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ONLINE 5 A ESTABILIZAÇÃO DA REPÚBLICA

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ONLINE 5 A ESTABILIZAÇÃO DA REPÚBLICA:A RELATIVA EFICIÊNCIA DE UM EFICAZ MECANISMO DE DOMINAÇÂO POLÍTICA (1902-19220)
Introdução
Como vimos na última aula, foi no quadriênio do governo Campos Sales (1898-1902) que se desenvolveu um mecanismo de dominação política capaz de fazer aquilo que era feito pelo Poder Moderador nos tempos da monarquia: arbitrar conflitos políticos e conferir certa estabilidade às instituições. Esse foi o grande mérito da “política dos governadores”, ou “política dos estados”, como se costumava dizer na época. Ao articular o coronelismo e a comissão verificadora das eleições, essa política se mostrou capaz de controlar a constituição do Poder Legislativo, tornando-o alinhado com a presidência da República. Podemos dizer, assim, que, a partir da formulação dessa estratégia de dominação, a República brasileira entrou em um período relativamente estável e marcado por aquilo que o historiador Renato Lessa chamou de “rotinização do poder”, no qual as oligarquias diretamente relacionadas à agroexportação de café, destacando-se aqui a mineira e a paulista, se transformaram, para utilizar os termos de Raymundo Faoro, em os “donos do poder”. É claro que, por mais eficaz que tenha sido o modelo da “política dos governadores”, não é possível dizer que ele esteve completamente imune às crises. Pontualmente, ao longo dos anos que compreendem o recorte cronológico analisado nesta nossa quinta aula, é possível observar algumas crises no coração do pacto oligárquico hegemônico que pontualmente desestabilizaram o sistema. Até 1922, porém, essas crises, por mais que gerassem certo incômodo ― e de fato geraram ―, não foram capazes de comprometer a estrutura do jogo político. Até 1922, e esse é um ano fundamental na história da Primeira República brasileira, as relações entre as oligarquias ainda eram marcadas mais pelo consenso do que pelo dissenso. Isso mudaria em 1922.
Um federalismo bem às avessas
Quando o golpe militar de novembro de 1889 transformou o Brasil em uma República, prontamente o novo regime adotou o modelo jurídico dos Estados Unidos, que constituíram a primeira República Federativa Presidencialista dos tempos modernos. 
Isso queria dizer que o chefe de Estado era o presidente da República, eleito pelo voto popular, e o território nacional era dividido em unidades federativas relativamente autônomas e unidas entre si por uma estrutura jurídica em comum: a Constituição Federal. 
Esse modelo republicano era baseado no primado da descentralização política e da autonomia administrativa dos poderes locais, o que era considerado fundamental para a eficiência da administração pública.
Apesar de formalmente ser uma República federalista, o princípio federativo ganhou cores específicas quando posto em prática no Brasil. 
Por aqui, os poderes municipal e estadual não chegaram a ser engrenagem fundamental da máquina político-administrativa, apesar de terem sido fundamentais para a dinâmica oligárquica que caracterizou a política brasileira entre 1902 e 1930.
Dinâmica oligárquica
Como vimos em nossa terceira aula, as bases da dinâmica oligárquica foram formuladas ao longo dos primeiros dois governos civis da República brasileira, o de Prudente de Morais (1894-1898) e o de Campos Sales (1908-1922). Nas palavras do historiador Boris Fausto, esses governos: 
Consolidaram a República Liberal Oligárquica, provocando o esfacelamento do jacobinismo, após o fracasso da tentativa de assassinar Prudente de Moraes. 
Os militares voltaram em sua maioria para os quartéis. A elite política dos grandes Estados, São Paulo à frente, tinha triunfado (1972, p. 146).
O autor afirma que os dois primeiros presidentes civis foram ainda mais longe ao adaptarem o princípio da federação a uma cultura política marcada pelos valores monárquicos da atuação do Poder Moderador como o árbitro dos conflitos políticos. É importante citar mais uma vez o estudo de Fausto: 
O grande papel atribuído aos Estados provocou em alguns deles lutas de grupos rivais. O governo federal aí intervinha usando de seus controvertidos poderes estabelecidos na Constituição. Isso tornava incerto o controle do poder em alguns Estados e reduzia as possibilidades de um acerto duradouro entre a União e os Estados (1972, p. 146-147). 
