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2) Processos Mentais Superiores

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Processos Mentais Superiores
 A ação criadora orienta o homem proporcionando continuidade à sua existência. (Goethe)
 Nós, humanos, na grande maioria, nascemos dotados da capacidade de processar mentalmente determinadas informações, a partir de mecanismos e instrumentos fornecidos pela herança da espécie (filogênese).
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 Percepção, sensação, emoção, memória, atenção, linguagem e pensamento são classificados como processos naturais, elementares ou biológicos. Estes não são os únicos processos mentais, mas os mais significativos, e, por conseguinte, os mais estudados. A ciência costuma denominá-los processos mentais superiores ou, menos comumente, processos cognitivos.
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 Tais processos impactam significativamente no nosso cotidiano, nas nossas ações, nas escolhas, na forma de viver de cada indivíduo. E são altamente responsáveis também, juntamente com outros elementos, como fatores genéticos e sociais, pelas diferenças individuais entre os indivíduos. Assim, aspectos como personalidade, criatividade, modelos de interação social e reações individuais são altamente relacionados aos processos mentais superiores.
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 Aqui veremos mais detidamente a relação entre tais processos e a aprendizagem, e de que forma estes estão envolvidos na formação dos comportamentos.
 Os termos funções ou processos mentais são utilizados para referir-se ao processo de pensamento, memória, sensação, percepção, atenção, linguagem, emoção, etc. É por meio deles que o indivíduo desenvolve visões de si mesmo, das organizações em que atua e do mundo que o rodeia.
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 Tais funções ou processos mentais possuem uma importância determinante em nosso em seu dia a dia e em nossa vida. Ao dormirmos, já estamos usando várias de nossas funções, por intermédio do sonho. Ao escutar o despertador tocar de manhã, ao sentir o cheiro do café, o sabor dos alimentos, ao nos emocionarmos com o som de uma música ou o cheiro de um perfume que nos evoca a lembrança de determinado acontecimento, também usamos vários processos mentais.
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 Isto tudo está relacionado com as sensações, percepções, memória, emoção, pensamento, algumas de muitas funções mentais superiores das quais somos dotados. A expressão processos ou funções mentais superiores foi cunhada pelo fisiologista russo Ivan Pavlov, no começo do século XX, para designar funções do córtex - especialmente linguagem e atividade lógica racional da espécie humana (VESCE, 2010).
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 Com o avanço da Neurofisiologia, aos pouco veio se descobrindo que muitas das funções requeridas para a atividade racional não dependiam exclusivamente desta região, e sim do funcionamento do cérebro compreendido como um todo, não podendo, portanto, limitar-se à ação específica e localizada de alguns conjuntos de células, como retina e alguns neurônios do córtex visual próprios para percepção da luz.
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 A Psicologia Cognitiva é a principal área de estudo dos processos mentais superiores. A abordagem cognitiva foi divulgada por Donald Broadbent, em 1958. Desde então, o paradigma dominante na área foi o do processamento de informação, modelo defendido por Broadbent.
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 FIQUE POR DENTRO
 Neste quadro de pensamento, considera-se que os processos mentais são comparáveis a um software a ser executado num computador, que neste caso, seria o cérebro. As teorias do processamento de informação têm como base noções como: entrada; representação; computação ou processamento e saídas.
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 Vygotsky, outro teórico que embasou os principais estudos relacionados aos processos mentais superiores, utilizava indistintamente diferentes termos para se referir-se às mesmas coisas. Ora os denominava de “formas superiores de conduta”, "formas mentais", "processos mentais superiores" e "funções mentais superiores". A teoria de Vygotsky é conhecida como "teoria históricocultural“ ou "sócio-histórica".
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 De acordo com Vygostsy, um dos principais cientistas a se deter no estudo dos processos mentais superiores(pensamento,linguagem, memória voluntária, atenção consciente,aprendizagem, dentre outros), estes têm origem em processos sociais. Isto significa dizer que ocorre uma conversão das relações sociais em funções mentais.
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 Vygotsky tratou essencialmente das funções psíquicas superiores onde o aspecto social, cultural e histórico ocupam espaço principal. Para este autor, o ser humano se caracteriza por uma sociabilidade primária. Assim, podemos afirmar que a teoria de Vygotsky é uma "teoria sócio-histórico-cultural do desenvolvimento das funções mentais superiores". Henri Wallon expressa a mesma ideia de modo mais categórico: "Ele (o indivíduo) é geneticamente social" (WALLON, 1959, p. 32).
