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VÍRUS Microbiologia Médica, Jawetz 26ª Ed. (2014); Abbas 8ª Ed. e Tortora 10ª Ed. Propriedades gerais dos vírus . É ácido nucleico (DNA ou RNA) circundado pelo capsídeo, e, às vezes, um envelope. . São parasitas intracelulares obrigatórios. - capsídeo: envelope proteico; - capsômeros: aglomerados de polipeptídeos em partículas icosaédricas (A); - envelope: membrana lipídica que vem da membrana do hospedeiro; - plepômeros: glicoproteínas codificadas pelo vírus que fica na superfície do envelope; - nucleocapsídeo: complexo proteína-ácido nucleico; - subunidade: cadeia polipeptídea viral dobrada; - protômero: unidade estrutural proteica básica do envelope; - virion: unidade infecciosa completa. . A origem dos vírus ainda não é conhecida, as teorias plausíveis são: Podem vir do DNA ou RNA de células hospedeiras, adquirindo a capacidade de replicação autônoma e evoluíram independentemente. Podem ser formas degeneradas de parasitos intracelulares. . Critérios para classificação dos vírus: morfologia do virion, propriedades do genoma do virion (tipo de ácido nucleico), organização genômica e de replicação, propriedades das proteínas virais, propriedades antigênicas, propriedades físico-químicas do virion e propriedades biológicas. Vírus que contêm DNA Parvovírus: ex.: parvovírus humano -> sofre replicação em células eritroides imaturas, podendo gerar crise aplástica (produção insuficiente de células sanguíneas), quinta doença (eritema infeccioso) e morte fetal. Anellovírus: nenhuma doença ainda foi associada a esse vírus. Ex.: torque teno vírus. Poliomavírus: produzem infecções crônicas em seus hospedeiros naturais e todos podem induzir tumores. Exs.: vírus JC -> leucoencefalopatia multifocal progressiva; vírus BK -> nefropatias em pacientes transplantados; vírus da célula de Merkel -> carcinoma das células de Merkel. Papilomavírus: conhecidos como vírus das “verrugas”, podem causar cânceres cervical e genital no homem. Adenovírus: pelo menos 51 tipos infectam o homem, particularmente as mucosas, podendo gerar doenças respiratórias agudas, conjuntivite e gastrenterite. Hepdnavírus: se reproduz no fígado, e o excesso de proteínas de superfície produzido é liberado no sangue. Ele causa hepatite aguda e crônica, e infecções persistentes aumentam risco de câncer hepático. Herpes-vírus: as infecções latentes podem persistir por toda a vida do hospedeiro, geralmente em células ganglionares e linfoblastoides. Os humanos são: herpes-vírus simples tipos 1 e 2 -> lesões orais e genitais; vírus varicela-zóster -> herpes-zóster e varicela; citomegalovírus; vírus Epstein-Barr -> mononucleose infecciosa e associação com neoplasias humanas; herpes-vírus humanos 6 e 7 -> linfotrópico T; herpes-vírus humano 8 -> sarcoma de Kaposi. Poxvírus: todos tendem a provocar lesões cutâneas. Ex.: varíola, vacínia, molusco contagioso. Vírus que contêm RNA Picornavírus: exs.: enterovírus (poliovírus, vírus Coxackie, vírus Echo e o rinovírus [resfriado comum]); hepatovírus (vírus da hepatite A). Astrovírus: associado à gastrenterite. Calicivírus: ex.: norovírus -> gastrenterite aguda epidêmica [Norwalk vírus]. Herpes-vírus: ex.: vírus da hepatite E humana. Picobirnavírus Reovírus: ex.: rotavírus -> gastrenterite; Arbovírus e os Vírus transmitidos por roedores: não constituem famílias de vírus verdadeiras. Ex.: vírus da dengue, da febre amarela, da encefalite e o vírus do Oeste do Nilo. Os vírus transmitidos por roedores provocam infecções persistentes em roedores e não são transmitidos por artrópodes. Ex.: infecções por hantavírus e a febre de Lassa. Togavírus: muitos arbovírus (alfavírus) são desse grupo, como o vírus da rubéola. Flavivírus: composto por arbovírus como vírus da febre amarela, da dengue e da hepatite C. Arenavírus: ex.: vírus da febre de Lassa na África. Coronavírus: a maioria causa doenças moderadas a agudas do trato respiratório superior (“resfriados”), mas podem causar Síndrome Respiratória Aguda Grave. Retrovírus: vírus da Aids -> envelopado; RNA+ de 2 fitas simples lineares; possui enzima transcriptase reversa, que produz uma cópia de DNA a partir do RNA. Esse DNA incorpora-se ao DNA do hospedeiro, e