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Recurso em sentido estrito Fernanda Chiabai

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE VITÓRIA (1ª VARA PRIVATIVA DO JÚRI)
Processo nº...
JOSÉ DA SILVA, já qualificado nos autos em epígrafe, por meio de seu advogado infra-assinado (procuração em anexo), com endereço profissional em..., vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, em face da decisão de pronúncia exarada à fl..., com fulcro no artigo 581, inciso IV, do Código de Processo Penal Brasileiro.
O recurso em sentido estrito é cabível, uma vez que interposto com o intuito de reformar ou modificar a decisão de pronúncia prolatada, conforme autorização do artigo 581, inciso IV, do CPP.
O recorrente é Réu e, portanto, consiste em parte legítima para a utilização da via recursal abalizada, possuindo interesse processual para modificar a decisão atacada, nos moldes do artigo 577 parágrafo único, do CPP.
Ademais, o recurso é tempestivo, pois a decisão que pronunciou o acusado como incurso no artigo 121, §2º, incisos II e IV, do Código Penal foi prolatada há dois dias, sendo o prazo de 5 (cinco) dias disposto no artigo 586, do mesmo diploma.
Requer seja recebido e processado o presente recurso e, caso Vossa Excelência entenda que deva ser mantida a respeitável decisão, que seja encaminhado ao Egrégio Tribunal de Justiça com as inclusas razões.
Nesses Termos,
Pede Deferimento.
Local e data
Advogado...
OAB...
RAZÕES DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
1ª Vara Criminal da Comarca de Vitória/ES – 1ª Vara do Júri da Comarca de Vitória/ES
Processo nº...
Recorrente: José da Silva
Recorrido: Ministério Público do Estado do Espírito Santo
Egrégio Tribunal de Justiça
Colenda Câmara
DOS FATOS
Conforme consta da decisão de pronúncia objurgada, o Recorrente foi pronunciado pela prática do delito previsto no artigo 121, § 2º, incisos II e IV, do Código Penal, referente ao crime de homicídio qualificado por motivo fútil de com a utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
O acusado fora denunciado pelo representante do Ministério Público estadual, dado o fato de que teria discutido com a vítima em cima de uma pequena ponte, empurrando-a em seguida para o fundo do rio, de modo a levá-la a óbito. No decorrer da persecução penal, o Recorrente alegou a inexistência de prova da existência do delito e, subsidiariamente, a ocorrência de legítima defesa, sendo ambas as teses afastadas quando da decisão de pronunciamento. Na ocasião, o MM. Magistrado concluiu que haveria corpo de delito indireto, permitindo, todavia, que o réu aguardasse o júri em liberdade, por ser primário e de bons antecedentes.
DO DIREITO
Em que pese os argumentos lançados na sentença ora vergastada, a materialidade da conduta ilícita supostamente atribuída ao recorrente não restou comprovada, uma vez que inexiste exame necroscópico nos autos, motivo pelo qual a decisão de pronúncia não encontraria respaldo legal e probatório para subsistir.
Isso porque, pela redação do artigo 413 do Código de Processo Penal, “o juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação”. Ora, a ausência do corpo da vítima não é suficiente para afastar a necessidade de produção de provas em desfavor do acusado, mesmo porque, sem elas, é impossível imputar ao agente a prática de crimes que, decerto, não cometeu.
No caso, não há elementos probatórios capazes de atestar a materialidade da infração penal como entendera o Ilustre Magistrado de piso. Como consta na exordial acusatória, a vítima caiu de uma altura de 6 metros do rio, estando o seu corpo, até o presente momento, desaparecido. Várias buscas foram realizadas e nada foi encontrado. Nada impede, inclusive, que a vítima esteja viva, pois não se tem conhecimento de que ela sabia nadar, além de ser uma altura não fatal, o que lhe permitiria sobreviver sem sequelas.
O artigo 158 do diploma em referência, inclusive, deixa bem claro que a intenção do legislador é primar pela realização do exame de corpo de delito, direto (quando o objeto revelador do vestígio é examinado diretamente) ou indireto (quando o crime não deixa vestígios, sendo impossível o exame de corpo de delito direto), para ensejar a materialidade do delito e consequente condenação do autor do crime. Em crimes contra a vida, principalmente, o acusado não pode ser submetido ao Tribunal de Júri sem que haja prova inequívoca da morte da vítima, sob pena de violar a máxima do direito penal in dubio pro reo, como forma de preservar a presunção de inocência do indivíduo.
A decisão de pronúncia concluiu pela existência de exame de corpo de delito na modalidade indireta, com base na prova testemunhal colhida durante a instrução, a fim de suprir a falta de vestígios (art. 167 do CPP). Ora, Eminentes Desembargadores, pela análise detida do presente processado, afere-se que não houve testemunhas presenciais do fato. Ao revés, o órgão acusador tão somente arrolou testemunhas cujos depoimentos se limitaram a relatar acerca de supostas desavenças ocorridas entre o Recorrente e a vítima.