Política dos governadores
Manter os conflitos dentro de uma margem de segurança, visando ao não comprometimento da estrutura do sistema, foi objetivo fundamental da “política dos governadores”.
Certamente, Victor Nunes Leal, em seu importante livro Coronelismo, enxada e voto, oferece-nos um dos principais modelos interpretativos a respeito do funcionamento da República oligárquica. Para o autor, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o poder local não era o mais forte nesse pacto. 
Partindo do caso específico dos municípios paulistas, Nunes Leal acredita ser possível desenvolver um sistema interpretativo a respeito das relações entre os poderes federal, estadual e municipal constituídas ao longo da República oligárquica. 
Muitas vezes essa pretensão generalista apoiada em casos específicos serviu de base para os críticos do trabalho desse autor, mas as hipóteses desenvolvidas por ele nos oferecem importantes pistas sobre a máquina oligárquica brasileira.
Para Nunes Leal, o fenômeno do coronelismo teve origem na criação da Guarda Nacional, em 1831, se alimenta da fragilidade do poder público. 
Temos, dessa maneira, um poder regionalizado de dimensões privadas e patrimoniais que é controlado pelos grandes potentados rurais.
A própria estrutura latifundiária da época, marcada pela concentração de terra, alimenta a lógica dessa prática, que pode se desdobrar tanto no amparo aos sertanejos quanto na violência. 
É exatamente essa a grande característica do coronelismo.
Coronelismo segundo Nunes Leal
O homem pobre do campo caía nas malhas do poder dos coronéis tanto por vontade própria quanto por medo das punições que os mandatários poderiam impingir a todos aqueles que ousassem se opor à sua autoridade. 
 Esse homem pobre sabia muito bem que, havendo a possibilidade de algum tipo de amparo ― financeiro, médico ou de qualquer outro tipo ―, estava na generosidade do coronel. Por outro lado, o sertanejo sabia que o “padrinho” também poderia se tornar algoz. 
Era, então, nessa combinação entre a assistência e a violência que se fundamentava a relação entre o grande proprietário e o homem pobre do campo nos primeiros anos de vida da República brasileira.
Se, de um lado, o “coronel” era a personificação do poder na localidade, de outro, sua autoridade dependia, necessariamente, de uma boa relação com as instâncias superiores da administração política, como os poderes estadual e federal. 
Para que o “coronel” fosse de fato um mandatário local, ele precisava evitar conflitos com seus superiores. 
Nesse sentido, a equação do poder oligárquico, por mais que fosse caracterizada pelos princípios da complementariedade e da reciprocidade, não se dava entre iguais.
Ratificando a ideia de Nunes Leal
Por mais que a bibliografia especializada seja marcada por alguns importantes debates, o fundamento da argumentação de Nunes Leal é relativamente consensual e pode ser encontrado também em outros importantes estudos, como os de Maria Isaura Pereira de Queiroz e Maria do Carmo Campello de Souza.
Segundo Maria do Carmo:
Nesse sistema político, a presidência era o elemento central de coesão, e as alianças em nível nacional giravam em torno da disputa para eleger o chefe do Executivo. 
Para determinar a sucessão presidencial, os partidos políticos de São Paulo e Minas Gerais geralmente trabalhavam juntos, mas, a partir de 1910, o Rio Grande do Sul também entrou no páreo (Souza, 1972, p. 148).
Veremos a seguir como funcionavam esses mecanismos oligárquicos na prática política.
História política
A história política, que durante muitas décadas ficou marginalizada pelo cânone historiográfico da história social francesa, vem sendo revitalizada nas últimas décadas.Certamente, as abordagens teóricas desenvolvidas por autores como René Rémond e Michel Foucault são fundamentais para essa revitalização, que faz com que a história política praticada hoje não seja, sob aspecto algum, a mesma que caracterizou os escritos de historiadores do século XIX, como Gustav Droysen, Leopold Ranke e Fustel de Coulanges.
As atuais abordagens políticas não têm mais o tom do elogio biográfico nacionalista nem se limitam apenas às altas esferas do poder do Estado. 
Abordam temas como as crises da hegemonia política dos poderosos e as relações pontuais e microscópicas entre dominadores e dominados, que são tratados como agentes históricos em constante negociação de limites e possibilidades.
É essa abordagem que inspira as breves considerações a respeito da história política da República oligárquica brasileira que apresentamos a seguir.
