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PÓS GRADUAÇÃO PPóóss GGrraadduuaaççããoo GGEESSTTÃÃOO IINNTTEEGGRRAADDAA MÓDULO – FUNDAMENTOS DA INSPEÇÃO PÓS GRADUAÇÃO A INSPEÇÃO ESCOLAR COMO FORMA DE CONTROLE NO ESTADO NOVO: UMA CONTRIBUIÇÃO ÀS ORIGENS DA GESTÃO DA EDUCAÇÃO Naura Syria Carapeto Ferreira e Sarita Aparecida de Oliveira Fortunato - UTP** Eixo 3: Cultura e Práticas Escolares. 1. Introdução A gestão da educação passou a ser, nas últimas décadas tema de pauta da agenda educacional brasileira e mundial, pela importância reconhecida de sua responsabilidade na qualidade da educação e de sua imprescindibilidade, enquanto compromisso de garantia de efetividade desta qualidade. Tema central nas políticas educacionais atuais, no Brasil e no mundo, necessita ser, sempre, re-examinado como “ferramenta” fundamental na educação formal, a partir de suas origens, analisando as contribuições que estas análises podem fornecer para a contemporaneidade. Daí a importância desta investigação histórica, no sentido de resgatar (do latim, res gatae) as determinações históricas e os contornos que a definiu, fundamentalmente como controle, em suas mais diversas formas de expressão: inspeção, supervisão e administração. Tais origens constituem-se elementos fundantes da educação na contemporaneidade. Se o reconhecimento de sua importância e conseqüente interesse pela gestão no campo educacional vem crescendo pelo reconhecimento de seu compromisso enquanto “tomada de decisões, organização, direção (...) atividade de impulsionar uma organização a atingir seus objetivos” (FERREIRA, 2006a, p. 36), desvelar as compreensões que a constituíram historicamente, possibilitará reconstruí-la conceitualmente e coletivamente no trabalho educacional, Sabe-se que é a gestão da educação que garante o desenvolvimento, ou não, do exarado nas políticas educacionais, assim como se constitui em importante fonte de subsídios para as novas políticas públicas. Tal constatação vem se refletindo na grande quantidade de pesquisas e publicações a respeito que, concomitantemente, vem contemplando as importantes questões que constituem seu conteúdo, como a qualidade do ensino e a do trabalho pedagógico da escola, a garantia do cumprimento da política educacional comprometida com a formação para a cidadania. ** Mestranda do PPG-ED – Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná. saritafortunato@uol.com.br 1 PÓS GRADUAÇÃO A Inspeção escolar faz parte da administração da educação. Ela pertence aos componentes do “staff”, conforme ditam todas as teorias de administração de empresas e as decorrentes transposições para a educação. A Inspeção, como uma especifica forma de controle, surge no cenário brasileiro já no Ratio Studiorum, conforme o Plano Geral dos jesuítas após a morte de Nóbrega em 1570 e que passou a vigorar em todos os Colégios da Companhia de Jesus a partir de 1599. Este Plano composto de regras relativas às responsabilidade de todos os agentes diretamente ligados ao ensino, salienta a figura do “prefeito de estudos” como assistente da autoridade máxima – o Reitor – para auxilia-lo na “boa ordenação dos estudos” Saviani (2006c, p. 21) O conjunto das regras do Ratio Studiorum no Plano Geral dos jesuítas configura a idéia de supervisão e de inspeção, inspeção esta, que controla as regras fornecidas pelas autoridades educacionais. O controle da qualidade da educação, como garantia de efetivação de uma forma de cidadania tem sido “ferramenta” imprescindível para a concretização da educação, de uma determinada educação, há longas décadas. Já no Estado Novo e, mesmo antes, este controle era exercido, não sob a forma de gestão democrática como nas últimas décadas se exercita e cultiva, na formação de profissionais da educação e nas práticas educacionais, mas como controle vertical e pontual exercido pela inspeção que controlava, literalmente, questões pontuais nas escolas, questões estas que garantiam a formação de um tipo determinado de cidadania considerada a necessária para a época, através de visitas de profissionais que exerciam este cargo com estas responsabilidade. Desta