Somado a isso, está a indagação de que: como foi possível qualificar um homicídio como motivo fútil, ou seja, por razões injustas e veementemente desproporcionais ao ato, e com a utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima se, além de inexistir exame necroscópico, não há testemunhas presenciais, servindo-se apenas de depoimentos rasos? Decerto que impossível. Qualquer entendimento ao contrário teria o condão de provocar uma irreparável injustiça ao acusado, daí porque a sua absolvição, com base no artigo 415, inciso I, do Código de Processo Penal, ser a melhor medida a ser aplicada na hipótese vertente. 
Por outro lado, no tocante à autoria do delito, o afastamento da tese de legítima defesa quedou-se pouco fundamentada, numa abordagem rarefeita sobre os fatos ocorridos no momento em que a vítima caiu no rio, sem ao menos esclarecer os motivos para tanto, restando, portanto, em evidente afronta aos artigos 413, do CPP, e 93, inciso IX, da CRFB/88.
O Recorrente, ao contrário do que aduz o Parquet e do que consta na sentença de pronúncia, chegou a discutir com a vítima, pois esta o perturbava com frequência, ocasião na qual a mesma tentou desferir um golpe com uma faca, razão pela qual o acusado não viu alternativa senão se defender, empurrando o corpo de seu agressor, quando este, desequilibrando-se, caiu no rio, junto com a arma branca que portava.
Na preleção do artigo 25 do Código Penal, “entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”. Pelos argumentos alhures expostos, fica clara a incidência dessa hipótese de exclusão de ilicitude, pois a sua vida estava sofrendo risco iminente de ser ceifada pelo então agressor.
De acordo com a divisão tripartite da Teoria do Crime, para a ação ser punível, ela deve ser típica, antijurídica e culpável. In casu, a legítima defesa interfere na ilicitude do fato, de modo que, assim sendo, não há que se falar de crime, devendo o Recorrente ser sumariamente absolvido, nos moldes do artigo 415, inciso IV, do Código de Processo Penal. 
Subsidiariamente, com relação às qualificadoras, essas não podem incidir no caso de manutenção da pronúncia, devendo o acusado, nessa hipótese, responde unicamente por homicídio simples. Isso porque, como dito, não há como aferir a ocorrência de motivo fútil, pois as razões que supostamente levaram o Recorrente ao ato não foram injustas nem desproporcionais. A prova testemunhal colhida, inclusive, não se mostrou contundente em demonstrar eventual desavença havida entre os protagonistas do fato, se restringindo em relatar fofocas não comprovadas e, ainda que fossem, não teriam o mínimo condão de atestar a futilidade das razões por meios das quais se sucedeu o delito imputado ao Recorrente.
Além disso, é importanteressaltar que, quando não sabido o motivo que levou o agente a cometer o crime, a qualificadora em questão não deve ser aplicada, haja vista não se coadunar com a própria definição de “fútil”.
Corroborando a quaestio iuris abordada, são as sábias lições de Cezar Roberto Bittencourt:[1: BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte especial 2. Dos crimes contra a pessoa. 7ª edição revista e atualizada. São Paulo: Saraiva, 2007, p.56.]
A insuficiência de motivo não pode, porém, ser confundida com ausência de motivos. Aliás, motivo fútil não se confunde com ausência de motivo. Essa é uma grande aberração jurídico-penal. A presença de um motivo, fútil ou banal, qualifica o homicídio. No entanto, a completa ausência de motivo, que deve tornar mais censurável a conduta, pela gratuidade e maior reprovabilidade, não o qualifica. Absurdo lógico: homicídio motivado é qualificado; homicídio sem motivo é simples. Mas o princípio da reserva legal não deixa outra alternativa. Por isso, defendemos, de lege referenda, o acréscimo de uma nova qualificadora ao homicídio:" ausência de motivo ", pois quem o pratica nessas circunstâncias revela uma perigosa anormalidade moral que atinge as raias da demência." 
Ademais, sem o exame necroscópico e sem a oitiva de testemunhas oculares, torna-se inviável afirmar com veracidade a utilização de recurso que tenha impossibilitado a defesa da vítima, além de não restar explicitamente minuciado que recurso ou instrumento teria sido usado com tal fim.
Somado aos argumentos alhures esposados, o Recorrente é primário e possui bons antecedentes, de modo que responde ao processo em liberdade. Posto isso, é de se ver que o acusado é de boa índole, sendo incapaz de atentar deliberadamente contra a vida de alguém, ainda que tenha supostamente discutido com essa pessoa.
III – DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
Seja conhecido e provido o presente recurso, com o fito de absolver o acusado, dada a ausência de indícios de materialidade, com base no artigo 415, inciso I, do CPP.
O reconhecimento da tese de legítima defesa alegada, a qual recai sobre a ilicitude do fato, de modo a ensejar a absolvição sumária do recorrente, nos moldes do artigo 415, inciso IV, do CPP.
Subsidiariamente, que sejam decotadas as qualificadoras aplicadas, pelos argumentos alhures expostos.
LOCAL E DATA
ADVOGADO...
OAB...

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