o vírus replica a partir da cópia de DNA “pró-viral” integrada. O indivíduo fica cronicamente infectado. Eles podem ser transmitidos como genes hereditários na maioria das espécies e permitem a identificação de oncogenes celulares. Outros exemplos: vírus da leucemia e do sarcoma de animais e seres humanos e vírus espumosos dos primatas e os lentivírus (vírus da imunodeficiência humana; visna de ovinos). Ortomixovírus: todos são vírus influenza que infectam seres humanos ou animais. Buniavírus: ex.: hantavírus -> causa febre hemorrágica e nefropatia, bem como síndrome pulmonar grave. Bornavírus: vírus da doença de Borna -> neurotrópico e pode estar associado a transtornos neuropsiquiátricos em seres humanos. Rabdovírus: ex.: vírus da raiva. Paramixovírus: ex.: vírus da caxumba, sarampo, parainfluenza, metapneumovírus e o sincicial respiratório. Diferente do influenza, apresentam estabilidade genética. Filovírus: ex.: vírus Marburg e Ebola -> febre hemorrágica grave. Outros vírus: informações insuficientes para classificar, ex.: alguns vírus da gastrenterite. Viroides: pequenos agentes infecciosos que causam doenças em plantas. Não são tidos como vírus clássicos, porque só têm ácido nucleico, não tem revestimento proteico. Príons: são partículas infecciosas compostas só por proteínas, sem ácido nucleico e são altamente resistentes à inativação por calor, formaldeído e radiação UV, que inativam vírus. As doenças causadas por príons são chamadas "encefalopatias espongiformes transmissíveis", ex.: scrapie em ovelhas; doença da vaca louca no gado; kuru e doença de Creutzfeldt-Jakob em seres humanos. . Estrutura viral -> a arquitetura do vírus pode ser agrupada em: - Simetria cúbica: exibe padrão icosaédrico (20 faces...). O ácido nucleico viral é condensado no interior das partículas isométricas. É possível haver formação de partículas “virais” vazias. Podem ter DNA ou RNA. Ex.: adenovírus. - Simetria helicoidal: as subunidades proteicas estão ligadas de forma periódica ao ácido nucleico viral, girando até formar uma hélice. Logo depois, o nucleocapsídeo é envelopado, não sendo possível formar partículas helicoidais “vazias”. Só tem RNA. Ex.: ortomixovírus. - Estruturas complexas: ex.: poxvírus. . Composição química dos vírus: Proteína: facilita a transferência do ácido nucleico viral de uma célula hospedeira para outra; protege o genoma contra inativação por nucleases; participa da fixação do vírus à célula hospedeira e dá simetria estrutural à partícula. . É responsável pela característica antigênica do vírus, sendo que a resposta imune é dirigida contra ela. . Algumas de superfície podem exercer características específicas. Ex.: hemaglutinina (influenza) -> aglutina eritrócitos. . Alguns vírus transportam enzimas como RNA polimerase e transcriptase reversa. Ácido nucleico: somente um tipo (DNA ou RNA), fita simples ou dupla, circular ou linear, segmentada ou não segmentada. Envelope lipídico: a composição específica de fosfolipídeos do envelope está ligada ao tipo de membrana celular envolvida no processo de brotamento. Ex.: herpes-vírus brotam através da membrana nuclear, de modo que a composição de fosfolipídeos reflete os lipídeos dessa membrana. Há proteínas fora e dentro do envelope. Vírus envelopados são mais sensíveis ao éter e outros solventes orgânicos de fora que, quando perdem o envelope, perdem o poder infeccioso. Glicoproteínas: estão no envelope e são codificadas (com exceção do açúcar) pelo vírus, ao contrário dos lipídios, que vêm da célula hospedeira. . Servem para fixação. . Estão envolvidas na infecção (fusão da membrana). . Funcionam como antígenos. . Relacionam-se com o anticorpo neutralizante. . Efeitos citopáticos são alterações que os vírus geram nas células e facilitam sua identificação-> lise ou necrose celular, formação de inclusões, formação de células gigantes e vacuolização citoplasmática. Ex.: inclusões intracitoplasmáticas nas células nervosas (corpúsculos de Negri) -> patognomônica para raiva. . Reação a agentes físico e químico: - calor e frio: vírus icosaédricos tendem a ser mais estáveis com variação de T°, ao contrário dos encapsulados, que perdem sua infecciosidade. - estabilização por sais: ela é