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04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/39 FENÔMENOS DE TRANSPORTE AULA 1 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/39 Prof. Marcos Baroncini Proença CONVERSA INICIAL Antes de tratarmos dos assuntos referentes ao tema desta disciplina, é importante situarmos os seus conhecimentos no contexto dos saberes que precisam ser adquiridos para o andamento de seus estudos e também para as competências e habilidades que serão exigidas pelo mercado de trabalho. Para esclarecer a importância desta disciplina tanto para os saberes quanto para as competências e habilidades supramencionadas, basta ter a consciência de que todas as operações unitárias presentes nas indústrias de processos químicos advêm de aplicações dos conhecimentos de fenômenos de transportes. Assim, para que possa operacionalizar qualquer processo de indústria química, desde o setor de utilidades, passando para o setor de produção e tratamento de efluentes, é de fundamental importância que tenha domínio dos conhecimentos de mecânica dos fluidos, transferência de calor e transferência de massa, os quais vêm a compor os fenômenos de transportes. Tendo em mente que cada componente citado é por si só uma área complexa de estudos que vem gerando livros e linhas de estudos e desenvolvimentos próprios, não cabe a esta disciplina, e nem temos essa pretensão, tratar a fundo cada uma dessas importantes áreas de conhecimento. Mas cabe a esta disciplina fornecer as ferramentas de conhecimentos fundamentais e aplicados que permitam aos(as) discentes construírem não só os saberes necessários para que possam aplicá-los futuramente em outros momentos de seus estudos, mas que também possam desenvolver competências e habilidades para a vida profissional. Para atingir esse propósito, iremos apresentar nos momentos iniciais os conceitos fundamentais de mecânica dos fluidos, desde conhecimentos básicos e equações fundamentais, até suas aplicações na hidrostática, hidrodinâmica e perda de carga, incluindo seleção de bombas. Em seguida, iremos apresentar os conhecimentos fundamentais de transferência de calor por condução, convecção e radiação, bem como aplicações envolvendo balaços de energia e trocadores de calor. Serão, então, 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/39 apresentadas as Leis de Fick de transferência de massa e suas aplicações, principalmente voltadas a extração e absorção, bem como filtração. Dessa forma, acreditamos que os(as) discentes, ao concluírem esta disciplina, terão as ferramentas necessárias para a construção dos saberes e das competências e habilidades para que tenham sucesso em suas aplicações acadêmicas e profissionais. Vamos, então, nesta aula, tratar de conceitos fundamentais como definições de massa específica, viscosidade dinâmica e cinemática, dentre outros sistemas de medidas, conversões de unidades e equações fundamentais com suas aplicações, todos voltados ao uso em mecânica dos fluidos, para que tenha as ferramentas e conceitos necessários para uso no decorrer desta disciplina e futuramente aplicar na vida profissional. TEMA 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS Para o melhor uso dos conhecimentos desta importante área de estudos que compõe os fenômenos de transportes, é necessário primeiro sedimentar conceitos que serão usados ao longo da disciplina, iniciando pela própria definição de mecânica dos fluidos, passando para o que seja massa específica, densidade, volume específico, viscosidade dinâmica, viscosidade cinemática, vazão mássica, vazão volumétrica, fluidos compressíveis e incompressíveis, fluidos newtonianos e fluidos não newtonianos, tensão de cisalhamento e outros, mas de uma forma lógica e de fácil compreensão. Assim, trabalharemos essas definições de uma forma por análise dimensional, focados na compreensão exclusiva das propriedades físicas e mecânicas envolvidas. 1.1 DEFINIÇÃO DE MECÂNICA DOS FLUIDOS E SUA EVOLUÇÃO Não se trabalha nenhuma área do conhecimento sem saber exatamente o que significa e compreender quais são suas aplicações. Assim, antes de iniciar a construção dos saberes de mecânica dos fluidos, é importante respondermos a esta primeira pergunta: o que é mecânica dos fluidos? De uma forma básica, a mecânica dos fluidos pode ser definida como o estudo de fluidos em movimento ou parados. Mas, além disso, a mecânica dos fluidos estuda o resultado de forças aplicadas em fluidos e também o resultado de forças exercidas por fluidos no seu entorno, estejam eles em movimento ou parados. 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/39 A primeira aplicação de mecânica dos fluidos de que se tem registro na humanidade, mesmo que intuitiva, remonta de 6000 a.C. no Egito e na Mesopotâmia, onde águas de enchente do rio Nilo, rio Tigre e Eufrates foram desviadas para campos de cultivo por até dois meses e depois foram drenadas de volta aos rios para a colheita. Figura 1 – Trabalhadores egípcios Créditos: Matrioshka/Shutterstock. Mas, de fato, foi no século XV que se iniciaram os estudos precursores da mecânica dos fluidos, com Leonardo da Vinci. No período de 1488 a 1514, Da Vinci, já dono de conceitos avançados de mecânica e entusiasmado leitor dos estudos matemáticos de Euclides, se dedicou ao estudo da mecânica dos fluidos. Nesse período, dedicou especial atenção ao princípio da conservação da massa, estudando um rio nos arredores de Florença. Observou em regiões de estreitamento das margens que a velocidade da corrente aumentava. Aprofundou esse estudo com aplicações euclidianas, chegando à conclusão de que em regiões onde a área da seção transversal ao escoamento diminuía em um fator de quatro vezes, a velocidade aumentava no fator de quatro vezes, estabelecendo uma primeira relação quantitativa aplicada ao princípio da conservação da massa. Grande observador da natureza, analisando o vento e como os pássaros voam, contribuiu também com a primeira tentativa de quantificar altas e baixas pressões, concluindo que o ar que atinge um corpo a altas velocidades sofre compressão proporcional a sua velocidade. Elaborou o primeiro princípio da reciprocidade aerodinâmica, observando que mover um objeto contra o ar parado é o mesmo que mover o ar contra o objeto parado, ou seja, que a força exercida pelo objeto 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/39 no ar é igual à força