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APRESENTAÇÃO - SÉRGIO THALES FERNANDES Obra: A Arqueologia do Saber, de Michel Foucault, 1969 (edição de 2007) Parte III - O ENUNCIADO E O ARQUIVO; Capítulo 5: O A Priori Histórico e o Arquivo Em “O A Priori Histórico e o Arquivo”, o quinto e último capítulo de “O Enunciado e o Arquivo”, a terceira parte do livro A Arqueologia do Saber, Michel Foucault, após ter abordado o enunciado enquanto performance verbal dotada de singularidade e materialidade prática e o discurso enquanto conjunto de enunciados que se apóiam na mesma formação discursiva, ou seja, no mesmo princípio de dispersão e repartição, buscará em seguida descrever o que ele considera como a positividade de determinado discurso que desempenhará o papel de um a priori histórico, dentro de um horizonte geral chamado pelo autor de arquivo. Todos estes elementos juntos formarão a arqueologia ou o método arqueológico na análise da linguagem enquanto coisa dita, ou seja, enquanto prática. A positividade de determinado discurso se caracteriza por uma unidade de através do tempo que permitirá o aparecimento da medida segundo a qual diversos enunciados coexistirão e se relacionarão em sua dispersão própria, segundo regularidades que os possibilitam falar da “mesma coisa”, estar no “mesmo nível”, desenvolver “o mesmo campo conceitual”, oporem-se no “mesmo campo de batalha”. É o espaço limitado de comunicação entre determinados enunciados. Constitui-se a partir de três elementos: 1) a raridade (de que maneira determinado enunciado pôde aparecer dentro de um campo enunciativo lacunar e retalhado); 2) a exterioridade (materialidade da linguagem, expressão singular, não enquanto intenção de um interior prévio, mas na própria forma exterior); e 3) o acúmulo (enquanto subsistência pelo tempo ou remanência, enquanto relações mútuas em agrupamentos ou aditividade e enquanto campo de elementos antecedentes em relação aos quais situa-se ou recorrência). O papel de apriori histórico que esta positividade desempenhará se dá no estabelecimento de condições de realidade para os enunciados, ou seja, de condições de emergência dos enunciados e da lei de sua coexistência mútua; está na história particular de cada discurso, uma história constituída por uma sucessão não-dedutível, ou seja, na qual um enunciado não deduz determinantemente outro, mas que se encaixa em uma unidade de dispersões. O apriori histórico é ele próprio transformável e portanto também dotado de historicidade. Diferente de um apriori formal, de uma determinação inicial teleológica, o apriori histórico existe no domínio dos enunciados, enquanto conjunto de regras que caracterizam uma prática discursiva. A partir desta, concebe-se os enunciados como acontecimentos (tendo suas condições e seu domínio de aparecimento) e como coisas (compreendendo suas possibilidades e seu campo de utilização). A junção destes elementos é, para Foucault, o arquivo. O arquivo se caracteriza por ser a lei do que pode ser dito, o sistema que rege o aparecimento dos enunciados; é onde os enunciados se agrupam em relações múltiplas segundo regularidades específicas; é o conjunto das coisas ditas, não como um depósito no qual elas dormem, mas sim enquanto jogo de relações dentro do sistema da discursividade que possibilita ou impossibilita um enunciado, não importando sua razão própria ou os homens que as proferiram. O arquivo define o sistema de enunciabilidade e de funcionamento do enunciado, é o que diferencia um discurso do outro. Neste sentido, é o sistema geral da formação e da transformação dos enunciados, a partir do qual conjura as rupturas da história, traz à tona a diferença entre os discursos, os tempos e as máscaras, ou seja, a nossa razão, a nossa história e o nosso eu. A toda esta constelação discursiva dá-se o nome de arqueologia, que descreverá os discursos como “práticas especificadas no elemento do arquivo” e que Foucault descreverá na quarta e próxima parte do livro, intitulada “A Descrição Arqueológica”.
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