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P ág in a1 1 O INSPETOR ESCOLAR: ORIENTADOR NO ENSINO E NO COMBATE À INDISCIPLINA ESCOLAR P ág in a2 2 Sumário NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 3 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 BREVÍSSIMA HISTÓRIA DA INSPEÇÃO ESCOLAR ................................................ 6 QUEM É, AFINAL, O INSPETOR ESCOLAR? .......................................................... 8 ELEMENTOS HISTÓRICOS E EDUCAÇÃO DE QUALIDADE ................................ 13 SUBSÍDIOS EM UMA SOCIEDADE MODERNA E TECNOLÓGICA ....................... 16 DEMOCRATIZAÇÃO E ADEQUAÇÕES EDUCACIONAIS ..................................... 20 VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA NA ESCOLA: LEGISLAÇÃO PERTINENTE ........... 25 A EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1989 ....................................... 26 LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) – LEI 9.394/96 ................. 28 NOVO ENSINO MÉDIO (LEI Nº 13.415/2017) .......................................................... 30 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) ....................................... 30 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PARA A SOLUÇÃO DE CONFLITOS ................... 34 O PAPEL DO INSPETOR ESCOLAR NO PROCESSO DEMOCRÁTICO ............... 37 FORMAÇÃO DO INSPETOR ESCOLAR ................................................................. 39 CAUSAS DO COMPORTAMENTO INDISCIPLINAR ............................................... 44 É POSSÍVEL ENCONTRAR SOLUÇÕES? .............................................................. 47 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50 P ág in a3 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. P ág in a4 4 INTRODUÇÃO Bedel, inspetor escolar, monitor de alunos, orientador de alunos, agente escolar, muitas são as designações para tratarmos o inspetor escolar. Neste estudo, ele terá o nome inspetor de alunos, por um enorme respeito, além de ser o mais usual e correto. Desde o século XIX até a atualidade, todos os brasileiros que já foram estudantes, seja em escolas particulares ou em escolas públicas, conheceram a figura do inspetor de alunos. A literatura brasileira o descreve em O Ateneu, de Raul Pompéia, obra publicada em1888: João Numa, inspetor ou bedel, baixote, barrigudo, de óculos escuros, movendo-se com vivacidade de bácoro alegre, veio achar-me indeciso, à escada do pátio. “Não desce, a brincar?” perguntou bondosamente. “Vamos, desça, vá com os outros.” O amável bácoro tomou-me pela mão e descemos juntos (POMPÉIA, 1996, p. 12). A cena descrita acima apresenta um inspetor atencioso e gentil, mas o compara a um leitão alegre, o que o ridiculariza. Se refletirmos acerca desse trecho, percebemos que, para que tenha dado conta de que o protagonista da história estava parado na escada, João Numa estava vigilante. E parece ser exatamente a vigilância ao aluno a principal atribuição desse profissional. No entanto, Cícero Alvernaz (2011), inspetor de alunos, em um depoimento à revista Ultimato, afirma que esse profissional, na atualidade, tem múltiplas funções e é considerado “pau para toda obra” dentro da escola, mas que seu trabalho é pouco reconhecido. Essa falta de reconhecimento também é uma de nossas preocupações. Ouve-se falar de inspetores de alunos, no Brasil, desde os tempos coloniais. A maioria da busca bibliográfica nos levou a textos sobre um profissional que hoje é conhecido como supervisor de ensino e cujas atribuições envolvem o trabalho em várias escolas, e não ao profissional que atua em uma escola. Essa confusão entre o inspetor de alunos e o inspetor de ensino (supervisor) é bastante antiga. Quando lemos o Ratio Studiorum, documento que organiza a educação jesuítica (RATIUM, 2017), percebemos que havia um prefeito geral, cuja função era de ser “instrumento geral do Reitor [e] organizar os estudos, orientar e dirigir as P ág in a5 5 aulas” e prefeitos de estudos inferiores e disciplina. Cremos que estes últimos desempenhavam o papel que se aproxima dos inspetores de alunos da atualidade, pois além de auxiliar o Reitor (espécie de diretor da instituição de ensino), eram subordinados aos prefeitos gerais e deviam acompanhar e auxiliar também os professores. Afirmam Leandra Paulista de Carvalho e Silma do Carmo Nunes (2011) que “O Inspetor Escolar foi, e ainda é, uma forma de expressão política que se confunde com o conceito de supervisão”. Fato é que há muita confusão entre o que chamamos de inspetor de ensino – o atual supervisor – e o inspetor escolar ou de alunos. Sobre este, a bibliografia é escassa. Essa escassez foi, para nós, uma surpresa que aguçou ainda mais a nossa vontade de pesquisar esse tema. Afinal, é a nossa profissão e, na escola, é uma função muito requisitada e importante para o bom andamento da instituição. Então por que essa profissão não tem história? Seria a função de inspetor de alunos tão insignificante assim? Nem todas as respostas foram encontradas. Porém, cremos que uma luz foi lançada sobre a história e a importância do inspetor de alunos, figura de que trata esta pesquisa, que foi estruturada em três capítulos. O primeiro deles discorre sobre a trajetória histórica desse profissional, no Brasil, desde o período da educação jesuítica e seu Ratio Studiorum, base comum de seu ensino em todo o mundo desde 1599, ano em que foi concluída, até os dias de hoje, em que nossa educação é regida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Por fim, conhecida como a Lei do Novo Ensino Médio, a reforma da LDB introduzida pela Lei nº 13.415/2017 determinou o aumento da carga horária mínima dos estudantes, das atuais 800 horas para 1.000 horas anuais, será de apenas uma hora/aula por dia. A carga horária será dividida entre os componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e os itinerários formativos, incluindo a formação técnica e profissional, voltados ao mercado de trabalho (LOUZADA-SILVA, 2017). P ág in a6 6 BREVÍSSIMA HISTÓRIA DA INSPEÇÃO ESCOLAR O Ratio Studiorum, base comum do ensino jesuítico em todo o mundo, entrou em vigor em todos os colégios da Companhia de Jesus, inclusive no Brasil, em 1599, ano em que ficou pronto. Apresentou dois tipos do que hoje podemos chamar de inspetores escolares: um voltado aos estudos inferiores e outro, à disciplina. O texto do Ratio não explica se o prefeito de estudos inferiores também cuida da disciplina, e, por omissão, dá a entender que esse prefeitopoderia acumular as duas funções: No caso em que, pela extensão e variedade do trabalho escolar, não bastar um Prefeito para a direção de todas as aulas, poderá o Provincial nomear outro que, sob as ordens do Prefeito Geral, cuidará dos estudos inferiores; e ainda, se o exigirem as circunstâncias, um terceiro, incumbido da disciplina (RATIO, 2017). O que se verifica é que a figura do inspetor de alunos, mesmo com uma nomenclatura diversa existe, no Brasil, desde quando as primeiras escolas foram aqui implantadas. E que sua função se relacionava a alguma forma de controle. Dentre as 50 atribuições do prefeito de estudos inferiores, encontram-se a obrigação de ajudar o Reitor junto aos alunos; o acompanhamento e a ajuda aos professores, bem como a fiscalização de suas aulas; determinação dos lugares dos alunos em sala de aula e em filas, bem como os horários de estudos privados; nomear censores (que vigiem os colegas) e corretores (que punam os colegas) para as salas de aula; vigiar a entrada e a saída tanto das aulas como das missas; cuidar da ordem nos pátios: Nos pátios e nas aulas [...] não se tolerem armas, ociosidade, correrias e gritos, nem tampouco se permitam juramentos, agressões por palavras ou fatos; ou o que quer que seja de desonesto ou leviano. Se algo acontecer, restabeleça logo a ordem e trate com o Reitor do que possa perturbar e tranquilidade do pátio (RATIO, 2017). Vê-se que a inspeção escolar é, no Brasil, uma profissão quase tão antiga quanto o próprio país. Sua história anda passo a passo com a evolução da educação (ABREU, 2012). Ao longo dessa história, recebeu várias denominações, muitas das quais ainda hoje são usadas, como bedel (nomenclatura dada aos inspetores de alunos no Centro Universitário Hermínio Ometto, conhecido como UNIARARAS, na cidade de Araras, a 20 km de Rio Claro, SP). P ág in a7 7 No ano de 1799 teve início a fiscalização das aulas régias, atividade de inspeção que efetuada por um professor de confiança do vice-rei. “O trabalho do inspetor nessa época era de fiscalizar o funcionamento das escolas, os métodos de ensino, o comportamento dos professores e o aproveitamento dos alunos” (ABREU, 2012). No final do século XIX, com a reforma de Afonso Pena, os inspetores passaram a ser nomeados por concurso. A Inspetoria Geral de Instrução pública foi criada em 1927 e determinou que a fiscalização do ensino elementar (hoje Fundamental I) fosse realizada por inspetores municipais e a das instituições de ensino médio e superior, pelo governo federal. Durante o Estado Novo, a legislação, administração e fiscalização do sistema de ensino foram assumidas pelos estados. [...] a supervisão, embora já estivesse presente em “comunidades primitivas” em que a educação ocorria de forma difusa e indiferenciada com uma vigilância discreta, transformada em uma forma de controle, de conformação, de