu~ agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo". A melhor interpretação para a regra sempre deixandº de lado, para fins de e · - ' l'd de do . . xposiçao, a patente inconstituciona 1 ª instituto em ex , d sãO _ . ame, e a e entender que o pedido de suspen nao exclui o cabi t d de· . - . men ° o agravo de instrumento contra ª cisao concessiva da m d'd 1· d preser· var valo d' e i a iminar, porque destina o a , o res iversos do ord - orreÇll intrínseca d 1 . enamento jurídico que nao a e rs· aque a dec1sã o " • - " na pe pectiva da . º· pedido de suspensao , . 58 orientação ju . ·torto ' quer lidar com . risprudencial amplamente vi dida . . o impacto qu d . - . da JJle liminar assum e a ec1sao concessiva . trt1· e perante a " d de 111s mento, como qual or em pública". O agravo . vali· d quer outr ou in ar a decisão pro" 'd O recurso, quer reformar 1,1, ao ien a pelo . errº magistrado a quo porque 174 > IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários conceder a liminar que, na visão do agravante, deveria ter sido indeferida 18• A diversa fundamentação das duas medidas, por assim dizer, justifica(ria) a sua concomitância 19• 7. O contraditório no pedido de suspensão Repetindo a regra que já se encontrava no § 7il do art. 4il da Lei n. 8.437/1992, aplicável ao mandado de segurança graças ao § 2il do art. 42 da Lei n . 4.348/1964, o § 42 do art. 15 da Lei n . 12.016/2009 dispõe que "O presidente do tribunal poderá confe- rir ao pedido efeito suspensivo liminar se constatar, em juízo prévio, a plausibilidade do direito invocado e a urgência na concessão da medida". O dispositivo deve ser entendido no sentido de ser necessá- rio que o exame do pedido de suspensão seja precedido de contra- ditório. Que somente em casos onde houver a "plausibilidade do direito invocado" e a "urgência na concessão da medida" é que o Presidente do Tribunal respectivo poderá "conferir ao pedido efeito suspensivo liminar", isto é, concedê-lo antes do estabeleci- mento do contraditório. Prevalece para a hipótese - e nem po- deria ser diferente - o princípio do contraditório, albergado pelo 18. O dispositivo, destarte, alberga orientação que, na perspectiva destacada, já me parecia importante ser evidenciada desde a primeira vez que me debrucei mais demoradamente sobre o tema, no meu Liminar em mandado de segurança: um tema com variações, p. 242. 19. Bem ilustra a afirmação do texto o seguinte trecho da ementa do acórdão proferido pela Corte Especial do STJ no AgRg na SS 2.723/RJ, rel. Min. Felix Fischer, j.un. 20.8.2014, DJe 27.8.2014: "AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. ALEGADA GRAVE LESÃO À ORDEM PÚBLICA. INEXISTÊNCIA. INDEVIDA UTILIZAÇÃO DO INCIDENTE COMO SUCEDÂNEO RECURSAL. PEDIDO DE SUSPENSÃO INDEFERIDO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.( ... ) IV - Finalmente, na linha da pacífica jurisprudência desta eg. Corte, deve-se ressaltar que não se admite a utilização do pedido de suspensão exclusivamente no intuito de reformar a decisão atacada, olvidando-se o requerente de demonstrar o grave dano que ela poderia causar à saúde, segurança, economia ou ordem públicas. Agravo regimental desprovido.". 175 IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários t 52 LV: da Constituição Federal. Tanto para O Pect·ct ar . ' ' o. l o de suspensão formulado com base no § 1 como ~ara o "novo'' pedido autorizado pelo§ 22, ambos do art. 15 da Lei n. 12.016/2009. Somente em casos de urgência, em que o estabelecimento do prévio contraditório e o tempo que ele consome puderem comprometer a inteireza dos valores que o pedido de suspensão pretende resguardar, é que o§ 42 admite que a suspensão seja concedida liminarmente, isto é, postergando-se o contraditório , dada a necessidade da tutela imediata de outro valor constitu- cionalmente garantido, coisa que, de resto, é usual em todos os casos de pedidos de liminar fundados na necessidade da urgên- cia da prestação jurisdicional. É nesse sentido que deve ser entendida a expressão "conferir efeito suspensivo liminar". Trata-se de conceder a suspensão liminarmente, determinando-se, em seguida, o estabelecimento do contraditório. Colhida a ma- nifestação do impetrante, beneficiário da liminar, da sentença ou do acórdão, conforme o caso, o Presidente manterá a decisão liminar (suspendendo-se os efeitos da liminar, da sentença ou do acórdão) ou a reformará, para admitir que a decisão questio- nada volte a surtir seus regulares efeitos. Dessa decisão é que caberão eventuais recursos ou, afastada a inconstitucionalidade do instituto, sempre para fins de exposição, 0 novo pedido de suspensão de que trata O § 2.u do art. 15 da Lei n. 12.016/2009. 