exercida pelo ar no objeto. Estabeleceu a primeira admissão de um mecanismo separado da propulsão com o princípio das asas fixas, em que afirmou que o ar que se move contra asas fixas suporta o peso dos pássaros, além de fazer diversos esboços de aplicações práticas destes conceitos, introduzindo o conceito de formas aerodinâmicas. Figura 2 – Aplicações de estudos de aerodinâmica e retrato de Leonardo da Vinci Créditos: Kwirry/Shutterstock; Jakub Krechowicz/Shutterstock. Outro grande nome da ciência que contribuiu para a mecânica dos fluidos foi Galileu Galilei, no século XVII. Galileu acreditava que o conhecimento deveria se basear na experiência, chegando a estabelecer como procedimento para a construção do saber primeiro a observação, seguida da hipótese e posteriormente pela experiência, a qual verificaria a hipótese e que, uma vez a hipótese sendo confirmada pela experiência, se transformaria em lei. Essa sua convicção, materializada em 1632 na publicação intitulada Dialogo sopra i massimi sistemi del mondo, quase lhe custou a vida, pois nela afirmou que o nosso sistema solar era heliocêntrico, o que foi considerado uma heresia, tendo ele que negar essa teoria para não ser queimado na fogueira. Além de suas grandes contribuições para a mecânica, como o conceito de inércia e da quantidade de movimento, fez 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/39 experimentos de mecânica dos fluidos envolvendo a queda de corpos e o movimentodo pêndulo, constatando que a resistência aerodinâmica é diretamente proporcional à massa específica do fluido. Figura 3 – Galileu Galilei Crédito: Justus Sustermans-CC/PD. Seguindo a linha histórica, ainda no século XVII, temos sem dúvida um dos maiores nomes da ciência, Isaac Newton, cujas três leis fundamentais do movimento constituem a base para toda a mecânica, que contribuiria fortemente com a mecânica dos fluidos por meio da sua segunda lei, que relaciona a força aplicada com a taxa da variação da quantidade de movimento para um corpo em movimento, pois seria usada no futuro por Euler, Navier e Stokes na elaboração das equações fundamentais do movimento dos fluidos. Uma de suas maiores contribuições diretas para a mecânica dos fluidos foi publicada em 1687, no Livro II do compêndio Philosophiae naturalis principia mathematica. Neste livro, podemos destacar a apresentação da primeira dedução teórica da equação do arrasto, em que concluiu que o arrasto varia com o quadrado da velocidade, com a área da seção reta do corpo e com a massa específica do fluido. Também destacamos o tratamento da relação da tensão de cisalhamento em um ponto de um fluido com o gradiente local da velocidade. Newton afirmou que a tensão resultante da ação do atrito em partes de um fluido é, mantendo as outras 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/39 variáveis inalteradas, proporcional à taxa de deformação do elemento do fluido em movimento, expressa como: Em que: τ = tensão de cisalhamento μ = viscosidade dinâmica = taxa de deformação do fluido em qualquer direção Essa é a Lei de Newton para a relação tensão/deformação de um fluido, que abordaremos mais detalhadamente adiante. Figura 4 – Isaac Newton Crédito: Godfrey Kneller-CC/PD. No século XVIII, Daniel Bernoulli, proeminente professor da Academia de Ciências de São Petersburgo, publicou em 1738 um dos mais importantes livros da mecânica dos fluidos, intitulado Hydrodynamica, termo esse que ele mesmo criou. Sua principal contribuição foi estabelecer relação entre a variação da pressão e a velocidade de escoamento. 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/39 Figura 5 – Daniel Benouilli Créditos: Bumann/Adobe Stock. Ainda no século XVIII, Leonard Euler, também professor da Academia de Ciências de São Petersburgo, por indicação de Daniel Bernoulli, estabeleceu o conceito de que a pressão era uma propriedade local, podendo variar de ponto a ponto e que poderia ser obtida pela equação diferencial que relacionava a pressão com a velocidade de escoamento. A integração dessa equação diferencial permitiu a Euler deduzir a equação de Bernoulli. Dali para frente Euler contribuiu com a mecânica dos fluidos por meio da formulação matemática do movimento de um fluido. Em suas três publicações: Principles of the motion of fluids (1752), General principles of the state of equilibrium of fluids (1752) e General principles of the motion of fluids (1755), apresentou os equacionamentos para fluidos compressíveis e incompressíveis. Figura 6 – Leonard Euler 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/39 Créditos: Phachaya Roekdeethaweesab/Shutterstock. No século XIX, Claude Louis Marie Henri Navier, catedrático da École des Pontset Chaussés e posteriormente da École Polytechnique, em Paris, apresentou em 1822, no livro intitulado Mémoire sur les lois du mouvement des fluids, as primeiras deduções das equações do movimento dos fluidos. Mesmo desconhecendo o conceito das tensões de cisalhamento em um fluido e baseando-se nas premissas equivocadas de modificação das equações de Euler e sobre forças de interação entre moléculas de um fluido, deduziu as equações para um fluido viscoso. Figura 7 – Claude Louis Marie Henri Navier Crédito: CC/PD. Ainda no século XIX, Adhémar Jean Claude Barré de Saint Venant, professor da École des Ponts et Chaussés, em Paris, com destacado trabalho nas áreas de hidrostática e hidrodinâmica, retrabalhou 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/39 as equações do movimento para fluidos viscosos, porém introduzindo em sua dedução o conceito de tensões internas viscosas. No trabalho publicado em 1843 intitulado Note à joindre um mémoire sur la dynamique des fluids, corrigiu a premissa de Navier, derrubando as premissas de interação molecular e identificando o papel do coeficiente de viscosidade no gradiente de velocidades do escoamento. Estabeleceu ainda que as tensões viscosas que atuam sobre um fluido são resultantes da força de atrito. Figura 8 – Adhémar Jean Claude Barré de Saint Venant Crédito: CC/PD. Ainda no século XIX, George Gabriel Stockes, que dedicou sua pesquisa a hidrodinâmica, teve sua principal contribuição para a mecânica dos fluidos quando publicou em 1845 o seu principal trabalho intitulado On the theory of internal friction of fluids in motion, em que usou conceitos de continuidade para justificar as mesmas equações de movimento para sólidos elásticos