forma, este trabalho examina este processo histórico em que as políticas eram expressão de governos autoritários que possuíam modelos de educação e de formação apriorísticos a ser implantados e controlados da forma mais rígida e exclusiva. Tais análises podem desvelar os interesses para solucionar o “atraso” educacional, e as formas de controle que vêm sendo praticadas ao longo da trajetória educacional no país. 2. Concepção de educação, qualidade e história da inspeção De acordo com Paro (1998), a educação, entendida como a apropriação do saber historicamente produzido é prática social que consiste na própria atualização cultural e histórica do homem. Na produção material de sua existência, as pessoas, juntamente com a construção de suas histórias, produzem conhecimento, valores, técnicas, atitudes, comportamentos, os quais configuram o saber historicamente produzido. É um “processo de mediação no seio da prática social global” como ensina Saviani (1980, p.120), mediação esta feita pelo professor, pelo gestor da educação que garante que ela seja viabilizada e concretizada. Em diferentes contextos e momentos históricos, o debate sobre a organização das escolas e sobre a relação destas com a comunidade, com os governos a que estão vinculadas, implica em diversas concepções sobre a organização do espaço público como também, a responsabilidades do Estado, da sociedade e dos profissionais da educação no que diz respeito efetivação do trabalho coletivo na construção da gestão na educação escolar. Percebe-se, sempre o vínculo irrestrito da concepção da educação ao tipo de qualidade que se quer dar e formar e a inspeção, supervisão ou qualquer forma de gestão que garante a sua concretização. PÓS GRADUAÇÃO Assim, se hoje se defende e propugna uma gestão democrática da educação cujo controle se faz através da participação coletiva, nem sempre foi assim. Essa concepção vem sendo gestada no seio das sociedades científicas e através de estudos que demonstram que a verdadeira cidadania só se adquire com a força do conhecimento e da vontade, pois como afirmava Gramsci, “é necessário formar homens fortes e ricos que contém o futuro na força de sua vontade e inteligência” (1976, p. 229). Portanto, na concepção que se defende e se cultiva nos espaços educacionais hodiernos, o controle da qualidade da educação necessita ser coletivo, isto é, por todos os atores que integram este coletivo a fim de assegurar essa formação de cidadãos fortes e ricos de caráter. Este controle, portanto, enquanto mecanismo de assegurar os princípios e objetivos que os expressam, define-se com contornos bem específicos. Entretanto, nem sempre o controle foi exercido desta forma. Conforme a concepção de educação, assim são propugnados os princípios que a norteiam, a organização escolar e o controle da qualidade da educação escolar para que a política responsável por essa determinada educação aconteça. Assim, a história da educação nos aponta que, de acordo com as leis e os documentos do período do Estado Novo no Brasil, o controle da qualidade da educação obedecia aos padrões exarados, a partir das Reformas, que conferia ao inspetor de ensino essa incumbência. O controle da educação que era determinada, era exercido na forma de inspeção rigorosa e pontual de questões que eram entendidas como prioritárias e como tal, verificadas, com rigor, em seu cumprimento. Contrapõe-se, então as concepções a respeito do que se entendesobre educação de qualidade, não obstante a importância da educação para a constituição da cidadania. E, justamente por isto, atende aos interesses da classe hegemônica. “Na sociedade atual, a escola é uma das únicas instituições para cujo produto não existem padrões definidos de qualidade” (PARO, 1998, p. 2). Talvez isso se deva à complexidade que envolve a avaliação de sua qualidade. Mas, não se pode esquecer, neste percurso, as implicações mais importantes para uma educação escolar que tem por objetivo precípuo a formação humana envolta na compreensão e superação dos mecanismos excludentes da visão posta pelo mercado de trabalho. Assim, os efeitos da educação escolar