Uma história política dos governos oligárquicos brasileiros (1902-1922)
De acordo com as considerações de Boris Fausto:
A República concretizou a autonomia estadual, dando plena expressão aos interesses de cada região. Isto se refletiu, no plano da política, na formação dos partidos republicanos restritos a cada Estado. 
As tentativas de organizar partidos nacionais foram transitórias ou fracassaram. Controlados por uma elite reduzida, os partidos republicanos decidiam os destinos da política nacional e fechavam os acordos para a indicação de candidatos à Presidência da República (2006, p. 148).
O autor destaca aqueles que eram os principais grupos no jogo político da República oligárquica: o PRP( PARTIDO REPUBLICANO PAULISTA), o PRM(PARTIDO REPUBLICANO MINEIRO) e o PRR( PARTIDO REPUBLICANO RIO-GRANDENSE). 
Cada um desses grupos tinha uma relação específica com o jogo político estadual e nacional, o que torna o período analisado extremamente complexo.
Em São Paulo, o PRP tinha estreita relação com as elites econômicas locais, que eram diretamente envolvidas com a agroexportação de café e com a atividade industrial. Já o PRR e o PRM tinham mais autonomia em relação às sociedades rio-grandense e mineira. 
O PRR se caracterizava por uma máquina política forte e inspirada pelas leituras mais autoritárias do positivismo. Funcionou como uma espécie de instância de arbitramento das relações entre os estancieiros e os imigrantes. 
O PRM também não traduziu de forma imediata os interesses das elites econômicas locais, sendo formado por políticos profissionais que utilizavam a máquina pública para favorecer aliados e perseguir adversários.
Voto – o instrumento impeditivo
Poderíamos dizer, então, que o voto poderia ter sido o principal instrumento mobilizado pela sociedade civil para impedir o monopólio político dessas oligarquias estudadas há pouco. Vejamos mais uma vez o que nos diz Boris Fausto:
À primeira vista, parecia que o domínio das oligarquias poderia ser quebrado pela massa da população por meio do voto. Entretanto, o voto não era obrigatório e o povo, em regra, encarava a política como um jogo entre os grandes e os partidos estaduais se acertavam, lançando candidaturas únicas, ou quando os candidatos de oposição não tinham qualquer possibilidade de êxito. A porcentagem de votantes oscilou entre um mínimo de 1,4% da população total do país e um máximo de 5,7% (2006, p. 148-149).
Números semelhantes podem ser encontrados em outros estudos, como Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi, de José Murilo de Carvalho, e A invenção da República, de Renato Lessa. 
Os especialistas afirmam também que os resultados das eleições não traduziam a opinião pública nacional, já que o voto não era secreto e os eleitores estavam sujeitos a todo tipo de pressão política
Problemas do sistema eleitoral.
De acordo com Dulce Chaves Pandolfi:
Nas primeiras décadas do Brasil republicano, um dos mais graves e delicados problemas do sistema eleitoral era a falsificação das atas eleitorais, com a alteração do número de votantes. 
Esse procedimento fez com que as eleições daquela época se tornassem conhecidas como “eleições a bico de pena”, pois, na feitura das atas, a pena toda poderosa dos mesários realizava portentosos milagres.
O número de pessoas envolvidas diretamente com as fraudes era alto, e muitos recebiam nomes especiais: os “cabalistas, os “fósforos” e os “capangas”. Cabalistas: Eram os encarregados de incluir novos nomes nas listas dos votantes. Fósforos: Eram os que assumiam a identidade de eleitores mortos ou ausentes. Capangas: Eram os que intimidavam os eleitos e, se necessário, faziam uso da força física.
Era comum também reunir eleitores em um recinto, conhecido como “curral”, onde permaneciam vigiados e recebiam cédulas fechadas para serem depositadas diretamente na urna (...). 
Diante desse quadro, dificilmente a população poderia perceber o voto como um direito, como um modo de participar da vida política e decidir os destinos do país. 
O voto era visto como uma moeda de troca, como uma maneira de servir ou prestar lealdade a alguém mais poderoso e conseguir benefícios (Pandolfi, 1995, p. 78).