importante na preparação das vacinas. - pH: são estáveis entre valores de pH de 5 a 9, sendo que todos são destruídos por condições alcalinas. - radiação: a luz UV, os raios X e as partículas de alta energia inativam os vírus. Replicação do vírus . Só se multiplicam em células vivas, sendo que é necessária a síntese de proteínas virais pela célula hospedeira a partir do RNAm viral. . Período de eclipse: interação com célula hosp. -> virion se rompe -> perde infecciosidade detectável -> aumento da progênie viral -> aumento metabólico celular para produção de proteínas virais . A duração para replicação varia. Ex.: picornavírus (6-8h); herpes-vírus (+40h). . A infecção pode ser: - produtiva: em células permissivas, em que há produção de vírus infecciosos; - abortiva: em células não permissivas -> incapacidade de sustentar a produção de todos os genes virais ou o vírus pode ser defeituoso; - latente: expressão de nenhum ou de alguns genes virais com sobrevida da célula infectada. . Etapas gerais: Fixação, penetração e desnudamento . Os receptores virais são, em geral, glicoproteínas, podendo ser só proteínas (picornavírus) ou só oligossacarídeos (ortomixovírus e paramixovírus). . Há vírus com ligantes específicos (o que interfere na patogenicidade). Exs.: HIV -> receptor CD4 das células imunes; rinovírus -> molécula de adesão intracelular 1 [ICAM 1]; vírus Epstein-Barr -> receptor CD21 das células B. Observação: a etapa de fixação pode iniciar alterações estruturais irreversíveis no virion. . A penetração ou engolfamento, em geral, se dá pela endocitose mediada por receptores em que a partícula viral vai para o endossomo. Há penetração direta pela membrana e, às vezes, o envelope pode se fundir com a membrana; o que envolve uma proteína de fusão do vírus e um segundo receptor ou “correceptor” celular ex.: receptores de quimiocinas para HIV. . O desnudamento é concomitante à penetração ou pouco depois dela. É a separação do ácido nucleico do resto, podendo ser liberado de forma livre (picornavírus) ou como nucleocapsídeo (reovírus). . Ele pode exigir a presença de pH ácido no endossomo. Observação: no desnudamento, ocorre a perda obrigatória da infecciosidade original do vírus. Expressão de genomas virais e síntese dos componentes virais . Aqui há transcrição do RNAm específico a partir do genoma viral para expressão e duplicação da informação genética. . Após isso, os vírus utilizam componentes celulares para a tradução do RNAm. - RNA - : precisam de RNA polimerase para sintetizar RNAm na ausência de um modelo de RNA. ex.: rabdovírus. - RNA + : o RNA de fita simples é complementar ao RNAm. . Geralmente, em vírus com DNA de fita dupla, há um controle “temporal” de replicação, sendo que as proteínas virais iniciais são sintetizadas logo após a infecção, enquanto as tardias formam-se apenas depois da síntese de DNA viral. Em vírus com RNA, a informação genética é expressa ao mesmo tempo. . Além do controle “temporal”, há o quantitativo, visto que nem todas as proteínas virais são sintetizadas na mesma quantidade. Há uma regulação da transcrição e tradução pelo próprio vírus. . Splicing* -> excisão das sequencias interpostas não codificadas na transcrição. . De forma geral, a proteína viral é sintetizada no citoplasma em polirribossomos constituídos de RNAm específico do vírus e ribossomos da célula hospedeira; o DNA é replicado no núcleo, e o RNA no citoplasma, embora haja exceções. Morfogênese e liberação . Em geral, os vírus sem envelope acumulam-se em células infectadas, as quais eventualmente sofrem um processo de lise e liberação de partículas virais. . Os vírus com envelope amadurecem por um processo de brotamento e, geralmente, não se acumulam no interior da célula. . A apoptose pode ser regulada por mecanismos induzidos por vírus. Algumas infecções virais retardam a apoptose precoce, dando tempo suficiente para a produção de grande quantidade de progênie viral. Além disso, alguns vírus induzem ativamente a apoptose em estágios tardios, facilitando a propagação dos vírus para novas células. . Quando 2 diferentes vírus infectam a mesma célula, pode haver: Recombinação: ex.: vírus Influenza. Complementação: um vírus fornece um produto gênico