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UEM/CTC/DEQ Fenômenos e Transporte – T-01 Profa Sueli Teresa Davantel de Barros CAPÍTULO 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS 1.1 - FENÔMENOS DE TRANSPORTE -Dinâmica dos fluidos envolve o transporte de momento, -Transferência de calor lida com o transporte de energia e a -Transferência de massa diz respeito ao transporte de massa de várias espécies químicas. Esses três fenômenos de transporte devem, em um nível introdutório, ser estudados juntos pelas seguintes razões: • Eles em geral ocorrem simultâneamente em problemas industriais: biológicos, agrícolas e metereológicos; na verdade, a ocorrência de qualquer um dos processos de transporte isoladamente é uma exceção em vez de uma regra. • As equações básicas que descrevem os três fenômenos de transporte estão intimamente relacionadas. A similaridade das equações, sob condições simples, é a base para resolver problemas “por analogia”. • As ferramentas matemáticas necessárias para descrever esses fenômenos são muito similares. • Os mecanismos moleculares por trás dos vários fenômenos de transporte estão bastante relacionados. Todos os materiais são compostos de moléculas e os mesmos movimentos moleculares e interações são responsáveis pela viscosidade, pela condutividade térmica e pela difusão. TRÊS NÍVEIS NOS QUAIS OS FENÔMENOS DE TRANSPORTE PODEM SER ESTUDADOS Na figura 0.2-1, mostramos um diagrama esquemático de um sistema de grande porte – por exemplo, um equipamento grande, através do qual uma mistura fluida está escoando. Podemos descrever o transporte de massa, de momento, de energia e de movimento angular em três níveis diferentes. - dinâmica dos fluidos - transferência de calor - transferência de massa. � Em nível macroscópico (Fig 0.2-1 a) balanços macroscópicos: Descrevem como a massa, o momento, a energia e o momento angular no sistema variam por causa da introdução e retirada dessas grandezas através das correntes de entrada e de saída devido a várias outras entradas no sistema provenientes do ambiente. No estudo de um sistema de engenharia ou biológico, é uma boa idéia começar com tal descrição macroscópica para fazer uma análise global do problema; em alguns exemplos somente essa visão global é necessária. � Em nível microscópico (Fig 0.2-1 a) balanços microscópicos: Examinamos o que está acontecendo com a mistura fluida em uma pequena região dentro do equipamento. Escrevemos um conjunto de “equações de balanço” , que descrevem como a massa, o momento, a energia e o momento angular variam dentro dessa pequena região. O objetivo aqui é conseguir informação acerca dos perfis de velocidades, temperaturas, pressões e concentrações dentro do sistema. Essa informação mais detalhada pode ser necessária para o entendimento de alguns processos. � Em nível molecular (Fig 0.2-1 c) procura-se por uma compreensão fundamental dos mecanismos de transporte de massa, de momento, de energia e de momento angular, em termos da estrutura molecular e das forças intermoleculares. Geralmente, esse é o domínio dos físicos teóricos ou dos físico-químicos, porém, ocasionalmente, engenheiros e cientistas práticos têm de se envolver nesse nível. Isso é particularmente verdade se os processos em estudo envolverem moléculas complexas, faixas extremas de temperatura e pressão ou sistemas que reagem quimicamente. Esses três níveis de descrição envolvem diferentes “escalas de comprimento”: por exemplo, em um problema industrial típico, em nível macroscópico, as dimensões dos sistemas de escoamento podem ser da ordem de centímentros ou metros; o nível microscópico envolve o que está acontecendo na faixa do mícron ao centímetro e no nível molecular os problemas envolvem faixas de cerca de 1 a 1.000 nanômentros. 