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Rinossinusite Crônica e Doenças Sistêmicas SESSÃO CLÍNICA OTORRINOLARINGOLOGIA HUAP – UFF JÚLIA R. MARCONDES DUTRA – RESIDENTE 2º ANO INTRODUÇÃO • Fisiopatogenia complexa e multifatorial • Várias outras doenças ou fatores intrínsecos concomitantes → desencadear, agravar ou manter inflamação nasossinusal • Reconhecimento das manifestações nasossinusais: • Identificação e intervenção precoce • Melhor tratamento e evolução dos pacientes • RSC recalcitrantes, investigar: • Imunodeficiências • Discinesias ciliares • Fibrose cística e outras doenças sistêmicas IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS • Qualquer parte do sistema imune pode estar alterado → humoral, celular, de complemento ou fagocitário • Mais de 120 genes associados • 1:2000 na população geral • Deficiência por anticorpos é o tipo mais comum IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS • Mais comuns e com repercussão na ORL: • Deficiência seletiva de IgA • Deficiência de IgG edesuas subclasses (IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4_ • Imunodeficiência comum variável • Agamaglobulinemia • Resposta inadequada à vacina pneumocócica polivalente • Infecções costumam ser recorrentes, persistentes com maior gravidade e associada a germes atípicos IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS • TRATAMENTO • Aplicação endovenosa ou subcutânea de imunoglobulina • Duração e doses • Efeitos colaterais: cefaleia, náusea, taquicardia e até anafilaxia IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS IMUNODEFICIÊNCIAS SECUNDÁRIAS • Diminuição da resposta de 1 ou mais componentes do sistema imune → doença primária ou do tratamento • Maior incidência → aumento dos transplantes • Em 2015 havia aproximadamente 830.000 pacientes HIV+ no mundo • No Brasil, em 2017, 44.000 novos casos IMUNODEFICIÊNCIAS SECUNDÁRIAS DOENÇA DO ENXERTO VERSUS HOSPEDEIRO (GVHD) • Complicação do transplante de células-tronco hematopoieticas • Aumento na incidência de RS (58-72%) • Destruição celular nos órgãos acometidos do receptor → substâncias inflamatórias e células TCD8 ativadas • Alterações histológicas da mucosa nasossinusal → 50% → dificulta o clearance mucociliar → recorrências IMUNODEFICIÊNCIAS SECUNDÁRIAS SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS) • HIV-1 e HIV-2 • Infectam linfócitos TCD4, macrófagos e células dendríticas • Maior taxa de infecções por bactérias intracelulares, fungos e aparecimento de tumores IMUNODEFICIÊNCIAS SECUNDÁRIAS DIABETES MELLITUS • Produção de substâncias oxidantes → estresse oxidativo nos tecidos • Interfere indiretamente na imunidade e desenvolvimento de infecções bacterianas • Menor atividade dos neutrófilos, eficiência da imunidade celular, menor quantidade de interleucinas • Infecção respiratória mais importante: pneumococo IMUNODEFICIÊNCIAS MICROBIOLOGIA • Predomínio de bactérias Gram-negativas • Fungos em maior imunossupressão → neutropenia grave • Bactérias multirresistentes em ambientes hospitalares • Os vírus devem ser considerados agentes → aumento de diagnóstico de infecções respiratórias virais após transplante de células-tronco hematopoiéticas alogênicas • Influenza, parainfluenza, metapneumovirus e adenovirus IMUNODEFICIÊNCIAS DIAGNÓSTICO • Diretrizes Brasileiras em Rinossinusite de 2008 → conjunto de sintomas sugestivos, tempo de evolução e exame físico • Febre • Rinorreia • Cefaleia frontal ou dor maxilar → pode ser mais intensa e frequente • RSC viral → RSC bacteriana em menor período de tempo IMUNODEFICIÊNCIAS EXAME FÍSICO • Baixa capacidade de produzir reação inflamatória reacional • Comum não haver secreção purulenta em MM • Neutropenia grave → maior risco de RSFI • Coloração pálida ou enegrecida da columela, vestíbulo ou mucosa nasal → necrose IMUNODEFICIÊNCIAS EXAMES COMPLEMENTARES • Endoscopia Nasal • Avaliar coloração da mucosa • Presença de edema, rinorreia e eventuais tumores • Tomografia Computadorizada de Seios Paranasais • Para casos recorrentes • suspeita/definição de