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Programac¸a˜o por aula / Ca´lculo II - A 43 In´ıcio da Aula 16 (em 09 de maio) 11 EDO de primeira ordem Como vimos, trata-se de uma EDO do tipo F (x, y, y0) = 0 . Vamos comec¸ar estudando alguns casos particulares de uma tal equac¸a˜o. 11.1 Interpretando o caso particular dy dx = f(x , y) Estamos assumindo que f(x , y) 2 R esta´ bem definida para x 2 I e y 2 J , onde I e J sa˜o intervalos na˜o degenerados da reta. Vamos interpretar e visualizar esta EDO da seguinte forma: em cada ponto (x , y) 2 I ⇥ J , o valor de f(x , y) mede o coeficiente angular da reta que passa por esse ponto. Tal coeficiente angular, claro, pode ser positivo, nulo ou negativo. Exibimos isso nas figuras a seguir. f(x,y)= tan✓=0 ✓ = 0 (x,y) f(x,y)= tan✓> 0 0< ✓< ⇡ 2(x,y) f(x,y)= tan✓< 0 �⇡ 2 < ✓< 0(x,y) x y tan✓=f(x,y) ✓ (x,y) x y Os aˆngulos em ama- relo na˜o sa˜o iguais. Eles dependem das varia´veis x e y. tan✓=f(x,y) ✓ (x,y) x y y0 = y sinx x y Repare que os segmentos de retas acima, na cor azul, sa˜o suporte de re- tas tangentes a soluc¸a˜o da equac¸a˜o passando pelo ponto (x , y). Afinal, a EDO nos diz que dy dx = f(x , y) . As figuras ao lado, mostram o que chamamos de uma distribuic¸a˜o de reta (ou distribuic¸a˜o de coeficientes angulares) y0 = y sinx x y Na figura acima, a` esquerda, exibimos apenas a distribuic¸a˜o de retas, enquanto na da direita, ale´m da distribuic¸a˜o de retas, exibimos, tambe´m, algumas soluc¸o˜es da EDO para buscar mais sintonia entre essas duas informac¸o˜es. Repare, na figura da direita, que nem todas as soluc¸o˜es teˆm o mesmo dom´ınio de definic¸a˜o. Por exemplo, a soluc¸a˜o, bem acima, a` esquerda, tem um dom´ınio menor que a soluc¸a˜o que esta´ abaixo do eixo x. 11.2 A equac¸a˜o dy dx = f(x) Seja f : I ⇢ R! R uma func¸a˜o cont´ınua. A soluc¸a˜o geral da EDO dy dx = f(x) fica dada por y = Z f(x) dx , a qual descreve todas as primitivas de f em I. A soluc¸a˜o particular que satisfaz a condic¸a˜o inicial y(a) = b , com a 2 I , sera´ dada por y = Z x a f(t) dt+ b , para todo x 2 I. Refazer a interpretac¸a˜o acima (e a leitura da distribuic¸a˜o dos coeficientes angulares) para esse caso e relacionar a soluc¸a˜o geral Programac¸a˜o por aula / Ca´lculo II - A 44 com translac¸a˜o de uma soluc¸a˜o particular. Lembrar que esse fato e´ muito especial. tan✓=f(x) ✓ (x,y) x y Os aˆngulos em amarelo sa˜o to- dos iguais. Eles na˜o dependem da varia´vel y. Dependem, apenas, da varia´vel x. tan✓=f(x) ✓ (x,y) x y 11.3 A equac¸a˜o dy dx = f(x)g(y) Trata-se de uma EDO a` varia´veis separa´veis , onde f e g sa˜o func¸o˜es cont´ınuas definidas em intervalos da reta: f : I ⇢ R! R e g : J ⇢ R! R . Repare que se g(�) = 0 para algum � 2 J = Dom(g) , enta˜o y = � e´ uma soluc¸a˜o particular para a equac¸a˜o dy dx = f(x) g(y) . Vejamos ! Nesse caso, temos: dy dx = 0 e f(x) g(�) = 0 , para todo x 2 I. y = �2 y = �1 g(�2) = 0 g(�1) = 0 x y E reciprocamente, se y = � e´ uma soluc¸a˜o para a EDO acima, enta˜o g(�) = 0 . Repare que, se g(�) = 0 , enta˜o o coeficiente angular, em cada ponto (x ,�) , dado por f(x ,�) e´ nulo. Claro, a func¸a˜o g(y) pode se anular em va´rios pontos e ao se anular, fica fa´cil descobrir uma soluc¸a˜o ! Isso significa que as soluc¸o˜es na˜o constantes ocorrem entre as retas horizontais que definem as soluc¸o˜es constantes, caso existam. 