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 Os processos mentais superiores que caracterizam o pensamento humano − ações conscientemente controladas, atenção voluntária, memorização ativa, pensamento abstrato, comportamento intencional − são processos mediados por sistemas simbólicos. Como a linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos, a questão do desenvolvimento da linguagem e suas relações com o pensamento ocupa lugar central na obra de Vygotsky.
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 ATENÇÃO
 Para Vygosty, autor da corrente sócio-histórica do pensamento, não é por meio do desenvolvimento cognitivo que o indivíduo se torna capaz de socializar, é na socialização que se dá o desenvolvimento das funções mentais superiores. Assim, a ênfase é colocada nos aspectos sociais, e de acordo com esta corrente, só por meio das relações sócio-humanas é que o cérebro e as funções mentais superiores podem se desenvolver. Pela mediação (homem-homem) é que se dá a internalização – construção interna de uma operação externa de atividades e comportamentos (VYGOSTKY, 1999).
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 Em outras palavras, Vygotsky e seus seguidores entendem que os processos psíquicos, tal como a aprendizagem, ocorrem por assimilações de ações exteriores, interiorizações desenvolvidas através da linguagem interna que permite formar abstrações. Ainda de acordo com este pensador, as funções psicológicas (mentais) superiores (ex: linguagem, memória) são constituídas ao longo da história do homem, em sua relação com o mundo. Desse modo, as funções mentais superiores referem-se a processos voluntários, ações conscientes, mecanismos intencionais e dependem de processos de aprendizagem.
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 Segundo Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo se dá pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura. De acordo com Oliveira (1997, p. 38), “a interação social, seja diretamente com os outros membros da cultura, seja através dos diversos elementos do ambiente culturalmente estruturado, fornece a matéria-prima para o desenvolvimento psicológico do indivíduo”.
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 Vygotsky agrupou os processos mentais em dois níveis: os processos psicológicos elementares (sensações, percepções imediatas, emoções primitivas, memória indireta) e os processos psicológicos superiores (atenção, percepção, memória, imaginação). Os processos elementares estão presentes na criança desde pequena e nos animais, tais como reações automáticas, ações reflexas e associações simples.
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 Sob este ponto de vista, são duas as linhas da constituição humana: os processos elementares, de origem biológica, e as funções psicológicas superiores, cuja origem, para este autor, advém do desenvolvimento sociocultural humano. A partir do entrelaçamento dessas duas linhas, surge a história do comportamento da criança (MATIAS; MACIEL, 2003).
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 A seguir, passaremos a estudar mais detidamente algumas das funções ou processos mentais: pensamento, memória, atenção e aprendizagem. De uma forma ou outra, todos estes processos estão ligados aos processos de criação humana, bem como outros processos que não abordaremos aqui, como a emoção, linguagem, percepção e sensação. 
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2.1 Pensamento
 Etimologicamente, pensar significa avalia
o peso de alguma coisa. Em sentido amplo, podemos dizer que o pensamento tem como missão tornar-se avaliador da realidade. Pensamento e pensar constituem, respectivamente, uma forma e processo mental. Pensar permite aos seres modelarem o mundo e, com isso, lidar com ele de uma forma efetiva e de acordo com suas metas, planos e desejos.
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 Palavras que se referem a conceitos e processos similares incluem cognição, consciência, ideia, e imaginação. O pensamento é considerado a expressão mais "palpável" do espírito humano, pois através de imagens e ideias, revela justamente a vontade deste.
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 Segundo Descartes (1596-1650), filósofo de grande importância na história do pensamento, "a essência do homem é pensar". Por isso dizia: "Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que afirma, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e não quer, que também imagina e que sente“ (DESCARTES, 1996, p. 56). O principal veículo do processo de conscientização é o pensamento. A atividade de pensar confere ao homem "asas" para mover-se no mundo e "raízes" para aprofundar-se na realidade.
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 De acordo com Piaget (1975), o pensamento é fundamental no processo de aprendizagem (O pensamento é construto e construtivo do conhecimento). Tanto a Neurologia quanto a Psicologia são ciências que se interessam pelos processos do pensamento. A Neurologia dá ênfase aos processos neurais e físico-químicos do processo cerebral. A Psicologia, por sua vez, concentra-se no ato de pensar como uma manifestação intelectual com objetivo de responder a uma questão ou a solução de um problema prático.