para o qual o segundo é defeituoso, permitindo o crescimento desse segundo vírus, sendo que os genótipos de ambos permanecem inalterados. Mistura fenotípica: é um caso especial de complementação, em que o genoma de um vírus se torna incorporado aleatoriamente a proteínas dos capsídeos especificadas por um vírus diferente ou por um capsídeo, consistindo em componentes de ambos os vírus. Se o genoma estiver envolto por um envelope proteico totalmente heterólogo, isso poderá ser denominado "mascaramento fenotípico" ou "transcapsidação". Interferência: é quando a presença de um vírus inibe a multiplicação do outro. Patogênese e controle das doenças virais . É importante saber que: muitas infecções são subclínicas [sem doença], a mesma doença pode ser causada por vários vírus, um único vírus pode causar várias doenças, a doença não tem relação com a morfologia viral e a evolução de qualquer caso é influenciada por ambos [vírus e hospedeiro]. . Etapas da patogênese viral: Penetração e replicação primária A maioria penetra pelos tratos respiratório e gastrintestinal e, geralmente, replicam no local primário de entrada sem necessidade de disseminação sistêmica. Ex.: influenza (resp.) e norovírus (gast.). Propagação viral e tropismo celular . A via mais comum é a corrente sanguínea e vasos linfáticos. Ex.: enterovírus; herpes-vírus simples. . Viremia -> presença de vírus no sangue. . Tropismo -> geralmente, os vírus tendem a exibir especificidades de órgãos e células que têm receptores específicos para eles. Ex.: vírus da hepatite B -> apresenta tropismo por hepatócitos. . Alguns fatores afetam o tropismo como a expressão dos genes virais e a presença de enzimas proteolíticas em alguns tecidos. Dano celular e doença clínica . Doença -> gerada pela destruição das células infectadas no tecido alvo e pelas alterações fisiológicas induzidas no hospedeiro pela lesão tecidual. . Muitos dos fatores que determinam a gravidade da doença ficam desconhecidos, e as citocinas geram sintomas generalizados como mal estar e anorexia, ou seja, a doença clínica é insensível ao diagnóstico. Recuperação da infecção Envolve as imunidades inata e adaptativa. Disseminação do vírus . Em geral, ocorre através de superfícies corporais envolvidas na penetração do vírus. Resposta imunológica do hospedeiro . Resposta inata -> produção de IFN -> inibe crescimento viral quando o vírus induz a resposta humoral e mediada por células. . Resposta adaptativa -> caracterizada pela infiltração de células mononucleares (monócitos) e linfócitos [ao contrário das bactérias que predomina polimorfonucleares -> basófilo, neutrófilo e eosinófilo]. . A resposta imune tem como alvo as proteínas virais. . IgA secretor -> importante na proteção contra infecções dos tratos resp. e gast. . O HIV infecta o linfócito T e destrói sua capacidade funcional . Mecanismos de evasão da resposta imune: - infectar e inibir função de leucócitos, ex.: HIV; - infectar neurônios que quase não expressam MHC 1, ex.: herpes-vírus; - codificar proteínas imunomodulatórias que inibem a função dos MHC, ex.: adenovírus, herpes-vírus; - inibir atividade das citocinas, ex.: sarampo, varíola; - sofrer mutações, modificando seus locais antigênicos ou proteínas do virion, ex.: influenza, HIV; - atenuar nível deexpressão de proteínas da superfície viral, ex.: herpes-vírus; - direcionar transcrições celulares específicas, reprimindo diferentes proteínas integrais importantes na resposta imune inata; - usar estratégias anti-IFN. Comparação entre a patogênese de uma doença viral cutânea e a de uma doença do SNC Persistência viral: infecções crônicas e latentes . Infecções crônicas -> o vírus replicante pode ser continuamente detectado, quase sempre em níveis baixos, podendo haver ou não sintomas clínicos leves. . Infecções latentes -> o vírus persiste em uma forma oculta (escondida ou críptica) na maior parte do tempo quando não são produzidas novas partículas virais. . Infecções inaparentes ou subclínicas -> são aquelas que não produzem sinais manifestos da presença do vírus. . Ex.: vírus da hepatite B em lactentes -> infecção crônica; herpes-vírus (herpes-vírus simples, varicela-zóster, citomegalovírus, Epstein-Barr) -> infecções