fiscalização e de coerção expressa, no Estado Novo, com a nomenclatura de inspeção escolar, se apresenta como uma reconfiguração desta forma de controle (ABREU, 2012). O que foi relatado até aqui se refere ao que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, passou a tratar, em seu artigo 64, como um “profissional de educação para [...] supervisão [...] para a educação básica” (BRASIL, 2014), cuja formação deve ser realizada em cursos de graduação em pedagogia ou em cursos de pós-graduação. No entanto, esse profissional do qual a LDB fala não é o inspetor sobre o qual queremos falar neste estudo. O inspetor ao qual nos referimos não tem como requisito para o trabalho nenhuma formação em nível de graduação, nem em nível de pós-graduação. Voltando à LDB, vemos que essa lei também relata sobre um outro tipo de profissional da educação, que poderíamos pensar ser o inspetor escolar ao qual nos referimos neste estudo. Porém, na lei, trata-se do profissional portador de diploma de curso técnico em área pedagógica ou afim, a que se refere o artigo 61 da LDB, em seu inciso III (alterado pela Lei 12.014/2009)1. Acontece que já não temos 1 A Lei 12.014/2009 alterou art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), com a finalidade de discriminar as categorias de trabalhadores que se devem considerar profissionais da educação. P ág in a8 8 nenhum curso técnico em área pedagógica (como havia, até algumas décadas atrás o curso normal), mas apenas o ensino médio. Dessa forma, o profissional da educação ao qual nos referimos simplesmente não existe como formador, como gerador de informação e formação e também não há investimento na sua formação por parte das políticas públicas educacionais. QUEM É, AFINAL, O INSPETOR ESCOLAR? De acordo com Catarina Iavelberg (2011), o inspetor escolar “é um dos profissionais mais atuantes na esfera educacional. Ele transita por toda a escola, em geral conhece os alunos pelo nome e é um dos primeiros a serem procurados quando há algum problema que precisa ser solucionado rapidamente”. Alvernaz (2011) afirma que o trabalho do inspetor “não se limita apenas a olhar os alunos [...] A sua função se multiplica na medida em que aparecem as necessidades dentro do contexto administrativo, educacional e disciplinar da Unidade Escolar”. Ivana Veraldo (2011) afirma ser, o inspetor de alunos, um Profissional cuja função é vital na escola. É ele quem orienta os alunos quanto às normas da unidade escolar, organiza a saída e a entrada dos alunos, zela pela disciplina dentro e fora das salas de aula, monitora o deslocamento e a permanência dos alunos nos corredores, zela pelo cumprimento do horário das aulas e demais rotinas escolares. É possível que por ter essas atribuições continue-se a acreditar que os alunos precisam ser continuamente vigiados e, assim, perpetuam-se os princípios e regras existentes no século XVIII apontados por Foucault (1987), quando examinamos as atribuições do agente escolar, a saber, o princípio da clausura e as regras de localizações funcionais: Infelizmente, muitos diretores entendem que quem atua nessa função deve apenas controlar os espaços coletivos para impedir a ocorrência de agressões, depredações e furtos, vigiar grupos de alunos, observar comportamentos suspeitos e até mesmo revistar armários e mochilas. Esse tipo de controle, além de perigoso - pois os conflitos abafados por ações repressoras acabam se manifestando com mais violência - , contribui para reforçar a desconfiança entre a instituição e os estudantes. E uma relação fundada na P ág in a9 9 insegurança fragiliza a construção de valores democráticos, que deveria ser um dos objetivos de todas as escolas. (IAVELBERG, 2011). Muitas vezes a impressão que o inspetor de alunos passa é de que é o chato que esta ali somente para manter a ordem, para dar bronca e levar para a diretoria. Na verdade, cremos que as atribuições dos inspetores concentram-se basicamente no aluno: cuidados e prevenção de pequenos acidentes, zelar pelo bem estar dos alunos principalmente nos intervalos das aulas, momentos em que estão sob total responsabilidade do inspetor, socorrer e prestar atendimento básico de primeiros socorros como limpar um machucado e fazer um curativo, passar uma pomada em picadas de insetos, acalmar o aluno quando o mesmo encontra-se chorando, dar conselhos, etc. Ser um inspetor de alunos, acreditamos, é estar constantemente em alerta. Quando uma criança se machuca, cai, leva uma pedrada, bate com a cabeça, bate em outro colega ou sofre qualquer outro tipo de acidente, a responsabilidade recai sobre o inspetor que estava responsável por cuidar daquele perímetro. Quando ocorre um acidente, o primeiro questionamento é: “Quem estava como responsável naquela área?” E depois: “O que aconteceu, quando, como e por quê?” Geralmentesabemos explicar o que houve, mas tem casos que não presenciamos, que não vimos como aconteceu. Nesses casos, somos repreendidos por não termos presenciado a cena e aconselhados a prestar mais atenção. Ser repreendido pelo superior traz certo desconforto. Não presenciar um acidente faz com que nos sintamos incompetentes, e uma sensação de pânico e culpa recai sobre nós. Com a prática vamos ficando mais alertas com relação a pequenos acidentes e, geralmente, evitando-os. No entanto, há vezes em que o aluno se machuca bem na sua frente e não há nada que se possa fazer para evitar. Por isso, também temos medo do que pode vir a acontecer, as consequências do ocorrido e a acusação de alguns pais por negligência, mesmo sabendo que não houve negligência de nossa parte, tanto nos casos em que o aluno se machuca, como quando chamamos sua atenção por algo inconveniente que está fazendo (brigas, xingamentos, etc.). Às vezes subestimamos a inteligência de certos alunos, sua capacidade de persuasão, de mentir, e somos penalizados por isso. Mas ser inspetor parece ser isso mesmo: E lá vai o inspetor de alunos separar mais uma briga - e provavelmente P ág in a1 0 10 ganhará mais alguns hematomas e será xingado e ameaçado por gangues rivais que muitas vezes agem dentro das escolas. (ALVERNAZ, 2011). Apesar disso, sempre tentamos de tudo para solucionar os problemas referentes aos alunos, mas, mesmo assim, eu me sinto impotente diante de uma criança chorando de dor de ouvido, dor de dente ou com falta de ar. É desesperador não poder fazer nada a respeito, a não ser tentar entrar em contato com os pais, muitas vezes sem sucesso. Já passamos metade do dia tentando entrar em contato com os pais ou responsáveis de crianças enquanto ela chora e sofre por horas. Há também momentos em que não conseguimos entrar em contato com os pais e a criança está com febre alta. Não podemos medicar nenhuma criança sem receituário médico e autorização dos pais. Assim, a única forma de remediar é levar essa criança para tomar um banho pra abaixar a temperatura, enquanto tentamos entrar em contato com os responsáveis. Já aconteceu de uma criança ter uma reação alérgica por picada de abelha e outra, por alimento que não podia comer, mas não foi comunicado à escola. Nesses casos, o desespero é maior, principalmente quando tentamos ligar em vários números de telefone e celular disponíveis e não conseguimos falar com os pais. Sabendo da urgência de um atendimento especializado, acabamos por acompanhar as crianças ao pronto socorro, mesmo sem conseguir falar com seus responsáveis. Ser inspetor, a nosso ver, é ser maleável e produtivo. Como afirma Alvernaz (2011), é ser “um pau pra toda obra”, pois se acaba fazendo de quase tudo um pouco, na escola. É estar um passo à frente dos acontecimentos e fazer o que é solicitado, seja cobrir alguém na secretaria, atender telefone, ajudar na cozinha, fazer rematrícula entre outras tarefas. Como o inspetor de alunos geralmente fica atento aos corredores, e pátios acaba por atentar também aos acontecimentos de outros setores. Isso permite aos inspetores saber quase tudo o que acontece dentro da escola, facilitando a ajuda a outros setores. Catarina Iavelberg (2011) corrobora essa afirmação, dizendo que os inspetores de alunos, [...] são capazes de trazer informações importantes sobre a convivência entre os alunos que poderão ser objeto de análise para que o orientador educacional, juntamente com o diretor e a equipe docente, planeje e execute intervenções. Porém, por atuarmos eventualmente em funções que não são nossas, alguns gestores acabam por abusar da nossa boa vontade. Somos subordinados P ág in a1 1 11 aos nossos chefes imediatos, que são os diretores e vice-diretores. Por isso, sempre que a gestão pede para fazermos algo, geralmente não questionamos e fazemos. Inspetores Educadores Diz Iavelberg (2011) que como profissionais que atuam na educação, os inspetores de alunos, qualquer que seja sua nomenclatura, são também educadores. E precisam de uma formação consistente para que consigam dar conta de interagir com os alunos nos diversos espaços da escola (quadras, pátio, corredores, cantina, sanitários, etc.). Essa formação, afirma Iavelberg (2011) deve partir da equipe gestora. Lavelberg (2011) afirma que a equipe gestora deve capacitar os inspetores de alunos a examinar as relações interpessoais, analisando o comportamento de grupos de alunos, os lugares que ocupam as brincadeiras e os jogos que preferem; reconhecendo as lideranças e os que se submetem a elas; acompanhando o processo de