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 A Psicologia Cognitiva é um ramo da Psicologia que investiga os processos mentais internos, como a resolução de problemas, memória, e linguagem. A escola do pensamento surgida com esta ênfase é conhecida como Cognitivismo, e está interessada em como as pessoas representam mentalmente o processamento da informação (SANZ, 2007). O pensamento, talvez de todas as funções mentais, seja o mais relacionado ao processo criativo. Mas é importante lembrar que cada processo mental não ocorre de maneira estanque e dissociado dos demais.
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 O pensamento pode também ser definido como o ato de criar ideias, soluções, resolver problemas de toda a ordem, selecionar o que haverá de ser útil e servir para tornar a vida melhor e mais aprazível. Pensar também é criar pensamentos que sirvam para o próprio aperfeiçoamento e superação, como também ajudar a outras pessoas nesse sentido. Trata-se de um ato criativo onde a participação das emoções, percepções, sensações, memória, atenção (ou seja, outros processos mentais superiores) exercem extrema importância.
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 Em todo processo de criação de um pensamento na mente, que começou como ideia, uma imagem mental, até sua manifestação no mundo material, ocorre a função de pensar. Nesse caso, o ato de pensar exerce a função de transmutar as ideias mentais para a realização de algo físico, sólido, material.
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2.2 Memória
 Até meados do século XX, acreditava-se que o armazenamento da memória seria distribuído por todo o cérebro, sendo que a maioria dos estudos sobre aprendizagem questionava se as funções da memória seriam localizadas em regiões cerebrais específicas. Alguns estudos duvidavam que a memória pudesse se constituir como uma função distinta da atenção, da linguagem e da percepção.
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 A partir de 1861, Paul Broca demonstra que lesões restritas à parte posterior do lobo frontal, no lado esquerdo do cérebro, chamada de área de Broca, causavam um defeito específico na função da linguagem. Após essa localização da função da linguagem, os neurocientistas tornaram a voltar-se para a hipótese de se localizar a memória (IZQUIERDO, 1983).
 Wilder Penfield foi o primeiro estudioso a conseguir demonstrar que os processos da memória têm localizações específicas no cérebro humano (IZQUIERDO, 1983).
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 Penfield havia estudado com o pioneiro em neurofisiologia, Charles Sherrington. Na década de 1940, Penfield começou a usar métodos de estimulação elétrica, idênticos aos usados por Sherrington em macacos, para mapear as funções motoras, sensoriais e da linguagem no córtex humano de pacientes submetidos à neurocirurgia, para tratamento de epilepsia.
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 Penfield explorou a superfície cortical em mais de mil pacientes e verificou que a estimulação elétrica produzia o que ele chamou de resposta experiencial, ou retrospecção, na qual o paciente descrevia uma lembrança correspondente a uma experiência vivida (IZQUIERDO, 1983).
 O processo mental denominado memória define-se como a capacidade de adquirir (aquisição), armazenar (consolidação) e recuperar (evocar) informações disponíveis, seja internamente, no cérebro (memória biológica), seja externamente, em dispositivos artificiais (memória artificial).
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 A memória focaliza coisas específicas, requer grande quantidade de energia mental e deteriora-se com a idade. É um processo que conecta pedaços de memória e conhecimentos a fim de gerar novas ideias, ajudando a tomar decisões diárias. O ser humano aprende o que é o mundo apreendendo conhecimento sobre pessoas e objetos, acessíveis à consciência, usando uma forma de memória que é em geral chamada de explícita, ou aprende como fazer coisas, adquirindo habilidades motoras ou perceptivas a que a consciência não tem acesso, usando para isto a memória implícita (TOMAZ, 1992).
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A memória se relaciona ao processo criativo, na medida em que, para criarmos algo novo, resolvermos um problema, exercitamos nossa criatividade seja da maneira que for, necessariamente lançamos mão de nossos aprendizados anteriores, dos dados já contidos em nosso cérebro, que a partir de um novo agrupamento e reorganização (por meio do pensamento) são capazes de fornecer elementos até então inusitados. Não criamos a partir do nada, mas do que é preexistente em nós, a partir daquilo que conhecemos previamente.
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 O ato de criação não acontece no vazio, parte de pressupostos e é na memória que a pessoa encontrará os subsídios para o ato de criar, juntamente com outros processos mentais. Atualmente, é comum tentar dissociar memória de criatividade, como se o processo de memorização indicasse o simples ato de decorar e reproduzir, sem criação. De fato, se a memória servir apenas como mera repetição de modelos já formulados, não contribui com o processo criativo. Mas não se pode desconsiderar que é um elemento essencial neste processo, pois como seria possível criar a partir do nada e do vazio?
