Buscar

Documento 4


Prévia do material em texto

NEGACIONISMO 
No período da Pandemia da Covid-19, vimos o crescimento do negacionismo no Brasil. O negacionista é caracterizado por negar as fontes tradicionais de mídia para procurar se informar, seu local de pesquisa são as mídias alternativas como as redes sociais ele se vê como como um altruísta conhecedor de verdades sobre o mundo, sempre buscando lutar pelo bem de valores “tradicionais” como pátria, família, liberdade e o bem da economia (Szwako, 2021).
Para Szwako (2021), o discurso negacionista não nega a ciência ou o discurso cientifico como um todo, pois se utiliza desses meios para ilustrar suas idéias.
O negacionista não nega ou desconhece a realidade, ele faz um recorte daquilo que lhe satisfaz (Szwako, 2021).
De acordo com Caponi (2020), para evitar a proliferação de discursos negacionistas devemos ouvir apenas aquilo que é dito por experts no respectivo assunto, tanto cientistas quanto, somado a estes, os experts por experiência, que seriam aqueles que vivenciaram os problemas em questão. O combate a esses discursos é uma tarefa interdisciplinar da qual devem participar os diversos setores do governo responsáveis pelo respectivo assunto.
De acordo com Marques e Raimundo (2021), “o negacionismo científico cresceu significativamente nos últimos anos e tem se caracterizado como um fenômeno cada vez mais frequente de devaneio e acriticidade, o qual é propagado vertiginosamente pelas diversas redes sociais com o efeito de distorção dos fundamentos teóricos e dados científicos oriundos de anos de produção e pesquisa científica.” (formatar)
Os negacionistas nas redes sociais se utilizam de fakes e bots para propagar suas conspirações (Marques e Raimundo, 2021). 
As conspirações negacionistas têm um valor ideológico que é contrário aos valores científicos (Marques e Raimundo, 2021). 
Dizem Marques e Raimundo (2021) que “dessa forma, o discurso negacionista questiona os valores históricos do conhecimento científico, dos argumentos racionais e da experiência adquirida ao longo dos anos ao defender a ideia de que todas as opiniões têm o mesmo valor.”
Para Marques e Raimundo (2021), “o desenvolvimento do negacionismo científico não é espontâneo, senão parte de uma contradição sistemática que serve a algum tipo de manutenção de poder.” 
Ainda em seu trabalho, Marques e Raimundo (2021) explicam que os discursos negacionistas criam movimentos especializados para fortalecer uma ciência falsa, que possui como foco ser o contrário da ciência tradicional quando esta desagrada crenças de alguns grupos. O espalhamento dessas ideias é problemático pois gera dúvida na população leiga sobre as questões científicas. Essa expansão de ideias anticientíficas se dá de forma sensacionalista, misturando a fake news com ideias de cunho político, religioso ou econômico, buscando visualizações nas redes sociais para gerar assim também incentivo financeiro. Ainda para estes pesquisadores, as fake news seriam espalhadas se utilizando da forma de um discurso semelhante ao científico e midiático para se difundirem como esses. Ao chegar na população comum o discurso se dissiparia pela alienação destes com relação a cultura científica (Marques e Raimundo, 2021).
A forma como é proposta o diálogo negacionista pode incluir discurso de ódio para induzir os consumidores dessas ideias a agir de forma passional, colocando as pessoas em um estado de guerra, um nós contra eles constante. A repetição ininterrupta dessas visões de mundo gera crenças fixas que podem dar origem a seitas ignorantes a conceitos externos, assim, pessoas nestes meios seriam praticamente incapazes de diálogo, se tornando mais vulneráveis a propagandas contendo pré-conceitos (Marques e Raimundo, 2021).
O discurso negacionista na produção de fake news é palatável ao gosto popular, atendendo a visão de mundo de quem o consome, sendo para estes algo autoexplicativo, como algo que é de uma percepção intuitiva, direta e “óbvia” (Marques e Raimundo, 2021).
Os diferentes grupos acabam se unindo como uma frente negacionista (Marques e Raimundo).
A alfabetização digital seria uma solução para o problema atual do negacionismo, pois faria com que as pessoas fossem mais capazes de conhecer aquilo que é valido daquilo que não é (Carvalho e Guimarães, 2020).
Caldeira Neto (2009), falando sobre o negacionismo ao holocausto menciona que este não começa de uma negação completa do ocorrido, ele parte de uma negação parcial e gradual da coisa como reduzir o número de vítimas, relativizar as atrocidades cometidas a época e só depois disso é que se parte à completa negação. Isso não parece ser algo particular deste assunto em específico, outros movimentos fazem de semelhante estratégia de forma consciente ou não (citar trabalhos de hesitaçaõ vacinal e outros)
A internet também se tornou terreno fértil para ideias que negam o holocausto (Caldeira Neto).