adaptação dos alunos novos, etc. Além disso, para a autora, [...] é imprescindível que a formação contemple também o aprendizado sobre como agir em momentos de conflito. Os monitores contribuem para evitar brigas quando atuam com ética e promovem ações educacionais para ajudar as crianças a lidar com as divergências e os desentendimentos (IAVELBERG, 2011). Ainda é Iavelberg (2011) que afirma que os inspetores de alunos precisam conhecer bem o Projeto Político-Pedagógico da escola, pois isso os fará sentirem-se, verdadeiramente, [...] parceiros na Educação dos alunos e atuarão como tal. Para tanto, devem ser convidados a participar das reuniões de planejamento e das decisões que envolvem toda a equipe. Ao mesmo tempo, os encontros deles com a equipe de direção podem entrar na rotina, pois assim se cria um canal de comunicação em que eles se sintam seguros para expor as dúvidas, explicitar as incertezas e discutir os acontecimentos (IAVELBERG, 2011). Acreditamos que só conseguimos compreender a importância de nosso cargo depois de ingressar na faculdade de Pedagogia e compreender que há uma equipe escolar, toda composta por trabalhadores da Educação, desde o diretor (cargo máximo na escola), até os funcionários da cozinha e da limpeza, quase sempre, erroneamente a nosso ver, considerados “inferiores”. Tal hierarquia existe em todos os setores, não somente na educação, e é decorrente de estudos para a definição P ág in a1 2 12 de salários: Segundo Chiavenato (2006, p. [267-] 305), “a avaliação de cargos visa a obtenção de dados que permitirão uma conclusão acerca do valor interno relativo de cada cargo [...] o escalonamento simples consiste em dispor os cargos em um rol crescente ou decrescente em relação a um critério escolhido que funciona como padrão de comparação”. Esse critério pode ser em termos de escolaridade, complexidade, responsabilidades, dentre outros (SEPI, 2017). Então pudemos compreender o que Iavelberg (2011) afirma sobre o inspetor de aluno: que ele é, verdadeiramente, um educador. Porém, as capacidades que afloraram também nos permitiram questionar: Por que há tanto descaso para com a profissão de inspetor de alunos? Parece-nos que grande parte das pessoas pensa que o inspetor de alunos é o desqualificado qualquer que não faz nada! Exercemos uma profissão pouco valorizada e incompreendida pela maior parte da escola. Geralmente estamos parados e, por isso, nosso trabalho confunde-se com a ociosidade. E colegas que trabalham em outros setores, professores e alunos, acabam nos julgando e tiram suas conclusões, sem conhecimento de causa. Quantos comentários maldosos já escutamos: “Eu deveria ter prestado concurso pra inspetor de alunos, não faz nada!” “Que vida boa, hein? Desse jeito quero ser inspetor também!” Apesar de suas múltiplas funções, ele é apenas o inspetor de alunos: - uma pessoa muitas vezes pouco compreendida e até odiada em muitas ocasiões. Quando há aumento de salários ele sequer é mencionado, afinal ele é só um serviçal [...] um funcionário sem qualificações, [...] apenas uma peça a mais nesta engrenagem complexa que é a Educação Pública (ALVERNAZ, 2011). Indignava-nos sermos chamados de ociosos ou “quebra-galho” quando, na verdade,somos, conforme afirma Alvernaz (2011), uma das figuras mais importantes dentro da escola. Um ser humano pode conhecer muitas coisas, pode dominar, num relance, uma área imensa de conhecimentos, e pode ignorar completamente outras tantas áreas das quais depende a compreensão daquela que ele conscientemente abarca (CARVALHO, 2013). A violência recrudesceu muito e todos têm que se dar as mãos para manter um mínimo de harmonia e educação nas escolas públicas” (ALVERNAZ, 2011). Com as mudanças na educação e a proposta de uma gestão democrática, o inspetor de P ág in a1 3 13 alunos pode colocar suas ideias e transformá-las em ações que visem favorecer toda a comunidade escolar. Dessa forma, adota posturas que contribuam para o desenvolvimento dos alunos e com a qualidade das instituições escolares. Hoje, o inspetor de alunos não é um mero fiscal e tem mais autonomia, unindo-se aos demais profissionais da educação, de modo a contribuir com o desenvolvimento do processo pedagógico. Para isso, trabalha valores éticos e morais, visando a transformação da sociedade em longo prazo. Porém, numa escola, ninguém faz nada sozinho. Como já vimos, o inspetor de alunos, por estar atento a tudo o que se passa no interior da instituição, pode auxiliar os outros setores. Iavelberg (2011) sugere que o inspetor participe das reuniões de planejamento e das decisões que envolvem a equipe escolar, onde poderá colocar suas ideias e dúvidas. Silva (2016) também concorda que o inspetor de alunos precisa fazer parte, efetivamente, da equipe escolar, pois ele é o elemento mobilizador que podem auxiliar no planejamento e na contextualização de modo que se construa, coletivamente, “um currículo que contemple diferentes tipos de atividades, entre elas excursões, jogos, festivais, exposições, nas quais o aluno [...] é percebido como um sujeito ativo no processo de construção de conhecimentos” (SILVA, 2016). ELEMENTOS HISTÓRICOS E EDUCAÇÃO DE QUALIDADE Entende-se que cada profissão tem a sua dimensão histórica, e conforme a sua trajetória ao longo do tempo e em cada época, a sua importância política, econômica e social. Para entendermos na atualidade o contexto social, é preciso conhecer o passado para compreender o presente e os seus paradigmas em discussão. Um dos paradigmas relaciona-se ao enfado burocrático da função, como podemos constatar, de acordo com Augusto (2010, p. 227) "o papel primordial desempenhado pelos inspetores, em Minas Gerais, nos dias atuais, atém-se à verificação da regularidade do funcionamento das escolas e da sua legalidade. Os inspetores se veem assoberbados de ações ligadas à fiscalização das ações legais.” P ág in a1 4 14 Verifica-se que a Inspeção Escolar é uma função antiga que surge mundialmente com a laicidade da educação, ou seja, a separação das igrejas do Estado. Em cada localidade o inspetor tinha sua peculiaridade, variando de acordo com a situação social, as políticas públicas e econômicas de cada época, como também as implicações de suas atribuições para fiscalizar, verificar, analisar, controlar etc. A dinâmica educacional e a forma como a escola é gerida são fatores que influenciam diretamente a qualidade e a eficácia do trabalho docente. Contudo, será discutida a importância do inspetor nesse processo de qualidade da educação, de acordo com o conceito a seguir: O uso da palavra qualidade no contexto educacional remete diretamente aos fins da educação. No sentido absoluto, uma educação de qualidade seria, portanto, uma educação que cumpre com os seus objetivos. Aqui, a qualidade (boa) significa eficiência, meios adequados para atingir fins (GUSMÃO, 2013, p. 301). Excepcionalmente, desde o Brasil Colônia o inspetor era uma figura que atendia as exigências do poder e, posteriormente, do Estado de poder. Como a maioria da população pobre não tinha acesso às escolas, a preocupação era manter o domínio do que acontecia dentro delas, e verticalmente as regras sendo impostas. Nesse sentido, é importante ressaltar que o conceito de qualidade da educação está totalmente desvinculado do que seja ensino e aprendizado de qualidade, conforme Gusmão (2013), no contexto acima. No Brasil uma parte da história do inspetor desenvolveu-se conforme descrito por Augusto: [...] em 1799 o serviço de inspeção era realizado por um professor de confiança do vice-rei, eram as aulas régias [...] eram verificados o funcionamento das escolas, os métodos de ensino, o comportamento dos professores e o aproveitamento dos alunos de 1759 a 1808, surge a escola leiga, ao lado da religiosa, [...]. Em 1892, ano da reforma Afonso Pena, são nomeados os inspetores ambulantes, por concurso. Esses deveriam se manter na proposta republicana, e sob a sua responsabilidade ficava a concessão ou a suspensão do dinheiro público para as escolas, bem como o recenseamento escolar. O Brasil, então província, foi dividido em dez circunscrições escolares, e os Inspetores Ambulantes atendiam as escolas nos municípios. Em 1906, com a P ág in a1 5 15 Reforma João Pinheiro, o Brasil foi dividido em 40 circunscrições. A inspeção administrativa era competência dos inspetores escolares municipais, que não eram remunerados para a função. A inspeção técnica era exercida pelos inspetores ambulantes, remunerados pelo governo. Em 1927, no governo de Antônio Carlos, com a reforma Francisco Campos, foi criada a Inspetoria Geral de Instrução Pública, atuando junto ao Conselho Superior de Instrução. O ensino elementar, antigo primário era fiscalizado pelos inspetores municipais. De 1930 a 1961, todos os estabelecimentos de ensino médio e superior, ficam sujeitos à inspeção federal (AUGUSTO, 2010, p.76-77). No que tange à historicidade da inspeção, constatamos seu papel fiscalizador, vistoriador, refletindo o interesse minoritário na educação. Contribuindo assim, na efetivação das regulamentações e vistorias para o sistema que se implantava. O Inspetor Escolar promove a aplicação e regularização dos aspectos legais que orientam os agentes educacionais no cumprimento da democratização da Educação. Contudo, sua ação não se remete a um papel fiscalizador, mas vai muito além. Suas ações implicam na interpretação legal, como