e fluidos viscosos. Figura 9 – George Gabriel Stockes 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/39 Crédito: CC/PD. Já no final do século XIX, quase no século XX, Osborne Reynolds, professor primeiro no Owens College e depois na Universidade de Manchester, que se dedicou aos estudos em hidráulica e hidrodinâmica, concentrando seus estudos nas mudanças que um escoamento sofre quando passa do regime laminar para o turbulento, deixou uma de suas mais importantes contribuições para a mecânica dos fluidos primeiro no artigo publicado em 1883, intitulado An experimental investigation of the circumstances wich determine whether the motion of wather in parallel channels shall be direct or sinuous and the law of resistance in parallel channels ,e posteriormente, em 1895, no artigo intitulado On the dynamical theory of incompressible viscous fluids and the determination of the criterion, com o qual introduziu o mais importante grupo por análise dimensional da mecânica dos fluidos, chamado em sua homenagem de Número de Reynolds. Figura 10 – Osborne Reynolds 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/39 Créditos: John Collier-CC/PD. É de Osborne Reynolds também a teoria moderna da lubrificação e o modelo teórico para análise de escoamentos turbulentos, apresentando a noção de campos médios e flutuantes. Ao longo dos anos, todas essas contribuições desses grandes pesquisadores, assim como os que os sucederam, e os princípios de mecânica dos fluidos que desenvolveram, foram sendo uados em sistemas hidráulicos, de saneamento, moinhos e, com a Revolução Industrial, em máquinas térmicas, máquinas de fluxo, sistemas hidráulicos e pneumáticos, chegando hoje a aplicações como geração sustentável de energia eólica e por ação das marés. TEMA 2 – DEFINIÇÕES E CONCEITOS IMPORTANTES PARA A MECÂNICA DOS FLUIDOS Uma vez definido o que seja a mecânica dos fluidos, cabe agora estabelecermos algumas definições e conceitos de propriedades físicas e classificações de fluidos, que usaremos no andamento da disciplina. A compreensão dessas definições e conceitos facilitará o entendimento das equações e suas aplicações nas mais diversas situações profissionais. 2.1 PROPRIEDADES FÍSICAS DOS FLUIDOS Neste item, trataremos de propriedades dos fluidos de forma por análise dimensional, ou seja, sem nos preocuparmos com sistemas de unidades, para que se criem conceitos lógicos e até intuitivos, facilitando sua compreensão. Vamos iniciar definindo a massa específica, que é a massa presente em determinado volume de fluido. A massa específica, cujo símbolo é ρ, é, por análise dimensional, representada da seguinte forma: Em que ρ é a massa específica, M representa a massa do fluido e L3 representa o volume ocupado pelo fluido. 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/39 Considerando a massa como uma propriedade inerentedo fluido, função de sua composição química e forças de ligação, e tendo em mente que o volume é uma propriedade que depende do grau de agitação das moléculas em função da temperatura, torna-se óbvio que a massa específica varia com a temperatura do ambiente. Mas de que forma varia? Analisando a equação dimensional, temos a massa M no termo superior da divisão e o volume L3 no seu termo inferior. Como aumentando a temperatura aumentará a agitação das moléculas, aumentando o volume, para uma massa M de fluido, e aumentando a temperatura, teremos a diminuição da massa específica. Usando o mesmo raciocínio, diminuindo a temperatura, teremos uma maior massa específica. Portanto, a massa específica varia de forma inversamente proporcional a temperatura. Aproveitando que definimos a massa específica, vamos agora definir a densidade, representada por D, que é a relação, a uma determinada temperatura, entre a massa específica de um fluido e a massa específica do fluido padrão, sendo que o fluido padrão para os líquidos é a água e o fluido padrão para os gases é o ar. Por análise dimensional temos que a densidade é representada da seguinte forma: A densidade mantém a mesma variação com a temperatura, da massa específica. Importante aqui corrigirmos um jargão bastante usado em indústrias, que usam indiscriminadamente o termo densidade tanto para a ela mesma quanto para a massa específica. Agora vimos que há uma diferença. Seguindo as definições, vamos ao volume específico, que é o volume ocupado por uma determinada massa de fluido, sendo representado na equação por análise dimensional como: Observe pela equação por análise dimensional que o volume específico é o inverso da massa 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/39 Esta relação é importante, pois há vezes em que não se tem tabelada a massa específica de um fluido, mas sim seu volume específico. Por essa relação é possível então calcular a massa específica com o volume específico obtido na tabela. Dando continuidade, vamos agora para a viscosidade dinâmica, ou absoluta, e para a viscosidade cinemática. Porém, antes, para melhor compreender suas definições, precisaremos falar sobre a tensão de cisalhamento e a deformação em fluidos. Tensão de cisalhamento, ou tensão de corte, é a tensão resultante de forças aplicadas em uma área superficial, em direções paralelas, podendo ser no mesmo sentido ou em sentidos opostos, porém com intensidades diferentes, conforme a Figura 11. Figura 11 – Tensão de cisalhamento Fonte: Proença, 2021. Portanto, a tensão de cisalhamento fica representada em equação por análise dimensional, como segue: Como exemplos, temos a tesoura e a guilhotina cortando por tensão de cisalhamento. Para definir a deformação, vamos usar o exemplo de um fluido contido entre duas placas planas paralelas, sendo esse fluido submetido a uma tensão de cisalhamento em um intervalo de tempo, conforme figura abaixo. 