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O-INSPETOR-ESCOLAR-ORIENTADOR-NO-ENSINO-E-NO-COMBATE-À-INDISCIPLINA-ESCOLAR-3

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O INSPETOR ESCOLAR: ORIENTADOR NO ENSINO E 
NO COMBATE À INDISCIPLINA ESCOLAR 
 
 
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Sumário 
NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 3 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 
BREVÍSSIMA HISTÓRIA DA INSPEÇÃO ESCOLAR ................................................ 6 
QUEM É, AFINAL, O INSPETOR ESCOLAR? .......................................................... 8 
ELEMENTOS HISTÓRICOS E EDUCAÇÃO DE QUALIDADE ................................ 13 
SUBSÍDIOS EM UMA SOCIEDADE MODERNA E TECNOLÓGICA ....................... 16 
DEMOCRATIZAÇÃO E ADEQUAÇÕES EDUCACIONAIS ..................................... 20 
VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA NA ESCOLA: LEGISLAÇÃO PERTINENTE ........... 25 
A EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1989 ....................................... 26 
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) – LEI 9.394/96 ................. 28 
NOVO ENSINO MÉDIO (LEI Nº 13.415/2017) .......................................................... 30 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) ....................................... 30 
A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PARA A SOLUÇÃO DE CONFLITOS ................... 34 
O PAPEL DO INSPETOR ESCOLAR NO PROCESSO DEMOCRÁTICO ............... 37 
FORMAÇÃO DO INSPETOR ESCOLAR ................................................................. 39 
CAUSAS DO COMPORTAMENTO INDISCIPLINAR ............................................... 44 
É POSSÍVEL ENCONTRAR SOLUÇÕES? .............................................................. 47 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50 
 
 
 
 
 
 
 
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NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação 
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade 
oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos 
que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, 
de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
Bedel, inspetor escolar, monitor de alunos, orientador de alunos, agente 
escolar, muitas são as designações para tratarmos o inspetor escolar. Neste estudo, 
ele terá o nome inspetor de alunos, por um enorme respeito, além de ser o mais 
usual e correto. 
Desde o século XIX até a atualidade, todos os brasileiros que já foram 
estudantes, seja em escolas particulares ou em escolas públicas, conheceram a 
figura do inspetor de alunos. 
A literatura brasileira o descreve em O Ateneu, de Raul Pompéia, obra 
publicada em1888: João Numa, inspetor ou bedel, baixote, barrigudo, de óculos 
escuros, movendo-se com vivacidade de bácoro alegre, veio achar-me indeciso, à 
escada do pátio. “Não desce, a brincar?” perguntou bondosamente. “Vamos, desça, 
vá com os outros.” O amável bácoro tomou-me pela mão e descemos juntos 
(POMPÉIA, 1996, p. 12). A cena descrita acima apresenta um inspetor atencioso e 
gentil, mas o compara a um leitão alegre, o que o ridiculariza. Se refletirmos acerca 
desse trecho, percebemos que, para que tenha dado conta de que o protagonista da 
história estava parado na escada, João Numa estava vigilante. E parece ser 
exatamente a vigilância ao aluno a principal atribuição desse profissional. 
No entanto, Cícero Alvernaz (2011), inspetor de alunos, em um depoimento à 
revista Ultimato, afirma que esse profissional, na atualidade, tem múltiplas funções e 
é considerado “pau para toda obra” dentro da escola, mas que seu trabalho é pouco 
reconhecido. Essa falta de reconhecimento também é uma de nossas 
preocupações. Ouve-se falar de inspetores de alunos, no Brasil, desde os tempos 
coloniais. 
A maioria da busca bibliográfica nos levou a textos sobre um profissional que 
hoje é conhecido como supervisor de ensino e cujas atribuições envolvem o trabalho 
em várias escolas, e não ao profissional que atua em uma escola. Essa confusão 
entre o inspetor de alunos e o inspetor de ensino (supervisor) é bastante antiga. 
Quando lemos o Ratio Studiorum, documento que organiza a educação 
jesuítica (RATIUM, 2017), percebemos que havia um prefeito geral, cuja função era 
de ser “instrumento geral do Reitor [e] organizar os estudos, orientar e dirigir as 
 
 
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aulas” e prefeitos de estudos inferiores e disciplina. Cremos que estes últimos 
desempenhavam o papel que se aproxima dos inspetores de alunos da atualidade, 
pois além de auxiliar o Reitor (espécie de diretor da instituição de ensino), eram 
subordinados aos prefeitos gerais e deviam acompanhar e auxiliar também os 
professores. 
Afirmam Leandra Paulista de Carvalho e Silma do Carmo Nunes (2011) que 
“O Inspetor Escolar foi, e ainda é, uma forma de expressão política que se confunde 
com o conceito de supervisão”. Fato é que há muita confusão entre o que 
chamamos de inspetor de ensino – o atual supervisor – e o inspetor escolar ou de 
alunos. Sobre este, a bibliografia é escassa. Essa escassez foi, para nós, uma 
surpresa que aguçou ainda mais a nossa vontade de pesquisar esse tema. Afinal, é 
a nossa profissão e, na escola, é uma função muito requisitada e importante para o 
bom andamento da instituição. 
Então por que essa profissão não tem história? Seria a função de inspetor de 
alunos tão insignificante assim? Nem todas as respostas foram encontradas. Porém, 
cremos que uma luz foi lançada sobre a história e a importância do inspetor de 
alunos, figura de que trata esta pesquisa, que foi estruturada em três capítulos. O 
primeiro deles discorre sobre a trajetória histórica desse profissional, no Brasil, 
desde o período da educação jesuítica e seu Ratio Studiorum, base comum de seu 
ensino em todo o mundo desde 1599, ano em que foi concluída, até os dias de hoje, 
em que nossa educação é regida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional (LDB). 
Por fim, conhecida como a Lei do Novo Ensino Médio, a reforma da LDB 
introduzida pela Lei nº 13.415/2017 determinou o aumento da carga horária mínima 
dos estudantes, das atuais 800 horas para 1.000 horas anuais, será de apenas uma 
hora/aula por dia. A carga horária será dividida entre os componentes curriculares 
da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e os itinerários formativos, incluindo a 
formação técnica e profissional, voltados ao mercado de trabalho (LOUZADA-SILVA, 
2017). 
 
 
 
 
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BREVÍSSIMA HISTÓRIA DA INSPEÇÃO ESCOLAR 
O Ratio Studiorum, base comum do ensino jesuítico em todo o mundo, entrou 
em vigor em todos os colégios da Companhia de Jesus, inclusive no Brasil, em 
1599, ano em que ficou pronto. Apresentou dois tipos do que hoje podemos chamar 
de inspetores escolares: um voltado aos estudos inferiores e outro, à disciplina. 
O texto do Ratio não explica se o prefeito de estudos inferiores também cuida 
da disciplina, e, por omissão, dá a entender que esse prefeitopoderia acumular as 
duas funções: No caso em que, pela extensão e variedade do trabalho escolar, não 
bastar um Prefeito para a direção de todas as aulas, poderá o Provincial nomear 
outro que, sob as ordens do Prefeito Geral, cuidará dos estudos inferiores; e ainda, 
se o exigirem as circunstâncias, um terceiro, incumbido da disciplina (RATIO, 2017). 
O que se verifica é que a figura do inspetor de alunos, mesmo com uma 
nomenclatura diversa existe, no Brasil, desde quando as primeiras escolas foram 
aqui implantadas. E que sua função se relacionava a alguma forma de controle. 
Dentre as 50 atribuições do prefeito de estudos inferiores, encontram-se a 
obrigação de ajudar o Reitor junto aos alunos; o acompanhamento e a ajuda aos 
professores, bem como a fiscalização de suas aulas; determinação dos lugares dos 
alunos em sala de aula e em filas, bem como os horários de estudos privados; 
nomear censores (que vigiem os colegas) e corretores (que punam os colegas) para 
as salas de aula; vigiar a entrada e a saída tanto das aulas como das missas; cuidar 
da ordem nos pátios: Nos pátios e nas aulas [...] não se tolerem armas, ociosidade, 
correrias e gritos, nem tampouco se permitam juramentos, agressões por palavras 
ou fatos; ou o que quer que seja de desonesto ou leviano. Se algo acontecer, 
restabeleça logo a ordem e trate com o Reitor do que possa perturbar e 
tranquilidade do pátio (RATIO, 2017). 
Vê-se que a inspeção escolar é, no Brasil, uma profissão quase tão antiga 
quanto o próprio país. Sua história anda passo a passo com a evolução da 
educação (ABREU, 2012). Ao longo dessa história, recebeu várias denominações, 
muitas das quais ainda hoje são usadas, como bedel (nomenclatura dada aos 
inspetores de alunos no Centro Universitário Hermínio Ometto, conhecido como 
UNIARARAS, na cidade de Araras, a 20 km de Rio Claro, SP). 
 