latentes. . As infecções virais persistentes estão associadas a certos tipos de câncer nos seres humanos, bem como a doenças degenerativas progressivas do SNC de seres humanos. Ex.: encefalopatia espongiforme -> infecção crônica, progressiva e fatal do SNC. Resumo das infecções virais Respiratórias agudas: Gastrintestinais: rotavírus, norovírus e calicivírus -> gastrenterite aguda [vômito, diarreia, prostração, febre]; enterovírus, coronavírus e adenovírus -> infecções assintomáticas. Cutâneas: penetram por pequenas escoriações -> poxvírus, papilomavírus, herpes-vírus simples; por picada -> arbovírus; hospedeiro vertebrado infectado -> vírus da raiva, vírus da hepatite B; via parenteral -> vírus da hepatite B, HIV. Com frequência, as lesões cutâneas não desempenham papel algum na transmissão dos vírus. - máculas -> causadas por dilatação local de vasos sanguíneos da derme; - pápulas -> mácula + edema e infiltração celular na área; - vesículas -> quando a epiderme é afetada; - pústulas -> vesículas + atração de leucócitos PMN para a lesão. Em seguida, verifica-se a formação de úlceras e crostas. Ocorrem erupções hemorrágicas e petéquias quando há o comprometimento mais grave dos vasos da derme. SNC: disseminação hematogênica (pela corrente sanguínea) ou neuronal (pelas fibras periféricas). Ex.: herpes-vírus -> são transportados por axônios e liberados no gânglio dorsal espinhal; togavírus, flavivírus, enterovírus, rabdovírus, paramixovírus e buniavírus -> podem infectar o SNC e provocar meningite, encefalite ou ambas; poliomavírus JC -> leucoencefalopatia multifocal progressiva; vírus do sarampo -> panencefalite esclerosante subaguda. Congênitas: ex.: rubéola, citomegalovírus, herpes-vírus simples, vírus varicela-zóster, vírus da hepatite B, vírus do sarampo, vírus da caxumba e HIV, parvovírus e alguns enterovírus. As infecções in utero podem resultar em morte fetal, nascimento prematuro, atraso do crescimento intrauterino ou infecção pós-natal persistente. Em consequência, podem ocorrer malformações de desenvolvimento, como defeitos cardíacos congênitos, catarata, surdez, microcefalia e hipoplasia dos membros. Prevenção e tratamento das infecções virais Quimioterapia antiviral Análogos dos nucleosídeos . Maioria dos antivirais disponíveis. . Inibem a replicação das polimerases essenciais à replicação do ácido nucleico. . Alguns análogos podem ser incorporados ao ácido nucleico e bloquear sua síntese e função. . Podem inibir enzimas celulares e virais, sendo que, quanto mais específico, melhor. . Ex.: aciclovir (acicloguanosina), lamivudina (3TC), ribavirina, vidarabina (adenina arabinosídeo) e zidovudina (azidotimidina; AZT). Inibidores da transcriptase reversa . Ex.: nevirapina. Inibidores da protease . Produz partículas virais não infecciosas. Ex.: saquinavir, indinavir e ritonavir. Outros - fuzeon: bloqueia a etapa de fusão da membrana celular com o vírus envolvido na entrada do HIV-1 nas células; - amantadina e rimantadina: inibem especificamente os vírus influenza A, ao bloquear o desnudamento viral, devem ser administradas de modo profilático para exercer um efeito protetor significativo; - foscarnete: inibe seletivamente as DNA-polimerases e as transcriptases reversas virais; - metisazona: inibidor dos poxvírus, bloqueia um estágio avançado da replicação viral, resultando na formação de partículas virais imaturas não infecciosas. Interferons São citocinas que inibem a replicação viral. Propriedade dos IFN Existem IFN alfa, beta e gama. Os alfa e beta são do tipo I ou interferons virais, enquanto o gama é do tipo II ou imune. Síntese dos IFNs É induzida, principalmente, por RNA viral, além de endotoxina bacteriana e pequenas moléculas como a tilorona. O gama não é produzido em resposta a maioria dos vírus, mas é induzido por mitógenos [estimulam mitose]. Os IFNs alfa e gama são sintetizados por diferentes tipos celulares, já o gama, pelos linfócitos (LT e NK). Atividade antiviral e outros efeitos biológicos É a primeira defesa do hospedeiro, ele estimula a síntese de proteínas que inibem a replicação viral e não é específico para vírus, somente para espécie em que é produzido. Mecanismos virais para anular a ação do IFN - proteínas