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/39 Figura 12 – Deformação em função da tensão de cisalhamento aplicada a um fluido em um intervalo de tempo Fonte: Proença, 2021. A aplicação da tensão de cisalhamento sobre um fluido irá gerar um deslocamento angular (δα), que pode ser rebatido no eixo x (δl), cuja relação angular com o deslocamento em y (δy), para deslocamentos diferenciais, pode ser obtido por: Assumindo como δu a variação em x em função do tempo , podemos obter a taxa de deformação em função do tempo como: Saiba mais É importante neste ponto reforçar o conceito do que seja fluido, pois é definido como uma substância que se deforma continuamente sob tensão de cisalhamento, mesmo sendo esta tensão de mínima intensidade. É intuitivo estimar que as taxas de deformação em função de uma tensão de cisalhamento aplicada em fluidos diferentes, mesmo em repouso, serão diferentes. Há então uma relação de proporcionalidade entre esta tensão de cisalhamento e a taxa de deformação, que é a viscosidade dinâmica ou absoluta (μ). Portanto, podemos definir a viscosidade dinâmica como sendo a relação de proporcionalidade entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação, a qual pode ser expressa por análise dimensional como: 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/39 A viscosidade dinâmica também pode ser expressa por análise dimensional em função da massa. Mas para compreender como, é necessário definir fluidos newtonianos e não newtonianos. Fluidos newtonianos são aqueles para os quais a tensão de cisalhamento é diretamente proporcional à taxa de deformação. Já os fluidos não newtonianos, por analogia, são aqueles para os quais a tensão de cisalhamento não é diretamente proporcional à taxa de deformação. Considerando o fluido newtoniano, temos que a viscosidade dinâmica seguirá a segunda lei do movimento de Newton, pela qual a força (F) é a resultante do produto da massa de um corpo (M) pela aceleração por ele adquirida. Tendo em mente que a aceleração é a variação da velocidade pelo tempo e que a velocidade é a variação da distância pelo tempo, teremos por análise dimensional que: Lembrando que: Então: Além da viscosidade dinâmica, há também a viscosidade cinemática, que é definida para fluidos em movimento. Porém, para definirmos a viscosidade cinemática, é importante primeiro entender o que seja vazão mássica e vazão volumétrica de um fluido. 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/39 Imagine um duto qualquer, que pode ser uma tubulação de seção circular ou retangular, ou mesmo uma canaleta. O volume de fluido que passa pela seção transversal a este duto em um intervalo de tempo é a vazão volumétrica. Figura 13 – Escoamento de um fluido pela seção transversal de um duto em um intervalo de tempo tendendo a zero δt. Fonte: Proença, 2021. Podemos então representar por análise dimensional a vazão volumétrica da seguinte forma: Mas nem sempre o escoamento de um fluido é medido em função do volume. Muitas vezes é medido em unidade de massa. Assim teremos, usando o mesmo raciocínio anterior, que a vazão em massa, chamada vazão mássica, é a massa de fluido que passa pela seção transversal do duto em um intervalo de tempo qualquer. Sua representação por análise dimensional fica: Uma vez definidas estas vazões, fica mais fácil entender o conceito de viscosidade cinemática. Imagine dois fluidos diferentes percorrendo a mesma distância em dutos de mesmo material e mesma seção transversal nas mesmas condições de temperatura e pressão. É intuitivo concluir que o duto de maior viscosidade levará um tempo maior para percorrer esta distância do que o de menor viscosidade. Essa viscosidade relacionada ao deslocamento dos fluidos nos dutos é a viscosidade cinemática. Podemos assim imaginar que a viscosidade cinemática define a vazão de um fluido em uma distância 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 18/39 de deslocamento definida, podendo por análise dimensional ser representada como: Podemos também entender que a viscosidade dinâmica, assim como a cinemática, pode ser tratada em função da massa, ficando sua expressão por análise dimensional da seguinte forma: Essa viscosidade pode ser e é relacionada à viscosidade dinâmica, por meio da massa específica. Essa relação gera a definição formal da viscosidade cinemática, como sendo a viscosidade dinâmica dividida pela massa específica: Assim, podemos novamente representar a viscosidade cinemática por análise dimensional, porém agora em função da viscosidade dinâmica e da massa específica, para fluidos newtonianos como: 2.2 DEFINIÇÕES DOS ESCOAMENTOS E PROCESSOS Agora temos as definições de viscosidade cinemática, viscosidade dinâmicas e massa específica, podemos definir fluido ideal, escoamento compressível, escoamento incompressível e analisar os possíveis tipos de processos envolvidos nos equipamentos de operações unitárias das indústrias.Além disso, também poderemos definir escoamento laminar, de transição e turbulento. Começaremos definindo o fluido ideal, que é aquele cuja viscosidade dinâmica e, consequentemente, também a viscosidade cinemática, é nula, ou seja, aquele que escoa em um duto sem qualquer perda de energia por atrito. Também é contínuo, ou seja, não apresenta espaços vazios dentro dele. E é homogêneo, ou seja, apresenta as mesmas propriedades, destacadamente a massa específica, além da mesma composição química, em toda sua extensão. É intuitivo concluir que não existem fluidos ideais. No entanto, em muitos casos, principalmente quando a perda de energia por atrito no escoamento for desprezível, consideraremos o fluido de análise como ideal. 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 19/39 Com relação ao escoamento, é classificado como não viscoso e podemos, em termos de compressibilidade, classificá-lo como escoamento incompressível e escoamento compressível. O escoamento incompressível é aquele que se caracteriza por ter variação da massa específica desprezível ao longo dele. Assim, para esse escoamento, o fluido deve ser incompressível, ou seja, deve ser um fluido cuja variação do volume com a variação da pressão no escoamento seja desprezível, mantendo assim praticamente inalterada a sua massa específica. Os fluidos líquidos normalmente apresentam caraterísticas muito próximas dessa, sendo considerados incompressíveis. O escoamento ao longo do qual ocorre a variação da massa específica, é o escoamento compressível. Para esse escoamento, o fluído deve ser compressível, ou seja, um fluido que apresenta variação do volume com a pressão no escoamento, tendo assim alteração na sua massa específica. Os fluidos gasosos normalmente apresentam esta característica, embora para algumas condições de escoamento se comportem como fluidos incompressíveis também. Os gases são geralmente tratados como gases prefeitos, devendo obedecer a seguinte equação de estado: p = ρ.R.T Em que: p = pressão absoluta, que também é a força aplicada em uma área, podendo ser representada por análise dimensional