 
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No ano de 1799 teve início a fiscalização das aulas régias, atividade de 
inspeção que efetuada por um professor de confiança do vice-rei. “O trabalho do 
inspetor nessa época era de fiscalizar o funcionamento das escolas, os métodos de 
ensino, o comportamento dos professores e o aproveitamento dos alunos” (ABREU, 
2012). 
No final do século XIX, com a reforma de Afonso Pena, os inspetores 
passaram a ser nomeados por concurso. A Inspetoria Geral de Instrução pública foi 
criada em 1927 e determinou que a fiscalização do ensino elementar (hoje 
Fundamental I) fosse realizada por inspetores municipais e a das instituições de 
ensino médio e superior, pelo governo federal. 
Durante o Estado Novo, a legislação, administração e fiscalização do sistema 
de ensino foram assumidas pelos estados. [...] a supervisão, embora já estivesse 
presente em “comunidades primitivas” em que a educação ocorria de forma difusa e 
indiferenciada com uma vigilância discreta, transformada em uma forma de controle, 
de conformação, de fiscalização e de coerção expressa, no Estado Novo, com a 
nomenclatura de inspeção escolar, se apresenta como uma reconfiguração desta 
forma de controle (ABREU, 2012). O que foi relatado até aqui se refere ao que a Lei 
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, passou a tratar, em 
seu artigo 64, como um “profissional de educação para [...] supervisão [...] para a 
educação básica” (BRASIL, 2014), cuja formação deve ser realizada em cursos de 
graduação em pedagogia ou em cursos de pós-graduação. No entanto, esse 
profissional do qual a LDB fala não é o inspetor sobre o qual queremos falar neste 
estudo. 
O inspetor ao qual nos referimos não tem como requisito para o trabalho 
nenhuma formação em nível de graduação, nem em nível de pós-graduação. 
Voltando à LDB, vemos que essa lei também relata sobre um outro tipo de 
profissional da educação, que poderíamos pensar ser o inspetor escolar ao qual nos 
referimos neste estudo. Porém, na lei, trata-se do profissional portador de diploma 
de curso técnico em área pedagógica ou afim, a que se refere o artigo 61 da LDB, 
em seu inciso III (alterado pela Lei 12.014/2009)1. Acontece que já não temos 
 
1 A Lei 12.014/2009 alterou art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional), com a finalidade de discriminar as categorias de trabalhadores que se devem considerar 
profissionais da educação. 
 
 
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nenhum curso técnico em área pedagógica (como havia, até algumas décadas atrás 
o curso normal), mas apenas o ensino médio. Dessa forma, o profissional da 
educação ao qual nos referimos simplesmente não existe como formador, como 
gerador de informação e formação e também não há investimento na sua formação 
por parte das políticas públicas educacionais. 
 
QUEM É, AFINAL, O INSPETOR ESCOLAR? 
De acordo com Catarina Iavelberg (2011), o inspetor escolar “é um dos 
profissionais mais atuantes na esfera educacional. Ele transita por toda a escola, em 
geral conhece os alunos pelo nome e é um dos primeiros a serem procurados 
quando há algum problema que precisa ser solucionado rapidamente”. 
Alvernaz (2011) afirma que o trabalho do inspetor “não se limita apenas a 
olhar os alunos [...] A sua função se multiplica na medida em que aparecem as 
necessidades dentro do contexto administrativo, educacional e disciplinar da 
Unidade Escolar”. Ivana Veraldo (2011) afirma ser, o inspetor de alunos, um 
Profissional cuja função é vital na escola. 
É ele quem orienta os alunos quanto às normas da unidade escolar, organiza 
a saída e a entrada dos alunos, zela pela disciplina dentro e fora das salas de aula, 
monitora o deslocamento e a permanência dos alunos nos corredores, zela pelo 
cumprimento do horário das aulas e demais rotinas escolares. 
É possível que por ter essas atribuições continue-se a acreditar que os alunos 
precisam ser continuamente vigiados e, assim, perpetuam-se os princípios e regras 
existentes no século XVIII apontados por Foucault (1987), quando examinamos as 
atribuições do agente escolar, a saber, o princípio da clausura e as regras de 
localizações funcionais: Infelizmente, muitos diretores entendem que quem atua 
nessa função deve apenas controlar os espaços coletivos para impedir a ocorrência 
de agressões, depredações e furtos, vigiar grupos de alunos, observar 
comportamentos suspeitos e até mesmo revistar armários e mochilas. Esse tipo de 
controle, além de perigoso - pois os conflitos abafados por ações repressoras 
acabam se manifestando com mais violência - , contribui para reforçar a 
desconfiança entre a instituição e os estudantes. E uma relação fundada na 
 
 
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insegurança fragiliza a construção de valores democráticos, que deveria ser um dos 
objetivos de todas as escolas. (IAVELBERG, 2011). 
Muitas vezes a impressão que o inspetor de alunos passa é de que é o chato 
que esta ali somente para manter a ordem, para dar bronca e levar para a diretoria. 
Na verdade, cremos que as atribuições dos inspetores concentram-se basicamente 
no aluno: cuidados e prevenção de pequenos acidentes, zelar pelo bem estar dos 
alunos principalmente nos intervalos das aulas, momentos em que estão sob total 
responsabilidade do inspetor, socorrer e prestar atendimento básico de primeiros 
socorros como limpar um machucado e fazer um curativo, passar uma pomada em 
picadas de insetos, acalmar o aluno quando o mesmo encontra-se chorando, dar 
conselhos, etc. Ser um inspetor de alunos, acreditamos, é estar constantemente em 
alerta. 
Quando uma criança se machuca, cai, leva uma pedrada, bate com a cabeça, 
bate em outro colega ou sofre qualquer outro tipo de acidente, a responsabilidade 
recai sobre o inspetor que estava responsável por cuidar daquele perímetro. Quando 
ocorre um acidente, o primeiro questionamento é: “Quem estava como responsável 
naquela área?” E depois: “O que aconteceu, quando, como e por quê?” Geralmentesabemos explicar o que houve, mas tem casos que não presenciamos, que não 
vimos como aconteceu. Nesses casos, somos repreendidos por não termos 
presenciado a cena e aconselhados a prestar mais atenção. Ser repreendido pelo 
superior traz certo desconforto. Não presenciar um acidente faz com que nos 
sintamos incompetentes, e uma sensação de pânico e culpa recai sobre nós. 
Com a prática vamos ficando mais alertas com relação a pequenos acidentes 
e, geralmente, evitando-os. No entanto, há vezes em que o aluno se machuca bem 
na sua frente e não há nada que se possa fazer para evitar. Por isso, também temos 
medo do que pode vir a acontecer, as consequências do ocorrido e a acusação de 
alguns pais por negligência, mesmo sabendo que não houve negligência de nossa 
parte, tanto nos casos em que o aluno se machuca, como quando chamamos sua 
atenção por algo inconveniente que está fazendo (brigas, xingamentos, etc.). 
Às vezes subestimamos a inteligência de certos alunos, sua capacidade de 
persuasão, de mentir, e somos penalizados por isso. Mas ser inspetor parece ser 
isso mesmo: E lá vai o inspetor de alunos separar mais uma briga - e provavelmente 
 
 
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ganhará mais alguns hematomas e será xingado e ameaçado por gangues rivais 
que muitas vezes agem dentro das escolas. (ALVERNAZ, 2011). Apesar disso, 
sempre tentamos de tudo para solucionar os problemas referentes aos alunos, mas, 
mesmo assim, eu me sinto impotente diante de uma criança chorando de dor de 
ouvido, dor de dente ou com falta de ar. 
É desesperador não poder fazer nada a respeito, a não ser tentar entrar em 
contato com os pais, muitas vezes sem sucesso. Já passamos metade do dia 
tentando entrar em contato com os pais ou responsáveis de crianças enquanto ela 
chora e sofre por horas. Há também momentos em que não conseguimos entrar em 
contato com os pais e a criança está com febre alta. Não podemos medicar 
nenhuma criança sem receituário médico e autorização dos pais. Assim, a única 
forma de remediar é levar essa criança para tomar um banho pra abaixar a 
temperatura, enquanto tentamos entrar em contato com os responsáveis. Já 
aconteceu de uma criança ter uma reação alérgica por picada de abelha e outra, por 
alimento que não podia comer, mas não foi comunicado à escola. Nesses casos, o 
desespero é maior, principalmente quando tentamos ligar em vários números de 
telefone e celular disponíveis e não conseguimos falar com os pais. Sabendo da 
urgência de um atendimento especializado, acabamos por acompanhar as crianças 
ao pronto socorro, mesmo sem conseguir falar com seus responsáveis. Ser inspetor, 
a nosso ver, é ser maleável e produtivo. 
Como afirma Alvernaz (2011), é ser “um pau pra toda obra”, pois se acaba 
fazendo de quase tudo um pouco, na escola. É estar um passo à frente dos 
acontecimentos e fazer o que é solicitado, seja cobrir alguém na secretaria, atender 
telefone, ajudar na cozinha, fazer rematrícula entre outras tarefas. Como o inspetor 
de alunos geralmente fica atento aos corredores, e pátios acaba por atentar também 
aos acontecimentos de outros setores. Isso permite aos inspetores saber quase tudo 
o que acontece dentro da escola, facilitando a ajuda a outros setores. 
Catarina Iavelberg (2011) corrobora essa afirmação, dizendo que os 
inspetores de alunos, [...] são capazes de trazer informações importantes sobre a 
convivência entre os alunos que poderão ser objeto de análise para que o orientador 
educacional, juntamente com o diretor e a equipe docente, planeje e execute 
intervenções. Porém, por atuarmos eventualmente em funções que não são nossas, 
alguns gestores acabam por abusar da nossa boa vontade. Somos subordinados 
 