8. Pedido de suspensão coletivo O §0.50. do art. 15 da Lei n. 12.016/2009 repete a regra do§ 8~ do art. 4 da Lei n 8 437/1992 1· , 1 d do de segu · · , ap icave ao man a rança mercê do § 2.u do art. 4.u da Lei n. 4.348/1964. De acordo co . 5pensã0 d . . m a regra, uma vez concedida a su r e uma hm1nar. 0 t . ,., ·rase _ ' u ras, que seJam idênticas poderao vi suspensas tao só pel d' ' 1 0 a Itamento do pedido origina· Assim suspen . . . ar coil' . ' sos os efeitos de uma medida lurun • ;o cedida em mandado d d dec1s8 e segurança, é possível valer-se ª 176 IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários presidencial respectiva para suspender todas as outras que sejam idênticas, embora originárias de outros processos. Trata- -se de verdadeiro efeito intersubjetivo do pedido de suspensão, que se aproxima - e bastante - dos efeitos das súmulas vincu- lantes e quejandos. Claro, nesse sentido, o dispositivo, quando admite que os efeitos do pedido de suspensão original poderão ser estendidos a liminares supervenientes. O objetivo da regra é claro: para hipóteses juridicamente idênticas, deve-se dar a aplicação da mesma regra jurídica, embora filtrada, como ocorre no caso, pela Presidência do Tri- bunal. Trata-se de discurso que se afina com o princípio da isonomia e que não difere, substancialmente, do que está por trás da tutela dos denominados direitos ou interesses individuais homogêneos, pela qual o sistema infraconstitucional admite (e incentiva) o tratamento conjunto (coletivo) porque são qualita- tivamente idênticos uns aos outros. Trata-se, de resto, da idên- tica motivação de diversos outros dispositivos do Código de Processo Civil, dentre os quais é pertinente destacar o art. 557, caput, e § 1 fl_A (atuação monocrática do relator no âmbito dos Tribunais), o § 3íl do art. 4 75 (não sujeição da sentença ao ree- xame necessário quando seu fundamento for precedente de Tribunal), o art. 285-A Uulgamento liminar de improcedência do pedido), o art. 543-B (repercussão geral do recurso extraor- dinário em "casos múltiplos") e o art. 543-C ("recursos especiais repetitivos"), todos frutos das mais recentes reformas proces- suais empreendidas no Código de Processo Civil20• A aplicação da decisão paradigmática em cada caso con- creto, contudo, pressupõe o contraditório prévio do § 4fl do art. 15 da Lei n. 12.016/2009 (v. n. 7, supra), como forma de viabilizar que o impetrante contraste não só a identidade das hipóteses 20. Todos estes dispositivos encontra, nos Projetos de novo Código de Processo Civil, simila r, confirmando ser aquela a tendência do direito processual civil. Para esta demonstração, v. o meu Projetos de novo Código de Processo Civil, passim. 177 IBET _ Instituto Brasileiro de Estudos Tributários t legitimar a incidência da regra em comento concre as, a . ~ d , lb.as t b , para permitir a d1scussao e outros temas que se , am em, , . . , lb.os. trem relevantes para a espec1e, qu1ça apartando-a do "Prece. 'd . 121 dente" pres1 enc1a • Questão interessante que merece exame é a de saber se este efeito "coletivo" do pedido de suspensão tem aplicação Para os casos de sentenças ou acórdãos. A redação do dispositivo em comento refere-se apenas a "liminares". Do ponto de vista da economia e da eficiência processuais, a interpretação mais am- pla do dispositivo é inegável. Crítica a ela não reside na coleti- vização do processo a partir de um caso eleito como paradigmá- tico mas, bem diferentemente, dos usos (e abusos) dos pedidos de suspensão e de sua feição, cuja finalidade atrita com o "mo- delo constitucional do direito processual civil" e do próprio mandado de segurança. Eco dessa resposta encontra-se no próprio§ 5.Q aqui exa- minado. Embora a nova lei não o preveja, é irrecusável que 0 que a prática dos nossos Tribunais Superiores vem denominan- do "efeito multiplicador" como justificativa para a concessão do pedido de suspensão, tenha tudo para persistir no sistema. Trata-se do emprego da previsão em análise como fator para determinar ª suspensão de medidas liminares toda vez que houver probabilidade de haver um sem-número de decisões no mesmo sentido22 • 9. A suspensão de acórdão concessivo do mandado de segurança O art 15 d L · quí- . a e1 n. 12.016/2009 . 