desta forma: = massa específica, cuja já vimos a definição e que é representada por análise dimensional desta forma: T = temperatura absoluta, que é representada por análise dimensional por T. R = constante cujo valor depende do gás de análise, sendo função da relação entre a pressão absoluta, a massa específica e a temperatura absoluta, cuja representação por análise dimensional fica: 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 20/39 Veja que as representações adimensionais levam ao seguinte: Que nada mais é do que isolar R na equação de estado. Mas devemos continuar a analisar a representação por análise dimensional, buscando simplificar. Assim: Tomando como princípio que R é constante, então, teremos que, para um mesmo gás, em dois pontos diferentes do escoamento: R1 = R2=cste. Pela própria equação de estado, então, teremos que: Podemos agora analisar esta equação para os diversos processos que ocorrem em equipamentos de operações unitárias e dutos de escoamento. Primeiro vamos analisar para os processos isotérmicos. Nestes processos, como o nome já faz pressupor, do grego ísos (igual) e thérme (temperatura), a temperatura não varia. Nesse caso, a equação terá o termo da temperatura simplificado, ficando: O motivo pelo qual não há variação de temperatura, antecipando conceito que usaremos em transferência de calor, é que não há troca térmica com o meio, ou seja, o processo é adiabático. Nesse caso, a mudança da massa específica ocorrerá em função da mudança da pressão. 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 21/39 Vamos agora analisar para processos isobáricos. Novamente, do grego ísos (igual) e báros (pressão), é um processo no qual a pressão não varia. Assim, na equação de estado, o termo da pressão será simplificado, ficando: Nesse caso, a variação da massa específica será função da temperatura. Por último, há os processos isocóricos. Novamente, do grego ísos (igual) e khóra (volume), é um processo no qual o volume não varia. Se o volume não varia e sendo o mesmo gás, com a mesma massa, a massa específica também não irá variar. Portanto, na equação de estado, o termo da massa específica será simplificado, ficando: Nesse caso, a variação da pressão será função da variação da temperatura. Todos esses processos analisados, bem como tipos de escoamento, se referem a escoamento não viscoso. Mas há escoamentos viscosos, ou seja, nos quais a viscosidade dinâmica e, consequentemente, a viscosidade cinemática, não é nula. Para melhor avaliar este escoamento e suas classificações, primeiro precisaremos analisar o perfil de escoamento em um duto, as forças envolvidas e definir a camada limite. Para analisar o perfil de escoamento precisamos primeiro entender que ele é função da velocidade do escoamento do fluido no duto. A velocidade é uma grandeza vetorial e. assim, tem módulo e direção nos três eixos (x, y, z) que compõem o espaço. Portanto, o vetor velocidade pode ser escrito em função de suas três componentes escalares nas direções x, y e z, como: Sendo u, v e w função de x, y, z e t. Portanto, são as componentes escalares da velocidade ao longo dos eixos x, y e z, conforme representado abaixo: Figura 14 – Representação do vetor velocidade em função dos componentes escalares 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 22/39 Fonte: Proença, 2021. Cabe aqui observar que, assim como a velocidade, todas as propriedades vistas anteriormente, como tensão de cisalhamento, massa específica e viscosidade, também podem ser escritas em função de suas componentes escalares ao longo das direções x, y, z. Voltando para a velocidade, a resolução da velocidade vetorial no escoamento tridimensional, ou seja, envolvendo as três direções (x, y, z) que compõem o espaço, se torna bastante complexa, envolvendo cálculos matriciais e coordenadas cilíndricas. Para aplicações de engenharia e tecnologias é possível trabalhar com menos complexidade e com resultados mais aproximados tratando o escoamento como sendo bidimensional ou unidimensional, ou seja, ao longo de duas ou apenas uma direção, obtendo resultados bastante satisfatórios. Portanto, trataremos do perfil de escoamento, camada limite e regimes de escoamento viscoso, tomando como base o escoamento unidimensional. O segundo conceito que devemos entender é que há dois tipos de forças que atuam em um fluido. O primeiro tipo é o das forças de superfície, as quais dependem da área de contato dos fluidos principalmente com sólidos, que são a pressão (P) e a força de atrito (FA). As outras são as forças de campo, as quais são interações do ambiente com o fluido, que são a força da gravidade e campos magnéticos. Vamos neste momento nos ater às forças de superfície que atuam em um fluido em escoamento viscoso. Da região em contato do fluido com o sólido até a região mais distante desse contato, haverá uma ação da pressão para o escoamento e uma reação ao escoamento pela força de atrito. Assim, da superfície de contato com o sólido para a região mais afastada do contato, que é a região do centro do duto, haverá a variação da resultante das forças de ação superficial, do prevalecimento da força de atrito para o prevalecimento da pressão. Onde prevalece a força de atrito, os componentes escalares do vetor velocidade serão os menores, chegando para fluidos bastante 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 23/39 viscosos a atingir apenas uma fração do valor dos componentes escalares do vetor velocidade do escoamento normal, sendo na maioria das vezes considerados nulos. Onde prevalece a pressão, os componentes escalares do vetor velocidade terão o valor 100% dos componentes escalares do vetor velocidade do escoamento livre, ou seja, os mesmos valores dos componentes escalaresde antes do fluido entrar no duto. Como resultante dessa relação da pressão com a força de atrito, teremos tensões de cisalhamento no fluido, fazendo com que uma região de componente escalar do vetor velocidade maior escoe sobre uma região de valor escalar do vetor velocidade menor. Essa variação, analisando um escoamento unidimensional, gera variações nos vetores velocidade das paredes para o centro do tubo, resultando no que chamamos de perfil de escoamento. Em dutos sem qualquer rugosidade, mesmo para fluidos viscosos, não haverá a força de atrito e consequentemente todos os valores escalares do vetor velocidade permanecerão os mesmos de antes do