sobre a formação do educando se estende por toda sua vida atingindo imediatamente sua qualidade. É por isso que a escola necessita trabalhar pela conquista da oferta de um ensino rico de conteúdos que permitam a formação de homens fortes e ricos de conhecimento e de caráter a que se referia Gramsci. Tendo presente, portanto que a inspeção controlava a educação escolar, conforme os padrões determinados, buscou-se analisar a inspeção escolar realizada no período do Estado Novo, em escolas primárias de área rural catarinense, no Município de Jaraguá do Sul. Como metodologia, utilizou-se de fontes primárias. Analisou-se, da forma mais criteriosa possível, atas e documentos escolares de visita do Senhor Inspetor às escolas, constatando o registro das ordens que deveriam ser cumpridas, no período de 1936 a 1974, numa Escola Mista Estadual percebendo-se, neste estudo, as medidas coercitivas da proposta nacionalista no período do governo getulista. Como principal objetivo, este trabalho analisa, assim, os efeitos da nacionalização refletida na ação da inspeção escolar da época, como forma de controle do Estado Novo, e suas conseqüências para a gestão democrática da educação, bem como suas repercussões para a formação da cidadania. PÓS GRADUAÇÃO A inspeção escolar foi e, ainda é hoje, uma forma de expressão política que se confunde com o conceito de supervisão e, ambas, constitui-se em elementos da gestão da educação. Assim, a inspeção escolar no Estado Novo se apresenta como uma reconfiguração da supervisão educacional em perspectiva histórica, onde segundo Saviani (1999), assume, com a divisão técnica do trabalho, seu caráter de permanência e identificação, tendo como estatuto epistemológico o positivismo, que define seus contornos e dá suporte aos empreendimentos tomados. Afirma-se, assim, que a gestão da educação como “tomada de decisões” que acontece e se desenvolve em todos os âmbitos da escola, inclusive e fundamentalmente, na sala de aula, onde se objetiva o projeto político-pedagógico não só como desenvolvimento do planejado, mas como fonte privilegiada de novos subsídios para novas tomadas de decisões para o estabelecimento de novas políticas (FERREIRA, 2006b, p.309). Como cultura e prática escolar, assegurou historicamente uma determinada formação para a cidadania, a qual atendia ao intuito autoritário do nacionalismo e, portanto, conforme se constatou nos documentos escolares pesquisados, formava cidadãos subservientes, desenvolvendo um acentuado culto aos símbolos nacionais em detrimento de todo e qualquer outro conteúdo de ensino. Estes símbolos nacionais eram cultuados e “cobrados” pelo Senhor Inspetor quando realizava suas visitas às instituições escolares. 3. O estado novo e a forma de controle através da inspeção escolar; o projeto de identidade nacional. As pesquisas, de forma geral, em História da Educação, têm desenvolvido sobre o projeto de nacionalização estadonovista, seu planejamento e efetivação, bem como seu objetivo claro, o de instaurar uma identidade nacional através da ação institucionalizada das escolas. Neste contexto, no período entre 1937 e 1945, a educação escolar sofreu intervenções do governo através da “inspeção escolar” da época, com a finalidade de eliminar qualquer foco de resistência à ideologia getulista. Assim, o projeto nacionalista nascia no “berço” da imposição, principalmente nas regiões de concentração de imigrantes italianos e alemães que se instalaram no sul do Brasil. As instituições construídas pelas comunidades locais, na concepção governista, eram uma ameaça à forma de controle exercida na época. Entretanto, estudos sobre as questões de imigração abrem para o debate do nacionalismo no Estado Novo a partir da etnicidade. Desde o início do século XIX, a temática sobre a formação da população brasileira implica em discussões e aparato legal para tratar do acesso e permanência dos imigrantes no país. De acordo com Seyferth (1999), a partir de 1937 foram tomadas medidas coercitivas com a finalidade de atingir as organizações comunitárias étnicas produzidas pela imigração. Ocorreram mudanças em nome da