Jost e Amodio, 2012
As ideologias são potentes motivadores da ação humana. Por causa desses sistemas abstratos de crenças, os seres humanos se tornam capazes de cometerem os atos mais atrozes e devastadores e os atos mais corajosos e generosos (Jost e Amodio, 2012).
As ideologias são atrativas por serem capazes de dar segurança existencial, de lidar com a ansiedade da mortalidade, por negação, racionalização e por outros mecanismos de defesa (Jost e Amodio, 2012).
Kunda 1990
Existem evidencias de que as pessoas têm maior chance de chegarem a conclusões que querem, porém precisam construir justificações, que pelo menos tenham a aparência de serem racionais para chegar a essas conclusões (Kunda, 1990).
O raciocínio motivado pode ser dividido em: aquele raciocínio que é motivado por obter uma conclusão real ou de precisão e aquele em que busca uma direção para a sua conclusão. No primeiro há um maior esforço cognitivo e um maior cuidado com as informações, apesar de não necessariamente acabar com todos os vieses, o segundo, há uma inclinação a chegar em uma conclusão desejada, porém, com um caminho racional construído de forma a justificar a existência de tal conclusão (Kunda, 1990).
O raciocínio de precisão associado com o raciocínio direcional pode aumentar o viés, pois o procesos do primeiro pode facilitar construções e justificativas do sengundo (Kunda, 1990).
Existe muitas vezes uma ilusão de objetividade, alimentada por um viés não percebido. Por um desejo de uma ideia, pode-se acessar memorias e conhecimentos e construir uma narrativa sem perceber o viés. Se abandonasse esse impulso, poderia ser obtido conclusões opostas (Kunda, 1990).
A ideologia pode ser um fator que influencia o raciocínio motivado. As pessoas querem confirmar seus vieses ideológicos e toda a sua racionalidade se volta para justificá-la no real (Kunda, 1990).
As pessoas não são livres para agirem da forma que querem, elas são limitadas por suas crenças prévias (Kunda, 1990).
A percepção individual também pode ser afetada por algum viés. Certas motivações podem instigar vieses na busca por memórias relevantes para a percepção de si (Kunda, 1990).
É possível que as pessoas construam certas crenças através de uma busca por somente aquilo que a fortalece (Kunda ,1990).
Pessoas motivadas a desacreditar em certas evidências tenderam a não acreditar nelas (Kunda, 1990).
Pessoas que consomem algo tendem a acreditar que esse algo não é tão perigoso, mesmo apresentando evidências (Kunda, 1990).
Pessoas são mais críticas a métodos de pesquisa que negam suas crenças pessoais, portanto, para elas, a pesquisa dependeria mais dos resultados do que dos métodos (Kunda, 1990).
A refutação de estudos só ocorre se houver uma “desculpa” racional para tal. Se não houver como refutar o estudo, as pessoas tendem a acreditar nele a contragosto (Kunda, 1990).
A avaliação de evidências científicas pode ser enviesada para conclusões desejadas. Porém não há liberdade de escolha, as pessoas são limitadas por suas crenças prévias. Apesar dissoa negação de evidências e métodos depende de um motivo com aspecto racional, se não for o caso de ter uma “desculpa” para a negação, mesmocom certas crenças, há uma tendência a crer nas evidências e métodos (Kunda, 1990). Portanto negacionistas e conspiracionistas precisariam de uma aparência de racionalidade para as suas negações.
Definição -
Causas - 
Consequências -
INFODEMIA
Definição -
Causas -
Consequências -
DESINFORMAÇÃO -
Definição -
Causas - 
Consequências -
HESITAÇÃO VACINAL -
MOVIMENTO ANTI VAXX -
NEGACIONISMO AMBIENTAL -
Cook et al., acharam os seguintes dados em 2013: 66,4% das publicações não expressaram posição sobre o aquecimento global antropogênico, 32,6% endossam essa ideia, apenas 0,7 rejeitaram e 0,3 eram incertos sobre o assunto. Além disso, dos que se expressaram sobre o assunto, 97,2% endossam o que é considerado o consenso científico. Nesta análise foram observadas 11.944 publicações de 1991 a 2011 (Cook et al., 2013).
Apesar disso muitas pessoas fora da comunidade científica acreditam que ainda há um grande debate ou que não há um consenso sobre o assunto, muito disso pode estar ligado a voz que a mídia dá a opositores do consenso promovendo suas ideias e debates com cientistas pró aquecimento antropogênico, como se fosse uma luta de igual para igual (Cook et al., 2013).