1.2 – MEIOS A matéria pode encontrar-se na forma sólida ou fluida e os fluidos podem ainda dividir-se em líquidos e em gases. Nos gases as moléculas são completamente livres e movem-se por todo o espaço ocupado pelo gás com uma energia cinética que depende da temperatura. Devido as moléculas poderem se mover livremente, e terem energia cinética, uma molécula move-se até chocar com outra ou com um obstáculo (e.g. uma parede, chocando efetivamente com as moléculas da parede). Destes choques resultam forças que alteram a velocidade de cada molécula. Este movimento, é normalmente designado por movimento Browniano em homenagem ao cientista que demonstrou a sua existência. Devido ao movimento browniano, os gases ocupam todo o espaço dos recipientes em que são colocados. Se o volume do recipiente aumentar a pressão abaixa, devido a frequência dos choques com as moléculas baixar. A pressão que um gás exerce sobre as paredes do reservatório (que é a pressão a que o gás está sujeito), mede a força por unidade de área exercida pelos choques das moléculas nas paredes dos recipiente, dependendo, por conseguinte, da intensidade e da frequência dos choques. Nos líquidos as moléculas apresentam-se em grupos, que podem ter movimento relativo. A dimensão destes grupos de moléculas, diminui com o aumento de temperatura, até que as moléculas têm movimento individual quando os líquidos vaporizam. Nos sólidos as moléculas ocupam posições relativas fixas, o que lhes permite manter a forma ao longo do tempo. O aumento da energia cinética das moléculas, com a temperatura, aumenta a amplitude dos seus movimentos oscilatórios, fazendo-os aumentar de volume, mas mantendo a forma. Assim, uma diferença básica entre os sólidos e os fluidos, é que os primeiros podem suportar tensões tangenciais sem haver movimento relativo permanente entre as moléculas, enquanto que nos fluidos, as tensões tangenciais dão sempre origem a movimento do fluído. Veremos mais adiante que a relação entre a tensão tangencial e, o gradiente de velocidades que gera, é uma das propriedades mais importantes dos fluidos (viscosidade). Outra característica importante dos fluidos decorrente da sua estrutura molecular e da liberdade relativa das moléculas, é a chamada condição de não -escorregamento. Quando um fluído se move sobre um sólido, a força de atração entre as moléculas do sólido é, normalmente, superior à força de atração entre as moléculas do fluido e, por isso, este adere à parede, sendo a velocidade do movimento sobre a parede, igual à velocidade da parede. Outra razão para baixar a velocidade junto à parede, é a rugosidade da parede que, mesmo para uma parede “lisa”, é muito superior à dimensão das moléculas, oferecendo, por conseguinte, uma resistência de forma que se traduz numa redução da velocidade junto à parede. Do mesmo modo, quando dois fluidos se movem um sobre o outro, as moléculas de um, ou são atraídas pelas do outro, ou se interpenetram (fluidos miscíveis) e por isso a velocidade dos dois fluidos, na interface é também a mesma. Mais adiante, veremos que a força de atrito entre os fluidos é também a mesma, sendo estas as duas condições de fronteira que nos permitirão conhecer o perfil de velocidades na interface entre dois fluidos imiscíveis A aproximação do fluido como meio contínuo, decorre da nossa incapacidade de considerarmos as moléculas individualmente num escoamento. Como tal, define-se porção elementar de fluido (volume elementar), como um volume de fluido suficientemente pequeno para que todas as propriedades sejam uniformes, mas muito maior do que a distância entre moléculas, para que não haja descontinuidade da matéria. 1.3 - - PROPRIEDADES DOS FLUIDOS E DOS MEIOS CONTÍNUOS A compressibilidade de um fluido deve ser função do nível de pressão. Porém, de acordo com o uso comum, a compressibilidadede um fluido é definida em termos de sua densidade ou massa específica. Fluido compressível – quando a massa específica varia com a pressão. Ex: gases (dinâmica de gases). Fluido incompressível – quando as variações da densidade ou massa específica com a pressão são insignificantes (Hidrodinâmica). 