 
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aos nossos chefes imediatos, que são os diretores e vice-diretores. Por isso, sempre 
que a gestão pede para fazermos algo, geralmente não questionamos e fazemos. 
Inspetores Educadores Diz Iavelberg (2011) que como profissionais que 
atuam na educação, os inspetores de alunos, qualquer que seja sua nomenclatura, 
são também educadores. E precisam de uma formação consistente para que 
consigam dar conta de interagir com os alunos nos diversos espaços da escola 
(quadras, pátio, corredores, cantina, sanitários, etc.). Essa formação, afirma 
Iavelberg (2011) deve partir da equipe gestora. 
Lavelberg (2011) afirma que a equipe gestora deve capacitar os inspetores de 
alunos a examinar as relações interpessoais, analisando o comportamento de 
grupos de alunos, os lugares que ocupam as brincadeiras e os jogos que preferem; 
reconhecendo as lideranças e os que se submetem a elas; acompanhando o 
processo de adaptação dos alunos novos, etc. Além disso, para a autora, [...] é 
imprescindível que a formação contemple também o aprendizado sobre como agir 
em momentos de conflito. 
Os monitores contribuem para evitar brigas quando atuam com ética e 
promovem ações educacionais para ajudar as crianças a lidar com as divergências e 
os desentendimentos (IAVELBERG, 2011). Ainda é Iavelberg (2011) que afirma que 
os inspetores de alunos precisam conhecer bem o Projeto Político-Pedagógico da 
escola, pois isso os fará sentirem-se, verdadeiramente, [...] parceiros na Educação 
dos alunos e atuarão como tal. Para tanto, devem ser convidados a participar das 
reuniões de planejamento e das decisões que envolvem toda a equipe. Ao mesmo 
tempo, os encontros deles com a equipe de direção podem entrar na rotina, pois 
assim se cria um canal de comunicação em que eles se sintam seguros para expor 
as dúvidas, explicitar as incertezas e discutir os acontecimentos (IAVELBERG, 
2011). 
Acreditamos que só conseguimos compreender a importância de nosso cargo 
depois de ingressar na faculdade de Pedagogia e compreender que há uma equipe 
escolar, toda composta por trabalhadores da Educação, desde o diretor (cargo 
máximo na escola), até os funcionários da cozinha e da limpeza, quase sempre, 
erroneamente a nosso ver, considerados “inferiores”. Tal hierarquia existe em todos 
os setores, não somente na educação, e é decorrente de estudos para a definição 
 
 
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de salários: Segundo Chiavenato (2006, p. [267-] 305), “a avaliação de cargos visa a 
obtenção de dados que permitirão uma conclusão acerca do valor interno relativo de 
cada cargo [...] o escalonamento simples consiste em dispor os cargos em um rol 
crescente ou decrescente em relação a um critério escolhido que funciona como 
padrão de comparação”. Esse critério pode ser em termos de escolaridade, 
complexidade, responsabilidades, dentre outros (SEPI, 2017). 
Então pudemos compreender o que Iavelberg (2011) afirma sobre o inspetor 
de aluno: que ele é, verdadeiramente, um educador. Porém, as capacidades que 
afloraram também nos permitiram questionar: Por que há tanto descaso para com a 
profissão de inspetor de alunos? Parece-nos que grande parte das pessoas pensa 
que o inspetor de alunos é o desqualificado qualquer que não faz nada! Exercemos 
uma profissão pouco valorizada e incompreendida pela maior parte da escola. 
Geralmente estamos parados e, por isso, nosso trabalho confunde-se com a 
ociosidade. E colegas que trabalham em outros setores, professores e alunos, 
acabam nos julgando e tiram suas conclusões, sem conhecimento de causa. 
Quantos comentários maldosos já escutamos: “Eu deveria ter prestado concurso pra 
inspetor de alunos, não faz nada!” “Que vida boa, hein? Desse jeito quero ser 
inspetor também!” Apesar de suas múltiplas funções, ele é apenas o inspetor de 
alunos: - uma pessoa muitas vezes pouco compreendida e até odiada em muitas 
ocasiões. Quando há aumento de salários ele sequer é mencionado, afinal ele é só 
um serviçal [...] um funcionário sem qualificações, [...] apenas uma peça a mais 
nesta engrenagem complexa que é a Educação Pública (ALVERNAZ, 2011). 
Indignava-nos sermos chamados de ociosos ou “quebra-galho” quando, na verdade,somos, conforme afirma Alvernaz (2011), uma das figuras mais importantes dentro 
da escola. 
Um ser humano pode conhecer muitas coisas, pode dominar, num relance, 
uma área imensa de conhecimentos, e pode ignorar completamente outras tantas 
áreas das quais depende a compreensão daquela que ele conscientemente abarca 
(CARVALHO, 2013). 
A violência recrudesceu muito e todos têm que se dar as mãos para manter 
um mínimo de harmonia e educação nas escolas públicas” (ALVERNAZ, 2011). Com 
as mudanças na educação e a proposta de uma gestão democrática, o inspetor de 
 
 
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alunos pode colocar suas ideias e transformá-las em ações que visem favorecer 
toda a comunidade escolar. Dessa forma, adota posturas que contribuam para o 
desenvolvimento dos alunos e com a qualidade das instituições escolares. 
Hoje, o inspetor de alunos não é um mero fiscal e tem mais autonomia, 
unindo-se aos demais profissionais da educação, de modo a contribuir com o 
desenvolvimento do processo pedagógico. Para isso, trabalha valores éticos e 
morais, visando a transformação da sociedade em longo prazo. Porém, numa 
escola, ninguém faz nada sozinho. Como já vimos, o inspetor de alunos, por estar 
atento a tudo o que se passa no interior da instituição, pode auxiliar os outros 
setores. Iavelberg (2011) sugere que o inspetor participe das reuniões de 
planejamento e das decisões que envolvem a equipe escolar, onde poderá colocar 
suas ideias e dúvidas. 
Silva (2016) também concorda que o inspetor de alunos precisa fazer parte, 
efetivamente, da equipe escolar, pois ele é o elemento mobilizador que podem 
auxiliar no planejamento e na contextualização de modo que se construa, 
coletivamente, “um currículo que contemple diferentes tipos de atividades, entre elas 
excursões, jogos, festivais, exposições, nas quais o aluno [...] é percebido como um 
sujeito ativo no processo de construção de conhecimentos” (SILVA, 2016). 
 
ELEMENTOS HISTÓRICOS E EDUCAÇÃO DE QUALIDADE 
Entende-se que cada profissão tem a sua dimensão histórica, e conforme a 
sua trajetória ao longo do tempo e em cada época, a sua importância política, 
econômica e social. Para entendermos na atualidade o contexto social, é preciso 
conhecer o passado para compreender o presente e os seus paradigmas em 
discussão. 
Um dos paradigmas relaciona-se ao enfado burocrático da função, como 
podemos constatar, de acordo com Augusto (2010, p. 227) "o papel primordial 
desempenhado pelos inspetores, em Minas Gerais, nos dias atuais, atém-se à 
verificação da regularidade do funcionamento das escolas e da sua legalidade. Os 
inspetores se veem assoberbados de ações ligadas à fiscalização das ações legais.” 
 
 
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Verifica-se que a Inspeção Escolar é uma função antiga que surge 
mundialmente com a laicidade da educação, ou seja, a separação das igrejas do 
Estado. Em cada localidade o inspetor tinha sua peculiaridade, variando de acordo 
com a situação social, as políticas públicas e econômicas de cada época, como 
também as implicações de suas atribuições para fiscalizar, verificar, analisar, 
controlar etc. 
A dinâmica educacional e a forma como a escola é gerida são fatores que 
influenciam diretamente a qualidade e a eficácia do trabalho docente. Contudo, será 
discutida a importância do inspetor nesse processo de qualidade da educação, de 
acordo com o conceito a seguir: 
O uso da palavra qualidade no contexto educacional remete diretamente aos 
fins da educação. No sentido absoluto, uma educação de qualidade seria, portanto, 
uma educação que cumpre com os seus objetivos. Aqui, a qualidade (boa) significa 
eficiência, meios adequados para atingir fins (GUSMÃO, 2013, p. 301). 
Excepcionalmente, desde o Brasil Colônia o inspetor era uma figura que 
atendia as exigências do poder e, posteriormente, do Estado de poder. Como a 
maioria da população pobre não tinha acesso às escolas, a preocupação era manter 
o domínio do que acontecia dentro delas, e verticalmente as regras sendo impostas. 
Nesse sentido, é importante ressaltar que o conceito de qualidade da educação está 
totalmente desvinculado do que seja ensino e aprendizado de qualidade, conforme 
Gusmão (2013), no contexto acima. 
No Brasil uma parte da história do inspetor desenvolveu-se conforme descrito 
por Augusto: [...] em 1799 o serviço de inspeção era realizado por um professor de 
confiança do vice-rei, eram as aulas régias [...] eram verificados o funcionamento 
das escolas, os métodos de ensino, o comportamento dos professores e o 
aproveitamento dos alunos de 1759 a 1808, surge a escola leiga, ao lado da 
religiosa, [...]. Em 1892, ano da reforma Afonso Pena, são nomeados os inspetores 
ambulantes, por concurso. Esses deveriam se manter na proposta republicana, e 
sob a sua responsabilidade ficava a concessão ou a suspensão do dinheiro público 
para as escolas, bem como o recenseamento escolar. 
O Brasil, então província, foi dividido em dez circunscrições escolares, e os 
Inspetores Ambulantes atendiam as escolas nos municípios. Em 1906, com a 
 