fluido entrar no duto, chamados vetores escalares de corrente livre, sem qualquer alteração, gerando um perfil de escoamento retangular. Nesse caso, teremos o que se chama de escoamento uniforme do fluido. Figura 15 – Perfil de escoamento retangular Fonte: Proença, 2021. Em dutos com rugosidade, teremos as tensões de cisalhamento entre as várias camadas, sendo que a camada em contato com o sólido irá retardar o escoamento da camada acima e assim, subsequentemente, até que se atinja uma camada com valor escalar do vetor velocidade igual ao do escoamento de corrente livre, gerando valores escalares do vetor velocidade diferentes sobrepostos, resultando em um perfil de escoamento parabólico. Nesse caso, teremos um escoamento chamado de não uniforme. Figura 16 – Perfil de escoamento parabólico 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 24/39 Créditos: Scientific Stock/Shutterstock. Cabe aqui fazer um parêntese referente aos perfis analisados. Para escoamentos uniformes, o perfil retangular irá apenas se alterar se houver um aumento ou uma diminuição na seção transversal do duto, que veremos mais adiante quando analisarmos as equações e leis de escoamento e perda de carga, mantendo o perfil retangular, mas sofrendo alterações dos componentes escalares da velocidade de forma inversamente proporcional as seções transversais, de forma a garantir a vazão do fluido constante. Já para escoamentos não uniformes, haverá um perfil retangular antes da entrada no duto, onde a corrente é livre e, ao longo da distância percorrida no duto, sofrerá variações neste perfil até atingir o perfil parabólico definitivo, que se manterá durante o escoamento no duto, a menos que ocorram variações na seção transversal do duto ou apareçam os chamados acidentes de linha de escoamento, como curvas, válvulas e outros acessórios. Assim, o perfil de escoamento variará de um perfil de entrada, para um de transição e finalmente o plenamente desenvolvido. A maioria das análises de escoamento são feitas para o perfil plenamente desenvolvido. Figura 17 – Perfil de escoamento de entrada (a), de transição (b) e plenamente desenvolvido (c) Fonte: Proença, 2021. 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 25/39 O último conceito a ser definido antes da análise de escoamentos viscosos laminares e turbulentos é a camada limite. Tomando como base agora o escoamento bidimensional, analisando segundo os eixos x e y, temos que a camada limite é a região superficial definida pela distância no eixo y a partir do contato com a superfície do tubo e pela distância em x a partir da entrada do fluido no duto, para a qual o valor do componente escalar da velocidade atinge 99% do valor do componente escalar do vetor velocidade da corrente livre, ou seja: Em que: u∞ = componente escalar da velocidade da camada limite; u0 = componente escalar da velocidade da corrente livre. Essas distâncias em y e x definirão o valor da espessura da camada limite (δ) do escoamento. No limite dessa espessura, a tensão de cisalhamento torna-se desprezível. Figura 18 – Representação da camada limite Fonte: Proença, 2021. Finalmente, poderemos definir o escoamento laminar e o escoamento turbulento. O escoamento laminar é aquele no qual, para escoamentos viscosos não uniformes, desde a região de entrada no duto até ficar plenamente desenvolvido, cada camada do fluido (chamada lâmina) desliza sobre a outra sem que haja qualquer agitação, de forma que não haverá mistura entre as camadas. Pode ser analisado como escoamento unidimensional, com o componente escalar da 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 26/39 velocidade u e com a tensão de cisalhamento sendo relacionada com o gradiente de velocidade através da viscosidade dinâmica, permitindo solução analítica. O escoamento turbulento é aquele no qual, para escoamentos viscosos não uniformes, desde a região de entrada no duto até ficar plenamente desenvolvido, cada camada do fluido escoa randomicamente em diversas direções, devido à agitação provocada por diversos valores do componente escalar da velocidade nas diversas direções do espaço, de forma que haverá mistura entre as camadas. Deve ser analisado como escoamento tridimensional, com o componente escalar da velocidade ū sendo a média das componentes escalares u, v, w ao longo das direções x, y e z do espaço. Variações aleatórias dos componentes escalares aumentam a tensão de cisalhamento, que não pode mais ser analisada analiticamente de forma simples, como para o escoamento laminar. Assim, a análise de escoamentos turbulentos se faz usando teorias semiempíricas ou em cima de dados experimentais. Figura 19 – Escoamento laminar e escoamento turbulento Fonte: Scientific Stock/Shutterstock. TEMA 3 – EXPERIMENTO DE REYNOLDS Em 1883, Osborne Reynolds apresentou para a comunidade científica um experimento que mostrou a existência de dois tipos de escoamento, sendo que no primeiro tipo as camadas do fluido seguem ao longo de linhas de movimento que se deslocam de forma direta ao longo do tubo e no segundo as camadas do fluido se movem em trajetórias sinuosas da forma menos direta possível. Identificou assim o escoamento laminar e o escoamento turbulento. 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 27/39 Reynolds observou ainda que havia uma região de transição do escoamento laminar para o escoamento turbulento, sem um entendimento sobre qual intensidade de perturbação geraria esta região. Nesta região ele identificou o aparecimento súbito de turbilhões, chegando a indicar que o intervalo desses turbilhões seria um dado importante para caracterizar a transição. Postulou, como resultado de suas observações, que no escoamento laminar a perda de carga variava linearmente com a velocidade, sendo que no escoamento turbulento a perda de carga variava com o quadrado da velocidade. Para tanto, montou uma bancada com um tanque de dimensões 6 ft x 18 ft x 18 ft, dentro do qual havia um tubo de vidro, um convergente cônico de madeira, um tubo metálico, válvula para controle de vazão e um sistema de injeção de tinta. Figura 20 – Experimento de Reynolds Créditos: Osborne Reynolds/CC/PD. Ao aprofundar seus estudos sobre essa região de transição, concluiu que havia um parâmetro por análise dimensional que serviria de critério para estabelecer se um regime de escoamento viscoso seria laminar ou turbulento, pela razão entre forças de inércia e