tradição de assimilação e mestiçagem demarcadoras da nacionalidade pela ação direta do Exército junto aos grupos considerados “quistos raciais”, atingindo uma parcela considerável da população, sobretudo no Sul e em São Paulo. Durante o período do Estado Novo, medidas nacionalistas foram adotadas, e as primeiras medidas legais de natureza nacionalizadora foram tomadas durante a I Guerra Mundial (SEYFERTH, 1999, p.220). Tais medidas atingiram diretamente as escolas primárias particulares em ensino alemão. Assim, foram reorganizados, através de decretos estaduais, os currículos para incluir disciplinas de língua portuguesa, PÓS GRADUAÇÃO geografia, educação cívica e história do Brasil. Faz-se importante lembrar que neste período aconteceu a obrigatoriedade da adoção de livros didáticos de autores brasileiros. Assim sendo, o projeto de nacionalização do Estado Novo chegou com veemência a comunidades distantes de colonos estrangeiros e seus descendentes. Atingiu também as antigas escolas comunitárias rurais alemãs de Santa Catarina, impondo uma ação governamental que gerou conflitos nas comunidades. Considerando a trajetória histórica até agora explicitada, pode-se afirmar que a reforma na educação foi o ponto de partida para a campanha de nacionalização de 1937. Nesta reforma a exigência foi a utilização da língua vernácula, bem como, ocorreu a modificação curricular com obrigatoriedade do ensino de Geografia e História do Brasil com ênfase na Educação Moral e Cívica, e mais ainda, o ensino de Educação Física no viés militarista e higienista foram destaques prioritários nos contextos das escolas. Nesta perspectiva, o relacionamento com as comunidades escolares foi marcado pela aceitação e incorporação de conteúdos patrióticos nacionalistas. E como pontos de destaque na legislação federal, foi exigido o uso de símbolos nacionais e comemorações das datas nacionais. Conforme a mudança na legislação da época, em determinados casos, somente brasileiros natos e graduados em escolas brasileiras, eram indicados para exercer o cargo na docência e na direção. Esta determinação inviabilizava as escolas étnicas, implicando no fechamento das mesmas. A inspeção passou a ser, neste contexto, a forma de controle da “qualidade” então pretendida na formação que se esperava. A inspeção, portanto, foi e é, ainda hoje, uma forma de expressão política que se constitui elemento da gestão da educação que abrange todas as “funções” mas que exerce o seu compromisso com uma determinada qualidade da educação. Logo, no Estado Novo, a gestão da educação que sequer era assim chamada, só poderia exercer o controle do que era determinado ao sabor da ditadura varguista. Assim, a “supervisão, embora já presente nas ‘comunidades primitivas’, em que a ‘educação se dava de forma difusa e indiferenciada’ como uma ‘vigilância discreta’ e, mais adiante, a partir da Idademédia, assumindo a forma de controle, de conformação, de fiscalização e até de ‘ coerção expressa’ – como afirma Dermeval Saviani em seu texto “A supervisão educacional em perspectiva histórica: da função à profissão pela mediação da idéia”(2006b). A inspeção escolar no Estado Novo se apresenta como uma reconfiguração desta forma de controle. . Tal afirmação alicerça-se na investigação em registros efetuados em livros de Termos de Inspeção coletados em escolas do interior catarinense – área rural – para visitas 1 Os termos de visita analisados foram elaborados por diversos inspetores, mas notou-se que todos possuem uma estrutura geral idêntica, mesmo sendo escritos em diferentes épocas. Ao descreverem o professor, utilizavam os termos: regente ou interino, auxiliar, normalista ou não normalista, provisório, titulado ou não titulado. realizadas a partir de 1936. Constata-se, pelas expressões redigidas que o controle exercido através da inspeção escolar é de cunho nacionalista e atendiam à política formal do Departamento de Educação. Foram percebidas as orientações da Reforma Francisco Campos em 1931 e as reformas Capanema de 1942 e 1946. PÓS GRADUAÇÃO Nesses termos, para elucidar a questão referente à ideologia nacionalista