 
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Reforma João Pinheiro, o Brasil foi dividido em 40 circunscrições. A inspeção 
administrativa era competência dos inspetores escolares municipais, que não eram 
remunerados para a função. 
A inspeção técnica era exercida pelos inspetores ambulantes, remunerados 
pelo governo. Em 1927, no governo de Antônio Carlos, com a reforma Francisco 
Campos, foi criada a Inspetoria Geral de Instrução Pública, atuando junto ao 
Conselho Superior de Instrução. 
O ensino elementar, antigo primário era fiscalizado pelos inspetores 
municipais. De 1930 a 1961, todos os estabelecimentos de ensino médio e superior, 
ficam sujeitos à inspeção federal (AUGUSTO, 2010, p.76-77). 
No que tange à historicidade da inspeção, constatamos seu papel fiscalizador, 
vistoriador, refletindo o interesse minoritário na educação. Contribuindo assim, na 
efetivação das regulamentações e vistorias para o sistema que se implantava. 
O Inspetor Escolar promove a aplicação e regularização dos aspectos legais 
que orientam os agentes educacionais no cumprimento da democratização da 
Educação. Contudo, sua ação não se remete a um papel fiscalizador, mas vai muito 
além. Suas ações implicam na interpretação legal, como forma de coordenar o 
contexto educacional nas unidades escolares: aspectos administrativos, financeiros 
e pedagógicos no exercício das práticas de ensino-aprendizagem promovendo 
qualidade da educação. 
A profissão de Inspeção Escolar é regulamentada através do Decreto n. 
19.890 de 18 de abril de 1931, em seu artigo 51 e Decreto n. 21.241 de 4 de maio 
de 1932, artigo 63 a 86. Augusto (2010), afirma que com o decreto outras atribuições 
vão sendo inseridas na função desse profissional. A importância de elementos antes 
não preconizados, agora é levada em consideração, como assiduidade, 
desempenho dos professores e sugestões sobre providências a serem tomadas pelo 
Departamento Nacional de Ensino. 
A partir de então podemos constatar que ao Inspetor era atribuída a 
importante missão de verificar e relatar sobre a qualidade do ensino. Partimos do 
pressuposto que nessa época esse conceito não era abrangente como na sociedade 
atual. 
 
 
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A educação de qualidade visa à emancipação dos sujeitos sociais e não 
guarda em si mesma um conjunto de critérios que a delimite. É a partir da 
concepção de mundo, sociedade e educação que a escola procura desenvolver 
conhecimentos, habilidades e atitudes para encaminhar a forma pela qual o 
indivíduo vai se relacionar com a sociedade, com a natureza e consigo mesmo. A 
“educação de qualidade” é aquela que contribui com a formação dos estudantes nos 
aspectos culturais, antropológicos, econômicos e políticos, para o desempenho de 
seu papel de cidadão no mundo, tornando-se, assim, uma qualidade referenciada no 
social.Nesse sentido, o ensino de qualidade está intimamente ligado à 
transformação da realidade (CONAE, 2013, p. 58 apud SOUSA, 2014, p.413). 
A qualidade da educação está intimamente associada ao conjunto sistêmico 
educacional. A inspeção é uma atividade profissional que necessita ser inovada, 
renovada, no alcance de objetivos mais significativos, idealizadores. Num sentido 
mais pertinente, um conjunto de ações ou intenções almejadas na carreira do 
inspetor que defina um patamar mais elevado e independente de ações no ambiente 
interescolar. 
“A conceituação e o dimensionamento da qualidade da educação escolar se 
constituem num complexo problema político e pedagógico, pois concentram leituras 
da sociedade, da escola e das relações que entre elas se estabelecem” 
(ALAVARSE; BRAVO; MACHADO, 2013, p. 19). Portanto, a ineficácia do inspetor 
em suas ações, remete a problemas futuros, tanto para o ensino, quanto para o 
funcionamento da escola. 
É importante investigar alguns fatores que diretamente influenciam as 
atribuições e ações da inspeção, em se tratando da efetivação e cumprimento de 
sua postura diante da realidade da comunidade escolar. Serão tratados, na próxima 
seção, alguns aspectos norteadores da função do inspetor, visando mensurar suas 
atribuições na sociedade capitalista, globalizada e democrática. 
 
SUBSÍDIOS EM UMA SOCIEDADE MODERNA E TECNOLÓGICA 
No cenário mundial contemporâneo há uma grande evolução tecnológica, 
marcada pelo avanço das Novas Tecnologias da Informação (TIC). Portanto, uma 
 
 
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emergente mudança com o capitalismo e a globalização, logo, as informações são 
processadas aceleradamente, muitas vezes em tempo real. 
A sociedade pós-moderna acentua-se em suas características, num patamar 
movido pela sociedade capitalista de globalização emergente. A conquista 
econômica, política, social e cultural é desencadeada como forma de manter o 
domínio das grandes forças de poder contemporâneas. Marcada pelo 
desenvolvimento das tecnologias nas áreas da ciência, arte e principalmente de 
comunicação, o sujeito social e cultural, sofre grande influência das mídias 
eletrônicas. 
Uma performance de consumo é inculcada na mente das pessoas que, 
naturalmente, assimilam comportamentos na objetivação da expressão pessoal 
consumista. 
Consequentemente, a futilidade e polarização social vão culminando na 
emancipação do indivíduo, instalando um narcisismo cultural, um relativismo, uma 
indiferença, uma intelectualidade indeterminada, uma fragmentação, imediatismos 
de ações e informações, uma inversão dos valores. 
A contemporaneidade submete a vida social e cultural a condições adversas 
na produção do conhecimento. Nas instituições de ensino, as implicações na 
produção do saber científico intelectual induzem o Sistema Educacional a tomar 
novas decisões e novos formatos para atender a exigências da nova ordem mundial. 
Logo, a educação vai sendo direcionada a assumir papéis diferentes no exercício de 
sua função e na formação social e cultural do sujeito, pois o conhecimento é força de 
produção que abastece a sociedade capitalista na era da informação. Vale salientar 
que a velocidade das informações tem transformado a forma como os indivíduos 
adquirem conhecimento e, que o mesmo precisa ser selecionado e bem tolhido; eis 
mais um desafio para a educação em conscientizar e formar um cidadão bem 
estruturado reflexiva e criticamente. 
 
 
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Em 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o inspetor escolar é 
apresentado como um profissional da Educação e são regulamentadas suas 
atribuições no artigo 642. 
A formação de profissionais da educação para administração, planejamento, 
inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita 
em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da 
instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional (BRASIL, 
1996, p. 21). 
A significativa construção para o desenvolvimento da educação e seu 
processo de democratização no que tange ao fator ideológico, tem no inspetor 
escolar um papel social fundamental. Pois, é o elo entre a escola e o sistema 
regulador que representa a ação do Estado e a aplicação das leis, ou seja, é ele 
quem zela pela qualidade educacional. Entretanto, os desafios enfrentados são uma 
constante, e o distanciamento da ação pedagógica vai resumindo-se a ações mais 
burocráticas. 
[...] a sua função seria estratégica à melhoria dos resultados escolares. O 
cotidiano de trabalho da inspeção consiste em ações, que não são significativas em 
relação ao processo educacional das escolas. A inspeção escolar no estado exerce 
ações administrativas, mais operacionais e formais, distanciadas e desvinculadas do 
processo político‑ pedagógico da escola, sendo, muitas vezes, criticada por ser 
considerada pouco eficaz (AUGUSTO, 2010, p. 314). 
É importante a compreensão real do significado que exerce a inspeção, pois, 
a demonstração no contexto acima é o quanto suas ações têm desvencilhado do 
verdadeiro significado que agrega qualidade ao processo pedagógico e à gestão 
escolar. Seria necessária, através dessa reflexão, uma mudança de paradigma nas 
atribuições desse profissional. 
Ora, é preciso sair de uma situação que pede por melhoria. Sair, eis a 
questão. E para que tal saída se concretize face aos desafios, cumpre uma união de 
esforços, um pacto em que de comum acordo se opte por uma via de superação. 
 
2 O dispositivo contido no artigo 64 da Lei nº 9.9394/96 não foi alterado pela Lei do Novo Ensino Médio (Lei nº 
13.415/07). 
 
 
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Ficar no status quo é irracional. Buscar um pacto é a única saída racional (CURY, 
2014, p. 1061). 
É preciso salientar que os elementos indispensáveis para a eficácia da 
qualidade do processo educacional é uma condição efetivada também pelo inspetor. 
Dentro de um sistema que não funciona apenas com competências burocráticas, 
estamos em um novo tempo, com alunos de uma geração tecnológica e professores 
insatisfeitos. Ele exerce sua condição de agente político, quando em suas ações 
dinamiza apenas o teor da ideologia legal e burocrática capaz de guiar, subsidiar os 
sujeitos participantes da comunidade educacional. 
Consequentemente, reproduz, orienta, fiscaliza, vistoria, verifica por exigência 
do poder verticalizado. “A inspeção é a função, por excelência, que tem a 
incumbência e os meios legais de verificar se os parâmetros prescritos foram 
seguidos, como também a competência técnica para realizar tais ações” 
(AUGUSTO, 2010, p.79). 
O inspetor escolar tem um compromisso democrático e como especialista é 
detentor de uma responsabilidade primordial e complexa, suas atividades zelam pelo 
cumprimento das leis e organização dos setores da escola. “A sua função é 
intermediária entre o sistema e as escolas, daí a sua característica de exercer a 
comunicação bidirecional” (AUGUSTO, 2010, p. 66). 
A efetivação idônea do diálogo nas duas direções expõe a importância da 
inspeção nas referidas competências e habilidades que exerce. As argumentações 
apropriadas, a adequação dos questionamentos, a apropriação das reflexões como 
a aptidão de saber conduzir uma relação e um relacionamento interdependente 
entre escola e secretaria de educação. Faz parte de uma ação maior, a legitimidade 
do processo e progresso na democratização do ensino e da educação. 
Como forma de expressão política, a inspeção constitui elementos da gestão, 
pois, não podemos omitir que no Brasil a educação vai democratizando seus 
processos burocráticos. No que diz respeito ao que está implementado no papel, a 
prática vai consolidando-se a lentos avanços, ou seja, vão esbarrando-se na 
tradicionalidade dos sujeitos participantes. Contudo, as tecnologias são emergentes 
no cenário atual,não podemos estar alheios aos avanços da TIC, a escola brasileira 
 
