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Introdução fisiologia respiratória Prof. Remo de Castro Russo Laboratório de Imunologia e Mecânica Pulmonar Dep. de Fisiologia e Biofísica Bloco D4, sala 246 remo@ufmg.br O estudo da Fisiologia da Respiração pode ser dividido em quatro grandes eventos funcionais: 1- a ventilação pulmonar, que é a renovação cíclica do gás alveolar pelo ar atmosférico; 2- a difusão do oxigênio (O2) e do dióxido de carbono (CO2) entre os alvéolos e o sangue; 3- o transporte, no sangue e nos líquidos corporais, do O2 (dos pulmões para as células) e do CO2 (das células para os pulmões); 4- o sistema de controle da regulação da ventilação e de outros aspectos na respiração. C o n c e n tr a ç ã o d e O x ig ê n io (f ra ç ã o g a s o s a a ti m o s fé ri c a ) 1 10-1 10-2 10-3 10-4 Data (milhões) 4000 3000 2000 M a is a n ti g a s P e d ra s s e d im e n ta re s Estromatolites Cinobactérias Células eucarióticas Metazoários Plantas terrestres Animais terrestres Mamíferos A primeira lei de Fick descreve o fluxo líquido de difusão de um gás respiratório (O2 ou CO2), de uma região para outra em uma dimensão, como por exemplo, entre dois lados de uma membrana. Equação de Fick J = - D A (C2-C1)/x J = fluxo de gases; D = coeficiente de difusão; A = área através da qual ocorre difusão; C2- C1 = gradiente de concentração; X = espessura através da qual ocorre difusão. O transporte de gases respiratórios se dá por difusão! A convecção aumenta a difusão ao produzir gradientes mais abruptos ao longo da barreira de difusão! “Convecção é o transporte de substâncias em massa ou em bloco”(Joaquim Procópio, 2009). “Convecção é a forma de transferência de calor em que a transferência de energia térmica é dada pelo movimento de um fluido” (Whiters, 1992). O surgimento dos sistemas respiratório (ou ventilatório) e circulatório adicionaram dois pontos de convecção na via de transferência do oxigênio da atmosfera até as mitocôndrias. O surgimento de sistemas de convecção permitiu à vida a evolução de formas de organismos maiores, mais complexas e mais ativas! Sistema Respiratório: Principais funções Processos fisiológicos pulmonares Extração de O2 do ambiente e eliminação de CO2 Transporte gasoso pelo sangue e difusão Controle da ventilação/perfusão e do equilíbrio ácido-base Interface Defesa Consideração Inicial As células do organismo humano são essencialmente aeróbias. Não há reserva de O2 no organismo. ESTÁGIOS DA RESPIRAÇÃO Trocas gasosas (atmosfera / sangue / tecido metabolicamente ativo); Respiração celular (reações metabólicas -> O2 como aceptor de elétrons / liberação de CO2 e energia). Ventilação / mecânica Troca de O2 e CO2 entre pulmões e sangue Transporte pelo sangue / Trocas entre sangue e células Respiração Processo cíclico de movimento de ar para dentro e para fora dos pulmões: INSPIRAÇÃO = aumento da caixa torácica EXPIRAÇÃO = diminuição da caixa torácica PULMÕES IN SITU http://www.meddean.luc.edu/lumen/MedEd/medicine/pulmonar/cxr/cxrl5.htm • Músculos • Ossos • Articulações Motores Bronquíolos terminais Alvéolos Difusores Componentes pulmonares Condutores Nariz/Boca Traquéia Laringe Brônquios Bronquíolos terminais http://www.anselm.edu/homepage/jpitocch/genbio/inhalexhale.JPG Processo rítmico inconsciente Contração múscular esquelética da caixa torácica Controlado pelo SNC Centro respiratório Parte Motora Músculos respiratórios – produzem força motriz para a ventilação Músculos da inspiração 1. Diafragma 2. Intercostais externos 3. Paraesternal 4. Escaleno 5. Esternocleidomastoideo 1. Intercostais internos 2. Abdominais (reto, transverso, oblíquo) Músculos da expiração Movimentos respiratórios - Processo ativo - Contração músculos. inspiratórios - ↑ Volume da caixa torácica Inspiração - Em repouso: processo passivo - Expiração forçada: contração de músculos. expiratórios Expiração - Padrão automático, rítmico, involuntário - Gerador central no tronco cerebral - Modulação voluntariamente Ciclo respiratório ESTRUTURA DAS VIAS AÉREAS WEST 2002 Parte Condutora • Nariz / boca • Traquéia • Laringe • brônquios • Bronquíolos terminais CORRELAÇÕES ESTRUTRAIS E FUNCIONAIS DOS PULMÕES Repetidas divisões da árvore respiratória -> ↑ área total de superfície 1.Transporte do ar 2. Acondicionamento do ar: - Filtração - Umidificação - Ajuste de temperatura Zona condutora 1. Ocorrem trocas gasosas 2. Área: 70-100 m2 Zona respiratória (unidade fisiológica) •Função: conduzir, aquecer, umidecer e filtrar •Células ciliadas •Músculo liso: Receptores 2 Relaxamento e dilatação das vias Epinefrina, Isoproterenol, albuterol Receptores muscarínicos Contração e constrição das vias SNAs SNAp Zona Condutora Parte Difusora • Bronquíolos terminais • alvéolos ESTRUTURA DAS VIAS AÉREAS ZONA DE CONDUÇÃO - ZONA DE RESPIRAÇÃO WEIBEL 1963 Componentes pulmonares http://depts.washington.edu/envh/lung.html Berne et al, 2004 http://trc.ucdavis.edu/mjguinan/apc100/modules/Respiratory/lung/lung6/lung3. html Burns, AR. et al. Physiol Rev. 2003;83(2):309-36. Compartimentalização pulmonar Componentes pulmonares Estrutura Componentes pulmonares Células que produzem surfactante http://www.biology.eku.edu/RITCHISO/301notes6.htmBurns, AR. et al. Physiol Rev. 2003;83(2):309-36. Superfície epitelial das vias aéreas SURFACTANTE PULMONAR É UM FOSFOLIPÍDIO, SENDO A DIPALMITOIL-FOSFATIDILCOLINA UM DOS PRINCIPAIS COMPONENTES (DPPC). O DPPC É SINTETIZADO NOS PULMÕES A PARTIR DE ÁCIDOS GRAXOS NOS PNEUMÓCITOS TIPO II. PRINCIPAIS AÇÕES DO SURFACTANTE DETERMINA O AUMENTO DA COMPLACÊNCIA PROMOVE A ESTABILIDADE ALVEOLAR AJUDA A MANTER O ÁLVEOLO SECO http://oac.med.jhmi.edu/res_phys/Encyclopedia/Surfactant/Surfactant.HTML Burns, AR. et al. Physiol Rev. 2003;83(2):309-36. Componentes pulmonares Burns, AR. et al. Physiol Rev. 2003;83(2):309-36. Componentes pulmonares Compartimento vascular Neutrófilo = 6-8μm Capilar alveolar = 2-15μm Burns, AR. et al. Physiol Rev. 2003;83(2):309-36. Componentes pulmonares Interface Somando a área de superfície de todos os alvéolos (300 milhões) tem-se uma área de 80 a 100 m2. Essa área é igualmente suprida com sangue, ou seja, tem-se a mesma área de capilares. Funciona como barreira física. Componentes pulmonares Resin cast of pulmonary arteries and airwaysResin cast of pulmonary veins and airways Interface Componentes pulmonares Defesa Interface: Primeira linha de contato contra Patógenos Alérgenos Substâncias irritantes BALT: Bronchus associated lymphoid tissue Componentes pulmonares Processos fisiológicos pulmonares Extração de O2 do ambiente e eliminação de CO2 MECÂNICA RESPIRATÓRIA Propriedades elásticas Pulmão Parede torácica fibras elásticas e colágenas tensão superficial (surfactante) Propriedades resistivas Pulmão Parede torácica vias aéreas tecido pulmonar A pressão motriz do sistema respiratório (gerada pela contração muscular durante a inspiração) precisa vencer forças elásticas e resistivaspara conseguir encher os pulmões Pressão Pleural Pressão Pleural • Trata-se da pressão NEGATIVA do líquido pleural, responsável por impedir o colabamento dos pulmões Pneumotórax é a quebra da Pressão Pleural Pressão Alveolar Movimentos Torácicos O Diafragma Aumenta o Diâmetro Vertical, Lateral e Sagital do Tórax Medidas das funções pulmonares: Espirometria Volumes e capacidades pulmonares Espirômetro VOLUMES E CAPACIDADES PULMONARES WEST 2002 • É o volume de ar inspirado ou expirado durante um ciclo respiratório simples • O VC de um adulto jovem, em repouso, corresponde a, aproximadamente, 500ml VC - Volume Corrente VRI - Volume de Reserva Inspiratória • É a quantidade de ar que pode ser inalado além do que está no ciclo de volume corrente • Em estado de repouso o VRI varia entre 1500 à 2500ml VRE - Volume de Reserva Expiratória • É a quantidade de ar que pode ser expirado forçosamente depois da expiração normal ou passiva • Em um adulto jovem o VRE varia DE 1500 à 2000ml VR - Volume Residual • É a quantidade de ar que permanece nos pulmões e nas vias aéreas mesmo depois da expiração máxima • Uma quantidade considerável de ar não pode ser expelida mesmo com esforço máximo, pois os pulmões estão firmemente ligados às paredes do tórax • Os volumes pulmonares são valores isolados, ou seja, nenhum deles inclui outro e eles não se sobrepõem • As capacidades pulmonares incluem dois ou mais volumes pulmonares CI – Capacidade Inspiratória • É o volume máximo de ar que pode ser inspirado a partir do nível expiratório de repouso. • É igual ao volume corrente mais o volume de reserva inspiratória (VC + VRI) CV – Capacidade Vital • É a quantidade de ar que pode ser expirado depois de uma inspiração máxima. • É a soma do volume corrente, do volume de reserva inspiratória e o volume de reserva expiratória (VC + VRI + VRE) • Em adultos do sexo masculino a CV varia de 3500 cm3 a 5000 cm3. Os valores variam de acordo com o tamanho geral do corpo tanto na estatura como no peso. CRF – Capacidade Residual Funcional • É a quantidade de ar nos pulmões e nas vias aéreas no nível de repouso expiratório. • É a soma do volume de reserva expiratória e o volume residual (VRE + VR). • Em adultos jovens do sexo masculino a CRF dá-se em torno de 2300 cm3 CPT – Capacidade Pulmonar Total • É a quantidade de ar que os pulmões são capazes de manter na altura da inspiração máxima. • É a soma de todos os volumes pulmonares. VALORES-PADRÃO DE VOLUMES PULMONARES: COMPARAÇÃO ENTRE HOMENS E MULHERES (< 20-25%) • A maioria dos volumes e das capacidades pulmonares diminui quando o individuo está deitado em vez de sentado, pois as vísceras abdominais fazem pressão para cima contra o diafragma e o volume sanguíneo pulmonar aumenta fazendo com que diminua o espaço disponível para o ar Ventilação Pulmonar = volume corrente x frequência respiratória VP = 500 ml/resp. x 12 ciclos/minuto = 6,0 litros/minuto VOLUMES PULMONARES Nem todo o ar mobilizado na ventilação pulmonar será eficáz para a troca gasosa = espaço morto Espaço Morto Nem todo o ar mobilizado na ventilação pulmonar será eficaz para a troca gasosa = espaço morto Ar morto • O ar que fica nas vias aéreas sem contribuir com o oxigênio para o sangue e nem o dióxido de carbono é chamado de ar morto, ou seja, o ar que foi o último a ser inalado e o primeiro a ser exalado durante a respiração VT VA = VT - Vm VA Vm VT: volume corrente VA: volume alveolar Vm: espaço morto anatômico (não participa da troca gasosa) Conceito de espaço morto anatômico Ventilação Alveolar = (volume corrente – volume do espaço morto) x frequência respiratória VA = (500 ml – 150ml) x 12 ciclos/minuto = 4,2 litros/minuto PRESSÕES DURANTE O CICLO RESPIRATÓRIO WEST 2002 http://www.lib.mcg.edu/edu/eshuphysio/program/section4/4ch3/s4ch3_4.htm O CICLO RESPIRATÓRIO http://www.lib.mcg.edu/edu/eshuphysio/program/section4/4ch3/s4ch3_4.htm O CICLO RESPIRATÓRIO O CICLO RESPIRATÓRIO http://www.lib.mcg.edu/edu/eshuphysio/program/section4/4ch3/s4ch3_4.htm http://www.lib.mcg.edu/edu/eshuphysio/program/section4/4ch3/s4ch3_4.htm O CICLO RESPIRATÓRIO http://www.lib.mcg.edu/edu/eshuphysio/program/section4/4ch3/s4ch3_4.htm O CICLO RESPIRATÓRIO CONCEITO DE COMPLACENCIA PULMONAR Complacencia é o grau de expansão dos pulmões para cada unidade de aumento de pressão transpulmonar. Compliância descreve a distensibilidade pulmonar Adulto normal: 200 ml/cmH2O, ou seja, cada vez que a pressão transpulmonar aumenta em 1cmH2O, a expansão pulmonar é de 200ml. WEST 2002 CURVA PRESSÃO-VOLUME PULMONAR COMPLACÊNCIA Doenças inflamatórias crônicas