complicações • Refratários a tratamentos clínicos com atb adequados • Não consenso antes de procedimento imunossupressor • Cultura • Pedido criterioso → 40% dos pacientes graves internados na UTI podem mostrar alterações falso positivas IMUNODEFICIÊNCIAS IMUNODEFICIÊNCIAS TRATAMENTO • Profilaxia de infecções + tratamento • Infusão endovenosa de gamaglobulina • Transfusão de granulócitos IMUNODEFICIÊNCIAS TRATAMENTO • RSC bacterianas: • antibioticoterapia de amplo espectro • Tempo habitual mínimo de 14 dias • Esquema intra-hospitalar depende da exigência da CCIH • Medicações coadjuvantes são úteis para reduzir edema mucoso nasal • RSFI: anfotericina B lipossomal ou voriconazol IMUNODEFICIÊNCIAS TRATAMENTO CIRÚRGICO • Sem consenso • Pct imunossuprimido + atb endovenosa adequada + sem melhora em 72h • GVHD: sinusectomia endonasal no segundo episódio de RS • RSFI: debridamento cirúrgico urgente • Avaliar sempre hemograma e coagulograma → plaquetopenia e anemia concomitantes • Reserva de hemácias (Hb<10g/dL) e plaquetas (<50.000/mm³) • Cirurgia pouco invasiva → não curativo DISCINESIA CILIAR PRIMÁRIA • Doenças heterogêneas • Herança genética • Alterações irreversíveis no transporte mucociliar • “Síndromes dos cílios imóveis” → equivocado DISCINESIA CILIAR PRIMÁRIA EPIDEMIOLOGIA • 1:4.000 a 1:50.000 • Heterogeneidade de apresentação clínica • Dificuldade em estabelecer diagnóstico definitivo DISCINESIA CILIAR PRIMÁRIA QUADRO CLÍNICO • Sintomas relacionados a via aérea superior e inferior • Queixas típicas de RSC → obstrução e congestão nasal viscosa + diminuição do olfato • Queixas nasais semelhantes às rinites perenes • 50% das DCP são suspeitadas por otorrinolaringologistas • Avaliação do histórico médico • Neonatos → desconforto respiratório logo ao nascer, taquipneia e congestão nasal → admissão em UTI • Bronquiectasia pulmonar, RSC, polipose nasal • OMS, PA condutiva → atraso na fala DISCINESIA CILIAR PRIMÁRIA DIAGNÓSTICO • Não existe padrão ouro • Combinação de exames específicos • Teste da sacarina → grande variabilidade técnica • Qualquer indivíduo com quadro clínico suspeito deve ser investigado DISCINESIA CILIAR PRIMÁRIA DIAGNÓSTICO • DOSAGEM DE ÓXIDO NÍTRICO NASAL • NO exalado é baixo em comparação a indivíduos sadios • Simples, não invasivo de custo acessível • Crianças maiores de 6 anos ou adultos + técnica de medida com o véu palatino fechado + método de quimiliminescência • < 6 anos: técnica pelo volume corrente • Recomendado para triagem pela alta sensibilidade DISCINESIA CILIAR PRIMÁRIA DIAGNÓSTICO • ANÁLISE DE FREQUÊNCIA E PADRÃO DE BATIMENTO CILIAR (por vídeo com microscopia de alta velocidade) • Indivíduos com DCP sempre apresentam alterações no padrão de batimento ciliar • Imediatamente após coleta de biópsias de mucosa respiratória • Tardiamente por culturas epiteliais → diferenciar alterações funcionais primárias das secundárias • Análise da frequência do batimento + padrão • Ausência de braços externos de dinedeína → quase imóveis • Alterações de braços internos de dinedeína + espículas radiais → rígidos • Transposição de microtúbulos → movimentos circulares DISCINESIA CILIAR PRIMÁRIA DIAGNÓSTICO • ANÁLISE ULTRAESTRUTURAL POR MEIO DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE TRANSMISSÃO (MET) • Amostra de epitélio resp por esfregaço ou biópsia das conchas nasais ou de bronquios → análise em microscopia eletrônica • Já foi considerado padrão-ouro → algumas alterações são imperceptíveis • Se houver alterações típicas na maiorias dos cílios → sem indicação de exame adicional • Apresentação normal da ultraestrutura ciliar: • 9 pares de microtúbulos periféricos, cada um com 1 braço interno e outro externode dinedeína + par central de microtúbulos • Alterações ciliares secundárias:policílios, “bolhas” ciliares ou microtúbulos adicionais DISCINESIA CILIAR PRIMÁRIA DIAGNÓSTICO • TESTES GENÉTICOS • Padrão autossômico recessivo → história de cosanguinidade familiar • 30 genes descritos → 65% de todos os casos de DCP • Qualquer tecnologia de sequenciamento de DNA