 
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cumpre ou deveria cumprir democraticamente as soluções necessárias para atender 
os avanços. 
A sociedade contemporânea está marcada pela questão do conhecimento. E 
não é por acaso. O conhecimento tornou-se peça-chave para entender a própria 
evolução das estruturas sociais, políticas e econômicas de hoje. A ação gera saber, 
habilidade, conhecimento. Ensinar-e-aprender com sentido. Fala-se muito hoje em 
sociedade do conhecimento, às vezes com impropriedade (GADOTTI, 2003, p. 42). 
Há décadas, Gadotti (2003), já vislumbrava a necessidade de decodificar e 
selecionar as informações. Função da educação formal, preparar o aluno para essa 
competência, gerir o seu aprendizado e através dele adquirir os conhecimentos 
necessários para ser agente transformador do meio. Mas, a adequação para dentro 
dos muros escolares não acontece sem a intermediação da inspeção que orienta os 
profissionais, conforme novas leis vão surgindo, para organizarem todo o sistema 
que democraticamente precisa adequar-se. 
Apesar de muitas conquistas e idealismos, não se conseguiu, no Brasil, 
alcançar metas de suma importância, em questões até mesmo básicas para uma 
educação de qualidade. Aqui, ela é ainda marcada pelo descaso de nossos 
representantes, mas também, pela aculturação dos povos aqui existentes na época 
da colonização. 
 
DEMOCRATIZAÇÃO E ADEQUAÇÕES EDUCACIONAIS 
Diante aos novos paradigmas educacionais e conforme as metas do Plano 
Nacional de Educação (PNE) que se referem aos avanços a serem alcançados até o 
ano de 2024, tem-se a adequação democrática de novas perspectivas no que diz 
respeito ao status quo de todo contexto educacional, na tentativa de minimizar as 
mazelas implícitas e explícitas da estagnação do sistema instaurado. 
O Plano Nacional de Educação aprovado por lei representa uma vitória da 
sociedade brasileira, porque legitimou o investimento de 10% do PIB em educação 
até o final do decênio e adotou o custo aluno-qualidade. Afinal, a Meta existe para 
garantir todas as outras metas que trazem as perspectivas de avanço para a 
educação brasileira, nas dimensões da universalização e ampliação do acesso, 
 
 
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qualidade e equidade em todos os níveis e etapas da educação básica, e à luz de 
diretrizes como a superação das desigualdades, valorização dos profissionais da 
educação e gestão democrática (BRASIL, 2014, p. 23). 
É tempo de mudanças e muita informação, estamos vivendo uma nova era de 
grandes evoluções e transformações. A sociedade e as ideologias conspiram para 
uma educação que atenda o novo aluno. E, consequentemente, que haja mudanças 
na maneira de ensinar e gerir a escola. O sistema educacional tem sofrido pela 
inadequação das demandas que se instalam. As políticas públicas ainda não são 
adequadas para a educação, a escola continua num padrão estrutural tradicional. 
Para Gadotti (2003), 
Mais do que a era do conhecimento, devemos dizer que vivemos a era da 
informação, pois percebemos com mais facilidade a disseminação da informação e 
de dados, muito mais do que de conhecimentos. O acesso ao conhecimento é ainda 
muito precário, sobretudo em sociedades com grande atraso educacional 
(GADOTTI, 2003, p. 43). 
Podemos perceber uma preocupação no que diz respeito às mudanças e 
adequações que abrangem as dimensões educativas. Os fatores sociais, 
econômicos, políticos implicam diretamente em como a escola deve educar e formar 
cidadãos. 
Não é satisfatório apenas ter velocidade instantânea de informações, mais 
importante é selecionar informação e gerar conhecimento. Praticar educação é além 
de tudo agir como cidadão ciente dos seus direitos e deveres civis, políticos e 
sociais, respeitando seus limites, a cultura, as diversidades, agindo com 
solidariedade na solução de problemas para o bem comum. 
A democracia foi uma conquista de lutas, é um regime de soberania do povo 
e para o povo, ou seja, de todos. Um compromisso com a liberdade, cidadania. 
Aplicar ou estabelecer normas e padrões são princípios, do latim “principium”, que 
significa “origem, causa próxima, início”. De acordo com as palavras do Dourado 
(2007), educação abrange diversos aspectos da vida em sociedade. 
A concepção de educação é entendida, aqui, como prática social, portanto, 
constitutiva e constituinte das relações sociais mais amplas, a partir de embates e 
 
 
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processos em disputa que traduzem distintas concepções de homem, mundo e 
sociedade. Para efeito desta análise, a educação é entendida como processo amplo 
de socialização da cultura, historicamente produzida pelo homem, e a escola, como 
lócus privilegiado de produção e apropriação do saber, cujas políticas, gestão e 
processos se organizam, coletivamente ou não, em prol dos objetivos de formação. 
Sendo assim, políticas educacionais efetivamente implicam o envolvimento e o 
comprometimento de diferentes atores, incluindo gestores e professores vinculados 
aos diferentes sistemas de ensino (DOURADO, 2007, p. 923-924). 
As discussões “a posteriori” passam pela questão da descentralização da 
escola na promoção de sua autonomia, dinamizando os processos da não 
concentração administrativa, financeira e pedagógica na gestão democrática. 
Descentralização associada ao princípio democrático, formando um pensamento na 
sociedade que, quanto mais descentralização, mais democracia. Desse modo, 
pressupõe-se que todos os envolvidos na dinâmica educacional, participam de todos 
os processos. Para Colares e Lima (2013), 
A gestão democrática tem seus pilares nos movimentos sociais de 
democratização e expressam as experiências e lutas por administrações e práticas 
coletivas, colegiadas e participativas nas escolas e sistemas de ensino. Tem como 
fundamento a humanização da formação do indivíduo e explicitação mediante o 
diálogo entre as pessoas na busca da solução dos conflitos de forma coletiva e 
solidária (COLARES; LIMA, 2013, p. 76). 
São notórias as inúmeras transformações e significativas mudanças que a 
educação tem sofrido no cenário atual. A criação de espaços que venham beneficiar 
as novas relações do inspetor entre a escola, escola com as superintendências de 
ensino e secretarias de educação. Compete à inspeção escolar democratizar a 
comunicação de todas essas instituições, pois, essa relação favorece a decisão 
coletiva para uma atuação efetiva dos agentes educacionais. 
Contudo, a figura desse profissional proporciona a politização do fator 
ideológico da legislação. Ele é a representação da ação do Estado e órgãos 
executivo e legislativo “in loco” nas instituições de ensino na verificação, 
aplicabilidade e adequação na práxis do sistema educativo. Enfim, promove a 
 
 
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adequação formal das normas e pareceres, coordenando democraticamente todas 
as orientações e informações. 
Na realidade a escola como todo o sistema educacional, vem passando por 
transformações e reformas numa tentativa de se amoldar ao século XXI e às novas 
demandas sociais, econômicas e políticas. Principalmente, para atender a sociedade 
do conhecimento ou sociedade tecnológica. Os movimentos sociais ampliam os 
desafios emergentes no campo virtual, ou seja, para democratizar é imprescindível 
estar acompanhando as necessidades do cenário atual. Mas, acompanhar não é 
suficiente, é necessário passar por transformações sucessivas. 
Historicamente, as adequações muitas vezes de fórum paliativo, vão 
delineando novos pressupostos. Na busca pelo que pretende atingir, surgem novos 
debates que expressam anseios e conflitos epistemológicos. Muitas vezes, esses 
processos assumem uma proporção que não pode ser adiada delimitando decisões 
e adequações iminentes. Conforme destacam Scheibe e Aguiar (1999, p. 232) 
[...] o curso de pedagogia destina-se à formação deum “profissional habilitado 
a atuar no ensino, na organização e na gestão de sistemas, unidades e projetos 
educacionais e na produção e difusão do conhecimento, em diversas áreas da 
educação, tendo a docência como base obrigatória de sua formação e identidade 
profissional”. [...] E ainda na organização de sistemas, unidades, projetos e 
experiências educacionais escolares e não escolares; na produção e difusão do 
conhecimento científico e tecnológico do campo educacional; nas áreas emergentes 
do campo educacional (SCHEIBE e AGUIAR, 1999, p. 232). 
Pensando nisso, mensurou-se que a organização interna da escola deve 
estar em concordância com suas normas e as leis que a regem. Qualquer alteração 
que não seja do conhecimento da gestão administrativa, pedagógica e da inspeção 
escolar acarreta prejuízos ao aluno e pode também comprometer seu funcionamento 
adequado. Portanto, com um ambiente democratizado, pode sofrer interferências 
inadequadas, fora de seu contexto rotineiro por falta de acompanhamento da gestão 
ou por desorganização profissional e estrutural. 
O descomprometimento dos profissionais responsáveis pelo bom 
desempenho de toda organização escolar pode causar falta de credibilidade em 
relação não apenas da administração escolar, mas também, do desenvolvimento 
 