viscosas. Esse parâmetro, posteriormente, recebeu o nome de número de Reynolds em sua homenagem. Para escoamento em tubos, o número de Reynolds é obtido por: 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 28/39 Em que: Re = número de Reynolds. Ρ = massa específica. velocidade escalar média. D = diâmetro da seção transversal do tubo. μ = viscosidade dinâmica. ϑ = viscosidade cinemática. Hoje, sabemos que esse parâmetro serve para diversos tipos de escoamento, tendo como equação geral: Sendo: L = comprimento característico descritivo da geometria do escoamento. No geral podemos assumir que escoamentos viscosos são laminares quando tem o . Quando tem , podemos assumir que os escoamentos viscosos são turbulentos. Assim, quando tiverem valores intermediários aos citados, poderemosassumir que estão na região de transição. (2300 < Re < 4000). Também existe um número de Reynolds para a camada limite, sendo que nesse caso a velocidade será relativa ao componente escalar da velocidade da corrente livre (u∞) e o comprimento será a distância em x percorrida da entrada até o escoamento atingir o perfil plenamente desenvolvido, sendo obtido por: Analisando para um duto de comprimento L, teremos que na entrada o número de Reynolds será nulo, pois x=0. Ao longo do duto, para Re < 5. 105, o escoamento na camada limite será laminar. 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 29/39 Para Re > 5.105 o escoamento na camada limite será turbulento. Em geral, o escoamento na camada limite é laminar. Mas, para comprimentos suficientemente longos, haverá uma região de transição e depois o escoamento da camada limite será turbulento. TEMA 4 – UNIDADES E SISTEMAS DE UNIDADES Uma vez tendo sido apresentados os conceitos fundamentais de propriedades físicas na forma por análise dimensional, é necessário agora conhecer as unidades e sistemas de unidades usuais voltados a mecânica dos fluidos para que se possa fazer as análises dos escoamentos. Assim, trataremos primeiro das unidades de cada componente das representações adimensionais e depois trataremos do Sistema de Unidade Internacional (SI) e do Sistema de Unidades Britânico, pois são sistemas com unidades que certamente se encontram nas unidades industriais. 4.1 UNIDADES Trabalhamos até agora por análise dimensional, mas sabemos que temos de ter unidades para as grandezas, a fim de que possamos fazer as análises necessárias para o controle de processos químicos industriais. Nas indústrias, as unidades mais usuais são no SI (Sistema Internacional de Medidas) e no EE (Sistema Inglês de Engenharia). Assim, apresentaremos as unidades de cada componente por análise dimensional já usado. Iniciaremos com L, que é o comprimento. Para L as unidades são as seguintes: Quadro 1 – Unidades de comprimento Por análise dimensional (SI) Sistema Internacional de Medidas (SI) Sistema Inglês de Engenharia (EE) L m (metro) ft (pés) Temos M, que é a massa. Para M, as unidades são: Quadro 2 – Unidades de massa 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 30/39 Por análise dimensional Sistema Internacional (SI) Sistema Inglês de Engenharia (EE) M kg (quilograma) lbm (libra massa) Temos F, que é a força. Para F, as unidades são: Quadro 3 – Unidades de força Por análise dimensional Sistema Internacional (SI) Sistema Inglês de Engenharia (EE) F N (Newton) lbf (libra força) Temos t, que é o tempo. Quadro 4 – Unidades de tempo Por análise dimensional Sistema Internacional (SI) Sistema Inglês de Engenharia (EE) t s (segundo) s (segundo) Por fim, temos T que é temperatura. Para T, as unidades são: Quadro 5 – Unidades de temperatura Por análise dimensional Sistema Internacional (SI) Sistema Inglês de Engenharia (EE) T K (Kelvin)) °R (graus Rankine) 4.2 SISTEMAS DE UNIDADES Quando foram apresentadas as unidades das grandezas adimensionais que usaremos no decorrer da disciplina, elas foram feitas em sistemas de unidades. Mas o que são esses sistemas de unidades? 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 31/39 Sistemas de unidades representam as maneiras que foram utilizadas para medir cada dimensão primária por análise dimensional. Os sistemas de unidades mais comuns são o Sistema Métrico Absoluto, o Sistema Internacional de Medidas (SI), o Sistema Gravitacional Britânico e o Sistema Inglês de Engenharia (EE). O Sistema Métrico Absoluto foi criado em 1790, em plena revolução francesa, para padronizar as medidas, que até então eram definidos e controlados pela nobreza, de forma que não fossem susceptíveis a corrupção. Assim, esse sistema foi criado, tendo base decimal e tomando como base referenciais que não se alterariam, por exemplo, definir 1 grama como a unidade de massa de 1 cm3 de água a 4oC. Para o Sistema Métrico Absoluto, as unidades são as seguintes: Quadro 6 – Unidades do Sistema Métrico Absoluto Dimensão L M F t T Unidade cm (centímetro) g (grama) dina = g.cm/s2 s (segundos) K (Kelvin) O Sistema Internacional de Medidas (SI) é uma otimização do Sistema Métrico Absoluto, tendo sido desenvolvido em 1960 para corrigir algumas distorções que o Sistema Métrico Absoluto permitia que acontecesse. Uma das mudanças propostas, visando a aplicação comercial das unidades, foi passar da base cm – g - s, para a base kg – m- s. Também adotou padrões com menos variação para as medidas. Por exemplo, 1 quilograma deixou de ser a massa de 1 litro de água a 4oC e passou a ser a massa de um padrão, que é um cilindro de uma liga contendo 90% de Platina e 10% de Irídio. Para o Sistema Internacional de Medidas, as unidades são as seguintes: Quadro 7 – Sistema Internacional de Medidas Dimensão L M F t T 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 32/39 Unidade m (metro) kg (quilograma) N (Newton) = kg.m/s2 s (segundos) K (Kelvin) O Sistema Gravitacional Britânico, também conhecido como Sistema Imperial Britânico foi definido em uma Carta Magna, em 1215, na qual foram institucionalizados padrões de medidas a partir de medidas estabelecidas na capital da época, que era Winchester. Para o Sistema Gravitacional Britânico, as unidades são: Quadro 8 – Unidades do Sistema Gravitacional Britânico Dimensão L M F t T Unidade ft (pés) slug = lbf.s2/ft lbf (libra força) s (segundos) oR (graus Rankine) O Sistema Inglês de Engenharia (EE), também conhecido como Sistema Inglês Técnico, é um sistema com padrões mais consistentes que o Sistema Gravitacional Britânico, sendo mais usado principalmente nos Estados Unidos da América. Para o Sistema Inglês de Engenharia, as unidades são: Quadro 9 – Sistema Inglês de Engenharia Dimensão L M F t T Unidade ft (pés) lbm (libra massa) lbf (libra força) s (segundos) oR (graus Rankine) Saiba mais Destes Sistemas de Unidades, os mais utilizados em indústrias são o Sistema Internacional de Medidas (SI) e o Sistema Inglês de Engenharia (EE). 