no cotidiano escolar, foram pesquisados os textos elaborados pelos inspetores escolares da época, os quais tinham como prioridade a função fiscalizadora, fazendo cumprir as orientações legais do Departamento de Educação quanto à gestão, à docência e às práticas pedagógicas nas unidades escolares.1 Todos os relatos da visita de inspeção seguem uma ordem: 1 o .) a identificação da escola; 2 o . ) a descrição da classificação e qualificação do professor; 3 o .) item referente ao número de alunos matriculados por turma; 4 o .) a freqüência com registro dos percentuais dos faltantes; 5 o .) a descrição do ambiente da sala de aula , uso do mobiliário e material didático; 6 o .) o correto e atualizado preenchimento de documentos como os livros de matrícula, de chamada e registro de exames; 7 o .) avaliação da aprendizagem dos alunos através do item aproveitamento (muitas vezes mediante aplicação de alguma testagem elaborada pelo próprio inspetor, levando em consideração o uso da linguagem oral e habilidade de leitura, a assimilação de conteúdos relacionados às matérias de Educação Moral e Cívica, Língua Portuguesa, Aritmética, História e geografia); 8 o .) a “impressão geral” (este item sempre relacionado a um conceito direcionado ao trabalho do professor e reforço ao trabalho de nacionalização); 9 o .) e por fim as “recomendações” ( sempre de cunho impositivo). Pode-se ilustrar o exposto com o registro do termo de visita redigido em 8 de novembro de 1954. Observa-se a inculcação ideológica transmitida através da lógica da nacionalização, no item referente à “impressão geral” relatada pelo inspetor: “... tive em geral, muito boa impressão. Por tudo quanto me foi dado observar, deixo aqui consignados os meus sinceros louvores ao sr. Professor pela maneira patriótica com que vem assumindo os seus sagrados deveres.” (1954, p. 39) Pode-se constatar, em outro termo de visita, em 15 de setembro de 1955, na mesma escola, a elitização e a seletividade referente aos profissionais da época pela inspeção escolar, qunado um dos inspetores de ensino relata sua “impressão”: “Deixo consignados os meus sinceros aplausos pelo grande trabalho educacional e nacionalizador desenvolvido pelos senhores professores desta escola, e de maneira especial o professor regente” (1955, p.45). Na colocação acima citada, verifica-se que a tarefa docente não era simples, pois os professores substitutos se encontravam diante de um grupo de crianças que falavam apenas os dialetos alemães da sua comunidade, portanto cabia ao professor designado, sob a orientação do inspetor de ensino, atender aos preceitos oriundos do Departamento de educação e da Inspetoria Federal, de orientação nacionalista. Sete anos após, numa visita inspecionada, em 07 de julho de 1962, o inspetor revela um grau ainda maior de reforço ao patriotismo escrevendo: “Durante a minha visita observei o seguinte: a) Que o prédio da escola e o mobiliário são bons. Necessitam de alguns reparos: pintura nova, mobiliário para gabinete de direção e biblioteca, novo quadro-negro. b) A matrícula atual é de 102 alunos. c) A freqüência é boa. d) Peço à sra. Diretora insistir para que os professores sigam as instruções dadas nas reuniões pedagógicas. e) Pelo ainda que convoque uma reunião do Círculo de Pais e Mestres e do Presidente da Sociedade Escolar para legalizar a questão da escritura do termo. PÓS GRADUAÇÃO Desejo à Direção e aos professores que trabalhem com entusiasmo e boa-vontade envidando todos os esforços em benefício deste estabelecimento. Deus e a Pátria, certamente lhes darão a recompensa” (1962, p.13) Constata-se, pelas expressões registradas que o controle exercido através da inspeção escolar era de cunho nacionalista e atendiam, portanto, à política formal do Departamento de Educação que colocava Deus e a pátria num mesmo nível de reificação. 