 
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pedagógico e colocar em dúvida a seriedade do trabalho realizado. Assim, quando o 
controle coletivo da educação perpassa por todos os autores que integram o 
panorama educacional e esse trabalho é realizado em parceria: equipe gestora/ 
inspeção escolar em uma consonância com troca de experiência e aprendizado, 
aluno somente tende a ser beneficiado em todo o processo educacional. 
É de suma importância que toda documentação escolar dos alunos esteja de 
maneira instituída, preparada, pois a acessibilidade dos mesmos transcorre desde a 
gestão escolar, secretário, inspeção até conselhos de educação e secretarias de 
educação, como afirma Ribas (2016). Na sociedade atual o papel do inspetor 
escolar é assegurar o controle e garantir de forma participativa essa parceria 
articulada com a gestão da escola. Encontrando meios e dispositivos legais para 
garantir uma educação de qualidade e uma escola democrática, atualizada e 
adequada aos parâmetros institucionalizados. 
A escrituração escolar norteia a vida educacional do aluno, dando subsídios 
para que erros não sejam frequentemente cometidos, dificultando o manuseio dos 
documentos, penalizando o aluno e sua família. Mas, infelizmente encontramos 
situações que acontecem por descuido ou displicência dos profissionais e a falta do 
inspetor escolar nas instituições educacionais. 
Em cada estado do Brasil, é exercida uma autonomia com relação ao que 
deve ser estabelecido na educação local, não descumprindo o que é estabelecido 
pelo Ministério da Educação (MEC) e posteriormente pela LDB. No Estado de Minas 
Gerais existe um Caderno de Boas Práticas da inspeção que orienta e organiza o 
que deve estar sendo realizado e cumprido por parte dos profissionais inspetores. 
Essa publicação auxilia os inspetores escolares na área da gestão pedagógica, dão 
sugestão de estrutura no plano de trabalho para a melhoria dos resultados da escola 
e sugerem um relatório de acompanhamento da implementação das ações da 
escola. Possuem elementos de boas práticas e de ações concretas explicitadas, 
contendo três eixos fundamentais: 
• Conhecimentos, competências e habilidade: Dominar o conteúdo necessário para o 
bom desempenho da função. Aprimorar o conhecimento pedagógico, da legislação 
e dos materiais relacionados à escola. 
 
 
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• Planejamento e reflexão coletiva: Atuar de forma organizada e produtiva. Planejar 
as ações pedagógicas em conjunto. 
• Liderança e gestão pedagógica nas escolas: Orientar, acompanhar e avaliar o 
trabalho realizado nas escolas. Promover a liderança e a gestão pedagógica das 
escolas. 
Essa iniciativa faz parte do processo de desenvolvimento e estruturação do 
sistema educacional da rede estadual de ensino do estado. Veementemente, na 
democratização e adequação da singularidade da inspeção. Afinal, a 
preponderância do exercício de sua função legitima o poder dos órgãos 
normatizadores e principalmente do Estado, na continuidade de resolução das 
mazelas educacionais. 
Certamente a insatisfação no meio profissional, como mencionado no 
contexto do item dois pela citação de Augusto (2010) dá veracidade à frase: O que 
precisamos refletir sempre é sobre a continuidade da reprodução verticalizada de 
ordens e mudanças que não legitimam as reinvindicações da população, ou seja, do 
público escolar envolvido na interioridade e exterioridade das ideologias 
educacionais, marcadas por lutas e conquistas, decepções e idealismos. 
 
VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA NA ESCOLA: LEGISLAÇÃO 
PERTINENTE 
O objetivo deste capítulo não é transformar o educador em um especialista 
em legislação, mas explorar a legislação na tentativa de resgatar um conhecimento 
básico para o exercício pleno de seus direitos e deveres. Cabe à legislação orientar 
acerca de tais condições, e em se falando de Educação, vale a pena tal resgate. 
Começamos com a base, a Constituição Federal, que é a lei maior deste país 
descrevendo em seguida as leis relacionadas aos temas de Educação para 
posteriormente chegarmos às normas existentes dentro da escola. A descrição dará 
uma visão do maior para o menor, até chegar à escola onde os problemas são 
enfrentados servindo assim como informação sobre como devem ser tratadas a 
violência e a indisciplina dentro da escola, tema central deste trabalho. 
 
 
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A EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1989 
A legislação brasileira abrange uma série de assuntos que se referem aos 
temas relacionados à Educação. O legislador procurou ser o mais abrangente 
possível para preencher todas as lacunas existentes na sociedade. Dentre elas, 
senão as mais importantes, aquelas que envolvem a necessidade de um processo 
educativo consistente que proporcione a todos os cidadãos a possibilidade de um 
convívio social condizente com a utopia de uma sociedade perfeita. Assim a 
Constituição destina um capítulo para a Educação, especificando quais são os 
direitos e deveres, dos cidadãos e do Estado, relacionados a esse tema. Porém, 
nem sempre os direitos estabelecidos hoje com relação à Educação estiveram 
presentes nas demais Constituições Federais que já vigoraram no Brasil. 
A primeira constituição brasileira foi promulgada na época do Império, em 
1824 e fazia apenas referência à instrução pública como direito dos considerados 
cidadãos, excluindo do acesso ao ensino oficial os escravos. Ainda não se colocava 
a obrigatoriedade e havia grande participação da Igreja Católica no processo 
educativo. (CURY; FERREIRA, 2010, p. 31). 
A próxima Constituição foi promulgada em 1891, já com a instituição da 
república, porém, não foram ainda estabelecidas à gratuidade e a obrigatoriedade da 
educação. Já em 1934, a Constituição Federal recebeu novas características, com 
um pensamento diferente das anteriores, mais voltado para o âmbito social, 
ganhando um capítulo específico e A Constituição da Republica Federativa do Brasil 
(1988) é a lei mais importante no nosso país. Ela estabelece os princípios e 
caminhos pelos quais todas as demais leis devem seguir, previsões como de ensino 
primário integral (atualmente Ensino Fundamental) gratuito e a frequência 
obrigatória. (CURY; FERREIRA, 2010, p. 32) . 
A Constituição Federal de 1946 não trouxe grandes avanços, se limitando a 
copiar o que já havia sido previsto na Constituição de 1937. Já na Constituição de 
1967 e no Ato Institucional de 1969 houve uma extensão dos temas relacionados à 
Educação, e ficou estabelecido expressamente que o ensino primário é obrigatório, 
sendo a obrigatoriedade relacionada à faixa de idade doaluno e não à série. (CURY; 
FERREIRA, 2010, p. 33) 
 
 
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Apesar de todas as tentativas de melhorias para a educação brasileira 
durante a história, inúmeras dificuldades financeiras, organizacionais, políticas e 
estruturais limitaram a atuação dos educadores ao longo do tempo. A legislação 
contemplou a pensar na Educação como um todo com o advento da Constituição de 
1988. 
A Constituição Federal de 1988 prevê, Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, 
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade. (BRASIL, 1988, p. 43) 
Apesar da insatisfação com relação às formas de atuação do governo em 
diversos pontos, o que tenho que concordar, é necessário saber que a CF/88 
estabelece como princípios fundamentais para todo cidadão brasileiro à igualdade, o 
direito à vida, à liberdade e à segurança, entre outros, que deveriam estar presente 
na vida de todos. 
Assim em consonância com os direitos e garantias fundamentais previstos no 
Artigo 5º da CF/88, existe um capítulo especial para a Educação, que é o Capítulo III 
– DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO. Assim, dentre outros artigos 
que preveem o que há de mais importante dentro da sociedade brasileira, devemos 
destacar o Art. 205 e seguintes, que estabelecem os princípios fundamentais 
existentes em nosso país no que diz respeito à Educação, Art. 205. A educação, 
direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a 
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu 
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 
1988, p. 85) 
O Artigo 205 fala por si só, deixando claro que a Educação é direito de todos, 
cabendo aqui a ressalva de que o educador está inserido neste contexto como parte 
essencial para promovê-la. Para Portela (2002) o direito à Educação consiste em 
uma dupla obrigação, sendo que caminha lado a lado o dever do Estado em 
promover condições para que esse direito se efetive, e a família no que se refere à 
obrigação em efetivar a presença das crianças na escola. 
Ao lado da família como base inicial e constante, a escola e o educador têm o 
dever de promover o desenvolvimento e capacitar os educandos para serem 
 
 
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cidadãos plenos. Um direito, na medida em que todo cidadão, a partir de tal 
declaração, tem o direito de acesso à educação. A dupla obrigatoriedade refere-se, 
de um lado, ao dever do Estado de garantir a efetivação de tal direito e, de outro, ao 
dever do pai ou responsável de provê-la, uma vez que passa a não fazer parte do 
seu arbítrio à opção de não levar o filho à escola. (OLIVEIRA, 2002, p. 15) Ou ainda 
nas palavras de Cury e Ferreira (2010), a efetivação da Educação como direito de 
todos e dever do Estado, Assim, a afirmação de que a educação é um direito de 
todos, somente pode ser entendida dentro do contexto atual, não mais como um 
enunciado de baixa efetividade social e jurídica, mas como uma regra que garanta 
concretamente, escola para todos. Decorre desta situação que a educação passou a 
ser vista tanto como um direito como um dever para com a administração pública e o 
cidadão. (CURY; FERREIRA, 2010, p. 39) 
Os Artigos seguintes da CF/88 descrevem com detalhes os meios pelo qual 
esse direito deve ser alcançado. Os princípios constitucionais são considerados os 
mais importantes de um país e servem de guia para a sociedade. No caso do Brasil 
não é diferente, a descrição do Direito à Educação promove ao mesmo tempo o 
direito do aluno estar na escola e direito do educador ter condições reais de cumprir 
com o seu dever. 
A partir de tais princípios o Estado desenvolveu outras leis para regulamentar 
o que foi proposto na CF/88. Dentre elas, e a mais importante para a educação, foi 
concretizada em 20 de dezembro de 1996, recebendo o nome de Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação (LDB). 
A LDB tem como finalidade estabelecer um grande avanço para a educação 
brasileira discriminando como o próprio nome revela, fundamentos para que ocorra a 
continuação das diretrizes estabelecidas pelo legislador nos Artigos 205 a 214 da 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
 