forma de coordenar o contexto educacional nas unidades escolares: aspectos administrativos, financeiros e pedagógicos no exercício das práticas de ensino-aprendizagem promovendo qualidade da educação. A profissão de Inspeção Escolar é regulamentada através do Decreto n. 19.890 de 18 de abril de 1931, em seu artigo 51 e Decreto n. 21.241 de 4 de maio de 1932, artigo 63 a 86. Augusto (2010), afirma que com o decreto outras atribuições vão sendo inseridas na função desse profissional. A importância de elementos antes não preconizados, agora é levada em consideração, como assiduidade, desempenho dos professores e sugestões sobre providências a serem tomadas pelo Departamento Nacional de Ensino. A partir de então podemos constatar que ao Inspetor era atribuída a importante missão de verificar e relatar sobre a qualidade do ensino. Partimos do pressuposto que nessa época esse conceito não era abrangente como na sociedade atual. P ág in a1 6 16 A educação de qualidade visa à emancipação dos sujeitos sociais e não guarda em si mesma um conjunto de critérios que a delimite. É a partir da concepção de mundo, sociedade e educação que a escola procura desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes para encaminhar a forma pela qual o indivíduo vai se relacionar com a sociedade, com a natureza e consigo mesmo. A “educação de qualidade” é aquela que contribui com a formação dos estudantes nos aspectos culturais, antropológicos, econômicos e políticos, para o desempenho de seu papel de cidadão no mundo, tornando-se, assim, uma qualidade referenciada no social.Nesse sentido, o ensino de qualidade está intimamente ligado à transformação da realidade (CONAE, 2013, p. 58 apud SOUSA, 2014, p.413). A qualidade da educação está intimamente associada ao conjunto sistêmico educacional. A inspeção é uma atividade profissional que necessita ser inovada, renovada, no alcance de objetivos mais significativos, idealizadores. Num sentido mais pertinente, um conjunto de ações ou intenções almejadas na carreira do inspetor que defina um patamar mais elevado e independente de ações no ambiente interescolar. “A conceituação e o dimensionamento da qualidade da educação escolar se constituem num complexo problema político e pedagógico, pois concentram leituras da sociedade, da escola e das relações que entre elas se estabelecem” (ALAVARSE; BRAVO; MACHADO, 2013, p. 19). Portanto, a ineficácia do inspetor em suas ações, remete a problemas futuros, tanto para o ensino, quanto para o funcionamento da escola. É importante investigar alguns fatores que diretamente influenciam as atribuições e ações da inspeção, em se tratando da efetivação e cumprimento de sua postura diante da realidade da comunidade escolar. Serão tratados, na próxima seção, alguns aspectos norteadores da função do inspetor, visando mensurar suas atribuições na sociedade capitalista, globalizada e democrática. SUBSÍDIOS EM UMA SOCIEDADE MODERNA E TECNOLÓGICA No cenário mundial contemporâneo há uma grande evolução tecnológica, marcada pelo avanço das Novas Tecnologias da Informação (TIC). Portanto, uma P ág in a1 7 17 emergente mudança com o capitalismo e a globalização, logo, as informações são processadas aceleradamente, muitas vezes em tempo real. A sociedade pós-moderna acentua-se em suas características, num patamar movido pela sociedade capitalista de globalização emergente. A conquista econômica, política, social e cultural é desencadeada como forma de manter o domínio das grandes forças de poder contemporâneas. Marcada pelo desenvolvimento das tecnologias nas áreas da ciência, arte e principalmente de comunicação, o sujeito social e cultural, sofre grande influência das mídias eletrônicas. Uma performance de consumo é inculcada na mente das pessoas que, naturalmente, assimilam comportamentos na objetivação da expressão pessoal consumista. Consequentemente, a futilidade e polarização social vão culminando na emancipação do indivíduo, instalando um narcisismo cultural, um relativismo, uma indiferença, uma intelectualidade indeterminada, uma fragmentação, imediatismos de ações e informações, uma inversão dos valores. A contemporaneidade submete a vida social e cultural a condições adversas na produção do conhecimento. Nas instituições de ensino, as implicações na produção do saber científico intelectual induzem o Sistema Educacional a tomar novas decisões e novos formatos para atender a exigências da nova ordem mundial. Logo, a educação vai sendo direcionada a assumir papéis diferentes no exercício de sua função e na formação social e cultural do sujeito, pois o conhecimento é força de produção que abastece a sociedade capitalista na era da informação. Vale salientar que a velocidade das informações tem transformado a forma como os indivíduos adquirem conhecimento e, que o mesmo precisa ser selecionado e bem tolhido; eis mais um desafio para a educação em conscientizar e formar um cidadão bem estruturado reflexiva e criticamente. P ág in a1 8 18 Em 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o inspetor escolar é apresentado como um profissional da Educação e são regulamentadas suas atribuições no artigo 642. A formação de profissionais da educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional (BRASIL, 1996, p. 21). A significativa construção para o desenvolvimento da educação e seu processo de democratização no que tange ao fator ideológico, tem no inspetor escolar um papel social fundamental. Pois, é o elo entre a escola e o sistema regulador que representa a ação do Estado e a aplicação das leis, ou seja, é ele quem zela pela qualidade educacional. Entretanto, os desafios enfrentados são uma constante, e o distanciamento da ação pedagógica vai resumindo-se a ações mais burocráticas. [...] a sua função seria estratégica à melhoria dos resultados escolares. O cotidiano de trabalho da inspeção consiste em ações, que não são significativas em relação ao processo educacional das escolas. A inspeção escolar no estado exerce ações administrativas, mais operacionais e formais, distanciadas e desvinculadas do processo político‑ pedagógico da escola, sendo, muitas vezes, criticada por ser considerada pouco eficaz (AUGUSTO, 2010, p. 314). É importante a compreensão real do significado que exerce a inspeção, pois, a demonstração no contexto acima é o quanto suas ações têm desvencilhado do verdadeiro significado que agrega qualidade ao processo pedagógico e à gestão escolar. Seria necessária, através dessa reflexão, uma mudança de paradigma nas atribuições desse profissional. Ora, é preciso sair de uma situação que pede por melhoria. Sair, eis a questão. E para que tal saída se concretize face aos desafios, cumpre uma união de esforços, um pacto em que de comum acordo se opte por uma via de superação. 2 O dispositivo contido no artigo 64 da Lei nº 9.9394/96 não foi alterado pela Lei do Novo Ensino Médio (Lei nº 13.415/07). P ág in a1 9 19 Ficar no status quo é irracional. Buscar um pacto é a única saída racional (CURY, 2014, p. 1061). É preciso salientar que os elementos indispensáveis para a eficácia da qualidade do processo educacional é uma condição efetivada também pelo inspetor. Dentro de um sistema que não funciona apenas com competências burocráticas, estamos em um novo tempo, com alunos de uma geração tecnológica e professores insatisfeitos. Ele exerce sua condição de agente político, quando em suas ações dinamiza apenas o teor da ideologia legal e burocrática capaz de guiar, subsidiar os sujeitos participantes da comunidade educacional. Consequentemente, reproduz, orienta, fiscaliza, vistoria, verifica por exigência do poder verticalizado. “A inspeção é a função, por excelência, que tem a incumbência e os meios legais de verificar se os parâmetros prescritos foram seguidos, como também a competência técnica para realizar tais ações” (AUGUSTO, 2010, p.79). O inspetor escolar tem um compromisso democrático e como especialista é detentor de uma responsabilidade primordial e complexa, suas atividades zelam pelo cumprimento das leis e organização dos setores da escola. “A sua função é intermediária entre o sistema e as escolas, daí a sua característica de exercer a comunicação bidirecional” (AUGUSTO, 2010, p. 66). A efetivação idônea do diálogo nas duas direções expõe a importância da inspeção nas referidas competências e habilidades que exerce. As argumentações apropriadas, a adequação dos questionamentos, a apropriação das reflexões como a aptidão de saber conduzir uma relação e um relacionamento interdependente entre escola e secretaria de educação. Faz parte de uma ação maior, a legitimidade do processo e progresso na democratização do ensino e da educação. Como forma de expressão política, a inspeção constitui elementos da gestão, pois, não podemos omitir que no Brasil a educação vai democratizando seus processos burocráticos. No que diz respeito ao que está implementado no papel, a prática vai consolidando-se a lentos avanços, ou seja, vão esbarrando-se na tradicionalidade dos sujeitos participantes. Contudo, as tecnologias são emergentes no cenário atual,não podemos estar alheios aos avanços da TIC, a escola brasileira P ág in a2 0 20 cumpre ou deveria cumprir democraticamente as soluções necessárias para atender os avanços. A sociedade contemporânea está marcada pela questão do conhecimento. E não é por acaso. O conhecimento tornou-se peça-chave para