virais específicas que bloqueiam a indução da expressão dos IFNs, ex.: herpes-vírus, papilomavírus, ftlovírus, vírus da hepatite, rotavírus; - bloqueio da ativação da proteinoquinase PKR essencial, ex.: adenovírus, herpes-vírus; - ativação de um inibidor celular da PKR, ex.: vírus influenza, poliovírus; - bloqueio da transdução de sinais induzidos pelos IFNs, ex.: adenovírus, herpes-vírus, vírus da hepatite B; - neutralização do IFN gama ao atuar como receptor da IFN solúvel, ex.: vírus do mixoma. Estudos clínicos Para ser útil na profilaxia, é necessário que se administrem altas doses antes da exposição ao vírus ou no início da infecção, antes do aparecimento dos sinais clínicos da doença. Ex.: IFN alfa -> benéfico no controle das infecções virais do fígado pelas hepatites B e C. A aplicação tópica de IFN aos olhos pode suprimir a ceratite herpética e acelerar a cicatrização. Vacinas virais Princípios gerais Obstáculos: existência de muitos sorotipos (rinovírus), mudança de antígeno (influenza), integração de DNAs (retrovírus) e infecção de células do sistema imune do hospedeiro (HIV). Vacinas com vírus mortos Geralmente, a imunidade é de curta duração; estimulam a produção de anticorpos circulantes contra as proteínas de revestimento do vírus. Vacinas com vírus vivos atenuados Induz uma boa resposta celular e a produção de anticorpos, bem como o desenvolvimento de resistência na porta de entrada. Obstáculos: risco de reversão para maior virulência durante a multiplicação na pessoa vacinada, estoques podem ser contaminados por agentes estranhos, conservação e prazo de validade limitados, interferência por infecção concomitante causada por vírus do tipo selvagem e ocorrência natural pode inibir a replicação do vírus da vacina e reduzir sua eficácia. Uso adequado das vacinas atuais Em geral, as vacinas feitas com vírus vivos são contraindicadas para mulheres grávidas. Perspectivas futuras Tem-se tentado não incorporar o DNA viral à vacina a fim de melhorar a segurança do produto; o que inclui: uso de técnicas de DNA recombinante para se inserir o gene que codifica a proteína de interesse no genoma de um vírus avirulento que possa ser administrado como vacina; inclusão somente dos componentes subvirais necessários à estimulação dos anticorpos protetores; uso de proteínas purificadas isoladas de vírus purificados ou sintetizados a partir de genes clonados; uso de peptídeos sintéticos que correspondem a determinantes antigênicos de uma proteína viral (embora a resposta imune seja mais fraca do que com o original); Desenvolvimento de vacinas comestíveis, em que plantas transgênicas, sintetizando antígenos para vírus patogênicos, podem fornecer vias de baixo custo para a administração de vacinas; uso de vacinas de DNA nas quais plasmídeos recombinantescontendo o gene para a proteína de interesse são injetados no hospedeiro, e o DNA produz a proteína imunizante; administração local de vacina para estimular a produção de anticorpos locais na porta de entrada do vírus. Imunidade contra vírus Imunidade inata contra vírus . Há inibição da infecção por IFNs tipo I produzido, especialmente, pelas CD e destruição das células infectadas pelas NK. . Algumas vias de produção do IFN: - reconhecimento de RNA e DNA viral pelos TLRs endossomais e ativação de receptores citoplasmáticos tipo RIG e da via de STING pelo RNA e DNA virais; - isso leva à ativação de proteínas quinases que ativa os fatores de transcrição de IRF que estimula a transcrição do gene de IFN tipo I. Imunidade adaptativa contra vírus . Mediada por anticorpos, que bloqueiam a ligação do vírus e entrada nas células hospedeiras, e por CTLs, que eliminam a infecção matando as células infectadas. . Os anticorpos são eficazes contra os vírus apenas durante a fase extracelular das vidas desses microrganismos. . Eles evitam tanto a infecção inicial (fixação) quanto a disseminação célula a célula (entrada). . Além da neutralização, os anticorpos podem opsonizar partículas virais e promover a sua depuração por fagócitos. A ativação do complemento também pode ocorrer, principalmente através da promoção de fagocitose e possivelmente pela lise direta de vírus com envoltórios lipídicos. . Apresentação