Com relação as publicações sem posição, a maioria se dá por se tratarem de questões ainda em debate, sem relação ao consenso (Cook et al., 2013).
Lewandowsky et al., 2013
Apesar do consenso científico sobre o aquecimento global antropogênico a preocupação do público vem caindo com relação a este assunto. Muito disso se deve a uma “manufatura da dúvida” por parte de políticos, que possuem seus próprios interesses, agindo como se não houvesse um consenso científico com relação ao tema (Lewandowsky et al., 2013).
A informação sobre a existência de um consenso científico com relação a um tema pode ser de grande importância para moldar a opinião das pessoas (Lewandowsky et al., 2013).
No trabalho de Lewandowsky et al. (2013), é mostrado como o público subestima o consenso sobre o aquecimento global antropogênico. Foi exposto pela pesquisa que se acreditava em um consenso de cerca de 70%, quando na realidade é de aproximadamente 97% (Cook et al., 2013; Lewandowsky et al., 2013). Foi observado ainda que as ideologias pró livre mercado criavam um viés contrário a aceitação do aquecimento global, porém o conhecimento do consenso sobre o tema atenua essa questão.
Informações normativas são ais resilientes contra ideologias e, portanto, são formas melhores de mudar a visão de uma pessoa que anedotas, histórias e outras formas de expressão (Lewandowsky et al., 2013).
Loiola, 2019
Há no youtube uma grande quantidade de vídeos negacionistas que falam sobre o aquecimento global. A maioria possui presença de pesquisadores e cientistas de universidades brasileiras, sendo frequentemente recomendados pelo algoritmo da plataforma (Loiola, 2019).
Existem diversos argumentos utilizados pelos negacionistas. Entre os principais estão a negação da existência das mudanças climáticas como um todo, a afirmação de que na verdade está ocorrendo um resfriamento global e a atribuição das mudanças a fenômenos naturais, longe do controle humano (Loiola, 2019).
Notícias alarmistas sobre o assunto podem ter impacto negativo na visão pública sobre o assunto. O alarmismo dá a entender que não é possível realizar mudanças suficientes para que haja efeito positivo, o que levaria a um adiamento ou evitação de mudanças de hábito (Loiola, 2019). Isso poderia acabar ocasionando uma maior dificuldade de governos democráticos a assumir posições mais ambientalistas.
A promoção de debates de igual para igual na mídia entre as posições leva a um crescimento da popularidade de ideias negacionistas, apesar do consenso científico ser contrário a isso (Loiola, 2019).
Há mais vídeos negacionistas que sobre o consenso, sendo a diferença de visualizações positiva para o consenso, porém essa diferença é muito pequena (Loiola, 2019).
MERCADORES DA DÚVIDA -
PANDEMIA -
Para Szwako (2021), os negacionistas viam o pós-pandemia como um tempo distópico para o mundo, com mortes e crises sem fim. Para o autor isso seria um desejo reprimido, um desejo de estar certo, contra tudo e contra todos, um desejo por um “eu te avisei”. O negacionista negaria esse desejo como uma máscara social, concluindo que se fosse feito da forma deles tudo seria melhor, ou seja, ele negaria seu sonho de destruição “utópico”. Talvez isso poderia explicar o porquê de diversas ideias negacionistas terem sucesso.
Em um texto escrito e publicado em 2020, no período de pandemia, Caponi (2020) cita que um dos grandes problemas da pandemia no Brasil, seria a falta de coordenação entre o governo federal e os regionais, com informações contraditórias entre si que acabaram gerando um descaso geral pelas medidas de isolamento regionais. Além disso, a disputa entre presidente e o ministro da saúde à época sobre a questão do isolamento em si foram extremamente negativas para essas medidas (Caponi, 2020). A estratégia de isolamento necessária para conter a pandemia requeria muito investimento em ciência e tecnologia, ações políticas e educação. Dentre os investimentos seria necessário ter uma compensação econômica social, devido a enorme quantidade de pessoas vivendo em situações de informalidade, desemprego e precariedade. Na época, o isolamento era uma das poucas formas de prevenção à doença, já que não se sabia muito sobre suas características e ainda não havia vacina disponível para a população (Caponi, 2020).
Um argumento contrário a aplicação do isolamento seria que isso geraria uma espécie de estado de exceção que feriria os direitos da população, porém, Caponi (2020) discordando desta ideia diz que este estado que nos impõem limites de ir e vir seria positivo e ético, pois, seria uma forma de controlar a curva do número de casos até a descoberta de uma vacina ou medicamento eficaz. Neste caso esse estado seria uma maximização dos cuidados para com a população e não o contrário. 