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2.3 Atenção
 A atenção se caracteriza como um processo cognitivo pelo qual o intelecto focaliza e seleciona estímulos, estabelecendo relação entre eles. A todo instante, recebemos estímulos, provenientes das mais diversas fontes, porém só atendemos a alguns deles, pois não seria possível e necessário responder a todos.
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 É um processo de extrema importância em determinadas áreas, como na educação, já que se exige, por exemplo, a um aluno que preste atenção às matérias lecionadas pelo professor, ignorando outros estímulos visuais, sonoros ou outros, vindos de fora da sala de aula (estando, neste caso, relacionado também com o problema da disciplina).
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 Além da atenção concentrada, em que se seleciona e processa apenas um estímulo, também pode ocorrer a atenção dividida, em que são selecionados e processados diversos estímulos simultaneamente – como quando se conduz um automóvel e se ouvem as notícias do rádio simultaneamente.
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 Para que a atenção atue, são necessários três fatores básicos:
Fator fisiológico: que depende de condições neurológicas e também da situação contextual em que o indivíduo se encontra;
Fator motivacional: depende da forma como o estímulo se apresenta e provoca interesse;
Concentração: depende do grau de solicitação e atuação do estímulo, levando a uma melhor focalização da fonte de estímulo.
 Quanto à fonte de estímulo, saiba
que podemos ter estímulo visual, auditivo e sinestésico.
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 A todo instante em que estamos acordados, o cérebro tem sua atenção focada em algum lugar - fora ou dentro dele. Sim, isso quer dizer que, mesmo quando você está "distraído", está prestando atenção em alguma coisa (provavelmente em seus pensamentos). Estímulos sensoriais estão constantemente presentes.
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 Dentre eles, tende a conquistar a atenção - ou seja, a ganhar a competição por processamento preferencial - aquele que, no momento, for o maior, o mais forte, o de maior contraste, o que destoa dos outros, o que foge à ordem, o que se move, o que aparece ou some subitamente, o mais inesperado, o novo. Esse estímulo promove um redirecionamento automático do foco da atenção.
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 No entanto, havendo objetivos internos que direcionem o foco da atenção sobre um objeto específico (sensação, ação ou pensamento), a tendência ao redirecionamento automático da atenção pode ser sobrepujada: o resultado é o que chamamos de direcionamento voluntário da atenção, que depende de objetivos internos.
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 Naquilo que prestamos atenção a cada instante é resultado, portanto, da competição entre esses mecanismos automáticos e voluntários de atenção. A figura a seguir mostra um menino entretido com seu jogo de videogame.
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 Para um observador que desconheça as relações entre os processos mentais, poderia supor que o menino está utilizando apenas a função mental “atenção”. Embora esta função seja preponderante na situação, para jogar, o menino utiliza elementos de memória, usa os dados anteriormente aprendidos, realiza complexos mecanismos de pensamento, pode emocionar-se no jogo, ficando irritado ou feliz, e ao mesmo tempo, durante todos estes processos, provoca conexões neurais que estimulam a criatividade.
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 Ao jogar, a criança testa novos modelos de ação, busca alternativas até então ainda não utilizadas, e provoca o próprio cérebro a criar e desenvolver novos padrões de comportamento. Portanto, ao utilizar a atenção seletiva, principalmente, a pessoa, ao mesmo tempo, se capacita no sentido de buscar nos elementos e conhecimentos que lhe são pré-existentes, alternativas inusitadas de ação. Deste modo, a atenção se constitui num importante processo para o processo criativo.
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2.4 Aprendizagem
 A aprendizagem se refere ao modo como os seres adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o comportamento. Este processo de mudança de comportamento é obtido por meio da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais (HAMZE, 2010).
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 Contudo, note que a complexidade desse processo dificilmente pode ser explicada apenas através de recortes do todo, ou seja, devemos encarar a aprendizagem que ocorre em um contexto maior, onde aspectos como atenção, memória, pensamento, sensações, percepções e emoções não podem ser desconsiderados. Sem tais funções mentais associadas, a aprendizagem não aconteceria.
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 O ato de aprender se caracteriza como o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente. A aprendizagem é algo construído a partir do conhecimento daquele que ensina e o aprendiz. De acordo com esta nova ênfase educacional (centrada na aprendizagem e no conhecimento prévio), os conceitos não devem vir prontos e previamente definidos.
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 A partir deste enfoque, o conhecimento é construído e reconstruído continuamente, de forma que a aprendizagem não se encerra em nenhum momento (VYGOTSKY, 1993).