1.4 – UNIDADES E DIMENSÕES 1. Conceitos Básicos: ••••Dimensão: conceito básico de medida que se refere a qualquer grandeza mensurável (comprimento, massa, tempo, etc.). ••••Unidade: é o meio de expressar quantitativamente as grandezas mensuráveis (metro, quilograma, segundo, etc.). ••••Grandeza Adimensional: aquela cujos valores são números puros, isto é, que não necessitam de unidades como meio de expressão quantitativa. ••••Dimensões Primárias: se referem às grandezas para as quais são definidos procedimentos padronizados de medida. Exemplos: comprimento (L), tempo (t), temperatura (T). ••••Dimensões Secundárias: se referem às grandezas cujas dimensões são expressas em função das dimensões primárias. Exemplos: velocidade (L/t), volume (L3). ••••Sistemas de Dimensões: diz-se que um conjunto de dimensões primárias forma um SISTEMA DE DIMENSÕES. São três os sistemas de dimensão que costumam ser usados e os mesmos são identificados pelas dimensões primárias que o compõem: 1) Massa (M); comprimento (L); tempo (t); temperatura (T) 2) Força (F); comprimento (L); tempo (t); temperatura (T) 3) Força (F); massa (M); comprimento (L); tempo (t); temperatura (T) ••••Sistemas de Unidade: para cada dimensão é possível estabelecer diferentes unidades. Uma vez selecionado o SISTEMA DE DIMENSÕES, o conjunto de unidades (unidades básicas) que expressam as dimensões primárias é chamado de SISTEMA DE UNIDADES. As unidades definidas para dimensões secundárias são as UNIDADES DERIVADAS. 2. Sistemas de Unidades Há vários sistemas de unidades em uso mas, o sistema internacional de unidades estabelecido pela 11ª CGPM - Conferência Geral de Pesos e Medidas já foi declarado por mais de 30 países como o único sistema legal. Os sistemas de unidades costumam ser classificados em: i) Sistemas Absolutos: massa é dimensão primária e força é dimensão secundária. ii) Sistemas Gravitacionais: massa é dimensão secundária e força é dimensão primária. iii) Sistemas Híbridos: massa e força são dimensões primárias. Na classificação acima, força e massa representam o aspecto fundamental para a distinção entre os tipos de sistemas de unidades. Essas duas grandezas são relacionadas através da 2ª Lei de Newton: F α ma ou F = C ma ou comumente, F g m a C g c c= = 1 1( / ) Caso apenas uma das grandezas for considerada primária (F ou m), tem-se que a lei acima relaciona uma à outra de modo que gc deverá ser adimensional. Exemplo: No sistema SI tem-se 1 N = 1 kg x 1 m/s2, logo F = 1 N; m = 1 kg e a = 1 m/s2 e substituída na relação acima obtém-se gc = 1. No caso das duas grandezas (F e m) serem consideradas primárias então gc não será adimensional. Exemplo: No sistema americano de engenharia 1 lbf é o peso de 1 lb num local onde a aceleração da gravidade é 32, 174 ft/s2. Substituindo na equação acima tem-se: g lb ft s lbfc = 32 174 2 , . / Para o usuário dos sistemas de unidades seria melhor se não ocorresse a situação de gc ser adimensional num sistema de unidades e dimensional em outro. Seria bem mais simples se: i) O tipo (3) dos sistemas de dimensões apresentados, em que força e massa são dimensões primárias, não existisse. Nesse caso gc seria sempre adimensional. ii) Os sistemas de unidades fossem de tal modo definidos que gc = 1. Pode-se perceber da tabela de sistema de unidades em anexo que apenas os sistemas híbridos não satisfazem aos dois itens acima; para os restantes gc = 1. A sugestão prática para contornar o problema vinculado a gc é a de usar apenas os sistemas em que gc = 1 (adimensional). O usuário deve notar (e entender!) que as unidades de força e massa dos sistemas híbridos fazem parte também de outros sistemas de modo que, elas continuarão à disposição de quem acatar esta sugestão. A diferença agora é que, por exemplo, será possível escrever por meio de conversão de unidades que 1 lbf = 32, 174 lb ft/s2. Essa igualdade não seria permitida no sistema americano de engenharia em função de F e m serem consideradas dimensões primárias. TABELA DOS SISTEMAS DE UNIDADES MAIS UTILIZADOS Grandeza Sistemas Absolutos Sistemas Gravitacionais Sistemas Híbridos (Dimensão) Sistema métrico absoluto (CGS) Sistema internacional (SI) Sistema inglês absoluto (FPS) Sistema inglês gravitacional Sistema métrico gravitacional Sistema americano de engenharia Sistema brasileiro de engenharia comprimento cm m pé (ft) pé (ft) m pé (ft) m massa g kg lb slug (*) utm (*) lb kg força dina (*) N (*) poundal (*) lbf kgf lbf kgf tempo s s s s s s s quantidade de matéria gmol mol (=gmol) lbmol lbmol kgmol lbmol kgmol temperatura K (°C) K (°C) R (°F) R (°F) K (°C) R (°F) K (°C) gc = l (adimensional) g lb ft s lbfc = 32 174 2 , . / g kg m s kgfc = 9 806 2 , . / Observações: 1. Relação entre unidades de força e massa para os sistemas em que gc = 1: 1 dina = 1 g . cm/s2 1 N = 1 kg . m/s2 1 poundal = 1 lb . ft/s2 1 lbf = 1 slug . ft/s2 1 kgf = 1 utm . m/s2 2. Para os sistemas híbridos força e massa são grandezas primárias não havendo relação entre as suas unidades. 