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO (LDB) – LEI 9.394/96 
A Lei Federal 9.394, de 20 de dezembro de 1996, denominada Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 
23 de dezembro de 1996, na Seção I, páginas 27.833 a 27.841 e estabeleceu a 
 
 
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partir daquele momento rumos e fundamentos para a educação nacional. A LDB 
anterior era datada de 197110 não mais poderia ser utilizada uma vez que a 
Constituição Federal estabeleceu novos princípios para a educação brasileira em 
1988. 
A LDB de 1996 prevê em seu Art. 2º, Art. 2º - A educação, dever da família e 
do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade 
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para 
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996, 127) 
A LDB/96 estabelece em seu art. 2º um entrelaçamento do art. 5º com o art. 
205, ambos da CF/88, definindo mais uma vez a responsabilidade e os propósitos 
para a educação brasileira. 
O dever do Estado e da família, os princípios de liberdade e solidariedade 
humana e, reproduzindo fielmente o art. 205 da CF/88, as finalidades da educação: 
pleno desenvolvimento humano preparo para o exercício da cidadania e a 
qualificação para o trabalho. (OLIVEIRA, 2002, p. 38) Definidos os princípios e as 
finalidades da Educação Nacional podemos procurar dentro da própria legislação, 
que comanda e dá diretrizes para que educadores e dirigentes cumpram o que foi 
determinado e zelem pela aprendizagem dos alunos (Art.13, III da LDB), os temas 
relacionados à violência e à indisciplina, que tanto incomodam e atrapalham as 
ações educativas. Após uma detalhada investigação, verifica-se que nada é 
mencionado na LDB sobre as questões de violência e indisciplina na escola. Não 
que isso seja a única coisa que solucionaria os problemas da violência, mas o 
suporte proporcionado pela lei no que se refere às orientações e informações sobre 
os mais diversos assuntos, inclusive a violência são de suma importância para dar 
embasamento e sustentação para o trabalho da escola. É necessário, então, buscar 
na legislação vigente, outras orientações e mecanismos de enfrentamento no que se 
refere ao tema. Um desses mecanismos utilizados antes ainda da formulação da Lei 
de Diretrizes e Bases da Educação é o tão conhecido Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA), que estabelece normas no âmbito nacional com relação ao 
tratamento social e legal destinado às crianças e adolescentes. LEI N. 5.692, de 11 
de agosto de 1971. Fixa diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus, e dá 
outras providências. 
 
 
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Contudo, conhecida como a Lei do Novo Ensino Médio, a reforma da LDB 
introduzida pela Lei nº 13.415/2017 determinou o aumento da carga horária mínima 
dos estudantes, das atuais 800 horas para 1.000 horas anuais, será de apenas uma 
hora/aula por dia. A carga horária será dividida entre os componentes curriculares 
da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e os itinerários formativos, incluindo a 
formação técnica e profissional, voltados ao mercado de trabalho (LOUZADA-SILVA, 
2017). 
NOVO ENSINO MÉDIO (LEI Nº 13.415/2017) 
 Em 2018, foi aprovada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino 
médio para orientar os currículos dos sistemas e redes de ensino dos estados e as 
propostas pedagógicas de escolas públicas e privadas em todo o Brasil. 
Anteriormente, as disciplinas obrigatórias nos três anos do ensino médio eram 
português,matemática, artes, educação física, filosofia e sociologia. Agora, com a 
alteração proposta pela Lei do Novo Ensino Médio, apenas as disciplinas de língua 
portuguesa e matemática são obrigatórias para os três anos do ensino médio (DA 
SILVA, 2017). 
As aprendizagens definidas na BNCC do Ensino Médio estão organizadas por 
áreas do conhecimento (Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas 
Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais 
Aplicadas). Dessa forma, a outra parte do ensino, instituída com o aumento da 
carga horária, será complementada por um dos cinco itinerários formativos, uma 
espécie de especialização dentro de uma das áreas do conhecimento ou ensino 
técnico profissionalizante. Segundo o MEC, as e os estudantes poderão “escolher” 
em qual área querem aprofundar seus conhecimentos ao longo do ensino médio: 
linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza 
e suas tecnologias e ciências humanas e sociais aplicadas e formação técnica e 
profissional (LOUZADA-SILVA, 2017). 
 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) 
A Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e 
do Adolescente foi promulgada quase dois anos após a entrada em vigor da 
Constituição Federal de 1988 e recebeu total influência marcante dos princípios e 
 
 
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garantias por ela estabelecidos. Diante de uma nova realidade exposta pela lei que 
entrara em vigor, deu-se inicio a uma série de questionamentos por parte dos 
professores e diretores sobre como proceder em relação a alunos que praticam atos 
de indisciplina na escola, assim entendidas aquelas condutas que, apesar de não 
caracterizarem crime ou contravenção penal, de qualquer modo tumultuam ou 
subvertem a ordem em sala de aula e/ou na escola. Tais questionamentos vêm 
acompanhados de críticas ao Estatuto da Criança e do Adolescente que teria 
retirado à autoridade dos professores em relação a seus alunos, impedindo a 
tomada de qualquer medida de caráter disciplinar para coibir abusos por estes 
praticados. 
O ECA procurou reforçar a ideia de que crianças e adolescentes também são 
sujeitos de direitos como todo cidadão, no mais puro espírito do artigo 5º, inciso I da 
Constituição Federal/88, que estabelece a igualdade de direitos e obrigações para 
homens e mulheres, independentemente de sua idade. Ressalte-se que o ECA não 
confere qualquer "imunidade" a crianças e adolescentes, que de modo algum estão 
autorizados, a livremente, violar direitos de outros cidadãos, até porque se existisse 
tal regra na legislação ordinária, seria ela inválida (ou mesmo considerada 
inexistente), por afronta à Constituição Federal que, como vimos, estabelece a 
igualdade de todos em direitos e deveres. No que concerne ao relacionamento 
professor-aluno, mais precisamente, o ECA foi extremamente conciso, tendo de 
maneira expressa estabelecido apenas que crianças e adolescentes têm o "direito 
de serem respeitados por seus educadores" (Art.53, inciso II). 
O direito ao respeito é um direito natural de todo ser humano, 
independentemente de sua idade, sexo, raça e condição social ou nacionalidade, 
sendo que no caso específico do Brasil é ainda garantido em diversas passagens da 
Constituição Federal, que coloca qualquer um de nós a salvo de abusos cometidos 
por outras pessoas e mesmo pelas autoridades públicas constituídas. 
Nas palavras de De Paula (1995): O Estatuto da Criança e do Adolescente, 
em seu artigo 53, inciso II, assegura o direito do aluno de ser respeitado por seus 
educadores. Isto decorre do direito ao respeito, mencionado no artigo 227 da 
Constituição Federal e definido no artigo 17 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. (DE PAULA, 1995, p. 100-101) 
 
 
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No mesmo texto De Paula (1995) menciona a necessidade do respeito mútuo, 
esclarecendo que é previsto em lei a necessidade de reciprocidade: Esclareça-se 
que o aluno também deve respeito aos diretores, professores e funcionários da 
escola. 
A conduta desrespeitosa poderá, até, configurar ato infracional12 que, 
consoante definição do ECA, corresponde a qualquer crime ou contravenção penal, 
como, por exemplo, injúria. (DE PAULA, 1995, p. 101) Seu objetivo é reforçar a idéia 
de que crianças e adolescentes, na condição de cidadãos, precisam ser respeitados 
em especial por aqueles encarregados da nobre missão de educá-los. 
Educação essa que obviamente não deve se restringir aos conteúdos 
curriculares, mas sim atingir toda amplitude do Art. 205 da Constituição Federal, 
notadamente no sentido do "pleno desenvolvimento da pessoa", da criança ou 
adolescente e seu "preparo para o exercício da cidadania", tendo sempre em mente 
que, no trato com crianças e adolescentes, devemos considerar sua "condição 
peculiar" de "pessoas em desenvolvimento" (art. 6º da Lei nº. 8.069/90). Essa 
mesma lei, portanto, estabelece todos os direitos de crianças e adolescentes 
adquiridos tão justamente, e também seus deveres que De Paula (1995) retrata 
muito bem, diretores e professores devem ser respeitados pelos alunos cabendo a 
qualquer momento a punição prevista no Art. 98 do ECA. 
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre 
que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: 
I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; 
II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; 
III – em razão de sua conduta. (BRASIL, 1990, p. 923) 
É possível observar que a ação ou omissão da sociedade ou do Estado e a 
falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável implicam em responsabilização dos 
mesmos. 
Da mesma forma que a lei prevê a conduta indevida dos pais ou responsável 
prevê também que a conduta indevida praticada pela criança ou adolescente lhe 
causará Os chamados "atos infracionais" definidos no Art. 103 da Lei nº. 8069/90, 
que devem ser apurados pela autoridade policial e, em procedimento próprio 
 