'd' d mesrno e voco do art 13 d L . , 1nc1 1n o no . ~ 0 8 · ª ei n . 1.533/1951, pressupõe que a decisa 21. Aceitando expressa rnbert0 Theodoro J~ Lei dom mdente este entendimento é a lição de }Iu ·, an ado d 22. Para essa demon t _ e segurança comentada, p . 316. s'ff e d S s raçao, com 1 - tes do 0 T J, v. o meu Mandado d ª co açao de diversos preceden e segurança, p. 280-281. 178 IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários ser suspensa seja proferida invariavelmente em mandado de segurança impetrado na primeira instância. Pode ocorrer, no entanto, que o mandado de segurança tenha sido impetrado diretamente nos Tribunais, como, de resto, admite expressamente o art. 16 da Lei n . 12.016/2009. Em tais casos, desconsiderando, para fins de exposição, não só a inconstitucionalidade mas também a desnecessidade do instituto no sistema recursai vigente atualmente (v. n. 2, supra), cabe lembrar do art. 25 da Lei n. 8.038/1990, que "institui nor- mas procedimentais para os processos que especifica, perante o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal". De acordo com o dispositivo, "Salvo quando a causa tiver por fundamento matéria constitucional, compete ao Presidente do Superior Tribunal de Justiça, a requerimento do Procurador- -Geral da República ou da pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à se- gurança e à economia pública, suspender, em despacho fun- damentado, a execução de liminar ou de decisão concessiva de mandado de segurança, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal". Está prevista, nesse dispositivo, a possibilidade de sus- pensão de liminar ou de acórdão concessivo de mandado de segurança impetrado originariamente nos Tribunais estaduais ou federais. Forçoso concluir, de acordo com sua redação, que é possível a suspensão de acórdão proferido por esses mesmos Tribunais que, em grau recursai, venha a confirmar sentença concessiva do mandado de segurança impetrado originaria- mente na primeira instância. Daí ler-se, do dispositivo legal destacado, que a suspensão tem lugar quando se tratar de decisão concessiva de mandado de segurança em única ou última instância. A competência do Presidente do Supremo Tribunal Fede- ral ou do Superior Tribunal de Justiça é identificada consoante 179 IBET _ Instituto Brasileiro de Estudos Tributários a fundamentação do próprio pedido de suspensão. Se a ,, , d , ,, d , , . grave lesão a or em, a sau e, a segurança e a economia pública" ·t · 1 t" · ,, res valar na ordem consb uciona , a compe encia e do Presid · · 1 ..., d 1 C t ,, . ente do Supremo Tribuna l.' e era . aso con rano, e residualn-- • •~ 1ente a competência é reservada para o Presidente do Superior Tri~ bunal de Justiça. Os três parágrafos do art. 25 da Lei n . 8.038/1990 discipli. nam o que pode ser chamado de "procedimento" do pedido de suspensão, que devem guiar o intérprete na interpretação do novel art. 15 da Lei n . 12.016/2009. De acordo com o § 1.0. do art. 25, fica assegurado o contra- ditório prévio ao deferimento da suspensão. Admite-se, para tanto, a oitiva do impetrante e do Procurador-Geral da Repú- blica, quando não for ele o requerente, no prazo de cinco dias. O verbo "poder" empregado pelo legislador não pode ser enten- dido como mera faculdade dos Presidentes dos Tribunais Su- periores. Trata-se de nítido dever, de verdadeira imposição constitucional (princípio do contraditório), que só admite pos- tergação diante da necessidade, devidamente justificada, de proteção imediata de outros valores constitucionais. Trata-se da mesma diretriz que deriva da escorreita interpretação do § 4.0. do art. 15 da Lei n . 12.016/2009 (v. n. 7, supra). O § 2.0. do art. 25 da Lei n . 8.038/1990 prevê o cabimento do impropriamente chamado "agravo regimental" da decisão que conceder a suspensão, isto é, que sustar a eficácia de liminar ou da decisão final concessiva da segurança. O recurso deve ... ser . d. oe o interposto no prazo de cinco dias, nos termos do que isp . ... 39 d . rev1sa0 art. o mesmo diploma legal. A regra afina-se com a P do caput do art. 15 da Lei n. 12.016/2009. M . 