pode ser utilizada para confirmação de mutações em pacientes suspeitos DISCINESIA CILIAR PRIMÁRIA TRATAMENTO • Não existem dados de manejo baseado em evidências • A maioria das terapias advém de outras doenças com alterações do transporte mucociliar • Medidas para facilitar a limpeza de secreções das vias aéreas • ATB para infecções agudas • Medidas profiláticas → imunizações periódicas, evitar tabagismo DISCINESIA CILIAR PRIMÁRIA TRATAMENTO • Facilitar a limpeza de secreções → fisioterapia respiratória e lavagem nasal • Mucolíticos sem recomendação • Soluções hipertônicas ou manitol • Antibioticoterapia: • Aumento da quantidade de secreção nasal • Mudança na viscosidade • Mudança na coloração DISCINESIA CILIAR PRIMÁRIA TRATAMENTO • RSC + DCP: Necessita de estudos específicos! • Corticoide tópico? • Macrolídeos longa duração • Acometimento de OM: • Audiometria 6/6m cças e anual em adultos • TV? • Aparelhos auditivos • Cirurgia endoscópica nasal com abertura amplas dos SPN • SAOS • Espirometria + exames microbiológicos da VAS a cada 3m • TC pulmonar DISCINESIA CILIAR PRIMÁRIA PROGNÓSTICO • Tratados de forma agressiva e intensa → piora progressiva da função respiratória • 50% gravidade para transplante pulmonar • Corretamente → estabilização da função respiratória FIBROSE CÍSTICA • Autossômica recessiva • 1:2.500 nascidos vivos • Disfunção do canal de cloro do epitélio: • Inflamação respiratória crônica • Insuficiência pancreática • Desnutrição • Alteração do braço longo do cromossomo 7 → alterações do regulador da condutância transmembranar (CFTR) • Maior predisposição a infecções por Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa • Poucos estudos avaliando vias aéreas superiores FIBROSE CÍSTICA RINOSSINUSITE CRÔNICA • 92-100% dos casos • Mutações do gene CFTR em pacientes sem FC • Acometimento difuso do SPN → etmoidais e maxilares • Ultraestrutura ciliar normal → transporte mucociliar reduzido • Poucos apresentam sintomas • Abaulamento da parede medial dos seios maxilares • Relacionada a infecções bacterianas endobronquicas + reatividade pulmonar • Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus • Antrostomias maxilares com lavagens nasais com atb → pré requisito realizar transplante pulmonar FIBROSE CÍSTICA ENDOSCOPIA NASOSSINUSAL • Alterações no meato médio: • Polipose, secreção • Medialização da parede lateral do nariz • Correlação com dados da TC FIBROSE CÍSTICA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE SEIOS DA FACE • Alteradas em 90-100% dos pacientes • Principais alterações: • Velamentos • Mucocele • Agenesia e/ou hipoplasia de seios frontais (40% >10 anos) • Pseudomucocele: desmineralizaçao e deslocamento da parede lateral do nariz e processo unciforme + muco espesso Minimizar as solicitações a pré-operatórios ou complicações sinusais em potencial FIBROSE CÍSTICA POLIPOSE NASOSSINUSAL EM CRIANÇAS • Pólipos nasais na FC: 7-67% • Pouco frequentes < 5anos, mais raro < 2anos • Associação ainda desconhecida • Não houve alteração histopatológico em pólipos eosinofílicos de pacientes com ou sem FC • Alguns autores pensam ser um grupo distinto • Sem correlação positiva entre genótipo FC + polipose nasal FIBROSE CÍSTICA TRATAMENTO • Simultâneo ao tto da via aérea inferior • Basear o início de atb pela queixa do paciente, não pela imagem • Sem estudos sobre solução salina hipertônica • Uso de dornase alfa sob nebulização após cirurgia sinusal → bons resultados • Antibióticos tópicos pós cirurgia → tobramicina ou colistina • Indicação cirúrgica: • Melhor resultado em pct sintomáticos • Pré-transplante pulmonar (?) • Doença nasossinusal versus doença pulmonar DOENÇAS GRANULOMATOSAS • Persistências dos sinais de sintomas de RSC após tratamento adequado • Persistência da inflamação mucosa e da formação de crostas • Ulceração da mucosa nasal e septal • Nariz em sela • Ponta nasal arroxeada • Massas nasais • Nódulos submucosos • Manifestações extra sinusais • Sintomas sistêmicos Aula de granulomatoses nasais!
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