Alterações irreversíveis na arquitetura pulmonar Modificação funcional da mecânica pulmonar Implicações fisiopatológicas Fibrosis/emphysema pressure/volume curve. Berne et al., 2004 Complacência pulmonar Podem ser desencadeadas por componentes moleculares, geralmente decorrentes do processo inflamatório COMPLACÊNCIA PULMONAR = ___________ V mL P cmH2O COMPLACÊNCIA PULMONAR NO ADULTO = 200mL/cmH2O DIMINUEM A COMPLACÊNCIA PULMONAR FIBROSE PULMONAR EDEMA ALVEOLAR ATELECTASIA TAMANHO DO PULMÃO AUMENTAM A COMPLACÊNCIA PULMONAR ENFISEMA PULMONAR PULMÃO DO IDOSO NORMAL TAMANHO DO PULMÃO SURFACTANTE Fibrosis/emphysema pressure/volume curve. Berne et al., 2004 Implicações fisiopatológicas Enfisema pulmonar Liberação de mediadores inflamatórios e proteases Inflamação neutrofílica e macrofágica persistente causada pela exposição ao cigarro Patologia crônica com destruição tecidual dos pulmões o que os torna hiperinsuflados Marwick JA. et. al Ther Adv Respir Dis. 2010 Feb;4(1):19-34. Implicações fisiopatológicas Asma Crises se manifestam devido ao edema da mucosa brônquica e a contração da musculatura lisa das vias aéreas Resulta na obstrução no fluxo de ar Fibrosis/emphysema pressure/volume curve. Berne et al., 2004 Complacência pulmonar Asma Implicações fisiopatológicas Doença inflamatória crônica das vias aéreas Marwick JA. et. al Ther Adv Respir Dis. 2010 Feb;4(1):19-34. Espessamento do interstício pulmonar Modificação funcional da mecânica pulmonar Implicações fisiopatológicas Fibrose pulmonar Fibrosis/emphysema pressure/volume curve. Berne et al., 2004 Complacência pulmonar Fibrose pulmonar Implicações fisiopatológicas Wilson MS. et al. Mucosal Immunol. 2009 Mar;2(2):103-21. Reparo não funcional por tecido conjuntivo FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO - QUESTÕES GRUPO DE DISCUSSÃO (GD) 1. Considerando-se um indivíduo ao nível do mar, ao final de uma inspiração normal, quais os valores de pressão intra-pleural, pressão alveolar e pressão transpulmonar em mmHg? 2. Ao final de uma expiração forçada, em quais direções os pulmões e a parede torácica tendem a se mover, e o que os impede de realizar este movimento? Que capacidade pulmonar representa o volume pulmonar nesta situação? 3. Quais os 2 principais fatores que determinam a complacência pulmonar? Com o surfactante altera a complacência pulmonar? Para respirar adequadamente, um indivíduo que não produz surfactante deverá produzir qual alteração na pressão intra-pleural em comparação a uma situação normal? 4. Considerando os valores de volume corrente (Vc; mL) e frequência respiratória (Fr; ciclos/min) apresentados, e sendoo volume do espaço morto anatômico de 150 mL, determine qual dos 3 indivíduos apresenta maior ventilação alveolar. A: Vc = 150, Fr = 40; B: Vc = 500, Fr = 12; C: Vc = 1000, Fr = 6. 5. Um indivíduo submete-se a um estudo de medida de volume pulmonar pelo método de diluição de gás hélio. O teste inicia-se ao final de uma expiração normal e o volume do espirômetro é de 4 L. A fração de hélio no espirômetro é de 0,05 no início do teste, e de 0,03 após entrar em equilíbrio com o volume dos pulmões. De acordo com as medidas do espirômetro, o indivíduo possui capacidade vital de 5 L e volume de reserva expiratório de 2L. Determine os valores de capacidade residual funcional (CRF), volume residual (VR), e capacidade pulmonar total (CPT). 6. A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) engloba a asma, a bronquite crônica e o enfisema, condições nas quais o fluxo de ar é obstruído, seja por produção excessiva de muco (bronquite), espasmos brônquicos (asma) e colapso das vias aéreas na expiração (enfisema). Explicar o fato do colapso das vias aéreas ser mais distal à traqueia por modificação do ponto de igual pressão no enfisematoso.
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