1,.. . rdo coJll ais po emico é o § 3.0. do mesmo art. 25. De aco to d - "A " nquaJl sua re açao, suspensão de segurança vigorara e iVª pender o recurso, ficando sem efeito se a decisão conces\ar for mantida pelo Superior Tribunal' de Justiça ou trans1 em julgado". 180 - IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários Leitura apressada e desatenta aos valores constitucionais, sempre subjacentes ao mandado de segurança, ou, quando menos, à melhor técnica processual, pode pretender fundamen- tar nesse dispositivo a tese da "ultra-atividade" do "pedido de suspensão", na esteira do que parece querer generalizar a Sú- mula 626 do Supremo Tribunal Federal. Por "ultra-atividade do pedido de suspensão" deve-se entender que, uma vez suspensos os efeitos da liminar, os efeitos de futura sentença concessiva da ordem estariam também - e antecipadamente - suspensos. Não é isso que deve ser entendido do dispositivo legal, contudo. O que o § 32 disciplina é que a suspensão de eventual liminar ( em se tratando de mandado de segurança impetrado originariamente nos tribunais) vigorará até o julgamento do mandado de segurança, quando a liminar é substituída pela decisão final. A oração "enquanto pender o recurso" só pode ser interpretada como o recurso da decisão concessiva da limi- nar (agravo interno e eventual recurso especial ou extraordi- nário interpostos do acórdão respectivo). O § 32 do art. 72 da Lei n. 12.016/2009 ao criar o "efeito anexo" tal qual propõe o n. 20, supra, é o dado de direito positivo infraconstitucional que faltava para proscrever, vez por todas, aquela tese do mandado de segurança23• A segunda parte do § 32 do art. 25 da Lei n . 8.038/1990, por sua vez, confirma o que é decorrência lógica do sistema: a sus- pensão ficará sem efeito se a decisão concessiva for mantida pelo Superior Tribunal de Justiça ou pelo Supremo Tribunal Federal, ou, ainda, se transitar em julgado. Tudo para confirmar o que, à época da criação do instituto no direito brasileiro, não 23. Essa é a correta conclusão a que chega Athos Gusmão Carneiro, "O mandado de segurança coletivo, nos termos da Lei 12.016/2009", p . 37, nos seguintes termos: "E igualmente [está] cancelada a Súmula 626 (pela qual a suspensão da liminar vigoraria até o trânsito em julgado da decisão concessiva da segurança), eis que a Lei 12.016/2009, art. 7íl, § 3íl, dispõe expressamente que 'os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a prolação da sentença'." . 181 IBET _ Instituto Brasileiro de Estudos Tributários poderia ser obtido de outra forma: o "pedido de suspensã ,, f as vezes de um verdadeiro efeito suspensivo "avulso" de eve~it az . d . , . . t Ual recurso especial ou extraor 1nar10 a ser 1n erposto pelo réu do mandado de segurança que, nos termos dos arts. 497 e 542, § 2Q do Código de Processo Civil, não têm efeito suspensivo. É dize/ sem O pedido de suspensão, a decisão concessiva da liminar ou da segurança é imediatamente eficaz. 10. Reflexões finais Como destacado de início, a suspensão de segurança é medida que, a despeito de seu empregado frequentíssimo no cotidiano forense, é de discutível constitucionalidade. A uma, porque se trata de providência que atenta ao princípio da iso- nomia; a duas, porque, a competência para sua concessão não encontra previsão na Constituição Federal que prevê, taxativa- mente, a competência dos Tribunais no âmbito do direito pro- cessual civil. Isto sem falar da desnecessidade do instituto no atual contexto normativo que não só prevê a recorribilidade das decisões proferidas contra o Poder Público mas também - e em idêntica medida - a possibilidade de atribuição de efeito "s~s- pensivo quando houver, a um só tempo, plausibilidade de exito no recurso e perigo na demora de seu julgamento. Não obstante e justamente pelo emprego constant~ da Su e - d • • ) ons1de-sp nsao e segurança sem maiores ( ou quaisquer e . - d . Ih quis raçoes acerca e sua inconstitucionalidade, este traba O . evidenciar os necessários limites de sua aplicação prática. Assu:ri, d t t · • d 1 itura en re ou ro pontos, fo1 evidenciada a necessidade e e restritiva de diversos dispositivos de sua lei de regência (;~ âmbito do mandado de segurança, o art. 15 da Lei n. 12.016/200 . Jl· Por fim mas n- • da suspe _ , ao menos importante: o emprego are· sao de segurança quando está sub . d' t 'b to é nulificar 1\.T - 1 ,. . d . JU ice ri u , . 