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 33/39 TEMA 5 – ORDEM DE GRANDEZAS E CONVERSÃO DE UNIDADES Muitas vezes enfrentamos a situação de converter medidas de um sistema de unidades para outro sistema de unidades ou de ter que trabalhar com grandezas diferentes daquelas padronizadas para os sistemas de unidades. Assim, além de conhecer esses sistemas, principalmente o SI e o EE, temos que conhecer as diversas ordens de grandezas relativas às dimensões e também como converter a conversão de unidades. Assim, trataremos primeiro de ordem de grandezas e depois da conversão. 5.1 ORDEM DE GRANDEZAS Dificilmente se trabalha com o controle de uma produção industrial na ordem de quilogramas, com tempos de segundos ou mesmo com temperaturas medidas em Kelvin. Normalmente, trabalha- se com toneladas por hora, com temperaturas medidas em graus Celsius (oC). Da mesma forma, não se compra uma tubulação pelo diâmetro em metros, sendo usual a polegada (in) e o milímetro (mm). Portanto, é importante conhecer as ordens de grandeza ao menos para as dimensões do SI e do EE. Vamos iniciar apresentando as ordens de grandeza para as dimensões do SI. Para o comprimento no SI, as ordens de grandeza são: Quadro 10 – Ordens de grandeza no SI para o comprimento L 1 km (quilometro) 1000 m 100000 cm 1000000 mm 10-3km 1 m 100 cm 1000 mm Por exemplo, uma tubulação de diâmetro de 25,4 mm seria usada no Sistema Internacional em metros. Para isso, basta aplicar a ordem de grandeza: 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 34/39 1 m - 1000 mm L - 25,4mm Assim: Para a massa no SI, as ordens de grandeza são as seguintes: Quadro 11 – Ordens de grandeza no SI para a massa M 1 ton (tonelada) 1000 kg 1000000 g 1000000000 mg 10-3ton 1 kg 1000 g 1000000 mg Porexemplo, 12 ton de matéria-prima seriam usadas no Sistema Internacional em quilogramas. Para isso, basta aplicar a ordem de grandeza: 1 ton - 1000 kg 12 ton - M Assim: Para a força no SI, as ordens de grandeza são as seguintes: Quadro 12 – Ordens de grandeza no SI para força F 1 GN (Giga Newton) 1000 MN (Mega Newton) 1000000 kN (Quilo Newton) 1000000000 N 10-9 GN 10-6 MN 10-3 kN 1 N 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 35/39 Por exemplo, uma força aplicada de 13 MN seria usada no Sistema Internacional em Newton. Para isso basta aplicar a ordem de grandeza: 1 N - 10-6 MN F - 13 MN Assim: Para a temperatura a conversão será pela relação entre a temperatura absoluta (K) para a temperatura usual (oC), que, antecipando o que veremos mais adiante, quando falarmos em transferência de calor, é feita pela seguinte relação: 1 K = oC +273 Por exemplo, a temperatura de escoamento de um fluido de 120 oC seria usada no Sistema Internacional em Kelvin. Para isso, basta aplicar a relação: T = 120oC + 273 T = 393 K As ordens de grandeza para o Sistema Inglês de Engenharia mais usuais são aquelas referentes a L e a T. Para o comprimento no EE, as ordens de grandeza são as seguintes: Quadro 13 – Ordens de grandeza no EE para comprimento L 1 mi (milha) 1760 yd (jarda) 5280 ft (pés) 63360 in (polegadas) 18,94.10-4 mi 0,333 yd 1 ft 12 in 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 36/39 Por exemplo, uma tubulação de diâmetro de 2,5 in, seria usada no Sistema Inglês em pés. Para isso basta aplicar a ordem de grandeza: 1 ft - 12 in L - 2,5 in Assim: Para a temperatura, a conversão será pela relação entre a temperatura em Rankine (R) para a temperatura usual (oC), que, antecipando o que veremos mais adiante, quando falarmos em transferência de calor, é feita pela seguinte relação: Por exemplo, a temperatura de escoamento de um fluido de 120 oC seria usada no Sistema Inglês em graus Rankine. Para isso, basta aplicar a relação: Portanto: T = (120oC x 1,8) + 491,67 = 707,67 R 5.2 CONVERSÃO DE UNIDADES Muitas vezes, na indústria há sistemas de controle nos quais alguns equipamentos estão sendo controlados com dimensões no SI e alguns com dimensões no EE. Assim, é de fundamental importância saber converter as unidades para poder fazer as análises corretamente e tomar as decisões acertadas. Lembre-se de que sempre deve trabalhar com um sistema único de unidades, jamais misturando sistemas. Para essas conversões são usadas tabelas de conversão de unidades esta que apresentamos a seguir. Tabela 1 – Tabela de conversão de unidades 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 37/39 Fonte: Fox et al., 2018. Assim, basta usar os fatores de conversão. Por exemplo, uma tubulação de diâmetro de 2,5 in teria qual valor no SI? 1 in - 25,4 mm 2,5 in - D Assim: 1 m - 1000 mm D - 63,5 mm 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 38/39 Assim: FINALIZANDO Nesta aula, tratamos de conceitos fundamentais necessários para o bom andamento na disciplina e para uso em suas vidas profissionais. Foram apresentados a definição e evolução da mecânica dos fluidos, definições e conceitos de propriedades importantes, o Número de Reynolds, unidades e sistemas de unidades, sendo que, por último, foram analisadas as ordens de grandezas e as conversões de unidades. Cabe a você apreender esse conteúdo para que possa aplicar com desenvoltura não só na resolução de problemas e análises desta disciplina, mas principalmente para que possa usar na vida profissional. Lembre-se que a fundamentação teórica é igual à fundação de uma construção. Quanto mais reforçada essa fundamentação, maiores desafios poderão ser enfrentados na sua vida profissional. Bons estudos! REFERÊNCIAS BRUNETTI, F. Mecânica dos fluidos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice-Hall, 2008. FOX, R. W. et al. Introdução à mecânica dos fluidos. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC-Livros Técnicos e Científicos, 2018. FREIRE, A. P. F. O voo dos pássaros e a mecânica dos fluidos. In: VIII ENCONTRO DE ENSINO DE ENGENHARIA. Anais... Petrópolis, RJ, 10 mar. 2012. 04/07/2022 15:47 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 39/39
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