Apesar disso, não devemos supor que as eleições não tinham nenhum impacto político. Vejamos o que nos diz a análise da historiadora Ângela de Castro Gomes:
As eleições podiam ser e certamente eram fraudadas, nelas votando até os mortos, como se sabe. Mas não era, por isso, uma prática descartável ou meramente cosmética. 
Esse ritual cumpria funções estratégicas, abrindo brechas no interior do jogo de poder oligárquico e implicando uma série de procedimentos de negociação que essas elites mantinham com seu eleitorado, quer fosse ele “de cabresto”( O voto de cabresto é um sistema tradicional de controle de poder político através do abuso de autoridade, compra de votos ou utilização da máquina pública. É um mecanismo muito recorrente nos rincões mais pobres do Brasil como característica do coronelismo.) ou não, como acontecia em algumas cidades, como o Rio de Janeiro e São Paulo (2002, p. 67). 
Máquina de dominação política
Por mais que a máquina de dominação política tenha funcionado relativamente bem durante o período que examinamos nesta aula, em alguns momentos é possível perceber tensões que mostram que o relacionamento entre as oligarquias também foi marcado por conflitos. 
Ao contrário do que aconteceria em 1922, porém, quando o modelo oligárquico manifestou de forma mais clara os indícios da crise que se estenderia até 1930, quando se deu o golpe de Estado que pôs fim à República oligárquica, as experiências de que tratamos nesta aula não foram capazes de comprometer estruturalmente o funcionamento do sistema.
As eleições de 1909: a fissura no pacto oligárquico entre o PRP e o PRM
As negociações entre as oligarquias mineira e paulista não foram de todo harmônicas. Também houve conflitos nas relações entre os dois estados que, no período, controlavam a política nacional. 
Entre 1894 e 1906, os paulistas dominaram o Executivo em virtude da coesão de sua elite política e da força econômica do café. 
Esses foram os anos dos governos de Prudente de Morais: 1894 – 1898; Campos Sales: 1898 – 1902; Rodrigues Alves: 1902 - 1906
A partir daí, o pacto político entre paulistas e mineiros foi consolidado, fato que permitiu que um mineiro, Afonso Pena, ocupasse a presidência da República entre 1906 e 1910.
Em 1909, ano de eleição presidencial, houve um desentendimento entre paulistas e mineiros a respeito do sucessor de Afonso Pena. Tal fato permitiu que esse pleito fosse o primeiro verdadeiramente disputado na República oligárquica. 
As eleições de 1909 foram marcadas pela volta provisória dos militares ao poder e pela entrada da oligarquia gaúcha no cenário da política nacional. 
Foram dois os candidatos ao cargo de presidente da República no período: Marechal Hermes da Fonseca(O militar gaúcho Marechal Hermes da Fonseca foi  apoiado pelas oligarquias mineira e gaúcha.) e Rui Barbosa(O político baiano Rui Barbosa foi apoiado pela oligarquia paulista.)A disputa entre Marechal Hermes da Fonseca e Rui Barbosa foi marcada por aquela que seria uma das principais polêmicas dos primeiros anos de vida da República brasileira: a vida política dos militares.
A campanha de Rui Barbosa se debruçou, então, sobre o debate entre o civilismo e o militarismo, e fez duras críticas à intervenção do Exército na política. 
Embora a candidatura de Rui Barbosa fosse apoiada pela mais importante força política da época, a oligarquia paulista, sua campanha se apresentou como a luta da inteligência pelas liberdades públicas, pela cultura, pelas tradições liberais, contra o Brasil inculto, oligárquico e autoritário. 
A vitória de Hermes da Fonseca produziu grandes desilusões na restrita intelectualidade da época.
O governo de Hermes da Fonseca (1910-1914)
A grande característica do governo do Marechal Hermes da Fonseca foi o autoritarismo. 
O presidente militar estabeleceu uma política de intervenção militar nos estados para reprimir a oposição: a “política das salvações”.
A truculência do governo de Hermes da Fonseca desagradou a todos, até mesmo os mineiros que o apoiaram nas eleições de 1909. Por isso, em 1913, paulistas e mineiros acordaram um pacto não escrito em um encontro destinado a discutir os rumos da cafeicultura realizado na cidade mineira de Ouro Fino. 
A partir de então, as duas oligarquias seriam mais coesas e se revezariam no controle da presidência da República. Uma nova dissensão somente ocorreria em 1922, na “reação republicana”, assunto que será abordado na oitava aula desta disciplina.

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