0 J. ,,8 evanc1a o disposto no art 151 IV V. d C 'd' Tributar1 . . , e , o o 1go J118t1· c1onal, pelos quais, como cediço, a concessão de liminar eJJl. ad8 dado de segurança, ª de medida liminar ou de tutela anteciP 182 IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários em outras espécies de ação judicial tem, por si só, o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário. Uma vez concedida medida com aquele viés, a suspensão da eficácia da decisão contra o Poder Público significa, em ter- mos diretos, que o contribuinte precisará recolher o valor do tributo questionado aos cofres públicos. Ao fazê-lo, contudo, a viabilidade de fruição in natura por ele pretendida - e, em um primeiro momento, assegurada, mercê da decisão jurisdicional proferida em seu favor - cai por terra. A regra do solve et repete passa a ser, assim, a única solução para o caso concreto, em flagrante contradição com os avanços do direito processual civil mais recente e - o que é ainda mais grave - com o próprio sis- tema diferenciado de tutela material reconhecido pelo Código Tributário nacional, como demonstram suficientemente, os dispositivos acima evidenciados. Ainda quando a decisão favorável ao contribuinte é obtida, a despeito da criticável vedação do parágrafo único do art. 112 da Lei n . 7.347/1985, em ação coletiva ou, ainda - e como é mais comum-, quando ela tem efeito "multiplicador". A circunstân- cia de vários contribuintes obterem decisões jurisdicionais em seu favor perante o Estado-juiz só pode querer significar, do ponto de vista jurídico, que o Estado-administração ou, antes dele, o Estado-legislador está a cometer alguma irregularidade no processo de positivação da norma tributária. Os efeitos pre- judiciais que tais decisões têm a aptidão de causar aos cofres públicos, não há por que negá-los, não podem ser combatidos (sustados) por decisão que não enfrenta a questão do ponto de vista jurídico. E o pior: a multiplicação de decisões contrárias à Fazenda Pública tem o condão de justificar a suspensão da segurança expandindo os efeitos da primeira aos demais nos moldes do § 512 do art. 15 da Lei n. 12.016/2009. A hipótese oposta, de canali- zar em um só processo idênticas pretensões contra um mesmo a to tributá rio que se reputa ilegítimo, todavia, é descartada 183 IBET _ Instituto Brasileiro de Estudos Tributários aprioristicamente pela vedação do já mencionado parágr t único do art. 1 il da precitada Lei da Ação Civil Pública. ª 0 Exemplo bastante ilustrativo da afirmação do último Pa- rágrafo está na Suspensão concedida pelo então Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Desembargador Ivan Sartori, nos Processos 0199725-19.2013 e 0199859-46.201324 que impediu a produção dos efeitos de liminar concedida pel~ 7ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de São Paulo em ação civil pública promovida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo contra a Lei municipal de São Paulo sobre a revisão da Planta Genérica de Valores, base de cálculo do IPTU25• A ressalva feita em nota é tanto mais interessante quando se constata que em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade promovida perante o próprio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o Órgão Especial daquela Corte deferiu a liminar pedida, sustando os efeitos da polêmica lei, vencidos três Desembargado- res, dentre eles o Desembargador Ivan Sartori26• O Município e a Câmara Municipal de São Paulo pleitearam, perante o STJ, a suspensão dos efeitos daquele acórdão, negado pelo Presidente daquele Tribunal, Min. Felix Fischer, pela sua "manifesta impro- cedência", decisão da qual não foi apresentado nenhum recurs021• ~4 .. Suspensão de Liminar ou Antecipação de Tutela n. 0199725-19.2013.8.26.0000, J. 13.11.2013, registrado em 25.ll.2Ol3. 