cruzada -> se a célula apresentada é de tecido e não uma APC, a célula infectada pode ser fagocitada pelas células dendríticas, que processa os antígenos virais e os apresenta para as células T CD8 + imaturas. . As células T CD8 + sofrem uma proliferação maciça durante a infecção viral e a maioria das células em proliferação são específicas para alguns peptídios virais. Algumas das células T ativadas diferenciam-se em CTL efetores, que podem matar qualquer célula nucleada infectada. . Além de matar, podem ativar nucleases dentro de células infectadas que degradam genomas virais e secretar citocinas, tais como IFN-γ, que ativa fagócitos. . Em algumas infecções virais, a lesão no tecido pode ser causada por CTLs. Ex.: vírus da hepatite B -> imunodeficientes que foram infectados não desenvolvem a doença, mas tornam-se portadores que podem transmitir a infecção para pessoas saudáveis. Os fígados de pacientes com hepatite ativa aguda e crônica contêm grandes números de células T CD8 +.Evasão da resposta imune . Alteração do antígeno, deixando de ser alvo da resposta imune por mutação ou rearranjo-> os dois principais antígenos são hemaglutinina viral trimérica (o pico de proteína viral) e neuraminidase. . Inibição da apresentação de antígenos de proteínas citosólicas associadas ao MHC de classe I -> como as CD8 não vão atuar, as NK são ativadas pelas células infectadas na ausência de MH classe I. . Produção de moléculas que inibem a resposta imune -> competitivas das citocinas, ligam-se a elas. Ex.: vírus Epstein-Barr -> produz uma proteína homóloga à citocina IL-10, que inibe a ativação de macrófagos e células dendríticas e, assim, pode suprimir a imunidade mediada por células. . Algumas infecções virais crônicas estão associadas à insuficiência de respostas CTL -> isso pode resultar da sinalização de receptores inibitórios da célula T, como a via de PD-1, que normalmente funciona para manter a tolerância de células T a antígenos próprios. . Assim, os vírus podem ter evoluído para explorar mecanismos normais de regulação imunológica e para ativar essas vias nas células T. Exaustão -> as respostas contra os vírus são iniciadas, mas interrompidas prematuramente. Existe evidência da exaustão de células T CD8 + nas infecções virais humanas crônicas, incluindo o HIV e a infecção pelo vírus da hepatite. . Os vírus podem infectar e destruir ou inativar as células imunocompetentes -> exemplo óbvio é o HIV, que sobrevive ao infectar e eliminar as células T CD4 +, os principais indutores de respostas imunes a antígenos proteicos. Vírus e câncer . 10% dos casos de câncer são causados por vírus. . Oncogene -> é a parte do genoma que sofre alteração capaz de causar câncer. . Os oncogenes podem ser ativados para um funcionamento anormal por uma variedade de agentes, incluindo químicos mutagênicos, radiação de alta energia e vírus oncogênicos (seu material genético se integra ao DNA da célula hospedeira, replicando juntamente com os cromossomos celulares). . Após serem transformadas pelos vírus, algumas células tumorais passam a expressar um antígeno vírus-específico chamado de antígeno de transplante tumor-específico em sua superfície e também no núcleo, chamado de antígeno T. Vírus de DNA oncogênicos . Adenoviridae, Herpesviridae, Poxviridae, Papovaviridae e Hepadnaviridae. Entre os papovavírus, o papilomavírus causa câncer uterino (cervical). . Quase todos os casos de câncer cervical são causados pelo papilomavírus humano; o HPV16 é responsável por cerca da metade de todos os casos de câncer cervical. . Epstein-Barr -> potencial cancerígeno. . Vírus da hepatite B -> relação com câncer de fígado. Vírus de RNA oncogênicos . Retroviridae. Ex.: vírus da leucemia de células T humanas -> causam linfoma e leucemia de células T em seres humanos adultos. . Outros exs.: vírus do sarcoma felino, aviário e murino, bem como os vírus de tumor de mama em camundongos e vírus da leucemia felina. . Principal causa do câncer pelos retrovírus: é que o DNA gerado pela transcriptase reversa é introduzido no genoma do hospedeiro. Observação: pró-vírus -> molécula de DNA de fita dupla sintetizada a partir do RNA viral.
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