 
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instaurado perante o Conselho Tutelar (no caso de crianças) ou Justiça da Infância e 
Juventude (no caso de adolescentes), podem resultar na aplicação de medidas 
específicas já relacionadas pelo mesmo Diploma Legal citado. (BRASIL, 1990, p. 
923). 
Consequências, punições que vão desde a advertência até a internação em 
estabelecimento adequado. (Art. 112, I a VI do ECA) Também que a criança e o 
adolescente devem ser respeitados e ter os seus direitos garantidos, o professor 
também tem os seus direitos. A liberdade de expressão, o respeito, a publicidade em 
seus atos e práticas dentro e fora da sala de aula são garantidos pela mesma 
legislação. 
Quando Arroyo (2001) afirma que “O educador, como função social, deve dar 
conta do pleno desenvolvimento humano” (ARROYO, 2001, p. 46), podemos 
entender que este desenvolvimento que envolve diretamente os alunos também se 
estende ao seu próprio desenvolvimento. Quais seriam os sentimentos e valores 
externalizados por uma pessoa ameaçada, agredida e que convive com uma forma 
extrema de violência? 
A Constituição Federal de 1988 desencadeou todos esses direitos, deveres, 
obrigações e compromissos para todos os participantes do processo educativo. O 
Poder Executivo (Presidente da República, Governador e Prefeito), o Poder 
Legislativo (Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais) e 
o Poder Judiciário (Juízes, Promotores de Justiça e Tribunais) passaram a fazer 
parte desse processo, seja elaborando leis para a organização educação no país, 
nos seus estados ou municípios, seja utilizando bem os recursos destinados à 
educação e organizando o sistema educacional ou ainda fiscalizando e fazendo com 
que as leis sejam cumpridas. Na realidade, todos foram chamados para, 
obrigatoriamente colaborar com a Educação. Mas como considerar essa 
possibilidade com tantas dificuldadese falta de condições adequadas para o 
exercício de tais deveres? O Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código 
Penal Brasileiro) estabelece condutas que fazem parte da sociedade brasileira 
estabelecendo em seu Artigo 1º: “ Não há crime sem lei anterior que o defina. Não 
há pena sem prévia cominação legal.” Partindo do princípio da anterioridade da lei 
prevista no Código Penal Brasileiro podemos indicar a presença das normas que 
 
 
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regem a convivência das pessoas na sociedade brasileira a partir de tais 
cominações legais. 
Os Artigos 121 e seguintes (Parte Especial do Código Penal Brasileiro) 
juntamente com as demais leis especiais prevêem quais condutas são consideradas 
crimes, ou atos em desacordo com a sociedade. (BRASIL, 1940, p. 439) Dentre tais 
atos podemos observar diversos casos de violência e indisciplina, tais como o 
atentado contra a vida de outrem: “Artigo 121 – Matar alguém”, a violência sexual 
prevista no Artigo 213, o assalto à mão armada previsto no Artigo 157 § 2º, o crime 
de dano: “Artigo 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia” ou o desacato à 
autoridade previsto 42 no artigo 331, todos previstos no Código Penal Brasileiro. 
(BRASIL, 1940, p. 443) 
A ocorrência de tais tipificações está ligada a uma série de fatores sociais e 
envolvem a necessidade da existência de normas que regulem a convivência em 
sociedade. A escola faz parte dessa sociedade e como tal também possui normas 
de conduta e convivência que colaboram com o andamento do processo educativo. 
Todos os membros desse processo estão sujeitos às normas, desde aquelas 
previstas na legislação federal e estadual, como vimos, como também nas 
administrativas, que prevendo situações do dia a dia como indisciplina, bem como 
aquelas previstas em lei como crimes e contravenções, e que devem ser respeitadas 
e seguidas por todos os integrantes do meio escolar, sempre à luz dos princípios 
constitucionais. Buscando, por conseguinte, as leis federais e estaduais que 
estabelecem quais são os casos de violência e indisciplina e não encontrando nada 
especificamente ligado ao ambiente escolar, partiremos para o âmbito 
administrativo, que poderá ao lado da legislação geral elucidar as necessidades 
existentes dentro da escola. 
 
 
A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PARA A SOLUÇÃO DE CONFLITOS 
Para Marcos Rolim (2006) a justiça retributiva existente no Brasil hoje, com 
foco no infrator e nos atos que cometeu revela um sistema voltado para a 
criminalidade, totalmente desvinculado das perdas decorrentes deste ato e 
 
 
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descartando os interesses e necessidades das vítimas. A justiça alternativa para 
solucionar tal problema, segundo Rolim (2006), seria a justiça restaurativa, com 
atenção ao dano causado pelo ato delituoso e os problemas que surgiram desse 
conflito. Mas o Brasil comporta tal sistema de solução de conflitos? É possível 
vislumbrar a legislação atual como base para a utilização da justiça restaurativa? 
A justiça restaurativa envolve uma série de sujeitos que, partindo das políticas 
públicas existentes, poderiam se valer de tais princípios como alternativa para a 
solução dos conflitos existentes nas mais diversas situações, inclusive nas escolas. 
A legislação brasileira estabelece uma série de dispositivos que permitem a 
utilização de meios alternativos para a solução de conflitos e a substituição de penas 
corporais por medidas alternativas. Dentre eles podemos citar o próprio ECA que, ao 
instituir a remissão no seu Artigo 126, como forma de aplicação de medidas 
socioeducativas aos adolescentes estabelece uma relação com a prática 
restaurativa, desde que com a aprovação das autoridades envolvidas no caso 
(Promotor e Juiz). 
Outro dispositivo legal brasileiro que possibilita a utilização de práticas 
restaurativas é a Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei 9.099/95). Criada em 26 
de setembro de 1995 e, alterada pela Lei 10.259, de 12 de julho de 2001, a referida 
lei promove a possibilidade de “acordo” entre as partes envolvidas, ou seja, é 
possível evitar o processo criminal com a composição de uma forma alternativa de 
satisfação das partes, seja ela por intermédio de multa ou restrição de direitos. 
A medida alternativa está prevista nos Artigos 72 e seguintes da Lei 9.099/95 
e estabelece que o promotor poderá, estabelecendo a materialidade e os indícios de 
autoria, formular proposta de aplicação imediata de pena alternativa. (JESUS, 2005). 
O Código Penal Brasileiro (BRASIL, 1940, p. 434), com as alterações sofridas 
desde então, estabelece em sua parte geral, assim como nas sanções previstas na 
parte especial, dedicada aos crimes e suas penas, possibilidades de aplicação de 
medidas que não refletem em prisão, tais como a prestação pecuniária (Art. 45,. § 
1.º, do CP), que implica no pagamento de uma certa quantia estabelecida pela juiz, 
feita pelo acusado para a vítima. 
A prestação inominada, prevista no § 2.º do Artigo 45, quando a pena 
pecuniária é substituída pelo pagamento de cesta básica a instituições filantrópicas 
 
 
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ou por prestação de serviços à comunidade. Além de tais exemplos podemos citar 
como meios alternativos o Sursis, que é a suspensão condicional da pena mediante 
condições impostas ao autor (Art.78, § 2.º do CP) (BRASIL, 1940, p. 436) e os 
mecanismos utilizados no cumprimento das próprias penas de prisão, tais como o 
livramento condicional e a remição de penas devido ao trabalho efetivo dentro da 
prisão. 
Apesar de medidas que representam muito vagamente alternativas para a 
solução de conflitos no sistema jurídico, incipientes em se falando de efetividade, a 
possibilidade existente mais concreta para a utilização da justiça restaurativa ainda 
foi o advento da Lei 9.099/95, que, em compatibilidade com o Art. 98, I, da CF/88, 
que estabelece a possibilidade de conciliação em procedimento rápido e sem 
maiores formalidades burocráticas. (PINTO, 2005). Assim sendo, as experiências 
existentes nas escolas brasileiras no que se refere a tentativa de utilização de meios 
alternativos para a solução de conflitos está baseada e devidamente fundamentada 
nos preceitos legais. 
A justiça restaurativa estabelece princípios que merecem ser observados e 
discutidos. Os conflitos existentes e as graves consequências dos atos violentos que 
se instalam nas escolas indicam a necessidade de medidas que, efetivamente saiam 
da teoria e sejam aplicadas. Talvez o modelo restaurativo conhecido e aplicado em 
outros países não seja o ideal para os nossos problemas, porém, é preciso pensar 
em meios que atendam as necessidades para a realidade enfrentada pelos 
educadores no Brasil. 
A legislação federal estabelece os direitos e deveres existentes no que se 
refere à educação, já as questões voltadas para a violência e para a indisciplina na 
escola seria um tema difícil para o sentido tão amplo estabelecido nas leis maiores 
do nosso país. Assim cabe a legislação local, no nosso caso a legislação paulista 
criar meios para a utilização dos direitos e deveres estabelecidos na legislação 
federal. 
No caso da violência e a indisciplina dentro das escolas cabe a Secretaria de 
Educação propor e estabelecer normas que possibilitem esse enfrentamento. Dar 
condições para que as escolas possam efetivar uma forma real de utilização da lei 
para atender as necessidades. As leis são o suporte, uma garantia favorável para a 
 
 
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aplicação de ações restaurativas que podem ser aplicadas. A somatória de ações 
restaurativas e legislação em vigor voltada para possibilidade utilização nas escolas 
podem contribuir para a realização de medidas adequadas na solução dos conflitos 
e demais problemas existentes sistema educacional. 
 
O PAPEL DO INSPETOR ESCOLAR NO PROCESSO DEMOCRÁTICO 
A Inspeção Escolar está ligada a vários fatores que contribuem com

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