4. Concluindo A inspeção como forma de exercício da gestão da educação no controle da prática escolar de acordo com os ditames da política do Estado Novo, assegurou historicamente uma determinada formação para a cidadania que atendia ao espírito autoritário do nacionalismo. A educação, no contexto do projeto nacionalizador, assumiu uma dimensão social fundamental, configurando as instituições escolares como um local de aprendizado e de gestação de idéias hábitos e valores de exaltação patriótica. Nesse sentido, as escolas étnicas foram vistas como ambientes de desintegração que não atendiam à implementação de políticas e práticas pedagógicas, que precisavam estar em sintonia com o projeto PÓS GRADUAÇÃO getulista. Por isto foi implementada uma inspeção rigorosa, como forma de controle do Estado Novo, a fim de que se cumprisse o que era determinado para a chamada “identidade nacional”, cultivando- se os símbolos nacionais com a reificação necessária à política determinada. O prioritário, conforme a pesquisa revelou, era o trabalho escolar diário em torno de temas que reafirmassem o patriotismo idealizado, como homenagens cívicas com presenças da comunidade, passeatas, pelotões, pequenas paradas, de teor pedagógico militarista, desvelando o caráter nacionalista e uma política autoritária. Nesses termos, a formação para a cidadania configurava um modelo de subalternização, obediência e culto a símbolos, regras e princípios nacionalistas em detrimento dos valores legitimamente humanos que emancipam e formam o verdadeiro cidadão, capaz de dirigir e controlar seus dirigentes. A “formação” para a cidadania sob os ditames do projeto nacionalizador, subordinou mentes e corações à obediência e à alienação com formas de pensar, sentir e agir nos moldes hierárquicos, desagregando culturas já existentes e impedindo os sujeitos da verdadeira emancipação humana que se “ conquista na solidariedade e na participação da aquisição do conhecimento e dos valores humanos, como processo de criação de sujeitos capazes de reciprocidade (FERREIRA, 2006c, p. 252) 4. Referências ARQUIVO. Livro do Termo de Visita. Jaraguá do Sul-SC, 1936. ARQUIVO. Livro de Atas da Sociedade Escolar. Jaraguá do Sul. 1952. ARQUIVO. Livro de Atas da Sociedade Escolar. Jaraguá do Sul. 1954. ARQUIVO Histórico Eugênio Schmöeckel. Jaraguá do Sul, SC.1956 FERREIRA, N. S. C. “Formação Continuada e Gestão da Educação no contexto da cultura globalizada” In: FERREIRA, N. S. C. Formação continuada e gestão daeducação. 2ª ed.São Paulo: Cortez Editora, 2ª ed. 2006a. FERREIRA, N. S. C. Gestão democrática da educação: ressignificando os conceitos e possibilidades. In: FERREIRA, N. S. C. & AGUIAR, M. A Gestão democrática da educação: impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez Editora, 2006b. FERREIRA, N.S. C. Supervisão Educacional no Brasil: trajetória de compromissos no domínio das políticas e da administração da educação. In: FERREIRA, N. S. C. Supervisão educacional para uma escola de qualidade. São Paulo: Cortez Editora, 2006c. FERREIRA, N.S.C. A gestão da educação e as políticas de formação de profissionais da educação: desafios e compromissos. In: FERREIRA, N.S.C. (org). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2006. GRAMSCI, A. Escritos Políticos. Lisboa: Seara Nova, II Vol. 1976. MEDEIROS, I. L. P.; LUCE M. B. Gestão Democrática na e da educação: concepções e vivências (org). Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006. PARO, V. H. A gestão da educação ante as exigências de qualidade e produtividade da escolas pública. In: SILVA, L. H. da (Org). A escola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 300-307. SAVIANI, D. A supervisão educacional em perspectiva histórica: da função à profissão pela mediação da idéia. In: FERREIRA. N. S. C. Supervisão educacional para uma escola de qualidade. 5ª. ed. São Paulo: Cortez, 2006c. SEYFERTH, G. Os Imigrantes e a campanha de nacionalização do Estado Novo. In: PANDOLFI, D. (Org). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: FGV, 1999, p. 199-228. PÓS GRADUAÇÃO ROTEIRO DE ESTUDOS ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS Faça uma entrevista com um inspetor escolar, abordando sua pratica no cotidiano escolar. Na falta do profissional desenvolva um texto fundamentado sobre o assunto. Elabore um texto final expondo sua opinião e a do profissional entrevistado por você!