Ainda citando a mesma autora, “o que o coronavírus deixa em evidência é que a saúde, assim como a educação, não pode ser pensada em termos neoliberais de investimento e capital” (Caponi, 2020).
Em que paises o isolamento foi positivo -
PÓS - VERDADE -
Para Iebert e Pereira (2020) “Na pós-verdade, o excesso de informação gera um número maior de “já-ditos” sobre os quais diversos matizes ideológicos podem se firmar”, ou seja, o excesso de conteúdo vindo, principalmente da internet dificulta a diferenciação daquilo que é verdadeiro, do que é falso. Esse problema é especialmente difícil para aqueles que são menos intruídos, que são aqueles que popularizam os movimentos negacionistas (Iebert e Pereira, 2020).
*"os acontecimentos não têm um sentido em si mesmos: eles remetem a uma série de outros elementos subjetivos que conduzem a significação, que por sua vez só pode existir enquanto materialidade perceptível, como notícias, comentários ou previsões.” Além disso, outro fator importante é que, “pelo viés discursivo, entendemos que significamos o mundo pela linguagem e agimos sobre ele simbolicamente, atravessados pelo inconsciente, o interdiscurso, a história, enfim, pelo conjunto de circunstâncias sociais, históricas e simbólicas que chamamos de condições de produção do sentido (Iebert e Pereira, 2020)
O termo pós-verdade foi descrito pela primeira vez por Steve Tesich em 1992. Este termo esta atrelado ao gesto político de uma sociedade que se importa mais com seu bem-estar diante das informações do que com a ligação da informação com a realidade. A ideologia se torna guia dos indivíduos, reforçando suas crenças visões de mundo (Iebert e Pereira, 2020).
Na pós-verdade, o indivíduo tenta interpretar a informação independente de investigação. Isso ocorre devido a grandeza no número de informações que torna a obtenção de conhecimento algo caótico. Para buscar sentido e organizar os nossos sentidos, acabamos por reforçar as nossas crenças ideológicas, por que é o que se torna mais fácil (Iebert e Pereira, 2020).
“A pós-verdade não só validaria informaçõesinverossímeis como também serviria para distinguir os sujeitos no espectro político” (Iebert e Pereira, 2020). Ou seja, na pós-verdade, gera-se um “nós contra eles” de crenças ideológicas e, de certa forma, o mainstream político se torna pautado mais em sentimentos de ódio mútuo do que em debates sobre fatos, filosofias, ciência e coisas afins a essas (Iebert e Pereira, 2020).
“Se ética é a forma de agir no mundo, só se age sobre o mundo inserido em uma posição” (Iebert e Pereira, 2020), e na pós verdade as posições se tornampautadas em “falsas verdades” ou “verdades fabricadas”, isso acaba por gerar uma falsa ética, um jeito de agir pautado no excesso e na rivalidade impossibilitando debates (Iebert e Pereira, 2020)
Para Iebert e Pereira (2020), “viver no real pressupõem interpretar e ressignificar esse real pela língua. Não ignoramos acontecimentos da realidade sensível(...), e tampouco vivemos completamente presos a uma segunda realidade exclusivamente simbólica”, pois, “vivemos num constante estado de conflito entre o mundo real e o discursivo, entre verdades do mundo e as da língua.”
Dryhurst et al., 2020
O novo coronavírus é uma doença altamente contagiosa que gera uma síndrome respiratória aguda. No começo de 2020 essa doença saiu de Wuham na China criandouma pandemia, afetando todo o mundo (Dryhurst et al., 2020). 
Para solucionar o problema da pandemia ou evitar sua piora diversas respostas foram tomadas pelo mundo como distanciamento social, conselhos de higiene pessoal e um lockdown completo. Esses métodos foram usados para frear e prevenir a sobrecarga dos sistemas de saúde dos países (Dryhurst et al., 2020).
Porém o sucesso destes métodos depende que o público entenda o real risco social e de saúde da doença (Dryhurst et al., 2020).
No trabalho de Dryhurst et al. (2020), foi feito uma pesquisa em 10 países nos continentes norte americano, europeu e asiático, sobre a percepção de risco da Covid-19. Foi observado que pessoas com experiências pessoais com a doença tiveram uma percepção de risco maior. Além disso, foi observado que quanto mais individualistas as visões de mundo, menos se percebia o risco. Quanto mais se confiava na ciência e em profissionais de saúde maior a percepção de risco, o contrário pode ser observado em pessoas que confiam no governo. Com relação a questão ideológica, nos Estados Unidos e no Reino Unido foram observados que os conservadores tinham menor percepção de risco, sendo que no México e na Coréia do Sul, era o oposto para os conservadores (Dryhurst et al., 2020).

Continue navegando