 Algo a ser considerado quando se busca compreender o processo de aprendizagem é o fato de que cada indivíduo possui e apresenta uma maneira própria de aprender.
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 A forma individual de adquirir conhecimento é definida como estilo de aprendizagem. Por exemplo: algumas crianças aprendem com maior facilidade cantando músicas, outras através de brincadeiras, brinquedos pedagógicos, entre outros. Conforme colocado anteriormente, sendo o estilo de aprendizagem um aprendizado pessoal e único, vale ressaltar que não se trata do que o indivíduo aprende, e sim a forma que ele utiliza durante o aprendizado.
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 Segundo a percepção de Oliveira (1997), Vygostky também considera que o desenvolvimento humano e educação constituem-se em dois lados da mesma moeda. É pela educação, através da mediação social, que o indivíduo internaliza a cultura e se constitui humano, desenvolvendo-se de forma dinâmica (dialética), através de rupturas e desequilíbrios provocadores de contínuas reorganizações internas, fundamentais para a expressão do potencial criativo (XIMENES, 2006, p. 3)
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Para sintetizar
 Vimos aqui alguns processos mentais e como estes se relacionam ao processo de aprendizagem. Um importante aspecto a ser frisado é que nenhum destes processos ocorre de forma estanque e dissociada no cérebro: para que um aconteça, vários outros processos são disparados simultaneamente. Assim, por exemplo, ao memorizarmos uma situação, podem ser evocados cheiros (e é disparado o processo de sensação), ou ao sentirmos determinada emoção, evocaremos dados de memória, usaremos processos de pensamento, e até podemos aprender algo, ou ter um insight a partir da emoção.
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 Portanto, a aprendizagem não vai depender unicamente desta ou daquela função mental para ocorrer. Sendo a criação algo dinâmico, envolve interseção de vários elementos, como o pensamento, as sensações, a percepção, a memória, as emoções, o aprendizado, a atenção. Só a partir desta relação o ato de criar pode se constituir como algo único, genuinamente inusitado.
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 Revisando o vocabulário
 Cinestésico: também denominada como propriocepção, é o termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Este tipo específico de percepção permite a manutenção do equilíbrio postural e a realização de diversas atividades práticas. Resulta da interação das fibras musculares que trabalham para manter o corpo na sua base de sustentação, de informações táteis e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno.
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 Cognição: a palavra tem origem nos escritos de Platão e Aristóteles. Refere-se ao ato ou processo de conhecer, que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem, ou seja, está relacionada a diversos dos processos mentais superiores.
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 Construto: designa, em ciência, um conceito teórico não observável. Exemplos de contrutos são: personalidade, amor, medo. Tais conceitos são usados na linguagem comum, mas para se tornarem um construto científico necessitam de uma definição clara e de um embasamento empírico.
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 Insight: ter uma grande ideia, uma verdadeira visão de futuro. O ato ou resultado de aprender a verdadeira natureza das coisas, enxergar intuitivamente. Capacidade da observação profunda e da dedução; discernimento; percepção.
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Referências
DESCARTES, René; OLIVEIRA, Paulo M. de (Trad.). Discurso sobre o método.Bauru: EDIPRO, 1996.
DOMINGUES, José Maurício. Sociologia da cultura, memória e criatividade
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 <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-
 52581999000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 mar. 2011.
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HAMZE, Amélia. O que é aprendizagem? Disponível em:
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MATIAS, Cilene de Souza; MACIEL, Antônio Carlos. As principais contribuições de Vygotsky dando ênfase aos processos psicológicos superiores no aspecto educacional de crianças de cinco a seis anos: uma experiência na Comunidade da Vila Princesa. Porto Velho: Editora UNIR, 2003.
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997.
PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
SANZ, Luís María Gonzalo. Entre libertad y determinismo. Genes, cerebro y ambiente en la conducta humana. Cristiandad: Madrid,2007
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TOMAZ, Carlos Alberto Bezerra. Memória e emoções. Revista Ciência Hoje, São Paulo, Instituto Ciência Hoje, n. 83, ago. 1992.
VESCE, Gabriela E. Possolli . Neuropsicologia. São Paulo: Infoescola, 2010.
VYGOTSKY, Lev Semenovitch: pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
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WALLON, Henri. Les mileux, les groupes et la psychogenèse de l’enfant.
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XIMENES, Lavínia de Melo e Silva. Desenvolvimento, Criatividade e
 aprendizagem: desafios ao educador/educadora da Educação Básica. Recife: UFPE, 2006.

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