11.3.1 Resolvendo equac¸o˜es a` varia´veis separa´veis Considere a equac¸a˜o dy dx = f(x) g(y) , onde f : I ⇢ R! R e g : J ⇢ R! R sa˜o func¸o˜es cont´ınuas . Fora dos pontos onde g se anula, a equac¸a˜o toma a forma: 1 g(y) dy dx = f(x) , Z 1 g(y) dy dx dx = Z f(x) dx . Com a mudanc¸a de varia´vel 8<:y = y(x)dy = dy dx dx obtemos: Z 1 g(y) dy = Z f(x) dx . Nesse caso, se G(y) e´ primitiva de 1/g(y) e F (x) e´ primitiva de f(x) , enta˜o conclu´ımos que: G(y) = F (x) +K , onde x 2 I , y 2 J e K 2 R (11.3.1.1) que nos fornece as soluc¸o˜es da equac¸a˜o na forma implı´cita . Cuidado ! Para explicitar a soluc¸a˜o y = y(x) , precisamos determinar y , dado, implicitamente, na igualdade acima. Em resumo, fizemos: dy dx = f(x) g(y) , 1 g(y) dy = f(x) dx , Z 1 g(y) dy = Z f(x) dx , G(y) = F (x) +K , quando g(y) 6= 0 e onde K 2 R . A busca da soluc¸a˜o da EDO, nos levou ao esconderijo desta soluc¸a˜o, revelado em (11.3.1.1) . Programac¸a˜o por aula / Ca´lculo II - A 45 11.3.2 Exemplos Exerc´ıcio 35. Resolva a equac¸a˜o y0 + xy = 0 . A equac¸a˜o tem a forma y0 = �xy e esta´ bem definida para todo x , y 2 R . E´ uma EDO a` varia´veis separa´veis. Ale´m disso, sabemos que y = 0 e´ uma soluc¸a˜o particular para tal EDO . + Na busca das outras soluc¸o˜es. Caso I : x 2 R e y > 0 . dy dx = �xy , 1 y dy = �x dx , Z 1 y dy = � Z x dx , ln y = �x2/2 + C , onde x 2 R e C 2 R. , y = e�x2/2+C , y = K e�x2/2 , onde x 2 R e K > 0. Caso II : x 2 R e y < 0 . dy dx = �xy , 1 y dy = �x dx , Z 1 y dy = � Z x dx , ln |y| = �x2/2 + C , onde x 2 R e C 2 R. , �y = |y| = e�x2/2+C , y = �K e�x2/2 , onde x 2 R e K > 0. Soluc¸a˜o geral: y = Ke� x2 2 ; com x 2 R y = 0 e´ soluc¸a˜o x y Assim, a soluc¸a˜o geral da equac¸a˜o pode ser colocada na forma y = Ke�x 2/2 onde K 2 R e x 2 (�1 ,+1) . Dada uma condic¸a˜o inicial, y(a) = b , podemos determinar a constante K que devemos usar para descrever a soluc¸a˜o particular que satisfaz tal condic¸a˜o inicial. No presente caso, K fica dado por: b = Ke�a 2/2 , K = b ea2/2. + Nota importante. Repare que nesse caso, se y = y(x) e´ soluc¸a˜o da EDO, enta˜o y1 = �y(x) tambe´m e´ uma soluc¸a˜o. Essa propriedade e´ reflexo da “simetria” da equac¸a˜o diferencial. Pergunta-se: como essa simetria se reflete na EDO? Ou seja, como ela se apresenta atrave´s da func¸a˜o f(x , y) ? Exerc´ıcio 36. Resolva a equac¸a˜o xy0 + y = 0 . Repare que a equac¸a˜o tem a forma y0 = �yx , a qual na˜o esta´ bem definida quando x = 0 , ou seja, sobre o eixo y. Sabemos, tambe´m, que y = 0 e´ soluc¸a˜o desta equac¸a˜o. Ale´m disso, a equac¸a˜o pode ser colocada na forma: x dy dx + y = 0 , xdy dx = �y , 1 y dy = � 1 x dx , quando x 6= 0 e y 6= 0 . Integrando, obtemos:Z 1 y dy = � Z 1 x dx , ln |y| = � ln |x|+ C , onde C 2 R , x 6= 0 e y 6= 0 . A expressa˜o acima nos da´ o esconderijo das soluc¸o˜es dessa EDO. Para determina´-las, explicita- mente, devemos fazer: eln |y| = e� ln |x|+C , |y| = K|x| , onde K > 0 , x 6= 0 e y 6= 0 , isto e´ , y = ± K x onde K > 0 , x 6= 0 e y 6= 0 . Assim, a soluc¸a˜o geral da equac¸a˜o em estudo tem a forma y = K x , onde K 2 R e x 6= 0 . Soluc¸a˜o geral: y = K/x onde K 2 R e x 6= 0 y = 0 e´ soluc¸a˜o xy0 + y = 0 x y Programac¸a˜o por aula / Ca´lculo II - A 46 Exerc´ıcio 37. Resolva a equac¸a˜o yy0 + x = 0 . A EDO tem a forma y0 = �x y , a qual esta´ bem definida para y 6= 0 , ou seja, fora do eixo x. Nesse caso, y = constante na˜o e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o. Ale´m disso, fora do eixo x , temos: y dy dx + x = 0 , y dy = �x dx , Z y dy = � Z x dx , y 2 2 = �x 2 2 + C , x 2 2 + y2 2 = C , onde C > 0. E da´ı conclu´ımos que as soluc¸o˜es esta˜o escondidas na expressa˜o: x2+y2 = K2 , onde K > 0 . Na˜o existem soluc¸o˜es que intersectam o eixo x. x y Consequentemente, elas teˆm a forma: y = p K2 � x2 , com x 2 (�K ,K) ou y = � p K2 � x2 , com x 2 (�K ,K) . Exerc´ıcio 38. Resolva a equac¸a˜o y0 + 2xy2 = 0 . Esta equac¸a˜o tem a forma y0 = �2xy2 , a qual esta´ bem definida para todo (x , y) 2 R2. Ale´m disso, sabemos que y = 0 e´ uma soluc¸a˜o para tal equac¸a˜o. + Na busca das outras soluc¸o˜es. Caso I: x2 R e y > 0 . dy dx = �2xy2 , �dy y2 = 2x dx , � Z dy y2 = 2 Z x dx , 1 y = x2 +K , onde K 2 R . Assim, temos as seguintes soluc¸o˜es (cuidado com o dom´ınio da soluc¸a˜o !) para tal EDO quando y > 0 : f K = 0 : y = 1 x2 para x 2 (�1 , 0) [ (0 ,+1) ; f K > 0 : y = 1 x2 +K para x 2 (�1 ,+1) ; f K < 0 : y = 1 x2 +K para x 2 ��1 ,�p�K � [ �p�K ,+1) . Caso II: x 2 R e y < 0 . Repare que esta equac¸a˜o tem simetria em relac¸a˜o ao eixo x. Ou seja, se y = y(x) e´ soluc¸a˜o para x 2 I , enta˜o y1 = �y(x) tambe´m e´ soluc¸a˜o para esta equac¸a˜o, no mesmo intervalo I, pois: dy1 dx = �dy dx = 2xy2 = �2xy21 , em I. 12 Teorema de existeˆncia e unicidade No in´ıcio do estudo sobre esse tema, comentamos sobre a existeˆncia de soluc¸o˜es para equac¸o˜es do segundo grau. Associado a uma equac¸a˜o diferencial, perguntas desta natureza, se colocam com extrema naturalidade: f existe soluc¸a˜o satisfazendo a`s condic¸o˜es iniciais estabelecidas ? f se existe, ela e´ u´nica para tal condic¸a˜o inicial ? Em particular, se estamos diante de uma EDO do tipo dy dx = f(x , y) , gostar´ıamos de saber: Programac¸a˜o por aula / Ca´lculo II - A 47 f quais condic¸o˜es f(x , y) deve satisfazer para que tal equac¸a˜o admita uma soluc¸a˜o, satisfazendo a condic¸a˜o inicial y(x0) = y0 , para cada x0 2 I e y0 2 J ; f quais condic¸o˜es f(x , y) deve satisfazer para que tal equac¸a˜o admita uma u´nica soluc¸a˜o, satisfazendo a condic¸a˜o inicial y(x0) = y0 , para cada x0 2 I e y0 2 J . A resposta esta´ no teorema a seguir. Teorema de Existeˆncia e Unicidade. Seja f : I ⇥ J ! R uma aplicac¸a˜o e considere a equac¸a˜o diferencial (⇤) dy dx = f(x , y) sujeita a` condic¸a˜o inicial y(x0) = y0 , onde x0 2 I e y0 2 J. Temos : (i) sob leia-se, continuidadez }| { condic¸o˜es adequadas sobre f , podemos garantir que existe, pelo menos uma soluc¸a˜o para (⇤) ; (ii) sob condic¸o˜es ainda mais adequadas sobre f| {z } leia-se, continuidade das derivadas parciais de f , podemos garantir que existe, uma e uma u´nica soluc¸a˜o para (⇤). Repare que no caso (i), duas soluc¸o˜es distintas podem se intersectar. No entanto, isso na˜o ocorre no caso (ii). A unicidade das soluc¸o˜es nos garante que se duas soluc¸o˜es coincidem num ponto, enta˜o elas coincidem no intervalo comum onde ambas sa˜o definidas. O que sobrar de cada um dos intervalos serve para aumentar o dom´ınio de cada uma dessas soluc¸o˜es. Fim da Aula 16 (em 09 de maio)
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