entender a própria evolução das estruturas sociais, políticas e econômicas de hoje. A ação gera saber, habilidade, conhecimento. Ensinar-e-aprender com sentido. Fala-se muito hoje em sociedade do conhecimento, às vezes com impropriedade (GADOTTI, 2003, p. 42). Há décadas, Gadotti (2003), já vislumbrava a necessidade de decodificar e selecionar as informações. Função da educação formal, preparar o aluno para essa competência, gerir o seu aprendizado e através dele adquirir os conhecimentos necessários para ser agente transformador do meio. Mas, a adequação para dentro dos muros escolares não acontece sem a intermediação da inspeção que orienta os profissionais, conforme novas leis vão surgindo, para organizarem todo o sistema que democraticamente precisa adequar-se. Apesar de muitas conquistas e idealismos, não se conseguiu, no Brasil, alcançar metas de suma importância, em questões até mesmo básicas para uma educação de qualidade. Aqui, ela é ainda marcada pelo descaso de nossos representantes, mas também, pela aculturação dos povos aqui existentes na época da colonização. DEMOCRATIZAÇÃO E ADEQUAÇÕES EDUCACIONAIS Diante aos novos paradigmas educacionais e conforme as metas do Plano Nacional de Educação (PNE) que se referem aos avanços a serem alcançados até o ano de 2024, tem-se a adequação democrática de novas perspectivas no que diz respeito ao status quo de todo contexto educacional, na tentativa de minimizar as mazelas implícitas e explícitas da estagnação do sistema instaurado. O Plano Nacional de Educação aprovado por lei representa uma vitória da sociedade brasileira, porque legitimou o investimento de 10% do PIB em educação até o final do decênio e adotou o custo aluno-qualidade. Afinal, a Meta existe para garantir todas as outras metas que trazem as perspectivas de avanço para a educação brasileira, nas dimensões da universalização e ampliação do acesso, P ág in a2 1 21 qualidade e equidade em todos os níveis e etapas da educação básica, e à luz de diretrizes como a superação das desigualdades, valorização dos profissionais da educação e gestão democrática (BRASIL, 2014, p. 23). É tempo de mudanças e muita informação, estamos vivendo uma nova era de grandes evoluções e transformações. A sociedade e as ideologias conspiram para uma educação que atenda o novo aluno. E, consequentemente, que haja mudanças na maneira de ensinar e gerir a escola. O sistema educacional tem sofrido pela inadequação das demandas que se instalam. As políticas públicas ainda não são adequadas para a educação, a escola continua num padrão estrutural tradicional. Para Gadotti (2003), Mais do que a era do conhecimento, devemos dizer que vivemos a era da informação, pois percebemos com mais facilidade a disseminação da informação e de dados, muito mais do que de conhecimentos. O acesso ao conhecimento é ainda muito precário, sobretudo em sociedades com grande atraso educacional (GADOTTI, 2003, p. 43). Podemos perceber uma preocupação no que diz respeito às mudanças e adequações que abrangem as dimensões educativas. Os fatores sociais, econômicos, políticos implicam diretamente em como a escola deve educar e formar cidadãos. Não é satisfatório apenas ter velocidade instantânea de informações, mais importante é selecionar informação e gerar conhecimento. Praticar educação é além de tudo agir como cidadão ciente dos seus direitos e deveres civis, políticos e sociais, respeitando seus limites, a cultura, as diversidades, agindo com solidariedade na solução de problemas para o bem comum. A democracia foi uma conquista de lutas, é um regime de soberania do povo e para o povo, ou seja, de todos. Um compromisso com a liberdade, cidadania. Aplicar ou estabelecer normas e padrões são princípios, do latim “principium”, que significa “origem, causa próxima, início”. De acordo com as palavras do Dourado (2007), educação abrange diversos aspectos da vida em sociedade. A concepção de educação é entendida, aqui, como prática social, portanto, constitutiva e constituinte das relações sociais mais amplas, a partir de embates e P ág in a2 2 22 processos em disputa que traduzem distintas concepções de homem, mundo e sociedade. Para efeito desta análise, a educação é entendida como processo amplo de socialização da cultura, historicamente produzida pelo homem, e a escola, como lócus privilegiado de produção e apropriação do saber, cujas políticas, gestão e processos se organizam, coletivamente ou não, em prol dos objetivos de formação. Sendo assim, políticas educacionais efetivamente implicam o envolvimento e o comprometimento de diferentes atores, incluindo gestores e professores vinculados aos diferentes sistemas de ensino (DOURADO, 2007, p. 923-924). As discussões “a posteriori” passam pela questão da descentralização da escola na promoção de sua autonomia, dinamizando os processos da não concentração administrativa, financeira e pedagógica na gestão democrática. Descentralização associada ao princípio democrático, formando um pensamento na sociedade que, quanto mais descentralização, mais democracia. Desse modo, pressupõe-se que todos os envolvidos na dinâmica educacional, participam de todos os processos. Para Colares e Lima (2013), A gestão democrática tem seus pilares nos movimentos sociais de democratização e expressam as experiências e lutas por administrações e práticas coletivas, colegiadas e participativas nas escolas e sistemas de ensino. Tem como fundamento a humanização da formação do indivíduo e explicitação mediante o diálogo entre as pessoas na busca da solução dos conflitos de forma coletiva e solidária (COLARES; LIMA, 2013, p. 76). São notórias as inúmeras transformações e significativas mudanças que a educação tem sofrido no cenário atual. A criação de espaços que venham beneficiar as novas relações do inspetor entre a escola, escola com as superintendências de ensino e secretarias de educação. Compete à inspeção escolar democratizar a comunicação de todas essas instituições, pois, essa relação favorece a decisão coletiva para uma atuação efetiva dos agentes educacionais. Contudo, a figura desse profissional proporciona a politização do fator ideológico da legislação. Ele é a representação da ação do Estado e órgãos executivo e legislativo “in loco” nas instituições de ensino na verificação, aplicabilidade e adequação na práxis do sistema educativo. Enfim, promove a P ág in a2 3 23 adequação formal das normas e pareceres, coordenando democraticamente todas as orientações e informações. Na realidade a escola como todo o sistema educacional, vem passando por transformações e reformas numa tentativa de se amoldar ao século XXI e às novas demandas sociais, econômicas e políticas. Principalmente, para atender a sociedade do conhecimento ou sociedade tecnológica. Os movimentos sociais ampliam os desafios emergentes no campo virtual, ou seja, para democratizar é imprescindível estar acompanhando as necessidades do cenário atual. Mas, acompanhar não é suficiente, é necessário passar por transformações sucessivas. Historicamente, as adequações muitas vezes de fórum paliativo, vão delineando novos pressupostos. Na busca pelo que pretende atingir, surgem novos debates que expressam anseios e conflitos epistemológicos. Muitas vezes, esses processos assumem uma proporção que não pode ser adiada delimitando decisões e adequações iminentes. Conforme destacam Scheibe e Aguiar (1999, p. 232) [...] o curso de pedagogia destina-se à formação deum “profissional habilitado a atuar no ensino, na organização e na gestão de sistemas, unidades e projetos educacionais e na produção e difusão do conhecimento, em diversas áreas da educação, tendo a docência como base obrigatória de sua formação e identidade profissional”. [...] E ainda na organização de sistemas, unidades, projetos e experiências educacionais escolares e não escolares; na produção e difusão do conhecimento científico e tecnológico do campo educacional; nas áreas emergentes do campo educacional (SCHEIBE e AGUIAR, 1999, p. 232). Pensando nisso, mensurou-se que a organização interna da escola deve estar em concordância com suas normas e as leis que a regem. Qualquer alteração que não seja do conhecimento da gestão administrativa, pedagógica e da inspeção escolar acarreta prejuízos ao aluno e pode também comprometer seu funcionamento adequado. Portanto, com um ambiente democratizado, pode sofrer interferências inadequadas, fora de seu contexto rotineiro por falta de acompanhamento da gestão ou por desorganização profissional e estrutural. O descomprometimento dos profissionais responsáveis pelo bom desempenho de toda organização escolar pode causar falta de credibilidade em relação não apenas da administração escolar, mas também, do desenvolvimento P ág in a2 4 24 pedagógico e colocar em dúvida a seriedade do trabalho realizado. Assim, quando o controle coletivo da educação perpassa por todos os autores que integram o panorama educacional e esse trabalho é realizado em parceria: equipe gestora/ inspeção escolar em uma consonância com troca de experiência e aprendizado, aluno somente tende a ser beneficiado em todo o processo educacional. É de suma importância que toda documentação escolar dos alunos esteja de maneira instituída, preparada, pois a acessibilidade dos mesmos transcorre desde a gestão escolar, secretário, inspeção até conselhos de educação e secretarias de educação, como afirma Ribas (2016). Na sociedade atual o papel do inspetor escolar é assegurar o controle e garantir de forma participativa essa parceria articulada com a gestão da escola. Encontrando meios e dispositivos legais para garantir uma educação de qualidade e uma escola democrática, atualizada e adequada aos parâmetros institucionalizados. A escrituração escolar norteia a vida educacional do aluno, dando subsídios para que erros não sejam frequentemente cometidos, dificultando o manuseio dos documentos, penalizando o aluno e sua família. Mas, infelizmente encontramos situações que acontecem por descuido ou displicência dos profissionais e a falta do inspetor escolar nas instituições educacionais. Em cada estado do Brasil, é exercida uma autonomia com relação ao que deve ser estabelecido na educação local, não descumprindo o que é estabelecido pelo Ministério da Educação (MEC) e posteriormente pela LDB. No Estado de Minas Gerais existe um Caderno de Boas Práticas da inspeção que orienta e organiza o que deve estar sendo realizado e cumprido por parte dos profissionais inspetores. Essa publicação auxilia os inspetores escolares na área da gestão pedagógica, dão sugestão de estrutura no plano de trabalho para a melhoria dos resultados da escola e sugerem um relatório de acompanhamento da implementação das ações da escola. Possuem elementos de boas práticas e de ações concretas explicitadas, contendo três eixos fundamentais: • Conhecimentos, competências e habilidade: Dominar o conteúdo necessário para o bom desempenho da função. Aprimorar o conhecimento pedagógico, da legislação e dos materiais relacionados à escola. P ág in a2 5 25 • Planejamento e reflexão coletiva: Atuar de forma organizada e produtiva. Planejar as ações pedagógicas em conjunto. • Liderança e gestão pedagógica nas escolas: Orientar, acompanhar e avaliar o trabalho realizado nas escolas. Promover a liderança e a gestão pedagógica das escolas. Essa iniciativa faz parte do processo de desenvolvimento e estruturação do sistema educacional da rede estadual de ensino do estado. Veementemente, na democratização e adequação da singularidade da inspeção. Afinal, a preponderância do exercício de sua função legitima o poder dos órgãos normatizadores e principalmente do Estado, na continuidade de resolução das mazelas educacionais. Certamente a insatisfação no meio profissional, como mencionado no contexto do item dois pela citação de Augusto (2010) dá veracidade à frase: O que precisamos refletir sempre é sobre a continuidade da reprodução verticalizada de ordens e mudanças que não legitimam as reinvindicações da população, ou seja, do público escolar envolvido na interioridade e exterioridade das ideologias educacionais, marcadas por lutas e conquistas, decepções e idealismos. VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA NA ESCOLA: LEGISLAÇÃO PERTINENTE O objetivo deste capítulo não é transformar o educador em um especialista em legislação, mas explorar a legislação na tentativa de resgatar um conhecimento básico para o exercício pleno de seus direitos e deveres. Cabe à legislação orientar acerca de tais condições, e em se falando de Educação, vale a pena tal resgate. Começamos com a base, a Constituição Federal, que é a lei maior deste país descrevendo em seguida as leis relacionadas aos temas de Educação para posteriormente chegarmos às normas existentes dentro da escola. A descrição dará uma visão do maior para o menor, até chegar à escola onde os problemas são enfrentados servindo assim como informação sobre como devem ser tratadas a violência e a indisciplina dentro da escola, tema central deste trabalho. P ág in a2 6 26 A EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1989 A legislação brasileira abrange uma série de assuntos que se referem aos temas relacionados à Educação. O legislador procurou ser o mais abrangente possível para preencher todas as lacunas existentes na sociedade. Dentre elas, senão as mais importantes, aquelas que envolvem a necessidade de um processo educativo consistente que proporcione a todos os cidadãos a possibilidade de um convívio social condizente com a utopia de uma sociedade perfeita. Assim a Constituição destina um capítulo para a Educação, especificando quais são os direitos e deveres, dos cidadãos e do Estado, relacionados a esse tema. Porém, nem sempre os direitos estabelecidos hoje com relação à Educação estiveram presentes nas demais Constituições Federais que já vigoraram no Brasil. A primeira constituição brasileira foi promulgada na época do Império, em 1824 e fazia apenas referência à instrução pública como direito dos considerados cidadãos, excluindo do acesso ao ensino oficial os escravos. Ainda não se colocava a obrigatoriedade e havia grande participação da Igreja Católica no processo educativo. (CURY; FERREIRA, 2010, p. 31). A próxima Constituição foi promulgada em 1891, já com a instituição da república, porém, não foram ainda estabelecidas à gratuidade e a obrigatoriedade da educação. Já em 1934, a Constituição Federal recebeu novas características, com um pensamento diferente das anteriores, mais voltado para o âmbito social, ganhando um capítulo específico e A Constituição da Republica Federativa do Brasil (1988) é a lei mais importante no nosso país. Ela estabelece os princípios e caminhos pelos quais todas as demais leis devem seguir, previsões como de ensino primário integral (atualmente Ensino Fundamental) gratuito e a frequência obrigatória. (CURY; FERREIRA, 2010, p. 32) . A Constituição Federal de 1946 não trouxe grandes avanços, se limitando a copiar o que já havia sido previsto na Constituição de 1937. Já na Constituição de 1967 e no Ato Institucional de 1969 houve uma extensão dos temas relacionados à Educação, e ficou estabelecido expressamente que o ensino primário é obrigatório, sendo a obrigatoriedade relacionada à faixa de idade doaluno e não à série. (CURY; FERREIRA, 2010, p. 33) P ág in a2 7 27 Apesar de todas as tentativas de melhorias para a educação brasileira durante a história, inúmeras dificuldades financeiras, organizacionais, políticas e estruturais limitaram a atuação dos educadores ao longo do tempo. A legislação contemplou a pensar na Educação como um todo com o advento da Constituição de 1988. A Constituição Federal de 1988 prevê, Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. (BRASIL, 1988, p. 43) Apesar da insatisfação com relação às formas de atuação do governo em diversos pontos, o que tenho que concordar, é necessário saber que a CF/88 estabelece como princípios fundamentais para todo cidadão brasileiro à igualdade, o direito à vida, à liberdade e à segurança, entre outros, que deveriam estar presente na vida de todos. Assim em consonância com os direitos e garantias fundamentais previstos no Artigo 5º da CF/88, existe um capítulo especial para a Educação, que é o Capítulo III – DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO. Assim, dentre outros artigos que preveem o que há de mais importante dentro da sociedade brasileira, devemos destacar o Art. 205 e seguintes, que estabelecem os princípios fundamentais existentes em nosso país no que diz respeito à Educação, Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988, p. 85) O Artigo 205 fala por si só, deixando claro que a Educação é direito de todos, cabendo aqui a ressalva de que o educador está inserido neste contexto como parte essencial para promovê-la. Para Portela (2002) o direito à Educação consiste em uma dupla obrigação, sendo que caminha lado a lado o dever do Estado em promover condições para que esse direito se efetive, e a família no que se refere à obrigação em efetivar a presença das crianças na escola. Ao lado da família como base inicial e constante, a escola e o educador têm o dever de promover o desenvolvimento e capacitar os educandos para serem P ág in a2 8 28 cidadãos plenos. Um direito, na medida em que todo cidadão, a partir de tal declaração, tem o direito de acesso à educação. A dupla obrigatoriedade refere-se, de um lado, ao dever do Estado de garantir a efetivação de tal direito e, de outro, ao dever do pai ou responsável de provê-la, uma vez que passa a não fazer parte do seu arbítrio à opção de não levar o filho à escola. (OLIVEIRA, 2002, p. 15) Ou ainda nas palavras de Cury e Ferreira (2010), a efetivação da Educação como direito de todos e dever do Estado, Assim, a afirmação de que a educação é um direito de todos, somente pode ser entendida dentro do contexto atual, não mais como um enunciado de baixa efetividade social e jurídica, mas como uma regra que garanta concretamente, escola para todos. Decorre desta situação que a educação passou a ser vista tanto como um direito como um dever para com a administração pública e o cidadão. (CURY; FERREIRA, 2010, p. 39) Os Artigos seguintes da CF/88 descrevem com detalhes os meios pelo qual esse direito deve ser alcançado. Os princípios constitucionais são considerados os mais importantes de um país e servem de guia para a sociedade. No caso do Brasil não é diferente, a descrição do Direito à Educação promove ao mesmo tempo o direito do aluno estar na escola e direito do educador ter condições reais de cumprir com o seu dever. A partir de tais princípios o Estado desenvolveu outras leis para regulamentar o que foi proposto na CF/88. Dentre elas, e a mais importante para a educação, foi concretizada em 20 de dezembro de 