3. O mol do SI coincide do ponto de vista prático com o gmol. 4. (*) indica uma unidade derivada. 5. Para as relações quantitativas entre as unidades em geral devem ser consultadas tabelas apropriadas de unidades e conversão de unidades (ver por exemplo no Perry e no Smith/Van Ness). 3. Conversão de Unidades Uma vez que há vários sistemas de unidades em uso, é de se esperar que a necessidade de conversão de unidades seja freqüente em engenharia. Um fato que aumenta essa necessidade é a existência de um enorme número de unidades isoladas (não pertencentes a um sistema de unidades!) que são definidas para atender a situações específicas e por outros motivos. Para trabalhar com unidades existe uma regra simples e básica a ser observada: tratar as unidades como se fossem quantidades algébricas! Exemplo: Cálculo de interesse Cálculo algébrico análogo 10 m + 5 m = 15 m 10 x + 5 x = 15 x 2 kg + 1 m = -- - 2x + y 1 m3 ÷ 10 cm3 = -- - x3 ÷ 10 y3 5 kg/s . 0,8 m3/kg = 4 m3/s 5 x/z . 0,8 y3/x = 4 y3/z Para converter unidades é necessário, em 1º lugar, ter à disposição uma tabela (como a que está em anexo) que forneça as diversas relações entre as principais unidades em uso. Em seguida é importante observar que quando unidades correspondentes a uma mesma dimensão possuírem uma razão fixa (por exemplo: 1 kg = 1000 g; 1 m = 100 cm; 1 min = 60 seg, etc.) a transformação de uma em outra se dá por simples regra de três: Exemplo: converter: a) 12 kg em g: 1 kg = 1000 g 12 kg = x ⇒ x = 12,000 g b) 500 K em R: 1 K = 1,8 R 500 K = x ⇒ x = 900 R Obs.: a transformação de K em °C não é possível de ser realizada por uma regra de três; por quê? c) 30 km/h em m/s 1 km = 1000 m 30 km = x ⇒ x = 30.000 m 30 km/l h = 30 000 3 600 . . : m s 1 h = 3.600 s Como é fácil observar dos exemplos acima, o uso da regra de três na conversão de unidade rapidamente se transforma em uma operação trabalhosa e demorada à medida que a quantidade a ser transformada envolva maior número de unidades. No entanto, é fácil escapar a essa armadilha caso se observe que para cada par de unidades de uma mesma dimensão que possua umarazão fixa é possível construir o chamado FATOR DE CONVERSÃO que é sempre igual à unidade e é adimensional. Exemplo: (lembre que as unidades são tratadas como quantidades algébricas) Relação entre unidades Fator de conversão 1 m = 100 cm 1 lb = 453,59 g 1 BTU = 1055 Joules 1 100 1 100 1 1 1 453 59 1 453 59 1 1 1 1055 1 1055 1 1 m cm ou cm m lb g ou g lb BTU Joules ou Joules BTU = = = = = = , , Como o fator de conversão é igual à unidade e é adimensional, ele pode multiplicar qualquer quantidade que esta não será alterada. Desse modo, basta que se escolha os fatores de conversão apropriados para, através de sucessivas multiplicações, converter diretamente as unidades de uma determinada quantidade naquelas que são desejadas. Exemplo: uma determinada indústria processa 10 toneladas/hora de matéria prima. Converta essa quantidade para kg/min. 10 ton 1000 kg 1 hora hora 1 ton 60 min = 166,67 kg/min A maneira de escrever a transformação de unidades no exemplo acima isolando cada fator de conversão em um “compartimento” facilita bastante a quem está se iniciando no uso dessa técnica de conversão de unidades. Exemplo (mais complexo!): A Lei de Hooke para uma mola tem a seguinte expressão: F = 20 . x onde F é em N e x em m. Modifique a equação acima de modo a poder usar força em kgf e comprimento em cm. SOLUÇÃO Logo: F F x x F x onde F em kgf x em cm * , , ( * /100) , * , * : * * = = = = 9 807 20 9 807 20 9 807 0 02039 F N 1 kgf 9,807 N = = F kgf F kgf9 807, * x m 100 cm 1 m (100 x) cm = x* cm Como se vê os símbolos F e x são tratados como sendo valores respectivamente em N e m. Analogicamente, F* e x* são valores em kgf e cm.
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