25. Cabe acrescentar p t . . fl - no texto, , ara ornar amda mais pertinentes as re exoes que, na~uela oportunidade, o Presidente do Tribunal não deixou de ace~t_uar ser poss1vel embora ex • 1 . , minun° de d . _' . cepciona, sem sede de suspensão" ... umJUIZO . efll d ehbaçao ª respeito das questões jurídicas debatidas na ação principal u or em a constatar a exist.. • d d' . ,, Acentuo ' a propo'si·to " . encia O ire1to e do perigo de grave dano · ·ci·pal , ser sugestivo" - h l · muni que d t . nao aver vício formal na edição da ei te" e ermmara a atualiz - d . " paren descabimento d _ . ~çao os valores venais dos imóveis e P ªd. te da a açao civil públ' . N- ó 1an vedação legal (recf . ica para o fim pretendido. ao 5 . d meote pretender fazer ius, por medida provisória) mas também por indevi a as vezes de aç· d. · d 26 ADI 0201865 26 ao ireta de inconstitucionahda e. é ·c)eS . - .2013.8.26.0000 ADI l Des. P ri Piza, j.m.v. 11.12 2013 . e 02O2182-24.2O13.0OOO, re · . 'registrado em 17.12 2013 27. SLS 1836/SP, j. 18.12 2013 DJ · · · ' e 19.12.2013. 184 IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários Idêntica sorte foi reservada ao pedido formulado perante o então Presidente do STF, Min. Joaquim Barbosa, em interes- santíssima (e irrecorrida) decisão na qual foram acentuadas as restritíssimas e excepcionalíssimas hipóteses de cabimento daquela medida e, no que tange ao dano ao erário, a percepção de que " ... o risco imediato de consolidação de quadros irrever- síveis pende em desfavor dos contribuintes. Na eventualidade de ser cassada a liminar, o município deverá cobrar o tributo, por dever de ofício e com a auto-executoriedade típica de todo e qualquer ato administrativo. Contudo, uma vez recolhido o valor do tributo, sua restituição é demorada e custosa, no melhor dos mundos possíveis, consideradas as vicissitudes bastante conhecidas do precatório"28• A reflexão final, destarte, só pode ser a seguinte: até quan- do a comunidade jurídica aceitará, acriticamente, a concessão cotidiana de tais medidas em inequívoca afronta ao "modelo constitucional"? Em um Estado Democrático de Direito, é afir- mar o que ninguém nega, os fins (a arrecadação tributária) não podem querer justificar os meios (arrecadação desafinada aos modelos de tributação, constitucional e legal). É evidente que a liminar que determina a suspensão da exigibilidade do crédito tributário impede o ingresso de valores para os cofres públicos. Quando, contudo, a medida é tomada com base na ilegitimidade da cobrança tributária, não é tolerável, juridicamente, que elementos estranhos à juridicidade daquela cobrança - assim, os argumentos ad terrorem estampados no caput do art. 15 da Lei n. 12.1026/2009: "evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas" - possam querer justificar o ingresso obstado pelo juízo de instância inferior, tal qual sói ocorrer em se tratando de suspensão de segurança. Pior quando a prática, consagradíssima, cabe insistir, tem o condão de esvaziar o que o mandado de segurança, desde sua 28. SL 745/SP, j. 20.12.2013, DJe 3.2.2014. 185 IBET - Instituto Brasileiro de Estudos Tributários . - onsti·tucional tem de mais relevante, a viabilidad d prev1sao c ' e e t. 1·mpetrante a fruição in natura do bem pretend·d garan ir ao . . , . , . . 1 0 que, no âmbito do direito tributa~10, e, primeiro, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário (art_- 1~1, IV, do CTN) e, se. gundo, a sua não-cobrança, com a extinçao do mesmo crédito (art. 156, X, do CTN). Bibliografia ABELHA RODRIGUES, Marcelo. Suspensão de segurança: sustação da eficácia de decisão judicial proferida contra o Poder Público. 2ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. CÂMARA, Alexandre Freitas. Manual do mandado de segurança. São Paulo: Atlas, 2013. CARNEIRO, Athos Gusmão. O mandado de segurança coletivo, nos termos da Lei 12.016/2009. Revista de Processo vol. 178. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. MAIA FILHO, Napoleão Nunes. Estudos processuais sobre 0 mandado de segurança. 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São Paulo: Saraiva, 2014. ____ . Liminar em mandado de segurança: um tema com va- riações. 2ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. ____ . Mandado de segurança: comentários às Leis n .s . 1.533/51, 4.348/64 e 5.021/66. 5ª edição. São Paulo: Saraiva, 2009. ____ . O poder público em juízo. 5ª edição. São Paulo: Saraiva, 2009. ____ . Projetos de novo Código de Processo Civil comparados e anotados. 2ª tiragem. São Paulo: Saraiva, 2014. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei do mandado de seguran- ça comentada: artigo por artigo. Rio de Janeiro: Forense, 2014. 187
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