1996, recebendo o nome de Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). A LDB tem como finalidade estabelecer um grande avanço para a educação brasileira discriminando como o próprio nome revela, fundamentos para que ocorra a continuação das diretrizes estabelecidas pelo legislador nos Artigos 205 a 214 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) – LEI 9.394/96 A Lei Federal 9.394, de 20 de dezembro de 1996, denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 23 de dezembro de 1996, na Seção I, páginas 27.833 a 27.841 e estabeleceu a P ág in a2 9 29 partir daquele momento rumos e fundamentos para a educação nacional. A LDB anterior era datada de 197110 não mais poderia ser utilizada uma vez que a Constituição Federal estabeleceu novos princípios para a educação brasileira em 1988. A LDB de 1996 prevê em seu Art. 2º, Art. 2º - A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996, 127) A LDB/96 estabelece em seu art. 2º um entrelaçamento do art. 5º com o art. 205, ambos da CF/88, definindo mais uma vez a responsabilidade e os propósitos para a educação brasileira. O dever do Estado e da família, os princípios de liberdade e solidariedade humana e, reproduzindo fielmente o art. 205 da CF/88, as finalidades da educação: pleno desenvolvimento humano preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. (OLIVEIRA, 2002, p. 38) Definidos os princípios e as finalidades da Educação Nacional podemos procurar dentro da própria legislação, que comanda e dá diretrizes para que educadores e dirigentes cumpram o que foi determinado e zelem pela aprendizagem dos alunos (Art.13, III da LDB), os temas relacionados à violência e à indisciplina, que tanto incomodam e atrapalham as ações educativas. Após uma detalhada investigação, verifica-se que nada é mencionado na LDB sobre as questões de violência e indisciplina na escola. Não que isso seja a única coisa que solucionaria os problemas da violência, mas o suporte proporcionado pela lei no que se refere às orientações e informações sobre os mais diversos assuntos, inclusive a violência são de suma importância para dar embasamento e sustentação para o trabalho da escola. É necessário, então, buscar na legislação vigente, outras orientações e mecanismos de enfrentamento no que se refere ao tema. Um desses mecanismos utilizados antes ainda da formulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação é o tão conhecido Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que estabelece normas no âmbito nacional com relação ao tratamento social e legal destinado às crianças e adolescentes. LEI N. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus, e dá outras providências. P ág in a3 0 30 Contudo, conhecida como a Lei do Novo Ensino Médio, a reforma da LDB introduzida pela Lei nº 13.415/2017 determinou o aumento da carga horária mínima dos estudantes, das atuais 800 horas para 1.000 horas anuais, será de apenas uma hora/aula por dia. A carga horária será dividida entre os componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e os itinerários formativos, incluindo a formação técnica e profissional, voltados ao mercado de trabalho (LOUZADA-SILVA, 2017). NOVO ENSINO MÉDIO (LEI Nº 13.415/2017) Em 2018, foi aprovada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio para orientar os currículos dos sistemas e redes de ensino dos estados e as propostas pedagógicas de escolas públicas e privadas em todo o Brasil. Anteriormente, as disciplinas obrigatórias nos três anos do ensino médio eram português,matemática, artes, educação física, filosofia e sociologia. Agora, com a alteração proposta pela Lei do Novo Ensino Médio, apenas as disciplinas de língua portuguesa e matemática são obrigatórias para os três anos do ensino médio (DA SILVA, 2017). As aprendizagens definidas na BNCC do Ensino Médio estão organizadas por áreas do conhecimento (Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas). Dessa forma, a outra parte do ensino, instituída com o aumento da carga horária, será complementada por um dos cinco itinerários formativos, uma espécie de especialização dentro de uma das áreas do conhecimento ou ensino técnico profissionalizante. Segundo o MEC, as e os estudantes poderão “escolher” em qual área querem aprofundar seus conhecimentos ao longo do ensino médio: linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias e ciências humanas e sociais aplicadas e formação técnica e profissional (LOUZADA-SILVA, 2017). ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) A Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente foi promulgada quase dois anos após a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988 e recebeu total influência marcante dos princípios e P ág in a3 1 31 garantias por ela estabelecidos. Diante de uma nova realidade exposta pela lei que entrara em vigor, deu-se inicio a uma série de questionamentos por parte dos professores e diretores sobre como proceder em relação a alunos que praticam atos de indisciplina na escola, assim entendidas aquelas condutas que, apesar de não caracterizarem crime ou contravenção penal, de qualquer modo tumultuam ou subvertem a ordem em sala de aula e/ou na escola. Tais questionamentos vêm acompanhados de críticas ao Estatuto da Criança e do Adolescente que teria retirado à autoridade dos professores em relação a seus alunos, impedindo a tomada de qualquer medida de caráter disciplinar para coibir abusos por estes praticados. O ECA procurou reforçar a ideia de que crianças e adolescentes também são sujeitos de direitos como todo cidadão, no mais puro espírito do artigo 5º, inciso I da Constituição Federal/88, que estabelece a igualdade de direitos e obrigações para homens e mulheres, independentemente de sua idade. Ressalte-se que o ECA não confere qualquer "imunidade" a crianças e adolescentes, que de modo algum estão autorizados, a livremente, violar direitos de outros cidadãos, até porque se existisse tal regra na legislação ordinária, seria ela inválida (ou mesmo considerada inexistente), por afronta à Constituição Federal que, como vimos, estabelece a igualdade de todos em direitos e deveres. No que concerne ao relacionamento professor-aluno, mais precisamente, o ECA foi extremamente conciso, tendo de maneira expressa estabelecido apenas que crianças e adolescentes têm o "direito de serem respeitados por seus educadores" (Art.53, inciso II). O direito ao respeito é um direito natural de todo ser humano, independentemente de sua idade, sexo, raça e condição social ou nacionalidade, sendo que no caso específico do Brasil é ainda garantido em diversas passagens da Constituição Federal, que coloca qualquer um de nós a salvo de abusos cometidos por outras pessoas e mesmo pelas autoridades públicas constituídas. Nas palavras de De Paula (1995): O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 53, inciso II, assegura o direito do aluno de ser respeitado por seus educadores. Isto decorre do direito ao respeito, mencionado no artigo 227 da Constituição Federal e definido no artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente. (DE PAULA, 1995, p. 100-101) P ág in a3 2 32 No mesmo texto De Paula (1995) menciona a necessidade do respeito mútuo, esclarecendo que é previsto em lei a necessidade de reciprocidade: Esclareça-se que o aluno também deve respeito aos diretores, professores e funcionários da escola. A conduta desrespeitosa poderá, até, configurar ato infracional12 que, consoante definição do ECA, corresponde a qualquer crime ou contravenção penal, como, por exemplo, injúria. (DE PAULA, 1995, p. 101) Seu objetivo é reforçar a idéia de que crianças e adolescentes, na condição de cidadãos, precisam ser respeitados em especial por aqueles encarregados da nobre missão de educá-los. Educação essa que obviamente não deve se restringir aos conteúdos curriculares, mas sim atingir toda amplitude do Art. 205 da Constituição Federal, notadamente no sentido do "pleno desenvolvimento da pessoa", da criança ou adolescente e seu "preparo para o exercício da cidadania", tendo sempre em mente que, no trato com crianças e adolescentes, devemos considerar sua "condição peculiar" de "pessoas em desenvolvimento" (art. 6º da Lei nº. 8.069/90). Essa mesma lei, portanto, estabelece todos os direitos de crianças e adolescentes adquiridos tão justamente, e também seus deveres que De Paula (1995) retrata muito bem, diretores e professores devem ser respeitados pelos alunos cabendo a qualquer momento a punição prevista no Art. 98 do ECA. Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III – em razão de sua conduta. (BRASIL, 1990, p. 923) É possível observar que a ação ou omissão da sociedade ou do Estado e a falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável implicam em responsabilização dos mesmos. Da mesma forma que a lei prevê a conduta indevida dos pais ou responsável prevê também que a conduta indevida praticada pela criança ou adolescente lhe causará Os chamados "atos infracionais" definidos no Art. 103 da Lei nº. 8069/90, que devem ser apurados pela autoridade policial e, em procedimento próprio P ág in a3 3 33 instaurado perante o Conselho Tutelar (no caso de crianças) ou Justiça da Infância e Juventude (no caso de adolescentes), podem resultar na aplicação de medidas específicas já relacionadas pelo mesmo Diploma Legal citado. (BRASIL, 1990, p. 923). Consequências, punições que vão desde a advertência até a internação em estabelecimento adequado. (Art. 112, I a VI do ECA) Também que a criança e o adolescente devem ser respeitados e ter os seus direitos garantidos, o professor também tem os seus direitos. A liberdade de expressão, o respeito, a publicidade em seus atos e práticas dentro e fora da sala de aula são garantidos pela mesma legislação. Quando Arroyo (2001) afirma que “O educador, como função social, deve dar conta do pleno desenvolvimento humano” (ARROYO, 2001, p. 46), podemos entender que este desenvolvimento que envolve diretamente os alunos também se estende ao seu próprio desenvolvimento. Quais seriam os sentimentos e valores externalizados por uma pessoa ameaçada, agredida e que convive com uma forma extrema de violência? A Constituição Federal de 1988 desencadeou todos esses direitos, deveres, obrigações e compromissos para todos os participantes do processo educativo. O Poder Executivo (Presidente da República, Governador e Prefeito), o Poder Legislativo (Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais) e o Poder Judiciário (Juízes, Promotores de Justiça e Tribunais) passaram a fazer parte desse processo, seja elaborando leis para a organização educação no país, nos seus estados ou municípios, seja utilizando bem os recursos destinados à educação e organizando o sistema educacional ou ainda fiscalizando e fazendo com que as leis sejam cumpridas. Na realidade, todos foram chamados para, obrigatoriamente colaborar com a Educação. Mas como considerar essa possibilidade com tantas dificuldadese falta de condições adequadas para o exercício de tais deveres? O Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal Brasileiro) estabelece condutas que fazem parte da sociedade brasileira estabelecendo em seu Artigo 1º: “ Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.” Partindo do princípio da anterioridade da lei prevista no Código Penal Brasileiro podemos indicar a presença das normas que P ág in a3 4 34 regem a convivência das pessoas na sociedade brasileira a partir de tais cominações legais. Os Artigos 121 e seguintes (Parte Especial do Código Penal Brasileiro) juntamente com as demais leis especiais prevêem quais condutas são consideradas crimes, ou atos em desacordo com a sociedade. (BRASIL, 1940, p. 439) Dentre tais atos podemos observar diversos casos de violência e indisciplina, tais como o atentado contra a vida de outrem: “Artigo 121 – Matar alguém”, a violência sexual prevista no Artigo 213, o assalto à mão armada previsto no Artigo 157 § 2º, o crime de dano: “Artigo 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia” ou o desacato à autoridade previsto 42 no artigo 331, todos previstos no Código Penal Brasileiro. (BRASIL, 1940, p. 443) A ocorrência de tais tipificações está ligada a uma série de fatores sociais e envolvem a necessidade da existência de normas que regulem a convivência em sociedade. A escola faz parte dessa sociedade e como tal também possui normas de conduta e convivência que colaboram com o andamento do processo educativo. Todos os membros desse processo estão sujeitos às normas, desde aquelas previstas na legislação federal e estadual, como vimos, como também nas administrativas, que prevendo situações do dia a dia como indisciplina, bem como aquelas previstas em lei como crimes e contravenções, e que devem ser respeitadas e seguidas por todos os integrantes do meio escolar, sempre à luz dos princípios constitucionais. Buscando, por conseguinte, as leis federais e estaduais que estabelecem quais são os casos de violência e indisciplina e não encontrando nada especificamente ligado ao ambiente escolar, partiremos para o âmbito administrativo, que poderá ao lado da legislação geral elucidar as necessidades existentes dentro da escola. A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PARA A SOLUÇÃO DE CONFLITOS Para Marcos Rolim (2006) a justiça retributiva existente no Brasil hoje, com foco no infrator e nos atos que cometeu revela um sistema voltado para a criminalidade, totalmente desvinculado das perdas decorrentes deste ato e P ág in a3 5 35 descartando os interesses e necessidades das vítimas. A justiça alternativa para solucionar tal problema, segundo Rolim (2006), seria a justiça restaurativa, com atenção ao dano causado pelo ato delituoso e os problemas que surgiram desse conflito. Mas o Brasil comporta tal sistema de solução de conflitos? É possível vislumbrar a legislação atual como base para a utilização da justiça restaurativa? A justiça restaurativa envolve uma série de sujeitos que, partindo das políticas públicas existentes, poderiam se valer de tais princípios como alternativa para a solução dos conflitos existentes nas mais diversas situações, inclusive nas escolas. A legislação brasileira estabelece uma série de dispositivos que permitem a utilização de meios alternativos para a solução de conflitos e a substituição de penas corporais por medidas alternativas. Dentre eles podemos citar o próprio ECA que, ao instituir a remissão no seu Artigo 126, como forma de aplicação de medidas socioeducativas aos adolescentes estabelece uma relação com a prática restaurativa, desde que com a aprovação das autoridades envolvidas no caso (Promotor e Juiz). Outro dispositivo legal brasileiro que possibilita a utilização de práticas restaurativas é a Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei 9.099/95). Criada em 26 de setembro de 1995 e, alterada pela Lei 10.259, de 12 de julho de 2001, a referida lei promove a possibilidade de “acordo” entre as partes envolvidas, ou seja, é possível evitar o processo criminal com a composição de uma forma alternativa de satisfação das partes, seja ela por intermédio de multa ou restrição de direitos. A medida alternativa está prevista nos Artigos 72 e seguintes da Lei 9.099/95 e estabelece que o promotor poderá, estabelecendo a materialidade e os indícios de autoria, formular proposta de aplicação imediata de pena alternativa. (JESUS, 2005). O Código Penal Brasileiro (BRASIL, 1940, p. 434), com as alterações sofridas desde então, estabelece em sua parte geral, assim como nas sanções previstas na parte especial, dedicada aos crimes e suas penas, possibilidades de aplicação de medidas que não refletem em prisão, tais como a prestação pecuniária (Art. 45,. § 1.º, do CP), que implica no pagamento de uma certa quantia estabelecida pela juiz, feita pelo acusado para a vítima. A prestação inominada, prevista no § 2.º do Artigo 45, quando a pena pecuniária é substituída pelo pagamento de cesta básica a instituições filantrópicas P ág in a3 6 36 ou por prestação de serviços à comunidade. Além de tais exemplos podemos citar como meios alternativos o Sursis, que é a suspensão condicional da pena mediante condições impostas ao autor (Art.78, § 2.º do CP) (BRASIL, 1940, p. 436) e os mecanismos utilizados no cumprimento das próprias penas de prisão, tais como o livramento condicional e a remição de penas devido ao trabalho efetivo dentro da prisão. Apesar de medidas que representam muito vagamente alternativas para a solução de conflitos no sistema jurídico, incipientes em se falando de efetividade, a possibilidade existente mais concreta para a utilização da justiça restaurativa ainda foi o advento da Lei 9.099/95, que, em compatibilidade com o Art. 98, I, da CF/88, que estabelece a possibilidade de conciliação em procedimento rápido e sem maiores formalidades burocráticas. (PINTO, 2005). Assim sendo, as experiências existentes nas escolas brasileiras no que se refere a tentativa de utilização de meios alternativos para a solução de conflitos está baseada e devidamente fundamentada nos preceitos legais. A justiça restaurativa estabelece princípios que merecem ser observados e discutidos. Os conflitos existentes e as graves consequências dos atos violentos que se instalam nas escolas indicam a necessidade de medidas que, efetivamente saiam da teoria e sejam aplicadas. Talvez o modelo restaurativo conhecido e aplicado em outros países não seja o ideal para os nossos problemas, porém, é preciso pensar em meios que atendam as necessidades para a realidade enfrentada pelos educadores no Brasil. A legislação federal estabelece os direitos e deveres existentes no que se refere à educação, já as questões voltadas para a violência e para a indisciplina na escola seria um tema difícil para o sentido tão amplo estabelecido nas leis maiores do nosso país. Assim cabe a legislação local, no nosso caso a legislação paulista criar meios para a utilização dos direitos e deveres estabelecidos na legislação federal. No caso da violência e a indisciplina dentro das escolas cabe a Secretaria de Educação propor e estabelecer normas que possibilitem esse enfrentamento. Dar condições para que as escolas possam efetivar uma forma real de utilização da lei para atender as necessidades. As leis são o suporte, uma garantia favorável para a P ág in a3 7 37 aplicação de ações restaurativas que podem ser aplicadas. A somatória de ações restaurativas e legislação em vigor voltada para possibilidade utilização nas escolas podem contribuir para a realização de medidas adequadas na solução dos conflitos e demais problemas existentes sistema educacional. O PAPEL DO INSPETOR ESCOLAR NO PROCESSO DEMOCRÁTICO A Inspeção Escolar está ligada a vários fatores que contribuem com
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